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Daniele Neuberger*
Pedro Xavier Silva**
Silvio A. F. Cario***
RESUMO
Neste artigo, busca-se apresentar complementariedades entre as principais categorias teórica-
analíticas, abordadas por Thorstein Veblen e Geoffrey Hodgson, representantes, respectivamente, do
Antigo Institucionalismo norte-americano e do Neo-Institucionalismo. Particular ênfase é dada à
crítica institucionalista, no que se refere às abordagens que advogam a supremacia da estrutura sobre
o indivíduo ou do indivíduo sobre a estrutura. A alternativa proposta pelos citados autores sugere que
tanto os indivíduos podem modificar as instituições vigentes, quanto as próprias instituições podem
afetar as preferências individuais. Os hábitos de pensamento e de comportamento emergem como
categoria fundamental na compreensão dessa proposta alternativa.
ABSTRACT
In this article, seek to presente complementarities between the main theoretical-analytical categories,
approached by Thorstein Veblen and Geoffrey Hodgson, representatives, respectively, of Old North
American Institucionalism and Neo-Institucionalism. Particular emphasis is given to institucionalist
criticism, with regard to approaches that advocate the supremacy of the structure over the individual
or of the individual over the structure. The alternative proposed by the afore mentioned authors
suggest that both individual can modify existing institutions, and the institutions themselves can
affect individual preferences. Habits of thougth and behavior emerge as a fundamental category in
understanding this alternative proposal.
1 INTRODUÇÃO
Thorstein Veblen, Wesley C. Mitchell e John Commons, os quais compuseram uma matriz teórica,
conhecida, atualmente, como Velho ou Original Institucionalismo. Dentre esses três referidos
autores, destaca-se Thsortein Veblen, economista e sociólogo norte-americano, que viveu entre os
A obra de Veblen reflete o contexto histórico no qual o autor vivia; um período marcado por
fortes desigualdades no campo social e pela supremacia das ideias neoclássicas no campo da teoria
econômica. No artigo “Why is economics not an evolutionary science?”, de 1898, Veblen traça
______
*Doutora em Economia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail: danineuberger@gmail.com
**Doutor em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail: p.xavier@slowfoodbrasil.com
***Professor vinculado aos Programas de Pós-Graduação em Economia e de Administração da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC). E-mail: fecario@yahoo.com.br
1
importantes críticas à economia mainstream, relacionadas, à concepção hedonista e racional do
indivíduo, e às análises puramente teleológicas adjacentes a ela. Por outro lado, em “A teoria da
classe ociosa”, publicada no ano seguinte, o autor condena a ostentação promovida pelas classes
sociais mais abastadas, estabelecendo seu conceito de instituições como hábitos de pensamento
instintos, considerado como propensões inatas dos indivíduos que definem o objetivo e fim do
Esses expressam a natureza social das práticas cotidianas, manifestadas pelas ações, pensamentos e
institucionalizam em regras, na medida em que prevalece entre determinado grupo social, podendo,
por sua vez, incentivar e restringir ações individuais. Nessa via, hábitos podem se manter, mas podem
evoluir, diante da dinâmica social em constante transformação. Com isso, Veblen contrapõe o
Cem anos mais tarde, 1998, Geoffrey Hodgson, inserido no arcabouço do institucionalismo
moderno, retoma a teoria vebleniana, para ampliar a compreensão do comportamento dos indivíduos.
Retoma o conceito de hábitos como instituições, assegurando que esses possibilitam os indivíduos
vez, na seleção de suas preferências. Observa que hábitos se desenvolvem em contexto social, geram
aprendizado e permitem os indivíduos se adequarem às novas circunstâncias. Com isso, geram
No curso das ideias de Veblen e de Hodgson estabelece-se uma abordagem que envolve
explicações tanto dos indivíduos – seus objetivos e crenças – quanto das estruturas - instituições -,
bem como a evolução e as interações entre ambos. Nessa linha, as instituições moldam as aspirações
individuais, criando base para existência; porém, as instituições dependem dos indivíduos, das
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interações entre eles como hábitos compartilhados de pensamento. Firma-se um processo interativo e
ambiente analítico que contemple os indivíduos, seus hábitos, normas e padrões de conduta – o que
todos esses conceitos. Nessa linha, s obras desses autores tratam da conduta e do comportamento
individual, não obstante os cem anos que as separam. Contudo, há que se registrar os avanços da obra
deste último, a partir da utilização das categorias analíticas desenvolvidas pelo primeiro.
