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XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

RFAD - MÉTODO DE CÁLCULO DE


REPOSIÇÃO DE FADIGA BASEADO NA
APROPRIAÇÃO DE PRINCÍPIOS DA
ERGONOMIA DA ATIVIDADE
Marcello Silva e Santos (UNIFOA )
marcellosanto@hotmail.com
Mario Cesar Rodriguez Vidal (UFRJ )
mvidal@ergonomia.ufrj.br
Daniela Franco Guimaraes (Lab GENTE )
dfguimaraes@yahoo.com.br

O presente artigo apresenta o método RFAD para cálculo do tempo de


reposição de fadiga, que é um dos componentes dos chamados tempos
suplementares, utilizados como parâmetros para a programação e no
planejamento industrial. A construção desste método decorreu de uma
demanda formulada ao Laboratório GENTE/COPPE para atualização dos
procedimentos de Planejamento Industrial numa empresa do ramo
automotivo. A inovação decorre do fato de ter se partido dos conceitos e
princípios de Ergonomia como justificativa técnica e efeito de maior
credibilidade para aceitação do processo. Os resultados preliminares
apontam para uma alternativa que não desconsidera as necessidades de
produtividade e racionalização da produção. Porém, apresenta-se
coerente com a tendência de valorização do trabalhador e da qualidade de
vida no trabalho.

Palavras-chaves: Ergonomia, PCP, Gestão da Produção


XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

1. Introdução

Esse artigo apresenta um método para determinação do tempo de reposição de fadiga (RFad), componente do cálculo
dos tempos-padrão de fabricação, utilizados como parâmetros para a programação e no planejamento industrial. A
construção deste método decorreu de uma demanda formulada ao Laboratório GENTE/COPPE para atualização dos
procedimentos de Planejamento Industrial num dos sites brasileiros de uma empresa de atuação mundial do ramo
automotivo. O desenvolvimento seguiu as etapas da metodologia de Ergonomia de Concepção desenvolvida e
praticada pelo GENTE/COPPE (Figura 1).

Figura 1. Metodologia de Ergonomia de Concepção aplicada ao estudo em tela.

O texto deste artigo seguira a seqüência de etapas acima estabelecida, para atender a uma exposição didática de um
processo de concepção e, assim fazendo, buscando maior utilidade para os profissionais de Engenharia de produção,
na especialidade de Ergonomia. Seu teor abrange as etapas 01 a 05, já que os itens VI, VII e VIII requerem de cinco
a dez anos para sua plena efetivação. A seqüência metodológica apropria-se dos princípios da Ergonomia da
Atividade, que se constrói pela análise ergonômica do trabalho (AET), conforme metodologia proposta por Wisner
(1977).

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2. Analise da demanda

O desenvolvimento do método foi provocado pela demanda de uma organização produtiva, uma das maiores do seu
segmento no mundo. Sua forma de gestão estratégica se faz mediante o desenvolvimento de projetos de classe
mundial que são localizados em algum dos sites da corporação, que apresente – e reivindique – as condições
corporativas para sediá-lo. Num desses movimentos, houve um questionamento referente à metodologia de alocação
de tempos suplementares entre os sites em concorrência corporativa por estes projetos: O site que solicitou o
desenvolvimento em tela estaria estabelecendo tempos suplementares mediante acordos trabalhistas e sem uma base
técnico-científica convincente. Aos olhos dos centos de decisão corporativa. È importante assinalar que a ausência
de tecnicidade numa corporação desta natureza significa instabilidade nos elementos de formação de custos, o que
aumenta o risco de investimento.

Os tempos suplementares são tolerâncias adicionais às que integram o cálculo do tempo padrão que buscam
compensar eventuais variações das condições de trabalho. Entenda-se que o calculo do TP se faz na métrica
estabelecida por um operador treinado, executando o método preconizado e numa situação estabilizada. Como esta
condição nominal é verificada de forma apenas episódica, foi estabelecida uma sistemática de alocação de tempos
suplementares, representadas por um percentual sobre o tempo total. E é exatamente esta sistemática, expressada em
termos porcentuais que sugeria uma forma de acordo trabalhista e que sob esta argumentação estava sendo criticada,
transformando-se numa vulnerabilidade competitiva na busca de captar a localizações de projetos de classe mundial
no site demandante.

