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Introdução às

Ciências Sociais
Sebenta - 2º Teste (Parte 1)
Comissão de 1º ano – Carolina Silva

Este é um trabalho realizado por


alunos, pelo que não está livre de
conter gralhas ou falta de
informação.
1.4 – A economia e os diálogos interdisciplinares

Disciplinas interdisciplinares: efetuam diálogos entre distintas abordagens disciplinares:


o Complementaridade: pontos de vista diferentes, mas sabem-os e respeitam;
o Cruzamento, interseção.

A economia relaciona-se com a psicologia, por exemplo, devido ao crescente interesse dos
economistas pelo comportamento. Existe, até, a área da economia comportamental, que se
foca na compreensão das escolhas e comportamentos do ser humano. É importante referir
Gary Becker cujo interesse estava voltado para o estudo das escolhas do quotidiano.

Um dos fatores que faz a economia ser considerada uma ciência social por se relacionar e ser
útil para outras ciências. (interdisciplinariedade)

A visão dos especialistas em economia e a relação com as outras ciências sociais:

 Os economistas que publicam em revistas prestigiadas, p.e., citam bastantes outros


economistas e outras revistas de sucesso, mas citam muito pouco artigos ligados, p. e.,
à ciência política (0,5% no caso da American Economic Review) ou à sociologia (0,3%).
 Para muitos economistas a ideia de interdisciplinariedade reflete-se nos modelos
económicos e utilizá-los a outros campos.
 O diálogo interdisciplinar tornou-se complicado devido ao facto de ser necessário
explicar e justificar conceitos, modelos, pressupostos, devido à ausência de
conhecimentos prévios.
 A interdisplinaridade, apesar de apoiada por muitos e fazer sentido, é difícil de
concretizar. Não é fácil marcar a fronteira entre um diálogo interdisciplinar e uma
dinâmica da economia (economicismo).

O que é a interdisciplinaridade, nas ciências sociais?

• Não significa a dissolução da organização disciplinar (e da sua utilidade, designadamente na


codificação, na disseminação e no ensino), nem a imposição hegemónica de uma disciplina e da
sua perspetiva própria face às restantes (caso em que ocorreriam erros como o economicismo,
o sociologismo ou o psicologismo);

• É um processo de convergência, de cooperação e de diálogo entre disciplinas, fundado na


complementaridade das suas perspetivas e muitas vezes exigido pela complexidade dos
processos sociais em análise. – apoia a ideia de um estudo mais detalhado e rigoroso sobre
determinado processo social.

• A interdisciplinariedade não pode ser vista de uma forma linear e uniforme, mas sim através
de planos.

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Três planos de interdisciplinaridade:

I. As problemáticas e os modelos próprios de uma dada ciência acolhem e incorporam


princípios e métodos oriundos de outras ciências:

o Sucedeu, historicamente, com a economia neoclássica (princípio-chave do equilíbrio


importado da física newtoniana) e com a revolução marginalista na economia
(matematização); Propostas atuais da economia evolucionista (incorporando e
adaptando ideias das modernas ciências da vida); ou da economia institucionalista
(procurando “puxar” a economia para dentro das ciências sociais e para mais próximo
da história ou da sociologia); ou mesmo da economia experimental e comportamental
(importando elementos da psicologia); etc.

NOTA: Ou seja, uma ciência X serve de base e sustentação de uma ciência Y.

II. Ciências diferentes, utilizando perspetivas diferentes, convergem para o esclarecimento de


processos (multidimensionais):

• Cada ciência aplica a sua perspetiva à elucidação de novas dimensões que não as que
originalmente ou habitualmente privilegia (ex.: Gary Becker e a generalização da escolha
racional) – "imperialismo económico"
- ex: Cabe à ciência política analisar o significado de certos resultados eleitorais, no entanto essa
análise é realizada com conhecimentos de sociologia, que a completam.

•A seleção operada pela perspetiva de cada ciência, em processos multidimensionais, requer


abordagens complementares que iluminem as dimensões que essa mesma seleção coloca na
sombra (p. ex., Ronald Coase e a economia como "sistema aberto"; A. Deaton).
- ex: Como a economia se centra no estudo dos mercados, tem de ter em conta conhecimentos
de sociologia e de política que dizem sobre tradição e autoridade.

