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XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o


desenvolvimento do Brasil” Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de
2018.

ERGONOMIA E ORGANIZAÇÃO DO
TRABALHO: UMA REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA
Larissa Brentini de Almeida Rodrigues larissabrentini@hotmail.com João
Alberto Camarotto camarotto@dep.ufscar.br

A organização do trabalho (OT) desempenha papel importante nas relações entre


trabalho, saúde e eficácia e diante disso, torna-se importante a abordagem da OT
nos estudos práticos na área de ergonomia. O objetivo deste artigo foi
compreender como os estudos da área de ergonomia abordam as questões
relacionadas à organização do trabalho (OT). Foi realizada uma pesquisa
bibliográfica por meio da busca nas bases de dados eletrônicas Scopus, Science
Direct e PubMed. Foram incluídos somente estudos ergonômicos práticos que
incluíram aspectos da OT em suas análises e após a extração dos dados, foi
realizada a análise descritiva. A busca eletrônica resultou em um total de 633
referências e, ao final do processo de seleção, vinte e um estudos foram
selecionados. Os resultados mostraram que a maior parte dos estudos
selecionados nesta revisão abordaram aspectos como divisão de tarefas,
interação entre as atividades e operações, procedimentos de produção e
exigências do trabalho. Apenas nove estudos consideraram o distanciamento entre
o prescrito e o real e quanto às técnicas de análise houve predomínio das
entrevistas, observações globais e questionários. Novas pesquisas que visem a
compreensão da OT na perspectiva da atividade real são necessárias, a fim de
permitir o entendimento do processo de reconstrução da OT nas situações reais
de trabalho. Além disso, verifica-se a necessidade de estudos com descrições mais
detalhadas acerca dos aspectos da OT abordados durante o uso das diferentes
técnicas de análise.

Palavras-chave: ergonomia, organização do trabalho, Técnicas de análise


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do Brasil” Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.
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1. Introdução
Diante das inovações tecnológicas e das diferentes formas de organização do trabalho (OT), o
perfil de saúde dos trabalhadores se expressa pela crescente incidência de doenças
relacionadas ao trabalho, como distúrbios osteomusculares e outras formas de doenças de
ordem psíquica, como estresse e fadiga mental (SZNELWAR et al, 2011). O adoecimento é
significativo em setores nos quais a OT é caracterizada por ritmo acelerado, ausência de
pausas, pressão de produtividade, acúmulo de responsabilidades, entre outros
(VANDERGRIFT et al. 2012). Além disso, situações de trabalho marcadas pela rigidez do
sistema técnico e organizacional, com normas, regras e procedimentos inflexíveis, podem
inviabilizar a gestão, por parte do operador, dos conflitos existentes entre a manutenção da
saúde e os critérios de produção e de qualidade. Dessa forma, a demanda organizacional, dado
o contexto atual, merece atenção no desenvolvimento de programas de ergonomia que visem
atender aos critérios de saúde e de eficácia.

Na literatura, verifica-se, predominantemente, intervenções ergonômicas voltadas para a


melhoria das condições físicas do trabalho, visando reduzir as cargas biomecânicas e,
consequentemente, as lesões osteomusculares (AFSHARI et al. 2015; HUCK-SOO, 2015;
CHANCHAI et al., 2016). No entanto, para transformar o trabalho, tendo em vista a saúde e a
eficácia, torna-se fundamental a compreensão dos aspectos da OT, especialmente a forma
como eles se manifestam em situação real de trabalho, a fim de entender os constrangimentos
sofridos pelos operadores e as estratégias que eles utilizam para resolver os problemas
ocasionados pela OT. Tais princípios são fundamentados na ergonomia da atividade, na qual,

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segundo Daniellou (2004), predomina a valorização do aspecto construtivo presente na


situação real de trabalho e a valorização da contextualização da atividade humana.

Assim, torna-se importante conhecer os estudos na área de ergonomia que consideraram os


aspectos da OT em sua conduta, a fim de que se possa identificar as lacunas nessa área de
pesquisa e avançar na compreensão do assunto e a partir disso, desenvolver estratégias
ergonômicas eficazes na compreensão e na modificação da OT. Partindo dessa necessidade, o
presente artigo, com base em uma revisão bibliográfica, realizou a identificação e a análise
dos aspectos da OT inseridos nos estudos da área de ergonomia disponíveis, a partir da
caracterização dos estudos selecionados.

