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Índice

1.Introdução................................................................................................................................................2
2. Desigualdades sociais e acção colectiva nas sociedades contemporâneas: a fecundidade teórica de
Pierre Bourdieu e de Nicos Mouzelis...........................................................................................................3
2.1. Paradigmas e teorias da acção colectiva: novos desafios.....................................................................3
3. O espaço social das classes e a produção de acção colectiva nos campos sociais...................................6
4. A presença dos atores colectivos e das instituições nas dinâmicas da acção colectiva...........................7
5. Interacção social e acção colectiva..........................................................................................................9
6. As relações entre os hábitos e a acção colectiva...................................................................................10
7. A teoria voluntarista da acção...............................................................................................................10
8. Conclusão..............................................................................................................................................15
9. Referências bibliográficas......................................................................................................................16
1.Introdução
A presente pesquisa visa abordar questões ligadas a teoria voluntarista da acção, onde ele é tido
como O projecto de Parsons na obra de 1937 consiste essencialmente num comentário e numa
reinterpretação das obras de quatro teóricos europeus, económicos e sociólogos. Enquanto nas
Teorias da mobilidade social, As desigualidades nas sociedades contemporâneas
2. Desigualdades sociais e acção colectiva nas sociedades
contemporâneas: a fecundidade teórica de Pierre Bourdieu e de Nicos
Mouzelis
2.1. Paradigmas e teorias da acção colectiva: novos desafios
O estudo da acção colectiva tem estado vivamente presente ao longo da história da teoria
sociológica,
Os clássicos da Sociologia segundo Weber, Simmel e Tocqueville; no paradigma funcionalista e
teorias do comportamento colectivo, no paradigma individualista-racionalista, sob o qual se
alicerçaram as teorias da mobilização dos recursos e as teorias da acção estratégica, no
paradigma sistémico e teorias institucionalistas e organizacionais.

Nas teorias das classes sociais e do conflito, relativamente às suas variantes neomarxistas,
neoweberianas e teorias dos novos movimentos sociais; no primeiro Interacionismo
Simbólico até aos seus mais recentes desenvolvimentos como a teoria das interacções
rituais (Collins).

Os paradigmas e as teorias sociológicas e criou as condições científico-sociais para que as teorias


da mobilização dos recursos e as teorias dos novos movimentos sociais alcançassem um
incomensurável protagonismo teórico. Cujas premissas se sentem ainda actualmente, com
repercussões negativas sobre Nunes.

Nas teorias da mobilização dos recursos, a acção colectiva é, essencialmente, caracterizada


enquanto acção instrumental-racional e centrada do ponto de vista da capacidade organizativa da
obtenção de recursos.

A compreensão sobre os fenómenos da acção colectiva baseia-se, sobretudo, no estudo da


organização dos interesses e das oportunidades (políticas) e na análise da mobilização dos grupos
e das estratégias dos atores. Contudo, são teorias incapazes de contextualizarem a acção
colectiva com as condições sociais dos atores e com os campos sociais mais vastos das
sociedades (Crossley).
Para uma teoria das relações entre as desigualdades sociais e a acção colectiva, salientam-se: a
actualidade do debate entre (Marx e Weber), a importância de Simmel, e das teorias da
estratificação social do conflito, as teorias neomarxistas e neoweberianas das classes sociais
(Wright, Dahrendorf Parkin), a teoria do radicalismo das classes médias (Eder)

Segundo Marx, discutir as relações entre as desigualdades sociais e a acção colectiva significa
colocar o problema teórico da classe para si. Na conceição weberiana, é na relação entre classes,
status e partido que se entende a formação da acção colectiva.

