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XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão.


Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

DIAGNÓSTICO ORGANIZACIONAL
COMO CONDICIONANTE NA
ELABORAÇÃO DO PLANO DE AÇÃO DE
INOVAÇÃO TECNOLÓGIA DO
ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DO
VESTUÁRIO DE MARINGÁ - PR.
Ariana Martins Vieira (UNESP)
arianamvi@yahoo.com.br
Henrique Soares de Mello (UEM)
henriquesmello@uol.com.br
Isabela Silva Gerin (UEM)
isa_gerin@yahoo.com.br
Maria de Lourdes Santiago Luz (UEM)
santluz@ibest.com.br
Renan Eduardo Megiani (UEM)
rmegiani@hotmail.com

Este artigo relata os resultados coletados por meio do diagnóstico


realizado em Micro e Pequenas Empresas inscritas no projeto
“Introdução de práticas de inovação contínua nas Micro e Pequenas
Empresas (MPEs) do Arranjo Produtivo Local (APLL) do Vestuário de
Maringá”. O projeto está vinculado ao Programa Universidade sem
Fronteiras: Extensão Tecnológica Empresarial fruto de uma ação
articulada entre o Governo de Estado do Paraná, através da Secretaria
de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e Fundação
Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do
Paraná. O desenvolvimento da pesquisa caracterizou-se como
exploratória e descritiva. O escopo deste trabalho, restringiu o
diagnóstico ao nível operacional. Pode-se observar na obtenção e
análise dos dados que as MPEs apresentam uma carência de atuação
nas três áreas de atuação do projeto: Gestão da Produção, Qualidade
e Ergonomia. Entretanto, como preliminar; a ação se iniciará
principalmente nas áreas de gestão da produção e utilização dos 5
sensos. Conclui-se que as empresas inscritas no projeto não
apresentam uma sistemática de inovação tecnológica e ações de
inovação ou melhoria contínua, o que vem a viabilizar a implantação
destas ações de forma a contribuir com o desenvolvimento do APL.
Neste sentido, ações de melhorias podem estimular a cooperação e o
fortalecimento do arranjo produtivo, através da implantação posterior
dos módulos Compra coletiva, Melhoria contínua e Avaliação de
desempenho.
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Palavras-chaves: Micro e pequena empresa, arranjo produtivo local,


ações de melhoria

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1. Introdução
A partir da interação prévia dos pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá com dois
atores de governança local (SEBRAE/PR e SINDIVEST) e empresários do setor do vestuário,
desenvolveu-se um projeto com o propósito de introduzir ações de inovação ou tecnologias de
gestão da produção, qualidade e ergonomia. O projeto denominado “Introdução de práticas de
inovação contínua nas Micro e Pequenas Empresas (MPEs) do arranjo produtivo local do
vestuário de Maringá” visa estimular a cooperação empresarial e promover a inovação
contínua nos processos de gestão empresarial e manufatura das Micro e Pequenas Empresas
do arranjo produtivo do setor do vestuário.
O projeto está vinculado ao Programa Universidade sem Fronteiras: Extensão Tecnológica
Empresarial, que é uma ação articulada entre o Governo de Estado do Paraná, através da
Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e Fundação Araucária de
Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná.
Para a execução do projeto a equipe técnica foi composta por seis pesquisadores do curso de
Engenharia de Produção, Engenharia Têxtil e Administração (UEM), um pesquisador do
Programa de Pós-graduação de Engenharia de Produção (UNESP/FEB), 5 alunos de
graduação da UEM e dois profissionais recém-formados nas áreas de Engenharia de
Produção.
As ações de inovação e melhoria contínua ou tecnologias têm como premissa atender as
necessidades demandadas que as MPEs enfrentam nas áreas de gestão empresarial e
manufatura tais como: custos elevados de produção, problemas de qualidade nos produtos e
processos industriais, baixa produtividade, lead time de produção elevado, layout, carência de
um sistema de indicadores de desempenho que apóiem a tomada de decisão, escassez de mão
de obra qualificada, elevado número de absenteísmo e problemas ergonômicos. Para isto é
prevista a execução de 4 atividades:
i) formar um grupo de cooperação empresarial;
ii) planejamento do plano de ações tecnológicas;
iii) implantação e execução do plano de ações tecnológicas, e
iv) avaliação dos impactos sociais e econômicos no arranjo produtivo local.
Este trabalho propõe apresentar os resultados diagnosticados junto às micro e pequenas
empresas (MPEs). A proposta está limitada às atividades inseridas na etapa de planejamento
do plano de ações tecnológicas, cujo objetivo está na caracterização das empresas inscritas no
projeto e a elucidação das ações de extensão e inovação tecnológica.
2 Diagnóstico empresarial
Executar um diagnóstico da situação de uma empresa é complexo e uma das maiores
dificuldades é a escolha das ferramentas que serão utilizadas para pesquisar e compreender os
fatos, porque elas implicitamente mostram o marco teórico do pesquisador.
Schmitt (1996) conceitua cinco definições como elementos-chave sobre o que é um
diagnóstico empresarial: “o diagnóstico implica diferenciar, discernir, conhecer”;
“compreende o conhecimento dos sinais de determinados comportamentos”; “compreende a
identificação de uma patologia a partir de seus sinais e seus sintomas”; “implica pesquisar e
analisar as causas de uma condição, situação ou problema” e “implica na coleta de todos os

