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Texto 13

Neste artigo, o autor discute a relação entre estrutura social e ação dos indivíduos na
reprodução e mudança sociais. Ele destaca que, tradicionalmente, a teoria sociológica clássica
explicava esses processos pela estrutura social, negligenciando o papel dos atores individuais na
constituição do mundo social. No entanto, nas últimas duas décadas, tem havido um debate
teórico renovado sobre o papel dos atores sociais na reprodução e mudança sociais.
O autor argumenta que as teorias neo-institucionalistas das ciências sociais oferecem
ferramentas conceituais úteis para repensar as estruturas e a ação. Além disso, ele desenvolve
uma visão sociológica da ação, baseada na literatura empírica e teórica, que aborda diretamente
o problema da ação. Essa visão propõe o conceito de "habilidade social" como uma forma dos
atores induzirem a cooperação dos outros na construção e reprodução de ordens sociais locais.
O autor argumenta que a habilidade social é essencial para compreender a contribuição
distinta dos atores, independentemente de estarem mantendo ou modificando os arranjos sociais
existentes. Ele sugere que essa perspectiva fornece um microfundamento sociológico para as
teorias neo-institucionalistas, em contraposição ao individualismo metodológico.
O artigo busca sintetizar conceitos existentes na literatura para promover uma visão
mais coerente das abordagens sociológicas institucionalistas. O autor não propõe uma teoria
completa, mas oferece um esquema conceitual abstrato que fornece aos sociólogos empíricos
ferramentas para analisar o papel dos atores na formação de campos sociais.
O autor explora ação estratégica, quadros (framing), definição de agenda (agenda
setting), intermediação (brokering) e ação robusta como táticas que os atores sociais utilizam
para obter a cooperação dos outros. Ele relaciona o projeto da ação com o interacionismo
simbólico e o projeto neo-institucionalista de compreensão das ordens sociais locais.
Ação estratégica: A ação estratégica refere-se às escolhas e ações que os atores sociais
fazem com o objetivo de alcançar determinados resultados ou objetivos. É a capacidade de
planejar e executar ações de acordo com uma estratégia definida. Os atores sociais utilizam ação
estratégica para moldar suas interações sociais, antecipar possíveis reações dos outros e tomar
decisões que os ajudem a alcançar seus interesses.

Quadros (framing): O quadro, ou framing, é uma estratégia usada pelos atores sociais
para moldar a interpretação e percepção dos outros em relação a determinados assuntos ou
situações. Trata-se de apresentar informações de uma maneira específica para influenciar a
forma como as pessoas entendem e avaliam uma questão. Ao enquadrar um problema ou
situação de uma determinada maneira, os atores sociais podem influenciar as opiniões e
comportamentos dos outros.
Definição de agenda (agenda setting): A definição de agenda, ou agenda setting, é uma
tática em que os atores sociais buscam influenciar quais questões ou problemas são
considerados importantes e devem receber atenção por parte do público ou dos tomadores de
decisão. Eles fazem isso destacando certos temas, eventos ou questões e tornando-os salientes
na discussão pública. Ao definir a agenda, os atores sociais podem direcionar a atenção e o foco
das pessoas para determinados assuntos, moldando assim as discussões e prioridades sociais.
Intermediação (brokering): A intermediação refere-se ao papel desempenhado por
atores sociais que atuam como intermediários entre diferentes grupos ou partes envolvidas em
uma interação social. Os intermediários facilitam a comunicação, a negociação e a cooperação
entre diferentes atores, ajudando a superar possíveis barreiras e conflitos. Eles desempenham
um papel crucial na construção de pontes entre os diferentes grupos, transmitindo informações,
promovendo o entendimento mútuo e buscando soluções que atendam aos interesses de todas as
partes envolvidas.
Ação robusta: A ação robusta refere-se à capacidade dos atores sociais de manter suas
ações, mesmo em face de obstáculos, resistência ou adversidades. Trata-se de persistir e
sustentar suas ações, apesar das dificuldades ou oposições que possam encontrar. Os atores
sociais que demonstram ação robusta são resilientes, persistentes e determinados na busca de
seus objetivos, mesmo quando confrontados com desafios ou restrições

O autor destaca que, nas teorias neo-institucionalistas, as instituições sociais são


construções sociais resultantes da interação entre atores em campos ou arenas. As regras e
recursos existentes atuam como fontes de poder e servem de base para a construção e
reprodução das instituições. Ele argumenta que os atores estratégicos habilidosos desempenham
um papel crucial na reprodução e transformação dos campos.
O autor ressalta a importância da habilidade social em situações de incerteza e
turbulência social, onde pode desempenhar um papel fundamental na manutenção das ordens
sociais. Além disso, nos momentos de surgimento ou formação de ordens, a habilidade social é
especialmente relevante.
No geral, o autor busca integrar conceitos existentes e propor uma visão interacionista
simbólica da ação, baseada na habilidade social dos atores. Ele sugere que essa abordagem pode
ter implicações empíricas para o estudo da formação de campos em diversos cenários.

