Você está na página 1de 18

XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”


Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.

ANÁLISE ERGONÔMICA DE UM POSTO


DE TRABALHO EM UMA FÁBRICA DE
AÇO NA CIDADE DE CAMPINA
GRANDE - PB

Eliab Alves de Oliveira


oliv.alves@hotmail.com
Giovanni Alves Venâncio Júnior
giovannijr1@hotmail.com
IVANILDO FERNANDES ARAUJO ivanildo
ivanildofaraujo@gmail.com

Melhoras no desempenho produtivo de um funcionário são


consequências de um trabalho adequado, e esse resultado é possível
com a análise e avaliação ergonômica do posto de trabalho, uma vez
que, a saúde e bem-estar são alguns dos fatores humanos que
influenciam no trabalho. Sendo assim, este artigo tem o objetivo de
realizar uma análise ergonômica do posto de trabalho de produção de
treliças, em uma fábrica de aço, na cidade de Campina Grande – PB.
Para que isso fosse possível foi necessário o esclarecimento de
algumas definições da ergonomia, da biomecânica, bem como, dos
fatores humanos que influenciam esse desempenho. No primeiro
momento, para se ter uma noção geral sobre as condições
ergonômicas no posto de trabalho, foi aplicado o questionário
disponibilizado pelo laboratório de Ergonomia do Trabalho,
localizado na UFCG. O resultado permitiu concluir que aquele posto
era o mais crítico dentro da fábrica. Visando avaliar os riscos
ergonômicos do posto de trabalho foram empregadas as metodologias
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.
.

OWAS e RULA, que são métodos de registro e análise postural, além


do Questionário Bipolar, que visa conhecer as dores sentidas pelo
colaborador durante a realização das atividades, assim, direcionando
as futuras ações na redução ou eliminação dessas dores. Dentre alguns
resultados que foram obtidos, em geral, as condições do posto de
trabalho são ruins, e intervenções devem ser feitas aspirando que o
funcionário não venha a desenvolver doenças com o passar do tempo.

Palavras-chave: Avaliação ergonômica, sistema OWAS, sistema


RULA, Questionário Bipolar, Riscos ergonômicos

2
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.
.

1. Introdução
Uma das fatias de mercado mais importantes dentro da indústria da construção civil é o setor
de produção de materiais e estruturas de aço. Este setor passou por uma grande modificação
ao longo do tempo devido ao advento da tecnologia, uma vez que, antes, tais estruturas e
materiais eram produzidos manualmente, e hoje em dia a maior parte do processamento destes
é feito de forma automática, cabendo ao trabalhador apenas atividades como fornecimento de
matéria-prima à máquina, controle de qualidade, manutenção etc.

Este setor possui inúmeros riscos ao trabalhador, principalmente pelo fato de trabalhar com
cargas pesadas, rígidas e que necessitam de etapas de processamento que envolvem altas
temperaturas, como por exemplo as de soldagem. Todo processo que envolva a interação
homem-máquina, ou até mesmo processos que envolvam atividades relativas a setores como o
de serviços, necessitam de estudos ergonômicos com o intuito de averiguar as condições de
trabalho, adaptando-as ao homem e assim, garantido conforto e consequente aumento na
produtividade.

Segundo Lida (2005) a ergonomia possui diversas definições, todas elas ressaltando o caráter
interdisciplinar e o objeto de estudo, que é a interação entre o homem, a máquina e o
ambiente. E de acordo com a definição proposta pela a Associação Brasileira de Ergonomia, a
ergonomia pode ser entendida como “o estudo das interações das pessoas com a tecnologia, a
organização e o ambiente, objetivando intervenções e projetos que visem melhorar, de forma
integrada e não dissociada, a segurança, o conforto, o bem-estar e a eficácia das atividades
humanas” .De acordo com a Norma Regulamentadora 17 (NR-17) que trata sobre as questões
da ergonomia, “As condições ambientais de trabalho devem estar adequadas às características
psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado”.