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dados necessários”.
O diagnóstico empresarial/organizacional é um instrumento aplicado para se obter o
mapeamento da conjuntura atual da empresa sob a ótica de seus proprietários, funcionários,
clientes internos e principais clientes externos, como etapa essencial anterior à elaboração de
um planejamento de ações e inserção de melhorias.
Ressalta-se que não existe um único diagnóstico. Cada metodologia utilizada apresenta o
resultado do conjunto de variáveis que se investiga, da profundidade com que cada variável é
analisada, do momento histórico em que se faz o estudo e da experiência de quem o executa.
3. Caracterização do APL do Vestuário de Maringá
A atividade de confecção no Paraná destaca-se na região noroeste do estado, especialmente no
município de Maringá e região. O início desta atividade data de meados da década de 1980 e
nas últimas décadas verifica-se um acentuado crescimento do número de empresas
relacionadas à confecção de artigos do vestuário (TRINTIN, et al. 2007). Com isto, esse
segmento mostra-se intensivo na utilização de mão-de-obra, absorvendo quantidades
significativas de trabalhadores.
O setor do vestuário de Maringá e região está caracterizado pelo elevado índice de
concentração geográfica de MPEs, constatando-se, atualmente, inseridas 1.200 indústrias
formais. Esse crescimento não se resume à quantidade de estabelecimentos, mas também na
ampliação da produtividade e da competitividade, produzindo 7 milhões de peças por mês,
com faturamento mensal em torno de R$ 130 milhões de reais, gerando 20 mil empregos
diretos e 60 mil indiretos (SINDVEST, 2009).
Assim como outras aglomerações produtivas do país determinadas como Arranjos Produtivos
Locais, o APL de confecção de Maringá é constituído predominantemente por micro e
pequenas empresas (98,4%) (TRINTIN, et al 2007.). Estudos de prospecção do setor
industrial destacam que a produção das empresas localizadas na região de Maringá está
distribuída entre a confecção de jeans, camisaria, malhas, lingerie, moda social masculina e
feminina, moda infantil e infanto-juvenil, linha bebê e praia (APL DO VESTUÁRIO, 2006).
Dentro deste panorama, as instituições relacionadas à formação técnica e empresarial do
capital humano da atividade são: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Paraná
(SENAI), a Universidade Estadual de Maringá (UEM) e o Serviço Brasileiro de Apoio ás
Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e o Sindicato da Indústria do Vestuário de Maringá
(SINDVEST), sendo estas instituições os principais responsáveis por promover o intecâmbio
científico e tecnológico tanto para melhoria contínua quanto para solução de problemas,
contribuindo para o fortalecimento do APL.
Os problemas associados ao este setor industrial são a elevada informalidade das MPEs, o
porte dos empreendimentos e as características do mercado de moda: sazonalidade e massiva
exigência na criação de modelos e uso de novos tecidos. Ainda, existem dificuldades para
estabelecer uma estratégia de atuação coletiva e competitiva para o Arranjo Produtivo Local.
Isto é, os agentes de governança enfrentam dificuldades para estimular a cooperação
empresarial das MPEs.
Essa situação problemática pode ser associada a vários fatores relacionados com o perfil dos
empresários, tipo de processo industrial, a formação do empresário e carências no mercado de
tecnologia de gestão e prática de inovação contínua adequadas para o porte das empresas.
Verifica-se, também, uma limitação financeira e de infra-estrutura das MPEs e de capacitação

