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Scott, W. R. (2008). Institutions and organizations (3a ed.). Thousand Oaks, CA: Sage
Publications.
Institucionalismo na sociologia
As instituições tem sido tem recorrente na sociologia desde os primórdios do
campo. Assim, Scott apresenta uma digressão desse pensamento ao longo de diferentes
escolas.
Primeiramente, Herbert Spencer (1876) via a sociedade como um sistema
orgânico envolvido pelo tempo. A adaptação a esse sistema acontecia por meio de
“órgãos” estruturados como subsistemas institucionais, num movimento evolucionário
(aatividades individuais, costumes e instituições completamente desenvolvidas). Nessa
mesma direção, Summer (1906) entendia uma instituição como: um conceito (ideia,
noção, doutrina, interesse), que define os propósitos e funções da instituição; e uma
estrutura”, ou seja, os instrumentos que envolvem o conceito e possibilitam que o
mesmo seja colocado em ação. Esse conceito é base da noção de instituição como
arenas funcionais especializadas (campos, setores). As esferas sociais são constrangidas
por diferentes instituições.
Adiante, Scott trata das contribuições de Cooley, que enfatizava a
interdependência de indivíduos e instituições, ou seja, a noção de que o indivíduo é
sempre causa e efeito da instituição (e.g. linguagem, Estado, igreja, leis, propriedade).
Da mesma forma Hughes (1936) defendia ideia semelhante (instituições são o
estabelecimento de tipos sociais de permanência e distinções relativas; conjunto de
costumes ou regras formais que podem ser preenchidas por pessoas agindo
coletivamente). Essa perspectiva pressupõe que embora instituições representam
continuidade e persistência, estas só existem na medida em que são reproduzidas
por indivíduos de forma integrada (coletiva) e padronizada. Conforme Hughes,
instituições interagem com indivíduos “criando identidades, moldando o curso da vida
(carreiras), provendo uma licença para praticar tarefas proibidas e uma racionalidade
para lidar com erros inevitáveis que ocorrem quando se desempenha um trabalho
complexo” (Scott, 2008: 10).
Por fim, Scott apresenta as contribuições ao pensamento institucionalista de
autores clássicos da sociologia como Marx (a construção social da realidade a partir do
materialismo histórico), Durkheim (fatos sociais são cristalizados como instituições),
Weber (sistemas de regras culturais), Parsons, Mead, Schultz (dimensão simbólica das
instituições), Bourdieu e Berger e Luckmann (a construção social da realidade e a
impotância dos sistemas cognitivos na leitura de sistemas simbólicos).
Economia
No âmbito da Economia, o neoinstitucionalismo se preocupou essencialmente
em desenvolver uma teoria econômica sobre as instituições. Nesse sentido, as
discussões se voltaram para: uma nova concepção do “agente econômico”,
incorporando as contribuições de Simon quanto a racionalidade limitada e racionalidade
procedimental (economia libertária austríaca); o foco no estudo de processos
econômicos ao invés do estudo dos estados de equilíbrio, reconhecendo a dinamicidade
da economia e o aprendizado dos agentes no mercado e; a noção de que a atividade
econômica não é apenas uma questão de trocas mediadas no mercado, mas é
influenciada por outros tipos de estruturas institucionais tais como o Estado, etc.
Nessa abordagem, as instituições não são mais vistas como variáveis exógenas
que afetam o comportamento econômico, mas há a preocupação em entender como as
instituições influenciam na criação, manutenção e transformação de transações
econômicas.
As principais correntes de estudo dessa abordagem são: a economia dos custos
de transação (Coase, Williamson) e; a economia evolucionária (Nelson e Winter).
Ciência Política
Como afirmado anteriormente, o neoinstitucionalismo político emergiu como
uma reação aos estudos com foco comportamentalista que dominaram a ciência política
em meados do século XX. Nesse sentido, dois movimentos se destacaram: o
institucionalismo histórico e a teoria da escolha racional.
