Você está na página 1de 27

Ebook

Modelos de Administração

01
Sumário
UNIDADE 3 - Teoria da Burocracia, Teoria Estruturalista, Abordagem Sistêmica e Teoria da Contingência

Teoria da Burocracia...............................................................................................................................07

Teoria Estruturalista..................................................................................................................................11

Abordagem Sistêmica..............................................................................................................................15

Abordagem Contingencial.......................................................................................................................20

Síntese....................................................................................................................................................26

Referências Bibliográficas.........................................................................................................................27
Unidade 3 Apresentação

Aqui você terá a oportunidade de entender melhor a terminologia “burocracia” e fazer


um comparativo dos princípios desta Escola do pensamento com o desgastado conceito
de burocracia nos dias atuais. Esta abordagem será complementada com o estudo da
teoria estruturalista, que representa um complemento da Teoria da Burocracia.

Será apresentada também a abordagem sistêmica e a contingencial, que surgiram como


uma tentativa de levar para as organizações uma visão ampla e interligada dos conceitos
envolvidos numa organização para ser mais eficiente. Você poderá refletir acerca do
desempenho de nossas organizações nos dias atuais caso o pensamento sistêmico não
tivesse prevalecido.

05
Capítulo 3 Teoria da Burocracia, Teoria
Estruturalista, Abordagem Sistêmica
e Teoria da Contingência
3.1 Teoria da Burocracia
A Teoria da Burocracia se desenvolveu de maneira independente da Administração Científica,
embora os períodos em que ocorreram sejam muito próximos.

A Administração Científica imprimiu um enfoque científico e técnico, sobretudo em razão da


formação em Engenharia de Frederick W. Taylor. Já a Burocracia foi marcada por um enfoque
sociológico, em razão da formação em Sociologia de seu principal representante, Max Weber.

Linha do tempo

Abordagens
Teoria Neoclássica
Clássicas

Teoria da Teoria
Burocracia Estruturalista

Teoria
Relações Humanas
Comportamental

Abordagem
Sistêmica

Década 1910 Década 1930 Década 1950 Década 1960

Figura 1 – Cronologia das abordagens do pensamento administrativo.


Fonte: Elaboração própria.

A Teoria da Burocracia propõe uma forma de organização das atividades humanas baseada
em papéis e documentos processados em sequência entre as unidades de uma estrutura
organizacional.

A Teoria da Burocracia emergiu por volta da década de 1940, impulsionada por:

1) parcialidade da Teoria Clássica e da escola de Relações Humanas, por não


apresentarem uma abordagem global e integrada dos problemas da Empresa;

07
Ebook - Modelos de Administração

2) necessidade de um modelo de organização capaz de integrar todas as variáveis


envolvidas;

3) tamanho e complexidade das Empresas exigindo modelos organizacionais mais


definidos;

4) o ressurgimento da Sociologia da Burocracia a partir da descoberta dos trabalhos de


Max Weber.

Embora se possa julgar, à primeira vista, que a burocracia é encontrada apenas em


organizações públicas, ela está presente em várias organizações com diferentes objetivos e
características: organizações comerciais, industriais, militares, educacionais, religiosas, entre
outras.

Embora a forma de organização burocrática seja antiga, ela apenas foi formalizada como uma
teoria efetiva quando os estudos de Max Weber, devotado à Sociologia, à Ciência Política e ao
Direito, ganharam reconhecimento.

Max Weber nasceu em Erfurt, Alemanha, em 1864. Formou-se em Direito, atuou como
professor de Economia Política e contava com sólida formação em História, Literatura,
Psicologia, Teologia e Filosofia. Quando faleceu, em 1920, seus estudos estavam em estado
caótico e foram organizados a partir de manuscritos fragmentados, sendo, a partir daí,
publicados A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, em 1930, e Economia e Sociedade,
em 1947. Os estudos e a perspectiva de análise de Max Weber conduziram-no à posição de
um dos fundadores da Sociologia como uma escola de pensamento.

A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo vinculam o surgimento do capitalismo à


doutrina calvinista protestante. O protestantismo condenava o dispêndio da renda em símbolos
de vaidade e prestígio e vangloriava o trabalho árduo, a poupança e o ascetismo que
proporcionavam a aplicação de rendas excedentes. Na obra, Weber detalha o tipo ideal de
conduta religiosa que contribuiu decisivamente para o desenvolvimento e fortalecimento do
capitalismo.

NÓS QUEREMOS SABER!


Você sabe qual é o objetivo da criação da religião protestante? A religião protestante
surgiu como resultado de uma tentativa de reforma da Igreja Católica pregando,
sobretudo, que os ensinamentos registrados na Bíblia é que deveriam ser seguidos.
Outra característica é a prática de não cultuar santos e outras imagens, além de não
acreditar em penitências para o perdão dos pecados. O protestantismo se expandiu
por meio de três gerações da reforma: luterana, calvinista e anglicana.

A outra obra de Weber, Economia e Sociedade, discorre sobre o tipo ideal de organização.
O “tipo ideal” de Weber foi construído para identificar uma organização burocrática. O “tipo
ideal” não tem um fim em si mesmo, é uma forma de compreensão da sociedade e não é
prescritivo, ou seja, não constitui um conjunto de recomendações, mas sim uma abstração
descritiva. No “tipo ideal” a organização é considerada uma “máquina” impessoal que
funciona de acordo com as regras, tem áreas de jurisdição fixas, conta com hierarquia e é
pautada em documentos escritos.

A análise da burocracia por Weber tem um enfoque marcadamente sociológico e se inicia com
a discussão dos processos de dominação, ou, em outras palavras, o emprego da autoridade

08 Laureate- International Universities


e a probabilidade de haver obediência dentro de um grupo. São três os tipos puros de
autoridade:

• Tradicional: respeito a quem tem o direito de comando segundo a prática tradicional


ou costume. A autoridade tradicional não é resultante das qualidades intrínsecas
de seu detentor. São exemplos de autoridade tradicional na “instituição família”, o
pai nas sociedades paternais e a mãe nas sociedades matriarcais; na “instituição
religiosa”, o padre, bispo ou papa; na “instituição política”, o presidente do partido.

• Carismática: devoção ao líder. Decorre das qualidades intrínsecas da pessoa. Lula,


Kennedy e Hitler são considerados lideranças baseadas em autoridade carismática.

• Racional, legal ou burocrática: baseada em meritocracia, com traços impessoais,


técnicos e racionais, como exemplificado nas empresas e organizações militares.

Os três tipos de autoridade correspondem ou são exercidos em três tipos de sociedade:


sociedade tradicional; carismática; e legal, racional ou burocrática.