O objetivo deste estudo é realizar uma análise ergonômica do trabalho, no posto de trabalho
mais crítico de uma empresa que produz materiais e estruturas de aço, situada na cidade de
Campina Grande – PB, fornecendo um diagnóstico dos danos ao trabalhador decorrente da
atividade que é executada, e propondo soluções baseadas no diagnóstico obtido e no estado da
arte das metodologias utilizadas.

3
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.
.

2. Referencial teórico
2.1. Fatores humanos no trabalho
O levantamento dos fatores humanos e das condições de trabalho permitem conhecer o perfil
dos trabalhadores e identificar as condições de realização do trabalho. Com isso, muitas
medidas poderão ser adotadas objetivando o aperfeiçoamento dos métodos e das técnicas de
trabalho, assegurando condições mais confortáveis, seguras e saudáveis ao ser humano e,
consequentemente, aumentando a produtividade e a qualidade do trabalho (Sant’anna &
Malinovski, 2002; Fiedler, 1998; Minetti, 1996; Grandjean, 1982).

A monotonia, a fadiga e motivação são três aspectos muito importantes que devem ser
observados na produtividade do trabalhador. A monotonia e a fadiga estão presentes em todos
os trabalhos e, quando não podem ser eliminados, podem ser controlados e substituídos por
ambientes mais interessantes e motivadores. (MOTTA, 2007)

2.1.1. Fadiga
Segundo Grandjean (1998), a fadiga está relacionada a uma capacidade de produção
diminuída e uma perda de motivação para qualquer atividade. Diversos fatores se combinam
para converter-se nesse efeito de perda reversível da capacidade de realizar tarefas do
organismo. Fatores fisiológicos que envolvem a intensidade e duração do trabalho, fatores
psicológicos como a monotonia, a falta de motivação e o relacionamento social com
supervisores e colegas de trabalho, e finalmente os fatores ambientais (iluminação, ruídos,
temperaturas).

No caso do posto de trabalho escolhido (produção de treliças), o esforço físico é alto devido a
força constante que é empregada na retirada do material não conforme da máquina. Os fatores
psicológicos estão presentes na repetitividade da atividade, o que é agravado pelos fatores
ambientais como alto ruído, devido a máquina moldar e cortar os vergalhões de aço. O piso e
layout da fábrica não são adequados ao maquinário, o que gera riscos de acidente pois as
engrenagens da máquina ficam expostas sem nenhuma proteção.

2.1.2. Monotonia

4
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.
.

A monotonia é avaliada através de dois pontos de vista distintos. O ponto de vista da


psicologia, que cita que o indivíduo executará sua função com maior interesse, satisfação,
motivação e bom rendimento se as tarefas realizadas forem do seu gosto. Já sob o ponto de
vista da fisiologia, é necessário haver variações de excitação para que os órgãos dos sentidos
sejam estimulados e ativem as estruturas do cérebro. (MOTTA,2007)

Grandjean (1998) afirma que as condições que desencadeiam o surgimento dos estados de
monotonia são: atividades repetitivas de longa duração, com mínimo grau de dificuldade, mas
sem possibilidade de desligar-se mentalmente de todo do trabalho; tarefas de observação de
longa duração, pobre de estímulos, com a obrigação de atenção permanente. Em geral, a
monotonia resulta em fadiga e falta de motivação. Segundo o autor, essas três consequências
do trabalho caminham juntas, sendo causa e efeito uma da outra, que é o caso da desenvolvida
pelo trabalhador analisado, onde este faz as mesmas operações durante 7 horas do dia.

2.1.3. Motivação
Para motivar um trabalhador é necessário fazer uma análise individual, conhecer suas
habilidades, suas aspirações, seus problemas e seu meio social. Com essas informações, é
possível saber quais necessidades a empresa deve suprir para motivá-lo no trabalho. Uma
motivação bem-sucedida pode conseguir um desempenho bem acima da média. Essa
motivação pode vir de diversas maneiras, com maiores desafios, maior participação, mais
responsabilidades, realização e reconhecimento. (SILVA FILHO et al. 2007)

O trabalhador analisado mostrou-se, aparentemente, motivado e satisfeito com a atividade que


realiza, devido ao caráter mais técnico dela, demandando “pouco esforço se comparado com
os outros [sic]”.

