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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (UFSCar)

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA (CCET)


Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção (PPGEP)
Disciplina: Teoria das Organizações
Docente: Prof. Dr. Mário Sacomano Neto
Discente: Thaís Moreira Tavares

Relatório de Leituras:
Aula 06.04
Textos:
1) CLEGG, S. R.; HARDY, C Introdução: organização e estudos organizacionais.
Handbook de Estudos Organizacionais. São Paulo: Atlas: 1998.

2) REED, M. Teorização organizacional: um campo historicamente contestado. In:


CLEGG, S. R. et al. Handbook de Estudos Organizacionais. São Paulo: Atlas: 1998.

O primeiro texto, de autoria de Clegg e Hardy, é uma introdução ao livro que apresenta
uma visão geral do campo de estudos organizacionais, sua história e perspectivas
teóricas. O texto busca fornecer uma compreensão geral do campo e suas contribuições
para a compreensão das organizações.
O segundo texto, de autoria de Reed, é um capítulo específico dentro do livro que se
concentra na história contestada da teoria organizacional. Reed examina o contexto
histórico e social em que a teoria organizacional surgiu e se desenvolveu, destacando as
diversas abordagens teóricas e debates que surgiram dentro do campo.
Ambos os textos são importantes para entender a evolução dos estudos organizacionais.
Enquanto a introdução de Clegg e Hardy oferece uma perspectiva mais ampla e
abrangente, o texto de Reed oferece uma análise mais detalhada e crítica da história e
evolução do campo.
O texto de Clegg e Hardy é um bom ponto de partida para o entendimento do campo de
estudos organizacionais. Os autores destacam mudanças ocorridas na época pós-
moderna e os debates sobre paradigmas que surgiram nesse contexto. Eles apontam que
a época pós-moderna trouxe mudanças significativas para o campo de estudos
organizacionais, incluindo o reconhecimento da complexidade e da incerteza inerentes
às organizações, bem como a crescente preocupação com questões de poder e diferença.
Essas mudanças exigem novas abordagens teóricas e metodológicas que possam lidar
com a complexidade e a diversidade das organizações. Dessa forma, o campo de
estudos organizacionais é marcado por debates e conversações diversas sobre
paradigmas teóricos e metodológicos que buscam compreender e capturar a realidade.
Eles apontam que esses debates muitas vezes são caracterizados por tensões entre
abordagens teóricas diferentes e até mesmo opostas. Essas tensões e debates são
saudáveis e necessários para o desenvolvimento do campo, à medida que permitem que
diferentes perspectivas e ideias sejam exploradas e testadas. Portanto, o campo de
estudos organizacionais deve continuar a incentivar conversas e debates abertos e
críticos, a fim de desenvolver novas abordagens teóricas e metodológicas que possam
lidar com os desafios e complexidades do mundo contemporâneo.
Já o texto de Reed aprofunda mais esse caminho da evolução teórica da teoria das
organizações, à medida que ele examina o contexto histórico e social em que a teoria
organizacional se desenvolveu. Ele então constrói metanarrativas como uma tentativa de
fornecer uma estrutura mais abrangente para a teorização organizacional, levando em
conta a complexidade e diversidade das organizações, bem como a influência dos
contextos sociais e culturais na construção das mesmas. Os modelos apresentados por
Reed em seu texto são: racionalidade, integração, mercado, poder, conhecimento e
justiça. Cada um desses modelos representa uma perspectiva diferente na análise
organizacional. O modelo de poder, por exemplo, enfatiza a distribuição desigual do
poder dentro das organizações e a influência dos interesses políticos e econômicos em
sua estrutura e funcionamento. Já o modelo de conhecimento destaca a importância do
conhecimento na criação e manutenção de organizações bem-sucedidas, enquanto o
modelo de justiça aborda questões relacionadas à equidade e ética nas relações entre as
organizações e a sociedade em geral. Dessa forma, os modelos propostos por Reed
fornecem uma estrutura útil para entender as diferentes perspectivas na análise
organizacional, permitindo uma visão mais completa e crítica das organizações e sua
interação com a sociedade.
Aula 04.05
Textos:
3) SCOTT, W. R. Reflections on a half-century of organizational sociology. Annu.
Rev. Sociol. 2004. 30:1–21.
O texto de Scott aborda o desenvolvimento da sociologia organizacional ao longo do
tempo, destacando diferentes abordagens teóricas e mudanças nas perspectivas de
estudo das organizações.
No final do século XIX, surgiram os primeiros estudos sobre comportamento
organizacional, impulsionados pelas mudanças sociais causadas pela industrialização e
burocratização. Duas abordagens principais foram desenvolvidas nesse período: uma
orientação de engenharia, focada em melhorar a produtividade do trabalho, e uma
abordagem social, que explorava os motivos individuais e padrões informais de
cooperação e conflito nas organizações.
Inicialmente, as organizações eram vistas apenas como contextos de trabalho, mas
alguns estudiosos começaram a considerá-las como unidades de interesse, tanto
sistemas técnicos quanto sociais. Eles discutiram a interdependência entre as estruturas
formais e informais nas organizações e enfatizaram a importância de visões morais e
adaptação às mudanças ambientais.
Essas visões contrastantes, uma perspectiva de "sistema racional" e uma perspectiva de
"sistema natural", proporcionaram a base para o desenvolvimento da sociologia
organizacional. Conforme o campo evoluiu, surgiram abordagens teóricas inovadoras,
como teoria da contingência, teoria do custo de transação, teoria da dependência de
recursos, teoria das redes, ecologia organizacional e teoria institucional.
A sociologia organizacional expandiu sua concepção do ambiente, passando a
considerar as organizações como sistemas abertos, moldados pelo ambiente e
influenciando-o. Os estudos começaram a analisar as estruturas e processos
organizacionais, bem como as interações entre organizações e seu contexto. Os
impactos das organizações nas sociedades e a relação de poder entre corporações e o
Estado também foram abordados.
Houve mudanças nas estratégias organizacionais ao longo do tempo, passando da
internalização para a externalização, com as organizações terceirizando funções
anteriormente realizadas internamente. Isso afetou os funcionários e refletiu uma
dependência crescente de mecanismos de mercado. As estruturas organizacionais
também se tornaram mais descentralizadas e horizontais, especialmente em indústrias
mais recentes.
Os estudiosos passaram a adotar uma abordagem relacional, reconhecendo a
interdependência entre organizações e seus contextos transacionais, em contraste com
abordagens substantialistas, que tratavam as estruturas como entidades independentes.
Portanto, a sociologia organizacional evoluiu para uma visão mais abrangente do
ambiente e adotou diferentes níveis de análise, investigando as consequências das
organizações e suas relações com a sociedade.
4) FLIGSTEIN, N. Theoretical Debates and the Scope of Organizational Theory.
In: Craig Calhoun, Chris Rojek, and Bryan Turner. Handbook of Sociology. Sage
Press, 2005.
O texto de Fligstein elabora três perguntas que moldam as perspectivas teóricas e os
debates dentro da teoria organizacional, orientando a análise dos estudiosos sobre como
as organizações funcionam, sobrevivem e interagem com seus ambientes. No decorrer
do texto, as questões abordadas fornecem insights super valiosos que dominam o campo
da teoria organizacional:
A primeira questão aborda o grau em que as organizações persistem porque são
eficientes. Essa pergunta explora se a competição e a alocação eficiente de recursos são
os principais fatores que determinam a sobrevivência e persistência das organizações.
Ela considera como as organizações se esforçam para alocar recursos da maneira mais
eficiente possível, o papel da competição e as estratégias que as organizações empregam
para manter sua sobrevivência, como cooptar atores importantes ou buscar intervenção
governamental. Algumas teorias, como aquelas enraizadas na economia e na literatura
gerencial, assumem que a competição obriga as organizações a alocar recursos de forma
eficiente. Por outro lado, as teorias sociológicas são mais agnósticas em relação à
eficiência e consideram outros fatores, como poder, legitimidade e conexões políticas,
como determinantes da sobrevivência organizacional.
A segunda questão aborda o grau em que as organizações existem em ambientes que
criam restrições rígidas ou flexíveis. Essa pergunta examina a relação entre as
organizações e seus ambientes. Ela explora se os ambientes impõem restrições rígidas
às organizações ou se as organizações podem construir seus próprios cursos de ação
para se adaptar e cooptar seus ambientes. Ela considera como as oportunidades de
sobrevivência organizacional são influenciadas por fatores ambientais, como
competição, disponibilidade de recursos e capacidade de migrar para ambientes mais
favoráveis. Algumas teorias enfatizam que os ambientes impõem restrições
significativas às organizações e argumentam que aquelas com melhor adaptação ao
ambiente têm maior probabilidade de sobreviver. Exemplos são a teoria da dependência
de recursos e a teoria da ecologia populacional. Outras teorias sugerem que os
ambientes são construções sociais e que as organizações podem desenvolver estratégias
para cooptar ou se adaptar a seus ambientes, mesmo diante de restrições. Exemplos são
a teoria institucional e a teoria da coevolução.
A terceira questão aborda o grau em que os líderes das organizações podem mudar a
maneira como suas organizações funcionam em resposta a mudanças em seus
ambientes. Essa pergunta se concentra na capacidade dos líderes organizacionais de
promover mudanças dentro de suas organizações em resposta a mudanças externas. Ela
explora visões contrastantes, com uma perspectiva, conhecida como “adaptação”,
sugerindo que os atores organizacionais podem avaliar seus ambientes, interpretar
problemas e adaptar sua organização interna para sobreviver. A teoria da contingência,
por exemplo, sugere que as organizações devem analisar as demandas ambientais e
ajustar sua estrutura e estratégias para se adequar às circunstâncias. A visão oposta
sugere que os atores organizacionais estão limitados e enfrentam dificuldades para
compreender as mudanças necessárias e superar a oposição dentro da organização. A
teoria institucional, por exemplo, enfatiza que as organizações são influenciadas por
normas, regras e valores institucionais que limitam suas opções de ação. As
organizações enfrentam restrições impostas por instituições sociais e buscam
conformidade para garantir legitimidade.
O texto também descreve a convergência em torno da adaptação racional como um
importante desenvolvimento na teoria organizacional durante os anos 1960. Ele destaca
como os economistas, estudiosos de escolas de negócios e sociólogos começaram a ler o
trabalho uns dos outros e a encontrar terreno comum nessa época. Esses estudiosos
reconheceram que as organizações eram essenciais para a vida moderna e estavam
interessados em entender como elas funcionavam, sua eficiência e sua capacidade de se
adaptar a circunstâncias em mudança.
Essa abordagem da adaptação racional forneceu uma teoria poderosa que ajudou a
resolver muitos dos principais problemas enfrentados pelas organizações. Ela tratou de
questões como a estruturação da organização, a motivação dos funcionários, o
monitoramento do desempenho e a capacidade de responder a mudanças no mercado.
No entanto, o texto também destaca que a abordagem da adaptação racional foi alvo de
críticas.
Muitas críticas foram direcionadas para a abordagem da adaptação racional na estrutura
interna da organização. As perspectivas econômicas argumentaram que havia uma
ligação mais forte entre o problema da economia de custos e a estrutura interna da
organização. A teoria da agência passou a enfatizar que a empresa era melhor vista
como um conjunto de contratos em vez de uma organização hierárquica. A análise dos
custos de transação considerou a redação de contratos de trabalho e o estabelecimento
dos limites da empresa como determinados principalmente pelos custos de transação. As
perspectivas sociológicas passaram a ver a organização interna como uma resposta às
disputas de poder intraorganizacionais, que afetavam a organização interna da empresa
e a definição de metas organizacionais. As teorias marxistas viram a implementação de
carreiras e mercados internos de trabalho como mecanismos de controle da mão de obra.
Aula 11/05
Textos:
5) FLIGSTEIN, N. DAUTER, L. The Sociology of Markets, Annual Review of Sociology,
2007. “Concluding Reflection”.
A sociologia dos mercados é um campo que investiga as interações sociais, as estruturas
e as instituições nos mercados. Fligstein analisa os avanços, as divergências teóricas e a falta de
integração entre as perspectivas existentes, defendendo a necessidade de uma abordagem mais
integrada e a inclusão de diferentes teorias e campos de estudo para uma compreensão
abrangente dos mercados.
O texto de Fligstein apresenta uma análise crítica da sociologia dos mercados, destacando suas
realizações e desafios. Ele menciona que a sociologia dos mercados tem sido um campo
vibrante nos últimos 25 anos, com destaque para o trabalho de Granovetter, que se tornou o
artigo mais citado na sociologia pós-guerra. No entanto, apesar dos avanços, as perspectivas
teóricas no campo tendem a permanecer separadas e distintas, resultando em confusão e
dificuldade de avaliação das teorias.
O texto defende a necessidade de desembaraçar as teorias e pesquisas sobre a sociologia dos
mercados, destacando o que já se sabe e onde os estudiosos discordam. Ele sugere que as
perspectivas teóricas baseadas em redes, instituições e performatividade são importantes, mas
também ressalta a importância de abordagens teóricas adicionais, como a economia política e a
ecologia populacional, que foram subestimadas na literatura.
Uma crítica apontada no texto é a falta de integração entre as diferentes perspectivas teóricas, o
que leva a confusões e dificuldades de avaliação. Além disso, há divergências teóricas em
relação à relação entre produtores e consumidores e à visão das estruturas de mercado. Essas
divergências refletem diferentes ênfases nas relações de confiança e cultura versus competição e
na visão dos mercados como emergentes ou em constante mudança.
O texto destaca a importância das relações sociais e das estruturas sociais nos mercados, bem
como o papel das instituições, redes e processos de performatividade. Ele argumenta que a
sociologia dos mercados deve incorporar uma variedade de abordagens teóricas para melhor
compreender a estrutura social dos mercados.
Além disso, é importante mencionar a contribuição de diferentes campos de estudo, como a
economia política, sociologia dos mercados de trabalho e teoria organizacional, para o
desenvolvimento da sociologia dos mercados. Esses campos destacaram a importância das
relações sociais, das instituições e das interações entre atores nos mercados.
Fligstein oferece uma visão crítica e didática da sociologia dos mercados, abordando suas
realizações, desafios e a necessidade de integração de diferentes perspectivas teóricas. Ele
destaca a importância das relações sociais, das instituições e das estruturas sociais nos mercados
e sugere direções para pesquisas futuras nesse campo.