Segundo Marx mantém a vigilância teórica de conferir centralidade à esfera das relações
produtivas, enriquecida com a perspectiva weberiana da existência de uma estrutura relacional
cultural e construtora de relações de propriedade económica, política e social, apelando,
igualmente, para a necessidade de integrar numa teoria sociológica sobre a acção colectiva os
tipos de acção valorativa, racional por fins, tradicional e afectivo-emocional (Silva)

Em torno dos temas da desigualdade e da acção colectiva, opuseram-se as correntes neomarxistas


às correntes neoweberianas das teorias do conflito. Segundo Pires, nas correntes neomarxistas, o
sujeito da acção colectiva tende a confundir-se com a classe definida no plano estrutural;

Nas correntes neoweberianas não só o sujeito da acção colectiva é definido enquanto grupo
constituído por processos de acção comunicacional e organizacional sobre os interesses comuns
resultantes de localizações estruturais comuns, como das mesmas localizações poderão emergir
múltiplos grupos (atores colectivos) por combinação entre razões instrumentais e razões
axiológicas.

Segundo Nicos Mouzelis, a partir da sua crítica sobre a teoria da estruturação de Giddens e da
distinção entre dualidade e dualismo da estrutura, a respeito da relação que os agentes
desenvolvem perante a reprodução das estruturas sociais, a variação possível entre modalidades
de maior implicação prática e modalidades de mais acentuado distanciamento crítico, teórico ou
estratégico, sendo que estas últimas modalidades tendem a aumentar de importância relativa,
precisamente, na acção colectiva organizada.
As desigualdades sociais (económicas e de poder) atravessam as instituições da
modernidade e os seus conflitos, prerrogativa teórica parcialmente encoberta por alguns
autores, teorias e conceitos como os de (movimentos sociais ou sociedade civil).
O modelo teórico que se propõe para o estudo da acção colectiva sob a óptica das
desigualdades sociais.

Segundo Bourdieu e de Mouzelis, apelando para quatro eixos de problematização teórica: o


espaço social das classes e a inerente produção de acção colectiva nos campos sociais das
sociedades; as relações entre os agentes, os atores colectivos e as instituições nas dinâmicas da
acção colectiva; a formação da acção colectiva na interacção social; e as
relações entre o hábitos e a mobilização social.

3. O espaço social das classes e a produção de acção colectiva nos campos


sociais
O espaço social das classes, expressando graus diversos de desigualdades de posição social e,
simultaneamente, produtor e produto das configurações estruturais, institucionais, culturais e
organizacionais que caracterizam uma determinada sociedade, constitui, em si mesmo, condição
e contexto macro-social significativo de constrangimento da acção colectiva por parte dos seus
agentes individuais e atores colectivos.

Os capitais económicos, culturais, sociais e simbólicos são factores de acção social colectiva,
ancorados em condições e Posições objectivas, estilos de vida, identidades de classe e de habitus.
Dependendo do volume e da estrutura do capital, sejam quais forem as condições sociais dos
atores ou o espaço-tempo histórico.

A mobilização dos capitais detidos pelos respectivos agentes e classes sociais constitui-se como
incontornável na formação, organização e institucionalização da acção colectiva nas sociedades
contemporâneas.

O problema discutido por (Bourdieu) quanto à dominação simbólica e cultural das


classes dominantes âncora, igualmente, na produção de possibilidades
de constituição da acção colectiva. As desigualdades sociais são legitimadas pelas relações
estruturais entre as classes, ao nível da dominação simbólica e cultural que as classes
dominantes exercem sobre as orientações sociais das classes subordinadas.

Segundo Bourdieu salienta a “cumplicidade ontológica” entre agentes e estruturas, onde


dominantes e dominados reproduzem a estrutura e a sua respectiva localização no interior
da mesma. Tal significa que o exercício do poder económico, político e social é socialmente
naturalizado.

Perante os mecanismos sociais eficientes da institucionalização da dominação, os dominados


acabam, assim, por encontrar maiores dificuldades para mudar os processos da subjugação
social. Se as lutas de classes se exprimem, de igual forma, enquanto lutas de classificação social,
nelas disputam-se a perpetuação da dominação, os interesses de classe, as “visões do mundo” e o
reconhecimento social que ditam o sentido dos lugares sociais a conquistar ou a reproduzir na
sociedade, Tais lutas de classificação social são corporizadas em estilos de vida.

Segundo Bourdieu sugere complementarmente para o domínio do cultural o que Marx houvera
proposto para o domínio do económico: entender as estruturas fundamentais e as dinâmicas do
poder centrais das relações sociais.

