Você está na página 1de 14

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO

Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil


João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

COMPARAÇÃO ESTATÍSTICA ENTRE


ESTUDOS DE TEMPOS VIA
CRONOMETRAGEM E VIA FILMAGEM:
APLICAÇÃO EM UMA INDÚSTRIA DE
ELETRÔNICOS
Alexandre Fonseca Torres (UNIFEI )
alexandrefonsecatorres@gmail.com
Jose Arnaldo Barra Montevechi (UNIFEI )
montevechi@unifei.edu.br
Fabiano Leal (UNIFEI )
fleal@unifei.edu.br
Paula Carneiro Martins (UNIFEI )
paulacmartins3@gmail.com
Adriano Pellegrini Pereira (UNIFEI )
pellegriniadriano91@yahoo.com

As técnicas de estudo de tempos e movimentos estão aumentando a


eficiência de utilização dos recursos produtivos e têm sido aplicadas
nos mais diversos setores de manufatura e serviços. Dentre outras
finalidades, os tempos de operação são uutilizados no cálculo dos
custos associados aos produtos e na melhoria de processos a partir de
estudos de métodos de trabalho. Em operações manuais, os fatores
humanos impactam significativamente no ritmo de trabalho e, por
consequência, no estudo de tempos. Este artigo aborda dois dos
principais métodos de medida do trabalho: a tradicional tomada de
tempos por meio de um cronometrista presente na linha e a tomada de
tempos através de filmagem. Ambos os métodos são aplicados em um
processo predominantemente manual de uma empresa do setor de
eletrônicos. O objetivo é comparar estatisticamente os métodos de
coleta de tempos, levando em conta as influências relacionadas aos
fatores humanos. Além da comparação, o artigo aborda as vantagens e
desvantagens de cada um dos dois métodos da forma como foram
estudados na literatura e observados durante esta pesquisa.

Palavras-chave: Cronoanálise, Fatores Humanos, Manufatura


XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
.

1. Introdução

A necessidade global pelo controle do tempo e ganhos em eficiência tem motivado novos
desenvolvimentos na indústria (WU et al., 2016). De fato, as técnicas de estudo do trabalho e
do tempo estão aumentando a eficiência de utilização dos fatores de produção e têm sido
utilizadas em todos os setores de manufatura e serviços (DURAN; CENTIDERA; AKSU,
2015).

Através de um estudo de tempos, podem ser calculados tempos padrão, os quais, por sua vez,
são utilizados no cálculo dos custos associados aos produtos e na melhoria de processos a
partir de estudos de métodos de trabalho (MOREIRA, 2008).

A cronometragem manual ainda é frequentemente utilizada na determinação de tempos de


ciclo de operações padronizadas e bem definidas. Entretanto, Slack, Chambers e Johnston
(2009) identificam críticas quanto ao uso do cronômetro na medida do trabalho. Tal prática,
segundo os autores, é considerada degradante e antiprodutiva, sendo a presença do
cronometrista intrusiva na melhor das hipóteses.

A filmagem, por sua vez, elimina a necessidade de um cronometrista presente na linha e


registra detalhes importantes dos processos. No entanto, a filmagem nem sempre é permitida
devido a aspectos legais e, assim como o cronometrista, causa desconforto nos operadores.

De fato, se um operador sabe que está sendo observado, o mesmo pode executar o seu
trabalho em um ritmo diferente, consciente ou inconscientemente (BURES; PIVODOVA,
2015). Os autores ainda defendem que o operador pode, propositalmente, desacelerar o tempo
de operação, caso desconfie que o tempo possa ser utilizado para o cálculo de sua
remuneração, ou acelerar o tempo de operação, caso o operador esteja estressado ou sob
pressão. Portanto, os métodos de mensuração de tempos de processo através de
cronometragem e filmagem nem sempre registram o ritmo real de trabalho.

