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APLICAÇÃO DA ANALÍSE
ESTATÍSTIVA VIA TESTE DE TUKEY E
ANÁLISE DE VARIÂNCIA PARA A
AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS DE
QUALIDADE DE CORTE EM UM
PROCESSO DE FABRICAÇAO
Barbara Cristina Mendanha Reis (UFMG )
barbara.depro@hotmail.com
Rafael Lucas Machado Pinto (UFOP )
rafaelucas@gmail.com
Christianne Lacerda Soares (UFMG )
chrislacerda3@hotmail.com
1. Introdução
Nos processos de fabricação existem diversos métodos que podem ser empregados a fim de
produzir um determinado componente. Na classificação de tais processos, destaca-se a
usinagem, que de maneira abrangente pode ser definida como a operação que, ao conferir à
peça forma, dimensões e acabamento, produz cavaco. O cavaco é a porção de material da
peça retirada pela ferramenta e caracterizada por apresentar forma geométrica irregular
(MACHADO et al.,2015).
De acordo com Trent (1985) a usinagem é o processo de fabricação mais popular do mundo, o
qual emprega milhões de pessoas e transforma em cavaco cerca de 10% de toda a produção
de metais. Atualmente, este dado pode ser reafirmando ao perceber que a usinagem é a grande
responsável pelos processos de melhoria da qualidade superficial, pela fabricação das
engrenagem para transmissão de potência, dos componentes da industria aeroespacial e até
mesmo na manufatura dos pinos médico-odontológico. Entretanto, apesar dessa popularidade,
Machado et al.(2015) afirma que a usinagem é um processo complexo e simples ao mesmo
tempo. É um processo complexo em razão das dificuldades em determinar as imprevisíveis
condições ideais de corte. E simples porque, uma vez determinada estas condições, o cavaco
se forma corretamente , dispensando a intervenção do trabalhador. Estabelecidas as condições
ideais de corte é possível produzir peças dentro de especificações de forma, tamanho e
acabamento ao menor custo possível.
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Nos processos de fabricação, de um modo geral, quando busca-se analisar uma ou mais série
de dados, referentes a resultados de ensaios, é interessante uma avaliação preliminar de tais
resultados, ou seja, verificar se uma série de resultados pertence ou não a uma determinada
população, se existe uma tendência de crescimento dos resultados de uma dada amostra, se
existe alguma associação entre duas séries de resultados ou até mesmo a localização de um
elemento estranho. Para isto, podem ser utilizadas técnicas simples de análise de dados, que
não envolve cálculos complexos e que podem fornecer informações satisfatórias sobre as
características dos resultados analisados.
O objetivo deste trabalho é utilizar o método estatístico Teste de Tukey para análise de dados
da temperatura de corte e qualidade superficial rugosidade média quadrática (Rq) de um
processo de usinagem. Com o planejamento estatístico de experimentos, foi possível
estabelecer uma relação entre os parâmetros de corte (avanço, profundidade e ambiente), a
temperatura e a rugosidade da superfície ao longo dos passos de usinagem, levando-se em
consideração, também, a variação simultânea dos fatores para a resposta de interesse.
O restante do artigo está organizado da seguinte forma: seção 2 apresenta o referencial teórico
sobre os temas abordados, ANOVA, comparações múltiplas e Teste de Tukey; seção 3
apresenta a abordagem metodológica utilizada no trabalho; seção 4 contextualiza, apresenta e
analisa os dados do experimento; e seção 5 apresenta as principais conclusões.
2. Revisão Bibliográfica
2.1. ANOVA
Paese, Caten e Ribeiro (2001) apresentaram uma aplicação da ANOVA para levantamento de
possíveis fontes de variação relativos aos valores de bitola nominal em um processo de
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laminação de barras de aço. Neste estudo, os autores identificaram, através da ANOVA, que o
tipo de aço foi considerado a principal fonte de variabilidade para este processo.