Considerando esse contexto, o propósito desse estudo é contribuir com elementos analíticos
cinco seções. Nesta primeira seção, descreve-se o seu propósito; expondo-se, na segunda, os
procedimentos metodológicos; na terceira, os principais pressupostos teóricos apresentados por esses
autores; na quarta, discutem-se as categorias analíticas tratadas por tais autores, em suas diferenças,
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Como base de dados, foram utilizados textos nucleares de Thorstein Veblen (1898; 1899;
1909; 1914) e de Geoffrey Hodgson (2003a; 2003b; 2004a; 2004b; 2006; 2007a; 2007b; 2009 e
2010). Outrossim, no intuito de buscar contribuições que endossem os argumentos centrais desses
referidos autores, são apresentadas inferências extraídas de trechos de outros escritos desses mesmos
autores, assim como de pesquisadores que os tenham analisado. Esses escritos foram escolhidos à
Desse modo, tais evidências foram analisadas com base nos conceitos teóricos da Análise de
Conteúdo de Bardin (2006 [1977]), caracterizada por três fases distintas. Primeiro, foi realizada uma
pré-análise, a partir de leitura flutuante sobre o material tomado como banco de dados, ou seja, o
arcabouço antes referenciado. Depois, a partir de uma reflexão acerca de suas proposições, iniciou-se,
por fim, um processo de exploração do material com base na codificação e categorização das
Para a formulação das categorias, foram utilizados conceitos, identificados como apropriados
nas leituras referentes aos constructos da Economia Institucionalista, resultando em diferentes níveis
de informação (Tema, Categoria e Indicador). Como “Tema”, selecionaram-se, nos textos, passagens
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referentes às abordagens analíticas dos autores, quais sejam, a “Economia Evolucionária”, por parte
enquadravam na proposta, foram categorizados por meio de uma transposição, com base nas
institucionalista, sobretudo a partir dos escritos de Veblen, Commons e Mitchel. Contudo, apesar de
as abordagens institucionalistas divergirem em sua definição, é possível afirmar que existe um corpo
teórico definido entre elas. Nesse sentido, é a própria diversidade das abordagens que constitui a fonte
institucionalismo, esse paradigma identifica elementos teóricos comuns, tais como: o questionamento
individualismo metodológico, uma visão do processo econômico como um sistema aberto e parte de
uma ampla rede de relações socioculturais; a ênfase no comportamento guiado por hábitos e rotinas
(e, ocasionalmente, pontuado por atos de criatividade e inovação); a influência da path dependence; e
sociedade americana de duas formas: de início, a partir de uma crítica às análises que se consolidavam
proposta analítica para fenômenos socioeconômicos que, em sua matriz, contempla o tripé de
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com capacidade plena de calcular suas escolhas e alocar recursos eficientemente em relação às
próprias vontades e demandas, Veblen indica que a economia marginalista negligenciava aspectos
intrínsecos à natureza humana, às rotinas e aos hábitos de vida e pensamento e a busca de ascensão
social, que ocorre de forma comparativa. Tal crítica recebe ainda mais endosso em “The limitations of
Marginal Utility” (1909), postulando a incapacidade processual – dado seu caráter estático - das
ciências econômicas em avaliar fenômenos tão dinâmicos como se propunha.
individuais, era criticada por Veblen. Para ele, as ciências econômicas deveriam seguir uma trajetória
significante quanto, a obra The Instinct of Workmanship and the State of Industrial Arts (1914)
contém a essência teórica da economia política de Veblen e a forma como vincula os aspectos
por um sistema urbano-industrial, cuja moeda conduziria as condições de troca, a propriedade privada
se tornara fator fundamental na composição do modelo, sendo motivo de honra e exaltação aos olhos
proposta era identificar os motivos pelos quais a realidade se apresentava, Veblen (1899) buscou
fundamentos, como a propriedade do homem sobre a mulher, ou das famílias abastadas sobre os
desenvolvimento que buscava investigar. À época, constatava-se uma mudança importante entre as
indispunham diante da ascensão de uma aristocracia beneficiada por acordos oligopolistas e aumento
de poder político, demandando a contemplação de novos interesses aos pactos sociais (CAVALIERI,
2015).
Assim sendo, infere-se que Veblen estava condicionado a fomentar o preenchimento de uma
lacuna metodológico-analítica por meio de uma matriz, que não negligenciasse aspectos intrínsecos à
natureza das relações capitalistas. Nesse sentido, têm-se o registro de Conceição (2012):
Veblen empregou a ideia de uma cadeia histórica sem quebra de causa e efeito para minar os
pressupostos do mainstream econômico. O uso feito por ele sobre as injunções
metodológicas darwinianas levou a uma poderosa crítica. Isto porque, em Veblen, o agente
humano era assunto de um processo evolucionário e jamais poderia ser tido como fixo ou
dado. Portanto, uma avaliação causal da interação entre indivíduo e estrutura social tinha que
ser providenciada. E esse ‘acerto de contas’ causal não deveria parar no indivíduo, mas
deveria também tentar explicar a origem dos objetivos e preferências psicológicas
(CONCEIÇÃO, 2012, p. 123).
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Desse modo, os instintos seriam elencados como singulares aos pressupostos estruturais da
proposta Economia Evolucionária (1898), uma vez que evidenciam atributos humanos diante de um
processo de seleção das instituições vigentes. Mas, o que seria, de fato, a Economia Evolucionária?
Por um lado, ela é a própria resposta de Thorstein Veblen à emergência dessas supraditas análises
consolidavam. Ainda, é a busca de Veblen para solucionar um problema identificado entre ênfases
teóricas simplificadas, ora unicamente sobre as ações individuais, ora unicamente sobre o impacto da
das Espécies” (1859), Veblen (1898; 1899) torna-se um precursor do Institucionalismo norte-
americano ao apresentar leituras críticas contundentes às Ciências Econômicas e, por extensão, ao
sistema socioeconômico de acumulação capitalista que se impunha. Ambas as obras - uma de apelo
mais teórico e outra mais empírico - somadas, são a indicação do que se intencionava com esta
Veblen, embora norte-americano, foi criado sob forte influência cultural estrangeira - uma
vez que seus pais eram imigrantes noruegueses e moravam em um povoado de origem, onde ele
passou seus primeiros anos de vida. De certa forma, suas análises partiam de um ponto de vista que
investigava. O contato e aprimoramento da língua inglesa ocorreu como seminarista, o que também o
aproximando-se da obra de Hegel, Spencer, Kant, Darwin e Charles Pierce, entre outros (CRUZ,
2015). Seu destaque como acadêmico ocorreu na Universidade de Chicago, onde as obras de Darwin
recebiam interesse pujante, e onde se tornou professor e editor do Journal of Political Economy
(RAYMER, 2013).