Tendo em vista a importância dos métodos de estudo de tempos na análise e solução de


problemas de sistemas de manufatura, o artigo aborda dois dos principais métodos de medida
do trabalho: a tomada de tempos por meio de um cronometrista presente na linha e a tomada
de tempos através de filmagem. Os dois métodos são aplicados em um processo manual de
uma empresa do setor de eletrônicos.

2
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
.

A seção 2 contém uma breve revisão de literatura a respeito do estudo de tempos e dos fatores
humanos. O método é descrito na seção 3. Como foco principal, tem-se a análise estatística de
duas amostras, cada qual coletada por um dos métodos. Em seguida, apresenta-se uma
comparação estatística entre os métodos. A aplicação é apresentada na seção 4, com a
posterior discussão dos resultados na seção 5. Além dos resultados estatísticos, foram feitas
algumas observações durante a aplicação dos métodos. Por último, as conclusões são
apresentadas na seção 6.

2. Referencial teórico

Os fatores humanos possuem forte influência na medida do trabalho, conforme mostra a


literatura. A seção 2.1 apresenta alguns conceitos e aplicações relacionadas à medida do
trabalho. Trabalhos que abordam a influência dos fatores humanos na medida do trabalho são
referenciados na seção 2.2.

2.1. Medida do trabalho

Para Slack, Chambers e Johnston (2009), a medida do trabalho consiste no processo de


cálculo do tempo necessário a um trabalhador qualificado para a execução de uma tarefa
especificada, com um nível de desempenho definido.

Na medida do trabalho, o levantamento dos tempos pode ser realizado a partir da


cronometragem, da amostragem do trabalho, da utilização de tempos históricos e do cálculo
com base em dados padrão pré-determinados (MOREIRA, 2008).

No início do século XX, o estudo de tempos era comumente executado por um “homem
provido de um cronômetro de parada automática e folhas de registro” (TAYLOR, 2006). Com
o desenvolvimento tecnológico, foi possível aprimorar o processo de coleta de dados e análise
de sistemas. As folhas de registro foram substituídas por softwares e aplicativos de
cronometragem. Hoje, os tempos de ciclo são utilizados como dados de entrada para projetos
de simulação, para os quais existem sistemas de entrada com grau de automatização cada vez
mais elevado (SKOOGH; PERERA; JOHANSON, 2012).

A filmagem representa outra importante contribuição tecnológica. Barnes (1977) já afirmava


que a filmagem vinha sendo utilizada em estudos de movimentos e de tempos com diversas

3
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
.

finalidades, entre elas: a pesquisa sobre o estudo de movimentos, o estudo de


micromovimentos, o treinamento de operadores e a obtenção de dados para a amostragem do
trabalho.

Bures e Pivodova (2015) verificam a confiabilidade e a precisão de três métodos de


padronização de tempos, sendo um deles um método de mensuração do tempo
(cronometragem REFA) e dois deles métodos de cálculo a partir de sistemas pré-
determinados de tempos (MTM-1 e Basic MOST). Os processos mais simples foram
cronometrados, ao passo que os mais complexos foram filmados. Os autores comprovam a
hipótese de que a dispersão entre os sistemas de tempos pré-determinados é de até 10%. No
entanto, os autores encontraram uma dispersão considerável entre cada um dos métodos pré-
determinados e o método de mensuração de tempos (cronometragem REFA).

2.2. Fatores humanos na medida do trabalho

O estudo do comportamento humano é importante em qualquer sistema no qual os seres


humanos tomam decisões e executam operações (BRAINSFORD, 2014). Para a autora,
qualquer tipo de indústria irá envolver participantes humanos, cujos comportamentos podem
afetar o desempenho do sistema. Segundo Kolus et al. (2016), apesar da forte tendência global
à mecanização, muitas indústrias ainda demandam trabalhos fisicamente intensos.