Bem, a sistemática nos remete a mais de 20 anos, em pleno momento da estruturação produtiva no Brasil, placo de
muitas disputas e acordos, que efetivamente mudaram vários conceitos de relações industriais. Nestas últimas duas
décadas houve significativa modernização das instalações industriais e em equipamentos, com utilização de ligas e
materiais mais leves, inclusive em ferramentas. Muitas operações consideradas de grande risco do ponto de vista da
saúde ocupacional tiveram sua severidade ocupacional reduzida em função dessa evolução tecnológica. Nesse novo
cenário, houve, por um lado, temos a redução dos esforços físicos presentes nas atividades de trabalho e do outro, e o
ganho de importância das questões relacionadas às relações industriais – legislação, normatização, sindicatos, etc.

Transformado em conteúdo da metodologia de Planejamento Industrial, a sistemática de alocação de tempos


suplementares abre uma série de oportunidades para novas aplicações em ergonomia, dado que estão implícitos o
reconhecimento do tema da variabilidade industrial assim como o da amplitude do conceito de fadiga. O que, no caso
em tela, oferece sua contribuição na reformulação da sistemática de estudo de tempos e movimentos fazendo uma
relação direta com a presença ou ausência de ergonomia: se as condições gerais melhoram, conseqüentemente os
fatores que provocam a flutuação dos tempos de ciclo tenderão a serem reduzidos, nisso se conjugando com os
demais fatores de competitividade do site.

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O assunto, entretanto, é que a base e os critérios de estabelecimento de tempos suplementares haviam perdido seu
rigor cientifico e é essa a demanda a que o método buscou atender.

3. Apreciação ergonômica

A apreciação ergonômica compreendeu 45 postos de trabalho previamente definidos pelo setor responsável como
“críticos” do ponto de vista dos riscos associados. Ela foi realizada mediante o uso do método SPM, desenvolvido
pelo Laboratório GENTE/COPPE/UFRJ, combinado com a Tabulação SIC (Somatório dos Indicadores de
Criticidade Ocupacional), ferramenta de priorização de providencias decorrentes da apreciação. O método SPM
opera uma avaliação macroergonômica do setor. Combinada com avaliações localizadas de impactos, assim
entendidos os efeitos evidenciados da ausência de ergonomia mediante observação e ação conversacional com o
trabalhador, sem o recurso a uma exploração sistematizada da situação de trabalho. A apreciação ergonômica se
consubstanciou em dados de impactos registráveis, aspectos causais, e seus respectivos itens de enquadramento
normativo. A organização destes dados em matrizes de observação possibilitou o tratamento agregado e estruturado
ao conjunto das observações, conversações e exame de registros, bem como das validações e restituições efetuadas.

4. Pré-diagnóstico

O pré-diagnóstico consistiu na avaliação dos resultados da apreciação ergonômica em termos das necessidades de um
cálculo de reposição de fadiga. A apreciação ergonômica forneceu os insumos necessários a identificação das
variáveis de controle utilizadas na Tabulação SIC, que neste caso, não foi usada apenas como ferramenta de
priorização mas também como variável de atenuação, aplicada no cálculo de reposição de fadiga que será abordado
ao longo do texto.

Trataremos aqui da avaliação GUT (Gravidade, Urgência e Tendência) e da tabulação SIC (Somatório de
Indicadores de Criticidade)

4.1 – Avaliação de GUT (Gravidade, Urgência e Tendência)


Quando se trata de ordenação por premência de atuação nas situações, a ferramenta mais freqüente é a chamada
Matriz de GUT. É uma matriz de priorização que possibilita, de forma consensual, classificar em ordem de
prioridade os processos / problemas da situação examinada. É igualmente uma ferramenta construída para ordenar
uma lista de itens que serão priorizados com base em critérios definidos por pesos. A ferramenta é composta por
formulário, contendo uma escala de 1 a 5 para os fatores de Gravidade, Urgência e Tendência, quantificando os
processos de forma sistemática. A Tabela 1 ilustra os processos / problemas da equipe e os valores que podem ser
atribuídos.