As relações entre os campos e os hábitos não são, somente, geradoras de reprodução social, as
características autónomas dos campos e os seus impactos sobre as próprias classes, a densidade
das relações intra e interclassistas, a multiplicidade e combinatória das formas de capital (apesar
da sua distribuição desigual) constituem factores complexos, mas dinâmicos, de acção colectiva
e de transformação social.

4. A presença dos atores colectivos e das instituições nas dinâmicas da acção


colectiva
Segundo Simmel enfatizou as formas de relacionamento social, em si mesmas autónomas das
propriedades dos atores envolvidos, centrando a sua atenção nas dinâmicas das relações entre os
indivíduos e os seus círculos sociais. As teorias da acção racional e do primeiro Interacionismo
Simbólico acabaram por revelar uma enorme dificuldade em transpor os níveis da racionalidade
ou da motivação entre os indivíduos.

A “classe provável” integra os atores que ocupam posições sociais e espécies de capital
semelhante nos diferentes campos sociais; a “classe prática”, enquanto grupo social, é construída
pelo processo de delegação, pelo qual o mandatário recebe do grupo o poder de o fazer.

Segundo Margaret Archer produz a distinção teórica entre os “agentes corporativos” e os


“agentes primários”. Os “agentes corporativos” possuem maior influência e capacidade
transformadora sobre o contexto estrutural e cultural em relação aos “agentes primários”, por via
da sua posição nos sistemas de estratificação e relações articuladas com outros atores colectivos
na formulação de interesses e recursos estratégicos, interactivos e organizacionais ao seu dispor.
Os “agentes primários” são os atores não organizados e passivos da interacção social.

A morfogénese ou morfoestática constituem o resultado dos efeitos agregados produzidos pelas


relações (posições) entre os “agentes primários” e os “agentes corporativos” durante os ciclos
morfogenéticos.

Segundo Mouzelis propõe que se focalize o olhar sobre as realidades institucionais e os atores
colectivos “concretos” que delas fazem parte integrante. Tal significa que se compreendam as
vinculações estruturais e culturais actuantes nos processos de formação, de organização e de
representação social dos atores colectivos nas sociedades modernas. Para ele os quase-grupos
transformam-se em grupos sociais no interior dos contextos institucionais históricos da
modernidade.

Na teoria de Mouzelis, os atores colectivos são entidades com meios identificáveis para poderem
de cidir e agir a partir dos processos de tradução, de representação e de organização, envolvidos
na constituição e na reprodução das relações de poder.
Mouzelis distingue entre posições estruturais e atores colectivos, apesar de considerar que a
partilha de posições estruturais semelhantes facilita a emergência de atores colectivos, embora,
de acordo com o seu ponto de vista, a acção colectiva só ocorra quando os quase-grupos se
transformam em colectividades sociais autónomas das posições estruturais.
Mouzelis coloca no centro da sua teoria as desigualdades e conflitos pela produção, apropriação
e controle das tecnologias ou recursos existentes nas instituições, aproximando-se, desta forma,
da teoria de Pierre Bourdieu.

Determinadas instituições são menos maleáveis e mais difíceis de mudar, uma vez que os atores
colectivos e os grupos sociais que as sustêm procuram preservar e assegurar os seus interesses
conquistados.

É na disputa pelos recursos gerados nas instituições, mobilizados no decurso dos jogos sociais,
que se formam antagonismos e ganham autonomia organizativa os grupos sociais e os atores
colectivos, a partir dos quais se institucionalizam objectivos e estratégias de acção colectiva.
Mouzelis subdivide os contextos institucionais da modernidade em subsistemas económico,
político, social e cultural, nos quais decorre a acção colectiva.

5. Interacção social e acção colectiva

A consideração da interacção social enquanto espaço social hierarquizado, permite a Mouzelis


transpor a acção colectiva para a esfera do quotidiano dos agentes sociais. São as estruturas
interactivas (ou a ordem da interacção social) que fornecem aos indivíduos as capacidades
estratégicas (valorativas, racionais e reflexivas) formativas das práticas de reprodução ou de
transformação das estruturas sociais.