Digiesi et al. (2009) listam diversos fatores que influenciam no comportamento de um


operador, entre eles: o ambiente de trabalho (clima, condições ergonômicas, barulho, relações
pessoais e comunicação entre o grupo); a natureza da tarefa (discreta ou contínua, repetitiva
ou não repetitiva, motora ou cognitiva); e fatores pessoais (atitude física e psicológica,
habilidade individual, idade, sexo etc.).

Vilela (2015) estudou o efeito da variação do ritmo de trabalho em uma linha de produção
com alto grau de trabalho manual. As variações do ritmo de trabalho dos operadores ao longo
do dia e ao longo da semana interferiram significativamente na validação do modelo
computacional do sistema estudado.

O estudo de movimentos pode ser utilizado em sistemas de tempos pré-determinados (PMTS)


através da teoria das primitivas do movimento (WU et al., 2016). Todavia, engenheiros
geralmente não estão cientes dos comportamentos sociais, psicológicos e fisiológicos dos
operadores (BAINES et al., 2004). Para Digiesi et al. (2009) a maioria das pesquisas

4
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
.

disponíveis na literatura subestimam a influência do fator humano no desempenho de sistemas


de produção, dando foco aos aspectos tecnológicos.

O estudo do comportamento humano, de fato, não é simples de ser realizado. Nas práticas
industriais, a análise do comportamento humano é frequentemente dificultada devido a
aspectos legais (DIGIESI et al., 2009). Mesmo objetivando a melhoria da qualidade de
trabalho, projetos de ergonomia devem ser justificados em termos de custo-benefício
(HENDRICK, 2008).

3. Comparação entre os métodos

A Figura 1 apresenta a sequência de etapas executadas.

Figura 1 - Sequência de etapas executadas na pesquisa

Fonte: próprios autores

As informações da linha relevantes para a pesquisa consistem nos horários do turno, paradas
programadas, processos, fluxos de material e informação, atividades realizadas pelos
operadores e de outras informações relevantes. Para esta pesquisa, o intuito foi selecionar o
processo gargalo para ser cronometrado e filmado, visto que o gargalo é o processo que limita
o ritmo de produção e, consequentemente, a capacidade produtiva (GOLDRATT, 2002).

Na fase de coleta de dados, são definidos os momentos de início e fim do ciclo do processo
selecionado. O ciclo deve ser definido de forma a conter todas as tarefas realizadas na

5
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
.

operação ou estação de trabalho. Ingemansson, Ylipää e Bolmsjö (2005) definem o tempo de


ciclo como o tempo total requerido para executar as operações necessárias em cada máquina
ou estação de trabalho.

Os tempos de ciclo são coletados para comporem uma amostra, a qual representa a população
os tempos do processo analisado. À medida que o tamanho de amostra aumenta, a distribuição
das médias amostrais se aproxima de uma distribuição normal (TRIOLA, 2005). Na maioria
dos casos, o Teorema Central do Limite se mantém para amostras de, no mínimo, 30 dados
(MONTGOMERY; RUNGER, 2012).

Após a coleta de dados, realiza-se uma análise estatística. Os intervalos de confiança de cada
amostra são plotados em um gráfico. O diagrama em caixa (também conhecido como boxplot)
classifica uma amostra em intervalos interquartis, revelando o centro, a dispersão, a
distribuição dos dados e indicando possíveis outliers (TRIOLA, 2005). O teste de Anderson-
Darling infere se as amostras podem ser aproximadas de uma distribuição normal
(MONTGOMERY; RUNGER, 2012).

As médias de amostras consideradas normalmente distribuídas podem ser comparadas através


do teste 2-sample t. No caso deste teste, a hipótese nula é rejeitada caso o valor p encontrado
for um valor menor do que 0,05, admitindo-se um nível de confiança de 95%
(MONTGOMERY; RUNGER, 2012). Em outras palavras, as médias são diferentes. Caso
contrário (valor p > 0,05), as médias são consideradas iguais. Porém, quando pelo menos uma
das amostras não é normalmente distribuída, a comparação entre as amostras deve ser feita
duas a duas a partir de testes não paramétricos, como o de Mann-Whitney.