No seu entendimento, o objeto de análise – cenário econômico e social – era dinâmico,
mutante e bastante desigual. Nesse quadro, observava mudanças em que o capital se destacava no
como agentes centrais homens de negócios, por um lado, e imigrantes europeus, por outro (CRUZ,
2015). Assim, gritava aos olhos uma significativa mudança no panorama das classes sociais norte
americanas, em que agricultores da região oeste e a burguesia industrial se revoltavam perante a
escalada de uma aristocracia, beneficiada por acordos oligopolistas e aumento de poder político. Foi
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processos de causação cumulativa, que envolviam instintos, hábitos e instituições, que a análise de
E é justamente nesse processo causal que o autor embasou suas proposições evolucionárias,
criacionistas, solidificando teorias diversas (CAVALIERI, 2015). O que Veblen fez foi transcender
esta lógica evolucionária às ciências sociais. Com uma didática explicativa por meio de conceitos,
como variância, herança e seleção natural, ao passo que instituições antigas e novas estivessem em
maneiras de interação dos homens com o mundo, o que corresponderia aos seus hábitos de vida. Isto
é: se, por um lado, esses hábitos de vida estivessem vinculados a aspectos inerentes aos homens, quais
sejam seus instintos, por outro, esses hábitos se conectariam a hábitos de pensamento, consolidando
consensos no senso individual e coletivo (VEBLEN, 1899). A dialética aqui presente une este tripé
analítico: “instintos-hábitos-instituições”, de forma que os hábitos sejam a expressão desta
Em “The Instinct of the Workmanship and the State of Industrial Arts” (1914), os instintos
são classificados em quatro diferentes grupos: Instinto do Trabalho Eficaz (relacionado à busca por
eficiência); Instinto Predatório (cujo propósito final seria a extração); Instinto Parental (relacionado
aos cuidados coletivos); e Instinto da Curiosidade Vã (cujo vínculo principal, dado pelo autor, se dá
com a ciência). O Instinto Predatório, que teria seu surgimento a partir da passagem de uma fase
pacífica selvagem para uma fase predatória, estaria relacionado com a competição e se amplificaria
entendidos como as instituições, principal categoria analítica do que se seguiu como “Economia
Institucional”. Veblen (1899) indica que os hábitos de pensamento estão intimamente relacionados
aos hábitos de vida e àquilo que o autor chama de “espírito humano”, ou seja, os próprios instintos. É
neste ponto que ele se manifesta, de forma empírica, acerca das relações entre essas categorias e o
que as pessoas tendem a manter seus hábitos se não perceberem necessidade de fazer o contrário.
Ademais, tais mudanças nas instituições sociais se moldariam de forma coercitiva devido à situação
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Com essas observações, entende-se que a Economia Evolucionária parte do pressuposto de
que hábitos de vida e de pensamento se emulam por consensos, dependendo da aceitação de um grupo
dominante na sociedade. Instituições são eleitas sob interesses destes grupos, representando a
manutenção ou a alteração da realidade, causando efeitos sobre toda a sociedade. Nesse sentido, a
própria ciência, realizada sob interesses, poderia retardar o progresso coletivo em virtude da
manutenção de uma situação que beneficie tais interesses e/ou como reflexo de conservantismos do
“A Teoria da Classe Ociosa” , de Veblen (1899), é uma análise empírica na qual pode-se
observar a aplicação da Economia Evolucionária. A obra crítica descreve e faz inferências acerca do
sistema socioeconômico vigente, constatando, por essa análise empírica, portanto, a estabilização de
sobre o desenvolvimento das civilizações, expõem-se características de uma “fase pacífica”, cujas
sociedades eram primitivas e a distinção de funções e hierarquias era pouco significativa. Com isso,
Veblen demonstra como existem hábitos que vão se adequando a distintas fases, como aqueles mais
comuns a funções industriais. Àquela época (Séc. XIX) já se constatava que as regras sociais
fomentavam a competição entre os homens. Seria, portanto, uma “fase predatória”, cujos instintos
de divisão social, outrora fundamentado em questões de força, habilidade bélica e supostas bênçãos
portanto, institucionaliza os padrões de “fazer das coisas” e torna-se “alvo” àqueles que estão em
classes sociais “abaixo”. Assim, hábitos sociais, do consumo ao trabalho, do lazer à educação, se
homogeneízam nos diferentes estratos sociais, a partir de consensos carregados de interesses.
fundamentais neste processo comparativo. Veblen (1899) relaciona tais artigos e práticas à emulação
de consumo e ócio conspícuos, ou seja, hábitos de vida exclusivos a indivíduos com tempo e/ou
recursos em quantidade superior à demandada para sua subsistência. Sendo assim, ao passo que este
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Diante desta realidade em constante transformação, Veblen, partir das ideias darwinistas,
desenvolve a didática de sua retórica. Com foco no processo causal de evolução (não considerando
aqui “evolução” como um processo unicamente melhorativo, mas, sim, de causação e mudança), a
influência do ambiente sobre o desenvolvimento (das espécies, no caso de Darwin; das sociedades e
relações econômicas, no caso de Veblen), esses pressupostos vinham sendo incorporados pelas mais
distintas áreas da ciência. Essa utilização era endossada pela atmosfera acadêmica da Universidade de
situações onde o equilíbrio seria o fim e as ações seriam isoladas de seu contexto histórico e social.
