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XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO

Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil


João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

ANÁLISE DE QUALIDADE NA
AQUISIÇÃO DA MATÉRIA-PRIMA PET
A SER RECICLADA PARA A INDÚSTRIA
TÊXTIL E DE EMBALAGEM
Liliane Dolores Fagundes (UNIFAL )
ldfagundes@yahoo.com.br
Paula Figueiredo (UNIFAL )
paulinha_figueiredo27@hotmail.com
Leticia Heldt (UNIFAL )
leticiaheldt@hotmail.com

A reciclagem de Poli Tereftalato de Etileno (PET) mostra-se crescente


no setor industrial brasileiro como matéria-prima na fabricação de
outros produtos. Este fato tem uma grande relevância do ponto de vista
da sustentabilidade, com ganhos ambientais, sociais e econômicos. No
entanto, é necessária uma análise mais detalhada dos aspectos
relacionados à qualidade desta matéria-prima originada do pós-
consumo, uma vez que ela possui características diferentes das
matérias-primas tradicionais. Este trabalho tem como objetivo utilizar
ferramentas da qualidade para analisar o processo de aquisição do
PET que será reciclado por uma empresa fabricante de fibras têxteis e
de embalagens. Os resultados mostram um processo de aquisição mais
complexo que o convencional. Para auxiliar nas dificuldades
encontradas na indústria estudada foram elaborados indicadores de
desempenho. Através destes indicadores é possível realizar um ranking
para a classificação dos fornecedores que abastecem a empresa com
material de melhor qualidade para a recicladora.

Palavras-chave: Qualidade de matéria-prima, ferramentas da


qualidade, indicadores de desempenho
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1. Introdução

O enfoque na qualidade em todas áreas de uma empresa é necessário para a obtenção de bons
resultados e consequente satisfação dos clientes. A qualidade do produto começa com o uso
de matérias-primas de excelência, conforme orientado pelo item 7.4 da ISO 9001 (2015) que
trata de quesitos para aquisição de matérias-primas. Este trabalho foca na etapa inicial do
processo de produção, a aquisição da matéria-prima, porém de uma matéria-prima reciclada, o
Poli Tereftalato de Etileno (PET).

As embalagens plásticas ganharam espaço na sociedade nas últimas décadas devido ao seu
conjunto de propriedades e ao seu baixo preço. No entanto, o aumento do uso e consequente
descarte destas embalagens têm levantado discussões nos mais diversos âmbitos da sociedade,
principalmente no que diz respeito à reciclagem dos materiais plásticos (DIAS; TEODÓSIO,
2006; BEZERRA et al., 1998).

As embalagens PET são as que apresentam a maior proporção entre os plásticos dentro do
lixo urbano brasileiro, contudo, também são as mais visadas à reciclagem (BEZERRA et al.,
1998). De acordo como Compromisso Empresarial para Reciclagem- CEMPRE (2016),
estima-se que, somente nas regiões metropolitanas brasileiras, sejam geradas cerca de 6
bilhões de embalagens PET por ano.

Se por um lado existe grande quantidade de PET descartado, para contrabalancear, segundo a
Associação Brasileira da Indústria do PET- ABIPET (2016), o Brasil aparece no cenário atual
como um dos países com grande desenvolvimento em relação à reciclagem de PET por todo o
território nacional. Ainda de acordo com a ABIPET (2016), a reciclagem do PET tem
apresentado constante e significativo crescimento, de 167 mil toneladas em 2004 para 331 mil
toneladas recicladas no ano de 2012. O PET reciclado apresenta as mais diversas aplicações,
entre elas está o uso no setor de construção civil (tubos, juntas, etc.), no próprio setor de
embalagens e na indústria têxtil com a produção de fibras de poliéster, que é o maior destaque
de aplicação do material reciclado em questão.

Por ser um produto 100% reciclável o PET apresenta múltiplos benefícios, os quais abrangem
os âmbitos econômico, ambiental e social. No que diz respeito às vantagens econômicas,
ressalta-se que a reciclagem de PET é geradora de empregos e impostos. No quesito
ambiental a reciclagem de PET colabora com a redução da poluição, e também reduz o uso de

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água, energia elétrica e recursos naturais. E por fim, mas não menos importante, a reciclagem
de PET no Brasil também apresenta vantagens sociais viabilizando a remuneração de
trabalhadores em cooperativas e também de catadores do material reciclável.