6) FLIGSTEIN, N. in: ASPERS, P.; DOD, N. (ed). Re-Imagining Economic


Sociology, Oxford University Press, 2016.
Nesta obra, o autor Neil Fligstein aborda o crescimento e desenvolvimento da sociologia
econômica como um campo de estudo. Ele destaca que, ao longo dos últimos 35 anos, a
sociologia econômica evoluiu de um campo pouco reconhecido para um dos campos centrais da
sociologia. Fligstein menciona três principais manifestações organizacionais desse campo: a
Society for the Advancement of Socio-Economics (S.A.S.E.), a seção de Sociologia Econômica
da American Sociological Association e a Economic Sociology Research Network da European
Sociological Association.
O autor destaca que, no início do campo, havia uma ampla definição para atrair diferentes
pesquisadores, dada a falta de consenso sobre o que a sociologia econômica abrangia. Diversas
correntes de pesquisa, como análise de redes, análise político-cultural, performatividade, análise
institucional, economia política e análise cultural, tornaram-se mais maduras ao longo do tempo.
Fligstein também aborda o ensino da sociologia econômica e destaca a existência de um
conjunto canônico de trabalhos frequentemente ensinados pelos pesquisadores. No entanto, ele
critica o fato de que muitas dessas correntes de pesquisa não levam em consideração ativamente
outras correntes e tendem a ser auto-referenciais.
O autor explora a estrutura organizacional e os programas de pesquisa da sociologia econômica,
ressaltando a importância de colocar esses programas em diálogo uns com os outros para
promover a acumulação de conhecimento. Ele destaca a necessidade de colaboração entre
diferentes correntes de pesquisa e a aplicação de conceitos em novos contextos como
fundamentais para a inovação científica.
É defendida uma reimaginação da sociologia econômica que incentive a consideração explícita
de outros programas de pesquisa, visando superar a fragmentação e as limitações da abordagem
atual do campo.
Além disso, o autor descreve o ressurgimento do interesse em abordar os processos de mercado
e como diferentes grupos surgiram para reivindicar o campo da sociologia econômica. Críticas
baseadas na teoria moral, economia política e teoria organizacional se uniram contra o
neoclassicismo, resultando em uma estrutura ampla que permite a colaboração entre estudiosos
de várias subáreas da sociologia, ciência política, estudos de negócios, direito, políticas públicas
e economia heterodoxa.
A formação de organizações e publicações na Europa para promover a colaboração e o avanço
da disciplina também é destacada. Essa iniciativa visava reunir estudiosos diversos com
programas de pesquisa variados interessados em investigar questões econômicas e se opor à
hegemonia da economia tradicional. O boletim informativo European Economic Sociology
desempenhou um papel importante na criação e disseminação da sociologia econômica como
campo.
Os programas de pesquisa desenvolvidos nas décadas de 1980 e 1990 formaram a base dessas
organizações, publicações e reuniões, resultando em um cânone de obras na sociologia
econômica. No entanto, as listas de leitura e as redes de citações revelam a existência de grupos
distintos de estudos dentro do campo, enfocando questões como economia política, cultura e
moralidade, e estudos sociais da ciência. Essa diversidade de abordagens cria barreiras e
oportunidades para re-imaginar a sociologia econômica.
O autor sugere que é necessário superar as divisões existentes entre os programas de pesquisa e
adotar abordagens interdisciplinares para avançar o campo. Ele argumenta que a sociologia
econômica pode se beneficiar ao buscar soluções em pesquisas de outros campos e ao enfrentar
os desafios empíricos e teóricos apresentados pelos programas de pesquisa existentes. A ideia é
buscar novas ideias e perspectivas para avançar a disciplina, indo além dos limites dos
programas de pesquisa atuais.

