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Estudo das ocorrências do defeito Build-up aplicando a metodologia DMAIC


– Six Sigma ISSN
1809-9475
Study of Build-up occurrences applying the DMAIC - Six Sigma Methodology

Elias de Araújo Silva¹ Artigo


Alessandro José A. Ferreira¹ Original
Marcello Silva e Santos (DSc)²
Original
Paper

Palavra-chave Resumo
O presente trabalho tem como objetivo principal entender as causas
Perfil transversal de das descontinuidades no perfil transversal (Build-up) das tiras lamina-
laminação das, compreendendo como minimizá-las. Esse tipo de defeito ocorre
principalmente em materiais de espessura fina. Com o passar dos anos,
Build-up esse defeito foi confundido com defeitos de planicidade e forma, gera-
do a partir do processo de laminação de aços planos. Ao analisar esse
DMAIC Six-Sigma processo, utilizando conceitos e princípios da metodologia DMAIC Six
Sigma, a partir do Laminador de Tiras a Quente (LTQ), seguiu-se todo
o processo de laminação a frio e linha de galvanização, buscando iden-
tificar, na sequência, a origem dos problemas. A Metodologia DMAIC
Six Sigma é aplicada na condução de projetos Seis Sigma, com ênfase
ao planejamento de projeto, auxilia na melhoria de processos existentes
e pode ser aplicada em contextos industriais e outros.

Abstract Keywords
This study aims to understand the causes of discontinuities in cross
section (Build-up) of the laminated foil in order to minimize these events. Cross profile lamination
This type of defect occurs mainly in thin materials. Over the years,
this type of defect has been mistaken for flatness and shape defects, Build-up
generated from flat steel rolling process. From an analysis process
using concepts and principles of Six Sigma DMAIC methodology, from DMAIC Six Sigma
Hot Strip Mill (HSM), followed by the whole process of cold rolling and
galvanizing line sequence in order to identify the origin of problems.
Six Sigma DMAIC Methodology is usually applied in carryng out
Six Sigma projects emphasizing in project planning, which assists in
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improving existing industrial processes and other contexts as well.
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1
Graduando em Engenharia de Produção do Centro Universitário de Volta Redonda/UniFOA
² Docente do Centro Universitário de Volta Redonda/UniFOA
1. Introdução nessa fase do processo. A laminação consis-
80 te em um processo de conformação mecâni-
A industrialização no Brasil teve início no ca em que o material (aço) é processado por
final do século XIX, a partir do investimento compressão entre dois ou mais cilindros com
de cafeicultores que destinaram parte de seus redução de espessura ou com alteração de sua
lucros obtidos com a exportação do café, no es- seção transversal para outro perfil geométrico.
tabelecimento da indústria, principalmente em Trata-se do processo mais utilizado indus-
São Paulo e no Rio de Janeiro. Nesse momen- trialmente em função do volume de produção
to privilegiaram-se fábricas de tecidos, calça- (MARTINS, 2001).
dos e produtos que, por ser de fabricação mais O processo de laminação pode ocorrer
simples, não exigia mão de obra especializada. a quente ou frio, sendo a principal diferença
Daí o grande concurso de imigrantes italianos entre elas a temperatura de trabalho em que
nesse tipo de trabalho. O governo de Getúlio o material é laminado. Essa diferenciação de
Vargas (1930 – 1945) envidou esforços para faixas de temperatura é feita conforme crité-
que a indústria brasileira despontasse, pois sua rios metalúrgicos (conformabilidade, elasti-
intenção era a de efetivar a industrialização do cidade, etc.). Entre os itens de conformidade
país independente de outras nações, no que se que devem ser verificados no aço plano, está
referia ao domínio ainda vigente em alguns a verificação da qualidade de forma. A qua-
setores, especialmente de produtos oriundos lidade de forma envolve as características de
da Inglaterra. Vale lembrar que, mesmo de- aplainamento, retilineidade da chapa, o for-
pois da abertura dos portos às nações amigas, mato da bobina – indicador da conformidade
o Brasil continuou dependente do exterior. do bobinamento – e os parâmetros definidos
Assim, Vargas sancionou leis que regu- no padrão de produção (perfil transversal de
lamentam o mercado de trabalho, medidas espessura), (MARTINS, 2001).
protecionistas e investimentos em infraes- Portanto, o objetivo deste estudo foi o
trutura, o que propiciou o crescimento da in- compreender o processo de laminação de aço
dústria nacional nas décadas de 1930 e 1940. plano a partir do laminador de tiras a quente,
Destaca-se, nesse momento, a Segunda Guerra a fim de se entender as causas das alterações
Mundial e, como consequência, a destruição dimensionais no perfil transversal das tiras la-
de indústrias na Europa. Como passou a im- minadas. Essa alteração no perfil é conhecida
portar produtos industrializados, o Brasil pode como Build-up e, por ser um efeito indesejável
se desenvolver e se beneficiar dessa neces- e que compromete a qualidade do produto, de-
sidade. Com a evolução da sociedade, o aço vem ser investigadas formas de minimizá-lo
tornou-se um produto imprescindível na vida ao longo de toda a sequência da operação de
moderna. Produzir aço significa produzir au- produção.
tomóveis, eletrodomésticos, edificações e até
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Para colaborar na estratificação dos da-