Apesar de suas vantagens, a reciclagem de embalagens PET passa por grandes desafios, uma
vez que o mercado de venda proveniente do pós-consumo ainda se apresenta,
majoritariamente, como um mercado informal e com pouca fiscalização. Além disso, enfrenta
dificuldade de fidelidade com os fornecedores (cooperativas, sucateiros) o que dificulta cada
vez mais o controle de qualidade desta matéria-prima.

Dentro deste contexto, o presente trabalho tem como objetivo analisar o processo de obtenção
da matéria-prima PET para reciclagem, com o intuito de posterior utilização na produção de
embalagens e, também, no emprego na indústria têxtil. Com esta análise será possível levantar
as dificuldades na obtenção da matéria-prima PET que poderão ocasionar problemas de
qualidade.

2. Revisão Bibliográfica

Neste item são descritos os principais conceitos relacionados com o trabalho e realizada a
contextualização do cenário atual de reciclagem de PET no Brasil.

2.1. Matéria-prima reciclada

A produção de fibras têxteis de poliéster, bem como de garrafas PET pode acontecer não só
por via tradicional (reação entre PTA e MEG) bem como por uma rota de reciclagem. A
reciclagem de garrafas PET tem aumento crescente no Brasil como pode ser observado na
Figura 1.

De acordo com a Figura 1 houve um expressivo aumento do volume de PET reciclado de


1994 (13 ktons) para 2012 (331 ktons). Este aumento na reciclagem proporcionou o emprego
deste material reciclado em diversos seguimentos industriais, com destaque para a indústria
têxtil e de embalagens, que juntas consumem 56% do total reciclado (ABIPET, 2016). Ainda
no que se refere à reciclagem, cabe destacar que existem cerca de 490 recicladoras no Brasil,
dentre as quais cerca de 80% estão alocadas na região Sudeste do país (ROMÃO et al., 2009).

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Figura 1 – Evolução do índice de reciclagem de PET

Fonte: ABIPET (2016)

O PET, assim como qualquer outra matéria-prima, deve seguir normas e requisitos para que
produtos de excelência sejam produzidos, sendo a ISO 9001 uma referência. Segundo
Associação Brasileira de Normas Técnicas- ABNT (2015) o prefixo ISO significa igualdade e
a expressão ISO 9001 designa uma série de normas técnicas, as quais estabelecem um modelo
de gestão da qualidade para organizações em geral. O tópico 7.4 da ISO 9001, refere-se ao
contexto de aquisição, o qual é pertinente para o trabalho atual, já que trata da aquisição e
problemática da matéria-prima de uma indústria. É importante ressaltar que este item da
norma enfatiza a necessidade de critérios para seleção, avaliação e reavaliação de
fornecedores, o que será realizado no presente trabalho.

2.2. Processo de aquisição de matérias-primas tradicionais

As matérias primas tradicionais no processo de fabricação de fibra têxtil ou para novas


embalagens na empresa em questão são o MEG e PTA. O MEG é um líquido viscoso e
incolor com alta solubilidade em água, possui estabilidade em condições normais para uso e
estoque, no entanto deve-se evitar que o mesmo esteja exposto a elevadas temperaturas ou que
entre em contato com produtos que apresentem incompatibilidade, tais como oxidantes forte,
ácido sulfúrico, isocianato entre outros (QUÍMICA CREDIE, 2012; BANDEIRANTE

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BRAZMO (2013). Já o PTA é um sólido cristalino e não possui solubilidade em água


(SILVA, 2012).

Devido ao fato de PTA e MEG serem comodities internacionais o processo de aquisição


destas matérias-primas geralmente não tem complicações. A negociação é mais voltada para
compra e venda do que para o lado da qualidade dos produtos, uma vez que este produto já
possui uma ficha de produto crítico a qual tem suas descrições, especificações e inclui
também uma lista de fornecedores homologados pela empresa.

Além disso, quando o produto é levado para a empresa ele deve possuir o laudo Certificado de
Análise (COA) o qual é requerido pela empresa. Após a chegada à empresa uma amostra de
cada produto é recolhida para que alguns parâmetros sejam analisados e também uma amostra
é guardada para futuras análises caso seja necessário. Outra forma de análise feita para o caso
do MEG é a análise visual da carreta que transporta o produto químico, o objetivo de
identificar possíveis contaminações que possam ser provenientes da própria carreta.