Os interesses de Max Weber recaem sobre a sociedade legal, racional ou burocrática,


representada por organizações empresariais e militares de onde Weber extrai as características
da burocracia:

• formalidade – as organizações são constituídas essencialmente por sistemas de


normas e a autoridade é definida por elas;

• impessoalidade – os seguidores obedecem à autoridade definida pelas normas;

• profissionalismo – os funcionários são contratados, remunerados e qualificados para


o cargo.

Essas três características principais da burocracia podem ser detalhadas conforme mostrado no
quadro abaixo.

Caráter legal das Formalismo nas


Formalidade Divisão do trabalho.
normas comunicações

Hierarquização da Rotinas e
Impessoalidade Impessoalidade
autoridade procedimentos

Competência técnica Especialização da


Profissionalismo. Profissionalização.
e mérito administração

Quadro 1 – Principais características da burocracia.


Fonte: Chiavenato (2004).

Essas características das organizações burocráticas possibilitam certa previsibilidade do


comportamento humano e, sobretudo, a padronização do desempenho dos membros
profissionais da organização, facilitando o alcance dos objetivos organizacionais.

Após analisar as características da Burocracia, Weber conclui que a administração burocrática


é a forma mais racional de exercer autoridade, pois a organização burocrática possibilita
o exercício da autoridade, a obtenção de obediência com precisão, a continuidade, a
disciplina, o rigor e a confiança. Porém, é preciso encontrar, em um continuum, o ponto exato

09
Ebook - Modelos de Administração

para construção do tipo ideal de organização burocrática. Imagine uma reta onde, em um
extremo, uma organização pouco burocratizada e, no extremo oposto, uma organização muito
burocratizada. Nesse continuum há uma infinidade de possibilidades e medidas. O desafio está
em localizar o equilíbrio ou o que Weber convencionou chamar de “tipo ideal”. Essa análise de
Max Weber serviu de marco, de ponto de partida para a análise de outros autores.

A Burocracia sofre críticas em razão da ênfase excessiva nas regras e procedimentos, que coíbe
a iniciativa e o emprego da criatividade, elimina a flexibilidade necessária às atividades não
rotineiras e conduz a uma inversão de valores de que os meios são mais importantes que os
fins organizacionais. Também é criticada por exaltar a impessoalidade, o que conduz a certa
falta de sensibilidade ao exigir a completa separação entre cargo e indivíduo, quando, na
prática, são indissociáveis.

A Burocracia, por não reconhecer o aspecto humano, não considera a existência da


organização informal e, tampouco, considera a existência de conflito, elemento sempre
presente onde existem relacionamentos humanos.

Com o desenvolvimento do pensamento administrativo, a Teoria da Burocracia também é


criticada por não considerar o entorno da organização, ou seja, a conexão com o ambiente no
qual ela está inserida.

NÓS QUEREMOS SABER!


Hannah Arendt, judia alemã emigrada para os Estados Unidos durante a ascensão
do nazismo, com formação em teologia e filosofia, escreveu, em 1963, Eichmann em
Jerusalém a partir da cobertura para o The New Yorker sobre o julgamento de Adolf
Eichmann, responsável pelo extermínio em massa de três milhões de judeus. Durante
todo o julgamento, Eichmann insistiu que estava apenas cumprindo ordens, a mesma
estratégia de defesa adotada nos julgamentos dos crimes de guerra nazistas em
Nuremberg. Declarou explicitamente que abdicou de sua consciência para seguir os
princípios do Führer.

Mas qual a contribuição de Arendt para o que estudamos até aqui?

No livro Eichmann em Jerusalém, Arendt revela que Eichmann não era um “demônio
e um poço de maldade”, mas alguém horrivelmente normal: um típico burocrata que
se limitara a cumprir ordens, com zelo, sem capacidade de distinguir o bem do mal.
Arendt apontou para a complexidade da natureza humana e cunhou a expressão
“banalidade do mal”. Foram seus escritos que sistematizaram e relacionaram o desvio
do comportamento humano como resultante da obediência cega a uma ordem ou
autoridade burocrática.

Transferindo essa discussão para um ambiente organizacional, quantos executivos


assumem a responsabilidade de demissão de parte de sua equipe para atender uma
ordem oriunda de uma autoridade burocrática, quando, individualmente, não têm
motivos para realizar tal ato?

10 Laureate- International Universities


NÃO DEIXE DE LER...
O livro de Franz Kafka, O Processo, editado postumamente em 1925, narra o
infortúnio que acomete o funcionário de banco Joseph K.

Joseph K. é um homem reservado que vive em uma pensão e tem bom relacionamento
com os demais moradores. Um dia é acordado por um inspetor de polícia que lhe
informa que está preso, mas não o leva sob custódia. Durante o processo, Joseph
segue com suas atividades normais, tendo apenas que ficar à disposição das
autoridades a qualquer hora do dia. Incomodado por não saber do que está sendo
acusado, ele decide investigar em busca de uma resposta. O Processo é uma crítica à
burocracia, destacando disfunções presentes em várias organizações onde Joseph K.
busca elementos para elucidar o mistério.

3.2 Teoria Estruturalista


A Teoria Estruturalista surgiu como um desdobramento da Teoria da Burocracia de Max Weber.
Foi influenciada pelo estruturalismo nas Ciências Sociais, que procura explorar as inter-relações
ou estruturas por meio das quais o significado é produzido dentro de uma sociedade ou
cultura. Considera a organização em todos os seus aspectos, em outras palavras, uma visão
integrada de sua estrutura, sofrendo influência de aspectos externos, impacto de seus aspectos
internos e das múltiplas relações que se estabelecem.

A estrutura consiste em um conjunto formal de elementos que permanece inalterado, ocorrendo


uma mudança na organização ou alteração de um dos seus elementos ou relações. Uma
analogia que exprime essa ideia é um rio que é sempre o mesmo, embora as águas que nele
correm nunca sejam as mesmas.

James March, estudioso organizacional e do processo decisório, autor de dezenas de artigos


científicos e livros de referência para os estudos organizacionais, com 17 títulos de doutor
honoris causa, publicou Handbook of Organizations, em 1965, onde define a organização
como um conjunto de relações sociais estáveis, criadas com a clara intenção de alcançar
objetivos ou propósitos.

NÓS QUEREMOS SABER!


Você já ouviu falar em Honoris causa, ou causa nobre, em português? É um título
honorífico concedido por uma instituição de Ensino Superior a uma personalidade que
não faz parte de seu quadro docente ou funcional, em sinal de reconhecimento por
suas contribuições às ciências, às artes e à sociedade em geral.