O institucionalismo histórico (March e Olsen; Katzenstein; etc.) entende as
instituições como “estruturas formais, regras informais e procedimentos que
estruturam a conduta” (Thelen & Steinmo, 1992: 2 apud Scott, 2008: 31). Um dos
principais focos de estudo são as estruturas do Estado e o modo estas moldam o
comportamento e os interesses dos atores políticos, bem como estruturam o conflito por
meio da distribuição de poder aos atores. Estes pesquisadores adoram uma postura
sócio-construcionista ao defenderem que as ações e a natureza dos indivíduos não
devem ser analisadas de forma isolada de seu contexto institucional mais amplo. As
instituições constroem os atores e definem seus modos de ação, constrangindo seu
comportamento ao mesmo em que os tornam capazes de agir. O foco dos pesquisadores
está essencialmente na reconstrução histórica das instituições que estruturam a arena
política. Além disso, reconhecem os interesses dos atores nesse espaços e a
possibilidade de mudança institucional.
Por sua vez, a teoria escolha racional (Moe, Sheplse e Weingast) vê as
instituições como sistemas de governança ou regras estabelecidos por indivíduos que
estão procurando promover ou proteger seus interesses, estando próxima da teoria dos
custos de transação e teoria da agência, de modo que entendem eleitores e consumidores
como agentes de comportamento semelhante. O foco é o estudo de como as instituições
afetam a escolha dos indivíduos. As instituições resolvem problemas e facilitam ganhos
nas trocas.
Sociologia
O neoinstitucionalismo na sociologia procurou discutir a influência de aspectos
cognitivos e culturais na construção de instituições, tomando como raízes teóricas
estudos de campos como Psicologia, Antropologia e Fenomenologia/Etnometodologia.
Na Psicologia, a principal contribuição está na teoria cognitiva, que vem
argumentar a capacidade reflexiva do indivíduo, apesar do mesmo estar inserido em um
contexto social e ser permeado por limitações cognitivas. Ou seja, os indivíduos
participam e percebem suas atividades, construindo sentidos e interpretando o mundo
que o cerca (desenvolvimentos mais recentes da teoria social vem articular melhor isso
como a Teoria da Estruturação).
Por sua vez, a teoria cultural, que toma como base a Antropologia, tem
contribuído para os neoinstitucionalistas na medida em que entende a cultura como um
sistema de significados produzidos pelos homens e transmitidos de diferentes formas
nas relações sociais. Assim, passam a reconhecer a importância dos sistemas simbólicos
no ordenamento da vida social. Entretanto, diversos estudiosos da cultura tem
considerado os aspectos cognitivos do indivíduo e seu caráter afetivo/emocional na
produção desses sistemas simbólicos. Essa noção permite entender a cultura como um
fenômeno dinâmico, que pode sofrer alterações. A cultura pode permitir a mudança
produzindo repertórios pelos quais os atores selecionam diferentes peças para a
construção de linhas de ação (Swidler, 1986).
Classificação cognitiva da cultura. Os genes não fixam a ação do homem. Pelo
contrário, eles são dispositivos para se extrair informação do ambiente. O padrão de
genes muda o tempo todo em nosso cérebro, frequentemente como respostas a eventos
externos. Genes são mecanismos de experiência (Ridley, 2003).
Finalmente, outra base do neoinstitucionalismo sociológico é o pensamento
fenomenológico e etnometodológico e o estudo em profundidade dos significados
associados aos símbolos. Dessa forma, tais pesquisadores se distanciaram do foco nas
normas e valores compartilhados na sociedade (Durkheim e Parsons) para o
conhecimento compartilhado e os sistemas de crenças (Berger, Schutz). Conforme
Scott afirma, a atenção em estruturas cognitivas e culturais, ao invés de sistemas
normativos, é uma das maiores distinções do neoinstitucionalismo sociológico.
Além disso, as crenças não são apenas subjetivas, na verdade elas passam a ser
observáveis em estruturas sociais objetivadas (artefatos, rituais, etc.) por meio da
externalização, objetivação e internalização, processo definido por Berger e Luckmann
como institucionalização. Procurar definição de Berger e Luckmann.
A etnometodologia proposta por Garfinkel tem auxiliado na investigação de
como indivíduos constroem sentido (make sense) das situações que confrontam. Como
constroem coletivamente as regras e procedimentos utilizados para cooperar uns com os
outros.
Essas bases de conhecimento contribuíram para a construção de uma teoria
institucional, que a partir da década de 1970, passou a ingressar de forma mais
substantiv(a nos estudos organizacionais.
Uma das primeiras tentativas de introduzir argumentos neoinstitucionais no
estudo das organizações foi por Silverman que propôs uma teoria da ação da
organização, na qual argumentava que a ação humana é influenciada pelos significados
que os mesmos constroem e estão inseridos em instituições sociais. As organizações
seriam fontes de significados para os indivíduos. Contudo, Silverman não obteve tanta
entrada.
