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XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção


Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

PRÁTICAS DE LOGÍSTICA REVERSA


DE PRODUTOS LÁCTEOS NO ESTADO
DE MATO GROSSO DO SUL: UM
ESTUDO COMPARATIVO ENTRE
EMPRESAS SUPERMERCADISTAS DE
CAPITAL ESTRANGEIRO
Leonardo Francisco Figueiredo Neto (ufms)
lffneto@nin.ufms.br
Sibele Maria Amolaro Dias (cesd)
sibeleamolaro@hotmail.com
Alvaro Costa Jardim Neto (ufms)
alvarocosta_adm@hotmail.com
WLADIMIR MACHADO TEIXEIRA (ufms)
wladimirteixeira@zipmail.com.br
Eduardo Morais de Oliveira (ufscar)
eduardo.mo1@hotmail.com

Para que hoje no mercado empresarial se destaque, independente de


qual setor ela atua, se faz necessária desenvolver ferramentas e
estratégias que proporcione para si vantagens competitivas, pois o
cenário está cada vez mais dinâmico e compplexo. Com estes aspectos,
a logística tem sido de grande essencial estudo no sentido de que uma
ramificação da logística, sendo ela a logística reversa, no qual as
empresas devem se adequar as questões ambientais que, nos últimos
anos, foi acordado a Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Este fato envolve questões como o ganho de mercado e satisfação do
cliente, gerando assim, um reconhecimento por parte do consumidor e
retorno para a empresa. A pesquisa abordará, tendo observado estes
pareceres, como duas empresas varejistas vem se comportando no que
se refere à logística reversa e seu conhecimento sobre a mesma. Para
isto se fez necessária aplicação de questionários nas empresas citadas
e assim foi constatado que, mesmo não tendo definido com clareza o
significado do termo: logística reversa, ambas realizam medidas que se
fazem a prática da mesma sobre os seus produtos lácteos, tipo este de
mercadoria o foco abordado.

Palavras-chaves: Logística Reversa; sustentabilidade; setor


supermercadista
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

1. Introdução

O debate sobre as praticas das empresas no que se refere a sua preocupação com o meio
ambiente e os danos que a mesma pode inferir através de sua gestão tem evoluído de maneira
significativa. Desta forma surgem estudos enfocam os danos e o que as empresas podem fazer
para que estes casos não ocorram e que as mesmas deem um destino adequado para seus
resíduos sólidos, tanto do processo de produção quanto no descarte de seu produto acabado
após o fim de sua vida útil.

Vários produtos podem passar pelos diversos meios de descarte, separação, reutilização,
reciclagem, mas para que isto ocorra, as empresas devem oferecer suporte adequado de forma
a auxiliar o cliente final e, consequentemente, o mesmo reconhecer a empresa por seu
diferencial, destacando-se no mercado competitivo.
De acordo com Leite (2009), os bens industriais apresentam ciclos de vida útil de algumas
semanas ou de alguns anos, após o que serão descartados pela sociedade, de diferentes
formas, constituindo os produtos de pós - consumo e os resíduos sólidos em geral. Após o
descarte social do produto, se faz necessária a realização de um determinado métodos ou
medida para que este produto venha a ter outra finalidade, mesmo após o descarte, em outro
processo produtivo ou na melhoria do mesmo.
Dentre os setores de uma organização empresarial, a logística é a que, nos últimos anos vem
ganhando destaque devido às evoluções, melhorias no processo e suas ramificações. A
logística na ótica de Miguez (2010) é abordada como desde o processo da compra da matéria
prima, do seu armazenamento, da movimentação dentro da empresa e do transporte até o
cliente, de certa forma entendido como um processo onde o produto sai de um produtor e
chega a diversos clientes.
Aprofundando na logística empresarial surge um mecanismo sustentável denominado
logística reversa, ou seja, o processo contrário da logística empresarial e com benefícios ao
meio ambiente, pois determina a melhor maneira de descarte dos produtos após o fim de sua
vida útil.
No ano de 2010, após anos em tramite no poder público federal, foi aprovada a lei 12.305 em
02 de Agosto, instituindo assim a Politica Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que aborda
medidas socioambientais as empresas, e no Artigo 01 inciso 1º sujeita todos os envolvidos na
geração de produtos e resíduos, ou ligadas a gestão ou gerenciamento do mesmo, a
responsabilidade de adequar um destino correto a seu produto ou o tratamento ideal, evitando
ou minimizando o dano que o mesmo causa ao meio ambiente. Dentro desta política, surge o
conceito de logística reversa, um mecanismo que as empresas podem adotar para se adequar a
situação atual com limite até 2014.
Observando a importância da adoção da logística reversa nas empresas em questões
ambientais, a logística direta, ou simplesmente logística, também possui grande parcela de
atenção no enfoque da perda de determinados produtos com ciclo de vida curto ou perecível.