A comparação da variação entre duas amostras de populações normalmente distribuídas pode


ser feita a partir de um teste de hipótese de variâncias ou desvios padrões (TRIOLA, 2005). A
estatística de teste F é utilizada nos testes de hipóteses de distribuições normais. As variâncias
são consideradas estatisticamente iguais caso o valor p determinado seja menor do que 0,05,
admitindo-se um nível de confiança de 95%. O teste de Levene, por sua vez, pode ser
utilizado no teste de variâncias de amostras que seguem quaisquer distribuições contínuas.

4. Aplicação do método

6
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
.

O objeto de estudo selecionado é uma empresa do setor eletrônico localizada na região Sul de
Minas Gerais. A escolha se justifica pelo fato de os processos produtivos serem
predominantemente manuais, o que causa considerável variabilidade nos tempos de operação.

Somado a isso, a indústria de eletrônicos é caracterizada pelo curto ciclo de vida de seus
produtos, o que resulta em rápidas mudanças nos processos produtivos. Nesse cenário, o
estudo de tempos se faz ainda mais necessário para a garantia de competitividade ou até para
a sobrevivência no mercado.

4.1. Seleção da linha e levantamento de informações

A linha selecionada para o procedimento, denominada linha 1, foi a de maior volume de


produção médio mensal em 2015. A linha 1 conta com dois operadores. O operador A é
responsável pela estação de montagem, ao passo que o operador B opera a estação de
embalagem. As operações ocorrem apenas em um turno com início às 8h e fim às 18h. A
Tabela 1 apresenta as atividades realizadas durante o turno da linha 1.

Tabela 1 - Atividades do turno da linha 1

Intervalo Ação
08:00 - 08:10 Preparação da linha
08:10 - 10:30 Operação
10:30 - 10:45 Intervalo para café
10:45 - 12:30 Operação
12:30 - 14:00 Horário de almoço
14:00 - 15:30 Operação
15:30 - 15:45 Intervalo para café
15:45 - 17:50 Operação
17:50 - 18:00 Organização do posto de trabalho

Fonte: próprios autores

O processo tem início na estação de montagem. Com a matéria-prima em sua bancada, o


operador A monta um produto. Em seguida, o operador B coloca o produto em um teste
automático. Depois disso, o operador B realiza um teste manual e faz a embalagem do
produto. O produto fica armazenado no final da linha para posterior inspeção amostral, a qual
é realizada por outro operador.

Quando entrevistado, o supervisor de produção da linha 1 levantou a hipótese de que a


montagem era o processo gargalo. A hipótese foi confirmada após a observação dos vídeos e
a cronometragem de alguns tempos de cada processo. Assim sendo, a montagem foi escolhida

7
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
.

como o processo a ser estudado. A Tabela 2 apresenta o detalhamento da montagem, com a


definição dos momentos de início e de fim do ciclo.

Tabela 2 - Momentos de início e fim do ciclo de montagem

Processo Momento de início do ciclo Momento de fim do ciclo


Toque do operador no componente plástico Toque do operador no componente plástico
Montagem
superior do produto superior do próximo produto

Fonte: próprios autores

4.2. Coleta de dados

O operador de montagem foi informado sobre a cronometragem, a qual ocorreria na semana 1


em momentos aleatórios do dia. O intuito foi coletar tempos dos quatro períodos de operação
apresentados na Tabela 1. Pediu-se que o operador tentasse manter seu ritmo de produção
normal ao longo da cronometragem. Os pesquisadores esclareceram aos operadores que a
cronometragem não era uma tentativa de aumento de ritmo de produção, ou de avaliação
individual. Com o uso de cronômetro, fez-se a tomada de 30 tempos de ciclo do processo de
montagem da linha 1. O cronometrista ficou presente na linha durante toda a tomada de
tempos, posicionado conforme esquematizado na Figura 2.