O autor também apresenta uma série de pontos em comum encontrados nas teorias neo-
institucionalistas, que enfocam as instituições como regras e significados compartilhados que
definem as relações sociais e orientam a interação entre os atores. Essas instituições são
intersubjetivas (reconhecidas pelos outros), cognitivas (dependem das habilidades cognitivas
dos atores) e requerem a autorreflexão dos atores em certo nível.
As teorias neo-institucionalistas se concentram no conceito de ordens sociais locais, também
chamadas de "campos", "campos organizacionais", "setores" ou "jogos". Esses campos são
situações em que grupos organizados de atores se reúnem e desenvolvem ações recíprocas face
a face. As teorias estão interessadas em como esses campos surgem, se mantêm estáveis e
podem ser transformados.
A construção de instituições ocorre no contexto de atores poderosos que buscam
produzir regras de interação para estabilizar sua situação em relação a outros atores poderosos e
menos poderosos. Os campos atuam para reproduzir o poder e o privilégio dos grupos
dominantes e definir as posições dos desafiantes. A construção das instituições ocorre durante
momentos de confrontação entre grupos sociais em algum cenário de interação social de
contestação.
Diferentes táticas podem ser utilizadas na construção de instituições estáveis, como a
imposição de regras por grupos dominantes, o exercício de ordem por uma força externa (como
um governo) e a formação de coalizões políticas. Se a situação for suficientemente fluida, atores
sociais habilidosos podem ajudar grupos a superar suas diferenças propondo uma nova
identidade para o campo.
Os campos são construídos por meio da cultura, que inclui práticas sociais
preexistentes, regras únicas do campo e estruturas cognitivas dos atores. Uma vez estabelecidos,
os campos e as posições sociais que eles definem restringem as ações e opções dos atores. No
entanto, as significações e hierarquias dos campos podem ser contestadas.
Os campos podem ser transformados quando os equilíbrios atuais começam a se
romper, geralmente em decorrência de crises. As crises podem surgir nas relações entre grupos
dentro de um campo ou de grupos invadindo um campo específico. Os campos são formados
quando grupos mais poderosos conseguem estabelecer uma ordem social local, seja impondo-a
a outros grupos ou negociando com outros grupos poderosos.
A teoria dos campos oferece uma visão de como as ordens sociais locais são criadas,
sustentadas e transformadas. Ela permite que os acadêmicos analisem as forças externas que
atuam em um campo específico e as condições em que os grupos podem criar novas ordens. A
noção de campos pode ser aplicada em diferentes áreas de estudo, como economia, sociologia
política, sociologia de mercados e teoria dos movimentos sociais.

Os "neo-institucionalistas" têm divergências em relação aos papéis dos atores, cultura e


poder. Em uma perspectiva de escolha racional, as instituições são vistas como resultado das
interações entre atores racionais em situações semelhantes a jogos de regras fixas. Por outro
lado, os institucionalistas sociológicos enfatizam a obscuridade dos mundos sociais, a
necessidade de interpretação e a influência dos roteiros fornecidos por governos e profissionais.
No entanto, o autor critica tanto a perspectiva sociológica quanto a escolha racional,
argumentando que ambas não consideram adequadamente o problema da ação e não concedem
às pessoas reais a capacidade de criar seus próprios mundos sociais. Uma teoria sociológica da
ação deve levar a sério as visões do ator racional, reconhecendo que eles buscam seus próprios
interesses e estão envolvidos em interações estratégicas, ao mesmo tempo em que os socializa e
os motiva a orientar seu comportamento aos grupos.
As concepções sociológicas do neo-institucionalismo afirmam que as instituições
fornecem significados coletivos que estruturam o campo social. Uma vez estabelecidos, esses
significados são disseminados e reproduzidos pelos atores, que muitas vezes não consideram
alternativas e utilizam mitos racionalizados para justificar suas ações. No entanto, essa
abordagem reduz os atores a receptores passivos das instituições, ignorando sua habilidade
social e capacidade de agir de forma criativa e contestadora.
Além disso, a maioria das teorias neo-institucionalistas na sociologia organizacional
negligencia uma teoria do poder. As análises dos campos sociais raramente abordam a dinâmica
e o papel do poder, não explicando o surgimento das instituições e não considerando quem se
beneficia delas. Essa falta de uma teoria adequada de interação e poder impede a explicação das
oportunidades para ações inovadoras, a organização de atores e a criação de novas instituições.
Em suma, o autor defende a necessidade de uma concepção alternativa da ação social,
na qual os atores desempenham um papel central. A habilidade social dos atores-chave é
fundamental para induzir a cooperação, negociar interesses e identidades coletivas, e é essa
habilidade que possibilita o surgimento e a reprodução das instituições. Dessa forma, a visão
sociológica enfatiza a importância dos processos sociais na constituição das instituições, em
contraste com as abordagens que tratam as regras e os recursos como exógenos e os atores como
indivíduos com preferências fixas.

