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Relatório de Leituras:
Aula 06.04
Textos:
1) CLEGG, S. R.; HARDY, C Introdução: organização e estudos organizacionais.
Handbook de Estudos Organizacionais. São Paulo: Atlas: 1998.
O primeiro texto, de autoria de Clegg e Hardy, é uma introdução ao livro que apresenta
uma visão geral do campo de estudos organizacionais, sua história e perspectivas
teóricas. O texto busca fornecer uma compreensão geral do campo e suas contribuições
para a compreensão das organizações.
O segundo texto, de autoria de Reed, é um capítulo específico dentro do livro que se
concentra na história contestada da teoria organizacional. Reed examina o contexto
histórico e social em que a teoria organizacional surgiu e se desenvolveu, destacando as
diversas abordagens teóricas e debates que surgiram dentro do campo.
Ambos os textos são importantes para entender a evolução dos estudos organizacionais.
Enquanto a introdução de Clegg e Hardy oferece uma perspectiva mais ampla e
abrangente, o texto de Reed oferece uma análise mais detalhada e crítica da história e
evolução do campo.
O texto de Clegg e Hardy é um bom ponto de partida para o entendimento do campo de
estudos organizacionais. Os autores destacam mudanças ocorridas na época pós-
moderna e os debates sobre paradigmas que surgiram nesse contexto. Eles apontam que
a época pós-moderna trouxe mudanças significativas para o campo de estudos
organizacionais, incluindo o reconhecimento da complexidade e da incerteza inerentes
às organizações, bem como a crescente preocupação com questões de poder e diferença.
Essas mudanças exigem novas abordagens teóricas e metodológicas que possam lidar
com a complexidade e a diversidade das organizações. Dessa forma, o campo de
estudos organizacionais é marcado por debates e conversações diversas sobre
paradigmas teóricos e metodológicos que buscam compreender e capturar a realidade.
Eles apontam que esses debates muitas vezes são caracterizados por tensões entre
abordagens teóricas diferentes e até mesmo opostas. Essas tensões e debates são
saudáveis e necessários para o desenvolvimento do campo, à medida que permitem que
diferentes perspectivas e ideias sejam exploradas e testadas. Portanto, o campo de
estudos organizacionais deve continuar a incentivar conversas e debates abertos e
críticos, a fim de desenvolver novas abordagens teóricas e metodológicas que possam
lidar com os desafios e complexidades do mundo contemporâneo.
Já o texto de Reed aprofunda mais esse caminho da evolução teórica da teoria das
organizações, à medida que ele examina o contexto histórico e social em que a teoria
organizacional se desenvolveu. Ele então constrói metanarrativas como uma tentativa de
fornecer uma estrutura mais abrangente para a teorização organizacional, levando em
conta a complexidade e diversidade das organizações, bem como a influência dos
contextos sociais e culturais na construção das mesmas. Os modelos apresentados por
Reed em seu texto são: racionalidade, integração, mercado, poder, conhecimento e
justiça. Cada um desses modelos representa uma perspectiva diferente na análise
organizacional. O modelo de poder, por exemplo, enfatiza a distribuição desigual do
poder dentro das organizações e a influência dos interesses políticos e econômicos em
sua estrutura e funcionamento. Já o modelo de conhecimento destaca a importância do
conhecimento na criação e manutenção de organizações bem-sucedidas, enquanto o
modelo de justiça aborda questões relacionadas à equidade e ética nas relações entre as
organizações e a sociedade em geral. Dessa forma, os modelos propostos por Reed
fornecem uma estrutura útil para entender as diferentes perspectivas na análise
organizacional, permitindo uma visão mais completa e crítica das organizações e sua
interação com a sociedade.
Aula 04.05
Textos:
3) SCOTT, W. R. Reflections on a half-century of organizational sociology. Annu.
Rev. Sociol. 2004. 30:1–21.
O texto de Scott aborda o desenvolvimento da sociologia organizacional ao longo do
tempo, destacando diferentes abordagens teóricas e mudanças nas perspectivas de
estudo das organizações.