2.2. O sistema homem-máquina e o posto de trabalho


Segundo Iida (2005), o sistema homem-máquina-ambiente é a unidade básica da ergonomia,
sendo formado por três subsistemas: o homem, a máquina e o ambiente onde esses
subsistemas interagem, trocando informações e energia. "A ergonomia tem a intenção de
adaptar o ambiente e a máquina no qual ocorrem às interações durante a realização das
atividades para que a consequência destas para o indivíduo sejam satisfatórias e não
ultrapassem suas limitações físicas e cognitivas". (CAVALCANTE, et al. 2015)

5
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.
.

De acordo com Iida (2005), posto de trabalho pode ser considerado como a menor unidade
produtiva, geralmente envolvendo um homem e o seu local de trabalho. Entre os vários
enfoques de análise do posto de trabalho, destaca-se mais o de caráter ergonômico, no qual se
observa o homem como centro das atenções.

Segundo Santos et al. (2013) os projetos ergonômicos voltados para os postos de trabalho
objetivam melhorar a relação entre o homem e a máquina, fazendo com que este não sofra os
impactos do trabalho, consequentemente, obtendo melhor rendimento operacional.

2.2.1. Biomecânica ocupacional no posto de trabalho


Definida como “o estudo da interação física do trabalhador com suas ferramentas, máquinas e
materiais, a fim de aumentar a sua performance enquanto minimiza os riscos de distúrbios
musculoesquelético” (CHAFFIN et al., 2001, p.2). Para Iida (2005), a biomecânica
ocupacional analisa a questão das posturas corporais no trabalho, a aplicação de forças, bem
como as suas consequências.

2.2.2. Dores musculares


A falta de interação entre aquilo que é projetado com o que a realidade do trabalho, abre
margem ao surgimento da dor. Iida (2005) descreve dor como o processo de acúmulo dos
subprodutos do metabolismo no músculo, devido as contrações musculares acima da
capacidade circulatória de removê-los.

2.3. Posturas do corpo humano


Segundo Dul & Weerdmeester (2004), a postura é frequentemente determinada pela natureza
da tarefa ou do posto de trabalho. As posturas prolongadas podem prejudicar os músculos e as
articulações.

Cada componente do posto de trabalho deve ter sua própria adequação ergonômica, onde deve
adaptar-se às características anatômicas e fisiológicas dos seres humanos, principalmente no
que se refere aos sistemas musculoesqueléticos e ópticos. (RIO E PIRES, 2001)

Para Iida (2005) o trabalhador, muitas vezes, assume posturas inadequadas na realização das
tarefas, sendo as três principais situações: em trabalhos estáticos que envolvem posturas
paradas por longos períodos de tempo, em trabalhos que exigem muita força, e naqueles que
exigem posturas desfavoráveis.

6
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.
.

No posto de trabalho analisado existe as duas situações de postura inadequada. A primeira


quando o operador necessita ficar com a cabeça inclinada para frente realizando a fiscalização
das peças, e a segunda quando é necessário realizar a retirada de peças defeituosas.

2.3.1. Métodos de registro e análise postural


A análise da postura e seu registro requerem métodos e instrumentos mais eficazes que apenas
a observação feita de forma visual. Para que os resultados tenham uma maior consistência,
alguns métodos foram utilizados, sendo eles o OWAS e RULA. Ambos são diferentes entre si,
mas ao mesmo tempo se complementam, avaliando a carga de todo o corpo, identificando o
esforço físico causado pela força, postura e capacidade de carga estática e dinâmica.

2.3.2. O método OWAS


O OWAS (Ovako Working Posture Analysing System), trata-se de um método de registro de
posturas, desenvolvido na Finlândia por Karku, Kansi e Kuriona (1977), a partir de uma
observação inicial das posturas assumidas por trabalhadores de uma indústria siderúrgica, na
qual encontraram 72 posturas típicas, quando combinadas as 4 posições típicas do dorso, 3
dos braços e 7 das pernas. O objetivo deste método é analisar as posturas de trabalho,
identificando-as por meio de 6 dígitos, sendo 3 que descrevem a posição dos seguimentos
corpóreos, 1 a carga e 2 o local ou estágio em que a postura foi observada.