III. De uma convergência regular resulta um processo de comunicação preferencial e influência


recíproca, levando à formação e desenvolvimento autónomo de:
1. Domínios científicos multidisciplinares – ex.: ciências empresariais, ciências jurídicas, ciências
da comunicação;
2. Disciplinas de interseção - ex.: sociologia económica, psicologia económica, geografia
económica, antropologia económica, economia da cultura, etc. (a própria ciência política,
influenciada pelo direito, pela história das ideias e dos sistemas, pela sociologia e pela
economia).

--- Sociologia económica: estuda, por exemplo a troca, o consumo de bens e serviços escassos,
etc., de uma perspetiva e utilizando modelos e teorias sociológicos. Esta área do conhecimento
é relevante, uma vez que estes fenómenos não são puramente económicos.

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NOTA:

Disciplinas: formas canónicas de organização do conhecimento científico. Resultam do


desenvolvimento expansionante das ciências e das dinâmicas de especialização, cruzamento e
interseção.

Daí resulta uma tensão entre diferentes movimentos:

 Disciplinares: afirmação de identidades e fronteiras;


 Transdisciplinares: desafiam e atravessam fronteiras;
 Interdisciplinares: efetuam diálogos intensos entre distintas abordagens
disciplinares;
 Pluridisciplinares: convergem a partir de diferentes abordagens disciplinares
para problemas comuns.

Esta tensão é produtiva: devemos


valorizar a organização disciplinar
e comunicação interdisciplinar.

Alguns domínios de interceção:

1) Sociologia económica: Pode ser definida simplesmente como a perspetiva sociológica


aplicada ao fenómeno económico. A aplicação de quadros de referência, variáveis e
modelos explicativos da sociologia a atividades complexas relacionadas com a
produção, distribuição, troca e consumo de bens e serviços escassos.

Princípio central: A ação económica enraíza-se na sociedade: contextos sociais e redes.

A estrutura social, especialmente na forma de redes sociais, afeta os resultados económicos


por 3 razões principais:

 As redes sociais afetam o curso e a qualidade da informação. Muita informação é


alterada e difícil de averiguar o que leva a que o ator não acredite em fontes
impessoais e, em vez disso, confie em quem conhece;
 As redes sociais são uma fonte importante de recompensa e punição, já que o seu
impacto é geralmente maior quando é proveniente de alguém que se conhece
pessoalmente;
 Confiança – confiança de que os outros farão o que está “certo” apesar dos
incentivos para o contrário, que pode emergir no contexto das redes sociais.

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Uma tradição intelectual com vários interesses em comum - Exemplos:

• Karl Marx (1818-1883): a importância das classes sociais, do trabalho e das relações de
produção;

• Georg Simmel (1858–1918): o papel sociológico do dinheiro e o papel da confiança e da


competição na economia;

• Émile Durkheim (1858-1917): a divisão do trabalho na perspetiva da coesão social (crítica a


Adam Smith);

• Max Weber (1864-1920): complementaridade entre economia e sociologia - importância da


história e a teoria da "ação económica social" (sentido, utilidade e orientação para o outro);

• ...

A relação entre alguns economistas e sociólogos manteve-se, embora com menor peso e
influência, ao longo do século XX – Exemplos:

• Joseph Schumpeter (1883-1950): a economia como uma "economia social" (capitalismo,


democracia e instituições, empreendedorismo);

• Karl Polanyi (1886-1964): análise histórica do capitalismo e a tese da "grande transformação"


operada pelo capitalismo industrial moderno (a sociedade "dentro" da "economia" e os riscos
da "desincrustação" social) ;

• Talcott Parsons (1902–1979): a economia como um subsistema social, importância das


normas e dos valores (críticas ao utilitarismo económico).

