Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. Introdução
O debate sobre as praticas das empresas no que se refere a sua preocupação com o meio
ambiente e os danos que a mesma pode inferir através de sua gestão tem evoluído de maneira
significativa. Desta forma surgem estudos enfocam os danos e o que as empresas podem fazer
para que estes casos não ocorram e que as mesmas deem um destino adequado para seus
resíduos sólidos, tanto do processo de produção quanto no descarte de seu produto acabado
após o fim de sua vida útil.
Vários produtos podem passar pelos diversos meios de descarte, separação, reutilização,
reciclagem, mas para que isto ocorra, as empresas devem oferecer suporte adequado de forma
a auxiliar o cliente final e, consequentemente, o mesmo reconhecer a empresa por seu
diferencial, destacando-se no mercado competitivo.
De acordo com Leite (2009), os bens industriais apresentam ciclos de vida útil de algumas
semanas ou de alguns anos, após o que serão descartados pela sociedade, de diferentes
formas, constituindo os produtos de pós - consumo e os resíduos sólidos em geral. Após o
descarte social do produto, se faz necessária a realização de um determinado métodos ou
medida para que este produto venha a ter outra finalidade, mesmo após o descarte, em outro
processo produtivo ou na melhoria do mesmo.
Dentre os setores de uma organização empresarial, a logística é a que, nos últimos anos vem
ganhando destaque devido às evoluções, melhorias no processo e suas ramificações. A
logística na ótica de Miguez (2010) é abordada como desde o processo da compra da matéria
prima, do seu armazenamento, da movimentação dentro da empresa e do transporte até o
cliente, de certa forma entendido como um processo onde o produto sai de um produtor e
chega a diversos clientes.
Aprofundando na logística empresarial surge um mecanismo sustentável denominado
logística reversa, ou seja, o processo contrário da logística empresarial e com benefícios ao
meio ambiente, pois determina a melhor maneira de descarte dos produtos após o fim de sua
vida útil.
No ano de 2010, após anos em tramite no poder público federal, foi aprovada a lei 12.305 em
02 de Agosto, instituindo assim a Politica Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que aborda
medidas socioambientais as empresas, e no Artigo 01 inciso 1º sujeita todos os envolvidos na
geração de produtos e resíduos, ou ligadas a gestão ou gerenciamento do mesmo, a
responsabilidade de adequar um destino correto a seu produto ou o tratamento ideal, evitando
ou minimizando o dano que o mesmo causa ao meio ambiente. Dentro desta política, surge o
conceito de logística reversa, um mecanismo que as empresas podem adotar para se adequar a
situação atual com limite até 2014.
Observando a importância da adoção da logística reversa nas empresas em questões
ambientais, a logística direta, ou simplesmente logística, também possui grande parcela de
atenção no enfoque da perda de determinados produtos com ciclo de vida curto ou perecível.
2
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
Uma pesquisa realizada em 2006 demonstra em seus resultados que os produtos alimentícios
perecíveis (açougue, frios, laticínios, padarias e outros) foram responsáveis por 59% das
perdas totais nos supermercados (ABRAS, 2009).
Observando este fato, pode-se perceber que com este aumento nas perdas destes produtos,
ocorre o encarecimento dos mesmos, impactando no consumidor que, por sua vez, buscará
outras empresas que oferecem o determinado produto por um preço menor, ou com mais
qualidade que a mesma que compra de costume. Nesse sentido, a logística reversa tem
agregado valor de diversas naturezas, tais como: econômico, ecológico, legal, logístico, de
imagem corporativa, entre outros (LEITE, 2009).
Com enfoque nos produtos lácteos, a mesma possui um papel diferenciado na adequação da
logística reversa do mesmo, pois envolve questões como segurança alimentar. A realização
desta devolução ocorrerá devida seus produtos oferecidos constarem defeitos ou fora do prazo
de validade, evitando assim danos a saúde do consumidor, e assim, apresentando qualidade da
marca e ganhando espaço no mercado competitivo.
Através destes fatos, o objetivo da pesquisa é descrever de forma comparativa, às práticas da
logística reversa que as empresas desenvolvem com relação aos seus produtos lácteos.
2. Metodologia
A razão da realização de uma pesquisa se trata pelo desejo de conhecer de forma aprofundada
algum tipo de assunto ou até mesmo para se realizar alguma atividade de forma eficaz ou
eficiente. Assim, uma pesquisa pode ser classificada de acordo com determinadas variáveis
como pela sua natureza, por sua abordagem, objetivo e também pelo procedimento utilizado
na pesquisa.