Após a identificação das posturas, o critério sobre o qual a avaliação foi embasada referiu-se
ao desconforto percebido pelo trabalhador. Para tal, fez-se o uso de uma escala distribuída em
quatro valores cujos extremos eram: “ausência de desconforto, não exigindo cautela no
momento” e “ postura considerada ruim, ocasionando desconfortos e podendo propiciar danos
à saúde, caso não seja corrigida rapidamente”.

Quadro 1 – Classificação das categorias do método OWAS

7
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.
.

Fonte: Adaptado de Santos (2009)

2.3.3. O método RULA


O método RULA (MCATEMNEY e CORLETT, 1993), é uma adaptação do método OWAS,
acrescido de outras variáveis como: força, repetição e amplitude do movimento articular,
sendo recomendado para analisar a sobrecarga concentrada no pescoço e membros superiores
durante o trabalho, e para tanto utiliza diagramas para simplificar a identificação das
amplitudes de movimentos nas articulações, bem como avalia o trabalho muscular estático e
as forças exercidas pelos segmentos em análise.

Foi desenvolvido para que pudesse ser aplicado sem a necessidade de equipamentos de
medição, utilizando apenas prancheta e caneta. Neste método o corpo é dividido em dois
grupos: A) braço, antebraço e punho; e B) pescoço, tronco e pernas. As posturas são
enquadradas de acordo com as angulações entre os membros e o corpo, obtendo-se escores
que definem o nível de ação a ser seguido, quanto maior a pontuação recebida, maior a
indicação de uma postura prejudicial.

Quadro 2 – Níveis de ações a serem tomadas

Fonte: Apartado de McAtamney e Corlett (1993)

3. A empresa e o posto de trabalho


3.1. Sobre a empresa

8
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.
.

O estudo de caso foi realizado em uma fábrica de processamento e produção de materiais e


estruturas de aço, situada na cidade de Campina Grande – PB. A unidade da empresa em
estudo produz treliça, estribos e arames, como também vende e distribui outros materiais
oriundos de outras unidades, como calhas galvanizadas, telhas de alumínio onduladas, tubos
de aço galvanizado entre outros. A empresa conta com três setores de montagem
automatizada de estruturas de aço e com o setor de estoque e distribuição. O posto de trabalho
mais crítico e selecionado para o estudo foi o de montagem automática de treliças.

3.2. Setor de produção de treliças


O ambiente na qual o posto de produção de treliças está é um local semiaberto, no qual há
pouco espaço para movimentação, tanto de pessoas quanto de materiais, devido ao tamanho
da máquina e a quantidade de estoque que a rodeia. A máquina conta com dispositivos de
controle automático e o controle de qualidade é feita de forma visual por um único operador,
que trabalha 7 horas por dia em pé.

3.3. O setor e seu processo de trabalho


As atividades desenvolvidas no posto de trabalho selecionado podem ser divididas em quatro
operações: ajuste da viga, controle da máquina e inspeção e retirada do produto desconforme.
Para uma visualização mais detalhada, foi construído o seguinte fluxograma:

Fluxograma 1 - Atividades realizadas no posto de trabalho

Fonte: Os autores (2018)

3.3.1. Ajuste da viga


A viga precisa ser ajustada à máquina para que atenda as especificações que foram pré-
definidas pela engenharia do produto.

3.3.2. Controle da máquina

9
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.
.

A máquina é de solda elétrica e às vezes necessita de reparos ou controles durante o processo


porque a solda pode não estar funcionando ou oferecendo a pega necessária, a máquina dispõe
de um painel de comando com botões com diversas funções como: acionamento, parada,
regulagem de solda, temperatura dentre outros.

3.3.3. Inspeção
Quando a máquina está desregulada, ou quando a matéria prima apresenta alguma
desconformidade isso afeta o processo, o que acaba gerando uma treliça retorcida ou
quebrada, necessitando atenção constante do operário para que inconformidades não passem
despercebidas. A inspeção é feita de forma visual pelo próprio operador da máquina.