O autor também discute a habilidade social como um microfundamento das ações dos
atores em grupos e organizações. A habilidade social é definida como a capacidade de induzir a
cooperação nos outros e está relacionada à empatia e compreensão das percepções e interesses
dos diferentes atores. Aqueles que possuem habilidades sociais são capazes de criar um senso
positivo de identidade que ressoa entre os outros, buscando produzir significado tanto para si
mesmos quanto para os demais.
A ideia de habilidade social se origina da interação simbólica, em que as interações dos
atores com os outros moldam suas concepções de si mesmos. A identidade dos atores está
relacionada aos significados que possuem e que definem quem são e o que desejam em
determinada situação. Atores socialmente habilidosos têm a capacidade de induzir a cooperação
dos outros por meio da compreensão das percepções e interesses dos diferentes atores,
utilizando essa compreensão para interpretar a situação e tomar ações que estejam de acordo
com os interesses existentes.
Aqueles com habilidade social não se limitam a seus próprios interesses, mas se
concentram em desenvolver fins coletivos, mantendo suas metas abertas e adaptando-se ao que
o sistema lhes proporciona. Eles são capazes de persuadir os outros a cooperar, buscando criar
significado compartilhado e garantir que o que ocorrerá seja consistente com a identidade e os
interesses dos demais atores. Além disso, os atores socialmente habilidosos utilizam uma
variedade de táticas, como a definição da agenda, o entendimento das ambiguidades e certezas
do campo, a mediação de disputas, a negociação e a agregação de atores com preferências
divergentes.
Essas habilidades sociais são essenciais para a sobrevivência e são observadas em
diversos contextos, como universidades, política e negócios. No entanto, é importante destacar
que nem todos os gestores possuem alto nível de habilidade social. Além disso, para tornar a
ideia de habilidade social empiricamente útil, é necessário especificar as táticas utilizadas pelos
atores habilidosos e relacioná-las às posições que ocupam nos campos. A compreensão dessas
táticas pode contribuir para o estudo da formação, estabilidade e transformação dos campos.

A habilidade social desempenha um papel importante na análise dos campos sociais. Ela
é vista como uma microestrutura que ajuda a compreender as ações dos atores dentro desses
campos. A habilidade social é uma combinação de recursos, regras preexistentes e as
habilidades individuais dos atores, que trabalham juntos para criar e estabilizar os campos, bem
como promover transformações dentro deles.
Os atores sociais hábeis são capazes de ajustar suas ações com base na organização
atual do campo, sua posição dentro desse campo e as ações dos outros atores habilidosos de
diferentes grupos dentro do campo. Mesmo em campos estáveis, os atores sociais habilidosos
precisam manipular regras e recursos para auxiliar na reprodução das ordens locais.
O surgimento de novos campos ocorre quando membros de diferentes grupos percebem
novas oportunidades. Nesses momentos, os atores sociais habilidosos direcionam suas ações
para estabilizar seu próprio grupo e estabelecer relações com outros grupos. No entanto, é
importante notar que, em algumas situações, os atores habilidosos podem não ser bem-
sucedidos. Eles podem não conseguir desenvolver coalizões políticas ou podem ser membros de
grupos com pouca força para impor uma ordem social local. Mesmo com toda a habilidade
social, a ordem pode falhar se não houver recursos suficientes ou possibilidade de desenvolver
quadros comuns.

Existem duas formas de produzir a ordem em um campo. Em primeiro lugar, os grupos


maiores e mais poderosos podem impor uma ordem de acordo com seus interesses, utilizando os
recursos e regras preexistentes. Isso requer a utilização do poder dos outros campos e, muitas
vezes, a cooperação entre os grupos mais poderosos. Os atores estratégicos habilidosos podem
negociar e sinalizar suas intenções aos seus principais concorrentes, encontrando uma forma
coletiva de impor a ordem, mesmo que isso signifique desvantagem para alguns grupos.
A segunda forma de produzir a ordem envolve os empreendedores institucionais, que
são atores habilidosos inspirados. Esses empreendedores desenvolvem novos conceitos culturais
para criar instituições totalmente novas. Eles constroem coalizões políticas sob uma nova
bandeira, unindo grupos muito diferentes. Os novos conceitos culturais são baseados nos
recursos disponíveis e fornecem identidades coletivas para os atores, redefinindo quem eles são
e o que desejam. Essas situações frequentemente envolvem forças políticas que unem grupos
diversos com base em novos quadros culturais, permitindo o surgimento de coalizões
inesperadas.
Essas proposições descrevem a relação conceitual entre os atores sociais habilidosos,
seus recursos dentro do campo e a organização desse campo. No entanto, é importante notar que
essas proposições não são causais, mas sim ferramentas conceituais para auxiliar na análise
empírica dos campos sociais.
A teoria das instituições analisa a habilidade social e a construção de campos em
diferentes fenômenos sociológicos. Essa teoria pode ser aplicada a subcampos da sociologia,
como política organizada, movimentos sociais, economia e setor sem fins lucrativos. Esses
subcampos envolvem atores que buscam criar instituições para orientar suas interações e
promover seus interesses coletivos. Exemplos incluem o papel dos empreendedores políticos na
transformação do campo da política econômica durante o New Deal nos Estados Unidos e a
mobilização de identidades coletivas no movimento de direitos civis. Além disso, a teoria das
instituições também pode ser aplicada ao estudo da mudança institucional nos mercados
econômicos, como a ascensão do formato multidivisional nas grandes corporações na década de
1920. A teoria argumenta que os atores lutam pela cooperação em seus grupos e pela
estabilização das interações entre os grupos.

Texto 14)

A teoria do campo oferece uma visão alternativa da vida social, indo além das análises
macro ou micro. Ela se preocupa com a forma como um conjunto de atores orientam suas
ações uns em relação aos outros em uma ordem social de nível intermediário, denominada de
"campo". A teoria do campo implica que há algo em jogo nessa ordem, que existem regras que
a governam, que os atores têm posições e recursos, e que eles têm uma compreensão dessa
ordem que lhes permite interpretar as ações dos outros e elaborar uma resposta. Os campos
são as arenas onde o jogo sociológico de disputa por posição constantemente se desenrola.