fábricas, configurando-se num importante in- dos levantados sobre as ocorrências das não
dicador do grau de desenvolvimento econômi- conformidades envolvidas neste estudo,
co de uma nação. Como diferentes aplicações será utilizada uma metodologia de otimiza-
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necessitam de diferentes tipos de aço (proprie- ção de processos conhecida como DMAIC
dade mecânica e composição química, etc.), - Six Sigma. O acrônimo DMAIC significa:
há necessidade de conferir-lhe características “Define” ou Definir - Identificar e mapear a
físico-químicas durante seu processo de fabri- situação dos processos, “Measure” ou Medir -
cação. Dessa forma, as particularidades (por Reunir e medir dados; “Analyse” ou Analisar
exemplo, grau do aço, aplicação final – uso) - Determinar a prioridade das causas dos de-
são respeitadas, além de se evitarem falhas feitos; “Improve” ou Melhorar - Desenvolver
ou desvios na qualidade final de cada produto e testar possíveis soluções; “Control” ou
(MARTINS, 2001). Controlar – Criar mapas de melhoria, padro-
Baseado nessa peculiaridade do processo nizar processos de melhoria.
de produção e utilização do aço, decidiu-se es- Inicialmente concebido para proje-
tudar a laminação de aços planos, objetivando tos relacionados à qualidade, o DMAIC não
entender os principais defeitos encontrados é efetivo somente na redução de defeitos,
sendo abrangente para projetos de aumento de informações todo o conhecimento acumu-
de produtividade, redução de custo, melhoria lado em décadas de trabalho pelos profissio- 81
em processos administrativos, entre outras nais envolvidos nas operações que foram estu-
oportunidades. A metodologia, portanto, dadas. Somente o profundo conhecimento do
consiste na utilização de modelagem estatística processo de trabalho – que é um processo pro-
para o diagnóstico de problemas e determinação dutivo e de transformação – garante a transfor-
de oportunidades de melhoria e manutenção do mação positiva do mesmo (WISNER, 1987).
nível desejado dos processos eventualmente
otimizados (WERKEMA, 2012). 3. Fundamentação teórica
Do ponto de vista econômico-financeiro,
as unidades envolvidas são responsáveis pela
comercialização de produtos com alto valor 3.1. Conceitos relativos à qualidade no
agregado. Assim sendo, a interrupção total processo produtivo
ou parcial do processo ou perdas ocorridas no
Qualidade é a conformidade, coerente
decorrer do mesmo, influenciam diretamente
com as expectativas do cliente; em outras pa-
no custo de produção. Além disso, em um ce-
lavras, significa “fazer certo as coisas”, mas
nário altamente competitivo, tanto na esfera
as coisas que a produção precisa fazer certo
nacional como internacional como aquele em
variarão de acordo com o tipo de operação.
que a empresa CSN – Companhia Siderúrgica
Todas as operações encaram qualidade como
Nacional se encontra atualmente, toda não
um objetivo particularmente importante, já
conformidade não tratada repercute na ima-
que existe algo de fundamental a respeito dela.
gem institucional da organização, provocando
Por isso, exerce claramente a maior influência
repercussões negativas a montante e a jusante
na satisfação ou insatisfação do cliente. A per-
do processo produtivo.
cepção do cliente de produtos ou serviços de
alta qualidade significa a satisfação do cliente
2. Metodologia e, com isso, uma chance maior de seu retorno
(SLACK, 2009).
Para fundamentação teórica deste traba-
Quando a qualidade significa a produção
lho foi realizada uma pesquisa bibliográfica
consistente de serviços e produtos dentro das
documental, tendo em vista a escassez de in-
especificações, não apenas leva à satisfação de
formações específicas relacionadas aos pro-
clientes externos, como também torna mais fá-
cessos estudados. Para o desenvolvimento do
cil a vida das pessoas envolvidas na operação.
estudo, foram realizadas visitas técnicas guia-
Satisfazer aos clientes internos pode ser tão
das pelos profissionais envolvidos e analisa-
importante quanto satisfazer aos clientes ex-
dos os resultados obtidos ao longo de cada eta-
ternos. Assim, quanto menos erros houver em
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pa do processo de laminação. Nesse sentido, a
cada processo da operação, menos tempo será
pesquisa configura-se como uma metodologia
necessário para a correção e, consequentemen-
de pesquisa-ação, devido à interação entre os
te, menos conflito entre os agentes do processo.
diferentes sujeitos da pesquisa e os agentes de
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transformação, estando esses últimos – que 3.2. Ferramentas da qualidade