Figura 2 – Representação do posicionamento do cronometrista

Fonte: próprios autores

A filmagem foi realizada apenas na semana 2. Novamente, o mesmo operador foi informado
sobre a filmagem. Apesar do desconforto causado pela filmagem, pediu-se para que o
operador tentasse manter seu ritmo normal de produção durante a gravação. Uma câmera Go

8
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
.

Pro, modelo Hero 4, foi fixada na parede atrás das estações de trabalho da linha 1, conforme
representado na Figura 3.

Figura 3 – Representação do posicionamento da câmera

Fonte: próprios autores

O pesquisador se retirou da linha logo no início da filmagem. Os vídeos foram observados na


semana 3. Foram coletados 30 tempos de ciclo a partir da observação dos vídeos,
constituindo-se a amostra 2. Os tempos de montagem obtidos pelo cronometrista e por
filmagem são apresentados na Tabela 3.

Tabela 3 – Tempos de montagem obtidos pelo cronometrista e por filmagem

Amostra 1:Tempos Amostra 2: Tempos


obtidos pelo obtidos pela
cronometrista filmagem
Amostra Tempo (s) Amostra Tempo (s)
1 229 1 214
2 174 2 196
3 186 3 182
4 193 4 213
5 206 5 193
6 236 6 207
7 235 7 192
8 211 8 173
9 203 9 184
10 205 10 202
11 188 11 207
12 256 12 180
13 230 13 214
14 242 14 238
15 217 15 203
16 186 16 212
17 190 17 191
18 185 18 228
19 180 19 177

9
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
.

20 215 20 181
21 181 21 186
22 224 22 182
23 230 23 186
24 219 24 192
25 229 25 271
26 205 26 229
27 191 27 217
28 195 28 217
29 172 29 214
30 210 30 201

Fonte: próprios autores

4.3. Análise estatística das amostras

A Tabela 4 apresenta valores de média e desvio padrão, bem como os valores p dos testes de
normalidade de Anderson-Darling. Ambas as amostras são consideradas normalmente
distribuídas, pois nos dois casos, o teste de Anderson-Darling resultou em um valor p > 0,05.

Tabela 4 - Parâmetros estatísticos das amostras

Parâmetros estatísticos Amostra 1 Amostra 2


Média 207,4 202,7
Desvio-padrão 22,2 21,2
Valor p (Anderson-Darling) 0,382 0,120

Fonte: próprios autores

4.4. Comparação entre as amostras

Ainda com base na Tabela 4, observa-se que as amostras possuem médias próximas. Também
são próximos os desvios padrão.

Considerando-se um nível de confiança de 95%, construiu-se um intervalo de confiança para


cada amostra, conforme apresentado na Figura 4. A Figura 5 apresenta os diagramas em caixa
das amostras.

10
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
.

Os intervalos de confiança da Figura 4 possuem uma grande faixa de valores em comum.


Além disso, as médias de cada amostra apresentam valores relativamente próximos. Porém, a
observação gráfica não é suficiente para comprovar a hipótese de que as médias são iguais.
Para isso, o teste 2-sample t é utilizado e os resultados são apresentados mais adiante.

Os diagramas em caixa das amostras, representados na Figura 5, revelam que, apesar de


apresentarem intervalos de confiança semelhantes, a dispersão dos dados da amostra 1
(tempos do cronometrista) é maior do que a dispersão dos dados da amostra 2 (tempos de
filmagem).

Ainda na Figura 5, o diagrama de dispersão da amostra 2 revela um ponto fora dos intervalos
interquartis. Apesar de ser considerado um outlier, tal ponto não pode ser desconsiderado,
visto que representa uma operação normal de montagem. Após a comprovação de que ambas
as amostras são normalmente distribuídas, aplicou-se um teste 2-sample t entre as mesmas. O
objetivo foi o de verificar se existe diferença entre as médias das amostras.