A ordem da interacção integra as capacidades organizacionais (formais ou informais) dos atores


colectivos e dos agentes individuais ao longo das situações sociais. Torna-se, assim, imperativo
considerar a ordem da interacção como nível social específico e analisar, “com a maior
elaboração teórica possível, os seus parâmetros próprios, nomeadamente as suas regras e os seus
mecanismos, assim como as suas (meso/micro) estruturas espaciais e temporais.
A interacção social comporta uma ordem material, institucional, cultural e simbólica regulativa
dos jogos sociais gerados nos campos e estrategicamente incorporada e apropriada pelos agentes
e atores colectivos presentes nos processos de integração, negociação e conflito.

Seus efeitos não deriváveis exclusivamente nem da posição social, nem das disposições sociais
dos atores, numa ordem social que se alcança pelos próprios processos da interacção social. As
situações (ou jogos sociais) não são um terreno neutro onde os agentes aplicam os meios para
atingir determinados fins pré-estabelecidos, mas sim Contextos sociais estratégicos, geradores de
intencionalidades singulares e colectivas Múltiplas, entre elas a acção colectiva.

De igual forma, as identidades sociais não se transformam em sentimento de pertença sem que
existam estruturas organizativas e espaços de interacção que suportem tais processos de
activação colectiva.

O grau de solidariedade (ou de coesão social) que uma organização ou actor colectivo for capaz
de assegurar, repercutido na densidade e intensidade das interacções e estratégias, constitui uma
dimensão teórica igualmente fundamental para a compreensão da acção colectiva.

6. As relações entre os hábitos e a acção colectiva


Uma teoria da acção colectiva poderá ter muito a ganhar a partir do conceito de
Hábitos segundo Nick Crossley é um dos principais autores contemporâneos que
mais criativamente tem sabido explorar a profundidade do conceito de Pierre Bourdieu.

A concepção de Bourdieu do hábitos encoraja o estudo dos movimentos sociais e da


representação política, como um trabalho colectivo de agentes dotados de diferentes
intencionalidades e estratégias sociais, agentes que, enquanto construtores activos de
protestos e de movimentos sociais, incorporam esquemas de percepção social, recursos e
modos de agir derivados da sua incrustação no mundo social.
A acção colectiva oscila entre períodos de relativa tranquilidade social, em que os protestos são
escassos e relativamente inactivos, e períodos de enorme efervescência colectiva, onde os
movimentos sociais se tornam bastante activos.

7. A teoria voluntarista da acção

O projecto de Parsons na obra de 1937 consiste essencialmente num comentário e numa


reinterpretação das obras de quatro teóricos europeus (económicos e sociólogos) da viragem de
século: “ Marshall, grande moralista inglês da classe média: Durkheim, judeu alsaciano, radical
anticlerical e professor de Francês; pareto retraído e sofisticado nobre italiano; e, finalmente.
Weber, membro da mais cultivada da alta classe média Alemã, que cresceu num ambiente do
idealismo alemão e se educou nas escolas históricas do direito e da economia.

Apoiado nas concepções destes quatro estudiosos, Parsons procura depois expor uma súmula ou
síntese da sua autoria, com a base na qual supostamente, a teoria social do século XX poderá
superar as limitações observáveis nas tendências principais do século XIX. Essas limitações têm
o nome de ismos: empirismo, positivismo, utilitarismo, materialismo. Referem-se, por outro
lado, menos a escolas organizada do que a tendências difusas em boa medida correspondentes
aquilo que Tocquiville considerou a mentalidade típica norte-americana (Gouldner).

De Alfred Marshall e de Vilfredo Pareto retém, sobretudo, a discussão a que estes autores
procedem daquilo que Parsons considera ser a incoerência e a instabilidade da filosofia
utilitarista implícita na teoria económica académica, em particular o marginalismo da escola
neoclássica.