Segundo Sousa et al. (2012) diversas áreas do conhecimento utilizam ferramentas de análise
estatística para investigar hipóteses propostas. Uma das maneiras de se realizar esta análise se
dá através de técnicas de comparação múltipa entre as médias de tratamentos experimentais.
Esta técnica é realizada posteriormente à ANOVA.
De acordo com Walpole et al. (2009), a ANOVA é um procedimento poderoso para testar a
homogeneidade de um conjunto de médias. Entretanto, ao rejeitar a hipótese nula e aceitar a
hipótese alternativa – de que as médias são iguais – ainda não é possível saber quais dentre as
médias populacionais são iguais e quais são diferentes. Em geral, é de interesse realizar
diversas (talvez, todas as possíveis) comparações correlacionadas entre os tratamentos. Desta
forma. Uma comparação correlacionada pode ser vista como um contraste simples, ou um
teste do tipo, para todos os i ≠ j:
Ho: µi - µj = 0
H1: µi - µj ≠ 0
Todas as comparações correlacionadas possíveis entre as médias podem ser bastante benéficas
quando certos contrastes complexos não são conhecidos a priori.
Sousa et al. (2012) verificaram a eficiência das respostas de diferentes métodos de
comparações múltiplas entre médias. Analisaram quatro diferentes procedimentos de testes de
comparações múltiplas entre médias aplicadas a 200 experimentos e a 10 variáveis, criadas a
partir de valores aleatórios. De acordo com os resultados obtidos, o maior nível de
concordância obtido, considerando o nível adotado, ocorreu a partir das análises através do
Teste de Tukey.
Conagin et al. (2008) propuseram duas modificações do teste de Tukey. Através de simulação
pelo método de Monte Carlo, compararam o poder de vários (16) testes estatísticos ,
considerando dados para 600 experimentos em um planejamento em blocos com oito
tratamentos, sendo 400 com repetições e 200 sem repetições. Os autores adotaram coeficiente
de variação de 10% e erro tipo I com probabilidade α=0,05. Adotou-se também diferenças
entre as médias dos tratamentos de 30%, 20%, 15%, 10%, 5%, incluídos dois tratamentos que,
parametricamente, não diferiram da média do controle. Em todos os ensaios o poder diminuiu
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à medida que as diferenças das médias, comparadas à média do controle, decresceram. Além
disso, os autores concluíram que os testes modificados apresentaram uma maior eficiência se
comparados aos testes originais propostos.
Ainda de acordo com Sousa et al. (2012), é importante os testes apresentarem bom controle
do valor de erro tipo I, ou seja, apresentarem boa taxa de exatidão ao afirmarem que á
diferenças significativas relacionados aos níveis de cada fator de um experimento, quando na
verdade não há, pois as mesmas são aleatórias.
Dentre as comparações múltiplas, tem-se os Testes de Tukey, Dunnet, LSD, Duncan, dentre
outros. Optou-se por utilizar o teste de Tukey para condução das comparações múltiplas
porque permite testar qualquer contraste, sempre, entre duas médias de tratamentos, e,
principalmente devido ao fato dos experimentos não serem emparelhados, ou seja, os pares
(teste principal e réplica) para cada arranjo (avanço, profundidade de corte e ambiente) não
foram realizados em seguida, devido à dificuldade de realizar todos os layouts necessários em
um único dia. Logo, optou-se por realizar todos os testes principais em um único dia e suas
respectivas réplicas no dia seguinte.
3. Procedimentos metodológicos
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natureza aplicada, uma vez que, procura produzir conhecimentos para aplicação prática
dirigidos à solução de problemas específicos.
Os ensaios foram realizados com os métodos de usinagem a seco, jorro de fluido e mínima
quantidade de líquido (MQL). No método MQL a vazão foi de 60 ml/h e a pressão de 6,0 bar.
Um óleo lubrificante a névoa KSO45 distribuído pela empresa Kampmann foi utilizado como
fluido, em uma proporção de 5% de óleo e 95% de água.