A Teoria Estruturalista conta com algumas características marcantes. Considera tanto a


organização formal quanto a organização informal, diferentemente da Teoria da Burocracia,
que considerava apenas a organização formal. Uma questão que merece destaque é que a
Teoria Estruturalista identifica o homem organizacional que, movido por recompensas materiais
e sociais, desempenha diferentes papéis sociais em seu trabalho e em outras organizações com
as quais se relaciona.

Em algumas situações atua como superior, em outras como subordinado, cliente, fornecedor,
entre outras. Outro entendimento da Teoria Estruturalista é que os conflitos são inevitáveis,
dado que os interesses dos funcionários e os objetivos da empresa não são exatamente os
mesmos.
11
Ebook - Modelos de Administração

Relembre as visões do Homem nas abordagens administrativas:

Abordagem clássica = Homo Economicus


Abordagem relações humanas = Homem Social
Teoria estruturalista = Homem Organizacional

Constitui outra característica o fato de a Teoria Estruturalista concentrar-se no estudo da


estrutura interna das organizações e na interação destas com outras organizações. Em
outras palavras, entende que nenhuma organização é autônoma, ou seja, toda organização
depende de outras e da sociedade. Essa perspectiva resulta na compreensão da necessidade
de adequação dos objetivos organizacionais à medida que ocorrem mudanças no ambiente
externo, da influência do ambiente sobre a organização e da natural necessidade de
desenvolver estratégias para lidar com o ambiente.

James D. Thompson, também estudioso organizacional e da teoria da decisão, publicou


Organizations in Action: social science bases of administrative theory, em 1967, obra na qual
aborda duas estratégias básicas para lidar com o ambiente:

1) competição: é uma forma de rivalidade entre duas ou mais organizações mediadas


por um terceiro grupo que pode ser constituído por clientes, fornecedores, entre
outros.

2) cooperação: pode assumir três variações:

»» ajuste ou negociação, como os acordos sindicais coletivos que definem as bases


das relações de troca entre as lideranças empresariais e sindicais;

»» coopção ou cooptação, que consiste na absorção de elementos estranhos


na liderança de uma organização, de modo a integrar as partes e limitar a
arbitrariedade de uma organização na definição de seus objetivos. Por exemplo,
incluir no conselho de administração um membro de um banco credor ou um
membro do principal fornecedor, ou um ex-ministro influente com ação política no
governo;

»» coalizão, que trata da combinação de duas ou mais organizações com vistas a


um objetivo comum, por exemplo desenvolver pesquisa. A coalizão empresarial e
a de partidos políticos são exemplos representativos.

A Teoria Estruturalista surge a partir da Teoria da Burocracia de Max Weber e ganha corpo a
partir dos desdobramentos de algumas questões. Alguns estudiosos desenvolveram tipologias
alternativas para as organizações e outros discutiram as disfunções da burocracia.

A Teoria Estruturalista utiliza uma abordagem mais ampla do que as escolas anteriores, pois
tem intenção de conciliar a Teoria Clássica e a Teoria das Relações Humanas, e também
basear-se na Teoria da Burocracia.

Essa abordagem ampla é feita com base em uma abordagem múltipla, considerando as
contribuições das escolas mencionadas anteriormente. Essa abordagem múltipla considera
vários aspectos: organização formal e informal, recompensas materiais e sociais, diferentes
enfoques da organização, níveis da organização e diversidade de organizações.

Entre as tipologias alternativas ao tipo ideal de Burocracia proposto por Max Weber, duas se
destacam: uma proposta por Amitai Etzioni e outra sugerida por Peter Blau e Richard Scott.

12 Laureate- International Universities


Tipo ideal de
Max Weber

Tipologias Disfunções Modelo Mecanicista


alternativas Organizacionais e Modelo Orgânico

Blau e Burns e
Etzioni Perrow Roth Merton
Scott Starker

Figura 2 – Tipologias de burocracia.


Fonte: Maximiano (2006).

Amitai Etzioni publicou Organizações Complexas, em 1961. No livro o autor defende que
o modelo weberiano do tipo ideal não abrange todas as organizações. Para Etzioni, uma
organização consiste em uma unidade social grande e complexa, com objetivos específicos que
não se enquadram em um modelo universal, ou, como denominado por Weber, “tipo ideal”.

Para Etzioni, há três tipos de organizações que correspondem cada uma a um tipo de poder
exercido e a um tipo de obediência. O quadro a seguir ilustra a tipologia proposta por ele.

Tipo de
Tipo de
Tipo de poder contrato Forma de controle Exemplos
organização
psicológico

Campos de
Coercivo:
Alienatório: concentração,
Coercivo objetivo é
obediência Violência prisões,
(punições). controlar o
mecânica. hospitais
comportamento
penintenciários.
Utilitário:
objetivo é obter
Calculista:
Manipulativo resultados Organizações
obediência Recompensa.
(recompensas). por meio de de negócios.
interesseira.
barganha com
funcionários.
Normativa: Organizações
Moral:
Normativa objetivo é de voluntários,
disciplina Comprometimento.
(crenças). realizar missão/ religiosos,
Interior.
tarefa. políticos.
Quadro 2 – Tipologia de Etzioni.
Fonte: Etzioni (1961).

As organizações de negócios são consideradas organizações utilitárias por Etzioni, que entende
que a remuneração é o principal meio de controle dos funcionários. Mas outros fatores, tais
como satisfação com o cargo, prestígio, estima, além de relações sociais no trabalho, podem
determinar o desempenho. Além da remuneração, há ainda outras recompensas: promoções,
benefícios, incentivos.

13
Ebook - Modelos de Administração

Peter Blau e Richard Scott publicaram Organizações Formais, em 1962, obra na qual
materializaram outro modelo para interpretar as organizações. Para os autores, a organização
é estabelecida para atingir finalidades específicas agrupadas em categorias de acordo com o
beneficiário principal da organização. O quadro a seguir ilustra a tipologia de Blau e Scott.

Beneficiário Exemplo

Próprios membros da organização. Clubes, associações, cooperativas, sindicatos.


Proprietários ou dirigentes. Empresas em geral.
Clientes. Hospitais, universidades.
Sociedade em geral. Organizações do Estado/governo.
Quadro 3 – Tipologia de Blau e Scott.
Fonte: Blau, Scott (1962).

Outros autores estruturalistas dedicaram-se às disfunções da burocracia: Charles Perrow,


William Roth e Robert Merton.