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Uma pesquisa realizada em 2006 demonstra em seus resultados que os produtos alimentícios
perecíveis (açougue, frios, laticínios, padarias e outros) foram responsáveis por 59% das
perdas totais nos supermercados (ABRAS, 2009).
Observando este fato, pode-se perceber que com este aumento nas perdas destes produtos,
ocorre o encarecimento dos mesmos, impactando no consumidor que, por sua vez, buscará
outras empresas que oferecem o determinado produto por um preço menor, ou com mais
qualidade que a mesma que compra de costume. Nesse sentido, a logística reversa tem
agregado valor de diversas naturezas, tais como: econômico, ecológico, legal, logístico, de
imagem corporativa, entre outros (LEITE, 2009).
Com enfoque nos produtos lácteos, a mesma possui um papel diferenciado na adequação da
logística reversa do mesmo, pois envolve questões como segurança alimentar. A realização
desta devolução ocorrerá devida seus produtos oferecidos constarem defeitos ou fora do prazo
de validade, evitando assim danos a saúde do consumidor, e assim, apresentando qualidade da
marca e ganhando espaço no mercado competitivo.
Através destes fatos, o objetivo da pesquisa é descrever de forma comparativa, às práticas da
logística reversa que as empresas desenvolvem com relação aos seus produtos lácteos.

2. Metodologia
A razão da realização de uma pesquisa se trata pelo desejo de conhecer de forma aprofundada
algum tipo de assunto ou até mesmo para se realizar alguma atividade de forma eficaz ou
eficiente. Assim, uma pesquisa pode ser classificada de acordo com determinadas variáveis
como pela sua natureza, por sua abordagem, objetivo e também pelo procedimento utilizado
na pesquisa.
Este trabalho, em princípio, define sua natureza como básica, que tem por objetivo entender,
descrever ou explicar os fenômenos naturais, não é reservada e tem como meta a divulgação
do conhecimento obtido (Netto; Mello, 2006). Quanto aos objetivos pode ser caracterizada,
segundo Vergara (2000), como exploratória. A pesquisa exploratória, é aquela cuja área
investigada não há muito conhecimento acumulado e sistematizado, como é o caso da
inexistência de estudos sobre logística reversa no varejo de produtos lácteos no Estado de
Mato Grosso do Sul.
Tendo como foco um estudo em empresas varejistas e seu comportamento no que se refere a
logística reversa dos produtos comercializados por ela de origem láctea, esta pesquisa é
definida como um estudo de múltiplos casos, uma vez definida seus procedimentos técnicos e
definido por Roech (2006) como um meio poderoso de criar teoria, pois permitem replicação
e extensão entre os casos individuais. Será utilizado o estudo de múltiplos casos a fim de
demonstrar para o leitor a pesquisa realizada entre alguns integrantes do setor varejista do
estado do Mato Grosso do Sul.

2.1. Delimitação da pesquisa


O numero de estabelecimentos varejistas no estado do Mato Grosso do Sul é classificado por
Parente (2000) como sendo formado desde pequenos empreendedores a superlojas, sendo sua
classificação definida por varejistas que possuem de 21 a 30 checkouts pela Associação
Brasileira de Supermercados (ABRAS).