Em um cenário onde as relações sociais eram influenciadas por expressões individuais e coletivas,
como costumes, hábitos, interesses e leis, as ações econômicas individuais dos agentes capitalistas
responderiam ao passado e fomentariam o futuro desse sistema de maior ou menor liberação, controle
ou expansão.
3.2 O Neo-institucionalismo
dois sentidos (HODGSON, 1998; ATKINSON e OLESON, 1996): ou por serem extremamente
descritivos, abstratos e deterministas; ou, ainda, por representarem uma aproximação ao
Economia Institucional (NEI). Hodgson sustenta essa crítica à NEI ao derivar sua proposta analítica,
buscando avançar nos pontos os quais considera que os antigos institucionalistas não avançaram.
Segundo Williamson (1985; 1993; 1995), o comportamento está vinculado com o ambiente
institucional, ao que se contrapõe Hodgson (1998; 2000), observando o fato de que o comportamento
pode ser exógeno à estrutura, assim como a própria estrutura não pode ser amplamente compreendida
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dado que, para ele, a partir desse ponto de vista, indica-se que toda ação tem como fim o desempenho,
Nesse sentido, os textos que servem de alicerce para este artigo buscam demonstrar caminhos que
Hodgson (2006) indica como elementos básicos de pesquisas desta natureza: a incorporação de
nestes processos investigativos, citando, por exemplo, os conceitos de hábito e rotinas, que
Desse modo, a proposta metodológica de Hodgson se diferencia da NEI ao indicar que não é
fortuito considerar que mercados (ou as transações de troca em si) sejam anteriores às instituições.
Ainda para Hodgson (2006), a questão não é o que primeiro surgiu, e sim quais fatores explicam o
instituições; mais que isso, os indivíduos são constituídos por instituições e, de forma reconstitutiva,
como uma das principais figuras do institucionalismo moderno, promovendo o debate crítico e a
rejeita a compreensão neoclássica de que as preferências individuais são fixas e imutáveis, e procura
Hodgson (2009) afirma que, por muito tempo, o modelo predominante na explicação dos
utilizavam uma dada combinação de insumos – capital e trabalho –, visando determinado fluxo de
resultados. Os indivíduos, por sua vez, eram vistos como agentes maximizadores e racionais,
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detentores de uma função de preferências, que determinava as suas decisões. Nesse modelo, os
objetivos dos agentes eram dados, isto é: as firmas buscavam aumentar os seus lucros; e os
indivíduos, satisfazer suas preferências. O processo de produção em si não era explicado, tampouco a
formação das escolhas individuais: as estruturas institucionais e a forma como elas podem
no uso do conceito “instituições” nas ciências sociais, nos últimos anos, têm provocado o
ressurgimento do debate nesse campo. Como consequência, a ausência de consenso a respeito de
necessidade de sua discussão, bem como de se tentar uma conciliação entre as suas definições, para
que, a partir disso, estudos empíricos e análises teóricas possam ser realizados. Para Hodgson (2006),
o conceito de instituições está ligado a sistemas de regras sociais prevalecentes e estabelecidas, que
estruturam as interações sociais. Crescentemente se reconhece que a maior parte das atividades e
interações humanas é estruturada em termos de regras sociais mais ou menos implícitas, que
Institutions are enduring systems of socially ingrained rules. They channel and constrain
behavior so that individuals form new habits as a result. People do not develop new
preferences, wants or purposes simply because ‘values’ or ‘social forces’ control them.
Instead, the framing, shifting and constraining capacities of social institutions give rise to
new perceptions and dispositions within individuals (HODGSON, 2007a, p. 331).
capacidade delas de criarem expectativas estáveis a respeito do comportamento dos indivíduos. Nesse
sentido, as instituições são capazes de impor consistência à atividade humana, e dependem tanto do
pensamento quanto das atividades individuais, não sendo, porém, redutíveis a elas. Além disso, elas
podem tanto restringir quanto permitir e encorajar o comportamento, de modo que, embora
determinem restrições à atividade humana, elas podem abrir oportunidades que, de outra forma, não
seriam vislumbradas.
Da mesma forma que Veblen, Hodgson também é adepto das ideias darwinistas e, como tal,
acredita que a Ciência deve estar comprometida em fornecer explicações causais para todos os
fenômenos, inclusive para as preferências e escolhas dos indivíduos. A principal falha cometida pela
agentes possam ser reconstituídos pelas circunstâncias. Por sua vez, análises que se pretendem
(HODGSON, 2003b).