Charles Perrow publicou Análise Organizacional: uma visão sociológica, em 1970, obra
na qual afirma que as organizações são sistemas sociais constituídos por pessoas que têm
interesses independentes e levam para esses ambientes sua vida pessoal. As organizações,
portanto, não são compostas de funcionários exclusivamente burocráticos e refletem as
imperfeições dos seres humanos. Perrow aprofunda na obra as disfunções da burocracia que
estão resumidas no quadro a seguir

Particularismo Características

Defender dentro da organização os interesses de grupos externos.


Disfunção
Exemplo: panelinha com colegas de uma mesma escola.

Defender interesses pessoais.


Patriamonialismo
Contratar parentes, fazer negócios com empresas da família etc.

Multiplicidade de regras e exigências para obtenção de um serviço.


Excesso de regras
Exemplo: firma reconhecida.

Divide responsabilidade e atravanca o processo decisório, realça


Hierarquia
vaidades e estimula disputa pelo poder.
Quadro 4 – Disfunções da burocracia: Perrow.
Fonte: Perrow (1970).
Para William Roth, o crescimento das organizações dificulta o processo de tomada de decisão
em razão de as competências e responsabilidades serem limitadas, de haver conflito na disputa
para ocupação de cargos, da distância entre decisão da chefia e executores, resultante dos
muitos níveis hierárquicos, do desestímulo à inovação e da indefinição de responsabilidades, já
que os resultados pela eficiência não podem ser avaliados com precisão.

Robert K. Merton critica o modelo weberiano por não ter considerado o fator humano e
apresenta como disfunções da burocracia: a valorização excessiva dos regulamentos, o excesso
de formalidade, a resistência a mudanças, a despersonalização das relações humanas, a
hierarquização do processo decisório, a exibição de sinais de autoridade e as dificuldades no
atendimento a clientes.

Burns e Stalker distinguiram dois modelos organizacionais: mecanicista e orgânico. No


primeiro, as tarefas são especializadas e fragmentadas, marcadas por regras e controle. A

14 Laureate- International Universities


centralização é proveniente da hierarquia formal de autoridade e o fator humano necessita
ser abafado, pois é produtor potencial de ineficiência. No segundo, os indivíduos trabalham
em grupos, a comunicação percorre todos os níveis organizacionais, as regras e controle são
menores, e o fator humano é considerado e estimulado na tomada de decisão. Para Burns e
Stalker, o sistema mecanicista é mais apropriado para um ambiente estável, e o orgânico mais
indicado para ambientes turbulentos.

NÓS QUEREMOS SABER!


Você considera que exista alguma situação organizacional que não esteja imersa em
um ambiente em permanente estado de mudança ou turbulento?

A Teoria Estruturalista recebe duas duras críticas. Uma refere-se às tipologias organizacionais
que, criadas para que seja possível comparar as organizações entre si, são limitadas quanto à
aplicação prática. A outra se refere às disfunções organizacionais, ou seja, enfoca problemas e
patologias organizacionais em detrimento do seu funcionamento mais regular.

Mas afinal, por que estudamos a Teoria Estruturalista se sua contribuição prática é pequena?

O aspecto prático não é o forte da Teoria Estruturalista. Por outro lado, representa o
nascedouro da Teoria Organizacional, que estuda em profundidade os aspectos sociológicos
organizacionais. Especificamente, dedica-se ao estudo da estrutura organizacional: formas,
consequências e elementos de sustentação; processos organizacionais: liderança, tomada de
decisão, poder; ambientes organizacionais: natureza e tipos de organização, e que contribui,
sobremaneira, para a compreensão dos formatos e significados das organizações atuais.

3.3 Abordagem Sistêmica


O contexto histórico do surgimento da Teoria dos Sistemas não é recente. Os gregos já
trabalhavam a ideia de sistema. Mary Parker Follett, em 1918, já destacava a necessidade
dos administradores considerarem uma situação em sua integralidade. A Filosofia ou
Psicologia da Forma ou Gestalt, como é mais conhecida, data da década de 1920 e explica o
comportamento humano como sendo resultante de processos perceptivos.

NÓS QUEREMOS SABER!


Você sabe o que é Gestalt? Gestalt é um termo em alemão de difícil tradução, mas
que se aproxima de “forma” ou “configuração”.

Para a Gestalt, os elementos da realidade são indissociáveis, não devem ser separados uns
dos outros. A natureza de cada elemento é definida pela estrutura, pela finalidade do conjunto
a que pertence. O todo não é apenas a soma das partes, é mais do que isso. Sua essência
depende da configuração das partes e precisa ser analisado em seu conjunto.

A Gestalt tem aplicações na Psicanálise e explica fenômenos do aprendizado relacionados à


Semiótica como, por exemplo, crianças que ainda não sabem ler, mas reconhecem produtos
pela forma, como a imagem da Coca-Cola.

A Teoria Cibernética (1948) ganha corpo com o matemático Norbert Wiener, ao identificar que

15
Ebook - Modelos de Administração

todo sistema pode ter seu desempenho autocontrolado por meio de algum fluxo de informações
que permita medir seu comportamento relativamente ao objetivo pretendido, mantendo o
funcionamento desejado. Os estudos da Teoria Cibernética tiveram como inspiração o estudo
dos mísseis autocontrolados, mas apenas mais tarde é que foi explorada essa aplicação às
organizações.

A Teoria dos Sistemas, surge, efetivamente, com os estudos do biólogo alemão Ludwig von
Bertalanffy, em 1937. Bertalanffy constatou que a ciência tratava de forma compartimentada
problemas que exigiam uma abordagem mais ampla, a integração de várias ciências. Também
identificou a interdependência das partes que formam o todo, o que significa que não basta
analisar as partes, mas suas inter-relações também. Além disso, percebeu que para tratar uma
realidade complexa é necessário um tratamento igualmente complexo. Por fim, apontou que os
limites de um sistema dependem do observador e que as fronteiras entre os sistemas ou entre o
sistema e seu ambiente são arbitrárias.

A análise das inter-relações sugerida por Bertalanffy pode ser comparada com as estruturas das
células. Não é suficiente observar e conhecer em profundidade as mitocôndrias, complexo de
Golgi, e outras células, mas também as inter-relações das enzimas produzidas por cada uma
dessas estruturas celulares.

A complexidade é a base do enfoque sistêmico na Administração e é resultante direta do


número de problemas e variáveis em uma situação. Constitui uma condição normal que
organizações e administradores têm que enfrentar, dado que nenhum problema é simples
e linear. Quanto mais evolui a sociedade, mais complexos seus problemas. E quanto mais
modernas as organizações, mais complexos os problemas que enfrentam. Para lidar com essa
complexidade, é necessário adotar um enfoque sistêmico.

São exemplos de organizações modernas: aeroportos, portos, consórcios de empresas,


cooperativas e condomínios de empresas, como a fábrica da GM em Gravataí (RS) e o
complexo industrial da Ford em Camaçari (BA), cuja arquitetura organizacional é bastante
inovadora.