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No emprego desta pesquisa foi realizada uma pesquisa através de um questionário pré-
elaborado na obtenção de dados primários in loco no período de setembro a outubro de 2010.
A escolha das empresas a serem entrevistadas foi adotada através da utilização de uma
amostra não probabilística por conveniência, cujas escolhas foram feitas intencionalmente. A
escolha dos maiores varejistas (superlojas) deve-se a utilização da amostragem não-
probabilística por conveniência, cujas unidades de análise foram escolhidas intencionalmente.
A aplicação destas questões foram realizadas com os gerentes responsáveis do setor
previamente contatados, levantando assim informações sobre como o respectivo produto
lácteo vencido ou danificado era tratado em questões de logística reversa. Desta forma, o
pesquisador desempenhou o papel de verificar, comparar e analisar suas características e
diferenças agrupando-os.
Quanto à escolha por estudar especificamente os produtos lácteos, deve-se a sua alta
perecibilidade e importância econômica para o varejista e, relevância nutritiva para os
consumidores. Além do que, a venda de produtos lácteos fora dos prazos de validade e os
malefícios desta prática tornam-se prejudiciais a imagem corporativa do varejista e dos
fabricantes, como por exemplo, as sanções asseguradas pelo Código de Defesa do
Consumidor.
Os produtos lácteos são inúmeros, por isso pesquisar todos derivados do leite, torna-se
inviável. Então nesta pesquisa fora realizado o pré-teste junto aos gerentes responsáveis pelo
setor, que elegeram dentre os produtos derivados do leite aqueles mais representativos na
prática da logística reversa. Os produtos lácteos apontados podem ser assim elencados:
a) Leite em saquinho, comumente conhecido como “barriga mole”, do tipo B e C;
b) Iogurtes (frutas, chocolates, doces);
c) Requeijão cremoso.
A coleta de dados foi realizada in loco por meio da aplicação de questionários
semiestruturados, ou seja, contém perguntas abertas e fechadas, em sua maioria.

3. Logística reversa

3.1. Conceitos e pontos a serem ressaltados


Desde a década de 80 já havia certa preocupação no sentido de realizar alguma ação com o
produto final ou o restante do mesmo. A solução era o retorno de garrafas pets e o
recolhimento de resíduos e lixos através de uma coleta discriminada.
Como na logística, pratica utilizada nas empresas para distribuição, transporte e armazenagem
de produtos, o conceito de logística reversa também cresceu com o tempo. A logística reversa
teve sua definição nos anos 80 com o movimento de bens do consumo para o produtor por
determinado canal de definição. Este conceito era limitado e era determinado como produtos e
informações que seguiam em direção oposta a logística comum. (RODRIGUES et. al., 2002).
Leite (2009) confirma o fato de que a logística empresarial tem evoluído não se restringindo
apenas à gestão da distribuição física dos materiais tangíveis e intangíveis, mas ela tem
agregado outras atividades, como é caso da logística reversa.
Para entender a diferença entre logística direta (ou simplesmente logística) e logística reversa,
Miguez (2010) traz um comparativo e adaptador pelo autor se apresenta da seguinte maneira:

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Fonte: Adaptado de MIGUEZ, 2010.


Figura 1 - Diferenças entre logística e logística reversa.
Para Leite (2009), é importante destacar a diferença entre os canais de distribuição diretos ou,
simplesmente, canais de distribuição e os canais de distribuição reversos, pois o canal de
distribuição direto é constituído por várias etapas, nas quais os bens produzidos são
comercializados até chegar ao consumidor final, seja uma empresa ou pessoa física
(distribuição física).
A logística reversa como pode ser observada, pode aparecer na literatura estrangeira como
sendo Closed Loop Supply Chain (CLSC), ou seja, circuito fechado da cadeia de suprimentos,
onde determina que os produtos produzidos retornem aos seus fabricantes através de coleta.
Nos tempos atuais pode-se observar que a preocupação com o meio ambiente e a situação em
que se encontra fez com que a logística reversa de produtos de pós-consumo ou pós-venda
viesse à tona.
Para melhor entender como é a estrutura de um sistema de logísticas, tanto diretas quanto
reversas, Leite (2010) demonstra na figura 2.
Na logística reversa os produtos que passam por este processo devem possuir características
distintas e agrupadas para que possam retornar as empresas fabricantes de determinado
produto, sendo elas tratadas por Leite (2003) como sendo:
a) Logística Reversa de Pós-consumo: produtos originados do descarte após o fim de sua
vida útil, e podem retornar ao ciclo produtivo de alguma forma, destacando dentro deste
grupo as divisões: canais reversos de reciclagem e; de reutilização.
b) Logística Reversa de Pós-venda: composto dos diferentes meios de retorno de uma
parte do produto final descartado, defeito encontrado em determinada parte do produto
podendo ser por falha na produção (qualidade).

