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IMPLEMENTAÇÃO DA METODOLOGIA
KAIZEN POR MEIO DE PROJETOS DE
MELHORIA CONTÍNUA: PESQUISA AÇÃO
EM UMA INDÚSTRIA DE CONFECÇÃO
LOCALIZADA NA CIDADE DE MARINGÁ
Caio Vieira
caiovieiraa96@gmail.com
1. Introdução
Sabe-se que o setor têxtil é de suma importância mundial, e isso não é diferente no Brasil.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção - ABIT, o país é
reconhecido como o quarto maior produtor e consumidor de denim no mundo, além de estar na
quarta posição mundial em relação à produção de malhas. Estas colocações são diretamente
refletidas no número de empresas (mais de 25 mil) e empregos (cerca de 1,5 milhão empregos
diretos) gerados no país. Esses números são ainda mais expressivos ao se observar que o setor
têxtil está entre os maiores empregadores da indústria de transformação no Brasil,
representando cerca de 16,7% dos empregos, perdendo apenas para alimentos e bebidas (juntos)
(ABIT, 2019).
Considerando apenas o PIB têxtil, atingiu-se a marca de US$ 34,6 bilhões em 2007 no Brasil
(SEBRAE, 2010). Grande contribuinte para esses números é o estado do Paraná, o qual está
posicionado como o quarto maior responsável pelo PIB têxtil brasileiro, contribuindo com cerca
de US$ 2,6 bilhões, atrás apenas dos estados de São Paulo (US$ 10,2 bilhões), Santa Catarina
(US$ 5,1 bilhões) e Minas Gerais (US$ 4,0 bilhões).
Entretanto, os setores têxtil e de confecções maringaenses, bem como o nacional, enfrentam
forte concorrência de empresas do exterior, segundo dados do SEBRAE (2010, p.15), e, devido
às ameaças internacionais, o setor nacional busca alternativas para gerar melhorias e,
consequentemente, aumentar sua competitividade.
Uma destas alternativas, é a adoção de técnicas e ferramentas da manufatura enxuta (o Lean
Production), cuja base é a redução de perdas e desperdícios da cadeia produtiva (WOMACK;
JONES, 1998).
Na cadeia produtiva do setor de confecção, o desperdício está presente em quase todos os
processos quando não são bem administrados, desde o processo de separação do tecido para a
produção da peça confeccionada até o fim de sua produção e expedição. O resultado desses
desperdícios é a falta de qualidade nas peças, falta de produtividade, retrabalho, entre outros
problemas para a cadeia produtiva do produto.
Dentre os pilares do Lean, destaca-se o Kaizen, cujo fundamento principal é promover ações de
melhoria contínua para reduzir desperdícios, melhorar qualidade do produto, aumentar a
produtividade e criar um ciclo de melhoria contínua (LIKER, 2004).
Araujo; Rentes (2006) definem Kaizen como: “...a melhoria contínua de um fluxo completo de
valor ou de um processo individual, a fim de se agregar mais valor com menos desperdício”.
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XLI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”
Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 18 a 21 de outubro de 2021.
Ou seja, o Kaizen é uma metodologia, não uma ferramenta, que busca um ciclo de melhoria
contínua.
O presente trabalho tem como objetivo principal descrever a implementação da metodologia
Kaizen em uma indústria de Confecção em Maringá e demonstrar os ganhos obtidos em um dos
projetos implementados, por meio de uma pesquisa aplicada.
O presente trabalho justifica-se por este cenário, no qual as empresas necessitam de algum
diferencial para se sobressaírem frente ao mercado. Esse diferencial é apresentado por meio da
aplicação da metodologia Kaizen, proporcionando resultados positivos para a empresa em
análise.
2. Revisão Teórica
Para ajudar no embasamento teórico, são abordados conceitos sobre Indústria de Confecção e
Kaizen.
2.2 Kaizen
Araújo; Rentes (2006) definem Evento Kaizen como um projeto, no qual trabalha com a
eliminação de desperdícios por meio da implementação de um método ou ferramentas da
manufatura enxuta.
Já Marchwinski; Shook (2007) definem Kaizen como a melhoria contínua do fluxo de valor de
um processo, visando criar mais valor com menos desperdício, por meio da eliminação de
etapas que não agregam valor ao produto final, da redução de desperdícios e das perdas de
produção.
