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ENGENHARIA DE PRODUÇÃO NO
BRASIL: VAGAS CRIADAS, EGRESSOS
E MERCADO DE TRABALHO.
Idamar Sidnei Cobianchi Nigro (UNIMINAS)
idamar_nigro@uniminas.br
Uiara Garcia Valente (UNIMINAS)
uiara29@hotmail.com
1. Introdução
Este trabalho teve por objetivo estudar a expansão dos cursos de engenharia de produção no
Brasil procurando organizar os dados de geração de empregos para engenheiros de produção,
crescimento econômico e número de vagas criadas em novos cursos. Procurou-se, ainda,
avaliar a demanda pelo curso de engenharia de produção e o número de egressos no período
2003 a 2006. O trabalho foi delimitado entre 2003 e 2006 por duas razões muito específicas:
no período 1946/02 foram criados 122 cursos de engenharia de produção e entre 2003 e 2006
foram criados 120 novos cursos além disso, a partir de 2003 a Relação Anual de Informações
Sociais (RAIS - MTE) passou a estratificar os dados obtidos junto às empresas mostrando os
profissionais ligados à produção, qualidade e segurança no trabalho (que neste artigo passa a
ser encarado como mais um espaço de trabalho para o engenheiro de produção).
Os dados relativos ao mercado de trabalho estão baseados nas informações da Relação Anual
de Informações Sociais (RAIS), dos anos de 2003 a 2006. A RAIS consiste em um registro
administrativo, de preenchimento obrigatório pelos responsáveis por todos os
estabelecimentos com algum vínculo empregatício ao longo do ano de referência. Trata-se,
portanto, de uma fonte de dados referente ao mercado de trabalho formal, sistematizada e
disponibilizada anualmente pelo MTE - Ministério do Trabalho e Emprego. Este trabalho trata
apenas dos vínculos formais de trabalho deixando de considerar os vínculos informais.
O profissional habilitado em engenharia de produção pode trabalhar junto à alta
administração, supervisionar a gestão da produção, participar da gestão econômico-financeira
e, especialmente, da tomada de decisões estratégicas. Para a ABEPRO (2008), a engenharia
de produção é, sem dúvida, a que possui menor carga técnica das engenharias na medida em
que é mais abrangente e genérica, englobando um conjunto maior de conhecimentos e
habilidades. Têm como área específica de conhecimento os métodos gerenciais, a implantação
de sistemas informatizados para a gerência de empresas, o uso de métodos para melhoria da
eficiência das empresas e a utilização de sistemas de controle dos processos da empresa. Tudo
o que se refere as atividades básicas de uma empresa tais como planejar as compras, planejar
e programar a produção e planejar e programar a distribuição dos produtos, faz parte das
atribuições típicas do engenheiro de produção. Sob a ótica do emprego, o mercado de trabalho
para a engenharia de produção é, sem sombra de dúvidas, o que desfruta da melhor situação.
Para Cunha (2002 apud Oliveira, 2004) uma das explicações para o crescimento do número
de cursos em engenharia de produção está na evolução do mundo da produção. O foco na
gestão do conhecimento significa, para Lara (2001), adotar uma diversidade de fontes de
conhecimento, utilização de banco de dados internos e externos (inclusive o know how e a
expertise dos funcionários), de parceiros (fornecedores e clientes), entre outros. É,
basicamente, incentivar o que os profissionais fazem de melhor: o seu “trabalho intelectual”.
No tocante à engenharia de produção, para Oliveira (2004), o conhecimento (ou gestão do
conhecimento) tem influência direta no estabelecimento de uma vantagem competitiva e, o
conjunto de conhecimentos abarcados pela formação do engenheiro de produção permitem as
condições necessárias para uma organizaçãoconstruir um conjunto de vantagens competitivas.