2.3. Processo de aquisição do PET

Vezzà e Cotait (2015) citam que a aquisição de garrafas PET pós-consumo se dá


principalmente por meio de cooperativas. Os mesmos autores relatam que estas cooperativas
foram criadas de forma a tornar a coleta das garrafas utilizadas mais profissionalizada,
propiciando assim, melhor qualidade de trabalho para os catadores de recicláveis. Também
foram criadas com o intuito de promover uma aproximação mais fácil com as indústrias
recicladoras. As cooperativas buscam lucratividade na venda de fardos de garrafas PET.

A ABIPET (2016) informa que os preços de fardos passados pela cooperativa para indústrias
de reciclagem sofrem elevação quando o fardo for composto apenas por PET, uma única cor
de garrafa e de acordo com o seu peso. Ainda haverá aumento em seu valor caso o mesmo
possua somente garrafas que envasaram produtos oleosos, ou ainda se o fardo for proveniente
de coleta seletiva.

3.Desenvolvimento

Com a finalidade de conhecer o processo de aquisição da matéria-prima PET foram realizadas


visitas à uma empresa produtora de fibras têxteis e embalagens. Através de conversas com os
responsáveis pelos setores envolvidos na compra, recebimento e inspeção das matérias-
primas, e de visitas à área para acompanhar a prática cotidiana, foi possível identificar as
diferenças no processo de aquisição e recebimento do PET comparado com o MEG E PTA.

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As Figuras 2, 3, 4 e 5 mostram os fluxogramas de recebimento das três matérias-primas em


questão.

Figura 2 - Fluxograma de aquisição, recebimento e inspeção do MEG

6
Ordem de Escolha de Programação de Recepção na Pesagem do
compra de MEG fornecedor entrega empresa caminhão

Avaliação da NF e
Encaminhar ao
OK? certificado de
setor de utilidades
qualidade
SIM NÃO

Devolução da
Coleta de amostras
mercadoria para o
da mercadoria
pátio

Análise/avaliação da amostra
pelo setor de utilidades

Fonte: elaborado pelos autores (2016)


OK?
SIM NÃO
NÃO Devolução da carreta

Descarregamento e Encaminhar para o


setor de qualidade
OK?
Liberação para a utilização
Descarregamento e
da MP Liberação para a utilização
SIM
da MP
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Figura 3 - Fluxograma de aquisição, recebimento e inspeção do


PTA

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Ordem de Escolha de Programação de Recepção na Pesagem do
compra de PTA fornecedor entrega empresa caminhão

Avaliação da NF e Encaminhar ao
OK? certificado de qualidade setor de utilidades

SIM NÃO

Avalia aspecto/presença Devolução da


de contaminante mercadoria para o pátio

OK?
NÃO SIM

Coleta de amostra Liberação

Envio para o Controle de


Qualidade

NÃO SIM
Devolução OK?
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Fonte: elaborado pelos autores (2016)

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Figura 4 – Fluxograma de aquisição, recebimento e inspeção do


PET

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Ordem de SIM Agenda a Recepção da
Seleção de Fornecedor Inspeção
compra de PET fornecedor credenciado? entrega da MP MP na CRF visual da
1

NÃO

Etapas de Agenda da Recepção da


credenciamento
Compra
entrega da MP MP na CRF

Contatar Informar setor NÃO Inspeção


Devolução OK?
fornecedor de compras visual da carga

NÃO SIM

Escolha de um SIM Conforme Pesagem por Pesagem da


Descarregar
fardo nota fiscal? tipo MP total
MP
(aleatoriatório)

NÃO Informar CQ e
Pesagem do Inspeção OK? Contatar
fardo setor de
visual fornecedor
compras
SIM

Abertura do
fardo

SIM Material NÃO Identificação e Separação das Pesagem


Contatar Comunicar 2
estranho? pesagem do material garrafas conforme das garrafas
fornecedor supervisão de amarração categorias separadas
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Figura 5 (continuação) – Fluxograma de aquisição, recebimento e inspeção do


PET

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SIM NÃO Contatar
Pesagem da Pesagem por Conforme Informar setor de
1 OK? fornecedor
MP total tipo Nota fiscal? compras

NÃO SIM

Terminar o
Devolução descarregamento

Contatar
fornecedor

Informar setor
de compras

NÃO

Preenchimento do Envio da planilha de SIM Liberado


2 check-list de "Inspeção "Inspeção de fardos" OK?
de fardos" para CQ e logística
para uso
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Fonte: elaborado pelos autores (2016)

Através do contato com a empresa e funcionários, ficou claro que os problemas de qualidade
relevantes relacionados com o PET estão no processo de aquisição. Utilizando fluxogramas
para realizar o mapeamento do processo ficou evidente a maior complexidade para aquisição,
recebimento e inspeção do PET do que para as matérias primas tradicionais. Também há
algumas divergências entre tais processos sendo possível realizar um comparativo entre tais
matérias-primas, que pode ser observado na Tabela 1.