Este trabalho, em princípio, define sua natureza como básica, que tem por objetivo entender,
descrever ou explicar os fenômenos naturais, não é reservada e tem como meta a divulgação
do conhecimento obtido (Netto; Mello, 2006). Quanto aos objetivos pode ser caracterizada,
segundo Vergara (2000), como exploratória. A pesquisa exploratória, é aquela cuja área
investigada não há muito conhecimento acumulado e sistematizado, como é o caso da
inexistência de estudos sobre logística reversa no varejo de produtos lácteos no Estado de
Mato Grosso do Sul.
Tendo como foco um estudo em empresas varejistas e seu comportamento no que se refere a
logística reversa dos produtos comercializados por ela de origem láctea, esta pesquisa é
definida como um estudo de múltiplos casos, uma vez definida seus procedimentos técnicos e
definido por Roech (2006) como um meio poderoso de criar teoria, pois permitem replicação
e extensão entre os casos individuais. Será utilizado o estudo de múltiplos casos a fim de
demonstrar para o leitor a pesquisa realizada entre alguns integrantes do setor varejista do
estado do Mato Grosso do Sul.
3
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
No emprego desta pesquisa foi realizada uma pesquisa através de um questionário pré-
elaborado na obtenção de dados primários in loco no período de setembro a outubro de 2010.
A escolha das empresas a serem entrevistadas foi adotada através da utilização de uma
amostra não probabilística por conveniência, cujas escolhas foram feitas intencionalmente. A
escolha dos maiores varejistas (superlojas) deve-se a utilização da amostragem não-
probabilística por conveniência, cujas unidades de análise foram escolhidas intencionalmente.
A aplicação destas questões foram realizadas com os gerentes responsáveis do setor
previamente contatados, levantando assim informações sobre como o respectivo produto
lácteo vencido ou danificado era tratado em questões de logística reversa. Desta forma, o
pesquisador desempenhou o papel de verificar, comparar e analisar suas características e
diferenças agrupando-os.
Quanto à escolha por estudar especificamente os produtos lácteos, deve-se a sua alta
perecibilidade e importância econômica para o varejista e, relevância nutritiva para os
consumidores. Além do que, a venda de produtos lácteos fora dos prazos de validade e os
malefícios desta prática tornam-se prejudiciais a imagem corporativa do varejista e dos
fabricantes, como por exemplo, as sanções asseguradas pelo Código de Defesa do
Consumidor.
Os produtos lácteos são inúmeros, por isso pesquisar todos derivados do leite, torna-se
inviável. Então nesta pesquisa fora realizado o pré-teste junto aos gerentes responsáveis pelo
setor, que elegeram dentre os produtos derivados do leite aqueles mais representativos na
prática da logística reversa. Os produtos lácteos apontados podem ser assim elencados:
a) Leite em saquinho, comumente conhecido como “barriga mole”, do tipo B e C;
b) Iogurtes (frutas, chocolates, doces);
c) Requeijão cremoso.
A coleta de dados foi realizada in loco por meio da aplicação de questionários
semiestruturados, ou seja, contém perguntas abertas e fechadas, em sua maioria.
3. Logística reversa
4
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
5
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
Fluxos
R D R
e i e
Mercado v r v Mercado
Secundário e e e Secundário
r t r
s o s
o s o
s s
Reciclagem
Retorno
Mercado
Desmanche
Primário
Reuso
Disposição
final
Pós-venda Pós-consumo
6
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
Uso
Re- Re- Reuso
Coleta Seleção
processamento distribuição
Disposição
4. O mercado varejista
Para melhor entendermos a base teoria da pesquisa, se faz necessário conhecer a situação
atual do mercado varejista, objeto de estudo.
O representante varejista possui o papel de intermediador entre o produtor e o consumidor.
Visto assim, que para que se obtenha ganhos no mercado se faz necessária que a procedência
de seus produtos seja de qualidade. Este comerciante varejista é responsável pela sua logística
interna, ou seja, sua estocagem, organização, distribuição no estabelecimento e o controle
quanto aos citados e ao que se refere a vencimentos de produtos perecíveis.
Dados da ABRAS, sobre o setor em 2009, mostram que o autosserviço, comumente
denominado supermercado, oferece 78.311 lojas no País. Se comparado com 1999, houve
uma evolução de, aproximadamente 46%, ou seja, um acréscimo de 24.908 lojas no mercado
brasileiro, o setor emprega diretamente 899.754 funcionários, com faturamento de R$ 136,3
bilhões e 5,2% de participação do faturamento sobre o PIB nacional. O setor responde por
55,5% das vendas dos produtos de mais elevado consumo (numa cesta que consta 64 itens) no
País (SuperHiper, 2011).
Chavez (2005) confirma o fato de que os consumidores estão exigindo um nível de serviço
mais elevado e as empresas, como forma de diferenciação e fidelização dos clientes, estão
implantando e investindo em seus novos processos, assim fazendo com que as empresas
tomem medidas para se adequar as necessidades da demanda.