também são funcionários da empresa - em
ambas as categorias. Quanto à abordagem, a As ferramentas de qualidade são, em
pesquisa constitui-se no plano empírico-ana- verdade, técnicas que utilizamos com a
lítica, apropriando-se tanto do conhecimento finalidade de definir, mensurar, analisar e
teórico formal como da prática profissional. propor soluções para resolver problemas
Dessa forma, a metodologia utilizada aplica que interferem no bom desempenho dos
os conceitos adquiridos no decorrer do cur- processos de trabalho (SLACK, 2009).
so de Engenharia de Produção, associados a Dentre as ferramentas de qualidade mais
métodos, técnicas e ferramentas específicas de comuns, podem-se citar: Diagrama de ten-
gestão de processos e de qualidade. dência, Histograma, Diagrama de Dispersão,
No encaminhamento do estudo, foi fun- Diagrama de Ishikawa (Diagrama de Causa
damental reconhecer e aproveitar como fonte e Efeito ou Espinha de Peixe), Controle
Estatístico de Processo (CEP), Gráfico de decisões tomadas pelo grupo, maior compro-
82 Pareto, Brainstorming e 5W 1H. metimento com a ação e um sentimento de
O Brainstorming é a mais conhecida responsabilidade compartilhado por todos.
das técnicas de geração de ideias. Foi origi- O Diagrama de Causa e Efeito (ou Espinha
nalmente desenvolvida por Osborn, em 1938 de peixe) é uma técnica largamente utilizada, que
(SANTOS, 2012). O termo inglês traduz-se, mostra a relação entre um efeito e as possíveis
em português, por “tempestade cerebral”, por causas que podem estar contribuindo para que ele
ser um processo em que ideias são lançadas, ocorra. Construído com a aparência de uma espi-
simultaneamente, por diferentes participantes nha de peixe, essa ferramenta foi aplicada, pela
que, num esforço coletivo de avaliação e sín- primeira vez, em 1953, no Japão, pelo professor
tese, buscam soluções de consenso para uma da Universidade de Tóquio, Kaoru Ishikawa
determinada situação ou um problema parti- (SANTOS, 2012), para sintetizar as opiniões de
cular. Esse mecanismo decisório tende a pro- engenheiros de uma fábrica quando estes discu-
duzir soluções criativas e inovadoras para os tiam problemas de qualidade. Conhecido popu-
problemas, rompendo com paradigmas. O cli- larmente como diagrama dos 6 M´s: Máquina,
ma de envolvimento e motivação gerado pelo Mão de Obra, Método, Material, Meio Ambiente
Brainstorming assegura melhor qualidade nas e Medida, conforme mostrado na Figura 1.

Figura 1 – Modelo de Diagrama de Causa e Efeito (Ishikawa)


Fonte: SLACK (2009)

O princípio de Pareto relaciona-se ao • Poucos vitais: representam poucos pro-


pressuposto que, para um conjunto de situa- blemas que resultam em grandes perdas.
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ções, 80% das consequências derivam de ape- • Muitos triviais: representam muitos pro-
nas 20% das causas. Isso pode ser muito útil blemas que resultam em poucas perdas.
para tratar não conformidades, devido à pos- O Diagrama de Pareto é uma ferramenta que
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sibilidade de se identificar pontos de melhoria é apresentada em forma de gráfico de barras. O


e definir as ações que devem ser empreendi- mesmo ajuda a determinar, por exemplo, as prio-
das em primeiro lugar, no que diz respeito à ridades dos problemas a serem resolvidos, através
prioridade (CAMPOS, 1992). O princípio de das frequências das ocorrências, da maior para a
Pareto estabelece que os problemas referentes menor, permitindo assim a priorização dos proble-
à qualidade de produtos e processos e que re- mas, de acordo com o grau de severidade do mes-
sultam em perdas, podem ser classificados da mo (CAMPOS, 1992). Na Figura 2, é exemplifica-
seguinte maneira: do um modelo clássico de Gráfico de Pareto.
83

Figura 2 – Modelo de Diagrama de Pareto


Fonte: SLACK (2009)

Pode-se observar, a partir da análise como na indústria de eletroeletrônicos. O


das características de ambos modelos, que modelo traz a disciplina do método para as
o PDCA e o DMAIC são complementares iniciativas de melhoria de processos, assim
e podem funcionar muito bem juntos. Até o como introduz as Organizações no uso das
início da década de 90, o ciclo de Melhoria ferramentas analíticas básicas, ou como fica-
Contínua PDCA (Plan – Do – Check – Act) ram mais conhecidas, as sete (7) ferramentas
era utilizado pela maioria das organizações básicas da qualidade: Diagrama de Pareto,
que possuíam uma iniciativa de Melhoria Diagrama de Causa e efeito, Lista de verifi-
Contínua dentro do seu Sistema de Gestão cação, Histograma, Diagrama de Dispersão,
(Figura 3). O PDCA, portanto, era bastante Gráfico linear e Carta de Controle. O grande
utilizado, principalmente, pelas montadoras foco, então, era a resolução dos problemas de
de automóveis e seus fornecedores, assim qualidade das Organizações (SLACK, 2009).