Tabela 1 - Comparativo entre o processo de aquisição das matérias primas tradicionais e o PET

MATÉRIAS-PRIMAS
PET
TRADICIONAIS

Fornecedores credenciados ou em
Fornecedores homologados
fase de credenciamento

Existência de certificado de
Sem certificado de qualidade
qualidade

Análises laboratoriais para


Inspeção visual
inspeção de qualidade

Uniformidade da carga Não uniformidade da carga

Fonte: elaborados pelos autores (2016)

De posse dos fluxogramas e do quadro comparativo, pode-se ter uma visão geral das
principais diferenças entre a aquisição de PTA, MEG e PET. Entre tais disparidades,
destacou-se, principalmente, a maior facilidade de aquisição das matérias primas tradicionais,
as quais apresentam fornecedores homologados, bem como certificados de qualidade. Vale
ressaltar que o processo de credenciamento se apresenta como uma etapa rotineira para
qualquer empresa que possui uma nova matéria-prima em seu processo, o que exige a busca
por novos fornecedores e consequentemente o credenciamento de tais. No entanto, para o
credenciamento de fornecedores de PET para reciclagem, percebe-se que ainda existe um
baixo comprometimento dos mesmos com a empresa.

Outro aspecto de destaque foi o processo de inspeção das matérias-primas, sendo que as
tradicionais, além de possuírem os certificados de qualidade, ainda passam por análises
laboratoriais para que o seu descarregamento na empresa possa ser realizado com a certeza de

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se estar adquirindo um material de qualidade. Já com relação ao PET ocorre apenas a


inspeção visual, conforme pode ser observado no fluxograma.

3.1. Levantamento de problemas relacionados com a aquisição do PET

Para listar os problemas com a aquisição do PET, utilizou-se o Brainstorming. Segundo


Campos (2014) esta é uma ferramenta utilizada para se chegar a um vasto número de causas
possíveis de um problema. Tal prática deve ser desenvolvida em um grupo de pessoas,
preferencialmente multifuncional, para que as visões sejam diversas. Nesse método, o maior
esforço é concentrado na quantidade, e não na qualidade, das ideias. Posteriormente, analisa-
se e encontra-se as questões concordantes levantadas. Os problemas encontrados através do
Brainstorming podem ser observados na Tabela 2.

Tabela 2 - Brainstorming a respeito das dificuldades de aquisição do PET

BRAINSTORMING A RESPEITO DAS DIFICULDADES DE AQUISIÇÃO DO PET

1 Falta de fornecedores regularizados

Presença de objetos estranho no meio do fardo (Exemplos: agulhas, motores,


2
madeira)

3 Falta de fidelização

Informalidade dos fornecedores (falta de Nota Fiscal (NF); falta de organização


4
das cooperativas; comerciantes atravessadores)

5 Sujidade dos fardos

Mistura de vários tipos de garrafas no mesmo fardo, sendo que cada uma possui
6
um preço diferente (incolor/cristal; verde, azul e óleo)

7 Mistura de diferentes tipos de fardos no caminhão

8 Tamanho e peso do fardo fora de especificação

9 Nota fiscal com especificações diferentes as da carga entregue

10 Fornecedores localizados em cidades distantes da fábrica

Material de amarração/envolvimento fora de especificação (Exemplo: papelão;


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plástico)

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12 Matéria-prima de má proveniência

13 Falta de compromisso de entrega da matéria-prima por parte de fornecedores

14 Dificuldade em manter estoque de alguns tipos de garrafas

15 Dúvida da procedência das garrafas (catação)

16 Análise somente visual da carga

17 Falta de representatividade de amostras inspecionadas (cargas muito heterogêneas)

18 Fardos com amarração frouxa, causando o desmonte

19 Descarte/venda de garrafas não conformes ao processo (Exemplo: Sleeve)

20 Inspeção detalhada apenas para novos fornecedores

Fonte: elaborados pelos autores (2016)

A partir dos problemas levantados por meio da utilização do Brainstorming, foi utilizado o
Diagrama de Ishikawa. Esta ferramenta também conhecida como Espinha de Peixe ou
Diagrama de Causa e Efeito permite identificar, analisar e detalhar as causas, porém não tem a
capacidade de priorizá-las (MARTINELLI, 2009). Para facilitar a construção do diagrama, as
causas podem ser agrupadas utilizando os 6Ms: materiais, máquina, método, meio ambiente,
mão de obra e medida. (SELEME; STADLER, 2012)

A figura 6 mostra o Diagrama de Ishikawa para o problema em questão. As causas foram


identificadas conforme a numeração contida na Tabela 2.

