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ANÁLISE DE CLASSE – Erik Olin Wright

Introdução
Tanto fora como dentro da academia há muita ambiguidade do que se entende como
classe. Se no senso comum classe pode ser entendida como estilo de vida ou status, na
academia existe uma variedade de conceitos que refletem objetivos diferentes, ou seja,
diferentes tradições da teoria social clássica levam a diferentes perspectivas de análise.
E, além disso, pode haver formas diferentes de análise dentro de uma mesma tradição.
(...)

No primeiro capítulo, fundamentos de uma análise de classe neomarxista, o autor


define o conceito de classe em termos dos processos de exploração e segundo sistemas
alternativos de relações econômicas. No último capítulo ele mostra que são as
diferentes questões centrais que determinam os diferentes conceitos de classes nas
diferentes tradições de análises de classes.

Capítulo 1: fundamentos de uma análise de classe neomarxista


O objetivo do capítulo é mostrar que o conceito de exploração é o que distingue o
conceito marxista de classes, e que esse conceito é o que torna a análise marxista um
instrumento poderoso capaz compreender os problemas da sociedade contemporânea.

I – o ponto fundamental da análise marxista

Para compreender os fundamentos teóricos do conceito de classe da tradição marxista é


necessário que se esclareça a agenda normativa igualitária radical da qual deriva. Essa
dimensão normativa pode ser expressa em três teses.

a) Tese do igualitarismo radical – o processo humano seria amplamente favorecido por


uma distribuição igualitária radical das condições materiais de vida.

b) Tese da possibilidade histórica – coloca como central ao projeto teórico marxista as


condições nas quais os princípios do igualitarismo radical podem ser traduzidos em um
projeto político prático.
c) Tese anticapitalista – o capitalismo bloqueia a possibilidade de alcançar uma
distribuição radicalmente igualitária das condições materiais de vida.
Essas teses são pressupostos que definem o contexto mais amplo para pensar o conceito
de classe que na análise marxista pretende facilitar a compreensão das condições para a
busca dessa agenda normativa.
II – esclarecimentos sobre a análise de classe e a ideia de exploração
O autor expõe oito questões conceituais relevantes na elaboração do conceito de classe.
Dando enfoque as relações e a estrutura de classe e não as variações políticas como
formação e luta de classe.

a) relações sociais de produção


O sistema de produção requer o emprego de uma gama de bens, recurso ou fatores de
produção como máquinas, terras, matérias-primas e mão de obra. Pessoas que
participam na produção têm diferentes tipos de direitos e poderes sobre os recursos e os
resultados de sua utilização.

Obs.: Por poder – controle efetivo do uso e disposição desses recursos.


Por direito – a legitimidade dada pelo Estado.
Ex.: direito de propriedade.
Na maioria dos contextos em um sistema estável de relações de produção há uma íntima
conexão entre direitos e poderes, mas as pessoas podem ter um controle efetivo e
durável sobre recursos sem que esse controle seja reconhecido legalmente como direito
de propriedade.
b) relações de classe como uma forma das relações de produção
Quando os direitos e poderes das pessoas sobre os recursos produtivos são distribuídos
de forma desigual essas relações podem ser descritas como relações de classe.
Observando que se trata de direitos e poderes dos recursos enquanto empregados na
produção cuja desigualdade não está na simples propriedade dos recursos, mas na
apropriação dos resultados do uso dos recursos.
c) variações nas relações de classe
Diferentes tipos de relações de classe são definidos pelos tipos de direitos e poderes
incorporados nas relações de produção. Na tradição marxista existem três tipos relações
de classe: escravismo, feudalismo e capitalismo.
d) o problema da complexidade nas relações concretas de classe
Segundo o autor a análise de classe na tradição marxista é simplista e polarizada. Essa
imagem é equivocada, pois sociedades situadas no espaço e no tempo nunca são
simples, portanto a tarefa da análise de classe é dar precisão a complexidade e explorar
suas ramificações.
– Dois tipos de complexidade:
1. Na maioria das sociedades diferentes tipos de relações coexistem e se interligam de
várias maneiras.

Ex: coexistência de relações de classe escravista e capitalista no sul dos E.U.A.; e uma
vez entendida a burocracia de Estado sobre os meios de produção como uma relação de
classe distinta, a sociedade capitalista combina o capitalismo com relações de classe
estatais.
2. Os direito e poderes que as pessoas podem ter sobre dado recurso são na verdade
feixes complexos de direito e poderes, não simples direito de propriedade
unidimensionais.

Obs: ter direitos e poderes não significa ter controle absoluto das coisas. Dimensões do
direito de propriedade podem ser transferidas do capitalista para agentes coletivos com
o Estado e o sindicato.

As estruturas capitalistas de classe podem variar consideravelmente dependendo das


formas específicas com que esses direito e poderes são rompidos, distribuídos e
recombinados e um dos objetivos da análise de classe é compreender as consequências
dessas formas de variação das relações de classes.

e) situações de classe

O debate sociológico de classe trata mais da situação de classe do que de relações de


classe acompanhando as pesquisas empíricas que situam os indivíduos na estrutura de
classe. Na análise de classe significa atribuir aos indivíduos um lugar dentro das
relações de classe.

f) complexidade nas situações de classe

No capitalismo, a relação fundamental de classe é a relação capital/trabalho, e isso


determina duas situações de classe, a dos capitalistas e a dos trabalhadores. Mas
dificilmente um modelo polarizado daria conta de explicar as diversas experiências
subjetivas das pessoas no trabalho, as coalizões nos conflitos políticos.

Duas opções:

1) Manter o modelo simples de “duas classes” e então acrescentar à analise


complexidades que não são tratadas como tais na mera localização de classe. Um
conjunto de variáveis concretas relativas às condições de trabalho que são relevantes
para entender essa experiência específica – graus de autonomia, proximidade com
instâncias de supervisão, níveis de responsabilidade, complexidade cognitiva das
tarefas, demandas física, perspectivas de produção etc.

g) macro e microanálise de classe

h) “agência” de classe

Fobia
III – pretensões explanatórias centrais da análise de classe

IV – marco distintivo do conceito marxista em relação ao weberiano que envolve a


elaboração do conceito de exploração. (mecanismo causal)

V – as recompensas da análise marxista

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