Este trabalho é o primeiro resultado de um projeto de iniciação científica que terá por objetivo
estudar a expansão dos Cursos de Engenharia de produção em termos quantitativos, assim
como, verificar as conseqüências pedagógicas deste crescimento no que se refere à
formulação de projetos políticos pedagógicos, elaboração de grades curriculares e
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Com base nos dados da RAIS – MTE percebe-se a ocorrência de um expressivo aumento do
número de profissionais com curso superior nas empresas. Portanto, será assumida a
informação da RAIS – MTE, engenheiros de produção, qualidade e segurança, como
indicador do número de empregos passíveis de serem assumidos por profissionais egressos da
engenharia de produção. Analisando a tabela 1 é possível perceber que, além de um
crescimento considerável do número de profissionais com curso superior nas empresas, houve
um aumento no número de engenheiros ligados aos setores de produção, qualidade e
segurança.
Tabela 2 – Evolução do mercado de trabalho para engenheiros no Brasil, entre 2003 e 2006
Uma análise mais apurada dos resultados da RAIS – MTE permite identificar os setores da
economia que tendem a utilizar um maior número de engenheiros e, a indústria lidera este
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Tabela 4 – Evolução do número de cursos de engenharia de produção no Brasil entre 1946 e 2006
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como os mais significativos da série. De fato até o ano de 1994, a criação de cursos de
engenharia de produção não apresenta um desempenho de destaque. A realidade começa a ser
alterada a partir de 1995 e, no período 1995/98, terminam sendo criados 24 cursos de
engenharia de produção em apenas quatro anos (média de 6 cursos por ano). Nos períodos
seguintes, 1999/02 e 2003/06, a criação de cursos tem uma característica de progressão
geométrica e são criados, respectivamente, 16,5 e 30 cursos a cada ano.
No período 1995/2002 deve-se avaliar melhor a criação dos cursos de engenharia de produção
(90 novos cursos) em função do crescimento da economia via produto interno Bruto (PIB).
Esta reavaliação deve-se ao fato de que, o crescimento médio do PIB (ver tabela 5), foi
decepcionante (um valor médio de 2,29% ao ano) e, entre 2003 e 2006 obteve-se um
crescimento médio de 3,45% ao ano ao passo que e um crescimento de 120 novos cursos.
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
PIB (Var.anual %) 4,2 2,2 3,4 0,0 0,3 4,3 1,3 2,7 1,1 5,7 3,2 3,8
número de cursos 3 6 3 12 17 17 14 18 19 19 39 43
Fontes: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais. Contas Nacionais Trimestrais: Nova Série
2006 e INEP
Tabela 5 – Evolução do número de cursos de engenharia de produção no Brasil entre 1946 e 2006
50.0
45.0 CURSOS = 3,0909x - 2,5909
40.0
PIB = 0,1078x + 1,9755
35.0
30.0
25.0
20.0
15.0
10.0
5.0
-
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
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Cursos de EP Cursos de EP
1946 - 2002 % 2003 - 2006 %
Sudeste 67 54,9 83 69,2
Norte 8 6,6 3 2,5
Nordeste 18 14,8 11 9,2
Centro-oeste 3 2,5 8 6,7
Sul 26 21,3 15 2,5
Total 122 100,0 120 100,0
Fonte: INEP, tabulado pelos autores
Tabela 6 – Comparação entre número de cursos de engenharia de produção no Brasil em diferentes períodos.
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Tabela 7 – Evolução do crescimento do número de cursos de engenharia de produção por tipo de instituição.
Tabela 8 – Evolução do crescimento do número de cursos de engenharia de produção por tipo de instituição e
característica do curso.
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35,000
y = 3577.8x + 6787.5
30,000
25,000
20,000
15,000
10,000
5,000
-
2001 2002 2003 2004 2005 2006
Figura 3– Evolução do número de vagas para estudantes em engenharia de produção entre 2001/2006
No mesmo período ocorreu a criação, em média, de 12 cursos de engenharia de produção por
ano, o que nos leva a uma disponibilização de, pelo menos, 300 vagas anuais para cada ano do
período avaliado.
Em função da tabela 9 pode-se concluir que há um elevado número de alunos matriculados
que desistem da carreira, quando comparados aos que, de fato, concluem o curso de
Engenharia de Produção.
No período de 2001 a 2006, em média apenas 8,1 % dos alunos matriculados se graduaram. A
comparação entre IES públicas e privadas no ano de 2006, expressa ainda mais a discrepância
entre ingressantes e egressos no curso de engenharia de produção, em IES privadas há o dobro
de ingressantes em relação às públicas, mas graduaram-se aproximadamente o mesmo número
de profissionais.