Se a generalidade dos economistas, a corrente principal de entre eles, considerava ser a


determinação das preferências dos agentes económicos um problema, por definição mesmo
exterior á analise (limitando-se esta a tomar como factos as preferências manifestas), já Marshall,
pela explícita consideração do problema colocado pelo reconhecimento de virtudes como “ a
energia, o espírito de iniciativa, a indústria, a honestidade” (Bourricaud), apontara no sentido
considerado importante por Parsons: a importância dos valores na actividade humana.
Pareto, embora regasse esta problemática para a zona do elemento não lógico das acções
humanas, fazia também ele intervir uma larga componente não utilitária na explicação das
condutas. Se tivemos em conta que, dentro do não lógico, existe um sector que não é redutível
nem aos simples erros ou desvios (atribuíveis a idiossincrasias) relativamente à escrita

racionalidade, nem a determinações físicas ou biológicas, nem aos instintos, nem aos interesses,
então estamos em condições de falar com propriedade de um sector social do não-lógico, o qual
é constituído pelas crenças e pelas preferências colectivas.

Para por em evidência este carácter propriamente social, Parsons apoia-se na noção de utilidade
social que Pareto parece autorizar: “ a ofemilidade de uma colectividade não existe, mas
podemos de uma maneira rigorosa conceber a utilidade de uma colectividade (Pareto, cit.
Bourricaud).

A visão da sociedade característica da análise económica, que parece considerar esta uma
aglomeração de indivíduos, poderíamos assim contrapor uma outra que a tomasse com uma
unidade dotada de coerência, na condição bem entendido, de que,” em vez de considerarmos a
acção social uma mera agregação de preferências individuais, saibamos ai reconhecer sistemas
de valores” (parsons, cite. Bourricaud).

Segundo Émile Durkheim, apesar da sua ligação a tradição positivista, é interpretado por Parsons
no sentido da valorização do elemento moral que, segundo o autor francês, caracterizaria os
factos sociais.

Assim, apesar de estes serem definidos como coisas, impondo-se objectivamente aos divíduos
(na obra de Durkheim, vale por um convite a que se proceda ao seu estudo rigoroso e
desapaixonado ), a verdade é que como parsons faz questão de frisar, a normal existência duma
sociedade só é, para Durkheim, possível na medida em que as obrigações sejam, de certo modo
interiorizadas pelos indivíduos, isto é, sentidas por estes como obrigações morais.

Não se trata pois, essencialmente, de um constrangimento concebido como força física, mas
como elementos normativos que (pelo-menos em parte) moldam o indivíduo, do qual constituem
o superego em sentido psicanalítico (freudiano).
É, de resto, o que a permanente insistência de Durkheim, no tema da disciplina moral e da sua
absoluta necessidade (mais ainda no caso da solidariedade orgânica, quando a consciência
colectiva enfraqueceu) não faz senão confirmar.

Em suma, embora o trajecto fosse outro (Durkheim não parte do utilitarismo do raciocínio dos
economistas e, por isso, não necessita da categoria do não lógico), as suas conclusões seriam
perfeitamente compatibilizáveis com as de Pareto e a este para além de cálculo, irredutível ao
lógico-experimental como ao contratual, um e outro chamam sociedade. Ao fim e ao cabo, a
convergência entre Durkheim e Pareto verificasse em torno daquilo a que Persons chama
teorema sociológico, quer dizer afirmação do carácter irredutível da realidade social,
relativamente as suas determinantes e as suas condições (Bourricaud).

Segundo Parsons retém desde logo aquilo que considera ser a orientação anti- materialista e
antitutelarista na explicação de um fenómeno como o capitalismo: os estudos de Max Weber e de
Werner Sombart, pela importância atribuída por ambos ao problema dos valores, atraíram desde
muito cedo a atenção do jovem Parsons como alternativa a explicação materialista (sobre tudo
marxista) do capitalismo.

Para além desse aspecto da sua obra, Weber torna se também notado pela ênfase que colocara,
nas discussões metodológicas em que estivera envolvido, na necessidade de construção de
diferentes sociedades. Apesar da sua tendência para colocar o acento na singularidade de todo o
indivíduo histórico, Weber teria dessa forma escapado ao perigo representado pelo intucionismo
de Dilthey, que tornava toda a comunicação e todas as comparações impossíveis.

