Você está na página 1de 11

INSERINDO A SUSTENTABILIDADE NO ENSINO DE MATERIAIS

DE CONSTRUÇÃO: PRÁTICA LABORATORIAL COMBINANDO


QUESTÕES AMBIENTAIS E CIÊNCIA DOS MATERIAIS NO
APROVEITAMENTO DE ESTERCO PARA PREPARO DE ARMASSAS

Primeiro Autor – e-mail*


Instituição de Ensino, Faculdade ou Departamento*
Endereço *
CEP – Cidade – Estado*

Segundo Autor – e-mail*


Instituição de Ensino, Faculdade ou Departamento*
Endereço*
CEP – Cidade – Estado*

Terceiro Autor – e-mail*


Instituição de Ensino, Faculdade ou Departamento*
Endereço*
CEP – Cidade – Estado*

* Como as avaliações serão às cegas, os nomes/dados dos autores não deverão constar na
versão para a submissão. Caso não seja atendida essa determinação o artigo será
desclassificado. Aqueles artigos que obtiverem aprovação deverão ser reenviados com tais
informações.

Resumo: A prática laboratorial é parte fundamental na assimilação dos conteúdos teóricos


da Engenharia. Da mesma forma, cada vez mais a temática ambiental aparece como
essencial na formação de futuros profissionais, ainda que normalmente a inserção do tema
nas grades curriculares apareça de forma dissociada dos conteúdos específicos de formação
em Engenharia. Assim, apropriar-se de conceitos de sustentabilidade, especificamente no
tocante ao reaproveitamento de resíduos, nas aulas de laboratório de materiais de
construção objetiva estabelecer a correlação entre os aspectos técnicos do comportamento
de materiais de construção e a possibilidade de reaproveitamento de rejeitos orgânicos como
agregado alternativo em argamassas. Esse artigo apresenta os resultados de um projeto de
iniciação científica (PIC) destinado a buscar a viabilização de argamassas com adição de
esterco. Os resultados mostraram que, dependendo da adição, o desempenho dos corpos de
prova e das peças de piso atende aos parâmetros exigidos. Além do resultado da pesquisa em
si, a experiência didática advinda do processo validou o potencial da estratégia de combinar
a prática laboratorial e a atuação de equipes multidisciplinares à temática da
sustentabilidade, como fator de estímulo no processo de ensino-aprendizagem.

Palavras-chave: Ensino em Laboratório. Aprendizagem Significativa, Sustentabilidade.


1 INTRODUÇÃO

A Educação Ambiental vem se tornando cada vez mais importante nas Escolas de
Engenharia. Entretanto, a temática ambiental, assim como os conceitos de sustentabilidade
têm normalmente aparecido de forma dissociada do processo de formação do engenheiro, com
exceção naturalmente dos cursos de engenharia diretamente vinculados ao tema, como a
Engenharia Ambiental ou Engenharia Agrônoma, por exemplo. As disciplinas muitas vezes
concentram-se nos aspectos genéricos do estudo ambiental, como Introdução à Ecologia e
outras similares, ou ainda um ementário associado à legislação ambiental ou processos
regulatórios e de certificação, por exemplo, o Sistema ISO 14001.
Esse artigo resume as atividades de um Projeto de Iniciação Científica multidisciplinar –
com alunos de três cursos diferentes, sendo dois de engenharia. No curso da pesquisa, buscou-
se trabalhar a questão da sustentabilidade como algo que precisa estar associado aos processos
de preservação ambiental, porém não restrita ao meio ambiente, afinal sustentabilidade
pressupõe também um equilíbrio entre as ações humanas na sociedade. No plano econômico
sustentabilidade remete á inovação, economia criativa e/ou colaborativa, geração de valor aos
produtos, geração de emprego e renda etc. Já no plano social, sustentabilidade associa-se aos
processos de melhoria nas condições de vida das populações, incluindo o direito ao
saneamento básico, redução de desigualdades e garantia dos demais direitos humanos.
Organização
A pecuária é uma importante atividade produtiva no Brasil. AlémPromoção
de gerar divisas, o setor
garante o sustento de milhares de pequenos produtores rurais. Entretanto, essa é uma atividade
que provoca grande impacto ambiental, que naturalmente cresce na medida de sua escala de
investimento. Os resíduos orgânicos resultantes, emUFBA especial no caso das propriedades
menores, costumam ficar in natura no local dos pastos. Esse trabalho apresenta sinteticamente
os resultados de um projeto de iniciação científica, focado nesse resíduo orgânico,
normalmente chamado de esterco, termo que será utilizado no decorrer desse relatório.
A primeira parte da pesquisa foi realizada sobre uma base bibliográfica, de cunho
exploratório, utilizando-se principalmente artigos científicos nacionais e internacionais. A
calcinação do material bruto mostrou-se o principal desafio, pois ainda que transforme o
material rapidamente no produto pulverulento, a redução da amostra seca é extrema, gerando
cerca de 5% ou menos do volume inicial. Os ensaios de laboratório foram divididos em dois
tipos básicos:

• Argamassas e peças de piso moldadas com adição de material calcinado em forno


industrial a 500ºC (cinzas);
• Argamassas e peças de piso moldadas com adição de material triturado e cozido
(estufa a 220ºC).

Para cada um desses dois tipos foram moldadas peças de piso que foram devidamente
ensaiadas em relação a resistência e viabilidade técnica. Para efeito de comparação, foram
testadas misturas com adição de 30% e 60% de material alternativo, especialmente quanto à
resistência, cujo índice normativo é de 20 MPa. Em relação aos objetivos desse projeto, pode-
se citar como objetivo principal a tentativa de se demonstrar a viabilidade de adição de cinzas
de esterco na argamassa de cimento e areia, visando a produção de elementos arquitetônicos
não estruturais.
Além dos aspectos econômicos decorrentes da economia resultante na redução de
agregados e/ou aglomerantes, a utilização de resíduos orgânicos normalmente deixados ou
lançados de forma desordenada no solo provoca uma série de inconvenientes no meio
ambiente, o que certamente seria minimizado pelo uso alternativo proposto na pesquisa. Em
relação às justificativas, além dos aspectos preservacionistas associados ao processo, a
utilização dos resíduos da produção animal apresenta potencial de incorporação de
propriedades de trabalhabilidade às argamassas, o que sinaliza para uma melhoria de
produtividade na obra.
Em termos do processo de ensino-aprendizagem, percebe-se nitidamente que a atuação de
equipes multidisciplinares ajuda a agregar potencialidades de formações profissionais
distintas, sendo um processo saudável de integração acadêmica e ao mesmo tempo uma
interessante estratégia de assimilação do conhecimento. Foi especialmente gratificante notar o
amadurecimento dos alunos ao longo da pesquisa e, durante a apresentação do projeto na
Jornada Científica da instituição, ver que a motivação em relação ao projeto trouxe muita
empolgação ao grupo, que participou de forma efusiva da apresentação dos resultados.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Segundo Gomes (2018), os educadores têm um papel estratégico e decisivo na inserção