No final do século XIX, surgiram os primeiros estudos sobre comportamento
organizacional, impulsionados pelas mudanças sociais causadas pela industrialização e
burocratização. Duas abordagens principais foram desenvolvidas nesse período: uma
orientação de engenharia, focada em melhorar a produtividade do trabalho, e uma
abordagem social, que explorava os motivos individuais e padrões informais de
cooperação e conflito nas organizações.
Inicialmente, as organizações eram vistas apenas como contextos de trabalho, mas
alguns estudiosos começaram a considerá-las como unidades de interesse, tanto
sistemas técnicos quanto sociais. Eles discutiram a interdependência entre as estruturas
formais e informais nas organizações e enfatizaram a importância de visões morais e
adaptação às mudanças ambientais.
Essas visões contrastantes, uma perspectiva de "sistema racional" e uma perspectiva de
"sistema natural", proporcionaram a base para o desenvolvimento da sociologia
organizacional. Conforme o campo evoluiu, surgiram abordagens teóricas inovadoras,
como teoria da contingência, teoria do custo de transação, teoria da dependência de
recursos, teoria das redes, ecologia organizacional e teoria institucional.
A sociologia organizacional expandiu sua concepção do ambiente, passando a
considerar as organizações como sistemas abertos, moldados pelo ambiente e
influenciando-o. Os estudos começaram a analisar as estruturas e processos
organizacionais, bem como as interações entre organizações e seu contexto. Os
impactos das organizações nas sociedades e a relação de poder entre corporações e o
Estado também foram abordados.
Houve mudanças nas estratégias organizacionais ao longo do tempo, passando da
internalização para a externalização, com as organizações terceirizando funções
anteriormente realizadas internamente. Isso afetou os funcionários e refletiu uma
dependência crescente de mecanismos de mercado. As estruturas organizacionais
também se tornaram mais descentralizadas e horizontais, especialmente em indústrias
mais recentes.
Os estudiosos passaram a adotar uma abordagem relacional, reconhecendo a
interdependência entre organizações e seus contextos transacionais, em contraste com
abordagens substantialistas, que tratavam as estruturas como entidades independentes.
Portanto, a sociologia organizacional evoluiu para uma visão mais abrangente do
ambiente e adotou diferentes níveis de análise, investigando as consequências das
organizações e suas relações com a sociedade.
4) FLIGSTEIN, N. Theoretical Debates and the Scope of Organizational Theory.
In: Craig Calhoun, Chris Rojek, and Bryan Turner. Handbook of Sociology. Sage
Press, 2005.
O texto de Fligstein elabora três perguntas que moldam as perspectivas teóricas e os
debates dentro da teoria organizacional, orientando a análise dos estudiosos sobre como
as organizações funcionam, sobrevivem e interagem com seus ambientes. No decorrer
do texto, as questões abordadas fornecem insights super valiosos que dominam o campo
da teoria organizacional:
A primeira questão aborda o grau em que as organizações persistem porque são
eficientes. Essa pergunta explora se a competição e a alocação eficiente de recursos são
os principais fatores que determinam a sobrevivência e persistência das organizações.
Ela considera como as organizações se esforçam para alocar recursos da maneira mais
eficiente possível, o papel da competição e as estratégias que as organizações empregam
para manter sua sobrevivência, como cooptar atores importantes ou buscar intervenção
governamental. Algumas teorias, como aquelas enraizadas na economia e na literatura
gerencial, assumem que a competição obriga as organizações a alocar recursos de forma
eficiente. Por outro lado, as teorias sociológicas são mais agnósticas em relação à
eficiência e consideram outros fatores, como poder, legitimidade e conexões políticas,
como determinantes da sobrevivência organizacional.
A segunda questão aborda o grau em que as organizações existem em ambientes que
criam restrições rígidas ou flexíveis. Essa pergunta examina a relação entre as
organizações e seus ambientes. Ela explora se os ambientes impõem restrições rígidas
às organizações ou se as organizações podem construir seus próprios cursos de ação
para se adaptar e cooptar seus ambientes. Ela considera como as oportunidades de
sobrevivência organizacional são influenciadas por fatores ambientais, como
competição, disponibilidade de recursos e capacidade de migrar para ambientes mais
favoráveis. Algumas teorias enfatizam que os ambientes impõem restrições
significativas às organizações e argumentam que aquelas com melhor adaptação ao
ambiente têm maior probabilidade de sobreviver. Exemplos são a teoria da dependência
de recursos e a teoria da ecologia populacional. Outras teorias sugerem que os
ambientes são construções sociais e que as organizações podem desenvolver estratégias
para cooptar ou se adaptar a seus ambientes, mesmo diante de restrições. Exemplos são
a teoria institucional e a teoria da coevolução.