O enfoque sistêmico possibilita entender a interdependência das causas e variáveis dos


problemas complexos, facilitando a organização de soluções.

É importante compreender o significado de sistema. Sistema é um todo complexo ou


organizado, um conjunto de partes ou elementos interdependentes. Todo sistema tem um
objetivo e todo sistema tem uma natureza orgânica, ou seja, uma mudança em uma das partes
provoca alterações em todo o sistema.

O ajustamento sistemático é contínuo. O primeiro movimento é denominado entropia, que


é a tendência à desordem como resultado da alteração de uma ou mais de uma das partes,
seguido do próximo movimento, que é a homeostasia, ou seja, a tendência ao equilíbrio.

Os sistemas podem ser, de acordo com sua constituição, físicos ou materiais, conceituais ou
abstratos, ou, de acordo com sua natureza, fechados ou abertos. Sistemas fechados não têm
intercâmbio com o meio ambiente e são herméticos, como as máquinas e equipamentos.
Sistemas abertos estabelecem relações com ambiente, como no caso de organismos vivos e
organizações.

Exemplos:

• sistema físico e fechado: relógio;

16 Laureate- International Universities


• sistema conceitual e fechado: regras e procedimentos;

• sistema físico e aberto: seres humanos e empresas;

• sistema conceitual e aberto: negociações internacionais.

NÓS QUEREMOS SABER!


Na Administração Científica, o enfoque de Taylor era única e exclusivamente o binômio
“produtividade e eficiência”. E se Taylor tivesse adotado uma visão sistêmica? Ele
poderia ter considerado o impacto no ambiente da poluição das fábricas, ou mesmo o
impacto no comporta- mento humano considerando a sobrecarga de trabalho.

As organizações são sistemas abertos que processam insumos e geram produtos ou serviços
cuja avaliação de qualidade e desempenho retroalimenta o processo.

Todas as organizações estão embutidas em sistemas mais amplos, como o sistema político-
legal, que é fruto da atuação do Estado ao definir o funcionamento dos agentes econômicos;
o sistema econômico e financeiro, que rege o funcionamento dos mercados; o sistema
tecnológico, que determina o acesso às inovações tecnológicas; o sistema social, que
determina o nível educacional e cultural da mão de obra e o comportamento do consumidor;
e o sistema concorrencial, que determina o conhecimento dos concorrentes e permite melhor
posicionamento estratégico. Todos esses sistemas são chamados genericamente de ambiente.

Ambiente político/legal
Tecnologia

Economia

Entradas Processamento Saídas

feedback

Cultura e sociedade Concorrência

Figura 3 – Enfoque sistêmico e a interface ambiental.


Fonte: Bertalanfy (1975)

17
Ebook - Modelos de Administração

NÓS QUEREMOS SABER!


As nomenclaturas “entropia” e “homeostasia”? Elas são relativas à alteração e
acomodação dos sistemas, são oriundas da termodinâmica, que estabelece uma
relação com a energia.

Os elementos constituintes de um sistema são: entradas ou insumos, saídas ou resultados,


processamento ou transformação, retroalimentação ou feedback e o ambiente em que atua.

Constituem entradas ou insumos um projeto de produto, peças, máquinas e equipamentos,


recursos humanos, procedimentos, instalações, informações, entre outros. A etapa de
processamento é diferente em todas as organizações e envolve um mix de entradas e uma
tecnologia de processamento diferentes. As saídas são produtos ou serviços, além de salários,
impostos, lucro aos acionistas e melhor qualificação dos recursos humanos.

O feedback é a retroação, a avaliação dos resultados gerando novos inputs para


processamento. E o ambiente imediato é composto por concorrentes, fornecedores, clientes,
mercado, distribuidores, sindicatos, entre outros. O macroambiente é marcado pelo
desenvolvimento tecnológico, sustentável, legal, econômico, demográfico, político, entre outras
questões de natureza mais ampla.

NÓS QUEREMOS SABER!


Como uma organização como o Greenpeace pode influenciar o sistema econômico?
Um movimento contra a exportação de grãos de soja transgênica de uma empresa
nacional, por exemplo, pode ativar o sistema político legal, que passará a criar
impedimentos para as empresas produtoras e exportadoras de soja transgênica.
Fatalmente será ativado o sistema econômico, já que o balanço das exportações
brasileiras sofrerá impacto direto.

Também o movimento do Greenpeace pode tornar de conhecimento mais amplo as


informações sobre os eventuais malefícios da soja transgênica e isso pode influenciar
o sistema social, ou mais precisamente, o comportamento do consumidor. Enfim, uma
série de relações e impactos pode ocorrer provocada a partir de um único agente.

18 Laureate- International Universities


PRATIQUE!
Uma indústria ilustra facilmente um sistema. Procure apontar quais são as entradas
ou insumos no processo produtivo avícola e automobilístico. Em que consiste o
processamento? Quais são as saídas? Pense em exemplos de feedback e no ambiente
no qual a indústria está inserida e arrole alguns exemplos.

Podem ser considerados insumos de uma indústria avícola as matrizes animais, as


granjas, os frangos, o maquinário, a lagoa de decantação necessária para aprovação
dos órgãos fiscalizadores, os recursos humanos empregados, o projeto de produção,
entre outros.

O processamento consiste na engorda do frango com ração de milho, no processo


de abate após 30 dias, na higienização dos animais, no processamento efetivo dos
cortes de frango, além de salários, impostos e outros. A saída é o frango embalado
inteiro ou cortes tradicionais e específicos, miúdos, acondicionados em embalagens,
resfriados ou congelados. Um feedback interessante para retroalimentar o processo
é a informação de que um número elevado de pés de frango contém calosidades e,
muito embora não causem prejuízo algum à saúde, não são aceitáveis esteticamente e
podem gerar insatisfação do consumidor. Assim sendo, uma providência a ser tomada
é aumentar a cama de serração nas granjas, dado que a calosidade do animal é fruto
da fricção da pata com a estrutura de madeira das granjas.

No que compete ao ambiente, como exemplo pode-se considerar que o preço da


carne, sobretudo bovina, determina fortemente o preço do frango. Outro exemplo é
a febre aviária, que impactou a venda de frango, ou novas determinações sanitárias
legais para exportação para a Rússia, um dos grandes importadores do frango
brasileiro.

Agora reflita considerando a indústria automobilística.

Realizada a reflexão e o exercício com a indústria de produtos, sugere-se que agora o


mesmo com a indústria de serviços. Resgate o exemplo da empresa de telemarketing
e identifique quais são as entradas, processamento e saídas, assim como exemplos de
feedback e questões ambientais.