2. Material e Métodos
A pesquisa foi realizada por meio das bases de dados eletrônicas Scopus, Science Direct e
PubMed, entre maio a julho de 2016, utilizando as strings de busca: "activity ergonomics" OR
"ergonomics" AND "work organization"; "Work design" AND "ergonomic action"; "Work
AND organization design"; "Ergonomics AND work design"; "Ergonomic action". Foram
pesquisados artigos publicados entre julho de 1996 e julho de 2016. Inicialmente, os estudos
foram selecionados com base nos títulos, excluindo aqueles não relacionados ao tema. Em
seguida, os estudos selecionados foram avaliados pela leitura dos resumos, a fim de identificar
aqueles que atendiam aos critérios de inclusão. Após essa seleção, eles foram avaliados pela
leitura do objetivo, métodos e conclusão. Após a última seleção, os artigos completos
potencialmente relevantes foram selecionados e incluídos nesta revisão.

A seleção dos artigos foi realizada com base nos seguintes critérios: a. somente estudos
práticos na área de ergonomia, que apresentaram aspectos da OT em suas análises; b. somente
estudos que descreveram as técnicas de análise utilizadas; c. somente estudos que apresentaram
sugestões ou que implantaram melhorias no contexto técnico-organizacional; d. somente
estudos conduzidos em ambiente ocupacional, envolvendo população de trabalhadores que
estava realizando as atividades normais de trabalho.

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Como referência acerca do conceito de OT, foi considerada a definição de Vidal (1997).
Segundo este autor, a OT determina a atividade dos trabalhadores e compreende ao menos
seis aspectos: a. repartição de tarefas no tempo e no espaço; b. sistemas de comunicação,
cooperação e interligação entre atividades, ações e operações; c. rotinas e os procedimentos da
produção; d. exigências e os padrões de desempenho produtivo; e. mecanismos de
recrutamento e seleção de pessoas para o trabalho; f. treinamentos, formação e capacitação
para o trabalho.

A avaliação da qualidade metodológica foi feita com base na caracterização e no detalhamento


dos estudos. Foram considerados os seguintes aspectos para a extração dos dados e posterior
análise descritiva: a. setor econômico; b. ocupação dos trabalhadores; c. objetivo do estudo; d.
técnicas de análise utilizadas; e. aspectos da OT avaliados; f. modificações realizadas ou
melhorias sugeridas; g. reavaliação após implantação da melhoria.

3. Resultados e Discussão
A pesquisa bibliográfica foi realizada incluindo os títulos publicados entre julho de 1996 e
julho de 2016. A busca eletrônica resultou em um total de 633 referências publicadas e a
seleção resultou em 21 estudos para a extração de dados (Figura 1).

Figura 1 – Etapas do processo de revisão bibliográfica

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Fonte: Autor

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Quanto aos setores econômicos nos quais os estudos foram conduzidos, a maior parte foi
realizada no setor secundário ou terciário, conforme mostra a Tabela 1. Dentre as indústrias
de transformação, os estudos foram desenvolvidos numa diversidade de setores industrias
como produção de calçados, de móveis, vidros, equipamentos rodoviários, plástico, gás e de
núcleos de areia, além da indústria de processamento de carnes. No setor terciário, houve
predomínio da área da saúde com estudos realizados em hospitais, seguido dos ramos de
transporte, alimentação e outros. Como consequência da descrição anterior, verificou-se que a
maior parte dos trabalhadores envolvidos nos estudos selecionados eram profissionais da
indústria, seguido dos profissionais da saúde, motoristas de ônibus, profissionais de
restaurantes e similares, entre outros (Tabela 1). A diversidade de ocupações abordadas nos
artigos selecionados mostra a importância da atuação ergonômica nos diferentes ambientes
ocupacionais, e especialmente, a relevância da OT para o alcance de saúde e de eficácia nas
organizações.

Tabela 1- Setores econômicos e características ocupacionais

Fonte: Autor.
1. ABORG et al., 1998; 2. BOURBONNAIS et al., 2006; 3. BRUNORO et al., 2015; 4. COLARES; FREITAS,
2007; 5. CORDINER; GRAVES, 1997; 6. CUNHA et al., 2014; 7. DAHLBERG et al., 2003; 8. FERNANDES
et al., 2010; 9. GANGOPADHYAY et al., 2006; 10. GUIMARÃES et al., 2014; 11. GUIMARÃES et al., 2015;
12. HAKKANEN et al., 1997; 13. ISOSAKI et al., 2011; 14. MARZIALE et al., 1998; 15. PHAIRAH et al,

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2016; 16. QUEIROZ; MACIEL, 2001; 17. SHINDE et al., 2012; 18. SZNELWAR et al., 1999; 19. VILELA et
al., 2012; 20. WANG et al., 2010; 21. WOODS; BUCKLE, 2006.