O objetivo deste capítulo é revisar a teoria do campo contemporânea, conforme


articulada em três principais declarações teóricas na sociologia. Começamos com uma breve
descrição dos princípios centrais de qualquer teoria do campo sociológica contemporânea. Em
seguida, discutimos as raízes intelectuais da teoria do campo, dando atenção especial às
influências de Max Weber e Kurt Lewin, além da fenomenologia e interacionismo simbólico. A
seguir, fornecemos uma visão geral de três das elaborações mais desenvolvidas da teoria do
campo nas últimas décadas: a teoria dos campos de Pierre Bourdieu (1992), a abordagem neo-
institucional para "campos organizacionais" (DiMaggio e Powell, 1983) e o modelo de "campos
de ação estratégica" proposto recentemente por Fligstein e McAdam (2012). Em seguida,
examinamos mais detalhadamente como cada uma dessas teorias aborda dois dos problemas
mais fundamentais da teoria sociológica: (1) como os campos sociais surgem, se reproduzem e
mudam, e (2) como conceber a agência e os atores.

Dedicamos a maior parte do texto discutindo as principais diferenças entre as três


abordagens nessas questões. Embora haja algumas semelhanças entre as variedades da teoria
do campo, também existem opiniões divergentes. A teoria neo-institucional, baseada no
modelo de ação social de Berger e Luckmann (1967) e na fenomenologia, minimiza o exercício
de poder nos campos e nos oferece uma visão dos atores que tendem ao hábito e à
conformidade em suas ações, confiando em pistas do campo para legitimar suas ações. Em
contraste, a teoria de Bourdieu enfatiza o papel do poder na construção do campo e se
concentra em como a estruturação do campo dá aos atores mais poderosos as ferramentas
para consistentemente vencer o jogo. Ele desenvolve um modelo sofisticado de ação baseado
no "habitus", que é um conceito que explica como as pessoas formam quadros culturais que
informam sua capacidade de interpretar as ações dos outros. Embora haja afinidades claras
entre o modelo de atores de Bourdieu e a teoria neo-institucional clássica, o modelo de
Bourdieu se concentra mais em como os atores usam seus quadros cognitivos existentes para
se envolver em ação estratégica, mas socialmente estruturada.
Quanto à emergência e mudança do campo, Bourdieu e a teoria neo-institucional
focam principalmente na reprodução da estrutura do campo como resultado da ação social.
Fligstein e McAdam teorizam de forma mais explícita a emergência e a mudança, oferecendo
uma visão mais fluida e política da dinâmica do campo. Eles sugerem que mesmo campos
estáveis estão constantemente passando por mudanças, pois a contestação em relação a
todos os aspectos do campo faz parte do projeto contínuo do campo. Fligstein e McAdam
avançam a ideia de que os campos estão inseridos em sistemas de campos que influenciam
grandemente a capacidade dos atores de criar e reproduzir mundos estáveis. Eles também
fornecem insights sobre a emergência e transformação do campo ao considerá-los como
situações em que todos os aspectos da formação do campo estão em jogo. Por fim, eles
desenvolvem o conceito evocativo de "habilidade social" para explicar como os atores
influenciam, dominam ou cooperam com os outros para produzir e sustentar uma ordem
social de nível intermediário.
Esclarecemos essas diferenças de opinião para sugerir duas linhas futuras de trabalho.
Primeiro, é possível que cada uma dessas perspectivas capture algo plausível sobre como o
mundo funciona. O que fica indefinido são as condições sob as quais uma ou outra dessas
perspectivas deve ser utilizada. Segundo, pode ser que uma dessas perspectivas ofereça de
fato uma maneira empírica melhor de compreender as ordens sociais de nível intermediário.
Estabelecer suas diferenças permite que os estudiosos construam testes pelos quais a validade
de uma ou outra dessas perspectivas possa ser estabelecida. A promessa da teoria do campo
está em seu potencial para explicar interações em uma ampla variedade de contextos sociais.
Ela oferece um conjunto de ferramentas conceituais que podem ser utilizadas para abordar
muitas das questões sociológicas mais importantes. O progresso só será alcançado ao
aprimorarmos nossa compreensão das diferenças entre as teorias do campo, a fim de
entender melhor como elas podem ser utilizadas de forma proveitosa.

10.2
A ideia principal na teoria do campo é que a maior parte da vida social ocorre em arenas onde
os atores levam uns aos outros em consideração em suas ações. Essas interações ocorrem onde
algo está em jogo. No entanto, os campos também implicam uma ordem estável, que permite a
reprodução dos atores e de suas posições sociais ao longo do tempo. Essa formulação geral de
um campo é às vezes descrita como uma ordem social de nível intermediário. O termo "meso"
refere-se ao fato de que os atores estão levando uns aos outros em consideração ao moldar ações
dentro de uma arena social teoricamente ou empiricamente definida. Isso significa que a
explicação da ação social é feita no contexto do campo. Isso não significa que todos os atores
sejam indivíduos. Em vez disso, a teoria do campo concebe os atores como indivíduos, grupos,
subunidades de organizações, organizações, empresas e estados. Exemplos de ordens sociais de
nível intermediário compostas por atores individuais e coletivos incluem grupos de indivíduos
que trabalham em um escritório e cooperam em uma tarefa, subunidades de organizações que
competem por recursos organizacionais, empresas que competem entre si para dominar um
mercado e estados que se reúnem para negociar tratados. A unidade de análise principal não é
um processo macro-social que contém alguma lógica estrutural subjacente que opera
independentemente dos atores (por exemplo, classe social), nem é um processo micro-social que
se concentra nas preferências e motivações idiossincráticas dos atores individuais.