Após essas reflexões, fica evidente que a organização é um sistema aberto com objetivos
múltiplos e diversas interações com o meio ambiente. É composta por vários subsistemas em
interação dinâmica e mutuamente dependentes, imersa em um ambiente dinâmico sujeito
a diferentes demandas e limitações, sendo difícil determinar os limites fronteiriços entre um
sistema e outro.

As organizações são sistemas embutidos em outros sistemas, e por se tratar de um sistema


aberto, o comportamento organizacional é previsível, mas nunca determinístico, visto que há
variáveis desconhecidas que podem emergir.

Vários autores contribuíram para a Teoria dos Sistemas aplicada às organizações, sobretudo
na década de 1960. Fremont Kast, James Rosenzweig e Richard Johnson legitimaram a
complexidade da tecnologia e da sociedade, tornando-se necessário utilizar abordagens
sistêmicas, criando, assim, um novo paradigma científico para a Administração. Charles W.
Churchman insere a ideia de sistema de informações gerenciais como fundamental para apoiar
o trabalho do gerente.

19
Ebook - Modelos de Administração

Nesse mesmo período outras abordagens da Administração surgiram, evidenciando a ebulição


e grande desenvolvimento da área nessa época. Justamente nesse período, precisamente no
dia 9 de setembro de 1965, dia em que é comemorado o Dia do Administrador, a profissão
foi instituída pela Lei 4.769. No ano seguinte foi publicado o currículo mínimo para o curso de
Administração pelo Ministério da Educação, definindo um quantum mínimo de carga horária de
matérias que deveria ser cumprido. Atualmente não existe mais currículo mínimo para nenhuma
profissão, já que o conceito foi substituído por diretrizes curriculares que são significativamente
mais flexíveis.

Daniel Katz e Robert Kahn (The Social Psychology of Organizations, John Wiley & Sons,
New York, 1966) estudaram de maneira detalhada as características da organização como
um sistema aberto e contribuíram assim com muitos dos conceitos importantes relativos à
Teoria dos Sistemas aplicada às organizações. Essas características são: o ciclo repetitivo de
recebimento de inputs; transformação desses inputs e os outputs desse processamento; as
forças de entropia e homeostase; o feedback como insumo ao processo; os tênues limites e
fronteiras que separam a organização dos vários sistemas que está imersa; a diferenciação em
função do ambiente em que atuam.

O modelo sociotécnico de Tavistock foi proposto por sociólogos e psicólogos do Instituto de


Relações Humanas da Tavistock com base em resultados de pesquisas efetuadas em minas de
carvão e empresas têxteis indianas. O modelo aponta que a organização é formada por dois
subsistemas: o técnico e o social. O primeiro é composto por recursos e componentes físicos
e abstratos, como objetivos, divisão do trabalho, tecnologia, instalações, procedimentos. O
segundo é composto por todas as manifestações do comportamento dos indivíduos e grupos,
como relações sociais, grupos informais, cultura, clima, atitudes e motivação.

A Teoria dos Sistemas evidenciou a importância do pensamento integrado, reconheceu e


valorizou a percepção do ambiente como determinante da eficácia da organização e abriu
caminho para o surgimento e consolidação de novas abordagens da Administração, como a
Abordagem Contingencial e a Abordagem Estratégica, que ainda serão objeto de estudo no
âmbito dessa disciplina.

3.4 Abordagem Contingencial


Contingência é algo incerto ou eventual, que depende de alguma coisa. A Abordagem
Contingencial entende que não existe uma forma única ou melhor de alcançar os resultados
organizacionais. A estrutura de uma organização e seu funcionamento são dependentes da
sua interface com o ambiente externo, dado que as características ambientais condicionam as
características organizacionais.A Teoria Contingencial nasceu na década de 1960 de uma série
de pesquisas para verificar as estruturas organizacionais mais eficazes em determinados tipos
de empresas, por isso também é chamada de Neoestruturalista, por alguns estudiosos.

Os principais autores que contribuíram para a estruturação dessa abordagem foram: Alfred
Chandler, Burns e Stalker, Lawrence e Lorsch e Joan Woodward, com destaque para Lawrence e
Lorsch, cuja produção marca efetivamente o surgimento da Teoria da Contingência.

Alfred Chandler publicou Strategy and Structure, em 1962, obra baseada em pesquisas
realizadas com quatro empresas: DuPont, GM, Standard Oil e Sears. Concluiu que a estrutura
das empresas foi sendo adaptada e ajustada à sua estratégia, e que diferentes ambientes
conduzem à adoção de novas estratégias, que por sua vez exigem diferentes estruturas
organizacionais.

Tom Burns e George Stalker, como já visto nesta unidade, pesquisaram 20 indústrias inglesas
para verificar a relação entre as práticas administrativas e o ambiente externo e classificaram a
empresa em dois tipos: mecanicistas e orgânicas.

20 Laureate- International Universities


Afinal, por que os tipos mecanicista e orgânico, de Burns e Stalker, citados na Teoria
Estruturalista, também são citados na Teoria Contingencial? Porque os limites entre uma teoria
e outra não são tão evidentes. Inclusive, por esse motivo, a Teoria da Contingência também é
denominada Teoria Neoestruturalista, ou seja, uma continuidade daquela.

Paul Lawrence e Jay Lorsch pesquisaram dez empresas pertencentes a três áreas: plásticos,
alimentos empacotados e recipientes e identificaram duas questões organizacionais básicas:
diferenciação e integração. A primeira se refere às tarefas especializadas desempenhadas
pelos departamentos. A segunda corresponde à necessidade de alcançar unidade de esforços
e coordenação entre os departamentos. São processos opostos e antagônicos e não existe uma
“solução pronta” que indique a melhor medida ou forma de organizar, já que as organizações
precisam ser sistematicamente ajusta- das às condições ambientais.

É com os estudos de Lawrence e Lorsch que a Teoria da Contingência ganha força. Esta
percebe a organização como um sistema aberto, no qual as variáveis organizacionais se inter-
relacionam de maneira complexa e são dependentes das variáveis ambientais que, por sua
vez, são independentes. Significa afirmar que as condições organizacionais dependem das
condições ambientais.

Joan Woodward desenvolveu uma pesquisa na qual investigou se os princípios da


Administração correlacionavam-se com o êxito do negócio. A pesquisa envolveu cem empresas
inglesas classificadas em três grupos de tecnologia de produção: unitária, em torno da qual
se reúnem os funcionários e o maquinário; em massa, mecanizada, que conta com linhas de
produção; e em processo ou automatizada, cuja participação humana é mínima.