Figura 4 - Intervalos de confiança das amostras Figura 5 - Diagramas em caixas das amostras

Fonte: próprios autores Fonte: próprios autores

A Figura 6 apresenta os resultados do teste 2-sample t na comparação das médias das


amostras 1 e 2. Com base na Figura 6, tem-se que as médias dos tempos do cronometrista são
iguais à média dos tempos filmados, pois o valor p obtido foi de 0,405 > 0,05.

Figura 6 - Teste 2-sample t entre as amostras 1 e 2

11
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
.

Fonte: próprios autores

A Figura 7 apresenta o resultado do teste de variâncias para duas amostras, indicando que as
variâncias são estatisticamente iguais, pois no teste F tem-se que valor p = 0,817 > 0,05.

Figura 7 - Teste de variâncias entre as amostras 1 e 2

Fonte: próprios autores

5. Resultados e discussão

No caso da linha de produção analisada, pode ser inferido que os métodos de medida do
trabalho não apresentam diferenças estatísticas significativas. Tal conclusão é embasada nos
resultados do testes 2-sample t e do teste de variâncias apresentado na seção 4.4. Porém, o
resultado obtido não pode ser generalizado para outras linhas e outras empresas. Seria
necessário uma investigação mais abrangente, a qual deve abordar outros tipos de processos e
setores da indústria para se inferir quanto à melhor forma de coleta de tempos.

Ao serem questionados quanto à preferência entre os métodos, os dois operadores


responderam que a filmagem causa maior desconforto do que a presença do cronometrista. No
entanto, os vídeos mostram que o comportamento e o ritmo dos operadores se normalizaram
em poucos minutos após o início da filmagem. Tal normalização é comprovada
estatisticamente pelos resultados do teste 2-sample t.

A filmagem, de fato, apresenta algumas vantagens. Os vídeos revelam e registram detalhes da


linha que contribuem para um melhor entendimento do processo, para a formulação de ideias
e de projetos de melhoria. Também existe a possibilidade de se corrigirem erros de tomada de
tempos a partir dos vídeos, o que implica em maior precisão na tomada de tempos. Cabe

12
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
.

lembrar que a seleção de um cronometrista experiente nem sempre é possível. A


cronometragem manual, portanto, é mais suscetível a erros de medição e retrabalho. Como
desvantagem, no caso da coleta realizada, o uso da câmera implicou em um tempo maior de
tomada de tempos, uma vez que os vídeos foram analisados somente após a filmagem.

6. Conclusão

Foram comparados dois dos métodos mais utilizados na coleta de tempos. No caso da
aplicação do teste 2-sample t e do teste de variâncias, as respectivas médias e variâncias das
amostras de tempo de cada um dos métodos não mostraram diferenças estatísticas
significativas. O diagrama em caixas, em contrapartida, revelou uma variabilidade maior nos
tempos do cronometrista em relação aos tempos de filmagem. No entanto, o resultado não
pode ser generalizado, visto que a análise se restringe às circunstâncias particulares do objeto
de estudo na data da pesquisa. Portanto, não há como afirmar que a tomada de tempos por um
cronometrista é sempre igual à tomada de tempos por filmagem. O que se observa, no entanto,
é que ambos os métodos retiram o operador de seu ambiente natural de trabalho.

Observa-se, pela literatura, a publicação de trabalhos recentes utilizando sistemas pré-


determinados para o cálculo de tempos padrão, bem como estudos do impacto de fatores
fisiológicos no ritmo de trabalho. Fazem-se necessários, pois, estudos de métodos de medida
do trabalho com foco nos fatores humanos. Os resultados são melhorias na qualidade de
trabalho e ganhos em competitividade.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à FUPAI, à Honeywell, à FAPEMIG, ao CNPq e à CAPES pelo apoio


dado a esta e a outras pesquisas.