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3,000
y = 378.11x + 290.6
2,500
2,000
1,500
1,000
500
-
2001 2002 2003 2004 2005 2006
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165.000
y = 7984,5x + 124951
160.000
155.000
150.000
145.000
140.000
135.000
130.000
125.000
120.000
2.003 2.004 2.005 2.006
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proxy para auxiliar na análise do grau de inserção deste profissional no mercado de trabalho.
Tal abordagem é necessária para se avaliar a criação de empregos para engenheiros de
produção no Brasil, que, segundo Cunha (2002), foi objeto de reportagens recentes de revistas
como Exame, Isto É e Veja, e de jornais como Folha de São Paulo, apontando a Engenharia
de Produção como a Engenharia com as melhores perspectivas de mercado de trabalho. A
tabela 10 indica claramente que o número de empregos nas áreas de produção, qualidade e
segurança tem crescido entre 2003 e 2006.
Tendência Percentual
Total de trabalhadores y = 5,4773x + 93,639 5,48%
Trabalhadores com curso superior y = 16,861x + 86,781 16,86%
Engenheiros y = 5,9409x + 92,97 5,94%
Engenheiros de produção, qualidade e segurança y = 14,793x + 83,571 14,79%
Fonte: RAIS – MTE, elaborado pelos autores
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35000
engenheiros = 2161x + 5725
30000
ingressantes = 3221,6x + 5109,4
25000
concluintes = 479,5x - 700,33
20000
15000
10000
5000
0
-5000 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
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razoável entre 1946 e 1998, com uma criação de 56 cursos de engenharia de produção, e que
no período1999 a 2006 (apenas oito anos) foram criados o mesmo número de cursos que em
52 anos passados. Outra consideração a ser feita é em relação à criação de cursos x PIB
brasileiro, a partir de 1997 houve um descolamento entre o crescimento do PIB e do número
de cursos criados. Houve também, a partir de 2002, uma maior concentração de cursos na
região sudeste e, a novidade relativa ao centro-oeste no qual cresceu o número de cursos. A
ausência do Estado, no quesito investimento em novos cursos, também fica claro na tabela 7
que indica ser o investimento privado o motor para criação de tantos cursos de engenharia de
produção. Neste crescimento do número de cursos, de acordo com a tabela 9, prevaleceu o
aparecimento de cursos de engenharia de produção plena em detrimento daqueles cursos
atrelado a uma base tecnológica. Tal fato se dá tanto em públicas como privadas, além de
ficar patente que a duração média dos cursos se aproxima de 5 anos com, pelo menos, 3800
horas.
A principal consideração a ser feita está no campo da eficiência na formação de profissionais
(campo este que é especialidade dos engenheiros de produção), a eficiência das IES, tanto
públicas como privadas, no período estudado foi muito baixa. Tal condição é uma explicação
para a carência de profissionais de engenharia de produção no mercado de trabalho. E mais
importante que a carência de profissionais é perceber que tal condição pode ser um gargalo no
crescimento econômico e gestão das empresas brasileiras. Na figura 6, mantido o ritmo de
crescimento da economia, percebe-se que o número de egressos é insuficiente para atender a
demanda. Assim, é de suma importância rediscutir o atual modelo de formação técnica de
profissionais, caracterizado por uma elevada evasão, para permitir que seja incrementada a
eficiência do sistema de formação técnico profissional. Talvez seja um item a ser incluído na
pauta da ABEPRO: formar mais profissionais sem prejuízo da qualidade.
Referências
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CUNHA, G. D. Um Panorama da Engenharia de Produção. Porto Alegre, 2002, disponível no site da ABEPRO
- www.abepro.org.br. Acesso em 20/04/2008.
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n. 03: pp. 024-033, 2005.
FARIA A. F. Informações referentes à adequação curricular dos cursos de engenharia de produção. Anais do
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FURLANETO E. L.; MALZAC NETO H. G. & NEVES, C. P.. Engenharia de Produção no Brasil:
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