da educação ambiental no cotidiano escolar, qualificando os alunos para um posicionamento
crítico face à crise socioambiental, tendo como horizonte a transformação de hábitos e
práticas sociais e a formação de uma cidadania ambiental, que permita
Organização a uma mobilização de
Promoção
esforços em direção à questão da sustentabilidade.
No que se refere aos conteúdos teóricos de aprendizagem e ensino, assinala-se a
UFBA
utilização, referencialmente, de três ferramentas: o comportamentalismo, o cognitivismo e o
humanismo (MOREIRA, 2011). O Currículo Modular aborda, de uma forma consistente e
integrativa, o comportamento observável, a cognição, o comportamento e a pessoa. Conforme
Freire (1987) o conteúdo programático deve ser construído a partir do “universo do
educando”, ou seja, deve ter o foco na pessoa que busca o conhecimento. E estando o jovem
atual inserido num contexto de verdades subjetivas e respostas rápidas, o processo de
investigação torna-se alinhado ao pensar desses alunos, aproximando-se da realidade dos
mesmos, ou ainda conforme Freire, de sua “práxis”. Isso reforça a importância de se enfatizar
o trabalho em equipe, de forma multidisciplinar.
Naturalmente, a interdisciplinaridade só acontece se houver a integração entre a teoria e
a prática, de forma efetiva e real, e a iniciativa de uma nova maneira de educar, na qual o
processo de reflexão e interpretação do contexto permite tornar significativa a relação entre
ensinar e aprender (PAULA, 2017). Portanto, torna-se necessária a construção de uma nova
postura do educador, que se transfere de um único responsável pela atividade para todos os
envolvidos no processo ensino-aprendizagem, compartilhando e socializando o que se
aprende. Isso encontra amparo em Morin (2001) que dentre os vários os fatores que
influenciam negativamente as mudanças na sala de aula, uma organização rígida é algo que
deve ser evitado.
De acordo com Thurler (2001) para se programar um processo de mudança nos cursos de
graduação torna-se necessário pensar em seis dimensões: organização do trabalho, relações
profissionais, cultura e identidade coletiva, capacidade de projetar-se no futuro, liderança e
modos de exercício de poder, estabelecimento como organização instrutora. Deve-se enfatizar
que mudanças implicam em vivenciar e testemunhar os desafios de se apostar nas mudanças,
estar abertos à aprendizagem, ao novo.
Conforme Paula (2017), muitas vezes as iniciativas de mudanças são desmobilizadas
pelos sentimentos de angústia, ansiedade e medo. Mas esses conflitos podem ser valorizados
pela mobilização que produzem, em especial quando os utilizamos para a busca de novos
saberes. Desta forma, o conflito se transforma em aprendizagem significativa. Esse é o
desafio dos educadores, estarem alertas, em constante avaliação e reavaliação do processo de
mudança do sistema educacional. (MORAES, 2005).
No ensino superior, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos de
graduação em Engenharia, definidas a partir dos anos 2000 pela Câmara de Educação
Superior do Conselho Nacional de Educação, apontam para a necessidade de currículos
integrados. De modo geral, essas diretrizes orientam para a formação de profissionais com
perfil generalista, humanista, crítico e reflexivo e têm como base um conjunto de áreas de
competência que articuladas produzem os resultados esperados. (BRASIL, 2000). Observa-se
que as diretrizes atuais também indicam como elementos da estrutura curricular o
desenvolvimento de metodologias que privilegiem a participação direta dos estudantes na
construção do seu conhecimento. A principal função do educador nessa abordagem
educacional passa a ser a de um professor capaz de criar situações e condições de
aprendizagem do educando voltado para a construção de saberes a partir dos conhecimentos
prévios dos mesmos quando apresentados às situações-problemas reais, ainda que de forma
simulada.
Ao se considerar a formação do profissional e do docente pelas novas tendências do
ensino-aprendizagem, percebe-se nitidamente a necessidade de se formar profissionais crítico-
Organização
reflexivo, capaz de transformar Promoção
a realidade social do seu cotidiano, com foco na inclusão
social. Diante das mudanças metodológicas necessárias para a formação de um profissional
que aprenda a aprender, as metodologias ativas têm, de fato, atuado como instrumentos da
UFBA
aprendizagem significativa (AUSUBEL, XXXX), já que permitem uma contextualização dos
conhecimentos necessários com a prática profissional. As concepções da metodologia ativa
envolvem outras duas metodologias fundamentais de operacionalização: a problematização e
a aprendizagem baseada em problemas (MOREIRA, 2011).
Complementando, Mitre et.al. (2008) consideram metodologias ativas para o ensino-
aprendizagem, como um método que articula a universidade, o serviço e a comunidade por
criar possibilidades de leitura e intervenção rápida com a realidade. Devido à complexidade
nos processos de ensino-aprendizagem, este método visa permitir a aprendizagem baseada em
problemas (ABP), extinguindo assim, o aprendizado pela memorização mecânica. Com isso,
obtém-se um processo que valoriza a construção do conhecimento de forma coletiva em
diferentes conhecimentos, além de promover maior liberdade nas questões do pensar e das
ações nos trabalhos em equipe.
Em se tratando especificamente das disciplinas dos cursos de Engenharia e aquelas
específicas em ciências e educação ambiental, os conteúdos nem sempre “conversam” entre si
e são de responsabilidade de um grupo de professores. Uma vez adotada a estratégia, é de