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Desde a publicação de “An Essay on the nature and significance of Economic Science”, de
Lionel Robbins, a Ciência Econômica tem sido entendida como a “ciência da escolha racional”, visto
que concebe os indivíduos como agentes decisores, que compartilham um conjunto comum de
preferências e que conhecem as consequências de todas as suas escolhas. Como cada agente escolhe a
alternativa que considera mais atrativa conforme sua função de preferências, as decisões daí
decorrentes são avaliadas como “racionais”. Contudo, o modo como são formadas essas preferências
não é explicado, gerando o entendimento de que são “dadas” ou “exógenas”. Ainda assim, de acordo
com Hodgson (2010), não é correto pressupor que as escolhas sejam dadas ou que surjam do acaso,
independente e racional. Desse modo, está se dirigindo para um novo paradigma, pelo qual se
compreende que a cognição humana depende do ambiente social e material onde os indivíduos estão
inseridos, bem como das suas interações com os outros agentes. Essa mudança de paradigma, na
Psicologia, afeta a forma como são pensadas as coisas na Ciência Econômica, principalmente no que
concerne à formação das preferências individuais (HODGSON, 2007a).
Esses recentes estudos têm demonstrado que a combinação de processos conscientes e
tomada de decisão dos agentes. Nessas circunstâncias, a racionalidade individual passa a depender de
dependente do contexto é consistente com uma economia institucional, na qual agência e estrutura
institucional, a qual é reforçada pela capacidade que as instituições têm de modificar as escolhas dos
indivíduos. Segundo afirma Hodgson (2007a) os “hábitos” são os mecanismos que fornecem os
fundamentos para a modificação das crenças e das preferências, sendo Veblen um dos primeiros
autores a examinar quais circunstâncias e restrições conduzem à formação dos hábitos: “Through the
individual mechanism of habit, the framing, shifting and constraining capacities of social institutions
give rise to new perceptions and dispositions within individuals. This is a key element in the
disposições ou capacidades adquiridas, que podem ou não ser expressas no comportamento corrente
dos indivíduos. Hodgson (2010) afirma que os hábitos são repertórios submersos de comportamentos
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potenciais, que podem ser reforçados por contextos apropriados. De forma geral, são propensões que
Para que os hábitos sejam desencadeados, no entanto, parecem ser necessárias certas pré-
possíveis. Nesse sentido, define os instintos como reflexos, sentimentos ou disposições inerentemente
biológicas, que podem ser incitados por determinados sinais. Os instintos podem ser suprimidos ou
Além de modificar o axioma das preferências “dadas”, a inclusão dos hábitos e dos instintos
nas considerações sobre o comportamento dos indivíduos também coloca em xeque o pressuposto da
indivíduos agem como se possuíssem todas as informações possíveis, que calculam todos os
benefícios e malefícios de suas ações e tomam decisões conforme as suas preferências fixas, a análise
dos fatores, muitas vezes inconsciente – que levam à deliberação, flexibiliza esse pressuposto,
fazendo com que as decisões variem conforme o background de cada indivíduo, bem como conforme
Hodgson (2007b) explica que, para que um hábito individual se torne uma regra, ele deve ser
potencialmente codificável e prevalecer entre determinado grupo. Uma vez que a estrutura de regras
compartilhados, a estrutura institucional cria mecanismos que contribuem para a sua própria
reprodução.
indivíduos não implica afirmar que a estrutura social determina as suas escolhas. A oposição entre o
frequentemente, entendido como um problema de agente e estrutura. Se, por um lado, algumas
versões do marxismo são criticadas por enfatizar a sociedade (sistema, estrutura, instituições),
debruçar suas análises sobre os indivíduos (agentes), deixando as estruturas em segundo plano.
Para Hodgson (2003a), o principal problema desses dois extremos é que nenhum deles, de
individuais sobre os fenômenos sociais ao supor que os indivíduos são socialmente determinados; ao
mesmo tempo em que o coletivismo metodológico, ao buscar explicar tudo por meio das estruturas
sociais, acaba por dotar as instituições de vontades próprias, como se fossem indivíduos. Sem uma
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análise da maneira como surgem, quais são as causas das preferências, dos propósitos e das crenças
explicação que invista as causas, bem como no reconhecimento da influência da psicologia nesse
processo.
Hodgson (2003a) procura solucionar o dilema entre esses dois extremos através do resgate do
conceito de hábito, central na análise vebleniana. Assim, é necessária uma abordagem que envolva
explicações tanto dos indivíduos – seus objetivos e crenças - quanto das estruturas (instituições), bem
como de sua evolução e possíveis interações entre ambos. Nessa análise, fica claro que as
reconhecimento, não é possível aceitar o individualismo metodológico, uma vez que as estruturas
sociais não podem ser inteiramente explicadas em termos dos indivíduos e de suas relações. Ademais,
socioinstitucional não implica aceitar também o coletivismo metodológico: os indivíduos não podem
ser reduzidos às estruturas sociais nas quais estão inseridos. Com isso, Hodgson (2003a) afirma ser
ontológico inferior afetam aqueles que se encontram em um nível mais elevado, é amplamente
reconhecida nas ciências sociais. Outrossim, essa causalidade ascendente pode ser reconstitutiva, já
que as mudanças operadas em nível inferior podem afetar, consideravelmente, as estruturas de níveis
mais altos. A ideia proposta por Hodgson (2003a) é a de que existe, além da já mencionada
causalidade reconstitutiva ascendente, também uma causalidade reconstitutiva descendente, no
sentido de que mudanças operadas em níveis mais altos (instituições) também são capazes de afetar e
reconstituir elementos dos níveis inferiores (indivíduos). Com isso, torna-se impossível tomar as
partes como dadas e, a partir delas, explicar o todo, uma vez que o todo reconstitui as partes.
sociais e psicológicos que permitem às instituições processar mudanças nas preferências dos
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e analisado por Veblen, Hodgson sustenta que é através desse mecanismo que a causação descendente
reconstitutiva atua. Somente depois de estabelecidos certos hábitos específicos é que surgem a razão,
a deliberação e o cálculo. “[...] reconstitutive downward causation works by creating and moulding
habits. Habit is the crucial and hidden link in the causal chain” (HODGSON, 2003a, p. 171).