É a lição de um individualismo moderado (que por isso evita os escolhos do intuicionismo e os


impasses de um puro existencialismo) e de um anti-materialismo que também não chega
propriamente ao idealismo (uma vez que os valores não são concebidos como produzindo pura e
simplesmente a realidade social) o que, em essência, Parsons aparentemente retira da obra de
Max Weber.

De todos estes autores parece, entretanto, desprender-se uma concepção a que Parsons chamou
voluntarista (voluntaristic) da acção. É o que ele opõe muito claramente as tendências
behaviouristas, que concebem a acção humana não é, assim, uma mera coisa material estudares
do ponto de vista de um esquema estimulo-resposta, é porque ela é orientada, dotada de sentido.
Estas considerações (que o aproximam dos psicólogos da Gestalt e de Kurt Lewin levaram
Parsons a procura do que considerou o únitact: a unidade elementar é a unidade mais pequena
concebível como existindo por si própria. O que traduz em afirmar que ela devera ter um sentido
para o actor (mesmo que diferente do que o conservador lhe atribui) e lhe pode ser imputado um
certo numero de efeitos práticos (ainda que diferente dos objectivos do actor.

Assim, esse conceito faz se simultaneamente apelo a noção de sistema, concebido como rede de
relações. A unidade elementar não seria um átomo (se utilização desse termo quer sugerir que a
sociedade se reduz as interacções fisicamente observáveis do actores).

A sua consideração resultaria apenas da necessidade de levar em conta o sentido da acção, o que
obriga a tomar o próprio “ nó de relações” como a dita unidade elementar. O sistema de acção
sugeria ao actor como um conjunto de constrangimentos ou” meio” externo no qual ele age “
mas que, apesar de constituído por unidades elementares, não é redutível à sua soma".

As duas propriedades emergentes dos sistemas são, segundo Parsons opina a este respeito, por
um lado as relações sociais, quer dizer, as expectativas que se impõem aos actores nas suas
relações mútuas, por outro, os próprios grupos, ou seja, a maneira como é instituída e preservada
a própria coesão do conjunto (a maneira como o problema da ordem é resolvido em termos
práticos).

A chave da manutenção da dita ordem é proposta pelo próprio Parsons desde esta altura: A
sociologia é uma teoria analítica dos sistemas de acção social, na medida em que os referidos
sistemas podem ser compreendidos como constituindo uma integração pelos valores comuns.
8. Conclusão
O desenvolvimento de um programa teórico holístico para o estudo da acção colectiva, pressupõe
a interligação de quatro conceitos centrais da teoria sociológica: os conceitos de desigualdade
social, classe social, conflito e acção colectiva. São conceitos com acuidade heurística para
explicar alguns dos principais processos e fenómenos sociais concretos das sociedades
contemporâneas.

O conceito de classe social visa apreender eficazmente as propriedades estruturais, culturais,


institucionais e posicionais dos atores individuais e colectivos, presentes na construção de
protagonismos sociais de acção colectiva, ao mesmo tempo que se procura conferir centralidade
a processos económicos, sociais, culturais e políticos em curso nas sociedades capitalistas
modernas, dos quais emergem desigualdades sociais com consequências sociais decisivas sobre a
acção colectiva.
9. Referências bibliográficas
ALEXANDER, Jeffrey C. (1998), “The new theoretical movement in sociology”, in Jeffrey C.
Alexander, Neofunctionalism and After, Malden (Mass.), Blackwell Publishers, pp. 163-209.
ARCHER, Margaret (1995), Realist Social Theory: The Morphogenetic Approach, Cambridge,
Cambridge University Press.
EDER, Klaus (1993), The New Politics of Class. Social Movements and Cultural Dynamics in
Advanced Society, London, Sage Publications.
MAHEU, Louis (org.) (1995), Social Movements and Social Classes. The Future of Collective
Action, London, Sage Publications.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich (2008), Marx Engel Obras Escolhidas Tomo I, Lisboa,
Edições

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