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Figura 3 – Ciclo PDCA


Fonte: SLACK (2009)
A partir da década de 90, com a popula- gerar benefícios financeiros e de satisfação de
84 rização dos softwares estatísticos mais baratos cliente. Além disso, diferentemente do PDCA,
e “user friendly”, e com o aumento da necessi- que pressupõe um processo de melhoria con-
dade do uso de ferramentas analíticas mais po- tínua, o Six Sigma DMAIC exige que as me-
derosas para ajudar as organizações a entender lhorias sejam executadas num prazo de 4 a 6
melhor a variação nos seus indicadores, passa- meses. Esse tempo, denominado Projeto Seis
-se a adotar um novo modelo, o Seis Sigma Sigma é um processo em que a equipe encar-
DMAIC (Define, Measure, Analyze, Improve, regada do mesmo deve apresentar, obrigato-
Control). Além disso, com a pressão crescente riamente, os resultados para a Organização,
por resultados cada vez mais ambiciosos no incluindo o impacto financeiro gerado pelo
plano dos negócios, a maioria das grandes projeto (WERKEMA, 2012).
organizações necessita manter suas margens O PDCA ainda é o “coração” da maioria
reduzidas para não perder competitividade, dos modelos de Gestão, adotado nas organiza-
o que se coaduna com o ideário apresentado ções com iniciativas de melhoria contínua e é
pelo conceito Six Sigma. complementado pelo DMAIC e suas ferramentas
As organizações, atualmente, partem, não estatísticas mais avançadas. Adotar o DMAIC
apenas dos indicadores de qualidade, como era não significa substituir o PDCA, mas evoluir o
mais comum no caso do PDCA, como também Sistema de Gestão para um modelo com maior
usam a capacidade analítica das ferramentas poder analítico, focado em todos os indicado-
estatísticas do DMAIC para desenvolver pro- res de Negócio (e não apenas nos indicadores
jetos para melhorar vários elementos do negó- de qualidade). Dessa forma, procura-se avaliar
cio. Dentre esses elementos, temos a satisfação também os benefícios financeiros que o Sistema
do cliente, a busca pelo aumento da receita, a de Gestão traz para a Organização. De forma
redução de custos fixos e variáveis, além da simplificada, poderíamos dizer que o DMAIC é
melhoria da lucratividade, já que o reforço de um PDCA com foco na fase de investigação das
caixa libera recursos para que as organizações causas raízes de variação nos processos.
possam realizar mais investimentos. O poder de controle de processo e, em
Algumas ferramentas estatísticas como particular, a importância de reduzir variação
Cálculo de Capabilidade, Teste de Hipótese, em desempenho forneceram a base para o que
ANOVA, Análises de Regressão, DOE, entre se tornou um importante conceito em termos
outros, passaram a ser largamente empregadas de melhoria de processos. Esse fluxo engloba
para entender a variação nos principais indica- as áreas de redução, metalurgia, laminação a
dores de Negócio (KPI’s – Key Performance quente e laminação a frio, sendo que o foco
Indicators) e para, a partir desse entendimen- do trabalho se resumirá nas áreas citadas de
to, melhorar os processos da Organização e laminação (Figura 4).
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Figura 4 – Fluxo de fabricação de aço


Fonte: CSN (2012)
3.3. Laminação cebimento do produto, satisfazendo às mais
rigorosas especificações de qualidade. 85
O processo de laminação consiste em
uma conformação mecânica em que o mate-
rial é processado por compressão entre dois
ou mais cilindros com redução de espessura
ou com alteração de sua seção transversal para
outro perfil geométrico, de forma a atender di-
ferentes necessidades do mercado consumidor
(Figura 5).
Figura 6 – Laminador de Tiras a Quente
Fonte: CSN (2012)