Aula 25/05
7) BARNEY, J. B.; HESTERLY, W. Economia das organizações: entendendo a relação
entre as organizações e a análise econômica. In: Clegg, S. R. et al. Handbook de estudos
organizacionais, Vol. III. São Paulo: Atlas, 2004.
A economia das organizações investiga questões relacionadas à estrutura, comportamento e
desempenho das organizações, utilizando teorias e modelos econômicos para analisar suas
atividades.
Barney abre o capítulo em questão apresentando a teoria do custo de transação de Williamson,
que afirma que as transações econômicas ocorrem em um ambiente de incerteza e assimetria de
informações, o que pode levar a custos de busca, negociação e monitoramento. Esses custos
podem surgir devido à falta de clareza nos contratos, à dificuldade de medir a qualidade dos
produtos ou serviços, à incerteza quanto ao comportamento dos parceiros comerciais e a outros
fatores relacionados à transação.
Williamson argumenta que, diante desses custos de transação, as empresas enfrentam um trade-
off entre realizar as transações no mercado aberto (comprando ou vendendo no mercado) ou
realizar as transações internamente, através de integração vertical ou estruturas organizacionais
mais complexas. A formulação de Williamson destaca duas formas principais de governança:
mercado e hierarquia. No mercado, as transações ocorrem através de contratos e acordos entre
empresas independentes. Já a hierarquia, também conhecida como integração vertical, envolve a
coordenação das atividades dentro de uma única empresa. Segundo Williamson, a escolha entre
o mercado e a hierarquia é baseada na minimização dos custos de transação. A decisão de
realizar uma transação no mercado ou internamente depende da análise dos riscos, da incerteza,
dos custos de busca de informações, dos custos de negociação, dos custos de monitoramento e
outros fatores relacionados à transação. Williamson também enfatiza a importância do conceito
de ativos específicos, que são investimentos específicos feitos por uma das partes em uma
transação e que podem se tornar menos valiosos ou inúteis caso a transação seja interrompida. A
presença de ativos específicos pode levar a relações de longo prazo e à preferência pela
hierarquia como forma de governança.
Barney também apresenta a teoria da agência, que é uma abordagem utilizada para entender as
relações contratuais entre agentes e principais. Essa teoria examina como os problemas de
agência surgem quando há divergência de interesses entre os agentes (gerentes, funcionários) e
os principais (proprietários, acionistas) dentro de uma organização. De acordo com a teoria, os
agentes são contratados pelos principais para realizar certas tarefas ou tomar decisões em nome
deles. No entanto, os agentes podem agir em seu próprio interesse, em vez de agir no melhor
interesse dos principais. Essa divergência de interesses pode levar a problemas de agência, que
incluem comportamento oportunista, assimetria de informações, conflitos de interesse e custos
de monitoramento. A teoria da agência enfatiza a importância de projetar mecanismos de
governança e incentivos adequados para alinhar os interesses dos agentes com os dos principais.
Alguns mecanismos comumente utilizados incluem contratos, monitoramento, sistemas de
remuneração, participação acionária e mecanismos de punição e recompensa. Por exemplo,
contratos podem ser elaborados para estipular as responsabilidades e os incentivos dos agentes,
enquanto o monitoramento pode ser utilizado para supervisionar as ações dos agentes e reduzir
o comportamento oportunista. Sistemas de remuneração, como bônus e opções de ações, podem
ser projetados para alinhar os interesses dos agentes com o desempenho e os resultados da
organização. A teoria da agência também aborda a assimetria de informações entre os agentes e
os principais. Os agentes muitas vezes têm informações privilegiadas em relação aos principais,
o que pode levar a problemas de seleção adversa e risco moral. Para mitigar esses problemas,
são empregados mecanismos de sinalização, divulgação de informações e auditorias para
reduzir a assimetria de informações e aumentar a confiança entre as partes.
Outra perspectiva e contribuição teórica adotada por Barney é a perspectiva dos recursos e
capacidades, que se tornou uma das principais teorias utilizadas para entender a vantagem
competitiva das organizações. A perspectiva da dependência de recursos, abordada por Barney,
é uma teoria que explora como a disponibilidade e o controle de recursos afetam a vantagem
competitiva e o desempenho das organizações. Essa perspectiva argumenta que as organizações
dependem de recursos externos para operar e alcançar seus objetivos. De acordo com a
perspectiva da dependência de recursos, os recursos são vistos como fatores críticos para a
vantagem competitiva sustentável de uma organização. Jay Barney propõe que os recursos que
são valiosos, raros, difíceis de imitar e não substituíveis (conhecidos como recursos VRIN)
podem proporcionar uma vantagem competitiva duradoura. Os recursos valiosos são aqueles
que permitem que uma organização realize atividades que a concorrência não pode realizar ou
não realiza tão bem. Os recursos raros são aqueles que não estão amplamente disponíveis no
mercado ou são escassos em relação à demanda existente. Os recursos difíceis de imitar são
aqueles que não podem ser facilmente copiados ou reproduzidos pelos concorrentes. E os
recursos não substituíveis são aqueles para os quais não há alternativas adequadas disponíveis.
Barney argumenta que, para que uma organização alcance e mantenha uma vantagem
competitiva, é necessário que ela possua, controle e desenvolva recursos VRIN. Além disso, a
perspectiva da dependência de recursos ressalta que a vantagem competitiva sustentável
depende da capacidade da organização de proteger e manter o acesso exclusivo a esses recursos,
tornando-os difíceis de serem imitados ou substituídos. Essa perspectiva também reconhece que
a disponibilidade de recursos pode variar entre as organizações e ao longo do tempo. As
organizações podem enfrentar desafios em termos de acesso a recursos-chave, bem como em
relação à incerteza e à mudança no ambiente externo. A capacidade de identificar, adquirir e
desenvolver recursos relevantes e escassos é fundamental para enfrentar esses desafios e obter
vantagem competitiva.
8) DAVIS, GERALD F., AND J. ADAM COBB. Resource dependence theory: Past and
future. Stanford's organization theory renaissance, 1970–2000. Emerald Group Publishing
Limited, 2010.
Davis e Cobb examinam a teoria da dependência de recursos (resource dependence theory) e
seu desenvolvimento ao longo de três décadas de pesquisa. A teoria da dependência de recursos
(Resource Dependence Theory - RDT) foi desenvolvida na década de 1970 como uma resposta
aos enfoques anteriores que consideravam as organizações como entidades autônomas, capazes
de tomar decisões independentes do ambiente externo.
A origem da RDT pode ser atribuída aos trabalhos de dois pesquisadores: Jeffrey Pfeffer e
Gerald R. Salancik. Em 1972, eles publicaram o livro "The External Control of Organizations:
A Resource Dependence Perspective", que é considerado um marco fundador da teoria. Pfeffer
e Salancik argumentavam que as organizações são dependentes de recursos externos, como
financiamento, matéria-prima, tecnologia, informações e suporte político, para sua
sobrevivência e desempenho. Eles sustentavam que essa dependência influencia as estratégias e
o comportamento das organizações, que precisam estabelecer relações de troca com outras
entidades para obter os recursos necessários.
Segundo a RDT, as organizações buscam minimizar a incerteza e o risco associados à
dependência de recursos, adotando estratégias como diversificação de fornecedores, criação de
parcerias estratégicas, negociação de acordos contratuais e busca de fontes alternativas de
recursos.

Ao longo do tempo, a RDT foi aprimorada e ampliada por vários pesquisadores, que aplicaram
a teoria em diferentes contextos organizacionais. A teoria tem sido utilizada para entender
diversos fenômenos, como relações interorganizacionais, estratégias de poder, dinâmicas de
governança e influência do ambiente externo nas organizações. A teoria da dependência de
recursos trouxe uma perspectiva inovadora para o campo da economia das organizações,
destacando a importância das relações entre organizações e seu ambiente externo. Ela fornece
insights valiosos sobre como as organizações enfrentam desafios de dependência de recursos e
desenvolvem estratégias para garantir sua sobrevivência e sucesso.

Aula 01/06
09) SMITH-DOERR, L; W. POWELL, W.;. "Networks and economic life" pp.
379-402 in N. Smelser and R. Swedberg (ed.) The Handbook of Economic
Sociology, 2005;

O capítulo discute a relação entre redes sociais e atividades econômicas. A sociologia


econômica examina como as estruturas sociais, as relações de poder, as normas sociais e outros
fatores sociais influenciam e são influenciados pela economia. Ela difere das abordagens
tradicionais nas ciências sociais, oferecendo uma perspectiva diferente e complementar para
entender como as pessoas estão conectadas e como essas conexões influenciam a sociedade.
As abordagens culturais deterministas, ou "hipersocializadas", enfatizam o papel das estruturas
culturais e sociais na determinação do comportamento humano. Por outro lado, a análise de
redes reconhece que os indivíduos têm a capacidade de tomar decisões e agir de forma
autônoma, considerando suas conexões sociais. As abordagens individualistas e atomizadas, ou
"hiposocializadas", enfatizam o indivíduo como a unidade de análise e tendem a ignorar ou
minimizar o papel das relações sociais. Por outro lado, a análise de redes destaca a importância
das estruturas sociais e das restrições que as relações sociais impõem às ações individuais.
Portanto, a análise de redes era vista como uma abordagem intermediária, que superava a
dicotomia entre as abordagens culturais deterministas e as abordagens individualistas.
No início, os estudiosos que exploraram a análise de redes não se concentraram de forma
contínua na atividade econômica. No entanto, alguns sociólogos industriais já haviam apontado
anteriormente o papel das redes informais como uma alternativa às práticas e estruturas
organizacionais formais. No entanto, nas últimas duas décadas, houve um enorme aumento de
interesse pelo papel das redes na economia. Essa mudança ocorreu nos campos tanto da prática
quanto da teoria.
O terreno empírico coberto na literatura de sociologia econômica varia amplamente, incluindo
as seguintes análises de como as redes influenciam a atividade econômica: Primeiro, redes
representam relacionamentos informais no local de trabalho e no mercado de trabalho que
moldam os resultados relacionados ao trabalho. Laços sociais e trocas econômicas podem estar
profundamente entrelaçados, de forma que a atividade intencional se mistura com amizade,
reputação e confiança. Segundo, as redes são trocas formais, seja na forma de compartilhamento
de recursos ou fornecimento de recursos, entre duas ou mais partes que envolvem interações
contínuas para obter valor na troca. Esses relacionamentos de rede mais formais podem ser
forjados por necessidade mútua, mas também podem levar à interdependência e interações
repetidas que reduzem a necessidade de controle formal. Terceiro, as redes são estruturas de
governança em que a autoridade não está centralizada em um único ponto de controle, mas sim
distribuída entre os nós (entidades) interconectados na rede. Diferentemente das estruturas
hierárquicas tradicionais, nas quais a autoridade é exercida de cima para baixo, nas redes, a
autoridade e a influência podem ser compartilhadas entre os participantes da rede.
As redes são particularmente relevantes em contextos em que as condições do mercado e do
ambiente estão sujeitas a mudanças frequentes e rápidas. Nessas situações, as estruturas
hierárquicas tradicionais podem ser menos adequadas devido à sua rigidez. As redes oferecem
maior flexibilidade e adaptabilidade para lidar com essas mudanças. Embora a flexibilidade das
redes seja frequentemente celebrada, é importante observar que essa forma de organização não
está limitada apenas a contextos positivos. Ela pode ser encontrada em uma variedade de
contextos, incluindo empresas empreendedoras, grupos terroristas, organizações com uso
extensivo de grupos multifuncionais, empresas internacionais com alianças transfronteiriças e
até mesmo organizações criminosas como cartéis de drogas. A flexibilidade das redes pode ser
aproveitada tanto para fins benéficos quanto prejudiciais, dependendo do contexto e das
intenções dos participantes.
Os estudos sobre essas diversas formas de atividade econômica compartilham comumente
algumas suposições-chave. Em primeiro lugar, o foco analítico está mais na natureza dos
relacionamentos do que nos atributos dos atores. Em segundo lugar, a atenção é direcionada à
localização dentro do contexto mais amplo em que a informação e os recursos fluem. Em
terceiro lugar, há retornos crescentes para "investimentos" em relacionamentos e posição, o que
pode gerar mobilização rápida, vantagem cumulativa ou "travamento". Nosso objetivo neste
capítulo é fazer um levantamento da literatura empírica em rápida expansão sobre redes e vida
econômica, enfatizando os avanços conceituais e teóricos que essa pesquisa utiliza. Para atingir
esse objetivo duplo, começamos primeiro com uma breve visão geral das principais ferramentas
analíticas usadas na pesquisa de redes.
Quando falamos em rede, estamos falando de uma estrutura em que há conexões entre pessoas
ou organizações. É como uma teia de relações. Quanto mais central e influente uma posição na
rede, maior o poder do indivíduo associado a ela. Dessa forma, a análise de redes oferece um
conjunto de conceitos que os pesquisadores podem usar para estudar e compreender as relações
sociais. Esses conceitos ajudam a descrever e analisar como os atores estão conectados e como
essas conexões influenciam seu comportamento. Adicionalmente, a análise de redes utiliza
medidas para quantificar a distância e a força dos laços entre os atores. Essas medidas podem
ser combinadas para determinar quantos laços fortes ou fracos separam um indivíduo de outro
na rede. Isso ajuda a entender a proximidade ou distância entre os atores e como eles estão
conectados.
Embora essas ferramentas sejam úteis para medir as relações em uma rede, elas não explicam se
um indivíduo desempenha o papel de ponte que conecta duas redes diferentes. Essa é uma
análise adicional que pode ser feita para entender como os atores desempenham papéis-chave na
conectividade da rede.
O capítulo apresenta onze conceitos chave de rede. Nesse ponto, é apresentada a da troca, onde
embora um ponto seja o mais central de uma rede isso não implica necessariamente que é o
ponto mais poderoso. A posição mais poderosa na rede é aquela que monopoliza comércios por
um recurso substituível. Haveman e Nonnemaker (2000) descobriram que a posição estrutural
social de uma empresa de empréstimo e poupança nos mercados determina seu padrão de
competição e crescimento. Empresas de empréstimo e poupança com mais contatos locais em
um único mercado não crescem tão rapidamente quanto empresas com contatos em vários
mercados. Empresas de empréstimo e poupança que competem em múltiplos domínios tendem a
moderar sua rivalidade para evitar futuras represálias por comportamento agressivo. Embora
essas empresas de vários mercados ganhem centralidade ao terem mais parceiros de troca, elas
também aumentam sua dependência de rivais para uma convivência mútua nos mercados.
Conforme Haveman e Nonnemaker mostram, o crescimento das empresas de vários mercados
eventualmente diminui, já que suas diversas dependências acabam limitando sua expansão e
resultando em menos poder de mercado.
O próximo trecho do capítulo discute a formação de redes sociais e como elas estão presentes
em uma ampla variedade de contextos, desde mercados até organizações formais. A análise
estrutural das redes não aborda diretamente as questões cruciais de quais fatores contribuem
para a formação das redes e por que algumas redes são benéficas enquanto outras não. Para
abordar essas questões, é necessário explorar a relação entre organização formal e informal e
desenvolver uma definição mais geral de redes como uma forma de troca ou organização. Dessa
forma, é dado destaque a importância das estruturas formais e informais dentro das
organizações, enfatizando a interação entre elas. Muitas vezes, há atividade significativa fora
dos canais formais de autoridade, como grupos de amizade e normas tácitas no local de
trabalho, que não são bem compreendidos. A interação entre estruturas formais e informais pode
ser complexa, pois as regras e lógicas estabelecidas pela gerência podem ser diferentes das
regras informais estabelecidas pelos funcionários. Estudos também mostraram que padrões
hierárquicos tendem a emergir a partir de canais informais de comunicação. A interação entre
estruturas formais e informais pode ter impactos significativos nos resultados organizacionais.
Além disso, o texto menciona a importância das relações informais dentro das organizações e as
relações formais que conectam diferentes organizações. As redes informais são vistas como um
tecido conectivo entre as estruturas formais, enquanto as redes formais entre organizações
assumem diferentes formas, como parcerias estratégicas e alianças. A formação dessas relações
formais é altamente contingente e depende de uma série de fatores, como o tipo de trabalho
realizado e o contexto mais amplo em que o trabalho é realizado.
Na última parte do capítulo, os autores discutem as consequências da conectividade. A posição
em uma rede pode ter consequências positivas ou negativas e os benefícios podem ser para
alguns, enquanto limitam outros. As redes podem oferecer vantagens na obtenção de emprego,
acesso a informações e recursos, inovação e aprendizado. No entanto, redes muito densas
podem restringir a busca por informações externas, levar à conformidade e dificultar a
adaptação a mudanças tecnológicas. Além disso, redes podem facilitar atividades ilegais, como
o terrorismo e o crime organizado. A distribuição dos benefícios das redes também pode ser
desigual, favorecendo certos grupos em detrimento de outros.