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técnica dos recursos humanos locais que também dificulta o acesso e a implantação das ações
de tecnologias e práticas de gestão empresarial que podem melhorar a qualidade dos produtos
e promover o desempenho dos processos de manufatura.
4. Metodologia
O público alvo deste projeto de extensão tecnológica empresarial se restringe as MPEs do
APL do vestuário de Maringá e região. A seleção desse arranjo produtivo foi realizada em
função de alguns critérios, conforme descritos a seguir:
- existe a oportunidade de integrar conhecimentos desenvolvidos na universidade (ofertas de
tecnologias) com as demandas de tecnologias das MPEs localizadas no arranjo produtivo de
Maringá;
- esforços foram realizados pelos participantes para integrar as demandas e ofertas
tecnológicas;
- o domínio de atuação dos pesquisadores está relacionado com as demandas de tecnologias
que promovem o desempenho nas áreas de gestão empresarial, produção e qualidade das
MPEs.
O diagnóstico foi realizado em vinte empresas: uma em Astorga, uma em Umuarama, uma em
Marialva, seis em Cianorte e onze em Maringá. Todas localizadas na região noroeste do
estado do Paraná.
O tipo de abordagem da metodologia possuiu um caráter qualitativo. Quanto aos
procedimentos técnicos classifica-se como pesquisa de campo e pesquisa-ação.
Iniciou-se, primeiramente com revisão bibliográfica referente as técnicas de investigação,
sequenciando por determinar a demanda do APL, analisá-lo e interpretá-lo, tendo como
abordagem o direcionamento da pesquisa às respostas para as indagações propostas às
demandas apresentadas.
O desenvolvimento da pesquisa pode ser dividido em duas etapas. A primeira etapa pode ser
caracterizada como exploratória e descritiva, escopo deste artigo. A segunda etapa da
pesquisa pode ser classificada como aplicada, pois tem como objetivo a aplicação prática dos
conhecimentos para a solução do problema a partir da validação da proposta. Tem seu
desenvolvimento caracterizado como pesquisa-ação, através da implantação e execução de
plano de ações tecnológicas.
4.1 Planejamento do plano de ações tecnológicas
Nesta etapa, foi elaborado um diagnóstico empresarial no arranjo produtivo. Esta atividade foi
realizada em parceria com o SINDVEST e SEBRAE-PR. O projeto foi divulgado entre os
associados do sindicato, no período de janeiro e fevereiro de 2009 e os interessados receberam
as visitas técnicas da equipe do projeto, neste período.
As técnicas utilizadas para a coleta de dados foram feitas por meio de questionário/check-list,
entrevistas, observações diretas no chão de fábrica e análise documental, compreendendo os
meses de março a abril de 2009. O questionário foi estratificado em três áreas: gestão da
produção, gestão da qualidade e ergonomia/segurança do trabalho. No anexo A, apresenta-se,
de modo resumido, parte das questões exploradas no questionário/check-list (Quadro 3).
Como base para a elaboração dos questionários foi utilizado o modelo de check list de Moura
(1998) e o Programa D-olho na Qualidade do Sebrae de Oliveira (1997). Através do
diagnóstico foi possível identificar as carências tecnológicas por empresa e a realização de

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propostas para o plano de ações de inovação.


A entrevista e a aplicação do questionário ocorreram em todas as empresas simultaneamente.
Em cada empresa, foi designado um funcionário responsável por receber a equipe técnica para
acompanhamento, fornecimento de dados e contato.
Com base nas áreas atuação demandadas no projeto, conforme ilustrado no Quadro 1 e no
resultado da análise dos diagnósticos, foi desenvolvido pelos pesquisadores, um fluxograma
com os módulos de atuação para elaboração do plano de ação (Figura 1). Cada empresa terá,
inicialmente, um módulo como prioridade para implantação e os outros módulos serão
implantados de acordo com a especificidade de cada empresa.
As variáveis investigadas estão relacionadas à Gestão da Produção, compreendendo os
módulos (mapeamento de processo, PCP, operações, almoxarifado e ficha técnica), Gestão da
Qualidade (módulos 5S, qualidade do produto e qualidade do processo), Ergonomia (módulos
ergonomia e pesquisa do clima organizacional I e II) e os módulos de ações complementares
aos já implantados como avaliação de desempenho, melhoria contínua, gestão de compras e
compra coletiva.