3.3.4. Retirada do produto desconforme


O produto classificado como não-conforme precisa ser retirado da máquina de solda e isso é
feito pelo operário de forma totalmente manual, onde ele pega a treliça e a coloca em uma
área de descarte de difícil acesso, acarretando esforço brusco frequênte e inúmeras posições
inadequadas.

4. Análise das atividades e resultados


4.1. Aplicação do questionário e discussão dos resultados
O posto de trabalho escolhido foi o de PRODUÇÃO DE TRELIÇAS, o qual requer um
conjunto de atividades sendo realizadas simultaneamente. Devido à alta carga cognitiva e
física foi aplicado um questionário para servir como suplemento na fase inicial do trabalho.
Deve ser aplicado em um primeiro momento para se ter um screening, ou seja, para se obter
uma rápida ideia da condição geral do posto de trabalho no ponto de vista da ergonomia. No
presente estudo foi aplicado o questionário nº 2 (Avaliação Simplificada das Condições
Biomecânicas de um Posto de Trabalho), fornecido pelo Laboratório de Ergonomia Aplicada
ao Trabalho e Produto (ErgoLABOR) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

Após a aplicação deste questionário, foram contabilizados cinco pontos, sendo possível
afirmar que as condições biomecânicas são ruins, indicando que o operador tem alto risco de
desenvolver lombalgia e risco moderado de desenvolver Tenossinovites e DORT, como
mostrado no Quadro 3 abaixo.

10
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.
.

Quadro 3 - Questionário n° 02
Tipo Pontos totais Interpretação
Avaliação simplificada das condições
5 Condição biomecânica ruim
biomecânicas de um posto de trabalho
Fonte: Os autores (2018)

4.2. Aplicação dos métodos e discussão dos resultados


As observações diretas e indiretas, o resultado obtido com o checklist, e as entrevistas
realizadas com o colaborador, mostraram que a dor se faz presente na realização das
atividades. Visando determinar os locais de maior incômodo e a intensidade da dor ao longo
da jornada de trabalho, foi aplicado o questionário bipolar em três momentos do dia, para
posterior construção do gráfico mostrado na Gráfico 1 a seguir com a evolução da dor em
algumas partes do corpo, sendo mais preocupante as regiões dos olhos, trapézio, lombar,
ombro, braço e punho.

Gráfico 1 - Questionário bipolar em três momentos do dia

Fonte: Os autores (2018)

11
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.
.

As atividades realizadas no posto de trabalho se resumem em: 1ª ajuste da máquina, 2ª


controle, 3ª inspeção e 4ª retirada do produto não conforme, como foram definidas
anteriormente na Seção 3.3.O ciclo para a produção de cada treliça dura em média 5 minutos,
e é realizada durante quatro horas ininterruptas.

Inicialmente adotou-se a ferramenta OWAS para avaliação postural dos trabalhadores,


classificando as posturas e ações de acordo com o Quadro 1. O referido método forneceu
como resultados e ações os dados disponíveis no Quadro 4 a seguir.

Quadro 4 – Resultados obtidos pelo método OWAS

Fonte: Os autores (2018)

Da mesma forma, pela aplicação da ferramenta postural RULA foram classificadas as


posturas e ações de acordo com o Quadro 2. Os resultados podem ser visualizados no Quadro
5 a seguir.

Quadro 5 – Resultados obtidos pelo método RULA

12
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.
.

Fonte: Os autores (2018)

A atividade 4, retirada de produtos não conformes, foi considerada crítica pelos dois métodos,
sendo sugerido correções o mais rápido possível. A alta pontuação se justifica pela ação do
operário de retirar as treliças e depositá-las em local de difícil acesso, visto que, cada treliça
pesa em média 15 kg. Somado a isto, o trabalho é feito totalmente em pé, e as outras
atividades devem ser feitas concomitantemente com a retirada da peça, pois a máquina não
para. As demais atividades requerem observações e modificações, sendo poucas as que não
necessitam de intervenção.