Os produtos laminados a quente da CSN


constituem-se de produtos planos de aço fabri-
cados em laminador de tiras a quente, podendo
ser fornecidos aos clientes na forma de bobi-
Figura 5 - Desenho esquemático de um processo de laminação nas ou chapas, com espessuras entre 1,20mm
Fonte: Martins (2001) e 12,70 mm e larguras entre 720 mm e 1.575
mm, em conformidade com normas brasileiras
É o processo de conformação mais utiliza- e internacionais. As dimensões mínimas e má-
do mundialmente, devido à alta de produtivida- ximas poderão variar em função da composição
de e viabilidade na obtenção dos produtos com química e propriedades mecânicas do material.
espessuras reduzidas e controles dimensionais A decapagem é o processo de remoção da
precisos. Quanto mais criteriosas e rígidas fo- camada de óxido (carepa) formada na super-
rem às especificações, mais complicado será o fície da tira de aço do processo de laminação
procedimento e maior o número de operações de tiras a quente (LTQ), seja pela ação de uma
necessário para alcançar o objetivo final. solução diluída, seja mecanicamente, a fim de
A laminação a quente consiste em uma la- permitir a deformação a fio (como a lamina-
minação onde o material é aquecido a altas tem- ção, estiramento ou estampagem) ou a apli-
peraturas (≈ 1200 ºC), obtendo-se maior plastici- cação de um recobrimento protetor (pintura
dade e menor resistência à deformação, podendo ou eletrodeposição). No caso de estampagem
aplicar grandes graus de deformação, sem que profunda, a presença de óxido tenderia a redu-
ocorra ruptura do material. Sendo um processo zir a vida dos estampos, causar condições de
onde as operações de laminação são feitas em repuxamento irregulares e destruiria a lisura
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ambiente aberto, o oxigênio presente no ar oxida da superfície do produto e, no caso de pintura
a superfície metálica (formando carepa – com- ou eletrodeposição, impediria a aderência do
posto formado por Fe e O, gerando Fe2O3), afe- revestimento (ARAÚJO, 1997).
tando a qualidade superficial do material. Durante o processo de decapagem podem
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A CSN atende a uma vasta linha de es- ocorrer dois fenômenos indesejáveis: a sub de-
pecificações de produtos laminados a quente, capagem e a super decapagem. A sub decapa-
variando em função dos requisitos de com- gem consiste na remoção ineficiente da carepa,
posição química e propriedades mecânicas, isto é, a não remoção total do filme de óxido,
sendo destinada a aplicações para usos gerais, podendo ocorrer pelo pouco tempo de deca-
estampagem, estrutural, estrutural de boa con- pagem, pela baixa temperatura dos banhos ou
formabilidade, estrutural de alta resistência concentração inadequada dos banhos. A super
mecânica e à corrosão atmosférica, tubos, decapagem é um ataque excessivo da solução
relaminação, etc. O material é laminado no na chapa. Isso ocorre quando o ácido reage com
Laminador de Tiras a Quente - LTQ (Figura toda a carepa existente na região e inicia um
6), o maior e mais moderno da América do ataque à superfície do material (metal base).
Sul, sob rígido controle de processo e de ras- O processo de laminação a frio tem como
treabilidade, que garantem aos clientes o re- objetivo reduzir a espessura do material den-
tro das tolerâncias especificadas junto aos A Figura 7 mostra a representação es-
86 clientes. A matéria prima para esse processo quemática do sistema de acionamento de um
é conhecida como bobina laminada a quente Laminador de Tiras a Frio (LTF). Pode ser
e decapada. Informações de dimensão como observada uma sequência de cinco cadeiras
espessura de entrada, espessura de saída e lar- onde, a cada passe, a espessura vai sendo re-
gura são fundamentais para cálculos dos pre- duzida até o seu valor final na saída da cadeira
-set’s de laminação; essas variáveis de entrada 5. Todo processo de afinamento da espessura
no processo servem para todos os cálculos das é feito pela combinação de esforços de com-
variáveis controláveis. pressão e tração, simultaneamente.

Figura 7 – Desenho esquemático do sistema de acionamento de um LTF


Fonte: CSN (2012)

As deformações impostas pelo proces- mais importantes revestimentos usados para


so de laminação, tanto a quente como a frio, proteger o aço contra corrosão atmosférica.
altera significativamente sua microestrutura e Esse processo consiste, basicamente, em
propriedades. O produto final gerado no pro- depositar sobre a superfície da tira de aço lim-
cesso de laminação a frio é comumente deno- pa, geralmente recozida, uma camada de re-
minado por BFH (Bobina Laminado a Frio - vestimento de uma liga à base de zinco, sendo
Full-Hard), conforme evidenciado na Figura que, normalmente, o processo de limpeza e
8. Possui esse nome devido a ter um valor de recozimento ocorre na própria linha de zin-
dureza alto, da ordem de 90 a 100 HRB. A cagem e a deposição da camada ocorre pela
BFH pode passar por operações de acabamen- passagem submersa da tira em um pote de zin-
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to, que consistem em tratamentos térmicos co líquido. Outros equipamentos, acoplados a


(normalização, recozimento, etc.) ou superfi- linha ou em outros processos posteriores, tam-
ciais (galvanização, estanhamento). bém são necessários para obtenção do produto
zincado final. De acordo com o engenheiro
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José Eduardo Ribeiro de Carvalho (Gerente


de Garantia de Qualidade – Galvasud ou CSN
Porto Real), as principais razões para que o
zinco seja empregado como revestimento pro-
tetivo para o aço são que o zinco oxida muito
mais lentamente dos que o aço, nos ambientes
naturais, protege, galvanicamente, o aço e se
Figura 8 – Bobinas Laminado a Frio (Full-Hard) liga, metalurgicamente, ao aço base, através
Fonte: CSN (2012) de camada de liga do zinco-ferro, formando
um sistema aço/zinco perfeitamente integrado.
A excelente resistência à corrosão em di- O processo de galvanização consiste em
ferentes ambientes e a sua facilidade de ligação recobrir um metal com outro, no caso o zin-
metalúrgica ao aço, tornam o zinco (Zn) um dos co, a fim de proteger a peça contra a corrosão,
aumentando a sua durabilidade quando expos-
ta à ação de intempéries. Para que se obtenha 87
um resultado perfeito, a peça deve estar total-
mente isenta de substâncias estranhas à reação
ferro-zinco, o que poderia resultar em um re-
cobrimento indesejado.