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Tabela 1: Matriz de GUT


Grau Gravidade Urgência Tendência
5 Extremamente grave Necessita de ação imediata Piora rapidamente se nada fazer
4 Muito grave Necessita ação com alguma urgência Piora em pouco tempo
3 Grave Necessita ação o mais cedo possível Piora em médio prazo
2 Pouco grave Pode esperar um pouco Piora em longo prazo
1 Não tem gravidade Não há pressa Não piora

Para o caso em tela foi feita uma adaptação da ferramenta GUT, na qual foram elencados e avaliados, a partir do
mapeamento SPM, as variáveis de risco mais prevalentes. Em seguida, se adicionaram apreciações de sobrecarga de
forma compartilhada entre analista e a situação observada. Cada linha representa a avaliação GUT quantificando a
variável de estabelecimento (ambiente, equipamento e organização do trabalho) e as variáveis de julgamento
(sobrecarga física e mental). A avaliação final é dada pela fórmula que se segue:

( eq. 1 )

4.2 – Avaliação SIC (Somatório dos Indicadores de Criticidade Ocupacional)

A Tabulação SIC combina os critérios de exame da auditoria fiscal (GUT) com o risco fiscal (caracterizado pelo
numero e diversidade de desconformidades normativas).

A combinação da apreciação SPM com a avaliação GUT nos ajuda a determinar o grau de gravidade ocupacional de
cada posto de trabalho, nos fornecendo uma tabulação SIC. Na empresa em foco, o SIC entrou na composição das
variáveis a serem empregadas na fórmula de cálculo do tempo de reposição de fadiga, uma vez que uma situação
ergonomicamente bem agenciada é suscetível de reduzir a fadiga de forma contundente. A tabulação SIC determina
o grau de risco ergonômico de cada posto de trabalho, portanto a partir da combinação de variáveis de diferentes
matrizes (Matriz Observacional, Enquadramento Normativo e demais ferramentas de apreciação e de avaliação
global das situações de trabalho). Em sua forma simplificada, o índice SIC ® nos é dado por:

SIC = 0,015 * [ Apuração GUT] * [Numero de desconformidades ] (eq. 2)

A tabela 2 mostra o cálculo de um sistema de indexadores SIC no site demandante. De acordo com esta indicação,
medidas de reformulação e treinamento, à luz da avaliação realizada devem ser encetadas sob indicativo de urgência.

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Tabela 2. Exemplo de Aplicação da Tabulação SIC


Posto Constrangimentos Ação Enquadramento Desconformidades GUT SIC
Deslocamento constante do
0,0090
operador, pois são utilizadas
NR 17.1.2.; NR
O operador sente cansaço nos
17.6.1. ; NR
C.C.135.4 membros inferiores ao final do 0,0050
17.6.2.a;b;c;d;e;f
11 933 194,997
turno de trabalho.
;NR 17.6.3. a;b;c.
Grande distancia entre as
máquinas utilizadas no 0,0050

5. Avaliação técnica
A fórmula de cálculo do tempo de reposição de fadiga somente deverá ser empregada para os postos ou atividades de
trabalho envolvendo potenciais de desgaste físico maior que o estabelecido pelos critérios fisiológicos de capacidade.
A fórmula irá combinar dados de estimativas de gasto energético laboral extraídos de tabelas da NR-15, com
estimativas da média de consumo máximo de oxigênio (VO2 max) dos funcionários, além de outras variáveis como
Índice de massa corporal, IMC), temperatura e umidade relativa do ar no local de trabalho (reunidos na mensuração
IBUTG). Ao associar as tabelas à condição física aeróbica dos trabalhadores (a ser estimada) deveremos encontrar
valores máximos recomendáveis para o trabalho contínuo em função, também, da duração da jornada típica da
fábrica. Os percentuais de VO2max admissíveis serão estipulados com base em estudos de Ästrand & Rodhal (1984),
Monod(1994) e Moreira (2010), correspondendo aos valores da tabela 3.