4.3. Aplicação da AET no posto de trabalho


A partir da análise do ambiente no qual a atividade em estudo está sendo exercida, foi
possível detectar alguns agentes de risco como; o físico, ergonômico e o de acidente. Dentre
estes, o de acidente se apresenta como o mais crítico, uma vez que, o colaborador trabalha
com uma máquina de soldagem elétrica que não possui nenhum tipo de equipamento de
proteção coletiva, ficando as partes mecânicas totalmente expostas como pode ser observado
na Figura 1.

13
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.
.

Figura 1 - Máquina de solda elétrica usada na montagem das treliças

Fonte: Os autores (2018)

O piso no posto de trabalho não é adequado, visto que, o local de operação da máquina se
encontra elevado, fazendo com que o colaborador tenha dificuldade em alcançar os comandos
e realizar as suas atividades de forma confortável, assim, para suprir este déficit, o próprio
operário adaptou um pallet de madeira próximo à máquina para que conseguisse ficar em uma
altura mais adequada para a realização da atividade. O pallet, além de não ser fixo, é frágil e
não possui uma superfície homogênea, pois é composto de várias vigas de madeira, como
pode ser visto na Figura 2.

Figura 2 - Piso de pallet de madeira improvisado

14
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.
.

Fonte: Autores (2018)

Outro risco identificado foi o ergonômico, uma vez que o trabalhador passa toda sua jornada
de trabalho em pé, sobre um piso inadequado, com posturas incorretas e incômodas
decorrentes da forma como executa sua atividade, pois necessita, com frequência, extrair as
treliças que forem classificadas como não conforme. Como agravante na realização desta
atividade, o colaborador necessita fazer movimentos bruscos e inconvenientes, devido ao peso
das treliças e ao péssimo acesso ao local onde as peças não-conformes são depositadas.
O risco físico detectado está presente no ruído da máquina e do ambiente (oriundo de
máquinas situadas no entorno do posto de trabalho em estudo), que excedeu o nível de 100
dB. Este risco é agravado pelo descaso do trabalhador no uso da proteção auricular, com o
argumento de que o mesmo não surte efeito.
A aplicação da AET foi realizada a partir de uma visita in loco, entrevista com o operador da
máquina, fotografias e pela observação da equipe que estava realizando o estudo.

4.4. Avaliação de resultados e proposições de adequação


De acordo com os resultados obtidos através da aplicação do questionário Bipolar e dos
métodos OWAS e RULA, foi possível identificar as atividades que são mais críticas e propor
algumas ações com o objetivo de melhorar a forma na qual o operário realiza suas atividades.

A atividade 1 e 2 são feitas de maneira sequencial, assim, as ações que melhoram a atividade
2 possuem efeitos similares na execução da atividade 1. Desta forma, propõe-se que, de
imediato, seja projetado um equipamento de proteção coletiva que enclausure a máquina, o
qual possua um sistema abre-fecha fácil e prático o suficiente para não atrapalhar quando se
fizer necessária uma manutenção. É imprescindível também a construção de um piso fixo de
cimento que substitua o pallet, para que o trabalhador possa executar suas atividades em uma
posição mais segura e confortável. Visando tornar mais fácil e prático o controle da máquina,
sugere-se uma redução da altura do painel, bem como a alteração na disposição dos botões,
evitando que algum seja acionado acidentalmente.

Para as atividades 3 e 4 é recomendável colocar uma bancada ao final da máquina, na mesma


altura que esta, para que o operário não necessite se abaixar para pegar e descartar as treliças

15
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.
.

não conformes, podendo apenas arrastá-las para a bancada, facilitando assim a forma de
trabalho nas duas últimas atividades que compõem o processo.

A conscientização sobre a necessidade dos EPI’s precisa ser reforçada, para que os operários
utilizem durante toda a jornada de trabalho. Por último, mas não menos importante, é
necessário que sejam colocadas sinalizações de segurança, uma vez que, foi perceptível pelos
pesquisadores a ausência destas ao longo de todo o setor de produção de treliças.