Final do século XX – consolidação da disciplina a partir de meados de 1980 ("nova sociologia


económica"):

A razão para a sociologia económica ter reaparecido subitamente, após décadas de negligência,
em meados dos anos 80 não é claro. Vários fatores podem ter desempenhado um papel,
intrínsecos ou não à sociologia. No início dos anos 80, uma nova ideologia neoliberal tinha-se
tornado popular, o que colocou a economia (e os economistas) no centro de tudo. Em meados
dos anos 80, os economistas também começaram a redefinir a fronteira que tradicionalmente
separavam a economia da sociologia e a fazer investigações em áreas que os sociólogos viam,
tradicionalmente, como seu território. Do mesmo modo, os sociólogos começaram, também, a
debruçar-se sobre tópicos económicos.

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ECONOMIA VS SOCIOLOGIA:

“Os sociólogos criticam frequentemente os economistas por produzirem modelos formais e


abstratos, ignorando a informação empírica, e os economistas criticam os sociólogos pelas suas
interpretações postfactum" (Merton).

Aplicação: A empresa

A empresa é a configuração organizacional mais importante do mundo contemporâneo.

o Para Adam Smith, a empresa é a distinção entre proprietários, gestores e empregados.

o Para Alfred Marshall, “o papel das organizações” é tão importante quanto o do capital,
do trabalho e da Terra. (…) Diferentes tipos de empresas e de relações com a sua
propriedade condicionam as possibilidades de risco e de inovação.

o Para Max Weber, as empresas modernas são uma forma de organização capitalista
ocidental – organizações de natureza associativa, por vezes voluntária, baseadas em
relações sociais fundadas em interesses comuns. O seu principal objetivo é o lucro. A
sua eficiência depende da possibilidade de previsão, pelo que requer a existência de um
estado e de um sistema jurídico racionais.

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PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DAS EMPRESAS:

(As empresas são um tipo particular de organização)

1. O seu principal objetivo é o lucro (o que influencia a sua estrutura e o seu comportamento;
esse objetivo determina o seu sucesso ou insucesso).

2. O sistema jurídico trata as empresas de forma diferente das outras organizações e define as
condições de constituição, comportamento e dissolução das empresas (as empresas configuram
uma ordem económica legítima).

3. São um tipo particular de instituições, diversas e com histórias próprias no âmbito da


evolução das sociedades (em especial capitalistas).

4. Os interesses económicos presentes nas empresas são muito variados, e essa diversidade
condiciona profundamente o seu comportamento e o seu poder (ex.: as empresas são os
principais empregadores nas sociedades contemporâneas; os investidores dependem do lucro
das empresas; as empresas controlam mais recursos económicos do que quaisquer outras
organizações, o que lhes dá um grande poder de decisão sobre esses recursos; o trabalho
constitui um contexto de socialização central, assim como o principal estruturador de
identidades, posições e estatutos sociais).

A Empresa – Abordagens Económica vs. Sociológica

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2) Geografia económica: as perguntas centrais focam-se em como os padrões económicos
se configuram ao longo do espaço e a razão para diferentes fenómenos acontecerem
em diferentes locais. O espaço é uma parte ativa da explicação de padrões geográficos,
o que significa que certas atividades económicas são condicionadas por relações
espaciais – o espaço não é simplesmente onde as coisas acontecem, mas também a
razão de elas acontecerem onde acontecem.

Herança intelectual (exemplos):

• Alfred Marshall (1842-1924): a importância das condições externas às empresas - os


"territórios industriais" (clusterização urbana e regional);

• Ronald Coase (1910-2013): os custos de transação não dependem apenas dos transportes,
mas também da circulação da informação (anos 1930) – Prémio Nobel em 1991;

• Paul Krugman (1953-): Nova geografia económica (anos 1980): comércio internacional,
mercado de trabalho e clusterização – Prémio Nobel em 2008.

Do espaço como recurso económico (ex.: custos de transporte, lugares centrais e periferias) à
consideração da "economia de proximidade" (anos 1950-60) – Evolução da Geografia Económica

Ilustração: As cidades e a economia criativa

A importância económica das cidades (re)surgiu na transição do século XX para o século XXI: as
cidades como motores de desenvolvimento no âmbito da Economia criativa e do conhecimento.