A terceira questão aborda o grau em que os líderes das organizações podem mudar a
maneira como suas organizações funcionam em resposta a mudanças em seus
ambientes. Essa pergunta se concentra na capacidade dos líderes organizacionais de
promover mudanças dentro de suas organizações em resposta a mudanças externas. Ela
explora visões contrastantes, com uma perspectiva, conhecida como “adaptação”,
sugerindo que os atores organizacionais podem avaliar seus ambientes, interpretar
problemas e adaptar sua organização interna para sobreviver. A teoria da contingência,
por exemplo, sugere que as organizações devem analisar as demandas ambientais e
ajustar sua estrutura e estratégias para se adequar às circunstâncias. A visão oposta
sugere que os atores organizacionais estão limitados e enfrentam dificuldades para
compreender as mudanças necessárias e superar a oposição dentro da organização. A
teoria institucional, por exemplo, enfatiza que as organizações são influenciadas por
normas, regras e valores institucionais que limitam suas opções de ação. As
organizações enfrentam restrições impostas por instituições sociais e buscam
conformidade para garantir legitimidade.
O texto também descreve a convergência em torno da adaptação racional como um
importante desenvolvimento na teoria organizacional durante os anos 1960. Ele destaca
como os economistas, estudiosos de escolas de negócios e sociólogos começaram a ler o
trabalho uns dos outros e a encontrar terreno comum nessa época. Esses estudiosos
reconheceram que as organizações eram essenciais para a vida moderna e estavam
interessados em entender como elas funcionavam, sua eficiência e sua capacidade de se
adaptar a circunstâncias em mudança.
Essa abordagem da adaptação racional forneceu uma teoria poderosa que ajudou a
resolver muitos dos principais problemas enfrentados pelas organizações. Ela tratou de
questões como a estruturação da organização, a motivação dos funcionários, o
monitoramento do desempenho e a capacidade de responder a mudanças no mercado.
No entanto, o texto também destaca que a abordagem da adaptação racional foi alvo de
críticas.
Muitas críticas foram direcionadas para a abordagem da adaptação racional na estrutura
interna da organização. As perspectivas econômicas argumentaram que havia uma
ligação mais forte entre o problema da economia de custos e a estrutura interna da
organização. A teoria da agência passou a enfatizar que a empresa era melhor vista
como um conjunto de contratos em vez de uma organização hierárquica. A análise dos
custos de transação considerou a redação de contratos de trabalho e o estabelecimento
dos limites da empresa como determinados principalmente pelos custos de transação. As
perspectivas sociológicas passaram a ver a organização interna como uma resposta às
disputas de poder intraorganizacionais, que afetavam a organização interna da empresa
e a definição de metas organizacionais. As teorias marxistas viram a implementação de
carreiras e mercados internos de trabalho como mecanismos de controle da mão de obra.
Aula 11/05
Textos:
5) FLIGSTEIN, N. DAUTER, L. The Sociology of Markets, Annual Review of Sociology,
2007. “Concluding Reflection”.
A sociologia dos mercados é um campo que investiga as interações sociais, as estruturas
e as instituições nos mercados. Fligstein analisa os avanços, as divergências teóricas e a falta de
integração entre as perspectivas existentes, defendendo a necessidade de uma abordagem mais
integrada e a inclusão de diferentes teorias e campos de estudo para uma compreensão
abrangente dos mercados.
O texto de Fligstein apresenta uma análise crítica da sociologia dos mercados, destacando suas
realizações e desafios. Ele menciona que a sociologia dos mercados tem sido um campo
vibrante nos últimos 25 anos, com destaque para o trabalho de Granovetter, que se tornou o
artigo mais citado na sociologia pós-guerra. No entanto, apesar dos avanços, as perspectivas
teóricas no campo tendem a permanecer separadas e distintas, resultando em confusão e
dificuldade de avaliação das teorias.