4. Desenvolvimento do estudo

o presente estudo utiliza para parame- Figura 9 – Foto tirada do defeito Build-up
durante o corte de uma bobina galvanizada
trização dos conceitos e da metodologia de
Fonte: CSN (2012)
pesquisa adotada um estudo de caso a par-
tir da análise do processo de laminação da
Companhia Siderúrgica Nacional, a CSN. Os
processos de fabricação de aço da empresa
trabalham integrados, ao ponto de um equipa-
mento parar a produção do processo seguinte.
O planejamento da produção tem vital impor-
tância para controle dos pedidos das encomen-
das dos clientes, pois garante as etapas de fa-
bricação até a entrega do produto final.
Figura 10 – Foto tirada do defeito Build-up
A Gerência da Qualidade age como inter- (formato de para-lama de bicicleta) durante o
mediador entre os clientes e empresa e represen- processo de acabamento e inspeção (LACF)
ta o elo entre o mercado e a produção. A con- Fonte: CSN (2012)

formidade dos produtos é avaliada e medida nos


postos de inspeção localizados em cada equipa- Essas descontinuidades são reveladas na
mento de produção e, em alguns casos, os ma- laminação a Frio e no processo de galvaniza-
teriais mais nobres sofrem ensaios laboratoriais ção, sendo observadas nas regiões das tiras la-
para liberação do produto com certificado, por minadas a quente, correspondente àquela onde
exigirem propriedade mecânica (Ex.: montado- se encontravam as citadas descontinuidades
ras, que compram materiais para estampagem de nas tiras a frio, havendo existência de piques
peças como: lateral, porta, capô de automóveis). de espessura no perfil transversal. As ocorrên-
O defeito localizado no perfil transversal cias de “BI” no processo e produto são graves,
de uma tira laminada a quente, mais conhecido podendo gerar consequências indesejáveis nos
como Build-Up, cuja sigla é “BI” (Figura 9), processos subsequentes ao LTQ.
é uma descontinuidade de forma que ocorre No estudo apresentado, as ocorrências de
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normalmente em uma a três faixas esparsas ao defeito de forma foram localizadas no produ-
longo da largura, estendendo longitudinalmen- to final, onde, normalmente, são associadas
te ao longo do comprimento da bobina, com va- às descontinuidades pontuais (picos) no per-
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riação do grau de intensidade (leve, médio ou fil transversal de espessura da tira laminada
forte). A tira com o defeito “BI” ao ser enrolada a quente. As análises das características das
sob tensão nos equipamentos subsequentes ao ocorrências nos produtos finais apresentaram:
Laminador de Tiras a Quente (LTQ), gera uma • Quanto menor a espessura da tira lamina-
bobina com um ressalto ou saliência (Figura da a quente, maior a ocorrência;
10) nas regiões do defeito, significando que há, • Quanto menor a largura da tira laminada a
nessa posição, excesso de material. quente, maior a ocorrência;
• As ocorrências foram mais intensas e frequen- a gerência de Galvanizados solicitou a área da
88 tes nos produtos finais, ou seja, no processo Qualidade que fosse criado um grupo para es-
de galvanização por imersão a quente, quan- tudar as ocorrências e tratar o problema em
do comparados com os produtos na forma de caráter emergencial, atuando no efeito, com o
chapas das bobinas laminados a frio (BFF); objetivo de reter todo defeito com intensidade
• A largura média das faixas de descontinuida- forte na empresa, impedindo sua liberação in-
de após a linha de galvanização era de 50 mm; devida para os clientes citados; e atuar na causa
• O grau de severidade da ocorrência da des- raiz do problema através, de uma investigação
continuidade varia ao longo do comprimen- aprofundada nos dados históricos.
to da bobina, e tende a aumentar de grau de A partir das informações fornecidas pela
intensidade quanto maior for crescendo o equipe operacional da Galvanização sobre
diâmetro externo da bobina galvanizada; as diversas ocorrências do defeito apresen-
• A diferença de espessura entre as regiões tado nas bobinas zincadas, iniciou-se uma
com e sem descontinuidade ao longo do investigação nas matérias-primas (Bobinas
perfil transversal do produto zincado fi- Laminadas a Frio) oriundas dos laminadores
cou evidenciado nas amostras retiradas de tiras a frio 2 e 3. Foram realizados alguns
das bobinas galvanizadas; acompanhamentos de processo na linha, ob-
• Não foi constatado que essa descontinuida- jetivando a identificação mais aproximada
de tem origem na laminação a frio, já que o da causa raiz. O grupo passou a se reunir se-
produto a quente com aplainamento perfeito manalmente (Vide ata de reunião – Figura
pode gerar produtos a frio com problemas. 11), no intuito de estudar o problema direta-
mente nas fontes do LTQ, LTF e na própria
4.1. Descrição do Processo de Galvanização, definindo ações de bloqueio
Laminação onde está ocorrendo o para evitar problemas e/ou reclamações de
defeito clientes recorrentes.

Baseado nas reclamações dos clientes


CSN – Paraná, Electrolux, Eletrofrio e Gelopar,
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Figura 11 – Ata de Reunião das Reclamações de Clientes por Buid-up


Fonte: CSN (2009)
Como as matérias-primas dos dois lami- forneciam essas matérias-primas. Conforme
nadores de tiras a frio estavam apresentando se pode identificar, através de análise dos grá- 89
ocorrência do defeito na Galvanização, foram ficos obtidos (Figura 12), observa-se que não
estratificados os dados históricos levantados há relevância entre os dados. Pode-se inferir,
para avaliar os números, no intuito de verificar portanto, que a origem do defeito esteja em
alguma correlação com os laminadores que outro equipamento.