Figura 6 - Diagrama de Ishikawa relativo a dificuldade da aquisição de PET

MÉTODO MÁQUINA MEDIÇÃO


1, 3, 4, 15, 16, 20 18 8, 9, 17

DIFICULDADE NA
AQUISIÇÃO DE PET

10 2, 5, 6, 7, 11, 12, 14, 19 13


MEIO AMBIENTE MATERIAL MÃO-DE-OBRA

Fonte: elaborados pelos autores (2016)

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Os ramos de Materiais e Métodos foram os que mais receberam atribuições devido à


dificuldade de aquisição de PET para a reciclagem. Os problemas atribuídos a essas áreas
estão diretamente relacionados ao fornecimento da matéria-prima a ser reciclada, pois nesse
caso o PET é muitas vezes proveniente do pós-consumo e a qualidade do mesmo não está
vinculada ao seu processo produtivo, mas sim, as condições com que as cooperativas os
adquire, os armazena e posteriormente os vende para empresas de reciclagem.

Com isso, nota-se que a empresa de reciclagem depende imprescindivelmente do fornecedor


para receber material de qualidade.

3.2. Elaboração de indicadores de qualidade

De acordo com Novochadlo (2009) o indicador de desempenho relaciona quantitativamente


uma determinada informação de acordo com as necessidades do cliente ou do processo da
empresa, sendo muito relevante em processos de tomada de decisão, gestão interna, alocação
de recursos, entre outros. Outra importância do levantamento de desempenho é que o mesmo
permite realizar o monitoramento, controle e até mesmo o aperfeiçoamento de diversas áreas
dentro de uma instituição. O mesmo autor enfatiza que para a utilização do Indicador de
Desempenho, é necessário que essa ferramenta seja clara e concisa, levando em consideração
os objetivos e metas da empresa. Além disso, para a implantação do indicador, deve-se atentar
a sua simplicidade, representatividade, flexibilidade de mudança, facilidade de identificação
da proveniência dos dados e estabilidade.

Diante da relação direta entre fornecedor e a qualidade do material recebido, uma solução
proposta para a empresa é realizar uma classificação de seus fornecedores de acordo com a
qualidade de material recebido conforme histórico de trabalho da empresa com os mesmos.

Assim foi proposto a criação de um ranking de qualidade dos fornecedores para diferentes
tipos de indicadores, os quais foram extraídos da Tabela 2, sendo eles:

- Sujidade do PET;

- Presença de materiais estranhos;

- Mistura de vários tipos PET no mesmo fardo (incolor/verde/óleo);

- Material incorreto de amarração;

- Má proveniência da matéria-prima;

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- Presença de garrafas que não são PET;

- Problemas com entrega (falta de confiabilidade);

- Organização dos fardos por tipo no caminhão;

- Carga diferente da especificada em nota fiscal;

Os seis primeiros indicadores estão diretamente relacionados com problemas de qualidade,


uma vez que cada um desses problemas afeta negativamente o material recebido. Já os três
últimos enquadravam-se como indicadores de logística que também podem afetar a empresa,
pois a existência de problemas nessa área pode ocasionar a falta de materiais necessários para
que a linha de produção possa operar.

As Tabelas 3 e 4 especificam os parâmetros de frequência de ocorrência e peso dado a cada


um dos indicadores.