O texto defende a necessidade de desembaraçar as teorias e pesquisas sobre a sociologia dos
mercados, destacando o que já se sabe e onde os estudiosos discordam. Ele sugere que as
perspectivas teóricas baseadas em redes, instituições e performatividade são importantes, mas
também ressalta a importância de abordagens teóricas adicionais, como a economia política e a
ecologia populacional, que foram subestimadas na literatura.
Uma crítica apontada no texto é a falta de integração entre as diferentes perspectivas teóricas, o
que leva a confusões e dificuldades de avaliação. Além disso, há divergências teóricas em
relação à relação entre produtores e consumidores e à visão das estruturas de mercado. Essas
divergências refletem diferentes ênfases nas relações de confiança e cultura versus competição e
na visão dos mercados como emergentes ou em constante mudança.
O texto destaca a importância das relações sociais e das estruturas sociais nos mercados, bem
como o papel das instituições, redes e processos de performatividade. Ele argumenta que a
sociologia dos mercados deve incorporar uma variedade de abordagens teóricas para melhor
compreender a estrutura social dos mercados.
Além disso, é importante mencionar a contribuição de diferentes campos de estudo, como a
economia política, sociologia dos mercados de trabalho e teoria organizacional, para o
desenvolvimento da sociologia dos mercados. Esses campos destacaram a importância das
relações sociais, das instituições e das interações entre atores nos mercados.
Fligstein oferece uma visão crítica e didática da sociologia dos mercados, abordando suas
realizações, desafios e a necessidade de integração de diferentes perspectivas teóricas. Ele
destaca a importância das relações sociais, das instituições e das estruturas sociais nos mercados
e sugere direções para pesquisas futuras nesse campo.
Aula 25/05
7) BARNEY, J. B.; HESTERLY, W. Economia das organizações: entendendo a relação
entre as organizações e a análise econômica. In: Clegg, S. R. et al. Handbook de estudos
organizacionais, Vol. III. São Paulo: Atlas, 2004.
A economia das organizações investiga questões relacionadas à estrutura, comportamento e
desempenho das organizações, utilizando teorias e modelos econômicos para analisar suas
atividades.
Barney abre o capítulo em questão apresentando a teoria do custo de transação de Williamson,
que afirma que as transações econômicas ocorrem em um ambiente de incerteza e assimetria de
informações, o que pode levar a custos de busca, negociação e monitoramento. Esses custos
podem surgir devido à falta de clareza nos contratos, à dificuldade de medir a qualidade dos
produtos ou serviços, à incerteza quanto ao comportamento dos parceiros comerciais e a outros
fatores relacionados à transação.
Williamson argumenta que, diante desses custos de transação, as empresas enfrentam um trade-
off entre realizar as transações no mercado aberto (comprando ou vendendo no mercado) ou
realizar as transações internamente, através de integração vertical ou estruturas organizacionais
mais complexas. A formulação de Williamson destaca duas formas principais de governança:
mercado e hierarquia. No mercado, as transações ocorrem através de contratos e acordos entre
empresas independentes. Já a hierarquia, também conhecida como integração vertical, envolve a
coordenação das atividades dentro de uma única empresa. Segundo Williamson, a escolha entre
o mercado e a hierarquia é baseada na minimização dos custos de transação. A decisão de
realizar uma transação no mercado ou internamente depende da análise dos riscos, da incerteza,
dos custos de busca de informações, dos custos de negociação, dos custos de monitoramento e
outros fatores relacionados à transação. Williamson também enfatiza a importância do conceito
de ativos específicos, que são investimentos específicos feitos por uma das partes em uma
transação e que podem se tornar menos valiosos ou inúteis caso a transação seja interrompida. A
presença de ativos específicos pode levar a relações de longo prazo e à preferência pela
hierarquia como forma de governança.