REFERÊNCIAS

BAINES, Tim, MASON, Stephen, SIEBERS, Peer-Olaf e LADBROOK, John. Humans: the missing link in
manufacturing simulation? Simulation Modeling Practice and Theory, v. 12, p. 515-526, 2004.

BARNES, Ralph Mosser. Estudo de movimentos e de tempos: projeto e medida do trabalho. 6ª. ed. São
Paulo: Edgard Blucher, 1977.

BRAINSFORD, Sally C. Modeling human behaviour – an (id)entity crisis? Proceedings of the Winter
Simulation Conference, Savannah, USA, 2014.

13
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
.

BURES, Marek e PIVODOVA, Pavlina. Comparison of time standardization methods on the basis of real
experiment. Procedia Engineering, v. 100, p. 466-474, 2015.

DIGIESI, Salvatore, KOCK, Ad A. A., MUMMOLO, Giovanni e ROODA, Jacobus E. The effect of dynamic
worker behavior on flowtime performance. International Journal of Production Economics, v. 120, p. 368-
377, 2009.

DURAN, Cengiz, CETINDERE, Aysel e AKSU, Yunus Emre. Productivity improvement by work and time
study technique for earth energy-glass manufacturing company. Procedia Economics and Finance, v. 16, p.
109-113, 2015.

GOLDRATT, Eliyahu Moshe. A Meta: um processo de melhoria contínua. 2ª. ed. São Paulo: Nobel, 2002.

HENDRICK, Hal W. Applying ergonomics to systems: some documented “lessons learned”. Applied
Ergonomics, v. 39, p. 418-426, 2008.

INGEMANSSON, Arne, YLIPÄÄ, Torbjörn e BOLMSJÖ, Gunnar S. Reducing bottle-necks in a manufacturing


system with automatic data collection and discrete-event simulation. Journal of Manufacturing Technology
Management, v. 16, pp. 615-628, 2005.

KOLUS, Ahmet, IMBEAU, Daniel, DUBÉ, Philippe-Antoine e DUBEAU, Denise. Classifying work rate from
heart rate measurements using an adaptive neuro-fuzzy inference system. Applied Ergonomics, v. 54, p. 158-
168, 2016.

MONTGOMERY, Douglas C. e RUNGER, George C. Estatística aplicada e probabilidade para engenheiros,


5ª. ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2012.

MOREIRA, Daniel Augusto. Administração da Produção e Operações, 2ª. ed. São Paulo: Editora dos
Autores, 2008.

SKOOGH, Anders, PERERA, T e JOHANSSON, Björn. Input data management in simulation - Industrial
practices and future trends. Simulation Modelling Practice and Theory, v. 29, p. 181–192, 2012.

SLACK, Nigel, CHAMBERS, Stuart e JOHNSTON, Robert. Administração da Produção, 3ª. ed. São Paulo:
Editora Atlas S.A., 2009.

TAYLOR, Frederick Winslow. Princípios de Administração Científica, 8ª ed. São Paulo: Atlas, 2006.

TRIOLA, Mario F. Introdução à estatística, 9ª. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2005.

VILELA, Flávio Fraga. Modelagem do ritmo do trabalho humano em um projeto de simulação através da
criação de cenários com múltiplas distribuições. 2015. 83 f. Dissertação (Mestrado em engenharia de
produção) – Instituto de Engenharia de Produção e Gestão, Universidade Federal de Itajubá, Itajubá, MG, 2015.

WU, Shuang, WANG, Yao, BOLABOLA, Joëlle Zita, QIN, Hua, DING, Wening, WEN, Wei e NIU, Jianwei.
Incorporating motion analysis technology into modular arrangement of predetermined time standard
(MODAPTS). International Journal of Industrial Ergonomics, v. 53, p. 291-298, 2016.

14

Você também pode gostar