Outros autores foram melhor sucedidos na aceitação por parte dos estudos
organizações sobre a influência das instituições, de forma específica os trabalhos de
John Meyer e Brian Rowan (1977) e Zucker (1977), que se apoiam em disposições de
Durkheim e Berger e Luckmann.
Para Meyer e Rowan, instituições são regras culturais complexas, de modo que
as organizações são o resultado da racionalização de muitas dessas regras por meio do
desenho de procedimentos (baseados nas regras) voltados a atingir objetivos. Enquanto
Meyer e Rowan apresentaram uma noção macro das instituições, Lynne Zucker
enfatizou as microfunções das instituições a partir do poder de crenças cognitivas na
construção do comportamento (o conhecimento, quando institucionalizado, pode ser
transmitivo).
Outros desenvolvimentos importantes foram os trabalhos de DiMaggio e Powell
(1983) e Meyer e Scott (1983), com ênfase na perspectiva (ambiental) que viria a ser a
principal linha de estudos do institucionalismo sociológico. Para DiMaggio e Powell, as
instituições exercem sua influencia em um campo por meio de três tipos de
mecanismos: coercitivo, mimético e normativo, de modo que a competição tende a
promover o isomorfismo estrutural nas organizações. Por sua vez, Meyer e Scott
afirmavam que as organizações dispõem tanto de forças técnicas quanto institucionais.
Todos esses autores trabalharam a noção de campo, ou setor, no qual os efeitos e
influências das instituições ocorrem e podem ser investigados. Tais pesquisadores,
apesar de solidificarem o campo de estudo, tem recebido críticas de diferentes naturezas
em desenvolvimentos recentes do institucionalismo.
Neste capítulo, Scott procura apresentar uma perspectiva analítica para o estudo
das instituições e seus efeitos nas organizações por meio de uma integração de conceitos
das perspectivas apresentadas anteriormente.
Assim, Scott apresenta inicialmente seu conceito de instituições:
O pilar regulador
Estudiosos interessados em estudar os aspectos reguladores das instituições
partem da noção de que as instituições constrangem (bem como empoderam) e regulam
o comportamento dos atores sociais. Desse modo, o foco da análise está basicamente
nos processos regulatórios, que envolvem “a capacidade de estabelecer regras,
inspecionar a conformidade de outros indivíduos à essas regras e, se necessário,
manipular sanções – recompensas ou punições – a fim de influenciar o comportamento
futuro” (p. 52). Esses processos podem operar por meio de mecanismos informais tais
como o envergonhamento público ou exclusão (ostracismo) ou mecanismos formais
desempenhados por atores especializados a exemplo da política ou do poder judiciário.
Nesse pilar, é comum a ideia das instituições como regras estabelecidas de um
jogo, sejam elas formais ou informais, de modo que o não cumprimento da regra
acarreta em sanções punitivas, ou seja, têm seu comportamento constrangido pela
coerção. Ressalta-se que essas regras são estabelecidas e reguladas por um conjunto de
atores específicos que possuem autoridade e baseiam sua atividade em uma estrutura
normativa que dá legitimidade às suas ações, ou seja, dá suporte e constrange o
exercício de poder.
O Estado é frequentemente tido como um ator que exerce a função de legislador
(criador de instituições), aplicador e juiz nas relações sociais. Entretanto, essas relações
podem acarretar em uma série de conflitos e disfunções, de modo que aspecto
normativos e cognitivos podem melhor explicar a lei do que apenas seu caráter
coercitivo. Ou seja, é importante considerar também os aspectos emocionais das regras
definidas.
Scott argumenta que em certos tipos de ambientes (campos) é necessário a
existência de regras reguladores, como é o caso de espaços em que existe grande
conflito de interesses e competição, como é a política e o mercado, por exemplo. Em
outros setores sociais, a necessidade de regras e da dimensão reguladora coercitiva das
instituições pode não ser necessária.
O pilar normativo
Este pilar tem como ênfase as regras normativas que introduzem uma
dimensão prescritiva, avaliativa e obrigatória na vida social. As instituições, então,
exercem uma força normativa ao atribuírem que determinado comportamento deve ser
realizado conforme uma coletividade o definiu como tal (e espera que seja cumprido).