Figura 12 – Ocorrências do defeito distribuído por Laminador de Tiras a Frio


Fonte: CSN (2009)

4.2. Sobre o problema envolvendo o Ishikawa, também conhecido como gráfico


LTQ, LTF e a Galvanização dos 6M´s (Medida, Matéria Prima, Máquina,
Meio Ambiente, Método e Mão de Obra) com
Como historicamente o defeito Build-up as principais variáveis de processo do LTQ
possui origem conhecida no laminador de ti- (Figura 13) que poderiam estar influenciando
ras a quente, foi elaborado um diagrama de na geração do defeito na Galvanização.
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Figura 25 – Diagrama de Ishikawa das variáveis de processo do Laminador de Tiras a Quente


A partir das variáveis apresentadas no grá- pelos clientes externos da CSN. Na Figura 15
90 fico, foi realizada análise da carta de perfil de é apresentado um diagrama de Ishikawa com
laminação a quente de uma bobina reclamada as principais variáveis de processo controladas
pela operação da Galvanização (Figura 14), na em um Laminador de Tiras a Frio. Estudou-se
qual ficou evidenciado que o perfil estava cor- as variáveis do LTF, em função da matéria pri-
reto, ou seja, dentro dos parâmetros estabele- ma a BFH abastecer diretamente o processo de
cidos pelo padrão de processo. O resultado da Galvanização, equipamento que estava apre-
análise da carta de perfil apresentada (Bobina sentando o defeito, retendo todo material com
Laminada a Quente) mostra, no eixo vertical, o defeito de intensidade leve, média e forte na
a espessura do material e, no eixo horizontal, bobina zincada. Por esse motivo, antes de ex-
a largura, formando a curva obtida no material plorar o processo da Galvanização em si, fo-
a analisado. Então, partiu-se para análise do ram analisados os dados de uma bobina lami-
perfil de uma bobina laminada a frio pelo LTF, nada a frio apresentando o defeito (formato de
com objetivo de buscar respostas para o defei- para-lama de bicicleta) na bobina zincada, ou
to reclamado pelo processo de galvanização e seja, com aplicação de revestimento de zinco.

Figura 14 – Carta de perfil de uma bobina, que apresentou o defeito


Fonte: CSN (2009)
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Figura 15 – Diagrama de Ishikawa das variáveis de processo do Laminador de Tiras a Frio


Através da análise do diagrama de de zincagem (Galvanização), local onde ori-
Ishikawa do Laminador de Tiras a Frio, an- ginou as reclamações internas dos produtos 91
tes de aprofundar nas variáveis de processo BZN, o que motivou a formação do grupo
apresentadas no diagrama, o grupo avaliou para tratar do problema, em detrimento do
uma carta de perfil de uma bobina reclamada número elevado de ocorrências registradas
pela Galvanização (Figura 16) e, a partir dessa pela inspeção de qualidade da linha (em torno
análise, constatou que os valores de proces- de 2.000 t de material colocado em Qualidade
so estão conforme os padrões estabelecidos / RDQ), aguardando avaliação na Linha de
para o material. Dessa forma, o grupo iniciou Acabamento de Bobinas (LACF).
a análise do processo dentro da própria linha

Figura 16 – Carta de perfil a frio de uma bobina comparada com uma amostra com o defeito
Fonte: CSN (2009)

Gerou-se novo gráfico de Ishikawa do de investigar possíveis irregularidades na


(Figura 17) com as variáveis de processo dentro aplicação do revestimento de zinco (massa
da própria linha de zincagem (Galvanização). por m2/face). Os gráficos obtidos nessa análise
Analisando-se as principais variáveis de pro- mostraram que não há correlação entre o me-
cesso na linha de zincagem, foi inicialmente tal base e o excesso de massa de revestimento
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analisado o perfil de revestimento aplicado aplicado em ambas as faces do material recla-
nos materiais outrora reclamados, no senti- mado, conforme mostra a Figura 18.
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Figura 17 – Diagrama de Ishikawa das variáveis de processo da Linha de Galvanização


92

Figura 18 – Gráficos de perfis de espessura com e sem revestimento de zinco em uma chapa com o defeito

Foi iniciada outra pesquisa de análise da Figura 19, o resultado do MEV mostrou uma ir-
camada de revestimento, dessa vez, em escala regularidade no perfil de revestimento aplicado no
microscópica, através da utilização do equipa- material reclamado. Tanto a face inferior quanto a
mento com maior precisão, chamado de MEV – face superior do material apresenta um desnível de
Microscópico Eletrônico de Varredura, existente aplicação no perfil de revestimento, indicando uma
no Centro de Pesquisas da CSN, objetivando uma possível irregularidade no conjunto de navalhas,
análise mais profunda da região afetada pelo de- utilizado durante o processo do material reclamado
feito reclamado. Como pode ser observado na na linha de zincagem.
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Figura 19 – Resultado do perfil de revestimento obtido através da análise do MEV do Centro de Pesquisa
Fonte: CSN (2009)
Coube ainda uma investigação no equipa- e Operação da linha que efetuassem as devidas
mento conhecido como Navalha de Ar, que tem correções nessas irregularidades. 93
como principal função, controlar o peso de re- Após a correção dos itens não conformes
vestimento aplicado na tira de aço que sobe no encontrados nas navalhas, foram realizados novos
pote de zinco (sai da cuba de zinco) a uma tem- ensaios de revestimento nos materiais, e não foi
peratura em torno de 465 ºC. Foram realizadas encontrada nenhuma irregularidade no perfil de
três (3) auditorias na oficina das navalhas e du- revestimento. Foi solicitado às equipes de ope-
rante a troca das mesmas, em frente ao pote, nas ração que realizassem a padronização das altera-
quais, foram detectadas algumas irregularidades ções necessárias para corrigir as irregularidades.
no tocante às montagens das navalhas. A partir Posteriormente foi aplicado o plano de ação 5W
dessa constatação, foi solicitado à Manutenção 1H na linha de zincagem contínua (Figura 20).