Barney também apresenta a teoria da agência, que é uma abordagem utilizada para entender as
relações contratuais entre agentes e principais. Essa teoria examina como os problemas de
agência surgem quando há divergência de interesses entre os agentes (gerentes, funcionários) e
os principais (proprietários, acionistas) dentro de uma organização. De acordo com a teoria, os
agentes são contratados pelos principais para realizar certas tarefas ou tomar decisões em nome
deles. No entanto, os agentes podem agir em seu próprio interesse, em vez de agir no melhor
interesse dos principais. Essa divergência de interesses pode levar a problemas de agência, que
incluem comportamento oportunista, assimetria de informações, conflitos de interesse e custos
de monitoramento. A teoria da agência enfatiza a importância de projetar mecanismos de
governança e incentivos adequados para alinhar os interesses dos agentes com os dos principais.
Alguns mecanismos comumente utilizados incluem contratos, monitoramento, sistemas de
remuneração, participação acionária e mecanismos de punição e recompensa. Por exemplo,
contratos podem ser elaborados para estipular as responsabilidades e os incentivos dos agentes,
enquanto o monitoramento pode ser utilizado para supervisionar as ações dos agentes e reduzir
o comportamento oportunista. Sistemas de remuneração, como bônus e opções de ações, podem
ser projetados para alinhar os interesses dos agentes com o desempenho e os resultados da
organização. A teoria da agência também aborda a assimetria de informações entre os agentes e
os principais. Os agentes muitas vezes têm informações privilegiadas em relação aos principais,
o que pode levar a problemas de seleção adversa e risco moral. Para mitigar esses problemas,
são empregados mecanismos de sinalização, divulgação de informações e auditorias para
reduzir a assimetria de informações e aumentar a confiança entre as partes.
Outra perspectiva e contribuição teórica adotada por Barney é a perspectiva dos recursos e
capacidades, que se tornou uma das principais teorias utilizadas para entender a vantagem
competitiva das organizações. A perspectiva da dependência de recursos, abordada por Barney,
é uma teoria que explora como a disponibilidade e o controle de recursos afetam a vantagem
competitiva e o desempenho das organizações. Essa perspectiva argumenta que as organizações
dependem de recursos externos para operar e alcançar seus objetivos. De acordo com a
perspectiva da dependência de recursos, os recursos são vistos como fatores críticos para a
vantagem competitiva sustentável de uma organização. Jay Barney propõe que os recursos que
são valiosos, raros, difíceis de imitar e não substituíveis (conhecidos como recursos VRIN)
podem proporcionar uma vantagem competitiva duradoura. Os recursos valiosos são aqueles
que permitem que uma organização realize atividades que a concorrência não pode realizar ou
não realiza tão bem. Os recursos raros são aqueles que não estão amplamente disponíveis no
mercado ou são escassos em relação à demanda existente. Os recursos difíceis de imitar são
aqueles que não podem ser facilmente copiados ou reproduzidos pelos concorrentes. E os
recursos não substituíveis são aqueles para os quais não há alternativas adequadas disponíveis.
Barney argumenta que, para que uma organização alcance e mantenha uma vantagem
competitiva, é necessário que ela possua, controle e desenvolva recursos VRIN. Além disso, a
perspectiva da dependência de recursos ressalta que a vantagem competitiva sustentável
depende da capacidade da organização de proteger e manter o acesso exclusivo a esses recursos,
tornando-os difíceis de serem imitados ou substituídos. Essa perspectiva também reconhece que
a disponibilidade de recursos pode variar entre as organizações e ao longo do tempo. As
organizações podem enfrentar desafios em termos de acesso a recursos-chave, bem como em
relação à incerteza e à mudança no ambiente externo. A capacidade de identificar, adquirir e
desenvolver recursos relevantes e escassos é fundamental para enfrentar esses desafios e obter
vantagem competitiva.
8) DAVIS, GERALD F., AND J. ADAM COBB. Resource dependence theory: Past and
future. Stanford's organization theory renaissance, 1970–2000. Emerald Group Publishing
Limited, 2010.
Davis e Cobb examinam a teoria da dependência de recursos (resource dependence theory) e
seu desenvolvimento ao longo de três décadas de pesquisa. A teoria da dependência de recursos
(Resource Dependence Theory - RDT) foi desenvolvida na década de 1970 como uma resposta
aos enfoques anteriores que consideravam as organizações como entidades autônomas, capazes
de tomar decisões independentes do ambiente externo.