5. Considerações finais

O objetivo deste estudo foi analisar ergonomicamente um posto de trabalho no qual foi
identificado preliminarmente como o mais crítico dentro de uma fábrica do ramo metalúrgico.
A importância desse estudo se evidencia a medida em que o operador não se sentia
confortável na execução das suas atividades, por consequência, impactava negativamente no
seu rendimento e na perda de sua motivação para o trabalho.
Baseado na análise detalhada do posto de trabalho, segundo o questionário Bipolar e os
métodos OWAS e RULA, as atividades em estudo oferecem riscos preocupantes, pois, à
medida que o método ia se tornando mais detalhado, os resultados que antes apresentavam
como ações necessidades de mudanças futuras, passaram a demandar mudanças mais
imediatas, assim, corroborando com o resultado do questionário bipolar e as queixas de dores
do trabalhador de que a condição ergonômica no posto de trabalho é ruim.
As sugestões de melhorias foram dadas considerando as condições físicas e econômicas da
empresa, sendo possível perceber que o enclausuramento da máquina de solda, o piso fixo de
cimento, o projeto do novo painel de comando e a bancada anexa à máquina são medidas que
não exigem altos gastos da empresa e que trazem inúmeros benefícios, tanto em termos de
saúde e segurança para o operário, quanto em produtividade para a empresa.
Tendo em vista tudo que já foi apresentado no decorrer deste trabalho é cabível citar que há
uma lacuna na conscientização do operador, assim como também do empregador acerca da
ergonomia. Sugere-se então que sejam desenvolvidas análises ergonômicas em empresas, mas
que os resultados sejam apresentados aos operadores para que possam mudar sua postura no
âmbito de suas atividades diárias, dando a eles informações para que possam fazer

16
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.
.

modificações no método de trabalho quando este se mostrar ineficaz e colocar em risco sua
saúde.

6. Referências
ABERGO. Associação Brasileira de Ergonomia. O que é Ergonomia? Disponível em:<
http://www.abergo.org.br/internas.php?pg=o_que_e_ergonomia>. Acessado em 10 de março de 2018.

ARAÚJO, I.F. ERGOLABOR-Laboratório de ergonomia aplicada ao trabalho e ao produto. Universidade


Federal de Campina Grande –Engenharia de Produção, Ergonomia. Apontamentos de aula.

COUTO, Hudson de Araújo. Ergonomia aplicada ao trabalho: o manual técnico da máquina humana. Vol
1. Belo Horizonte: Ergo Editora, 1995.

CHAFFIN, D.B., ANDERSON, G.B.J. e MARTIN, B. J. Biomecânica ocupacional. Belo Horizonte: Ergo,
2001.

DUL, J., WEERDMEESTER, B. Ergonomia Prática. Tradução de Itiro Iida. 2. ed. São Paulo. Edgard Blücher,
2004.

FIALHO, F. A. P. Manual de análise ergonômica do trabalho. Curitiba: Gênesis, 2007.

Grandjean E. Fitting the task to the man: an ergonomic approach. London: Taylor & Francis; 1982. 379p.

GRANDJEAN, Etienne. Manual de Ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. 4 ed. Porto Alegre:
Bookman, 1998.

IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgard Blücher, 2005.

Minetti L.J. Análise de fatores operacionais e ergonômicos na operação de corte florestal com
motosserra[tese]. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa; 1996.

MINISTÉRIO DO TRABALHO. Manual de aplicação da norma regulamentadora nº 17. 2. ed. Brasília:


MTE, SIT, 2002.

MOTTA, F. V. Avaliação ergonômica de postos de trabalho no setor de pré-impressão de uma indústria


gráfica. 2009. 50f. Monografia - Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora. 2009.

SANTOS, M. H. R. et al. Análise de postura e carga através dos métodos OWAS e NIOSH em uma fábrica
de sorvetes no sul do Brasil. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO. 33 . 2013.
Salvador, BA.2013

VIDAL, M. C. Guia para Análise Ergonômica do Trabalho na empresa: Uma metodologia realista,
ordenada e sistemática. Rio de Janeiro: Editora Virtual Científica, 2008.

17
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.
.

18

Você também pode gostar