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Quadro 1 – Principais demandas/ofertas tecnológicas

Os módulos foram divididos em treinamento e assessoria/implantação. Os treinamentos


ocorrerão no SINDVEST, onde participarão todos os colaboradores designados pelas
empresas juntamente com os empresários. Além do treinamento coletivo, haverá
sensibilizações internas por módulo e por empresa, restrita aos funcionários.

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Módulos Implantação
Qualidade do
Ficha Técnica
Produto

Clima Qualidade do
Organizacional I
Processo

Clima
5S / Ergonomia Organizacional
II
Motivação para Capacitação
5S (Gerentes / para 5S
Supervisores) (Funcionários)
Avaliação de Melhoria
5S / Operações PCP
Desempenho Contínua

Mapeamento Gestão de
Compra Coletiva
de Processos Compras

5S /
Almoxarifado
Legenda:
Assessoria /
Treinamento
Implantação

Figura 1 – Módulos de atuação

5 Análise e Interpretação dos Resultados


Conforme a classificação do SEBRAE (2009) quanto ao porte das empresas, classifica-se
como micro empresa as que possuem até 19 funcionários e pequenas empresas as que
possuem de 20 a 99 funcionários.
Dentre as empresas inscritas no projeto, 75% correspondem às pequenas empresas, sendo que
50% do total possuem até 39 funcionários e 10% delas apresentam um quadro de 80 a 99
funcionários.
A Figura 2 ilustra a reclassificação adotada, no projeto, referente a amplitude desta faixa,
visto que, um incremento em torno de 20 funcionários influenciou diretamente no
desenvolvimento do plano ação de melhoria nas empresas.

10%
25%

30%

25%
10%

0-19 20-39 40-59 59-79 80-99

Figura 2 – Perfil das empresas por quantidade de funcionários

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Verificou-se, também, que 70 % das empresas trabalham com parte de sua produção
terceirizada, distribuída entre micro e pequenas empresas denominadas facção, tendo entre as
atividades estratificadas o bordado, a estamparia e a costura assumindo um percentual de 79%
(Figura 3). Tais características evidenciam-se como estratégias para o pólo do vestuário como
forma de obter eficiência coletiva e o fortalecimento da cooperação empresarial.

outros

Não Terceiriza
corte

criação

lavanderia

estamparia
Terceiriza
bordado

costura

0% 20% 40% 60% 80% 0% 10% 20% 30% 40%

Empresas Utilizam Serviço Tercerização Tercerização por Segmento

Figura 3 – Terceirização

Quanto aos módulos de atuação, a Figura 4 ilustra a quantidade de módulos solicitados nas 20
empresas. A Motivação para 5S será uma etapa de treinamento para todas as empresas,
independente da ação a ser implantada, uma vez que, estas apresentam carências quanto a
organização e má adequação do ambiente de trabalho. Qualidade do produto e qualidade do
processo aparecem em seguida em 27% do total dos módulos solicitados e confirmados pelo
diagnóstico.
O módulo 5S Ergonomia não será ofertado a priori, uma vez que para intervenção deste foi
definido como requisito prévio a oferta de treinamento por meio do módulo Motivação para
5S e a partir deste, verificar as demandas aplicando o módulo de clima organizacional por
empresa.
Esta abordagem, referente ao módulo 5S/Ergonomia justifica-se pela não compreensão da
tecnologia em si, no universo restrito das MPEs do APL. Observou-se, na maioria das
empresas, por meio da entrevista e observação do setor produtivo o desconhecimento frente
aos benefícios gerados quanto a saúde, segurança e conforto dos colaboradores, além da
produtividade humana e do sistema. Na realidade, há enorme dificuldade dos empresários
serem capazes de vincular ações ergonômicas/segurança como justificativa para qualquer
investimento, se necessário, em termos dos benefícios concretos que se obterá para a
organização – para a capacidade da organização em ser competitiva e sobreviver.

Visto que, os módulos Gestão de Compras, Melhoria Contínua e Compra Coletiva apresentam
maior grau de complexidade e estruturação, a implantação dos módulos anteriores se faz
necessário, servindo como base da implantação destes para sua efetiva utilização, de forma a
estimular ações conjuntas e de melhoria contínua, o que justifica, nessa primeira etapa de
atuação a ausência de um plano de atendimento.