A origem da RDT pode ser atribuída aos trabalhos de dois pesquisadores: Jeffrey Pfeffer e
Gerald R. Salancik. Em 1972, eles publicaram o livro "The External Control of Organizations:
A Resource Dependence Perspective", que é considerado um marco fundador da teoria. Pfeffer
e Salancik argumentavam que as organizações são dependentes de recursos externos, como
financiamento, matéria-prima, tecnologia, informações e suporte político, para sua
sobrevivência e desempenho. Eles sustentavam que essa dependência influencia as estratégias e
o comportamento das organizações, que precisam estabelecer relações de troca com outras
entidades para obter os recursos necessários.
Segundo a RDT, as organizações buscam minimizar a incerteza e o risco associados à
dependência de recursos, adotando estratégias como diversificação de fornecedores, criação de
parcerias estratégicas, negociação de acordos contratuais e busca de fontes alternativas de
recursos.
Ao longo do tempo, a RDT foi aprimorada e ampliada por vários pesquisadores, que aplicaram
a teoria em diferentes contextos organizacionais. A teoria tem sido utilizada para entender
diversos fenômenos, como relações interorganizacionais, estratégias de poder, dinâmicas de
governança e influência do ambiente externo nas organizações. A teoria da dependência de
recursos trouxe uma perspectiva inovadora para o campo da economia das organizações,
destacando a importância das relações entre organizações e seu ambiente externo. Ela fornece
insights valiosos sobre como as organizações enfrentam desafios de dependência de recursos e
desenvolvem estratégias para garantir sua sobrevivência e sucesso.
Aula 01/06
09) SMITH-DOERR, L; W. POWELL, W.;. "Networks and economic life" pp.
379-402 in N. Smelser and R. Swedberg (ed.) The Handbook of Economic
Sociology, 2005;
Aula 15.06
11) DIMAGGIO, P. J. ; POWELL, W. W. The Iron Cage Revisited: Institutional
Isomorphism and Collective Rationality in. Organizational Fields. American Sociological
Review, Vol. 48, n.2, pp. 147-160, 1983. (texto RAE em português).
No artigo, DiMaggio e Powell revisitam o conceito de "Gaiola de Ferro" proposto por Max
Weber. A "Gaiola de Ferro" refere-se à ideia de que as organizações modernas estão sujeitas a
um conjunto de restrições burocráticas e racionais que limitam sua flexibilidade e
adaptabilidade. No entanto, DiMaggio e Powell argumentam que, em vez de serem
simplesmente impostas por forças externas, essas restrições são amplamente aceitas e
internalizadas pelos atores dentro das organizações.
Eles exploram o fenômeno da isomorfismo institucional, que se refere à tendência de as
organizações em um determinado campo se tornarem mais semelhantes entre si em termos de
suas estruturas, práticas e comportamentos. DiMaggio e Powell argumentam que o isomorfismo
ocorre porque as organizações enfrentam pressões externas e normativas para se conformarem a
certos modelos ou ideais institucionais. Essas pressões podem vir de fontes como o ambiente
regulatório, as expectativas dos clientes, a competição entre organizações ou a busca por
legitimidade social. Como resultado, as organizações tendem a adotar estruturas e práticas
semelhantes, independentemente de sua eficácia real.
Aula 29.06
15) KRIPPNER, G.“What is Financialization?” Capitalizing on Crisis, 2012, p. 27-57;
O texto "What is Financialization?" de Greta Krippner discute o conceito de financeirização,
examinando suas origens, implicações e impactos na economia e na sociedade. O termo
"financeirização" refere-se a um processo em que as instituições financeiras e os mercados
desempenham um papel cada vez mais dominante na economia global.
No texto, Krippner explora a natureza e as implicações da financeirização. Ela argumenta que a
financeirização é um fenômeno complexo e multifacetado que transformou a economia e a
sociedade de várias maneiras. Ela discute como a crescente importância dos mercados
financeiros e das instituições financeiras afetou a alocação de recursos, a distribuição de renda,
as estruturas de poder e as dinâmicas econômicas.
Krippner também examina as origens da financeirização, destacando o papel das políticas
governamentais, das mudanças tecnológicas e das transformações estruturais na economia
global. Ela argumenta que a financeirização está intrinsecamente ligada à ascensão do
neoliberalismo e à desregulamentação financeira.