Tabela 3 : Referenciais de definição do consumo máximo de oxigênio na jornada (%VO2 max lim.)

Duração (horas) %VO2max


1 75
2 70
3 65
4 60
5 55
6 50
7 45
8 40
9 35

Existem várias formas de se determinar o nível de condicionamento físico, porém, em virtude do contexto do estudo,
decidimos pela utilização de uma estimativa baseada em uma tabela de hábitos (JACKSON, A.S. e col, 1992). Esta
tabela nos fornece parâmetros de condicionamento físico de uma determinada população de trabalho (média) que
deve então ser combinada com algumas variáveis definidas por consenso. A princípio, uma vez aprovado o valor
desta fatoração, e não satisfeita a condição básica CE= 0,40 VO2max, torna-se necessária a definição do chamado
“Work Rest Cycle”, ou o tempo de descanso por ciclo de trabalho (MURREL, 1965, adaptado), que pode ser
calculado pela fórmula:

R= T {W-S(Fn)}
K (eq. 32)

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Onde

 R= Tempo de Descanso (pausa) em minutos.


 T= Tempo total de trabalho em minutos entre paradas (almoço, café, saída).
 W= Consumo médio de energia no trabalho em Kcal/min (tabelas sem os fatores de ajuste).
 S = Consumo médio de energia recomendado em Kcal/min (de acordo com as tabelas escolhidas e dos
fatores de atenuação aplicados às mesmas).
 Fn = Fatores de Atenuação da condição ideal
 K = Constante de proporcionalidade. No caso K= 1,5 Kcal/min
 Nota: A variável “S” é um valor atenuado de consumo médio de energia no trabalho em Kcal/min, onde os
fatores de atenuação (F) são multiplicados entre si, e corrigidos em sua intervariabilidade pelo divisor K.

6. Definição do método para Apropriação dos Limites de Fadiga

A construção de uma metodologia deve partir, como o nome diz, de um ou mais conjunto de métodos, que define a
lógica do encaminhamento. O Método RFad não possui estrutura autônoma de funcionamento, dependendo,
portanto, de uma conjunto de técnicas ou métodos analíticos que permitem sua apropriação. O encadeamento das
etapas ou dos diferentes métodos e técnicas envolvidas compõem então a lógica do processo, ou a metodologia geral.
No nosso caso, partimos da definição de oito etapas:

1. Escolha consensual das tabelas, fórmulas e parâmetros;


2. Incorporação dos fatores redutores para consumo de energia, a partir da análise ergonômica e Índices SIC;
3. Definição dos índices e parâmetros de ajuste do VO2max;
4. Cálculo dos limites máximos de metabolização a partir do VO2max;
5. Aplicação dos índices das tabelas na fórmula (Se o CE>x% VO2 Max, conforme tempo de atividade);
6. Incorporação de um Plano de Ação para as oportunidades de melhoria (trade offs);
7. Avaliação do processo a partir do monitoramento dos indicadores de epidemiologia e gestão operacional;
8. Promoção das alterações resultantes de Avaliação Periódica das tabelas.

6.1. Definição das Tabelas e Fórmulas

As tabelas existentes de consumo energético, como a Tabela 4 a seguir, possuem restrições de ordem sintática e
semântica. As restrições sintáticas se devem a sua aplicabilidade. Em particular, os índices são apresentados em
kcal/hora, o que dificulta sua utilização no planejamento, que utiliza tempos fracionados e operações por ciclos, por
isso os dados foram convertidos em kcal/min. É importante também assinalar que a tabela da NR 15 omite dois
índices importantes: o índice de metabolismo basal e o consumo metabólico para posição estática (sem movimento).
Esses dados servem de parâmetro para a comparação em relação a atividades de trabalho que, apesar de sua natureza
operacional, assemelham-se a processos de trabalho estático de natureza administrativa devido a existência de longos
períodos de atenção e controle.