7
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
Para anotação, consta a informação de que, atualmente, o Brasil é o sexto maior produtor de
leite do mundo e o consumo per capita de leite está na média de 148,1 litros/ano. Apesar do
aumento da demanda, logo após a implantação do Plano Real, em 1994, o consumo ainda é
menor que o recomendado pelo Ministério da Saúde de, ao menos, 200 litros/ano
(SuperHiper, 2011).
8
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
Já o Supermercado B segue com tais aspectos: capital estrangeiro, participante de uma rede
comercial, que conta com 132 (cento e trinta e duas) lojas neste país e, somente uma no
Estado de Mato Grosso do Sul, dispondo de 286 (duzentos e oitenta e seis) funcionários. Estes
dados se baseiam como percebível, em uma única unidade da empresa, seja ela a encontrada
na cidade de Campo Grande. A pesquisa teve a colaboração do gerente comercial, que exercer
a função a 8 (oito) anos.
9
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
10
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
11
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
6. Considerações finais
Através da metodologia adotada na pesquisa pode-se observar o comportamento das empresas
no que se refere ao conhecimento das legislações existentes e na empregabilidade da logística
reversa de produtos lácteos nas mesmas.
Os ganhos consonantes das adoções de medidas como a utilização do canal reverso é um
diferencial frente à concorrência, pois, além do ganho de mercado, ocorre a redução dos
custos envolvidos na perda e, no cultivo da imagem corporativa.
Em modo geral, é possível afirmar o desconhecimento da logística reversa deste segmento de
produtos lácteos, mesmo já realizando a mesma através da devolução das mercadorias para os
fornecedores e descarte.
No contexto abordado em objetivo de pesquisa, fica esclarecido através desta as práticas
adotadas pelas empresas e o conhecimento das mesmas no que se refere a logística reversa.
O fato da logística reversa de produtos lácteos não ser tão bem entendida e adotada nas
empresas deve-se a não obrigatoriedade legal, ou seja, não existem leis que obriguem os
varejistas a devolverem os produtos alimentícios, particularmente o leite e seus derivados, aos
fornecedores, assim como acontece com os pneus e embalagens de agrotóxicos, em que o
retorno é obrigatório.
Contudo, não se pode negar a existência do Código de Defesa do Consumidor - CDC, que tem
por objetivo garantir o bem-estar dos consumidores e, ainda identificar e promover sanções
aos responsáveis pela venda de produtos fora do prazo de validade, mesmo não determinado o
destino adequado para os alimentos lácteos vencidos.
Desta forma, na intensão de contribuir para as pesquisas de logística reversa, torna-se
necessária a criação de legislações mais específicas quanto a este canal nos produtos lácteos e
12
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
também a partilha das informações para outros varejistas em seus mais variados e respectivos
mercados, visando a importância da atividade reversa tanto em questões econômicas, sociais,
ambientais e legais.
7. Referências
ABRAS, Associação Brasileira de Supermercados, 2006. Disponível em
<http://www.abrasnet.com.br/serv_frm_am.asp>. Acesso em 02 ago. 2007.
BRASIL, REPÚBLICA FEDERATIVA. Lei federal Nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a
proteção do consumidor e dá outras providências. Brasília, DF, Acesso: 10 maio 2010, de
<http://www.mj.gov.br/DPDC/servicos/legislacao/cdc.htm>.
COSTA, L. G. Logística reversa: importância, fatores para a aplicação e contexto brasileiro. III SEGeT –
Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, 2006. Acesso: 27 jul. 2011, em
<www.aedb.br/seget/artigos06/616_Logistica_Reversa_SEGeT_06.pdf>.
FLEURY, P. F., & WANKE, P. Logística no Brasil. In: Figueiredo, K. F. ; Fleury, P. F.; Wanke, P. (orgs.)
Logística e gerenciamento da cadeia de suprimentos: planejamento do fluxo de produtos e dos recursos. Centro
de Estudos em Logística. COPPEAD, UFRJ. São Paulo: Atlas, 2003.
______________. Logística Reversa: Meio Ambiente e Competitividade. São Paulo: Prentice Hall, 2009.
MIGUEZ, E. C. Logística Reversa como solução para o problema do lixo eletrônico. Rio de Janeiro:
Qualitymark, 2010.
NETTO, A. A. DE O & MELO, C. Metodologia da Pesquisa Científica: Guia Prático para Apresentação de
Trabalhos. Florianópolis: Visual Books, 2006.
13
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
SUPERHIPER. Panorama 2010: análises & estatísticas. São Paulo: ABRAS, 2002.
WILLARD, B. The sustainability advantage: seven business case benefits of a triple bottom line. [Tradução do
autor] Gabriola Island, British Columbia: New Society Publishers, 2002.
14