Se o rápido alastramento global da Internet e das tecnoligias de mídia digital nos anos 90 já
tinha despoletado entusiasmo pela nova economia do pós-guerra, 2000-2010 viu uma busca
energética dos artistas, empreendedores, investidores, jornalistas, entre outros pelas fontes de
de criatividade. A criatividade era vista como a fundação para a inovação e a inovação era vista
como o novo principal fator do crescimento económico.

Com a sua diversidade de indústrias, mão de obra e habilitações, assim como diversidade
cultural, as cidades podem ser centros de coordenação entre uma diversa base de
conhecimento e a sua proximidade geográfica promove fluxos de conhecimento, alastramento
de ideias e novas formas de empreendedorismo.

Alguns dados sobre as cidades:

• Mais de metade da população mundial vive em áreas urbanas (55.3%, 2018, Nações Unidas);

• As maiores cidades são principalmente cidades de países menos desenvolvidos; e as que


apresentam crescimento mais rápido localizam-se em países menos desenvolvidos;

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• Uma parte significativa da produção de riqueza é gerada nas cidades – das 10 cidades
economicamente mais ricas estimadas para 2020, 4 situam-se nos Estados Unidos;

• As principais instituições (financeiras, de governo, de ensino e investigação, centros


coordenadores de empresas…) localizam-se nas principais cidades e operam internacional e
globalmente;

• As cidades são as principais responsáveis pela emissão de dióxido de carbono (c. de 70%,
Nações Unidas, 2016);

• É nas cidades que se encontram as maiores desigualdades sociais e económicas e não se têm
atenuado (75% das cidades tinham em 2016, níveis de desigualdade maiores do que em 2006);

Um grande problema das cidades criativas (sendo que geralmente estas


tomam lugar nos maiores centros urbanos) é que não é possível
responder à questão da causalidade. Por outras palavras, as indústrias
criativas agrupam-se nas cidades mais globais por causa dos seus
centros de atividade comercial global ou são estas cidades que se
tornam centros de atividades de comércio global devido às suas
características culturais e atributos criativos das suas populações?

Efeitos de aglomeração e externalidades – alguns exemplos:

POSITIVOS:

• Proximidade das principais instituições (bancos, governos, universidades e centros de


investigação, sedes de empresas…);

• População qualificada e "massa crítica" (ex.: empreendedorismo – start-ups – e inovação);

• Ambiente cultural, clusterização e economia do conhecimento (especialização e


complementaridade - ex.: Los Angeles, Silicon Valley);

• Redes de cidades à escala global (hierarquização e poder);

• Qualidade de vida e acessibilidades.

NEGATIVOS:

• "Comunidades fechadas" (de elite e de pobreza extrema);

• Esvaziamento dos territórios envolventes (redes globalizadas sobrepostas aos territórios


nacionais e regionais) e atratividade;

• Poluição e acessibilidades;

• Esvaziamento dos centros e "turistificação”.

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3) Economia da Cultura – OBJETO DE ESTUDO:

o Artes performativas (música, dança, ópera, teatro);


o Artes plásticas e visuais (pintura, desenho, serigrafia, fotografia, escultura,
artesanato, etc.);
o Literatura (poesia, ficção, dramaturgia, argumento cinematográfico, etc.);
o Património e instituições de arte e cultura (museus, monumentos, bibliotecas,
arquivos, etc.);
o Segmentos de indústrias culturais (cinema, música, edição, vídeo-arte, media artes,
etc.);
o Segmentos das indústrias criativas (arquitetura, design, publicidade, videojogos,
etc.);
o Segmentos da cultura, no sentido antropológico (ex.: impacto da cultura no
desenvolvimento económico).