Hodgson (2006, 2007a) concorda com Veblen e sustenta que a formação dos hábitos
constitui um mecanismo que permite que as regras culturais e institucionais de cognição e ação
adentrem a mente humana. Assim, toda deliberação depende da formação prévia de hábitos, os quais
específicos. Embora sejam conexões individuais – que se formam na mente de cada indivíduo –, os
hábitos possuem forte marca social. É a este processo, que opera através da moldagem dos hábitos e
que vai da estrutura social específica para o indivíduo, que Hodgson (2013) chama de “causalidade
reconstitutiva descendente”, sendo assim denominado porque enfatiza os efeitos reconstitutivos das
novos hábitos ou alterar hábitos existentes de forma reconstitutiva. As instituições até podem levar
diretamente a mudanças nas intenções (preferências) individuais, mas apenas de forma não
reconstitutiva. Por outro lado, quando as instituições agem não diretamente sobre as ações dos
indivíduos, mas sobre as suas disposições habituais, elas exercem uma causalidade descendente sem
através deles, é possível explicar a forma pela qual as instituições afetam o comportamento
individual. É reconhecido que as instituições também podem afetar diretamente as intenções dos
reconstitutiva entra em ação quando isso ocorre de forma indireta, através da formação e sustentação
dos hábitos.
oferecem, mas, principalmente, porque moldam aspirações individuais, criando uma base para a sua
existência. Isso não significa, no entanto, que as instituições sejam independentes: elas dependem dos
indivíduos e, sobretudo, das interações entre eles, assim como dos seus hábitos compartilhados de
Knudesn (2004) argumentam que é possível superar o dilema entre o individualismo e o coletivismo
metodológico pois, ao agir sobre as disposições habituais – e não diretamente sobre as decisões dos
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indivíduos –, as instituições exercem uma causação descendente reconstitutiva sobre os indivíduos,
sem, no entanto, reduzir o papel da agência individual. Nesse sentido, as explicações sobre os
fenômenos socioeconômicos não são reduzidas nem aos indivíduos nem às instituições.
estáticas, subentende-se que ambos os autores concordam que as ações econômicas não
econômica, construindo o contexto pessoal e social no qual as decisões são tomadas. Partindo do
princípio de que o controle e a expansão das ações individuais sempre resultam em ganhos e perdas
para um dos lados envolvidos, o consenso é a busca deste processo emulado pela força de hábitos
sociais. Tais hábitos são o elo que conecta estes consensos e aspectos intrínsecos da natureza humana,
fato que não pode ser negado, à medida que se evidencia a origem das preferências e interesses.
Contudo, existe um intervalo de cerca de um século entre suas construções e, portanto, são
claros os avanços de Hodgson sobre o arcabouço vebleniano. Embora a Economia Evolucionária seja
competente em apresentar as limitações do mainstream econômico, ela própria possui suas limitações
A dialética presente nas interações entre as disposições inatas dos agentes e a consolidação
dos consensos sociais é, sobremaneira, o principal ponto de convergência entre Veblen e Hodgson.
Instintos, encarados nessa lógica de raciocínio como tais propensões inatas, não determinam os
comportamentos; eles são sujeitos a desenvolvimento e modificações pela força dos hábitos
(VEBLEN, 1914). Isso é o que Veblen intenciona dizer ao mencionar que hábitos de pensamento ou
de vida, formados em resposta a um determinado estímulo, afetarão, indubitavelmente, a natureza das
respostas aos estímulos futuros, pois modificarão o arcabouço cognitivo do indivíduo, que subsidiará
tomadas de decisão no futuro. Hodgson (2007b) esclarece que a formação dos hábitos requer
comportamentos repetidos, que podem ser acionados, muitas vezes, pela propensão a imitar outros
pensamento. “Habit is the psychological mechanism that forms the basis of much rule-following
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Idêntico entendimento pode ser verificado em Veblen (1899), quando o autor delibera sobre
a forma como hábitos de vida e pensamento são a representação daquilo que se elege como ideal.
Admite-se, nesse sentido, a existência de um esquema de vida no qual se codificam padrões (aquilo
que é belo, bom, conveniente, por ex.), a partir da vida de uma parte dos indivíduos. Esses códigos
representam respostas encontradas pelo coletivo de interação entre a natureza humana e a estrutura
que se apresenta, ou seja, sistemas de convenção e bom senso. Assim, é nítida a premissa de que este
caminho entre instintos, hábitos e instituições não é um caminho homogêneo e unidirecional, uma vez
que a cada movimento, um novo contexto se forma e, embora existam mecanismos que visem a
estabilização das instituições, esse cenário deve ser encarado como dinâmico.
que reside o cerne analítico proposto. Quando Hodgson (2007a, p. 331) menciona que “as
capacidades de deliberação humana estão vinculadas à evolução dos seus contextos social e
biológico” (tradução nossa), deixa evidente que sua análise sobre a racionalização não negligencia
nem os aspectos intrínsecos ao homem, nem aqueles construídos pela sociedade e nos quais orbitam
as ações. Com isso, ao darem espaço à interação entre gatilhos instintivos e forças estruturais, tanto
Veblen quanto Hodgson demonstram o caráter cumulativo que consideram presente nas ações.