Tabela 3 - Parâmetros dos Indicadores de Qualidade

Frequência de Peso
Indicadores de Qualidade
ocorrências Nomenclatura Valor

q1 Sujidade do PET p1 3

q2 Presença de materiais estranhos p2 2

Mistura de vários tipos de PET no


q3 p3 2
mesmo fardos (incolor/verde/óleo)

q4 Material incorreto de amarração p4 1

q5 Má proveniência da matéria-prima p5 3

q6 Presença de garrafas que não são PET p6 2

Fonte: Elaborado pelos autores (2016)

Tabela 4 – Parâmetros dos Indicadores de Logística

Frequência de Peso
Indicadores de Logística
ocorrências Nomenclatura Valor

L1 Problemas de entrega (falta de confiabilidade) pL1 3

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L2 Organização dos fardos por tipo no caminhão pL2 1

L3 Carga diferente de especificada em Nota Fiscal pL3 3

Fonte: Elaborado pelos autores (2016)

Sendo que q1 a q6 representam quantas vezes ocorreram problemas de qualidade referente aos
seus respectivos indicadores Já p1 a p6 representam os pesos atribuídos a cada um dos
indicadores, tais pesos variam de 1 a 3 sendo que aqueles com maior valor foram atribuídos
para os indicadores que causam impactos mais negativos na qualidade do produto recebido. A
mesma associação pode ser atribuída para os parâmetros dos indicadores de logística, onde L1
a L3 representam as frequência de ocorrência e pL1 a pL3 os pesos atribuídos aos respectivos
indicadores de logística.

De posse de cada parâmetro referente aos indicadores, pôde-se construir as Tabelas 4 e 5, nas
quais são listadas as frequências em que ocorrem problemas com os indicadores, e então é
gerada a nota de cada fornecedor, tanto para qualidade quanto para a logística.

Tabela 5- Simulação de notas para diferentes fornecedores de acordo com os indicadores de qualidade

Nota fornecedor por


Fornecedor q1 q2 q3 q4 q5 q6 qualidade

A 1 2 3 1 5 3 35

B 2 4 5 7 1 9 52

C 5 8 3 7 6 7 76

Fonte: Elaborado pelos autores (2016)

Tabela 6- Simulação de notas para diferentes fornecedores de acordo com indicadores de logística

Fornecedor L1 L2 L3 Nota fornecedor por logística

A 1 2 2 11

B 2 4 3 19

C 5 8 4 35

Fonte: Elaborado pelos autores (2016)

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Para o cálculo das notas referentes aos indicadores de qualidade para cada fornecedor,
utilizou-se as Equações de 1 a 3.

(Eq. 1)

(Eq. 2)

(Eq. 3)

Sendo que , , são as notas finais para os fornecedores A, B e C, respectivamente. O


mesmo raciocínio pode ser utilizado para o cálculo das notas finais relativas aos indicadores
de logística, divergindo apenas nos parâmetros de frequência de ocorrência e peso.

Com relação as notas finais, ressalta-se que quanto menor a nota, melhor classificado será o
fornecedor. Assim, pela simulação para os indicadores de qualidade (Tabela 6) foi possível
perceber que o fornecedor A é aquele que oferece a empresa, garrafas PET de melhor
qualidade, pois obteve a menor nota. Já o fornecedor C foi o que apresentou a maior nota,
portanto seus produtos muitas vezes apresentam problemas de qualidade.

A mesma análise pode ser feita para os indicadores de logística, que segundo a simulação, o
fornecedor A também foi o melhor classificado, enquanto C foi o pior.

4. Conclusão

A utilização do PET reciclado como matéria-prima em grandes empresas é algo positivo para
a sociedade devido principalmente a sustentabilidade. No entanto, as empresas precisam
seguir o mesmo padrão de qualidade que possui em relação as matérias primas tradicionais.
Neste ponto surge um problema: estes itens de pós-consumo possuem peculiaridades que
dificultam o processo de aquisição, tais como: informalidade de mercado; falta de
fiscalização; problemas com fidelização dos fornecedores e consequente falta de qualidade do
PET vendido para empresas recicladoras.

Este é um mercado relativamente novo e com grande concorrência pelos produtos, ou seja,
uma demanda alta para uma oferta restrita. Mesmo com este cenário, o trabalho propôs um
sistema de avaliação dos fornecedores baseada nas principais características falhas do
processo. Desta forma, as empresas recicladoras poderão ter um ranking para consultar
sempre que necessitarem comprar matéria-prima optando pelos fornecedores que têm um
melhor histórico e consequentemente maior confiabilidade.

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Este trabalho mostra que são necessárias empresas que coletem o PET e o vendam dentro dos
padrões de qualidade das matérias-primas tradicionais. Por este motivo existe um vasto campo
de aplicação de ferramentas tradicionais de gestão para melhorar o processo de
venda/aquisição desta matéria-prima pós-consumo.

REFERÊNCIAS

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