CARACTERÍSTICAS DOS BENS E SERVIÇOS CULTURAIS:

 Algum input de criatividade;


 Possuem um sentido (ou mensagem) simbólico(a);
 Contêm, potencialmente pelo menos, alguma forma de propriedade intelectual;
 O seu valor não se exprime (ou exprime-se de forma imperfeita) em preços de
mercado; nem no que a economia designa pela "disponibilidade para pagar";
 Papel da transmissão intergeracional de valores, memória e identidade;
 Valor estético e/ou mesmo espiritual.
 Consumo "path-dependent" (cumulativo) e dependente de uma familiaridade
(aprendizagem) prolongada;
 Papel da educação – relativa rigidez da procura;
 Importância da reputação e dos intermediários;
 Mercado de trabalho: apesar da diversidade, predomínio do trabalho individual ou em
microorganizações (ex.: artistas), "produção" intensiva com elevados custos fixos e
procura geralmente insuficiente para autossustentabilidade comercial ("doença dos
custos");
 Star-system e "oligopólio com franjas”.

Questões de politica pública:

Políticas públicas para as artes, património, as indústrias criativas, comércio cultural, entre
outros, podem ser agrupados sob o nome de ‘política cultural’. Dado o conteúdo económico
significativo de todas estas áreas, pode-se esperar que a teoria e análise económicas
continuarão a dar uma contribuição importante para a formulação de políticas nesse campo no
futuro.

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4) Antropologia económica: De uma forma simples, é a descrição e análise da vida
económica, utilizando uma perspetiva antropológica que, por sua vez, aborda aspetos
da vida individual e coletiva das pessoas (ex.: crenças religiosas, consumo, organização
familiar, atividades produtivas), ou seja como as suas vidas e sociedades se relacionam
de forma interconectada (não necessariamente organizada e delineada).
Outro conjunto de aspetos também importante da vida das sociedades é a relação
entre o que as pessoas dizem e o que, por outro lado, fazem.

Vida económica são as atividades através das quais as pessoas produzem, distribuem e
consomem bens – forma como os indivíduos e as sociedades asseguram a sua subsistência. A
Antropologia económica analisa como diferentes áreas da vida são afetadas pelos mercados/
outras formas de produção/ distribuição/ consumo e como estes são, por sua vez, afetados por
aspetos da vida social e cultural.

- - - Na perspetiva da antropologia, a economia (como qualquer outra dimensão das


sociedades) não é um dado, é um conceito que deve ser explicado e compreendido à
luz, por exemplo, da história da cultura ocidental moderna, e do poder que o campo
económico adquiriu no mundo contemporâneo.

Principal método: Observação direta participante (pesquisa de terreno);

Difícil generalização, porém contextualização e interpretação fortes.

O papel da dimensão cultural - alguns exemplos:

• Desenvolvimento humano;

• Economia criativa;

• Desigualdades (sociais, de género, étnicas…);

• Consumo, "necessidades" e "preferências”;

• Migrações e globalização;

• Sistemas produtivos locais, formação de preços, mercados, etc.

5) Psicologia e ecónomia: a psicologia económica é o estudo interdisciplinar dos


comportamentos económicos de indivíduos e do impacto do estado e natureza da
economia no seu comportamento e estado mental.

Geralmente concentram a sua atenção em questões como:


 psicologia da poupança, dívida e investimento;

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 psicologia do dinheiro e dos impostos (tanto em termos de cumprimento como
de contorno aos impostos por parte dos indivíduos e como o sistema e
impostos os afeta psicologicamente);
 impactos psicológicos de grandes mudanças económicas (ex. Crise financeira;
insustentabilidade ecológica de alguns modelos económicos atuais).

PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA:

• Falta de consenso relativamente à classificação da Psicologia como uma ciência social:


fronteira entre o social e o "natural" (biológico), com uma extensa variedade de
aplicações/domínios (ex.: Backhouse, 2010; definição da Associação Americana de Psicologia
[APA]);

• Importância da dimensão clínica e experimental no pós-II Guerra, especialmente nos EUA


(forte domínio americano);

• Um esforço de orientação para o social;

• Mas prevalência de uma fragmentação interna muito grande (na APA - criada em 1947 – há
54 áreas de especialização…).

Persistente afastamento entre a Economia e a Psicologia durante grande parte do século XX:

A primeira hipótese para explicar esta separação é que os economistas adotaram certos
pressupostos do comportamento humano e mantiveram-os firmemente apesar de haver
evidência de os mesmos estarem incompletos e até falsos. Isto devia-se ao seu papel central
nas teorias de mercado emergente em que a imagem completa de um sistema de mercado
competitivo assentava.