A conclusão de Woodward foi que diferentes tipos de tecnologia envolvem diferentes


manufaturas de produtos e influenciam a estrutura organizacional. Em outras palavras, o
desenho organizacional é afetado pela tecnologia adotada. Confira alguns exemplos aplicados
ao mercado brasileiro:

• Tecnologia de produção unitária: fábrica da Embraer em São José dos Campos.

• Tecnologia de produção em massa: GM em São Caetano do Sul.

• Tecnologia de produção em processo: Oxiteno, indústria química presente em três


plantas no estado de São Paulo e unidades de produção também no Rio Grande do
Sul, Bahia, México e Venezuela.

As contribuições para a Teoria da Contingência de Chandler, Burns e Stalker, e Lawrence e


Lorsch, apontam para a estreita dependência da organização em relação ao seu ambiente.
Woodward, além de também tratar dessa questão, indica dependência da organização em
relação à tecnologia adotada. Portanto, a principal conclusão da Teoria da Contingência é que
as características de uma organização dependem das circunstâncias ambientais e da tecnologia
que ela utiliza.

3.4.1 Variáveis ambientais

O ambiente, como já visto na Teoria de Sistemas, compreende inúmeros outros sistemas:


desenvolvimento tecnológico, legal, político, econômico, demográfico, ecológico, cultural,
entre outros, comuns a todas as organizações e por isso também denominado macroambiente.
Há também o ambiente mais direto, por vezes denominado ambiente de tarefa e que
compreende: fornecedores de insumos, clientes, concorrentes, entidades reguladoras, como
órgãos regulamentadores governamentais e órgãos protetores do consumidor.

21
Ebook - Modelos de Administração

As organizações ora têm poder sobre seu ambiente de tarefa, ora são dependentes deste. Ora
impõem um preço para compra de insumos de fornecedores, ora são submetidas ao controle
e fiscalização da vigilância sanitária ou de agências reguladoras, como é o caso do produto
Speedy, da antiga Telefônica, atual Vivo, que teve sua comercialização suspensa pela Agência
Nacional de Telecomunicações – Anatel.

As organizações procuram aumentar o seu poder e reduzir sua dependência. Esse é o papel
da estratégia. Como se trata de um tema que merece destaque, a abordagem estratégica será
estudada detalhadamente em outra unidade.

Há, basicamente, duas tipologias de ambiente relacionadas a variações de estabilidade e


homogeneidade. Em um ambiente estável há regras e regulamentos que regem o cotidiano de
trabalho; em um ambiente instável, é preciso incorporar novas informações continuamente,
o que conduz a um planejamento contingente. Em um ambiente homogêneo, há pouca
segmentação de mercado, características homogêneas de fornecedores, clientes e concorrentes,
entre outros aspectos. No ambiente heterogêneo, ao contrário, há necessidade significativa de
diferenciação e descentralização para lidar com os diferentes perfis de fornecedores, clientes e
concorrentes. A figura 4 ilustra essa questão, evidenciando as diferentes combinações dessas
tipologias.

Ambiente

Homogêneo Instável

Departamentalização
Estável

Estruturas simples:
poucas divisões geográfica, descentralização.
funcionais.
Absorção da incerteza;
Regras e categorias planejamento
para aplicar. contingente.

Muitas divisões Diferenciação e


funcionais e descentralização.
Heterogêneo

territoriais.
Absorção da incerteza;
Regras e categorias planejamento
para aplicar. contigente.

Figura 4 – Comparativo entre ambientes.


Fonte: Adaptado de Chiavenato (2004).

De novo a noção de continuum entra em cena. Há infinitas possibilidades de posicionamento


entre uma linha que liga o ambiente homogêneo em um extremo a um ambiente heterogêneo
em outro. O mesmo vale para o ambiente estável e instável.

Outra perspectiva interessante é analisar a presença da lógica de sistema aberto e fechado


em um mesmo ambiente organizacional. A lógica de sistema aberto é mais perceptível no nível
institucional, onde a incerteza é bastante presente, exigindo uma postura mais estratégica, já
que é necessário definir e redefinir o posicionamento da empresa com base em informações

22 Laureate- International Universities


captadas do ambiente. A lógica do sistema fechado é mais presente no nível operacional,
que exerce a racionalidade limitada restrita ao que é conhecido e lhe foi apresentado, e que
executa os planos e programas determinados pelo nível intermediário, que por sua vez recebeu
instruções do nível institucional. A figura abaixo evidencia essa discussão.

Nível
institucional
Nível
intermediário
Logística
sistema
aberto Nível
operacional

Incerteza
Figura 5 – Logística dos sistemas fechado e aberto. O sistema fechado engloba os 3 níveis.
Fonte: Adaptado de Chiavenato (2004).

3.4.2 Variáveis tecnológicas

Todas as organizações utilizam alguma forma de tecnologia ou know-how que se


desenvolve nas organizações e extrapola a manifestação física incorporada e contida em
máquinas, equipamentos e instalações, e está presente também nas pessoas sob a forma
de conhecimentos intelectuais ou operacionais. Essa perspectiva, relativa à tecnologia não
incorporada, tem sido bastante divulgada por meio de um conceito relativamente recente
denominado “capital intelectual” das empresas.

James Thompson (1920 – 1973) julga a tipologia proposta por Woodward (produção unitária,
em massa e automatizada) insuficiente, considerando a amplitude de tecnologias encontradas
nas organizações. Assim, o autor propõe uma nova tipologia baseada em três diferentes tipos
de tecnologia, incluindo aí as empresas ditas complexas.

Organizações complexas são aquelas cuja tecnologia empregada é intensiva e aplicada de


maneira a atender as necessidades de cada cliente. Os exemplos clássicos de organizações
complexas são hospitais e universidades, mas atualmente, dada a complexidade de muitos
produtos e serviços, a complexidade organizacional está presente em vários outros setores de
atuação.

23
Ebook - Modelos de Administração

Tecnologia Principais características

Elos em sequência
Repetitividade do processo produtivo.
Ênfase no produto. Linha de produção.
A B C D  Produto

Mediadora Diferentes tarefas padronizadas. Ênfase em clientes


interdependentes,
Cliente Organização Cliente mediados pela empresa.
mediadora Produto abstrato.

Serviços e técnicas especializadas


A  
Diferentes tarefas são convergidas para cada cliente.
B  Cliente
Ênfase no cliente. Tecnologia flexível.
C  
D  
Quadro 5 – Tipologia de Thompson.
Fonte: Chiavenato (2004).

Exemplos:

• Tecnologia em sequência: adotada na Volkswagen em São Bernardo do Campo.