10) MIZRUCHI, M. S. Social Network Analysis: Recent Achievements and


Current Controversies, Acta Sociologica, 37, pp. 329-343; 1994.
No texto de Mizruchi apresentado, a introdução aborda a crescente popularidade da análise de
redes como um campo de estudo, especialmente no que diz respeito à influência das redes
sociais no comportamento de indivíduos e grupos. O autor estabelece dois objetivos para o
artigo: fornecer um panorama das pesquisas em três áreas importantes da análise de redes e
discutir questões teóricas que têm gerado controvérsias. A introdução também destaca as
origens históricas da análise de redes, mencionando o trabalho de diversos pesquisadores, como
J. L. Moreno, John Barnes, Elizabeth Bott e J. Clyde Mitchell.
Quanto à seção de antecedentes históricos, ela fornece uma visão geral das raízes da análise de
redes em diferentes perspectivas teóricas, desde a sociometria de J. L. Moreno até o
estruturalismo francês de Claude Lévi-Strauss.
Depois, o autor discute o tema da rede e centralidade do agente. Ele descreve experimentos
realizados nas décadas de 1950 e 1960 que investigaram as diferenças nas atividades de solução
de problemas em grupo, dependendo da estrutura de comunicação utilizada. O autor destaca a
relação entre a centralidade de um agente na rede e sua influência sobre o grupo. Além disso, o
texto menciona a importância da análise de redes na compreensão da relação entre centralidade
e poder dos agentes sociais, apresentando estudos experimentais e não experimentais que
exploram esse tema.
Os estudos iniciais identificaram diferenças consideráveis nas atividades de solução de
problemas em grupo com base na estrutura de comunicação utilizada. A centralidade de um
agente na rede foi apontada como um fator influente em sua influência sobre o grupo. Estruturas
hierárquicas, como a "roda", onde um agente central controla o fluxo de informação entre os
outros agentes, apresentaram maior grau de centralização. Por outro lado, estruturas não
hierárquicas, onde todos os membros do grupo podem se comunicar diretamente uns com os
outros, apresentaram menor grau de centralização.
No entanto, a associação entre centralidade e poder dos agentes sociais é mais complexa do que
se pensava inicialmente. Estudos posteriores mostraram que em certos tipos de estruturas,
agentes com alta centralidade local podem ser mais poderosos do que agentes com alta
centralidade global. Além disso, a centralidade pode até representar um obstáculo em algumas
situações, como no caso de agentes centrais em redes de comunicação que são mais vulneráveis
à detecção de crimes. A relação entre centralidade e poder também pode ser afetada pelo tipo de
conexões na rede (positivas ou negativas) e pela capacidade dos agentes centrais de formar
coalizões.
Apesar das conclusões variadas, a maioria dos estudos demonstrou alguma associação
significativa entre centralidade e poder dos agentes sociais. Isso confirma o princípio básico da
teoria das redes, que afirma que a posição de um agente em uma estrutura social tem um
impacto significativo em seu comportamento e bem-estar.
Depois, o autor aborda a análise de subgrupos em uma rede social. Existem duas abordagens
principais: os modelos relacionais e os modelos posicionais. Os modelos relacionais se
concentram na identificação de "cliques", que são regiões densamente conectadas onde a
maioria dos agentes está diretamente ligada entre si. Já os modelos posicionais buscam
identificar agentes estruturalmente equivalentes, ou seja, pares de agentes que estão ligados aos
mesmos terceiros. O autor menciona o uso de técnicas como blockmodeling, análise fatorial,
escalas multidimensionais e agrupamento por equivalência estrutural para identificar e
representar esses subgrupos. Essas abordagens levam a diferentes previsões sobre as fontes de
influência e similaridade interpessoal na rede.
Em seguida, é discutido a análise de redes e relações interorganizacionais. No passado, houve
críticas sobre a falta de evidências de que as estruturas de rede influenciam o comportamento
das organizações. No entanto, desde a década de 1980, surgiram estudos que mostram que a
posição de uma empresa em redes interorganizacionais afeta seu comportamento. Muitos desses
estudos focaram na composição dos conselhos de administração e descobriram que a presença
de conselheiros externos e interconexões entre empresas influencia as estratégias e políticas das
organizações. Essas redes têm efeitos no comportamento empresarial por meio da comunicação
de informações, influência mútua, exposição a fontes comuns de informação e atenuação do
oportunismo em transações comerciais.
A sociologia estrutural é uma abordagem que se desenvolveu nos Estados Unidos durante a
década de 1970 como alternativa ao modelo normativo, enfatizando as restrições e
oportunidades que influenciam o comportamento humano. Ela reduz a importância das normas
interiorizadas e sugere que as pessoas se comportam de acordo com as normas principalmente
por medo das sanções. Por outro lado, a teoria da escolha racional é uma abordagem que
também critica o modelo normativo, mas se preocupa em distinguir entre a interiorização das
normas e o medo das sanções. Ela assume que as pessoas agem de forma racional, baseadas em
preferências formadas exogenamente e sujeitas a restrições sociais.
Embora a sociologia estrutural e a teoria da escolha racional concordem em que as estruturas
sociais afetam o comportamento humano, elas diferem na análise dos determinantes desse
comportamento. A sociologia estrutural considera as preferências humanas como endógenas,
formadas e influenciadas pelas estruturas sociais, enquanto a teoria da escolha racional presume
que as preferências são formadas exogenamente e mantidas constantes durante as interações
sociais.
A sociologia estrutural enfatiza a importância da estrutura social na explicação dos resultados
políticos e das ações individuais, enquanto a teoria da escolha racional se concentra nas
oportunidades e restrições com as quais os agentes se deparam. No entanto, ambas abordagens
reconhecem a racionalidade humana, embora a sociologia estrutural não faça premissas
inerentes sobre a racionalidade dos agentes.
No entanto, ambas as abordagens têm suas limitações. A sociologia estrutural pode não explicar
completamente as origens e o conteúdo das preferências individuais, enquanto a teoria da
escolha racional pode ser empiricamente suspeita devido a simplificações nas premissas
adotadas. Além disso, a sociologia estrutural muitas vezes assume a existência de normas
interiorizadas, mesmo que os agentes não as tenham necessariamente interiorizado.
Por fim, o autor discute o papel da agência humana na análise de redes e na sociologia
estrutural. Ele argumenta que teorias estruturais muitas vezes falham em desenvolver um
modelo abrangente da agência humana, ou seja, como a ação humana é afetada e influencia as
estruturas sociais. Alguns teóricos tentaram incluir a agência em teorias estruturais, como Burt,
que sugeriu que a ação pode modificar a estrutura social. No entanto, críticos argumentam que
mesmo esses modelos não explicam exatamente como a ação social modifica as estruturas
sociais. Outros teóricos, como White, exploraram a ideia de identidade em busca de controle,
onde os agentes procuram ocupar nichos específicos e criar ambiguidade em suas interações
para manter suas opções em aberto. Esses estudos destacam a importância de entender como a
agência humana interage com as estruturas sociais.

Aula 15.06
11) DIMAGGIO, P. J. ; POWELL, W. W. The Iron Cage Revisited: Institutional
Isomorphism and Collective Rationality in. Organizational Fields. American Sociological
Review, Vol. 48, n.2, pp. 147-160, 1983. (texto RAE em português).
No artigo, DiMaggio e Powell revisitam o conceito de "Gaiola de Ferro" proposto por Max
Weber. A "Gaiola de Ferro" refere-se à ideia de que as organizações modernas estão sujeitas a
um conjunto de restrições burocráticas e racionais que limitam sua flexibilidade e
adaptabilidade. No entanto, DiMaggio e Powell argumentam que, em vez de serem
simplesmente impostas por forças externas, essas restrições são amplamente aceitas e
internalizadas pelos atores dentro das organizações.
Eles exploram o fenômeno da isomorfismo institucional, que se refere à tendência de as
organizações em um determinado campo se tornarem mais semelhantes entre si em termos de
suas estruturas, práticas e comportamentos. DiMaggio e Powell argumentam que o isomorfismo
ocorre porque as organizações enfrentam pressões externas e normativas para se conformarem a
certos modelos ou ideais institucionais. Essas pressões podem vir de fontes como o ambiente
regulatório, as expectativas dos clientes, a competição entre organizações ou a busca por
legitimidade social. Como resultado, as organizações tendem a adotar estruturas e práticas
semelhantes, independentemente de sua eficácia real.