extrema importância que os professores assumam seu papel integrador de forma a poder
efetivamente contribuir com os princípios centrais da aprendizagem. Os modelos que
incorporam equipes multidisciplinares valorizam também a responsabilidade individual de
cada estudante perante as equipes de trabalho, e aplica os conhecimentos adquiridos na
solução de questões relevantes na prática profissional (BOLLELA et al., 2014).
Esses pontos iniciais reforçam a natureza das decisões metodológicas associadas ao
projeto de iniciação científica que serviu de base para este artigo. A Embrapa (Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária), instituição de pesquisa vinculada ao governo federal,
aponta a falta de tratamento e manejo inadequado dos resíduos da produção animal como
origem de grande parte dos danos ao meio ambiente (BRASIL, 2019). Porém, resíduos
orgânicos, quando manejados e reciclados adequadamente, deixam de ser poluentes e passam
a constituir valiosos insumos para a produção agrícola e outras finalidades de natureza
sustentável. Portanto, explorar o reaproveitamento na construção civil de resíduos de gado
bovino, comumente chamados de estrume ou esterco bovino, configura-se numa estratégia
criativa para ajudar no processo de destinação final de rejeitos orgânicos ao mesmo tempo que
busca reduzir custos na produção de argamassas e artefatos de concreto não estrutural.
As formas de reaproveitamento de resíduos são escolhidas de acordo com a finalidade ou
destinação final do esterco como aditivo, compósito ou fonte de energia. No Brasil, costuma-
se utilizar esterco com diferentes finalidades. A fazenda Iguaçu, em Céu Azul, na região oeste
do Paraná, por exemplo, utiliza esterco dos animais para na produção de biogás, que
posteriormente é transformado em energia elétrica (PORTAL G1, 2017). O biogás é uma
fonte renovável produzida pela decomposição da matéria orgânica por meio da ação de
bactérias.
Outras formas de utilização de esterco – bem mais comuns – envolvem sua utilização em
natura ou misturado a resíduos vegetais como adubo natural. O esterco na forma líquida
também é um excelente fertilizante orgânico. Essa pesquisa de iniciação científica visou
identificar a viabilidade de utilização de cinza de esterco na composição de concreto não
estrutural, mais especificamente placas cimentícias moldadas em forma de piso
antiderrapante. Três artigos internacionais serviram como alavanca teórica do projeto, sendo o
mais relevante deles o que foi publicado em uma revista científica renomada descrevendo, de
forma detalhada, um experimento realizado por pesquisadores da Universidade de Ataturk, na
Turquia, onde adições deOrganização
cinza de estrume bovino foram testadas em Promoção
argamassas e concreto
(SAHIN et.al, 2006).
Sendo o Brasil um dos principais produtores mundiais de bovinos, atualmente o maior
exportador, e tendo sido gerada uma receita de quase 6 UFBA
bilhões de dólares no setor (PORTAL
G1, 2018), o peso econômico da pecuária é de extrema importância. Contudo, com um
rebanho de mais 200 milhões de cabeças, ele também é um dos maiores produtores mundiais
de resíduos orgânicos decorrentes da produção animal. Consequentemente, a produção que
gera divisas acaba sendo também uma grande fonte de poluição e riscos ambientais. Não é
difícil imaginar, portanto, o potencial de reaproveitamento de resíduos orgânicos como
aglutinante de argamassas, colaborando com a preservação ambiental ao mesmo tempo em
que oferece substancial redução no uso de matéria prima convencional, em especial o
cimento.
Segundo Kunz & Oliveira (2006), o cenário atual torna premente a análise de alternativas
viáveis para não apenas dar destinação adequada aos rejeitos da produção animal como
possibilitar agregar valor a esses resíduos. Em tese, qualquer resíduo animal, misturado ou
não a vegetação, possui características que os qualificam como produtor de energia. Porém,
em função do volume produzido e larga escala de produção, o esterco bovino mostra-se mais
atraente para produção de energia, sobretudo de biogás, já que um animal gera o equivalente a
0,36 m3 de gás por dia, em torno de 50% a mais que no caso do porco, por exemplo (KUNZ
& OLIVEIRA, 2006).
De fato, a solução mais interessante possível seria analisar a viabilidade de
aproveitamento do próprio resíduo da produção de biogás, o que será buscado na consecução
das atividades dessa pesquisa. O termo sustentabilidade começou a ser adotado para definir a
aderência aos princípios de respeito á diversidade, conservação e preservação da natureza, na
sua conotação atual, a partir da elaboração do Relatório da Comissão Mundial sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento (Report of the World Commission on Environment and
Development: Our Common Future) mais conhecido como Relatório de Brundtland
(CMMAD, 1991). Na verdade, ele deriva da ideia que um desenvolvimento sustentável só é
possível caso se garanta as necessidades do presente sem comprometer a habilidade das
gerações futuras em alcançar suas próprias necessidades.
Portanto, o termo construção ecológica, que pode adquirir nomes como eco-construção,
arquitetura ecológica, construção ecológica, arquitetura bioclimática, construção sustentável,
dentre outros, remete ao processo de busca pela sustentabilidade na construção e no
desenvolvimento de moradias, incorporando-se princípios e elementos construtivos imbuídos
do “pensar sustentável” e a utilização de resíduos indesejáveis como componente de sistemas
de construção representaria o atendimento pleno dessa ideia.