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Fluxos

R D R
e i e
Mercado v r v Mercado
Secundário e e e Secundário
r t r
s o s
o s o
s s

Reciclagem

Retorno

Mercado
Desmanche
Primário

Reuso

Disposição
final
Pós-venda Pós-consumo

Fonte: Leite (2009)


Figura 2 - Canais de distribuição diretos e reversos.
Diante disso, a presente pesquisa foi pautada somente nos canais de distribuição reversos de
bens de pós-venda.

3.2. A importância dos canais reversos na atividade da logística das empresas


O avanço tecnológico acelerou a introdução de novos produtos no mercado, levando a
maiores condições de consumo e ao crescimento do descarte de produtos usados, aumentando
o lixo urbano, principalmente em países com menor desenvolvimento econômico e social. Isto
ocorre porque os canais reversos de distribuição, normalmente, não estão estruturados,
havendo desequilíbrio entre as quantidades de material descartado e reaproveitado (COSTA,
2006).
Em grosso modo, um dos fatores para a importância da logística reversa trata-se da velocidade
em que se são descartados os produtos nos tempos atuais, pois possuem um ciclo de vida pré-
programada para que durem cada vez mais e além da evolução das tecnologias existentes.
Um ponto que, mesmo sendo preocupante devido a não empregabilidade por parte deste fato,
é importante ressaltar: os custos envolvidos no processo de logística reversa. Estes valores
fazem com que as empresas questionem o uso destas medidas. Sabendo da sua real
importância, a recuperação de produtos, embora possa ser uma tarefa complicada, devido à

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forma de recuperação e a sequência do processo, geralmente dependem da quantidade e da


qualidade em que se encontra o produto no momento da entrada para o processo de
recuperação. O resultado da eficiência deste plano é uma via de mão dupla, onde tanto
empresa como consumidores estarão satisfeitos (ponto de equilíbrio), mas para isto se faz
necessária à clareza no processo e na informação para o consumidor.
A visualização da cadeia de recuperação de produtos pode ser mais bem entendida na
ilustração de Fleischmann et. al. (2001)

Distribuição Produção Abastecimento

Uso
Re- Re- Reuso
Coleta Seleção
processamento distribuição

Disposição

Fonte: Fleischmann et. al. (2001)


Figura 3 - Cadeia de recuperação de Produtos.
Além das questões abordadas, outras não menos importantes devem ser ressaltadas. Um a ser
citado é a questão do marketing, ou seja, o que a empresa pode e deve utilizar para expor a
empresa a seus consumidores como uma empresa que faz uso da logística reversa e
demonstrar nesta forma de propaganda, as questões ambientais atingidas por ela e o que ela
oferece de melhor ao seu consumidor.

4. O mercado varejista
Para melhor entendermos a base teoria da pesquisa, se faz necessário conhecer a situação
atual do mercado varejista, objeto de estudo.
O representante varejista possui o papel de intermediador entre o produtor e o consumidor.
Visto assim, que para que se obtenha ganhos no mercado se faz necessária que a procedência
de seus produtos seja de qualidade. Este comerciante varejista é responsável pela sua logística
interna, ou seja, sua estocagem, organização, distribuição no estabelecimento e o controle
quanto aos citados e ao que se refere a vencimentos de produtos perecíveis.
Dados da ABRAS, sobre o setor em 2009, mostram que o autosserviço, comumente
denominado supermercado, oferece 78.311 lojas no País. Se comparado com 1999, houve
uma evolução de, aproximadamente 46%, ou seja, um acréscimo de 24.908 lojas no mercado
brasileiro, o setor emprega diretamente 899.754 funcionários, com faturamento de R$ 136,3
bilhões e 5,2% de participação do faturamento sobre o PIB nacional. O setor responde por
55,5% das vendas dos produtos de mais elevado consumo (numa cesta que consta 64 itens) no
País (SuperHiper, 2011).
Chavez (2005) confirma o fato de que os consumidores estão exigindo um nível de serviço
mais elevado e as empresas, como forma de diferenciação e fidelização dos clientes, estão
implantando e investindo em seus novos processos, assim fazendo com que as empresas
tomem medidas para se adequar as necessidades da demanda.