No entanto, DiMaggio e Powell também reconhecem a existência da diversidade


organizacional, que se refere à presença de diferenças significativas entre as organizações em
termos de suas estruturas, práticas e comportamentos. Embora o isomorfismo institucional possa
promover certa uniformidade entre as organizações, as diferenças organizacionais ainda podem
surgir e persistir.Os autores discutem que a diversidade organizacional pode ser resultado de
fatores como: variações nas interpretações e aplicação das regras e normas institucionais,
adaptação diferenciada a ambientes específicos, estratégias organizacionais distintas e até
mesmo a presença de forças contrárias ao isomorfismo institucional. Assim, o artigo reconhece
que, embora haja uma tendência para a semelhança entre as organizações devido ao
isomorfismo institucional, ainda existe espaço para a diversidade organizacional, com
organizações se diferenciando em termos de suas características e práticas.
No artigo, os autores identificam três mecanismos principais de mudança isomórfica
institucional. Esses mecanismos explicam como as pressões externas e normativas levam as
organizações a se tornarem mais semelhantes entre si. Os três mecanismos são:
Isomorfismo coercitivo: Esse mecanismo é baseado em pressões externas e coercitivas que as
organizações enfrentam. Essas pressões podem vir de agências reguladoras, órgãos
governamentais, legislação ou outros atores com autoridade para impor conformidade. As
organizações se tornam mais semelhantes para evitar sanções, penalidades ou a perda de
recursos vitais. O isomorfismo coercitivo é caracterizado por uma conformidade formal com
regras e regulamentos.
Isomorfismo mimético: Esse mecanismo ocorre quando as organizações imitam modelos ou
padrões de outras organizações consideradas bem-sucedidas ou legítimas. A imitação ocorre
devido à incerteza, falta de conhecimento ou à crença de que seguir os padrões de outras
organizações pode aumentar a legitimidade e reduzir riscos percebidos. O isomorfismo
mimético é caracterizado pela adoção de práticas e estruturas semelhantes, muitas vezes sem
uma análise crítica da eficácia real dessas práticas.
Isomorfismo normativo: Esse mecanismo está relacionado à influência de profissionais,
especialistas e comunidades profissionais. As organizações adotam estruturas e práticas
semelhantes para se alinharem com as normas e valores profissionais predominantes em seu
campo. Essas normas podem ser definidas por associações profissionais, acadêmicos,
publicações científicas, entre outros. O isomorfismo normativo ocorre porque as organizações
buscam adquirir legitimidade e reconhecimento por meio da adesão às normas e práticas
estabelecidas pela comunidade profissional.
Esses três mecanismos de mudança isomórfica institucional destacam como as organizações são
influenciadas por diferentes tipos de pressões externas e normativas, que levam à semelhança e
conformidade entre elas.
Os indicadores preditivos de mudança isomórfica são usados para identificar e antecipar as
tendências de conformidade e semelhança entre as organizações em um determinado campo.
Eles ajudam a prever quais organizações são mais propensas a adotar práticas e estruturas
semelhantes, refletindo os mecanismos de isomorfismo discutidos anteriormente.
É importante destacar que esses indicadores preditivos podem variar dependendo do contexto e
do campo específico em estudo. Além disso, outros fatores podem influenciar a mudança
isomórfica, e a análise desses indicadores deve ser complementada por uma compreensão mais
ampla do ambiente organizacional e das dinâmicas sociais envolvidas.
Por fim, DiMaggio e Powell argumentam que a compreensão do isomorfismo e da
conformidade institucional desafia algumas das suposições fundamentais da teoria social. Em
particular, isso questiona a visão de que as organizações são estruturas conscientes e racionais
que buscam maximizar seus próprios interesses. Em vez disso, os autores destacam que as
organizações muitas vezes se conformam a normas e modelos institucionais em busca de
legitimidade e reconhecimento social. A racionalidade coletiva, baseada em normas e crenças
compartilhadas, muitas vezes prevalece sobre a racionalidade individual na tomada de decisões
organizacionais. Essa perspectiva tem implicações para a teoria social, pois destaca a
importância das instituições e das forças normativas na moldagem do comportamento
organizacional. Ela enfatiza que as organizações são moldadas por um contexto social mais
amplo, influenciadas por pressões externas e normativas. Além disso, a compreensão do
isomorfismo institucional também levanta questões sobre a variabilidade e a agência das
organizações. Embora haja uma tendência para a conformidade, ainda existe espaço para a
diversidade organizacional e para a capacidade das organizações de buscar estratégias
individuais. Portanto, o estudo do isomorfismo institucional e da conformidade organizacional
apresenta contribuições importantes para a teoria social, expandindo nossa compreensão da
dinâmica organizacional e da interação entre as organizações e seu ambiente social.

12) THORNTON, P. H.; OCASIO, W. Institutional Logics. In: GREENWOOD,


R.; et. al. Organizational Institutionalisms. London: Sage 2008.
Neste capítulo, Thornton e Ocasio exploram o conceito de "lógicas institucionais" como uma
abordagem para entender como as instituições sociais moldam e influenciam as organizações.
As lógicas institucionais referem-se a conjuntos de pressupostos, crenças, valores e práticas que
são amplamente compartilhados e internalizados por membros de uma comunidade ou campo
social.
Os autores argumentam que as organizações são influenciadas por múltiplas lógicas
institucionais que coexistem em um dado contexto social. Essas lógicas podem ser baseadas em
diferentes tradições culturais, sistemas de crenças ou estruturas de poder. Por exemplo, em um
campo organizacional, pode haver lógicas institucionais baseadas em valores econômicos,
legais, religiosos, políticos, entre outros.
Thornton e Ocasio destacam que as organizações podem se engajar em práticas e adotar
estruturas que se alinham com as diferentes lógicas institucionais presentes em seu contexto.
Isso ocorre porque as organizações precisam buscar legitimidade e aceitação por parte dos
atores e instituições relevantes no campo.
O capítulo discute como as lógicas institucionais influenciam as escolhas estratégicas das
organizações, moldando sua identidade, estrutura, processos decisórios e relações com
stakeholders. Os autores também exploram a dinâmica da mudança institucional, quando novas
lógicas podem emergir, entrar em conflito ou substituir as existentes
A teoria institucional é uma abordagem que se originou nas ciências sociais, principalmente na
sociologia e na administração, no final da década de 1970 e início da década de 1980. Ela busca
entender como as instituições sociais, como normas, regras, valores e crenças, afetam o
comportamento das organizações. O desenvolvimento da teoria institucional foi influenciado
por vários estudiosos e pesquisadores. Alguns dos primeiros trabalhos influentes incluem o
trabalho de Selznick (1949) sobre instituições e o trabalho de Meyer e Rowan (1977) sobre a
adoção de práticas organizacionais.
No decorrer do tempo, a teoria institucional evoluiu e se ramificou em várias correntes de
pensamento e perspectivas teóricas. Uma das abordagens mais proeminentes é o chamado "new
institutionalism" (novo institucionalismo), que engloba três subcampos principais:
institucionalismo normativo, institucionalismo sociológico e institucionalismo histórico. O
institucionalismo normativo enfatiza a influência das normas e regras sociais na conformidade
organizacional, destacando a importância da legitimidade e do isomorfismo institucional. Ele se
concentra em como as organizações se ajustam às expectativas e demandas normativas.
O institucionalismo sociológico explora a influência dos contextos institucionais mais amplos
nas práticas e comportamentos organizacionais. Ele examina as relações entre as organizações e
as estruturas sociais, enfatizando a influência das normas, dos campos organizacionais e dos
atores institucionais. O institucionalismo histórico enfoca a evolução histórica das instituições e
das organizações ao longo do tempo. Ele explora como as instituições e as práticas
organizacionais são moldadas por eventos históricos, mudanças políticas, econômicas e sociais,
e como essas influências históricas continuam a afetar as organizações no presente.
Ao longo dos anos, a teoria institucional tem sido aplicada a diversas áreas de estudo, como
estudos organizacionais, sociologia, ciência política, economia e outras disciplinas relacionadas.
Ela oferece insights valiosos sobre como as instituições moldam e influenciam as organizações,
as dinâmicas de mudança institucional e os processos de legitimação e conformidade
organizacional.
Aula 22.06
Textos:
13) FLIGSTEIN, N. Social skill and the theory of fields. Sociological Theory, v. 19, n. 2, p.
105-125, 2001.
Neste artigo, o autor discute a relação entre estrutura social e ação dos indivíduos na reprodução
e mudança sociais. Ele destaca a importância dos atores sociais na constituição do mundo
social, além das estruturas sociais. O autor argumenta que as teorias neo-institucionalistas
fornecem ferramentas conceituais úteis para repensar as estruturas e a ação, e propõe o conceito
de "habilidade social" como uma forma dos atores induzirem a cooperação dos outros na
construção e reprodução de ordens sociais locais.
O autor explora diversas táticas utilizadas pelos atores sociais, como a ação estratégica, quadros
(framing), definição de agenda (agenda setting), intermediação (brokering) e ação robusta. Ele
relaciona essas táticas com o interacionismo simbólico e a compreensão das ordens sociais
locais. O autor também destaca a importância das instituições como regras e significados
compartilhados que orientam a interação entre os atores, e enfatiza a necessidade de considerar
adequadamente o poder nas teorias neo-institucionalistas.
Além disso, o autor discute a habilidade social como um microfundamento das ações dos atores.
A habilidade social envolve a capacidade de induzir a cooperação dos outros, compreendendo
suas percepções e interesses. Aqueles com habilidade social são capazes de criar significado
compartilhado, negociar interesses coletivos e adaptar-se ao contexto em que atuam. O autor
busca sintetizar conceitos existentes na literatura para promover uma visão mais coerente das
abordagens sociológicas institucionalistas. Embora não proponha uma teoria completa, oferece
um esquema conceitual abstrato que fornece aos sociólogos empíricos ferramentas para analisar
o papel dos atores na formação de campos sociais.
A habilidade social dos atores é essencial para compreender a contribuição distinta dos
indivíduos na reprodução e mudança sociais. Essa abordagem sociológica enfatiza a
importância dos processos sociais na constituição das instituições, em contraste com abordagens
que tratam as regras e recursos como exógenos e os atores como indivíduos com preferências
fixas. A habilidade social permite aos atores induzir a cooperação dos outros, negociar
interesses coletivos e adaptar-se ao contexto social.
Por fim, é discutido como a teoria das instituições analisa a habilidade social e a construção de
campos em diferentes fenômenos sociológicos. Essa teoria pode ser aplicada a subcampos da
sociologia, como política organizada, movimentos sociais, economia e setor sem fins lucrativos.
Esses subcampos envolvem atores que buscam criar instituições para orientar suas interações e
promover seus interesses coletivos. Exemplos incluem o papel dos empreendedores políticos na
transformação do campo da política econômica durante o New Deal nos Estados Unidos e a
mobilização de identidades coletivas no movimento de direitos civis. Além disso, a teoria das
instituições também pode ser aplicada ao estudo da mudança institucional nos mercados
econômicos, como a ascensão do formato multidivisional nas grandes corporações na década de
1920. A teoria argumenta que os atores lutam pela cooperação em seus grupos e pela
estabilização das interações entre os grupos.