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Tabela 4. Tabela de dispêndio energético em Kcal/min


Atividade Postura básica Kcal/min
Repouso Sentado 1,67
Leve Sentado, movimentos moderados com braço e tronco 2,08
Sentado, movimentos moderados com braço e pernas 2,50
De pé, trabalho leve, em máquina ou bancada. Envolvendo principalmente os braços 2,50
Moderado De pé, trabalho leve, em máquina ou bancada. com alguma movimentação 2,92
Sentado, movimentos vigorosos com braços e pernas 3,00
De pé, trabalho moderado, em máquina ou bancada. com alguma movimentação 3,67
Trabalho moderado de puxar ou empurrar 5,00
Pesado Trabalho intermitente de movimentação de cargas médias 7,33
Trabalho fatigante 9.17

6.2. Incorporação das Variáveis de Conforto e Condicionamento

De acordo com Ästrand & Rodhal (1984), Monod(1994) e McArdle, Katch e Katch (2007), o ser humano tem seu
nível de desempenho numa jornada de trabalho de oito horas limitado a 40% do seu consumo máximo de oxigênio
(VO2max). Assim sendo, não se justifica aplicar as tabelas “puras” sem a devida compensação de fatores
individuais. Na impossibilidade de se tratar essa questão individualmente, trabalhou-se de acordo com o escopo
possível, baseado em uma amostra dos postos de trabalho da fábrica. O VO2max arbitrado foi a média dos valores
estimados para os trabalhadores da fábrica, calculados a partir do questionário de Jackson, A.S. e col (1992),
respondidos pelos funcionários, considerados valores médios para a massa corporal total, a estatura e o IMC.
Portanto, em decorrência desse entendimento, utilizou-se a média de condição aeróbica do grupo avaliado, extraindo-
se o fator de redução caso a caso.

6.3. Aplicação no modelo

A aplicação do modelo segue os passos acima mencionados, quais sejam, o estabelecimento das correspondências
com as tabelas legais, a definição dos índices e parâmetros a partir do VO2 MAX, a definição dos limites máximos
de metabolização e a aplicação na fórmula de Murrel ajustada (Santos & Vidal, 2010). Os postos analisados
relacionam-se às tabelas da NR. 15, para que sejam aplicados os cálculos de VO2 Max e, conseqüentemente, permitir
a aplicação da tabulação SIC e, caso necessário, utilizar a fórmula de cálculo de reposição de fadiga. Os 45 postos
analisados localizaram-se então nas faixas de índices de consumo energético de 2,5 a 3,67 kcal/min, sendo a maioria
de 2,92 kcal/min.

6.3.1. Definição dos índices e parâmetros do VO2 Max

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Para dar seqüência a determinação dos índices de VO2 Máx, foram feitas simulações utilizando-se dados extraídos
do questionário de estimativa de VO2 Máx e aplicando-os sobre a planilha de consumo metabólico (Moreira). Esses
dados definiram então os postos que deveriam passar pela fórmula de Murrell para determinação do Tempo de
reposição de fadiga. Assim sendo, os dados passantes na condição, a princípio, não entrariam na fórmula e não
necessitariam de pausa para um ciclo completo de trabalho (8 horas), como pode ser visto na Tabela 5.

Nesse extrato da planilha de consumo energético foram considerados dados médios dos indivíduos, a partir de uma
faixa etária de maior comprometimento do ponto de vista fisiológico. A utilização de uma classe de operações com
maior esforço (5,0 kcal/min) foi um artifício de cálculo para possibilitar uma situação não-passante para homens, já
que em situações reais tais circunstâncias não existem. Devemos ressalvar que a utilização de dados médios para
definição dos limites tende à obtenção de resultados contraditórios. Como o cálculo emprega médias ponderadas para
as diferentes variáveis da fórmula de cálculo, isso acaba refletindo nos resultados, já que a progressão dos valores
não se mantém linear ao se fazer variar somente alguns fatores.