Observa-se, desse modo, a existência de uma herança biológica e social, sobre as quais atuam
The growth and mutations of the institutional fabric are an outcome of the conduct of the
individual members of the group, since it is out of the experience of the individuals, through
the habituation of individuals, that institutions arise; and it is in this same experience that
these institutions act to direct and define the aims and end of conduct. It is, of course, on
individuals that the system of institutions imposes those conventional standards, ideals, and
canons of conduct that make up the community's scheme of life (VEBLEN, 1909, p. 628).
das formas como a natureza humana responde às exigências que lhe aparecem. Entretanto, esse
sistema de convenções se sustenta com alguma flexibilidade, conforme aponta Veblen (1909),
influenciam as do futuro, é correto afirmar que são os hábitos que atuam nessa condição mutacional.
O crescimento cultural, assim, seria “uma sequência cumulativa de habituação, e os caminhos e meios
para isso são a resposta natural humana às exigências que se apresentam” (VEBLEN, 1909, p. 628),
criando, cada movimento no sentido de responder a esses incentivos, uma nova situação, e induzindo
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É o caráter cumulativo e consistente, justamente, que torna a habituação tão significativa
cenário institucional, existe certa consistência no processo de cognição ao passar por propensões
inatas e aptidões, somando-se a isso a cumulatividade inferida, a qual permite buscar-se no passado
encaram o contexto de mudança institucional. Considera-se esse entendimento pré-requisito para que
se postulem suas propostas analíticas, assim como as da matriz institucionalista como um todo. Além
disso, as instituições não podem ser vistas como estruturas sólidas e permanentes, uma vez que a
“evolução da estrutura social foi um processo de seleção natural das instituições” (VEBLEN, 1899, p.
179), do mesmo modo que o ambiente institucional não pode ser tomado como externo ao
Quadro 1. Comparação entre abordagem e tratamento dado aos diferentes elementos de análise
em Veblen e Hodgson
Caráter Entendimento do agente humano como parte de Necessidade de análise das instituições em um
evolucionário da um processo evolucionário; Crítica às análises contexto evolucionário; Ênfase na necessidade
Ciência simplificadoras; Constatação da constante de analisar os indivíduos em seus respectivos
Econômica evolução da dinâmica social contextos
18
Imposição de consistência à atividade humana;
Hábitos de pensamento comuns à generalidade dos
Instituições Sistemas duradouros de regras sociais, que
homens
estruturam as interações humanas
estrutura e indivíduo proposta por Veblen de forma reconstitutiva (em que ambos se retroalimentam)
e descendente (da estrutura para o indivíduo). Ou seja, as forças institucionais podem restringir ou
forma de hábitos, que as próprias instituições se perpetuam. Tal interação indireta entre instituições e
Analisando essas informações, busca-se transpor esses mecanismos analíticos para sua
utilização em fenômenos e objetos de investigação atuais. Veblen (1914) já indicava que, com a
evolução da ciência e do corpo de conhecimento das sociedades, propensões inatas iriam sendo
incorporadas no legado de hábitos e comportamentos das gerações passadas. Hodgson (1994), por sua
vez, demonstra que algumas escolas econômicas hodiernas lançam mão dessa lógica através ao
indicarem que a aquisição de aptidões tecnológicas e as formas utilizadas para que essas aptidões
O ambiente e o objeto de investigação de Veblen eram outros; assim como eram outros seus
interesses. Gestão e microeconomia surgiam apenas de forma adjacente às avaliações dos aspectos
que emergiam. Contudo, é nas premissas evolucionárias que as similaridades se sustentam. Assim
como rotinas de trabalho e protocolos de operação, para Veblen (1914, p. 07), “[…] caminhos e meios
encaixam-se em linhas convencionais, adquirem a consistência de costume e prescrição, e então
tomam um caráter e força institucionais”. Assim, escolhas e decisões tomadas trarão resultados
futuros, à medida que “a situação de hoje modela as instituições de amanhã mediante um processo
seletivo e coercitivo, atuando na habitual opinião humana sobre as coisas, e assim alterando ou
revigorando um ponto de vista ou uma atitude mental herdada do passado” (VEBLEN, 1899, p. 88).
No Quadro 1, expõe-se uma súmula das abordagens desses autores.
19
Conforme exposto no referencial teórico é nos escritos de Veblen, do final do Século XIX e
início do XX, que estão expostas as suas críticas às análises econômicas tradicionais. Infere-se, a
partir daí, que sua crítica reside, sobretudo, em considerar os fenômenos de forma unilateral e
estática. Nas ciências econômicas, ele considerava que análises que punham o indivíduo como
tomador soberano das decisões, um ente homogêneo e apartado do seu contexto social-histórico, não
sustenta a crítica sobre a negligência da economia mainstream no fato de que objetos e preferências se
Para Veblen (1914), os cientistas, usualmente, tinham de agir no intuito de buscar fatos que
corroborassem as teorias existentes, e, quando esta tensão entre teoria e realidade se tornasse
incompatível, tais fatos seriam considerados como fatores disturbantes. Para ele, mesmo análises com
apelo estatístico deveriam desvincular-se da ênfase sobre os indivíduos e considerar que esses estão
poderiam ser apartadas da realidade sob pena de fundamentar evidências pouco verossímeis.