Para Rother; Shook (1999) existem dois tipos níveis para o Kaizen, são eles:
• Kaizen de fluxo: o qual tem foco no fluxo de criação de valor no produto;
• Kaizen de processo: o qual tem foco em processos separados, individuais.
O presente trabalho tem enfoque nos Kaizen de processo.
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3. Metodologia
O presente trabalho apresenta uma pesquisa ação realizada junto a uma indústria de confecção
localizada na cidade de Maringá-PR. Segundo Mello et al (2012), o método caracteriza-se pelo
ao fato de sua iniciação se referir a um problema existente, normalmente em empresas nas quais
os pesquisadores já trabalham, e não a partir de referenciais da bibliografia para desenvolver a
proposta da pesquisa e trabalhar em cima dela. A forma de resolução adotada foi a Metodologia
Kaizen e por meio dela buscou-se aumentar a produtividade dos processos de fabricação numa
empresa de confecção.
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O segundo passo para a implantação do Kaizen foi realizar o levantamento das dificuldades
encontradas dentro do ambiente no qual a metodologia foi aplicada. Após a reunião de
apresentação do programa realizou-se um Gemba Walk, a fim de levantar as dificuldades do
setor produtivo. Por meio de diálogo com os colaboradores do setor foram coletados problemas
ocorridos no setor produtivo, os quais foram considerados pela equipe de projetos como
oportunidades de melhoria.
O passo seguinte do Kaizen foi identificar as oportunidades de melhoria que poderiam ser
implementadas. Neste ponto deixou-se claro o significado de oportunidades, que são as chances
que uma empresa possui para atender seu cliente, alcançar seus objetivos e concretizar suas
metas estratégicas (SILVA et al, 2011). Considerando-se que num ambiente de produção cada
processo é cliente interno dos processos anteriores, no presente trabalho entendeu-se serem
oportunidades os problemas identificados no sistema produtivo.
Para apresentar as oportunidades levantadas foi necessário entender as atividades dos setores
analisados da empresa em questão. O Quadro 1, traz uma breve descrição dos setores produtivos
considerados.
Quadro 1 – Breve Descrição dos Setores Produtivos da Empresa
Setores Descrição
Responsável pelo planejamento diário da produção, diretamente ligado com as
PPCP
metas pré-definidas.
Almoxarifado de Tecidos Local onde os rolos de tecido à serem produzidos são armazenados.
Almoxarifado de Aviamentos Local onde os aviamentos são estocados, como botões por exemplo.
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Superprodução;
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OP’s: Ordens de Produção
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Linha 2: Segunda linha da marca, recorrente de sobras de tecidos.
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desnecessária, tempo de espera para receber as linhas e riscos ergonômicos à saúde das
colaboradoras.
O processo de abastecimento ocorria da seguinte maneira:
• Ao faltar linha em sua máquina de costura, a costureira solicitava para a abastecedora,
novas linhas para continuar o trabalho. Esta por sua vez solicitava à responsável do
Almoxarifado de Aviamentos, que separava as linhas e as colocava nos armários de
linhas;
• Cada célula de costura, também conhecida como “fábrica” de costura, possuía uma
abastecedora. Ao total tinha-se 12 “fábricas”, ou seja, 12 colaboradoras trabalhando
para realizar o abastecimento de linhas e 1 colaboradora para comandar o setor de
estoque das linhas, também conhecido como Almoxarifado de Aviamentos;
• Cada “fábrica” possuía um armário exclusivo no segundo andar do setor de
Almoxarifado de Aviamentos, onde eram estocadas e separadas por cores as linhas que
estavam sendo utilizadas naquela coleção e naquela célula de costura;
• A abastecedora, devia buscar nos armários, as linhas solicitadas pela costureira, e voltar
para abastecer a sua fábrica.
Após o entendimento dos problemas encontrados no processo de abastecimento de linhas,
partiu-se para a apresentação do projeto de melhoria proposto.
Para iniciar o Kaizen 01, utilizou-se do “Termo de Abertura do Kaizen” e um “Modelo A3”
para Resoluções de Problemas e Acompanhamento de Resultados, que nada mais são que
algumas ferramentas da metodologia.
A Figura 4 apresenta o “Termo de Abertura” que foi utilizado para deixar registrado o começo
do projeto. O termo foi dividido em 3 partes e preenchido com informações referentes ao projeto
de melhoria analisado.