A respeito das técnicas de avaliação utilizadas nas pesquisas, verifica-se que a maioria dos
estudos utilizou três técnicas ou mais, sendo que as entrevistas, as observações globais e os
questionários foram os mais usados, seguidos de vídeo gravação, observação sistemática e
análise documental (Tabela 2). Em ergonomia, as observações têm papel fundamental, visto
que permitem que o analista compreenda, inicialmente, o contexto geral do trabalho
(GUÉRIN et al, 2001), a partir da percepção global a respeito dos processos técnicos, uso das
ferramentas, dos meios e processos de comunicação, das interações entre as atividades e das
variabilidades que vão se manifestando ao longo das situações reais de trabalho (ABRAHÃO
et al., 2009). Tal processo facilita o planejamento e a organização das observações
sistemáticas, as quais possuem objetivos mais precisos e permitem o conhecimento mais
aprofundado de determinados aspectos da situação avaliada (ABRAHÃO et al., 2009).

Tabela 2 - Técnicas de análise utilizadas nos estudos

Fonte: Autor.

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1. ABORG et al., 1998; 2. BOURBONNAIS et al., 2006; 3. BRUNORO et al., 2015; 4. COLARES; FREITAS,
2007; 5. CORDINER; GRAVES, 1997; 6. CUNHA et al., 2014; 7. DAHLBERG et al., 2003; 8. FERNANDES
et al., 2010; 9. GANGOPADHYAY et al., 2006; 10. GUIMARÃES et al., 2014; 11. GUIMARÃES et al., 2015;
12. HAKKANEN et al., 1997; 13. ISOSAKI et al., 2011; 14. MARZIALE et al., 1998; 15. PHAIRAH et al,
2016; 16. QUEIROZ; MACIEL, 2001; 17. SHINDE et al., 2012; 18. SZNELWAR et al., 1999; 19. VILELA et
al., 2012; 20. WANG et al., 2010; 21. WOODS; BUCKLE, 2006.

Gonçalves e Camarotto (2015) destacam que para compreender o trabalho real torna-se
indispensável a realização de observações associadas às entrevistas e às verbalizações dos
trabalhadores. Nas situações de trabalho, manifestam-se diferentes lógicas ou racionalidades
advindas das áreas de qualidade, produção, segurança, logística, manutenção, entre outros
setores que estabelecem as normas, regras e os índices de desempenho a atingir. Tais
prescrições devem ser seguidas pelos operadores durante a execução da tarefa e podem ser
identificadas por meio da análise de documentos disponibilizados pela empresa, por meio das
características dos dispositivos técnicos ou por meio de entrevistas com os agentes das
prescrições (LEPLAT, 2004). No entanto, diante das variabilidades inerentes ao trabalho real,
a atividade de trabalho constitui-se de uma realidade imprevisível, com contradições,
dificuldades e imprevistos, o que torna necessário o trabalho de reorganização para que a
tarefa seja finalizada e o estado de saúde seja mantido. Assim, para compreender toda a
complexidade das situações reais de trabalho, torna-se realmente importante, além de
observar, ouvir os trabalhadores por meio de verbalizações que ocorrem durante o processo de
observação ou de entrevistas, que podem ser auxiliadas por registros de imagens, vídeos e
anotações, a fim de que o trabalhador possa ser inserido no contexto do trabalho durante o
diálogo com o analista ou pesquisador. Dentre os estudos selecionados, nove utilizaram os
pressupostos da ergonomia da atividade em suas análises (BRUNORO et al., 2015;
COLARES AND FREITAS, 2007; CUNHA et al., 2014; FERNANDES et al., 2010;
ISOSAKI et al., 2011; MARZIALE et al., 1998; QUEIROZ; MACIEL, 2001; SZNELWAR et
al., 1999; VILELA et al., 2012).