Os teóricos do campo compartilham uma abordagem espacial e relacional para entender como
os atores interagem uns com os outros. Os atores estão localizados em um espaço social (o
campo), que é uma arena socialmente construída na qual os atores estão orientados uns em
relação aos outros em torno de uma prática comum, instituição, questão ou objetivo. Ao se
orientarem uns para os outros, os atores do campo moldam suas ações e identidades em relação
uns aos outros (ou seja, de forma relacional). Atores dentro de um campo reconhecem (embora
nem sempre sigam) significados compartilhados, regras e normas que guiam suas interações. Os
campos estruturam os interesses dos atores e os influenciam a pensar e agir de acordo com as
regras e expectativas do campo. No entanto, os atores do campo têm a capacidade de agência
(novamente, em graus variados, dependendo da versão da teoria) para acumular recursos e/ou
buscar vantagens em relação aos outros. Esses recursos e vantagens podem incluir legitimidade,
a acumulação de diversas formas de capital para exercer poder sobre os outros e a construção de
coalizões políticas para promover interesses coletivos.

Os teóricos do campo utilizam o conceito de campo para entender como e por que as ordens
sociais podem ser reproduzidas. No entanto, eles têm se interessado cada vez mais em como os
campos emergem e são transformados. Subjacente a essa formulação está a ideia de que um
campo é uma arena contínua e semelhante a um jogo, onde os atores precisam entender o que os
outros estão fazendo para moldar sua ação. Isso levou os teóricos do campo a considerar a
agência e a ação e a desenvolver visões sociológicas de como a cognição funciona, focando em
questões de cultura, enquadramento, identidade, hábito e socialização. Por fim, embora o papel
dos atores varie nas formulações das teorias do campo, essas teorias rejeitam explicitamente os
modelos de ator racional e em vez disso se baseiam na fenomenologia e interacionismo
simbólico para entender o que os atores fazem sob diferentes condições de campo.

10.3

A teoria do campo sociológico contemporâneo tem suas raízes clássicas em duas influências
principais: Max Weber e Kurt Lewin. Max Weber argumentou que as relações sociais requerem
ação significativa entre dois ou mais atores, cujas ações são baseadas em uma conscientização e
orientação em relação ao outro. Weber também afirmou que as relações sociais podem se
expandir para níveis mais altos (por exemplo, organizações, associações, etc.) e se tornar uma
ordem social que abrange uma multidão de atores. Weber identificou um pequeno número de
ordens presentes em todas as sociedades: ordem legal, social, econômica, política e religiosa.
Ele acreditava que algo diferente está em jogo em cada ordem e as lutas por uma ordem
particular só podem ser interpretadas a partir da perspectiva de grupos que disputam vantagem
nessa ordem. Por exemplo, honra ou status estão em jogo na ordem social, poder na ordem
política, a salvação das almas na ordem religiosa e vantagem econômica na ordem econômica.
Weber argumentava que o poder em uma ordem poderia resultar em poder em outra. Portanto,
por exemplo, o sucesso econômico poderia influenciar a honra social ou a estima. No entanto,
Weber também considerava que a relação entre as ordens era produto da história. Com sua
ênfase no simbólico, além da dimensão material das relações, Weber foi de fundamental
importância para as concepções dos teóricos do campo sobre os campos como arenas
socialmente construídas de ação.

Kurt Lewin, um psicólogo social com formação em psicologia Gestalt, foi quem transferiu mais
diretamente as ideias da teoria do campo das ciências físicas para as ciências sociais. Lewin
aplicou os conceitos da Gestalt de percepção - que os estímulos não são percebidos como partes
individuais, mas em relação ao todo do campo de percepção - à psicologia social e, em
particular, à motivação humana e à influência das situações sociais na cognição. Lewin também
desenvolveu modelos formais para representar campos, que ele definiu como a "totalidade de
fatos coexistentes concebidos como mutuamente interdependentes", e o espaço de vida, definido
como "a pessoa e o ambiente psicológico como eles existem para ele". Para Lewin, a apreensão
fenomenológica do mundo pelo indivíduo poderia ser influenciada simultaneamente pelo
ambiente do campo e pela navegação do espaço de vida. O espaço de vida é composto por
regiões de experiência, cujo significado é definido por suas relações com outras regiões. E como
a apreensão de um campo também influencia o próprio campo, os efeitos de um sobre o outro
são recíprocos. O comportamento individual, então, só pode ser explicado considerando a
totalidade da interação entre a navegação do espaço de vida do indivíduo e o ambiente. Embora
Lewin tenha sido criticado, entre outras coisas, por suas formalizações topológicas ineficazes,
seu uso explícito da metáfora do campo e seu enfase na coconstituição de campos e atores
serviram como uma base importante sobre a qual as teorias do campo sociológico
contemporâneo foram construídas.