Sistemas normativos incluem valores (concepções daquilo que é preferido e
desejável pela coletividade, bem como padrões construídos que servem de comparação
na sociedade) e normas (os meios legitimados pelos quais os valores devem ser
alcançados; definem o modo como as coisas deveriam ser feitas). Ou seja, tais sistemas
definem metas e objetivos bem como “desenham” os meios apropriados para alcança-
los (e.g. ao definir que as empresas devem lucrar de forma sustentável, o sistema deve
estabelecer os meios para que esse valor seja alcançado).
Os sistemas normativos também incluem papéis direcionados a certos tipos de
atores sociais que devem desempenhar uma função especifica para atingir certos valores
(inclusive para um “bem comum” da coletividade. Ou seja, o sistema pode atribuir
responsabilidades e normas a um grupo específico ou tipo específico de ator (os cargos
nas organizações atendem a essa configuração).
Nesse pilar normativo, os sistemas de crenças assumem uma dimensão
prescritiva para o comportamento (não é uma previsão), desempenhando ao mesmo
tempo constrangimentos e empoderamento da ação direcionados a certos grupos.
Conferem direitos ao mesmo tempo que responsabilidades.
As normas constroem procedimentos, mas o resultado do não atendimento da
norma, diferente da dimensão reguladora, está associado ao sentimento de não
pertencimento à coletividade ou vergonha, estando fortemente relacionadas a
sentimentos.
O pilar cultural-cognitivo
Esse pilar é influenciado principalmente por antropólogos (Geertz, Douglas),
sociólogos (Berger, Goffman, Meyer) e administradores (DiMaggio, Powell, Scott) e se
preocupa em entender as concepções compartilhadas que constituem a natureza da
realidade social (construcionismo) e as estruturas pelas quais o significado é produzido.
“Os símbolos – palavras, signos e gestos – moldam os significados que
atribuímos aos objetos e atividades” (Scott, 2008: 57). Os indivíduos, conforme Weber,
atribuem significado aos comportamentos. Esses sentidos, são externalizados e
objetivados, de modo que outros indivíduos atribuirão sentidos aos mesmos, num
processo de institucionalização.
As instituições nessa perspectiva são os sistemas simbólicos percebidos como
objetivos e externos aos indivíduos. São uma “cristalização de significados em uma
forma objetiva” (Berger & Kellner, 1981).
Scott chama o pilar de cognitivo-cultural para se referir a essa dualidade, ou seja
“processos interpretativos internos são moldados por estruturas culturais externas” (p.
57). A cultura, nesse caso, seria um “programa mental do software da mente”, embora
ela também seja objetiva em estruturas globais (hinos nacionais, bandeiras, ideologias
políticas, etc.). É importante ressaltar que crenças e sistemas culturais não são “lidos” de
formas iguais pelos indivíduos, de modo que estas podem ser contestadas ao ponto de
serem transformadas (sobretudo em ambientes complexos).
Os sistemas de crenças são muitas vezes seguidos e compartilhados por um
caráter normativo, uma percepção de que as coisas são reificadas, tipificadas, taken for
granted. Os papéis sociais nessa perspectiva são, diferentemente de meios prescritos e
obrigatórios para se atingir objetivos, construções sociais de certos grupos sociais que
são institucionalizadas e transmitidas na sociedade em relações de poder, ou seja, não há
o caráter prescritivo da norma.
No entanto, deve-se considerar a existência de instituições e sistemas culturais
de amplo alcance e que acabam influenciando no desenvolvimento de novas instituições
e crenças.
Operadores/Portadores diferentes
As instituições são transmitidas por diferentes tipos de veículos ou portadores.
Scott identifica quatro tipos de portadores: Sistemas simbólicos, sistemas relacionais,
rotinas e artefatos. O conteúdo da mensagem transmitida varia de acordo o operador
Níveis de análise diferentes
Scott discute que a análise institucional pode ser realizada em seis níveis
diferentes: o sistema mundial, a sociedade, o campo organizacional, a população
organizacional, a organização e o subsistema organizacional. Contudo, o nível mais
utilizado é o campo organizacional, conceituado por DiMaggio e Powell (1983) como:
De acordo com a tipologia dos níveis e dos pilares de análise das instituições
formulada por Scott (2008), a abordagem das lógicas institucionais está posicionada na
perspectiva da sociologia neoinstitucional e toma como pilar de análise os aspectos
culturais-cognitivos das instituições, focando no estudo dos sistemas mundiais, da
sociedade e dos campos organizacionais.