Quanto à inserção dos aspectos da OT nos estudos, tal processo é importante, visto que as
relações entre as condições e as consequências do trabalho passam pela atividade ou trabalho
real, no qual aspectos físicos, cognitivos e organizacionais se interagem, conforme pode ser
visualizado na função integradora da atividade apresentada por Guérin et al., (2001). Com

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base na definição de Vidal (1997), os aspectos da OT inseridos com maior frequência nos
estudos selecionados foram a repartição de tarefas no tempo e no espaço; os sistemas de
comunicação, cooperação e interligação entre atividades, ações e operações; rotinas e
procedimentos da produção; e exigências e padrões de desempenho produtivo (Tabela 3).
Conforme verifica-se na tabela 3, o aspecto relacionado ao mecanismo de recrutamento e
seleção de pessoas para o trabalho é pouco explorado nas pesquisas ergonômicas que estudam
a OT. Este item está ligado às competências necessárias para a realização da atividade de
trabalho, visto que ao selecionar trabalhadores para determinada tarefa, subentende-se que ele
apresente as competências que lhe serão exigidas durante a realização do trabalho ou que será
desenvolvido um treinamento teórico-prático que tenha como objetivo auxiliar no
desenvolvimento das competências que serão demandadas no trabalho. Vasconcelos et al.
(2008) destaca que durante o trabalho, o trabalhador faz uso de competências específicas para
desenvolver estratégias e tomar decisões adequadas, devido à necessidade de lidar com as
incertezas presentes nas atividades de trabalho.

Como pode-se verificar na Tabela 3, a OT compreende um conceito amplo e em função disso,


a sua compreensão não se resume ao estudo de um ou outro elemento. Houve dificuldade na
identificação das diferentes variáveis da OT abordadas nos estudos para posterior
classificação de acordo com a definição de Vidal (1997). Tal fato está relacionado com a falta
de consenso na literatura sobre o conceito de OT e sobre os diferentes elementos que ela
envolve. Foltran (2015), em pesquisa sobre as ferramentas científicas específicas para a
análise da organização do trabalho, relatou a mesma realidade e verificou que os aspectos da
OT que predominaram nas ferramentas avaliadas foram aqueles relacionados com contexto do
trabalho como os atributos da tarefa e as relações sociais no trabalho. Para tal análise, a autora
se baseou na definição estabelecida por NIOSH (2002), que descreve que a OT se refere aos
processos de trabalho, às práticas organizacionais e ao contexto externo, o que confirma a
amplitude do assunto.

Apesar de se tratar de um tema amplo, a maior parte dos aspectos inseridos na definição de
Vidal (1997) puderam ser identificados na maioria dos estudos selecionados nesta pesquisa.
Tal resultado vai de encontro com o estudo de Foltran (2015), visto que esses elementos

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tratam mais especificamente de questões voltadas para o contexto do trabalho. Tais aspectos
devem ser compreendidos tanto do ponto de vista da prescrição como na perspectiva do
trabalho real para que possa ser identificada a distância existente entre essas duas realidades e
a partir disso, enriquecer as representações dos tomadores decisão acerca da OT. Assim, é
possível que as escolhas organizacionais sejam mais compatíveis com as situações reais de
trabalho e favoreçam a saúde, a eficácia e o desenvolvimento de competências. Tal conduta é
importante por exemplo para compreender situações nas quais as exigências da qualidade ou
da produção se contradizem com as normas da segurança, sendo que tal contradição se
manifestará durante a atividade de trabalho, na qual o trabalhador se utilizará de estratégias
individuais ou coletivas para resolver tal contradição e finalizar a tarefa.

Tabela 3 - Aspectos da OT avaliados nos estudos, segundo definição de Vidal (1997)

Fonte: Autor.
1. ABORG et al., 1998; 2. BOURBONNAIS et al., 2006; 3. BRUNORO et al., 2015; 4. COLARES; FREITAS,
2007; 5. CORDINER; GRAVES, 1997; 6. CUNHA et al., 2014; 7. DAHLBERG et al., 2003; 8. FERNANDES
et al., 2010; 9. GANGOPADHYAY et al., 2006; 10. GUIMARÃES et al., 2014; 11. GUIMARÃES et al., 2015;
12. HAKKANEN et al., 1997; 13. ISOSAKI et al., 2011; 14. MARZIALE et al., 1998; 15. PHAIRAH et al,
2016; 16. QUEIROZ; MACIEL, 2001; 17. SHINDE et al., 2012; 18. SZNELWAR et al., 1999; 19. VILELA et
al., 2012; 20. WANG et al., 2010; 21. WOODS; BUCKLE, 2006.