As seguintes informações foram preenchidas no Termo de Abertura:
• Identificação, Indicadores utilizados (Distância percorrida, em metros, e tempo de
ocupação, em minutos da abastecedora;
• Causas da abertura do Kaizen: 1 - Distância física para realizar o abastecimento das
linhas para a costura, com muita movimentação de funcionários; 2 - Local inadequado
do armazenamento das linhas de costura, com escada para chegar ao almoxarifado das
linhas, tornando o caminho da abastecedora ainda mais perigoso e complexo; 3 - Falta
de procedimento para as costureiras pedirem mais linhas; 4 – Tempo elevado para a
realização do abastecimento de linhas.
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A ferramenta tem este nome, pela sua semelhança a uma folha A3, e serve para realizar o
acompanhamento do projeto. Traduz o diálogo entre a equipe e o projeto, contendo as seguintes
informações:
• Informações técnicas do Kaizen, como nome do projeto, número, líder, um breve
histórico da situação analisada e um estado atual, que pode ser preenchido com fotos,
gráficos ou escrita. No Kaizen analisado, percebeu-se que o local onde ficava o
almoxarifado de linhas era subindo uma escada, longe das costureiras, ineficaz
ergonomicamente.
• Objetivos e metas do projeto, que já foram apresentados no termo de abertura, e
problemas como a distância percorrida, a alta movimentação, o desperdício do tempo e
a ergonomia inadequada do local.
• Cronograma mais visual, sobre as atividades e o progresso do projeto.
As Figuras 5 e 6 mostram, respectivamente, os lados esquerdo e direito do A3 utilizado.
Figura 5 – Lado esquerdo do A3
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Contramedidas
Sequencia Atividades Responsável Até Progresso
12 Impl ema nta çã o na fá bri ca pi l oto (fa b. 12) Joana 13/mar 40%
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INICIAL PROPOSTO
Quantidade de 13 1
Colaboradoras
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6. Conclusão
A implementação do Kaizen proposta foi demonstrada e os resultados apresentaram reduções
dos desperdícios encontrados no processo inicial de abastecimento de linhas para a costura. Os
resultados obtidos foram positivos em relação à distância percorrida mensalmente, ao tempo
gasto no processo de abastecimento e à redução de número de colaboradoras envolvidas no
processo.
O programa implementado deve ter impactos diretos nos resultados de produtividade da
empresa, segurança e saúde organização do ambiente de trabalho, porém estes aspectos não
foram analisados no presente trabalho.
Referências
ABIT (Associação Brasileira de Indústrias Têxteis). Perfil do setor: Dados gerais do setor
referentes a 2018 (atualizados em dezembro de 2019). Disponível em:
<https://www.abit.org.br/cont/perfil-do-setor#sthash.Dqb2QtO9.dpuf>. Acesso em: 08 jul.
2020.
SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Panorama Regional do
Vestuário no Paraná. Jun. 2010. 59 slides. Disponível em: <
https://slideplayer.com.br/slide/1791424/ >. Acesso em: 09 de jul. 2020.
WOMACK, J. P. & JONES, D. T. A mentalidade enxuta nas empresas: elimine o desperdício
e crie riqueza. 6. Ed. EDITORA CAMPUS, Rio de Janeiro, 1998, p. 428.
ARAUJO, C.A.; RENTES, A.F. A metodologia Kaizen na condução de processos de mudança
em sistemas de produção enxuta. Revista Gestão Industrial, v.2, n.2, pp- 133-142, 2006.
Disponível em:
<https://pdfs.semanticscholar.org/337a/0d7871c76574dfbc8c46d28de9963373bb6c.pdf>.
Acesso em 15 de julho de 2020.
AUDACES - Estrutura da cadeia produtiva têxtil e de confecção. Disponível em
<https://www.audaces.com/estrutura-da-cadeia-produtiva-textil-e-de-confeccao/>. Acesso em
15 de julho de 2020.
LIKER, J. K. O Modelo Toyota: 14 Princípios de Gestão do Maior Fabricante do Mundo. Ed.
BOOKMAN, Porto Alegre, 2005, p. 316.
ROTHER, M.; SHOOK, J. Aprendendo a enxergar. Lean Institute Brasil. São Paulo, 1999.
MELLO, C.H.P; TURRIONI, J.B; XAVIER, A.F; CAMPOS, D.F. Pesquisa-ação na
engenharia de produção: proposta de estruturação para sua condução. Produção, v. 22, n. 1, p.
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