14) KLUTTZ, D. N.; FLIGSTEIN, N. Varieties of Sociological Field Theory. Handbooks


of Sociology and Social Research, 2016.
A teoria do campo oferece uma perspectiva alternativa para entender a vida social, indo além
das análises macro e micro. Ela se concentra nas interações entre os atores em uma ordem social
intermediária chamada "campo". Essa teoria sugere que nesse campo existem regras, posições e
recursos, e os atores possuem uma compreensão dessa ordem, permitindo-lhes interpretar as
ações dos outros e responder a elas. Os campos são as arenas onde ocorre o jogo sociológico de
disputa por posições.
O objetivo desta revisão teórica é apresentar a teoria do campo contemporânea, destacando três
declarações teóricas principais na sociologia. Ela começa com uma descrição dos princípios
centrais dessa teoria e explora suas raízes intelectuais, incluindo as influências de Max Weber,
Kurt Lewin, fenomenologia e interacionismo simbólico. Em seguida, são apresentadas três
elaborações importantes da teoria do campo: a teoria dos campos de Pierre Bourdieu, a
abordagem neo-institucional dos "campos organizacionais" de DiMaggio e Powell, e o modelo
de "campos de ação estratégica" proposto por Fligstein e McAdam. Essas abordagens são
examinadas em relação a dois problemas fundamentais da teoria sociológica: como os campos
sociais surgem, se reproduzem e mudam, e como conceber a agência e os atores.
A discussão se concentra nas diferenças entre essas abordagens teóricas. A teoria neo-
institucional enfatiza a conformidade dos atores e a legitimidade por meio de pistas do campo,
enquanto a teoria de Bourdieu destaca o papel do poder na construção do campo e a ação
estratégica baseada no "habitus". Quanto à emergência e mudança do campo, Bourdieu e a
teoria neo-institucional focam na reprodução da estrutura do campo, enquanto Fligstein e
McAdam teorizam a emergência e a mudança, considerando a dinâmica do campo como fluida
e política.
Ao entender essas diferenças, surgem duas direções futuras de trabalho. A primeira é explorar
em quais condições cada perspectiva é mais adequada. A segunda é determinar empiricamente
qual perspectiva oferece uma melhor compreensão das ordens sociais de nível intermediário. A
teoria do campo tem o potencial de explicar interações sociais em diversos contextos e oferece
ferramentas conceituais para abordar questões sociológicas importantes. Avanços serão
alcançados ao aprimorar a compreensão das diferenças entre as teorias do campo e como elas
podem ser utilizadas de maneira proveitosa.
A teoria do campo sociológico contemporâneo tem suas raízes em duas influências principais:
Max Weber e Kurt Lewin. Max Weber argumentou que as relações sociais exigem ação
significativa entre dois ou mais atores, cujas ações são baseadas em uma conscientização e
orientação em relação ao outro. Weber também afirmou que as relações sociais podem se
expandir para níveis mais altos, como organizações e associações, e se tornar uma ordem social
que abrange uma multidão de atores. Weber identificou um pequeno número de ordens
presentes em todas as sociedades: ordem legal, social, econômica, política e religiosa. Ele
acreditava que algo diferente está em jogo em cada ordem, e as lutas por uma ordem particular
só podem ser interpretadas a partir da perspectiva dos grupos que disputam vantagem nessa
ordem.
Kurt Lewin, um psicólogo social com formação em psicologia Gestalt, aplicou os conceitos da
Gestalt de percepção à psicologia social e à motivação humana. Ele desenvolveu modelos
formais para representar campos, que ele definiu como a "totalidade de fatos coexistentes
concebidos como mutuamente interdependentes". Lewin também introduziu o conceito de
espaço de vida, que é o ambiente psicológico em que um indivíduo existe e interage. O
comportamento individual só pode ser explicado considerando a interação entre o espaço de
vida do indivíduo e o ambiente do campo.
Pierre Bourdieu é um dos teóricos mais associados à teoria do campo sociológico
contemporâneo. Ele utiliza os conceitos de campo, capital e habitus para entender a vida social.
Os campos são arenas de luta onde os atores competem por recursos, status e definição das
regras do jogo. Cada campo tem sua própria lógica e história. Os atores possuem diferentes
formas de capital (econômico, social, humano e cultural) que influenciam sua posição e poder
dentro do campo. O habitus é o princípio que permite aos atores compreender, navegar e agir no
mundo social. É um conjunto de capacidades moldadas pela socialização e que afetam as
estruturas de poder e distribuição de capital dentro do campo. Bourdieu utiliza esses conceitos
para explicar como as estruturas de dominação nos campos tendem a ser reproduzidas.
Além da abordagem de Bourdieu, a teoria neo-institucional também é relevante no campo
sociológico contemporâneo. Os neo-institucionalistas estudam as interações entre organizações
e seus ambientes, buscando compreender por que as organizações dentro de um campo tendem a
adotar formas, práticas ou culturas semelhantes. Eles argumentam que as organizações são mais
influenciadas por preocupações institucionais, como legitimidade, do que pela competição. O
processo de isomorfismo ocorre quando as organizações se tornam mais similares para
parecerem legítimas, e isso é reforçado pela legitimação dessas práticas institucionalizadas.
A teoria dos campos de ação estratégica (SAFs) busca sintetizar ideias neo-institucionalistas
com as ideias de Bourdieu sobre contestação dentro dos campos e o poder dos atores
dominantes. Ela enfatiza a interação entre os atores em ordens sociais construídas, chamadas de
campos, onde há entendimentos compartilhados sobre propósitos, relacionamentos e regras de
ação legítima. Os campos são caracterizados por consenso e contenda, com atores competindo
por posições e recursos. Os titulares moldam as regras e a organização do campo, enquanto os
desafiantes podem articular visões alternativas. Há a presença de unidades de governança
interna que mantêm a ordem, e os campos estão conectados em redes de relações. A teoria
enfatiza a função existencial do social e a habilidade dos atores em criar significados
compartilhados e participar de ação coletiva.
A teoria dos campos de Bourdieu apresenta uma relação complexa entre estrutura e agência,
sendo mais determinista do que o próprio Bourdieu admitia. Embora os atores em seus campos
tenham seus próprios objetivos e ajam estrategicamente, eles não são particularmente reflexivos
e têm dificuldade em desafiar as forças restritivas da estrutura. A concepção de agência em
Bourdieu é mediada pelo habitus, um conjunto estruturado e incorporado de disposições que é
transmitido socialmente e tende a reproduzir as estruturas existentes. Os atores tendem a operar
para preservar as próprias estruturas das quais emergem.
Em contraste, a teoria dos SAFs de Fligstein e McAdam retrata os campos como mais mutáveis
e fornece uma conceitualização abrangente do surgimento, estabilidade e mudança de campo.
Os campos são locais de luta e competição, mas também podem passar por momentos de crise
que questionam a ordem estabelecida. No entanto, Bourdieu não teoriza sistematicamente sobre
o que desencadeia essas crises ou sobre as condições adicionais que levam a um discurso
crítico. Além disso, mesmo quando ocorrem mudanças, os desafiantes tendem a reproduzir as
regras e lógicas subjacentes do campo.
Em resumo, a teoria dos SAFs enfatiza a mutabilidade dos campos e fornece uma visão mais
abrangente da dinâmica de poder, contestação e mudança. Por outro lado, a teoria de Bourdieu é
mais focada na estabilidade e reprodução social, com os atores reproduzindo as estruturas
existentes. Ambas as teorias abordam a relação entre estrutura e agência, mas de maneiras
distintas.
Os autores buscam demonstrar que uma noção geral de campo pode ser derivada das teorias
neo-institucionalistas, de Bourdieu e das teorias de Campos de Ação Estratégica (SAFs) de
Fligstein e McAdam. Embora haja semelhanças entre essas teorias de campo, elas diferem em
sua compreensão dos atores, poder, consenso e dinâmica dos campos. Para avançar nessa
compreensão, os autores defendem um diálogo entre essas perspectivas teóricas, explorando
suas diferenças por meio de pesquisas empíricas. Em vez de tratá-las como escolas de
pensamento separadas, é importante engajar-se em um debate para determinar qual abordagem é
mais adequada para diferentes situações.
Os autores sugerem que os aspectos conceituais e empíricos da teoria de campo devem ser
desenvolvidos ainda mais. É necessário esclarecer as diferenças conceituais entre essas teorias
para torná-las empiricamente úteis. Além disso, os pesquisadores precisam abordar a questão da
medição e comparabilidade para avaliar essas divergências conceituais de maneira eficaz.
É fundamental investigar se as divergências entre as teorias de campo surgem da falta de
condições de escopo claramente especificadas ou de incompatibilidades fundamentais. Isso
requer uma análise conceitual e empírica para compreender como esses conceitos operam em
diferentes contextos.
A teoria de campo pode ter um status epistemológico ambíguo, podendo ser vista tanto como
uma abordagem positivista ou realista, que assume a realidade e mensurabilidade dos campos,
quanto como um conjunto de conceitos e tipos ideais que ajudam os pesquisadores a dar sentido
aos dados empíricos. Ambas as perspectivas são válidas, mas alguns estudiosos podem ter
dificuldade em adotar qualquer uma delas.
Os autores ressaltam a importância de examinar o escopo empírico da teoria de campo. Embora
a teoria de campo tenha sido aplicada em diversos estudos, ainda há pouco entendimento sobre
como produzir medição e comparabilidade para avaliar de forma eficaz as divergências
conceituais. O engajamento com outras perspectivas, como análise de redes ou lógicas
institucionais, que propõem processos de nível meso, mas não utilizam o conceito de campo,
pode enriquecer a teoria de campo.
Em conclusão, a teoria de campo representa uma conquista teórica significativa na sociologia.
Embora haja diferenças entre as teorias de campo, também existem complementaridades que
podem ser aproveitadas por meio de combinação e síntese. Ao reconciliar essas diferenças e
aproveitar as complementaridades, os sociólogos podem avançar em direção a uma teoria
abrangente e contemporânea dos campos.