3 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

O primeiro passo – a coleta da matéria prima em si – foi resolvida por um dos alunos
integrantes do projeto, residente próximo a uma área rural. Ele não apenas coletou o material
no pasto, como o deixou secando ao sol por algumas semanas. Essa secagem por si foi capaz
de eliminar boa parte das bactérias presentes na matéria orgânica, resultando num material
praticamente inerte e sem cheiro. Outro aluno coletou uma quantidade menor de material no
campo, porém, o material já veio seco e parcialmente triturado o que facilitou a queima e
peneiração final e, naturalmente, também favorecia a calcinação.

Foto 1. Resíduo de Esterco Cozido e Peneirado (a e b)

Organização Promoção

UFBA

Fonte: Os Autores (2018)

As peças iniciais foram moldadas com um traço de cimento e areia, com 60% de adição
de resíduo orgânico, em forma de material torrado a 220ºC e peneirado. Na segunda fase,
todos os moldes utilizaram a adição em forma de pó (cinzas) resultante de queima em forno
industrial a 500ºC. Na segunda fase foram feitos três diferentes ensaios, envolvendo adições
de 30 e 60% de cinzas e uma última com os corpos de prova preparados com 60% de adição
de resíduos cozidos em estufa e peneirados, com 31 dias de cura. Optou-se inicialmente pela
queima dos resíduos em fornos de baixa potência (até 220º). O material resultante, ainda que
não tenha adquirido a forma desejada em cinzas, constituiu-se de pelotas consistentes, que
foram trituradas e peneiradas para obter um produto particulado. Uma vez equacionada a
questão da calcinação, os ensaios concentraram-se na adição de material pulverulento.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados se mostraram promissores em termos do atendimento às características