Nesse sentido, Veblen deixa claro que as análises existentes à época, que se colocavam como
elementos fundadores da ação. Era preciso ter como pressupostos os fatos de que o desenvolvimento
social e a conduta humana seriam, em última análise, redutíveis tanto ao “tecido vivo” quanto ao
“ambiente material” (VEBLEN, 1899). O excerto, a seguir, melhor expõe esse diagnóstico:
The economists have accepted the hedonistic preconceptions concerning human nature and
human action, and the conception of the economic interest which a hedonistic psychology
gives does not afford material for a theory of the development of human nature [...] At the
same time the anthropological preconceptions current in that common-sense apprehension of
human nature to which economists have habitually turned has not enforced the formulation of
human nature in terms of a cumulative growth of habits of life.(VEBLEN, 1898, p. 22).
Nessa citação vê-se descrito aquilo que Hodgson considera o problema da ênfase analítica
considerar fenômenos complexos a partir de um único nível analítico. O próprio Hodgson (2004b)
teleológico racional em termos de cálculo e escolha encobre a sequência cumulativa de fatores que
compuseram os subsídios cognitivos para esta deliberação. Desse modo, ele se aproxima de Veblen
que, ao valorizar os hábitos como mecanismos de interação entre indivíduo e estrutura, se afasta das
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Nesse sentido, tanto um autor quanto o outro se direcionam à busca por uma resposta
analítica que se posicione entre esses extremos e se afaste dos supracitados extremos. Assim, se para
Veblen essa resposta seria a “Economia Evolucionária”, para Hodgson, a resposta seria a
“Causalidade Reconstitutiva Descendente”. Embora este último se apoie no primeiro, ele busca
Veblen outlined the problem of reconciling human volition and causality but failed to develop
an adequate and non-reductionist philosophical framework in wich human intentionality,
monism and causality could be reconciled; without reducing mind to matter, or matter to
mind (HODGSON, 2004b, p.351).
Sendo assim, a partir dessa derivação, Hodgson (2003a) clarifica esse processo dialético,
mostrando indícios da triangulação entre as categorias instintos, hábitos e instituições, que espera
sociedade, os hábitos são mais do que simples comportamentos, eles representam a compreensão da
realidade por parte dos agentes. Dessa forma, a mudança institucional afeta não só as ações, mas
À medida que o impacto descendente das forças institucionais não afeta os instintos (estes
seriam orgânicos e hereditários), é na formulação habitual das formas de fazer as coisas e responder
aos incentivos que a estrutura interfere na cognição humana de forma indireta. E, de forma
complementar, a própria habituação interfere nesse sistema de convenções, pois enraíza pontos de
vista no aparato cognitivo utilizado para deliberações futuras. Por outro lado, se as instituições afetam
diretamente as preferências dos indivíduos, isto é, sem o intermédio do processo de habituação, não é
possível afirmar que essa interferência afetará as deliberações futuras e conferirá estabilidade às
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Institucionalismo, no âmbito das Ciências Sociais, surgiu como uma alternativa à teoria
institucional sobre as decisões dos indivíduos. Essa alternativa, muito além de constituir oposição ao
neoclacissismo, forneceu um aparato teórico para análises robustas e consistentes com a realidade,
sobretudo na esfera das Ciências Econômicas. Nesse sentido, a reaproximação da Economia com a
Psicologia e a Sociologia muniu tais análises de aplicabilidade empírica, ao mesmo tempo em que
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homens, enfatizou o tripé: “instintos – hábitos – instituições”, e estabeleceu o processo de
retroalimentação entre essas categorias. Ao compreender a Economia como uma “ciência
evolucionária”, sustenta que as análises prescindem considerar os contextos sociais e econômicos nos
quais são concebidas, pois estes são dinâmicos e encontram-se em constante mutação.
Geoffrey Hodgson, por sua vez, herdeiro da tradição institucionalista original, definiu as
instituições como sistemas duradouros de regras sociais, que estruturam as interações humanas. Ao
reprovar tanto as análises que preconizam o individualismo metodológico quanto as que sustentam o
que também são afetados por elas. A “causação descendente reconstitutiva” da estrutura em direção
ao agente só é possível através da modificação prévia dos hábitos individuais, pois é este mecanismo
que permite que as regras culturais e institucionais adentrem, de fato, a mente humana.
Não obstante, os cem anos de desenvolvimentos teóricos que separam esses dois autores, as
abordagens empreendidas por eles parecem caminhar em uma direção bastante convergente: a
rejeição das análises que preconizam os indivíduos sem considerar as estruturas sociais e
institucionais nas quais estão inseridos; e, ao mesmo tempo, daquelas que inferem que tais estruturas
são a tal ponto determinantes do comportamento individual que são capazes de retirar o seu poder de
ação. Nesse sentido, pode se afirmar que, para Veblen e Hodgson, as disposições habituais emergem
como fundamentais para o entendimento da retroalimentação entre indivíduos e instituições.
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