A suposição simplificada da racionalidade económica (os atores comportam-se


conscientemente para maximizar o que gostam e minimizar o que não gostam) possibilitou a
construção de modelos simples que levaram a previsões úteis na prática, em várias situações.
No entanto, este pressuposto também teve muitas críticas.

Contrariamente, os modelos de Psicologia tornavam-se cada vez mais complexos ao longo deste
período (séc.XX), com cada vez mais variáveis em consideração, muitas delas sem unidade de
medida.

A segunda hipótese (muito relacionada com a primeira) é que o compromisso ideológico da


maioria dos economistas que retomam ao século XVIII era uma tradição utilitária, enquanto que
os psicólogos tinham compromissos especialmente com a teoria da evolução moderna, o que
dificultou a sua cooperação. Adicionado a isto, a tradição dos economistas foi reforçada pela
sua “revolução marginal” da década de 70, que sugeria que valores utilitários relativamente
estáveis podem ser medidos e tratados matematicamente. A postura cética dos psicólogos
perante qualquer explicação simples da ação humana, como o utilitarismo, foi a segunda razão
para as disciplinas terem uma difícil cooperação.

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RECENTEMENTE, já houve algumas trocas de ideias entre as 2 disciplinas:

Factores de aproximação recente da Economia à Psicologia:

[Permanência da abordagem individualista]

- Revolução informacional, via TIC's (tecnologias da informação e da Comunicação, final séc. XX:
"Economia informacional global" (Manuel Castells, 1992);

- Desenvolvimentos (matemáticos) na teoria dos jogos (John Nash, início 1950's e Prémio Nobel
1994);

- Economia comportamental e experimental como complemento ou alternativa ao paradigma da


escolha racional: anos 1990.

DUAS GRANDES VIAS DE INTERAÇÃO:

1. Centrada no paradigma dominante (escolha racional)


Processos de decisão baseados em processos cognitivos diversos (como inputs para as
escolhas):
 Perceções e emoções (condicionadas)
 Atitudes (aprendidas)
 Motivações (eventualmente inconscientes)
 Reações (diferentes) a estímulos ou incentivos
 Contextos (reais) de incerteza

2. Alargada às condições socioculturais e socioconómicas dos agentes (limitações ao


princípio da maximização da utilidade e consideração do fator tempo – "utilidades
futuras" e dinâmicas)
 Bem-estar (subjetivo)
 Desenvolvimento humano e 'empowerment'

Ilustração: A 'medida' da felicidade - Schutzer & Frey, 2012

. ver gráficos dos slides 61 – 63 .

• Metodologias apoiadas em inquéritos e alguma experimentação.

• Multiplicação de fatores (provavelmente) determinantes e causalidade circular: rendimento,


(des)emprego, família, relações de sociabilidade e "capital social", etc. Exemplos:

o A posse de um rendimento mais elevado tende a induzir maior bem-estar subjetivo;


mas pessoas "mais satisfeitas" tendem a ser melhor sucedidas na vida social e
económica e a obter rendimentos mais elevados;

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o A situação de desemprego tende a induzir "menor felicidade", mas indivíduos "menos
felizes" tendem a mostrar mais dificuldades em obter um emprego ou a manter o atual;
o A importância da quantidade e qualidade das relações interpessoais (capital social):
"bens relacionais" (ex.: voluntariado);
o A relação entre (qualidade da) saúde e esperança de vida tende a ser condicionada pelo
bem-estar subjetivo (incluindo a história da saúde familiar);
o O consumo como marca de estatuto social (condicionamento da avaliação sobre o
equilíbrio trabalho-vida familiar; sobre o papel do rendimento; sobre as expectativas).

• Avaliação contingente: "disponibilidade para pagar", "experiência acumulada" (socialização),


externalidades como determinantes do valor. Exemplos: avaliação de bens e serviços públicos
(ex.: amenidades ambientais; avaliação da relação com as gerações futuras).

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