técnicas esperadas nos ensaios de laboratório. Os dados aqui apresentados estão no formato
gerado pelo software do equipamento. Os testes iniciais, utilizando o esterco basicamente in
natura , ainda que seco em estufa e triturado, retornaram valores aquém do parâmetro exigido
de 20 Mpa. Há de se considerar não apenas a proporção utilizada (60%) de resíduos, como a
forma de preparação dos corpos de prova ensaiados. De fato, os ensaios a 28 dias com os
mesmos corpos de prova dos ensaios iniciais retornaram valores próximos ao determinado em
norma, cerca de 18 Mpa. Em seguida, foram feitos os ensaios com a queima completa do
material a 500º C em forno industrial, conforme foto 2.
Foto 2. Forno Industrial

Fonte: Os Autores (2018)

Os resultados com adição de 30% de cinzas de esterco do último lote moldado


alcançaram a meta de 20 Mpa, conforme pode ser observado nos dois gráficos a seguir
(Figura 1). Entretanto, nos ensaios a 30 e 60% de cinzas, com lote anterior, os resultados
foram surpreendentemente ruins, com ambas proporções. De fato, a proporção de 60%
retornou alguns resultados, na média mais altos para resistência no rompimento que alguns
ensaios a 30%, o que nãoOrganização Promoção
parece ser lógico e nem tecnicamente compatível. Em vários testes,
as peças tiveram um rompimento disforme e os ensaios foram descartados.
Os gráficos resultantes da média estatística a 30 e 60% são apresentados a seguir (Figura
UFBA
2). Acredita-se que essas “surpresas” tenham sido decorrentes de dois fatores, posteriormente
identificados: a) o excesso de água na preparação de um dos lotes (30%), conforme
confirmado pelo instrutor do laboratório, presente no dia do ensaio, e a presença de caroços de
argila, também identificados pelo instrutor do laboratório. Isso explicaria o fato que a mesma
adição de cinzas (30%), a 31 dias de cura, tivesse obtido resultados satisfatórios no ensaio
final.

Figura 6. Comparação de Médias com adições de 30 e 60% de cinzas.


Organização Promoção

UFBA

Com relação aos ensaios com as peças de piso (Foto 3), no caso absorção e flexão, os
resultados obtidos alcançaram na maioria as exigências normativas. Em relação à absorção, os
valores encontrados ficaram na média em menos de 7 %, sendo o menor índice 6,0 e o maior
8,2%. Quanto à flexão, os valores das peças com adição de 30% de cinzas resultaram em
valores abaixo das peças com 60% de adição, ainda que ambas tivessem atingido o mínimo de
2 Mpa, ou seja, 10% do parâmetro esperado nos ensaios de compressão. Tal fato pode ser
explicado pelas mesmas razões já descritas, ou seja, falta de cuidado na preparação da
argamassa – excesso de água – e/ou presença de material argiloso na argamassa.

