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As teorias

sociológicas
clássicas sobre o
Estado
Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber
Karl Marx e o Estado burguês
• Karl Marx, em conjunto com seu grande parceiro intelectual e político, Friedrich Engels, se
preocupou com a questão do Estado moderno, mas na medida em que a análise do Estado era
atravessada por questões de ordem filosófica, econômica e social, suas concepções se
desenvolviam.
• Num primeiro momento, Marx define o Estado como uma “comunidade ilusória” que, separa, na
modernidade, os indivíduos em dois, por assim dizer. Cada pessoa seria ao mesmo tempo um
indivíduo privado, membro da sociedade civil, que exerce determinado ofício, crê em determinada
religião, etc. e seria duplamente um ‘cidadão’, que do ponto de vista do Estado, é igual a todos os
outros em direitos e deveres. Para Marx, a eliminação formal das desigualdades no Estado, não
contribui para a eliminação real das desigualdades que persistem na sociedade.
• Numa obra posterior, Marx identifica que cada época histórica da humanidade corresponde a uma
maneira de dividir o trabalho social e, por sua vez, cada divisão do trabalho levou à criação de um
conjunto de desigualdades e a um conflito de classes. Fosse a classe dominante composta por
clérigos, donos de escravos ou proprietários de terras, a dominação econômica sempre precisou
do suporta da dominação política. O Estado moderno seria apenas a última forma conhecida de
instrumento de dominação política por parte da classe dominante economicamente.
• Diferente de todos os modos de produção pretéritos, no capitalismo a dominação política pode ser
exercida por outra classe que não a própria burguesia (a classe que domina na sociedade não
precisa ser agente da dominação política). Ou seja, o caráter do Estado burguês de garantir uma
igualdade formal permite, por sua própria natureza, e independentemente das intenções dos
atores políticos eventuais, a continuação do modo de produção capitalista e a continuação no
tempo da dominação burguesa.
“O Estado moderno
não é senão um
comitê para gerir os
negócios comuns de
toda a classe
burguesa”
Karl Marx e
Friedrich Engels em
O Manifesto do
Partido Comunista
Émile Durkheim e a coesão social
• Durkheim, como funcionalista que era, de forte influência positivista, ao analisar a
questão do Estado, estava em grande medida preocupado com a questão da coesão
social, ou seja, como na sociedade moderna, com complexa divisão social do trabalho
e elevação das consciências individuais a patamares até então desconhecidos, poderia
o Estado contribuir com a preservação de uma consciência coletiva, que mantenha a
sociedade e seu funcionamento salutar.
• Para Durkheim, é fundamental que a crescente complexificação da sociedade seja
compensada pela existência do Estado, instituição esta que deve se alçar acima de
grupos menores que tenham potencial de fragmentar a unidade moral de uma
sociedade.
• Logo, a função do Estado seria uma função moral devendo ele buscar organizar o
ideário do indivíduo, assegurando seu desenvolvimento. Para isso seria necessária
uma educação pública, voltada para uma formação moral, independente de fins
teóricos ou religiosos.
• O Estado, para Durkheim, não deveria ser entendido como antagônico ao indivíduo,
tendo sido na verdade, o Estado quem o emancipou do controle de outros grupos
como a família, a Igreja, as corporações profissionais, etc.
“Compreende-se que as
funções do Estado se
ampliam sem que por
isso resulte uma
diminuição do indivíduo,
ou que o indivíduo se
desenvolve sem que por
isso o Estado recue,
uma vez que o indivíduo
seria, em certos
aspectos, o próprio
produto do Estado, pois
a atividade do Estado
seria essencialmente
libertadora do indivíduo”
Émile Durkheim em
Lições de
Sociologia
Max Weber e a dominação
legítima
• Para Weber, o sociólogo que quer analisar o Estado não deve se ater aos fins, intencionais ou não
de tal instituição. Em outras palavras, Weber não se ocupa largamente da hipótese de que o
Estado deve servir como instrumento de construção de uma moral coletiva, e mantenedor da
coesão social e tampouco se detém na função de dominação de classe que o Estado Moderno
exerce na sociedade burguesa, conforme a interpretação marxiana da questão.
• Max Weber diz que o Estado deve ser definido pelo meio específico que lhe é próprio: o uso da
coação física. Ou seja, o Estado reivindica para si o monopólio do uso legítimo da violência física.
Na época moderna, não se reconhece como legítimo a qualquer grupo o direito de fazer uso da
violência, a não ser que o Estado permita, tornando-se a única fonte do direito à violência.
• Mas o Estado não é uma coisa que domina os homens. O Estado consiste em uma relação de
dominação do homem sobre o homem. Logo, é necessário que os homens dominados legitimem
a autoridade dos dominadores para que esta relação sobreviva ao tempo.
• Weber descreve então três razões que justificam e legitimam esta dominação:

1. A dominação tradicional: legitimada pelos costumes, normas e valores tradicionais.

2. A dominação carismática: funda-se na autoridade do carisma pessoal, do heroísmo ou de


qualquer qualidade de liderança individual.

3. A dominação legal: legitima-se pela legalidade que decorre de um estatuto, da competência


funcional e de regras racionalmente criadas.
“Em nossa época, entretanto,
devemos conceber o Estado
contemporâneo como uma
comunidade humana que, dentro
dos limites de determinado
território (…) reivindica o
monopólio do uso legítimo da
violência física.”
Max Weber em Ciência e
Política: duas vocações
Bibliografia:
MACHADO, Igor José de Renó; AMORIM, Henrique; BARROS, Celso Rocha
de. Sociologia Hoje. São Paulo: Ática, 2013.

TOMAZI, Nelson Dacio. Sociologia para o ensino médio. São Paulo:


Atual, 2007.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Textos Volume III. São Paulo: Edições
Sociais, 1977.

DURKHEIM, Émile. Lições de Sociologia. São Paulo: Martins Fontes,


2002.

WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações. São Paulo: Cultrix,


2011.

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