Aula 29.06
15) KRIPPNER, G.“What is Financialization?” Capitalizing on Crisis, 2012, p. 27-57;
O texto "What is Financialization?" de Greta Krippner discute o conceito de financeirização,
examinando suas origens, implicações e impactos na economia e na sociedade. O termo
"financeirização" refere-se a um processo em que as instituições financeiras e os mercados
desempenham um papel cada vez mais dominante na economia global.
No texto, Krippner explora a natureza e as implicações da financeirização. Ela argumenta que a
financeirização é um fenômeno complexo e multifacetado que transformou a economia e a
sociedade de várias maneiras. Ela discute como a crescente importância dos mercados
financeiros e das instituições financeiras afetou a alocação de recursos, a distribuição de renda,
as estruturas de poder e as dinâmicas econômicas.
Krippner também examina as origens da financeirização, destacando o papel das políticas
governamentais, das mudanças tecnológicas e das transformações estruturais na economia
global. Ela argumenta que a financeirização está intrinsecamente ligada à ascensão do
neoliberalismo e à desregulamentação financeira.
O texto de Krippner oferece uma análise crítica da financeirização e levanta questões
importantes sobre os impactos econômicos e sociais desse fenômeno. Ele contribui para o
debate acadêmico em torno da financeirização e fornece uma base teórica para entender e
interpretar as transformações na economia global contemporânea.
No texto, é abordada a relação entre a globalização da produção e a financeirização. A autora
argumenta que esses dois processos estão interconectados e se reforçam mutuamente. A
globalização da produção refere-se à crescente interconexão e interdependência das economias
em todo o mundo. Isso envolve a fragmentação da produção em diferentes etapas, com cada
etapa sendo realizada em diferentes países, com base em fatores como custos de mão de obra,
vantagens comparativas e acesso a mercados. Por outro lado, a financeirização diz respeito à
crescente importância dos mercados financeiros e das instituições financeiras na economia
global. Isso inclui o aumento do poder e influência das instituições financeiras, o crescimento
do setor financeiro em relação aos outros setores da economia e a crescente orientação para
atividades financeiras em vez de atividades produtivas.
Krippner argumenta que a financeirização está diretamente ligada à globalização da produção.
Ela explica que a fragmentação da produção global e a busca por eficiência levaram as empresas
a buscar financiamento e a se envolver em atividades financeiras complexas, como empréstimos
internacionais, investimentos estrangeiros e derivativos financeiros.
Além disso, a financeirização também é impulsionada pela necessidade de gerenciar os riscos
associados à globalização da produção. As empresas precisam lidar com flutuações cambiais,
volatilidade dos preços das commodities e incertezas econômicas em diferentes países. Isso
levou ao desenvolvimento de instrumentos financeiros sofisticados e estratégias de gestão de
riscos, aumentando ainda mais o papel do setor financeiro na economia global.

16) CARRUTHERS AND J. KIM “The sociology of finance”, Annual Review of Sociology,
2011, 239-259; G. Davis and S. Kim, “Financialization of the Economy.” Annual Review of
Sociology 2015 41:203-21.
A Sociologia das Finanças explora as interações entre mercados financeiros, instituições e
forças sociais. Os autores argumentam que as finanças não são apenas um domínio técnico ou
econômico, mas estão profundamente enraizadas em relacionamentos sociais e estruturas. Eles
examinam várias dimensões das finanças, como o papel da confiança, redes sociais, normas
culturais e dinâmicas de poder na formação das práticas financeiras. Carruthers e Kim destacam
a importância dos fatores sociais para entender os fenômenos financeiros, desafiando a visão
convencional de que as finanças operam puramente com base no comportamento racional e
egoísta. Eles argumentam que as relações sociais e os contextos culturais desempenham papéis
significativos na formação de decisões financeiras, práticas e resultados.
A introdução de "A Sociologia das Finanças" discute a transformação do setor financeiro, de
uma indústria relativamente estável e mundana para uma caracterizada por inovação,
complexidade e instabilidade ocasional. Ela destaca os elementos interconectados das finanças,
incluindo atores (indivíduos e organizações), ações (como empréstimos, empréstimos,
investimentos), contextos (redes, mercados, leis) e regras que governam as atividades
financeiras.
A introdução enfatiza a centralidade das promessas nas finanças, onde uma parte se
compromete a pagar uma quantia em dinheiro a outra. O design, avaliação e cumprimento das
promessas desempenham um papel crucial nas transações financeiras. Os autores também
mencionam a importância das crises financeiras e das promessas quebradas na formação da
confiança nas instituições financeiras.
Além disso, a introdução reconhece que as finanças têm recebido uma atenção renovada dentro
da sociologia, com pesquisadores examinando várias combinações de elementos financeiros e
focando em atores, atividades e contextos específicos. Ela destaca as contribuições de
sociólogos clássicos como Max Weber e Georg Simmel, que analisaram bancos e finanças, e
enfatiza a relevância da sociologia das finanças para áreas mais amplas de estudo, como
sociologia econômica, direito, redes sociais, globalização e consumo.
As mudanças nas finanças têm motivado muita atenção acadêmica recentemente, e os
pesquisadores apontam várias conexões com processos macroscópicos, como globalização,
desregulamentação, financeirização e neoliberalismo. Os Estados Unidos desempenham um
papel de liderança nessas mudanças e, portanto, são frequentemente o foco de análise. Uma
razão para a atenção dada às finanças é simples: de acordo com várias medidas, o setor
financeiro da economia dos EUA cresceu significativamente nas últimas décadas. A
participação da indústria financeira no PIB aumentou de cerca de 15% em 1960 para
aproximadamente 23% em 2001, superando a indústria manufatureira no início dos anos 1990.
A participação das finanças nos lucros corporativos também cresceu substancialmente no
mesmo período, e os lucros bancários foram particularmente altos na década anterior à crise
recente.
A financeirização também está conectada à globalização, à desregulamentação e ao
neoliberalismo. Os mercados de capitais globais são altamente integrados, o capital é móvel e as
mudanças e choques financeiros se espalham rapidamente pelo mundo. A desregulamentação
desencadeou inovação financeira e consolidação, enquanto as instituições financeiras
começaram a se expandir para além de suas áreas tradicionais de atuação. A securitização se
tornou comum, substituindo o modelo tradicional de intermediação bancária. Em vez de manter
empréstimos até o vencimento, os bancos os securitizam, ou seja, os agrupam e vendem para
investidores.
Essas mudanças tiveram implicações tanto para o sistema financeiro quanto para a economia em
geral. O crescimento do setor financeiro influenciou a distribuição de renda e a atratividade de
empregos no setor. A influência das finanças se estendeu para além das fronteiras dos Estados
Unidos, tornando-se um fenômeno global. Além disso, a moralidade das finanças tem sido um
tema em discussão, com alguns produtos financeiros desafiando normas sociais e levantando
questões éticas.
O artigo também destaca que a política desempenha um papel fundamental nas finanças,
influenciando a regulamentação, as reformas políticas, a concentração de poder e os interesses
econômicos. A compreensão das conexões entre política e finanças é essencial para uma análise
abrangente das atividades financeiras e seus impactos sociais e econômicos.
Os mercados financeiros não são autônomos nem naturais, pois sempre operam em um contexto
político. A política desempenhou um papel nos processos de financeirização, já que a
desregulamentação do setor financeiro não aconteceu por si só. O neoliberalismo e o
fundamentalismo de mercado têm sido associados a um conjunto de reformas políticas que se
espalharam durante os anos 1980 e 1990 e levaram à liberalização dos mercados de capitais e à
desregulamentação em muitos países.
As finanças também se tornaram um espaço para a política. Empresas têm conexões profundas
com a política e décadas recentes testemunharam o surgimento de novas estratégias políticas
direcionadas à propriedade corporativa por meio de mercados de ações. Movimentos sociais têm
utilizado a desinvestimento como forma de ação coletiva, pressionando investidores de destaque
a se desfazerem de ações de empresas que adotam políticas questionáveis ou produzem
resultados indesejáveis.
Por fim, o texto destaca que embora a financeirização moderna pareça abstrata e impessoal em
nível global, ela continua a se desenrolar em contextos locais e humanos. Apesar da tecnologia
permitir transações financeiras de qualquer lugar, os mercados financeiros modernos se
concentram em algumas comunidades onde as pessoas se encontram pessoalmente. Essa
concentração geográfica cria uma conectividade social que reflete a conectividade econômica
global. As redes sociais e as conexões locais desempenham um papel importante na formação
de grupos de pares para os participantes do mercado. Além disso, as relações sociais
influenciam o comportamento de rebanho e a difusão de inovações no mercado financeiro. As
relações sociais também desempenham um papel significativo no financiamento de empresas
iniciantes, nas relações entre oficiais de empréstimos bancários e tomadores de empréstimos e
na estrutura das instituições financeiras. As redes financeiras também foram analisadas usando
técnicas de análise de rede para entender a estabilidade do sistema financeiro como um todo. A
transição para a negociação eletrônica afetou a dinâmica organizacional e social do setor
financeiro. Estudos qualitativos enfatizam a importância das interações presenciais e das
relações pessoais no mercado financeiro, enquanto a economia se concentra mais na eficiência e
nos custos das transações eletrônicas.

Aula 06/07 – Inovações Financeiras


17) FLIGSTEIN, NEIL. (2021). Innovation and the Theory of Fields. Academy of
Marketing Science Review. Forthcoming. 10.1007/s13162-021-00202-2.
O artigo aborda a importância da inovação não apenas na criação de novos produtos,
mas também na necessidade de novos processos e organizações. Ele apresenta a teoria de campo
como uma ferramenta para entender por que algumas inovações são pequenas mudanças
incrementais e outras são mudanças revolucionárias. O caso específico do mercado hipotecário
nos EUA é utilizado como exemplo para ilustrar como a teoria de campo pode nos ajudar a
compreender a lógica e os diversos fatores envolvidos em uma transição importante. Ele
também destaca a importância da teoria de campo em complementar as teorias econômicas e
sociológicas existentes sobre inovação financeira.
O autor argumenta que as inovações ocorrem em mercados já organizados, com
empresas estabelecidas e conexões extensas com governos. A teoria de campo é apresentada
como base para entender como governos e empresas criam mercados e implementam inovações.