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20 100%
18 90%
16 80%
14 70%
12 60%
10 50%
Quantidade Módulos
8 40%
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4 20% Porcentagem
Acumulada
2 10%
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Figura 4 – Ações diagnosticadas

Após a leitura e compreensão das informações levantadas, decidiu-se por iniciar a intervenção
nas empresas, com o atendimento a uma demanda de capacitação gerencial por meio do
Módulo Motivação para 5S e implantação de nove ações nas áreas de gestão, processos,
insumos e produtos, buscando atender as demandas ou necessidades tecnológicas nas áreas de
Gestão da Produção, Gestão da Qualidade e Ergonomia (Figura 5).
A ação Qualidade do Produto foi escolhida como prioritária em sete empresas. Uma
característica que justifica a aplicação deste módulo é que o controle de qualidade se restringe
unicamente ao controle monitorado por meio da sensibilidade natural do colaborador (sentido
visual, tátil) sem outros parâmetros de inspeção e indicadores de desempenho, tais como
prazos de entrega, controles estatísticos quanto aos padrões de qualidade e melhoria contínua
em seus produtos e processos, principalmente aquelas que utilizam serviços terceirizados.
Os módulos 5S Almoxarifado e 5S Operações serão implantados a partir do 5S Motivação,
como forma de utilizar além das ferramentas e técnicas específicas para estas áreas de
atuação, a implantação dos cinco sensos da qualidade como obrigatória.
O módulo ficha técnica não está entre os módulos de atendimento, pois será uma ferramenta
utilizada como complemento às ações de PCP, Qualidade do Produto e 5S/Operações.
Qualidade do Processo será aplicado como auxílio ao módulo Qualidade do Produto, de
acordo a necessidade da empresa.

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16 80%
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12 60%
10 50%
Quantidade Módulos
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Figura 5 – Módulos a serem implantados

Outra característica detectada no diagnóstico, está na carência de conhecimento, utilização e


implantação de teorias de gestão e inovação nas diferentes áreas da produção. Isto se deve a
falta de informações e referências para aplicação de técnicas de gestão baseada na filosofia
JIT e metodologias como Kanban, TQM (Gerenciamento de Qualidade Total), certificações
como ISO 9000, programas de melhorias contínuas – Kaizen, CEQ (Controle Estatístico de
Qualidade), entre outras. Neste contexto, somente duas empresas utilizam estes métodos
(Quadro 2), sendo que uma utiliza a ferramenta Kanban e outra a gestão da produção baseada
na filosofia JIT.
Quanto aos demais aspectos pesquisados, 65% das empresas apontam a existência de um setor
de PCP, porém, conforme constatado, nota-se que estas não apresentam um setor formalizado
de PCP, mas sim um controle informal do sistema produtivo, apresentando carências de
softwares específicos e métodos produtivos explícitos para este setor.
Quanto aos prazos de entrega, nota-se que 50% das empresas não atendem estes prazos
devido a falta de planejamento da produção e de insumos, aliado a falta de critérios no
estabelecimento da programação de entrega visando o comprometimento como estratégia. O
Quadro 2 destaca os fatores relevantes em relação a área Gestão da Produção.

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Empresa Setor de Modelo gestão Controle de Atendimento dos


PCP matéria-prima prazos de
entrega
A Não Não Não Não
B Sim Não Sim Não
C Sim Não Sim Não
D Não Não Não Não
E Não Kanban Não Sim
F Não Não Não Sim
G Não Não Não Não
H Sim Não Sim Sim
I Sim Não Sim Sim
J Não Não Sim Sim
K Sim Não Sim Não
L Sim Não Sim Não
M Não Não Sim Sim
N Sim Não Sim Sim
O Sim Não Não Sim
P Sim Não Sim Não
Q Sim JIT Sim Sim
R Sim Não Sim Não
S Sim Não Sim Não
T Sim Não Não Sim
Quadro 2 – Diagnóstico da Gestão da Produção