Em relação às melhorias, conforme verifica-se na Tabela 4, os artigos selecionados nesta


revisão priorizaram ações que visam maior autonomia; melhora da comunicação para
favorecer a transmissão das informações necessárias; melhora das condições de trabalho, que
envolve adequações no posto, no ambiente e nas ferramentas de trabalho; treinamento e
capacitação dos trabalhadores; enriquecimento de tarefas para tratar especialmente a questão

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da repetitividade e da monotonia no trabalho. Tais ações promovem o desenvolvimento


profissional e reduzem a monotonia no trabalho, o que é positivo, pois, segundo
pesquisadores, condições organizacionais caracterizadas por repetitividade, restrição no uso
de habilidades, falta de reconhecimento e controle sobre o trabalho, entre outros, podem
causar sobrecarga mental e/ou física para os trabalhadores (TUOMI et al., 2001;
AITTOMAKI, LAHELMA, ROOS, 2003).

Tabela 4 - Melhorias sugeridas ou realizadas

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Fonte: Autor.
1. ABORG et al., 1998; 2. BOURBONNAIS et al., 2006; 3. BRUNORO et al., 2015; 4. COLARES; FREITAS,
2007; 5. CORDINER; GRAVES, 1997; 6. CUNHA et al., 2014; 7. DAHLBERG et al., 2003; 8. FERNANDES
et al., 2010; 9. GANGOPADHYAY et al., 2006; 10. GUIMARÃES et al., 2014; 11. GUIMARÃES et al., 2015;
12. HAKKANEN et al., 1997; 13. ISOSAKI et al., 2011; 14. MARZIALE et al., 1998; 15. PHAIRAH et al,
2016; 16. QUEIROZ; MACIEL, 2001; 17. SHINDE et al., 2012; 18. SZNELWAR et al., 1999; 19. VILELA et
al., 2012; 20. WANG et al., 2010; 21. WOODS; BUCKLE, 2006.

Para que as melhorias sugeridas contribuam com a saúde e a eficácia nas organizações, o
processo de transformação precisa ser acompanhado para garantir a durabilidade da ação.
Durante todo o processo de análise e de transformação, com o envolvimento de todos os
atores sociais ligados à situação de trabalho, deve- buscar a transferência de competências, a
fim de que estes atores tenham uma representação mais adequada acerca do trabalho real e
possam a partir disso, evitar a tomada de decisões técnicas e organizacionais sem antes
dialogar com os trabalhadores e considerar as variabilidades e as dificuldades que se
manifestam nas rotinas de trabalho.

4. Considerações finais
A prática da ergonomia busca a compreensão do trabalho com o objetivo de transformá-lo, e a
partir disso, a possibilidade de que as situações de trabalho sejam mais compatíveis com a
saúde física e mental dos trabalhadores e com a eficácia das organizações, além de
promoverem aprendizado e desenvolvimento individual e coletivo. Neste contexto, é
indiscutível a importância da OT nos estudos práticos de ergonomia desenvolvidos nas
organizações, visto que as decisões acerca deste assunto refletem nas situações reais de
trabalho e podem favorecer ou prejudicar a saúde dos trabalhadores e o desempenho deles e
da empresa. Conforme apresentado, os estudos selecionados nesta revisão abordaram
diferentes aspectos da organização do trabalho em suas análises e intervenções, no entanto
apenas nove estudos consideraram o distanciamento entre o prescrito e o real, perspectiva
importante para que seja possível compreender os reais constrangimentos e as dificuldades
vivenciados pelos trabalhadores durante a atividade de trabalho.

Novos estudos ergonômicos precisam ser desenvolvidos, envolvendo a compreensão da OT na


perspectiva da atividade real e, além disso, é importante que as pesquisas apresentem de forma

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mais clara e com maior detalhamento os aspectos da OT abordados durante o uso das
diferentes técnicas de análise. A partir deste detalhamento, torna-se viável a compreensão de
como os diferentes aspectos da OT são reorganizados em atividade, diante das variabilidades,
por meio das estratégias operatórias desenvolvidas pelos trabalhadores. Compreender tais
estratégias constitui ponto fundamental no processo de transformação da OT já que as
decisões e as modificações que incidem sobre as situações de trabalho devem apoiar as
estratégias operatórias eficazes e seguras e por outro lado, devem visar a eliminação daquelas
que são ineficazes e que oferecem risco para os trabalhadores (LAMONDE, 2007).

Referências
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