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Para anotação, consta a informação de que, atualmente, o Brasil é o sexto maior produtor de
leite do mundo e o consumo per capita de leite está na média de 148,1 litros/ano. Apesar do
aumento da demanda, logo após a implantação do Plano Real, em 1994, o consumo ainda é
menor que o recomendado pelo Ministério da Saúde de, ao menos, 200 litros/ano
(SuperHiper, 2011).

5. Análise e discussão dos dados


Para coleta de dados foi selecionado 2 (duas) empresas de modo aleatório no que se refere a
superlojas. Somente na cidade de Campo Grande / MS possui 4 (quatro) destas empresa com
suas respectivas características. A concentração destes supermercados varejistas deve-se a
grande população da cidade e as exigências por parte dos mesmos.
As empresas serão nomeadas pelo autor da pesquisa como Empresa A e Empresa B, fato este
que se deve a preservação de informação e manter sem ferir assim a idoneidade das mesmas
com seus clientes.
Segue abaixo a figura apresentando algumas características, além de ressaltar o motivo de
compra dos produtos de seus fornecedores e a forma de controle de validade aplicado por elas
em suas empresas:

Fonte: dados da pesquisa


Figura 4 - Características das empresas selecionadas e situação quanto a compra de produtos e o controle de
validades dos mesmos.
O Supermercado A pode ser assim caracterizado: capital estrangeiro, integrante de uma rede
comercial com 42 (quarenta e duas) lojas no Brasil e, sendo 03 (três) instaladas no Estado de
Mato Grosso do Sul, tendo a unidade varejista pesquisada 302 (trezentos e dois) funcionários.
Cabe ressaltar que, o questionário foi aplicado em somente uma das unidades, em função dos
procedimentos serem padronizados em todos os estabelecimentos da rede. O questionário foi
respondido pelo responsável pela superloja, ou seja, o gerente, que ocupa este cargo a cerca
de 4 (quatro) anos.

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Já o Supermercado B segue com tais aspectos: capital estrangeiro, participante de uma rede
comercial, que conta com 132 (cento e trinta e duas) lojas neste país e, somente uma no
Estado de Mato Grosso do Sul, dispondo de 286 (duzentos e oitenta e seis) funcionários. Estes
dados se baseiam como percebível, em uma única unidade da empresa, seja ela a encontrada
na cidade de Campo Grande. A pesquisa teve a colaboração do gerente comercial, que exercer
a função a 8 (oito) anos.