6. Considerações Finais
Conforme o escopo deste trabalho, restringiu-se o diagnóstico ao nível operacional, uma vez
que este vem a colaborar com a gestão específica da produção, qualidade dos produtos e
processos e ergonomia.
Pode-se observar na obtenção e análise dos dados do diagnóstico que as empresas apresentam
uma carência de atuação nas três áreas do projeto. Entretanto, como preliminar; a ação se
iniciará principalmente nas áreas de gestão da produção e utilização dos 5 sensos. A atuação
no APL vem a contribuir de forma a organizar o ambiente de trabalho e também de
conscientização dos empresários e funcionários quanto a uma sistemática de utilização dos
recursos disponíveis de acordo com o porte da empresa, sejam estes recursos financeiros,
operacionais, mão-de-obra, entre outros.
Diante da análise dos dados coletados, constatou-se que inexistem técnicas e práticas precisas
na gestão estratégica da produção.
Conclui-se que as empresas inscritas no projeto não apresentam uma sistemática de inovação
tecnológica e ações de inovação ou melhoria contínua, o que vem a viabilizar a implantação
destas ações de forma a contribuir com o desenvolvimento do APL. Neste sentido, ações de
melhorias podem estimular a cooperação e o fortalecimento do arranjo produtivo, através da

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implantação posterior dos módulos compra coletiva, melhoria contínua e avaliação de


desempenho.

Referências
APL DO VESTUÁRIO. Plano de desenvolvimento do arranjo produtivo local do vestuário de Cianorte/
Maringá – Paraná. 53p., 2006. Disponível em: <http://www.redeapl.pr.gov.br/arquivos/File/PDP
VestuarioCianorteMaringaPR.pdf> Acesso em: 01 nov. 2008.
MOURA, R. A. Check sua logística interna. São Paulo: Imam, 1998.
OLIVEIRA, J.A.S. (coord.). D-olho na qualidade. Brasília: Ed. Sebrae, 1997.
SCHMITT, G. R. Turnaround: a reestruturação dos negócios. São Paulo: Makron books, 1996.
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas. Classificação das MPEs segundo o
número de empregados. Disponível em:http://www.sebraesp.com.br/sites/ classificacao _ empregado.pdf .
Acesso em 21 jan. 2009
SINDVEST- Sindicato da Indústria do Vestuário de Maringá. Disponível em: <www.sindvestmaringa.com.br>.
Acesso em: 18 abr 2009.
TRINTIN, J. G. et al. Potencialidades e fragilidades do arranjo produtivo local: um estudo de caso do setor de
confecção no município de Maringá – PR, 2007. Disponível em: <http://www.ecopar.ufpr.br/artigos/. Acesso
em 20 fev. 2009.
ANEXO A

Questionário de características gerais da empresa.


1- Qual o porte da empresa?
( ) Micro (Até 19 func.) ( ) Pequena (20 a 99 func.)
2- A empresa é familiar?
3- Qual o público alvo?
( ) Feminino ( ) Masculino ( ) Infantil
4- Quais atividades são desenvolvidas no setor produtivo?
5- Quais atividades são terceirizadas?
6- Como a empresa se posiciona no mercado?
( ) Custo ( ) Diferenciação ( ) Qualidade
Check List – Produção
1- Existe PCP? Software e/ou Manual?
2- Existe ficha técnica do produto para controle de produção?
3- Há controle do estoque de matéria prima?
4- Existe controle de estoque final informatizado e integrado com o controle de
produção?
5- Existem gargalos na produção?
6- A empresa trabalha com métodos do tipo Kanban, JIT, TQC , software?
7- Qual é o sistema de produção?
( ) Linha ( ) Célula ( ) Série
8- Os prazos de entrega são cumpridos pela produção?

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Check List – Qualidade


1- A empresa adota programas de qualidade?
2- A empresa possui alguma certificação de qualidade?
3- Os funcionários passam por uma qualificação/capacitação?
4- (Observação) O ambiente de trabalho é limpo e organizado?
5- A empresa possui algum indicador de desempenho?
Check List – Ergonomia
1- Os funcionários usam EPI? Em quais atividades?
2- Os funcionários se afastam por acidentes/problemas ergonômicos?
3- Quais são os tipos de necessidades dos funcionários quanto ao ambiente de trabalho?
4- A empresa utiliza algum programa de sugestões para melhorias do ambiente de
trabalho?
5- As ferramentas são dispostas no posto de trabalho?
6- Existem funções que exigem esforços físico?
Quadro 3 – Modelo resumido do Questionário/Check-list

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