Tabela 5. Extrato de Resultados de Aplicação do VO2 Max.

Legendas: IMC = Indice de Massa Corporal MCT = Massa Corporal Total (Kg)
IAF = Índice de Atividade Física VO2Max: Volume Maximo de Oxigênio PAM: Potência Aeróbica Máxima

Os resultados do questionário do IAF, aplicado pela equipe de ergonomia, apresentaram o valor médio de 3, tanto
para os homens quanto para as mulheres. Esta média foi o índice considerado para os trabalhadores. A idade média
de 45 anos serviu de referencial para os cálculos. Foram feitas estimativas para homens e mulheres separadamente.
Como a norma NR-15, utilizada no Brasil para efeito de determinação de níveis de salubridade, trabalha com
quilocalorias, os resultados das equações de Jackson (1992) para o VO2max, originalmente em ml.kg-1.min-1, foram
convertidos para kcal.kg-1.min-1, expressando a Potência Aeróbica Máxima (PAM) dos funcionários.

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Depois, em função da duração média da jornada (nove horas), foi identificado, por meio da equação de Moreira
(2010), o percentual máximo que pode ser suportado em trabalho contínuo nessa jornada. Assim, ficaram
estabelecidos os referenciais para selecionar os casos em que deveria haver, ou não, pausas no trabalho. A partir daí,
as estimativas de gasto energético médio em cada posto foram baseadas na NR-15, e os resultados foram divididos
pela massa corporal para a obtenção de valores em kcal.kg-1.min-1 e comparação com os referenciais já
estabelecidos.

6.3.2. Considerações Adicionais quanto aos limites máximos do VO2 Max

O referencial utilizado para a massa corporal é um valor médio encontrado na população de trabalhadores, calculado
a partir do banco de dados do setor médico. A título de exemplo, pode-se supor que fosse encontrada uma média de
80,1kg. Como conseqüência da estimação do gasto energético, será calculado o intervalo de 95% de confiança e o
raciocínio será desenvolvido considerando este referencial. O intervalo de 95% de confiança do custo energético
laboral médio estimado entre 0,4111 e 0,4319 kj.kg-1.min-1 (aproximadamente 0,098 e 0,1kcal.kg-1.min-1) para
uma massa corporal de 80,1kg equivale a um consumo de oxigênio entre 1,6 e 1,7 litros por minuto, ou uma potência
aeróbica entre 7 e 7,4W/kg.

Durante uma jornada de oito horas, a solicitação não deveria representar mais de 40% do VO2max dos trabalhadores.
Isto significa que para suportar rotineiramente um trabalho nessa duração e com essa carga, o ideal seria que os
funcionários possuíssem uma potência aeróbica máxima (PAM) entre 17,5 e 18,5W/kg, o que corresponde a um
consumo máximo de oxigênio entre 50 e 53ml. kg-1.min-1. Assim, tendo em vista a realidade constatada no
presente estudo, em 2010, o tempo máximo recomendado de trabalho contínuo durante as jornadas seria de 463
minutos, com um repouso de 17 minutos de duração. Portanto, para garantir a manutenção do nível de desempenho
esperado, os trabalhadores deveriam, a cada 7,7 horas de trabalho contínuo, descansar por 0,3 horas, o que ocorreria
ao longo da jornada (pausas concedidas, micropausas, etc.).