O texto de Krippner oferece uma análise crítica da financeirização e levanta questões
importantes sobre os impactos econômicos e sociais desse fenômeno. Ele contribui para o
debate acadêmico em torno da financeirização e fornece uma base teórica para entender e
interpretar as transformações na economia global contemporânea.
No texto, é abordada a relação entre a globalização da produção e a financeirização. A autora
argumenta que esses dois processos estão interconectados e se reforçam mutuamente. A
globalização da produção refere-se à crescente interconexão e interdependência das economias
em todo o mundo. Isso envolve a fragmentação da produção em diferentes etapas, com cada
etapa sendo realizada em diferentes países, com base em fatores como custos de mão de obra,
vantagens comparativas e acesso a mercados. Por outro lado, a financeirização diz respeito à
crescente importância dos mercados financeiros e das instituições financeiras na economia
global. Isso inclui o aumento do poder e influência das instituições financeiras, o crescimento
do setor financeiro em relação aos outros setores da economia e a crescente orientação para
atividades financeiras em vez de atividades produtivas.
Krippner argumenta que a financeirização está diretamente ligada à globalização da produção.
Ela explica que a fragmentação da produção global e a busca por eficiência levaram as empresas
a buscar financiamento e a se envolver em atividades financeiras complexas, como empréstimos
internacionais, investimentos estrangeiros e derivativos financeiros.
Além disso, a financeirização também é impulsionada pela necessidade de gerenciar os riscos
associados à globalização da produção. As empresas precisam lidar com flutuações cambiais,
volatilidade dos preços das commodities e incertezas econômicas em diferentes países. Isso
levou ao desenvolvimento de instrumentos financeiros sofisticados e estratégias de gestão de
riscos, aumentando ainda mais o papel do setor financeiro na economia global.
16) CARRUTHERS AND J. KIM “The sociology of finance”, Annual Review of Sociology,
2011, 239-259; G. Davis and S. Kim, “Financialization of the Economy.” Annual Review of
Sociology 2015 41:203-21.
A Sociologia das Finanças explora as interações entre mercados financeiros, instituições e
forças sociais. Os autores argumentam que as finanças não são apenas um domínio técnico ou
econômico, mas estão profundamente enraizadas em relacionamentos sociais e estruturas. Eles
examinam várias dimensões das finanças, como o papel da confiança, redes sociais, normas
culturais e dinâmicas de poder na formação das práticas financeiras. Carruthers e Kim destacam
a importância dos fatores sociais para entender os fenômenos financeiros, desafiando a visão
convencional de que as finanças operam puramente com base no comportamento racional e
egoísta. Eles argumentam que as relações sociais e os contextos culturais desempenham papéis
significativos na formação de decisões financeiras, práticas e resultados.
A introdução de "A Sociologia das Finanças" discute a transformação do setor financeiro, de
uma indústria relativamente estável e mundana para uma caracterizada por inovação,
complexidade e instabilidade ocasional. Ela destaca os elementos interconectados das finanças,
incluindo atores (indivíduos e organizações), ações (como empréstimos, empréstimos,
investimentos), contextos (redes, mercados, leis) e regras que governam as atividades
financeiras.
A introdução enfatiza a centralidade das promessas nas finanças, onde uma parte se
compromete a pagar uma quantia em dinheiro a outra. O design, avaliação e cumprimento das
promessas desempenham um papel crucial nas transações financeiras. Os autores também
mencionam a importância das crises financeiras e das promessas quebradas na formação da
confiança nas instituições financeiras.
Além disso, a introdução reconhece que as finanças têm recebido uma atenção renovada dentro
da sociologia, com pesquisadores examinando várias combinações de elementos financeiros e
focando em atores, atividades e contextos específicos. Ela destaca as contribuições de
sociólogos clássicos como Max Weber e Georg Simmel, que analisaram bancos e finanças, e
enfatiza a relevância da sociologia das finanças para áreas mais amplas de estudo, como
sociologia econômica, direito, redes sociais, globalização e consumo.