Os teóricos do campo usaram uma variedade de fontes para construir seu modelo do ator. Por
exemplo, a noção de habitus de Bourdieu tem muitas fontes - algumas na filosofia, como
Husserl, Heidegger e Merleau-Ponty, bem como sociólogos com inclinação filosófica e
influenciados pela fenomenologia, como Mauss e Elias. Mauss definiu o habitus como os
aspectos da cultura ancorados no corpo ou nas práticas diárias de indivíduos, grupos, sociedades
e nações. Isso inclui a totalidade dos hábitos aprendidos, habilidades corporais, estilos, gostos e
outras formas de conhecimento não discursivo que podem ser ditos "ir sem dizer" para um
grupo específico. Elias usou o conceito de habitus para dar sentido às mudanças na
personalidade que ele detalhou em "O Processo Civilizador". Os neo-institucionalistas
dependem muito do livro "A Construção Social da Realidade" de Berger e Luckmann para seu
modelo de atores. Berger e Luckmann se inspiraram em Alfred Schutz, um sociólogo treinado
em fenomenologia. Eles argumentaram que o mundo é uma construção social que requer
esforço para emergir, esforço que implica institucionalização e legitimação. Assim como o
habitus para Bourdieu, um mundo social existente é internalizado por meio da socialização.

Comparado à elaboração neo-institucional dos campos organizacionais, Fligstein e McAdam se


baseiam mais fortemente no interacionismo simbólico de Mead. O interacionismo simbólico é
uma perspectiva fundamentada na filosofia pragmatista americana. Tem muitas semelhanças
com a fenomenologia, ao ver o mundo social como uma construção e a socialização como a
principal maneira pela qual esse mundo é inculcado nos indivíduos. Mas o interacionismo
simbólico de Mead também propõe que um dos principais objetivos da ação social é ajudar os
atores a moldar e criar seus mundos. No cerne da interação está a ideia de que temos identidades
que compartilhamos com os outros. Essas identidades fornecem a base para nossa cooperação
com os outros. Bourdieu também cita a interação simbólica como uma fonte para sua visão da
ação social. Por estar interessado em como o poder é realmente experimentado na interação, ele
viu a interação simbólica como uma maneira de enquadrar como os menos poderosos aceitam
seu destino na interação com os mais poderosos.

10.4

A teoria do campo sociológico contemporâneo foi desenvolvida por diferentes teóricos, sendo
Pierre Bourdieu um dos mais associados a essa abordagem. Bourdieu utiliza os conceitos de
campo, capital e habitus para entender a vida social. Para ele, os campos são arenas de luta onde
os atores competem por recursos, status e definição das regras do jogo. Cada campo tem sua
própria lógica e história. Os atores dentro de um campo possuem diferentes formas de capital
(econômico, social, humano e cultural) que influenciam sua posição e poder dentro do campo. O
habitus é o princípio que permite aos atores compreender, navegar e agir no mundo social. É um
conjunto de capacidades cognitivas e avaliativas que são moldadas pela socialização e têm
impacto nas estruturas de poder e distribuição de capital dentro do campo. Bourdieu utiliza
esses conceitos para explicar como as estruturas de dominação nos campos tendem a ser
reproduzidas.
Além da abordagem de Bourdieu, a teoria neo-institucional também é relevante no campo
sociológico contemporâneo. Os neo-institucionalistas estudam as interações entre organizações
e seus ambientes, buscando compreender por que organizações dentro de um campo tendem a
adotar formas, práticas ou culturas semelhantes. Eles argumentam que as organizações são mais
influenciadas por preocupações institucionais, como legitimidade, do que pela competição. À
medida que um campo se institucionaliza, as organizações dentro dele tendem a se tornar
isomórficas, ou seja, mais similares, para parecerem legítimas. Esse processo de isomorfismo
pode ocorrer por meio de coerção, sanções normativas ou pressão mimética. A legitimação
dessas práticas institucionalizadas reforça sua reprodução pelas organizações no campo.

Essas são algumas das principais abordagens teóricas do campo sociológico contemporâneo,
que buscam compreender as dinâmicas e relações sociais em diferentes contextos.

A teoria dos campos de ação estratégica (SAFs) foi proposta por Fligstein e McAdam em 2012
como uma elaboração da teoria dos campos. Ela busca sintetizar ideias neo-institucionalistas
com as ideias de Bourdieu sobre contestação dentro dos campos e o poder dos atores
dominantes.

De acordo com Fligstein e McAdam, um campo de ação estratégica é uma ordem social
construída em um nível meso, onde os atores (indivíduos ou coletivos) interagem com base em
entendimentos compartilhados sobre os propósitos, relacionamentos e regras de ação legítima
do campo. A filiação aos SAFs é baseada em critérios subjetivos em vez de objetivos, e os
limites do campo podem mudar dependendo da situação e da questão em jogo. Os
entendimentos compartilhados dentro dos SAFs incluem uma noção do que está em jogo no
campo, uma compreensão da dinâmica de poder e dos papéis dos atores, um entendimento das
regras que governam a ação legítima e quadros interpretativos compartilhados pelos atores em
posições semelhantes.

O consenso e a contenda dentro de um campo de ação estratégica estão em constante mudança.


Embora campos bem estabelecidos possam ter percepções mais consensuais de oportunidades e
restrições, os atores ainda competem por posições. A contenda é mais alta quando os SAFs
estão instáveis, como durante o surgimento de um campo ou em crises.

A filiação aos SAFs é estruturada por dinâmicas de titulares/desafiantes, onde os atores com
diferentes recursos disputam vantagens. Os titulares reivindicam uma parcela desproporcional
de recursos materiais e simbólicos no campo, moldando as regras e a organização do campo. Os
desafiantes se conformam à ordem predominante, mas podem articular visões alternativas para o
campo. Embora a hierarquia e o conflito possam existir nos SAFs, também são possíveis
coalizões e cooperação.