O objeto de estudo do trabalho foi o aço ABNT 4340, devido este ser largamente utilizado
para componentes mecânicos, em geral, sob a ação de tensões dinâmicas. Trata-se de uma
material destinado para a fabricação de peças na indústria automotiva, na indústria petrolífera
e construção naval . A composição química deste material pode ser vista na Tabela 1.
Tabela 1– Faixa de composição química do aço ABNT 4340
Para esta usinagem, o processo de usinagem escolhido para a realização deste experimento foi
o torneamento cilíndrico. A Figura 1 mostra a geometria básica do processo de torneamento,
onde se observam a direção da profundidade de corte (ap) e os vetores avanço (f) e velocidade
de corte (Vc).
A velocidade de corte (vc) [m/min] é a velocidade instantânea do ponto selecionado sobre o
gume, no movimento de corte, em relação à peça. O avanço por revolução (f) [mm] é a
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distância linear percorrida pela ferramenta durante uma rotação completa dessa ferramenta,
sendo este medido no plano de trabalho. Por fim, a profundidade de corte (ap) [mm] é a
quantidade que a ferramenta penetra na peça, medida perpendicularmente ao plano de
trabalho.
Fonte: Os autores
Os corpos de prova cilíndricos possuíam diâmetro inicial de 73 mm. A fim de homogeneizá-
los, estes foram tratados termicamente pelo processo de recozimento na temperatura de
patamar de 930 ºC durante cinco horas. O resfriamento dos corpos de prova ocorreu dentro do
próprio forno onde estes foram tratados.
Os ensaios foram realizados em um torno CNC ROMI, o qual está mostrado na Figura 2,
modelo Centur 30S (5,5 kW de potência e rotação máxima de 3500 rpm), no Laboratório de
Usinagem da Universidade Federal de Minas Gerais. Logo em seguida, a Figura 3 mostra,
com detalhe, como bico para a saída do fluido de corte foi direcionado para a superfície
ferramenta-peça.
Figura 2 – Torno CNC ROMI
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Fonte: Os autores
Localização do Bico
Fonte: Os autores
Os valores dos parâmetros de entrada definidos pelos autores para este experimento
encontram-se na Tabela 2.
Tabela 2 – Valores dos parâmetros utilizados no experimento
Parâmetro Níveis
Ambiente
Seco Jorro MQL
Avanço
0,15 - 0,3
f [mm/rev]
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A Figura 4 ilustra o gráfico de efeitos principais obtido para a variável resposta temperatura.
Através desta Figura é possível notar que a variação dos níveis de cada um dos três
parâmetros provoca alterações na temperatura. Entretanto, percebe-se que a alteração provada
na temperatura é maior ao variar os níveis do fator ambiente. Isto acontece pois enquanto o
tipo de ambiente jorro consiste em um contínuo fornecimento de líquido refrigerante – o que
gera grande transferência de calor do sistema, o ambiente seco não utiliza nenhum meio
lubrirefrigerenate, causando assim, maior aquecimento. Em menor intensidade, ocorre
modificação nos valores da temperatura ao alterar o avanço de 0,15 para 0,30 mm/rev, sendo,
dentre as três variáveis, a menos significativa para alterar a resposta temperatura, fato este que
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pode ser reafirmado com Machado et al. (2015), os quais afirmam que força de avanço, se
comparada com a profundidade de corte, é uma variável que apresenta menor intensidade
para o processo de torneamento.
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Isto significa dizer que diferentes níveis destas 3 variáveis promovem alteração no valor da
variável resposta Temperatura, ao nível de significância considerado.
Para as interações de segunda ordem, as relações significativas são entre Profundidade de
corte e Ambiente, e Avanço e Ambiente. A interação simultânea dos três fatores apresenta P-
valor maior que o nível de significância adotado, não sendo considerada significativa em
relação ao comportamento da resposta Temperatura. Além disso, nota-se que o modelo
apresenta uma ótima representatividade dos dados, capaz de explicar, aproximadamente, 97%
da variabilidade dos mesmos (R-sq = 97,02).