As mudanças nas finanças têm motivado muita atenção acadêmica recentemente, e os
pesquisadores apontam várias conexões com processos macroscópicos, como globalização,
desregulamentação, financeirização e neoliberalismo. Os Estados Unidos desempenham um
papel de liderança nessas mudanças e, portanto, são frequentemente o foco de análise. Uma
razão para a atenção dada às finanças é simples: de acordo com várias medidas, o setor
financeiro da economia dos EUA cresceu significativamente nas últimas décadas. A
participação da indústria financeira no PIB aumentou de cerca de 15% em 1960 para
aproximadamente 23% em 2001, superando a indústria manufatureira no início dos anos 1990.
A participação das finanças nos lucros corporativos também cresceu substancialmente no
mesmo período, e os lucros bancários foram particularmente altos na década anterior à crise
recente.
A financeirização também está conectada à globalização, à desregulamentação e ao
neoliberalismo. Os mercados de capitais globais são altamente integrados, o capital é móvel e as
mudanças e choques financeiros se espalham rapidamente pelo mundo. A desregulamentação
desencadeou inovação financeira e consolidação, enquanto as instituições financeiras
começaram a se expandir para além de suas áreas tradicionais de atuação. A securitização se
tornou comum, substituindo o modelo tradicional de intermediação bancária. Em vez de manter
empréstimos até o vencimento, os bancos os securitizam, ou seja, os agrupam e vendem para
investidores.
Essas mudanças tiveram implicações tanto para o sistema financeiro quanto para a economia em
geral. O crescimento do setor financeiro influenciou a distribuição de renda e a atratividade de
empregos no setor. A influência das finanças se estendeu para além das fronteiras dos Estados
Unidos, tornando-se um fenômeno global. Além disso, a moralidade das finanças tem sido um
tema em discussão, com alguns produtos financeiros desafiando normas sociais e levantando
questões éticas.
O artigo também destaca que a política desempenha um papel fundamental nas finanças,
influenciando a regulamentação, as reformas políticas, a concentração de poder e os interesses
econômicos. A compreensão das conexões entre política e finanças é essencial para uma análise
abrangente das atividades financeiras e seus impactos sociais e econômicos.
Os mercados financeiros não são autônomos nem naturais, pois sempre operam em um contexto
político. A política desempenhou um papel nos processos de financeirização, já que a
desregulamentação do setor financeiro não aconteceu por si só. O neoliberalismo e o
fundamentalismo de mercado têm sido associados a um conjunto de reformas políticas que se
espalharam durante os anos 1980 e 1990 e levaram à liberalização dos mercados de capitais e à
desregulamentação em muitos países.
As finanças também se tornaram um espaço para a política. Empresas têm conexões profundas
com a política e décadas recentes testemunharam o surgimento de novas estratégias políticas
direcionadas à propriedade corporativa por meio de mercados de ações. Movimentos sociais têm
utilizado a desinvestimento como forma de ação coletiva, pressionando investidores de destaque
a se desfazerem de ações de empresas que adotam políticas questionáveis ou produzem
resultados indesejáveis.
Por fim, o texto destaca que embora a financeirização moderna pareça abstrata e impessoal em
nível global, ela continua a se desenrolar em contextos locais e humanos. Apesar da tecnologia
permitir transações financeiras de qualquer lugar, os mercados financeiros modernos se
concentram em algumas comunidades onde as pessoas se encontram pessoalmente. Essa
concentração geográfica cria uma conectividade social que reflete a conectividade econômica
global. As redes sociais e as conexões locais desempenham um papel importante na formação
de grupos de pares para os participantes do mercado. Além disso, as relações sociais
influenciam o comportamento de rebanho e a difusão de inovações no mercado financeiro. As
relações sociais também desempenham um papel significativo no financiamento de empresas
iniciantes, nas relações entre oficiais de empréstimos bancários e tomadores de empréstimos e
na estrutura das instituições financeiras. As redes financeiras também foram analisadas usando
técnicas de análise de rede para entender a estabilidade do sistema financeiro como um todo. A
transição para a negociação eletrônica afetou a dinâmica organizacional e social do setor
financeiro. Estudos qualitativos enfatizam a importância das interações presenciais e das
relações pessoais no mercado financeiro, enquanto a economia se concentra mais na eficiência e
nos custos das transações eletrônicas.