Fligstein e McAdam introduzem o conceito de "unidades de governança interna" dentro dos


SAFs, que servem para manter a ordem. Esses atores reforçam a posição dos titulares,
estabilizam os acordos do campo, respondem a crises ou atuam como intermediários para outros
campos. Exemplos de unidades de governança interna incluem conselhos de certificação
estabelecidos por organizações profissionais em um SAF recém-formado, o Banco Mundial, que
muitas vezes serve de forma desproporcional aos interesses das economias mais desenvolvidas,
e uma associação comercial que faz lobby em nome de uma indústria.

A teoria dos SAFs também enfatiza a função existencial do social, destacando a necessidade
humana de criar mundos sociais significativos e uma sensação de pertencimento. Atores nos
SAFs utilizam habilidades sociais para apelar a significados compartilhados, empatizar com os
outros, induzir cooperação e participar de ação coletiva.

Além disso, os SAFs são concebidos como inseridos em complexas redes de relações entre
campos. Os campos podem estar hierarquicamente aninhados dentro de campos mais amplos,
interligados por interdependências ou conectados a vários outros campos. A extensão da
dependência e o número de vínculos entre os campos têm implicações para o surgimento, a
estabilidade e a mudança dos campos.

Esses são os principais aspectos da teoria dos campos de ação estratégica proposta por Fligstein
e McAdam em 2012

10.5

A teoria dos campos de Bourdieu possui uma relação complicada com a agência e os atores.
Embora reconheçamos a dificuldade de conciliar estrutura e agência dentro dos campos sociais,
argumentamos que a teoria de Bourdieu é mais determinista do que ele estava disposto a
admitir. Não se trata de uma acusação simplista e repetida de determinismo, e, como
discutiremos abaixo, a concepção de agência de Bourdieu, por meio do habitus, é mais
complexa do que as declarações clássicas na teoria neo-institucional. (Se tivéssemos que
classificar as três teorias que discutimos com base na agência atribuída aos atores do campo,
colocaríamos os atores de Bourdieu em algum lugar entre os atores de campo neo-institucionais
no extremo baixo e os atores em SAFs no extremo alto.)

Nas palavras de Bourdieu, os agentes são "portadores de capitais e, dependendo de sua trajetória
e da posição que ocupam no campo... eles têm uma propensão a se orientar ativamente tanto
para a preservação da distribuição de capital quanto para a subversão dessa distribuição"
(Bourdieu e Wacquant, 1992: 108-109). De fato, os atores de seus campos têm seus próprios
objetivos e agem para promover seus próprios interesses em relação aos outros no campo.
Assim, os atores em seus campos agem estrategicamente e se engajam em ações significativas.

No entanto, os atores na teoria de Bourdieu não são particularmente reflexivos, nem são capazes
de ir contra as forças estruturais restritivas do campo. As "regras do jogo" e o que está em jogo
no campo são produtos da estrutura social e são tacitamente acordados pelos membros do
campo (o que Bourdieu chama de "illusio"). Os interesses dos atores do campo são definidos
por sua posição no campo (ou seja, sua posse de capital) e pela trajetória histórica que os levou
ao campo. A maioria dos atores do campo "conhece seu lugar" e, se competem com outros, é
mais provável que compitam com aqueles que estão mais próximos deles no espaço social do
que tentem mudar a ordem social subjacente.

Além disso, o habitus, que Bourdieu invoca para explicar a subjetividade e a agência, é em si
mesmo um conjunto estruturado e incorporado de disposições que opera em um nível abaixo da
consciência. Ele é estruturado socialmente como uma função da posição do indivíduo no campo
e é transmitido às gerações subsequentes por meio de relações e processos de transmissão
cultural principalmente não conscientes. O habitus tende a ser duradouro e, se muda, tende a se
alinhar (ou corresponder) com a posição do indivíduo no campo e a lógica particular do campo.

É verdade que os atores de Bourdieu têm a capacidade de transpor seu habitus para outros
campos, mas mesmo aqui o habitus tende a corresponder ao das posições homólogas em outros
campos. De fato, os indivíduos de Bourdieu tendem a se inserir em classes de habitus, "o
sistema de disposições (parcialmente) comuns a todos os produtos das mesmas estruturas"
(Bourdieu, 1977: 85). Assim, o habitus e, consequentemente, os atores, geralmente operam para
reproduzir as próprias estruturas das quais surgem.

10.6
Vamos agora discutir como cada teoria lida com o surgimento, estabilidade e mudança em nível
de campo. Em resumo, a teoria de Fligstein e McAdam retrata os campos como mais mutáveis
do que a teoria de campo neo-institucional ou a teoria de campo de Bourdieu. Além disso,
argumentamos que, em comparação com as outras abordagens, a teoria dos SAFs fornece a
conceitualização mais abrangente e sistemática do surgimento, estabilidade e mudança de
campo. Assim como na seção anterior, desenvolvemos esses argumentos analisando
primeiramente como Bourdieu e os teóricos neo-institucionais lidam com a questão e, em
seguida, contrastamos essas abordagens com a teoria dos SAFs.

A teoria de campo de Bourdieu é principalmente uma teoria de estabilidade social e reprodução.