Foto 3. Peça de Piso moldada com adição de 30% de cinzas


5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto de inovação científica que serviu de base para essa reflexão acerca da utilização
de equipes multidisciplinares em práticas laboratoriais integrando a temática ambiental está
em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos de graduação
em Engenharia. Elas reforçam a necessidade de currículos integrados e que orientem para a
formação de profissionais com perfil generalista, humanista, crítico e reflexivo, estimulando,
sempre que possível a multidisciplinaridade.
Do ponto de vista da pesquisa em si, os resultados obtidos apontam para a possibilidade
real de utilização de resíduos orgânicos de pastagem na produção de peças não estruturais de
concreto. Isso ajuda a corroborar as pesquisas anteriores – realizadas no exterior – que
mostraram a viabilidade na utilização de cinzas de esterco na argamassa.
Portanto, pode-se afirmar que a estratégia adotada de inserção da temática da
sustentabilidade no ensino de materiais de construção, mais especificamente nas práticas
laboratoriais, permitiu não apenas a transmissão de conteúdos associados às questões
ambientais, relacionando-se aspectos de preservação e reaproveitamento de resíduos à ciência
dos materiais, como também ajudou na obtenção dos resultados planejados para o estudo.
Como possíveis desdobramentos,
Organização incluem-se a continuidade Promoção
da opção pelas equipes
multidisciplinares na realização dos projetos de iniciação científica e de desenvolvimento
tecnológico, bem como a ampliação das possíveis aplicações a partir da adição de cinzas de
esterco às argamassas. Devido à menor resistência UFBA à compressão obtida pela mistura,
vislumbra-se como real possibilidade a confecção de tijolos de solo-cimento, já que a
resistência mecânica esperada no caso desses materiais é da ordem de apenas 2 Mpa.

Agradecimentos
Nesta seção poderão ser incluídos reconhecimentos de apoios recebidos de pessoas físicas
e instituições. Esta seção deve estar localizada entre o fim do corpo do texto e a lista de
referências. Digite somente “Agradecimentos” em negrito e itálico e digite o texto na linha
seguinte.
REFERÊNCIAS

BRASIL, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), matérias diversas


sobre o reaproveitamento de resíduos orgânicos para biogás e adubo natural, disponível em
http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Agencia8/AG01/.html, Acesso 15 março 2019.
BROSLER, T.M.; BERGAMASCO, S.M.P.P. Construções tradicionais resguardadas no
meio rural brasileiro: um estudo em um assentamento de reforma agrária. Retratos de
Assentamentos, Campinas, SP, v. 16, p. 181-198, 2013.
CMMAD – Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Nosso futuro
comum. Tradução de “Our common future” (1988). Rio de Janeiro: Editora da Fundação
Getúlio Vargas, 1991.
JOHN, V.M et.al.. Durabilidade e sustentabilidade: Desafios para a construção civil
brasileira. In: WORKSHOP SOBRE DURABILIDADE DAS CONSTRUÇÕES, 2., 2002,
São José dos Campos. Anais... São José dos Campos, 2002.
KONZEN, A.E. Manejo e utilização de esterco de bovinos. EMPRESA BRASILEIRA DE
PESQUISA AGROPECUÁRIA. Sete lagoas - MG. 1999.
KUMAR, P.; HARSHINI, R.; BHAGAVANULU, D., A Study on the Replacement of
Cement in Concrete by Using Cow Dung Ash, International Journal of Scientific
Engineering and Applied Science, Vol.1, n.9, 314-327, 2015.
PENSAMENTO VERDE, Coletâneas sobre inovações sustentáveis, disponível em
http://www.pensamentoverde.com.br/ecoideias/madeira-transparente-pode-substituir-o-vidro/,
Acesso em 5 Janeiro de 2018.
PORTAL G1, Artigo sobre aproveitamento de esterco na produção de energia, disponível em
http://g1.globo.com/pr/oeste-sudoeste/noticia/2015/06/fazenda-do-parana-aproveita-esterco-
para-produzir-energia-eletrica.html, Acesso 10 março 2019.
PORTAL G1, Artigo sobre a importância da pecuária, disponível em
https://g1.globo.com/economia/agronegocios/agro-a-industria-riqueza-do-brasil/noticia/brasil-
e-maior-exportador-de-carne-bovina-do-mundo.ghtml , Acesso em 10 março 2019.
SAHIN, S. et al., Replacing Cattle Manure Ash as Cement into Concrete, Journal of
Applied Sciences, Disponível em https://www.researchgate.net/profile
/46028314_Replacing_Cattle_Manure_Ash_as_Cement_into_Concrete/.pdf , Acesso 5 abril
2019.
UTSEV, J.; TAKU, J., Coconut shell ash as partial replacement of ordinary portland
cement in concrete production, International Journal of Scientific & Technology Research,
Vol. 1, pp 86-89, 2012.