5.1. Conceitos e prática da logística reversa conhecidas pelas empresas


Com foco nos produtos lácteos, a compra é realizada diretamente com os fabricantes,
atacadistas e distribuidores. Para a Empresa A os motivos que o levaram a realizar a compra
diretamente de fabricantes e distribuidores foram: devoluções dos produtos por diversos
motivos; preço e redução de custos. No Supermercado B, além destes motivos, foi assinalado
ainda: praticidade; confiabilidade, formas e prazos de pagamento e; respeito aos prazos de
entrega.
Observado estes forças motivadoras e comparado com a temática abordada, foi realiza o
questionamento sobre o entendimento dos gerentes ou responsáveis entrevistados sobre o que
se compreende do termo logística reversa e se os mesmos reconhecem estes termos.
A Empresa A não reconhecia o termo “logística reversa” mas entende o termo como sendo a
devolução de produtos com defeitos, dado este inverso em um aspecto da Empresa B que, em
sua resposta cita que não reconhece o termo e que desconhece totalmente o questionamento.
Esta falta de conhecimento abrange a falta de conhecimento tratado na legislação existente
como a PNRS.
Este ponto de vista abordado pelas empresas refere-se a algo tratado por Leite (2003) e
Campos (2006) que cita que a temática da logística reversa ainda é visto de modo limitado,
que sinaliza o desconhecimento integral ou parcial de seus objetivos e práticas.
Respondendo ao questionamento que indaga se as Empresas A e B realizam a prática do
retorno dos produtos lácteos aos fabricantes, ambas afirmaram que sim mas cada qual com um
aspecto. A Empresa A afirma que realiza quando ocorre: expiração do prazo de validade,
facilidade proporcionada pelo contrato de consignação e a avarias durante o transporte. Fato
este seguido pela Empresa B e complementado: problemas de qualidade, erros de expedição,
excesso de estoque e também o obsoletismo.
Em seguida pode se obter também em consoante a esta pergunta, as questões que podem ser
definidas como barreiras na prática da logística reversa empregadas por elas onde a Empresa
A define que a política da companhia é uma e; que na Empresa B, além das políticas, possui
as estratégias competitivas, a pouca importância relativa a logística reversa frente a outros
assuntos e a insuficiência de recursos pessoais para tal adoção medida.
O retorno dos produtos lácteos devolvidos às empresas pesquisadas é tratado pela Empresa A
como diariamente ou semanalmente, dependendo do fornecedor e a Empresa B realiza as suas
devoluções mensalmente, lembrando que as devoluções variam para cada tipo de produto.
Mas para melhor entender como ocorre quando um produto esta prestes a sua data de
vencimento e o após o mesmo, além de como se precede esta devolução, se apresenta a o
quadro a seguir:

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Fonte: dados da pesquisa


Figura 5 - Práticas adotadas pelas empresa quanto ao destino, prazos de vencimento e como o produto é
devolvido aos fornecedores
Os produtos lácteos vencidos são classificados na categoria de retorno por garantia/qualidade
com contratos (Leite, 2003). Nesta situação, as práticas adotadas pelas duas Empresas: A e B
são iguais, ora os produtos lácteos são devolvidos ao fornecedor, quando acordado em
contrato, ora tendo como o destino dado aos produtos, o descarte.
Questionadas as organizações sobre o impacto que a prática da logística reversa traz a e seu
efeito como positivo ou negativo, o mesmo é encontrado como sendo positivos para ambas as
empresas mas em valores percentuais, a Empresa A destaca que se origina de 1 a 5 % nos
lucros, e na empresa B de 16 a 20 %.
Estes fatos são apreciados economicamente e de grande significado para os ganhos
empresariais, além da visão que a empresa obtém com o mercado e seus clientes onde a
satisfação do cliente e a necessidade de manter uma imagem corporativa são comuns em
ambos os casos.

5.2. Relação com fornecedores e as preocupações com o código de defesa do consumidor


(CDC)
A relação entre os varejistas e os fabricantes devem ser sempre ressaltadas uma vez que
ambas dependem entre si uma da outra, fato este mais importante no que se refere a logística
reversa que tente a ser ainda mais minuciosa e com resultados gratificantes, mais para o
varejista do que para os produtores.
Para entender o contrato, meio de estabelecer as devoluções e os métodos de como ser
realizada tal coleta, segue a figura abaixo:

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Fonte: dados da pesquisa


Figura 6 - Práticas de relacionamento entre as empresas s e os fabricantes
A questão dos contratos é bem semelhante entre as empresas e os fornecedores dos produtos
lácteos definidos no mesmo uma clausula de devolução, ficando claro a responsabilidade pelo
destino dado a estes produtos em casos de retorno. Fato adicionado como complementar na
Empresa B é a utilização da consignação (forma de empréstimo onde somente é pago o que é
vendido, o restante pode ser devolvido à empresa fornecedora).
As parcerias são importantes para o relacionamento das empresas e fornecedores, pois através
desta, ambas obterão lucros e ganhos comerciais. O seu funcionamento varia para cada tipo de
aliança, sendo nas empresas citadas com os fornecedores de produtos lácteos a divisão de
custos, prazos de entrega, menores preços são comuns em ambos os casos. Lembrando outro
aspecto não menos importante é de que o uso de contrato não significa que a compra seja
realizada em um único momento, sem perspectivas transações futuras, ou seja, trocas
discretas, mas sim em negociações a serem mantidas em um longo período de tempo.
Mudando para as questões legais da logística reversa de produtos lácteos, não possui uma
legislação precisa quanto ao destino adequado a estes produtos, porém existem leis que
determinem em casos de embalagens e outros tipos de produtos como pneus, eletroeletrônicos
e outros. Algo que possa intervir nas questões destes produtos de origem láctea é o Código de
Defesa do Consumidor que obrigue aos varejistas venderem produtos dentro do prazo de
validade e em perfeito estado de conservação e consumo, garantindo assim a integridade dos
consumidores.
Quando perguntados as Empresas A e B sobre o conhecimento de pontos das legislações do
Código de Defesa do Consumidor, as mesmas declaram as informações a seguir:

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Fonte: dados da pesquisa


Figura 7 - Conhecimento do Código de Defesa do Consumidor
O Código de Defesa do Consumidor é conhecido pelas Empresas A e B, mas alguns aspectos,
como em questionamentos anteriores, se diferenciam. No caso da obrigatoriedade de praticar
a logística reversa dos produtos lácteos a Empresa B nega conhecer esta informação, mas sim
de que veta distribuir estes produtos a partir do momento em que se encontram fora do prazo
de validade e/ou com algum defeito, tanto de transporte, erro de expedição, embalagem e
outros. O veto ao consumo de qualquer produto considerado perigoso ou nocivo tem por
objetivo assegurar o cumprimento do Art. 6º do presente Código.
A falta de conhecimento da Empresa A por esta errônea afirmação estão ligadas a adoção de
medidas e a um estudo do que se deve ou não adorar em um sistema para a logística reversa.

6. Considerações finais
Através da metodologia adotada na pesquisa pode-se observar o comportamento das empresas
no que se refere ao conhecimento das legislações existentes e na empregabilidade da logística
reversa de produtos lácteos nas mesmas.
Os ganhos consonantes das adoções de medidas como a utilização do canal reverso é um
diferencial frente à concorrência, pois, além do ganho de mercado, ocorre a redução dos
custos envolvidos na perda e, no cultivo da imagem corporativa.
Em modo geral, é possível afirmar o desconhecimento da logística reversa deste segmento de
produtos lácteos, mesmo já realizando a mesma através da devolução das mercadorias para os
fornecedores e descarte.
No contexto abordado em objetivo de pesquisa, fica esclarecido através desta as práticas
adotadas pelas empresas e o conhecimento das mesmas no que se refere a logística reversa.
O fato da logística reversa de produtos lácteos não ser tão bem entendida e adotada nas
empresas deve-se a não obrigatoriedade legal, ou seja, não existem leis que obriguem os
varejistas a devolverem os produtos alimentícios, particularmente o leite e seus derivados, aos
fornecedores, assim como acontece com os pneus e embalagens de agrotóxicos, em que o
retorno é obrigatório.
Contudo, não se pode negar a existência do Código de Defesa do Consumidor - CDC, que tem
por objetivo garantir o bem-estar dos consumidores e, ainda identificar e promover sanções
aos responsáveis pela venda de produtos fora do prazo de validade, mesmo não determinado o
destino adequado para os alimentos lácteos vencidos.
Desta forma, na intensão de contribuir para as pesquisas de logística reversa, torna-se
necessária a criação de legislações mais específicas quanto a este canal nos produtos lácteos e

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também a partilha das informações para outros varejistas em seus mais variados e respectivos
mercados, visando a importância da atividade reversa tanto em questões econômicas, sociais,
ambientais e legais.

7. Referências
ABRAS, Associação Brasileira de Supermercados, 2006. Disponível em
<http://www.abrasnet.com.br/serv_frm_am.asp>. Acesso em 02 ago. 2007.

BRASIL, REPÚBLICA FEDERATIVA. Lei federal Nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a
proteção do consumidor e dá outras providências. Brasília, DF, Acesso: 10 maio 2010, de
<http://www.mj.gov.br/DPDC/servicos/legislacao/cdc.htm>.

___________________________________. Política Nacional de Resíduos Sólidos. Lei nº 12.305 de 02 de


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