Model Summary
Pela análise de variância, apenas é possível saber que pelo um dos níveis de cada fator
principal é diferente dos demais, não sendo possível identificar quais deles são diferentes
entre si. Para isto, será utilizado o Teste Tukey.
A Figura 6 representa a saída do software Minitab 17 para o teste Tukey referente à variável
de entrada profundidade de corte. Pelo critério utilizado, se o intervalo entre os níveis do fator
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conter o zero, significa que aqueles níveis não apresentam diferenças significativas capazes de
alterar a variável resposta, no nível de significância considerado. Analisando-se esta Figura,
nota-se que nenhum dos três intervalos (1,0 -0,5; 1,5-0,5; 1,5-1,0) contém o zero, o que
significa dizer que as médias dos três níveis considerados são significativamente diferentes,
para α=0,05.
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Figura 7 – Teste Tukey para o fator Avanço Figura 8 – Teste Tukey para o fator Ambiente
A Figura 9 ilustra o gráfico de efeitos principais obtido para a variável resposta rugosidade.
Através da Figura é possível notar apenas a variação dos níveis do fator avanço provoca
alterações significativas na resposta. Ao variar os níveis dos fatores profundidade de corte e
ambiente verifica-se que estes não causam alterações relevantes na rugosidade ao nível de
significância de 5%.
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Analysis of Variance
Model Summary
5. Considerações Finais
Processos de usinagem são essenciais para o setor industrial, pois são responsáveis pela
fabricação de diversos tipos de peças e componentes utilizados nos mais variados setores da
economia. Além disso, são responsáveis por garantir emprego e renda para um grande número
de trabalhadores. A Engenharia de Produção muito pode contribuir para o aperfeiçoamento
das técnicas de produção e trabalho neste setor, dentre os quais tem-se as ferramanetas de
qualidade e produto desenvolvidos neste artigo. A utilização da ANOVA e do Teste de Tukey
permitiu que se compreendesse melhor as variáveis envolvidas no processo de usinagem, os
respectivos níveis de cada uma delas e os seus impactos na qualidade medida do processo de
produção e do produto, neste caso avaliada em termos da Temperatura e Rugosidade. Pouca
aplicação do Testes de Tukey foi encontrado na área industrial, mas este tipo de teste
mostrou-se uma ferramenta eficaz na comparação entre as médias das variáveis resposta
Temperatura e Rugosidade para os níveis dos três fatores analisados. Desta forma, uma
racionalização do uso dos recursos disponíveis envolvidos pode significar ganhos em termos
de produtividade, redução de custos, eficiência e competitividade deste setor.
REFERÊNCIAS
ASM INTERNATIONAL. Materials Selection and Design. In: ASM Handbook. EUA: ASM International,
1997. v. 20.
CONAGIN, A., BARBIN, D., DEMÉTRIO, C.G.B. (2008). Modifications for the Tukey test procedure and
evaluation of the power and efficiency of multiple comparison procederes. Scientia Agricola 65:428-432
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MACHADO, A. R. ABRÃO, A.M. COELHO, R.T. SILVA,M.B.. Teoria da Usinagem dos Materiais. 3. ed.
São Paulo: Blucher, 2015.
MONTGOMERY, D.E. Introduction to Statistical Quality Control. Sixt edition New York: John Wiley and
Sons, 2008.
PAESE, C., CATEN, C., RIBEIRO, J. .L D. Aplicação da Análise de Variância na Implantação do CEP.
Revista Produção, V. 11 n.1
WALPOLE, R. E., MYERS, R.H., MYERS, S. L., YE, K. Probabilidade e Estatística para engenharia e
ciências. [Tradução Vianna, L. F. P.]. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.
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