Dois autores: Organização Promoção


LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia
Científica. São Paulo: Editora Atlas. 1991.
UFBA
Três autores
DEMO, Pedro; LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de
Metodologia Científica. São Paulo: Editora Atlas. 2009.
Mais de três autores
LAKATOS, Eva Maria et al. Fundamentos de Metodologia Científica. 2ª ed. São Paulo:
Editora Atlas. 1991.

ALVES, R. Conversas sobre educação. Campinas: Verus, 2007.

BERBEL, N.A.N. Metodologia do ensino superior: realidade e significado. Coleção magistério


formação e trabalho pedagógico. Campinas: Papiros, 1994.

____________. A metodologia da problematização e os ensinamentos de Paulo Freire: uma relação


mais que perfeita. In: Berbel, NAN (org.). Metodologia da Problematização: fundamentos e
aplicações. Londrina: Editora UEL, 1999.

BOLLELA, V. R. et al. Aprendizagem baseada em equipes: da teoria à prática. Medicina, (Ribeirão


Preto. Online), v. 47, n. 3, p. 293-300, 2014.

BRASIL, Educação profissional: referenciais curriculares nacionais da educação profissional de nível


técnico - Introdução. Ministério da Educação. Brasília: MEC, 2000.

COLL C. Psicologia e currículo: uma aproximação psicopedagógica a elaboração do currículo escolar.


São Paulo: Ática; 2008.

FORQUIN, J.C. Escola e cultura: as bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1999.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 17.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

____________. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 35 ed. São Paulo:
Paz e Terra, 2007.

LEVY, M.I.C. Escola ambientalizada e formação de professores: compromissos e desafios.In:


TAGLIEBER, J. E; GUERRA, A. F. S. (Org.). Pesquisa em Educação Ambiental: Pensamentos e
reflexões. Pelotas: UFPel, p.105-143, 1999.

MINAYO, M. C. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. Rio de Janeiro: Hucitec;


Abrasco, 1993.

MITRE, S.M.; BATISTA, R.S.; MENDONÇA, J.M.G.; PINTO, N.M.M.; MEIRELLES, C.A.B.;
PORTO, C.P.; MOREIRA, T.; HOFFMANN, L.M.A. Metodologias ativas de ensino-aprendizagem na
formação profissional em saúde: debates atuais. Ciência & Saúde Coletiva. v.13, n.2, p.2133-2144,
2008. Organização em:
Disponível Promoção
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-
81232008000900018&script=sci_arttext., Acesso em 15 de maio de 2017.
UFBA
MORAES, M.C.B.; MATTEI, R.A.; SANTOS, S.M. Impactos na gestão e na docência com a
implantação de currículo modularizado e por competência em uma instituição de ensino superior. V
Colóquio Internacional Paulo Freire. Recife: 19 a 22-setembro 2005.

MOREIRA, M.A. Teorias de aprendizagem. 2.ed. São Paulo: EPU, 2011.

MORIN, E. A cabeça Bem-Feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Beltrand
Brasil, 2001.

NISKIER, A. Nova Educação: entre o coração e a máquina. Rio de Janeiro: Bloch Editoras,
1985.p.215.

THURLER, M.G. Inovar no Interior da Escola. Porto Alegre: Artmed, 2001.

VÁZQUEZ, A.S. Filosofia da práxis. 4.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.

INTRODUCING SUSTAINABILITY IN CONSTRUCTION MATERIALS


LAB CLASSES: A LABORATORY PRACTICE COMBINING
ENVIRONMENTAL ISSUES AND MATERIAL SCIENCES IN THE
PROCESS OF ADDING COW DOUGH IN CEMENT MORTAR

Abstract: This document presents detailed instructions...

Key-words: first one, second word …

Você também pode gostar