A perspectiva de campo concebe os mercados como arenas sociais, onde as empresas


consideram umas às outras em suas ações, competem entre si pela dominação do mercado e
compartilham uma compreensão comum dos recursos e restrições existentes. A teoria de campo
propõe mecanismos para compreender como os mercados surgem, passam por mudanças
incrementais constantes e, ocasionalmente, são transformados. O papel do governo na criação
de mercados é destacado, argumentando-se que os governos desempenham papéis importantes
na criação de condições para o sucesso das empresas e muitas vezes atuam como inovadores,
fornecendo produtos que são posteriormente explorados pelas empresas.
O artigo utiliza o exemplo da inovação financeira, mais especificamente o surgimento do
mercado de securitização de hipotecas, para ilustrar a utilidade da abordagem de campo na
compreensão da inovação. É destacado que as inovações ocorrem dentro de campos existentes,
seja por meio de extensões de produtos em mercados já estabelecidos, seja por meio da entrada
de empresas desafiadoras que prometem uma nova forma de entrega de bens. A criação de
mercados completamente novos implica não apenas a inovação de novos produtos, mas também
de novos processos e organizações.
O papel do governo na formação de mercados é enfatizado, mostrando que os governos podem
ajudar a criar condições favoráveis para as empresas e desempenhar um papel regulador. O
autor argumenta que abordagens econômicas tradicionais e sociológicas da inovação financeira
são complementares, mas limitadas, e destaca a importância de considerar também a inovação
em processos e organizações.
A teoria de campo oferece dois dispositivos conceituais para organizar o processo de inovação.
Primeiro, ela pode ser usada para construir uma teoria explícita da construção social de
mercados, algo que geralmente está ausente em estudos de inovação que pressupõem a
existência dos mercados e introduzem elementos de sua estrutura de forma ad hoc. A teoria de
campo explica as dinâmicas do surgimento, estabilidade e transformação dos mercados.
Segundo, ela oferece insights sobre como atores estratégicos habilidosos ("líderes") ajudam a
organizar empresas e mercados, criando a possibilidade de inovação contínua.
A teoria de campo considera os mercados como campos estruturados pela dinâmica entre
incumbentes e desafiadores. Os incumbentes possuem uma parcela desproporcional de recursos
materiais e simbólicos e exercem influência sobre as regras e a organização do campo. Os
desafiadores geralmente se conformam com a ordem vigente do campo, mas podem articular
uma visão alternativa.
As interações entre os campos podem ter impactos complexos e significativos. Por exemplo,
políticas governamentais de incentivo à compra de carros elétricos podem beneficiar os
fabricantes desses veículos em detrimento dos fabricantes de carros a gasolina. Tarifas impostas
pelo governo sobre insumos estrangeiros podem afetar negativamente as empresas que
dependem desses insumos. Essas mudanças nas relações entre os campos podem gerar
turbulência nas economias de mercado e impulsionar a inovação.
Dessa forma, a inovação e a dinâmica do mercado são influenciadas pelo estado do mercado,
pelas ações de diferentes atores e pelos tipos de inovação que ocorrem. Em um mercado
emergente, tudo está em aberto, e os empreendedores devem formar coalizões, inovar novos
processos e encontrar clientes para novos produtos. Os governos desempenham um papel
fornecendo financiamento, recursos e regulamentações para promover a formação do mercado.
Em um mercado estável, as empresas dominantes utilizam seus recursos e estruturas existentes
para manter ou melhorar sua posição, enquanto os desafiadores trabalham para se manterem
competitivos. As empresas incumbentes tendem a ser mais inovadoras devido aos seus recursos
e conexões. O governo pode regular a concorrência, financiar pesquisa e desenvolvimento e
defender as empresas incumbentes. A mudança transformadora do mercado pode ser
desencadeada por choques exógenos ou desafiadores inovadores. As empresas incumbentes
podem tentar manter sua posição adotando novas inovações ou comprando empresas
desafiadoras. A mudança transformadora também pode resultar de eventos em nível macro ou
invasões por agentes externos. Os governos podem apoiar inicialmente as empresas
incumbentes, mas eventualmente podem ajudar a reorganizar o mercado para os novos
desafiadores. A mudança transformadora requer inovação significativa para reorganizar
produtos, processos e organizações.
A inovação financeira pode envolver novos produtos, serviços, processos ou formas
organizacionais que reduzem custos, riscos ou oferecem produtos/serviços aprimorados.
Grandes instituições financeiras costumam liderar a inovação financeira, e algumas inovações
podem surgir como resposta à regulamentação ou para contorná-la. No entanto, nem todos os
produtos financeiros atendem à sua função principal de conectar fornecedores de capital com
aqueles que têm um uso produtivo para ele. A teoria de campo é útil para entender as inovações
financeiras e como os instrumentos, empresas e mercados são reorganizados nesse contexto. A
inovação financeira segue os padrões gerais da inovação, e é difícil compreendê-la sem
considerar esse contexto mais amplo.
A conclusão destaca que as abordagens econômicas e sociológicas da inovação financeira não
conseguem capturar adequadamente a estruturação dos mercados como campos. No mercado
hipotecário dos Estados Unidos, a profissão de economia financeira teve um papel limitado na
reestruturação do setor hipotecário para a indústria de securitização de hipotecas. Além disso, o
governo desempenhou um papel importante na criação de inovações no novo mercado. A
inovação financeira, tanto em produtos quanto em processos, desempenhou um papel
fundamental na integração dos mercados hipotecários e no atendimento às necessidades dos
clientes. A análise de campo fornece uma abordagem teórica mais abrangente para compreender
a inovação, considerando a interação entre produtos, processos, organizações e o papel do
governo. Ela nos ajuda a entender a dinâmica da mudança de mercado e a importância da
inovação para manter posições no mercado estabelecido ou criar novos mercados. A destruição
criativa é uma realidade inerente ao capitalismo, e a análise de campo permite uma
compreensão mais aprofundada desse processo.
18) ÖNER TULUM & WILLIAM LAZONICK (2018) Financialized Corporations in a
National Innovation System: The U.S. Pharmaceutical Industry, International Journal of
Political Economy, 47:3-4, 281-316.
O texto aborda a crise de produtividade na indústria farmacêutica dos Estados Unidos, mesmo
com o país oferecendo vantagens únicas para a pesquisa de medicamentos. Os autores
argumentam que a causa dessa crise é a financeirização da indústria, que adotou um modelo de
negócio focado em maximizar o valor para os acionistas. Isso resultou em priorizar métricas
financeiras, como o preço das ações e dividendos, em vez de investir em inovação de
medicamentos. Enquanto isso, empresas europeias menos financeirizadas estão aproveitando o
sistema de inovação dos EUA e superando as empresas americanas em seu próprio mercado. O
artigo destaca que todas as empresas enfrentam um dilema entre inovação e financeirização, e
analisa como essa tensão se desenvolve na indústria farmacêutica dos EUA. São apresentadas
evidências do alto grau de financeirização das principais empresas farmacêuticas americanas,
com foco em distribuição de lucros aos acionistas e remuneração baseada em ações para os
executivos. O texto também explora a evolução do sistema de inovação dos EUA desde os anos
80 e resume as estratégias de produtos de sete grandes empresas farmacêuticas europeias nos
EUA. Por fim, é levantada a hipótese de que um sistema de governança corporativa que valorize
a inovação poderia resultar em uma indústria farmacêutica mais inovadora nos EUA.
O texto aborda a criação do Sistema Nacional de Inovação dos Estados Unidos. Ele destaca que
a financeirização da indústria farmacêutica americana é um exemplo extremo da financeirização
que afeta as corporações empresariais do país em geral. As empresas listadas no índice S&P 500
distribuíram 93,7% de seus lucros aos acionistas entre 2007 e 2016. Essa financeirização é
problemática porque a indústria farmacêutica também se beneficia de diversos incentivos
governamentais, como financiamento público para pesquisa científica, investimentos em
educação de mão de obra especializada, privilégios de patentes e subsídios financeiros.
O artigo destaca como a indústria farmacêutica ganhou poder político ao longo do tempo e
moldou o sistema nacional de inovação dos EUA no qual opera. Esse sistema permitiu que a
indústria farmacêutica dos EUA se tornasse líder global. No entanto, a indústria farmacêutica e
a comunidade de pesquisa médica dos EUA usaram seu poder político para resistir a reformas
que limitariam seus ganhos financeiros.
O texto também menciona leis e regulamentações relevantes para o sistema de inovação
farmacêutica dos EUA, como a Lei de Alimentos, Medicamentos e Cosméticos de 1938, as
emendas Durham-Humphrey de 1951 e Kefauver-Harris de 1962, e o Ato das Organizações de
Manutenção de Saúde de 1973. Além disso, são mencionadas várias leis que incentivam a
transferência de tecnologia entre instituições de pesquisa e empresas comerciais, como a Lei
Bayh-Dole de 1980, a Lei Stevenson-Wydler de 1980 e o Ato de Transferência de Tecnologia
Federal de 1986. Essas leis permitiram maior autonomia das universidades na comercialização
de pesquisas financiadas pelo governo e facilitaram a transferência de tecnologia para empresas.
Também é dado destaque a importância do financiamento do National Institutes of Health
(NIH) para a inovação farmacêutica nos EUA. O NIH investe bilhões de dólares em pesquisa de
ciências da vida e desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de medicamentos no
país. Além disso, são mencionados outros aspectos, como a proteção de patentes e a influência
do governo na regulação de preços de medicamentos.
Dessa forma, apesar do ambiente favorável à inovação e ao desenvolvimento de medicamentos
nos EUA, as práticas de alocação de recursos das principais empresas farmacêuticas têm
prejudicado a inovação em vez de apoiá-la. O modelo de negócios PLIPO (Product-Less Initial
Public Offerings), que tem sido usado para pesquisa inovadora em desenvolvimento de
medicamentos nos EUA, tornou-se cada vez mais focado em especulação e manipulação do
mercado de ações, o que prejudica o investimento em inovação. Em contraste, empresas
farmacêuticas europeias têm aumentado sua produtividade em pesquisa inovadora, superando as
empresas dos EUA em inovação farmacêutica. As empresas farmacêuticas europeias têm se
beneficiado do ambiente institucional dos EUA, tanto em termos de base de conhecimento
necessária para inovação quanto do mercado farmacêutico dos EUA, com seus preços
desregulados. No entanto, é importante entender como essas empresas usam os altos lucros
obtidos nos EUA para inovação ou para financeirização.
O texto destaca a importância da compreensão da empresa inovadora e das condições sociais
que a cercam para garantir que as instituições criadas para apoiar a inovação não incentivem a
financeirização. A análise de casos de empresas farmacêuticas europeias, como Roche, Pfizer,
Novartis, AstraZeneca e GlaxoSmithKline, é recomendada para entender melhor como essas
empresas usam o ambiente de inovação dos EUA para aprimorar suas capacidades inovadoras.
O texto conclui enfatizando a necessidade de políticas e regulamentações que abordem as
práticas de recompra de ações e os problemas associados à financeirização nas empresas
farmacêuticas dos EUA, visando à geração de medicamentos eficazes a preços acessíveis.

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