• Tecnologia mediadora: agência de seguros, bancos.

• Tecnologia intensiva: hospital.

James Thompson, juntamente com Frederick Bates, aprofundaram a análise e desenvolveram


outra tipologia evidenciando como os objetivos organizacionais podem influenciar a natureza
da organização.

Nessa tipologia, os autores relacionam tecnologia e produto, gerando quatro combinações,


conforme expresso no quadro a seguir. A tecnologia fixa não permite utilização em outros
produtos e serviços, exatamente o oposto da tecnologia flexível, que pode ser aplicada em
outros produtos e serviços. Um produto concreto pode ser descrito com precisão, já um produto
abstrato não permite descrição precisa, nem especificação ou identificação claras.

24 Laureate- International Universities


Concreto Abstrato

Alguma possibilidade de mudança,


Pouca possibilidade de mudança.
respeitados os limites impostos pela
Estratégia voltada para a colocação
tecnologia.
de produto no mercado.
Estratégia voltada para obtenção de
Ênfase na área mercadológica da
Fixa aceitação de novos produtos pelo
empresa. Receio de ter o produto
mercado.
rejeitado pelo mercado.
Ênfase na área mercadológica
Ex.: empresas do ramo
(promoção e propaganda).
automobilístico.
Ex.: Universidades.
Mudanças relativamente fáceis nos Adaptabilidade ao meio ambiente.
produtos. Estratégia voltada à obtenção de
Estratégia voltada para a inovação e consenso externo (novos produtos) e
criação constante de novos produtos interno (novos processos).
Flexível
ou serviços. Ênfase nas áreas de P&D,
Ênfase na área de P&D. mercadológica e RH.
Ex.: Empresas do ramo Ex.: Empresas de consultoria e
automobilístico. propaganda.

Quadro 6 – Matriz de tecnologia X produto de Thompson.


Fonte: Chiavenato (2014)

A Teoria da Contingência recebeu algumas críticas, sobretudo no que compete à assunção


de um estado de independência das variáveis ambientais destacado nos estudos pioneiros
de Lawrence e Lorsch, dado que muitas vezes as organizações estão na posição de exercer
controle sobre certos aspectos do seu ambiente.

Outro ponto criticado e que merece referência é que as mudanças nas variáveis ambientais e
tecnológicas são cada vez mais frequentes, entretanto, a estrutura organizacional não deve ser
alterada na mesma medida.

NÃO DEIXE DE LER...


Muitos fatos do dia-a-dia podem ser criticados e relacionados com as teorias
administrativas. Basta lembrar a escolha pelo governo brasileiro do padrão de TV
digital japonês e a influência da TV Globo nessa escolha, evidenciando claramente o
poder de uma organização sobre o ambiente. O artigo de Kennedy Alencar, publicado
na Folha de S.Paulo, no dia 8 de março de 2006, ilustra essa situação. Você pode ler
o texto em: www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi0803200602.htm.

NÓS QUEREMOS SABER!


Afinal, qual a principal contribuição da Abordagem Contingencialista?

A principal contribuição da Teoria da Contingência é avançar a noção de que


a organização é um sistema aberto em contínua inter-relação com o ambiente,
adicionando a variável “tecnologia” como determinante da estrutura organizacional.

25
Síntese Síntese
A partir da década de 1940, em função das críticas às Abordagens da Teoria Clássica e
da Escola de Relações Humanas, e também pela redescoberta dos trabalhos da Sociologia
da Burocracia elaborados por Max Weber, surgiu a Teoria da Burocracia. Ela baseia-se na
racionalidade e na adequação dos meios para atingir os objetivos planejados. Sua essência
baseia-se nos princípios: caráter legal das normas e regulamentos, comunicações formais,
caráter racional e divisão do trabalho, impessoalidade nas relações, hierarquia de autoridade,
rotina e procedimentos padronizados, competência técnica e meritocracia.

Ao longo do tempo a terminologia burocracia descaracterizou-se e nos dias de hoje é muito


usada para ilustrar volume alto de documentos, regras rígidas e etapas desnecessárias de
procedimentos, que impedem ações rápidas ou eficientes. Entretanto para Weber, burocracia
é a organização eficiente, e para tanto define com detalhes como as operações devem ser
realizadas.

A Teoria Estruturalista apresenta uma visão ampla da organização, procurando conciliar os


aspectos mostrados nas Abordagens da Teoria Clássica, na Escola de Relações Humanas e na
Teoria da Burocracia, através de uma concepção múltipla que envolve: a organização formal e
a informal, tanto as recompensas materiais como as sociais, os diferentes níveis hierárquicos da
organização, as análises intraorganizacional e a interorganizacional.

A partir da década de 1960 surge a Teoria dos Sistemas, com base nas ideias do alemão
Ludwig Bertalanffy. A Teoria dos Sistemas baseia-se em três premissas básicas: os sistemas
existem dentro de sistemas, os sistemas são abertos, e as funções de um sistema dependem de
sua estrutura. E nessa concepção todos os sistemas são compostos dos seguintes parâmetros:
entradas ou insumos, saídas ou resultados, processamento, retroação ou feedback e ambiente.

A partir da premissa da influência ambiental no contorno organizacional, a Teoria


Contingencial afirma que não há uma única forma de se organizar, e sim múltiplas, as quais
são influenciadas continuamente pelas mudanças ambientais. A visão da Teoria Contingencial
procura enfatizar desenhos organizacionais e sistemas gerenciais que sejam adequados para
cada situação específica, visto que o ambiente em que a organização atua está em continua
mudança.

26 Laureate- International Universities


Referências Bibliográficas
BERTALANFY, Ludwig Von. Teoria Geral dos Sistemas. Petropólis: 1975.

CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração: edição compacta.


7a. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2004.

CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração, 9a. ed. Barueri (SP):
Manole, 2014.

ETZIONI, Amitai. Análise comparativa de Organizações Complexas. São Paulo: Atlas,


1961.

HALL, Richard. Organizações: estrutura, processos e resultados. 8a. ed. São Paulo: Prentice
Hall, 2004.

LITTLE, Stephen. ISMS: understanding art. Nova York: Universe, 2004.

MAXIMIANO, Antônio Cesar Amaru. Introdução à Administração. 7a. ed. São Paulo: Atlas,
2007.

______. Introdução à Administração. 7a. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

MILNER, John. Mondrian. London: Phaidon Press, 1997.

SILVA, Reinaldo O. Teorias da Administração. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008.

THOMPSON, J.; BATES, FL. Tecnnology organization and administration. Ithaca, Business and
Public Administration School, Cornell University, 1969.

27

Você também pode gostar