6.3.3. Aplicação dos índices das diferentes tabelas na fórmula de Murrell

Se o índice VO2 Max encontrado for maior que percentual recomendado por tempo na atividade conforme a tabela,
utilizamos, na seqüência de aplicação do método RFad, a fórmula de compensação, que retorna o tempo mínimo de
descanso ou repouso (rest) para cada ciclo de trabalho. É importante enfatizar que devemos descontar os tempos de
máquina dos valores encontrados, pausas concedidas e almoço. Da mesma forma, o ciclo final do turno – quando o
trabalho se encerra para cada dia – deve ser desprezado para efeito de compensação, já que não haverá outro ciclo
após o tempo de repouso. Para exemplificar tomemos um ciclo contínuo de 240 minutos, imediatamente antes da
parada de almoço. A atividade em questão consiste das seguintes características:

 Atividade: Trabalho em pé, bancada, moderado, pouca movimentação: 3,67 Kcal/min

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 Temperatura Efetiva: 26 IBUTG: Fator: 1,0.


 Condição Aeróbica (Constante Populacional Média): 4 : Fator: 0,97.
 Condição Física Média: Nível 0,25 a 0,30: Fator: 0,98.
 Condição Ergonômica: SIC: Moderado: Fator: 1,0.

Aplicando na fórmula de Murrell (1965), ajustada (MOREIRA et al., 2010), temos:

R= T {W-S(Fn)}
K

A unidade de medida kcal/min do numerador anula-se com o denominador e, portanto, continuando o processo,
obtemos:

O índice SIC, que constitui-se em um fator em si, também irá influir nos resultados. Isso pode ser explicado não
somente pelo fato do mesmo constituir-se em um fator de atenuação – ou um multiplicador da fórmula – como
também por estar diretamente relacionado às condições de trabalho em cada centro de custo.

Conclusão

O modelo de avaliação de fadiga envolve a necessidade de aplicação de um conjunto de formulas e cálculos. Como
todo e qualquer construto matemático o modelo é uma aproximação da realidade com um nível de precisão suficiente
para auxiliar decisões. No caso do modelo, há uma orientação assumida para parâmetros de centralidade (medias,
equilíbrios e outros pontos de convergência clássica). Uma recomendação é a de evoluir de uma referência central
para uma compleição mais customizada, adequada a parâmetros individuais. Porém, deve-se avaliar a relação entre o
custo desta precisão e o impacto da mesma. Em nosso entender este custo atual não é interessante, até porque
constatamos os tempos normais de repouso mais que suficientes para a recuperação fisiológica.

No entanto cabe ressaltar que a pronta aplicabilidade do método com uso de seus resultados em varias ações de
planejamento, sem a produção de distorções que teriam resultado em iminente conflito trabalhista pode ser
considerado como uma validação em primeira ordem. O calculo de reposição de fadiga, mediante o uso da fórmula
RFad teve até um efeito interessante por produzir resultados bastante próximos aos valores estabelecidos de forma

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puramente estimativa, com base na experiência dos participante. Com isso tais parâmetros aumentaram seu grau de
aderência ao planejamento industrial, e vice-versa.

Ressalvamos a natureza resiliente das ferramentas utilizadas, sobretudo o SIC, nos permite inferir impactos
cognitivos e organizacionais presentes nas diversas operações. Isso só é possível pela apropriação dos princípios da
Ergonomia da Atividade e da aplicação da metodologia de Análise Ergonômica do Trabalho, adaptada naturalmente
às circunstâncias. Outrossim, a estrutura fatorial possibilita a introdução de novos atenuadores capazes de
movimentar a avaliação num sentido ou em outro. Ficou patente que a questão de gênero pode ser um diferencial, já
que a maioria das situações não passantes ocorreu com mulheres. Neste sentido, e com o previsível aumento da
proporção de mulheres nos postos de trabalho industriais, questões da cidadania tendem a criar obrigações de
adaptações de postos a populações de gêneros, como já acontece atualmente com os portadores de necessidades
especiais.

REFERÊNCIAS

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GRANDJEAN, E., , Manual de ergonomia: adapatando o trabalho ao homem, 4ª ed. Porto Alegre: Ed. Bookman,
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HENDRICK, H, Handbook of Human Factors and Ergonomics Methods, London: Taylor & Francis, 2004.

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