Isso é intencional, pois o objetivo de Bourdieu é entender e resolver o problema da relação
agente-estrutura ao postular como os atores (conscientemente ou inconscientemente) e as
estruturas correspondem entre si e são cúmplices na reprodução da ordem social. Para Bourdieu,
embora os campos sejam locais de luta e competição constantes entre os dominantes e
dominados, a ordem social tende a ser reproduzida. É verdade que grupos podem suceder
grupos equivalentes anteriores em termos de posição na ordem social; isso é o que Bourdieu
chama de "ordem de sucessões". A chave aqui, no entanto, é que as relações entre os grupos em
um campo (ou seja, a distância social entre eles) permanecem em sua maioria inalteradas.

Bourdieu menciona as condições em que as lógicas do campo podem mudar quando fala sobre a
crise como uma condição necessária, mas não suficiente, para questionar a doxa. Doxa é o
aspecto não discutido e tido como garantido do mundo social. Dentro dela estão os sistemas de
classificação, tradições e regras de interação que são tão legítimos e enraizados que são dados
como evidentes "verdades" sobre o mundo (Bourdieu, 1977: 169). A crise pode levar à
revelação da arbitrariedade da doxa para a consciência dos atores do campo do discurso, onde
opiniões ortodoxas e heterodoxas podem ser expressas e contestadas.

No entanto, Bourdieu não teoriza sistematicamente o que desencadeia tais momentos de crise,
nem teoriza explicitamente a(s) condição(ões) adicional(is) além da crise que resultam em um
discurso crítico. Mesmo quando a doxa é trazida para o universo do discurso, esse
questionamento não leva necessariamente a desafiantes que substituem a classe dominante no
topo da hierarquia do campo. De fato, desafiantes com visões heterodoxas do mundo raramente
substituem o grupo dominante, que trabalha para preservar as maneiras "oficiais" de pensar e
falar sobre o mundo e tem como objetivo censurar visões heterodoxas. Por fim, e o mais
importante, nas raras ocasiões em que desafiantes conseguem substituir os atores incumbentes
como os dominantes em um campo (por exemplo, Bourdieu, 1996b), eles tendem a fazê-lo
usando e, portanto, reproduzindo as "regras do jogo" subjacentes nas quais o campo se baseia.
Por exemplo, nos estudos de Bourdieu sobre os campos da produção cultural (por exemplo, arte,
literatura, teatro), um dos princípios mais fundamentais desses campos, especialmente para os
dominantes, é uma indiferença externa ou renegação do motivo de lucro. Não coincidentemente,
a melhor estratégia para grupos desafiantes derrubarem os produtores culturais dominantes
dentro do campo é renegar o comercial e promover suas próprias atividades e produtos como
arte mais "pura" do que a do grupo dominante. Ao fazer isso, no entanto, a lógica fundamental
do campo é apenas reforçada. "Assim", escreve Bourdieu, "as revoluções [dos desafiantes] são
apenas parciais, deslocam as censuras e transgridem as convenções, mas o fazem em nome dos
mesmos princípios subjacentes" (Bourdieu, 1993: 83-84)
10.7
Neste ensaio, os autores têm como objetivo demonstrar que uma noção geral de campo pode ser
derivada do trabalho dos neo-institucionalistas, de Bourdieu e da teoria de Campos de Ação
Estratégica (SAFs) de Fligstein e McAdam. Embora essas teorias de campo compartilhem
semelhanças, elas diferem em sua compreensão dos atores, poder, consenso e dinâmica dos
campos.

Para avançar na compreensão dessas diferenças, os autores argumentam a favor de uma


confrontação e exploração dessas perspectivas teóricas por meio da pesquisa empírica. Em vez
de tratá-las como escolas de pensamento separadas, os estudiosos devem se engajar em um
diálogo para determinar qual abordagem é mais adequada para diferentes situações.

Os autores sugerem que os aspectos conceituais e empíricos da teoria de campo devem ser
desenvolvidos ainda mais. As diferenças conceituais entre essas teorias precisam ser
esclarecidas para torná-las empiricamente úteis. Além disso, os pesquisadores precisam abordar
a questão da medição e comparabilidade para avaliar essas divergências conceituais de forma
eficaz.

Além disso, os estudiosos devem determinar se as divergências entre as teorias de campo


surgem da falta de condições de escopo claramente especificadas ou de incompatibilidades
fundamentais. Isso requer investigação conceitual e empírica para entender os mecanismos
pelos quais esses conceitos operam em diferentes contextos.

A teoria de campo pode ter um status epistemológico ambíguo. Pode ser vista como uma
abordagem positivista ou realista, assumindo que os campos são reais, mensuráveis e têm
efeitos discerníveis. Alternativamente, pode ser vista como um conjunto de conceitos e tipos
ideais que ajudam os pesquisadores a dar sentido aos materiais empíricos. Ambas as
perspectivas são válidas, mas alguns estudiosos podem ter dificuldade em levar a sério qualquer
uma das visões.

Os autores enfatizam a necessidade de examinar o escopo empírico da teoria de campo. Embora


a teoria de campo tenha sido aplicada em diversos estudos, há pouco entendimento de como
produzir medição e comparabilidade para avaliar de forma eficaz as divergências conceituais. O
engajamento com outras perspectivas que propõem processos de nível meso, mas não usam o
conceito de campo, como análise de redes ou lógicas institucionais, pode enriquecer a teoria de
campo.

A teoria de campo é uma conquista teórica significativa na sociologia. Embora existam


diferenças entre as teorias de campo, também há complementaridades que podem ser
aproveitadas por meio de combinação e síntese. Ao conciliar essas diferenças e aproveitar as
complementaridades, os sociólogos podem avançar em direção a uma teoria abrangente e
contemporânea dos campos.

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