Figura 20 – Plano de Ação formato 5W 1H, implementado na Linha de Galvanização

5. Resultados preliminares da da a causa raiz do problema gerado, ou seja,


aplicação do DMAIC um aumento no valor de Overcoat (excesso de
zinco aplicado na superfície das chapas reves-
A metodologia DMAIC, aplicada ao estu- tidas, além do valor especificado, pago pelo
do das ocorrências registradas, contribuiu para cliente). Isso ocorreu devido aos problemas
organizar os dados ao longo do tempo e facili- de manutenção pendentes nas navalhas de ar,
tou a análise do problema através da aplicação detectados também durante as auditorias de
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de ferramentas da Qualidade e ferramentas es- check list realizadas na oficina das navalhas e
tatísticas. A Figura 21 mostrou que o processo durante a troca de navalhas em frente ao pote
na linha de Galvanização estava necessitando (cuba de zinco) da linha de Galvanização.
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de melhorias. Nesse equipamento foi detecta-

Figura 20 – Resultado do Teste de Normalidade (Anderson Darling) e de Capabilidade (Cp, Cpk) com dados do Overcoat.
Fonte: Cálculo estatístico realizado pelos autores, obtido através do MINITAB (Versão 16)
Observou-se também que, ao final de toda Conforme pode ser observado nos gráfi-
94 análise estatística empregada através da metodo- cos estatísticos obtidos após a implantação das
logia DMAIC - Six Sigma, avaliando os dados das melhorias propostas no processo da Linha de
ocorrências com embasamento teórico e técnico, Galvanização, os resultados foram satisfató-
o defeito reclamado pelos clientes apresentou rios tanto no gráfico de análise dos dados de
excesso de massa de zinco na região do defei- normalidade Anderson Darling (Figura 21),
to em relação ao restante do material, conforme quanto no gráfico de capabilidade de processo
ensaios de perfil de revestimento e Microscopia Cp e Cpk (Figura 22). Além do valor de Sigma
(MEV), realizados no laboratório do Centro de em PPM Total obtido (redução de 552.000
Pesquisa. As áreas envolvidas na cadeia produ- PPM em 2010 para 24.400 PPM em 2011),
tiva conheceram a causa raiz das ocorrências de houve uma redução significativa do desnível
“BI”, culminando com a atualização do plano de do perfil de revestimento aplicado nos mate-
ação das ações corretivas, que correspondem à riais, contribuindo com a redução no consumo
aplicação do ciclo PDCA, objetivando a garantia de zinco. Portanto, a redução do overcoat apli-
das ações de melhoria a serem implementadas, cado nas chapas zincadas irá eventualmente
de forma a evitar novas ocorrências. Essa garan- impactar na lucratividade da empresa.
tia se dará através do check list implementado
nas rotinas da manutenção e operação.

Figura 21 –Teste de Normalidade (Anderson Darling) do Overcoat de 2011


Fonte: Cálculo estatístico realizado pelos autores, obtido através do MINITAB (Versão 16)
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Figura 21 –Teste de Capabilidade (Cp, Cpk) com dados do Overcoat de 2011


Fonte: Cálculo estatístico realizado pelos autores, obtido através do MINITAB
6. Conclusão GAMA, Maria Cecília Fontainha de Almeida.
Sávio Gama: Fatos que contam a sua história 95
O trabalho possibilitou resultados reais / Maria Cecília Fontainha de Almeida Gama –
relacionados a um problema na produção de Volta Redonda: Editora FOA, 2013.
aços planos, mais especificação no proces-
so de laminação. Os resultados da aplicação MARTINS, Leandro Oliveira, Introdução ao
da metodologia foram efetivamente imple- processo de laminação de aços planos. Curso
mentados nessa parte do processo produtivo de Laminação aplicado em 2001 na CSN.
e mostraram-se bem promissores. Isso pode
ser comprovado estatisticamente através dos SANTOS, Marcello S., Apostila ferramentas
gráficos de Teste de Normalidade (Anderson para gerenciamento de projetos. Curso de
Darling) e Capabilidade de Processo (Cpk). Administração UNIFOA, 2012.
Além disso, os depoimentos das equipes ope-
40º SEMINÁRIO DE LAMINAÇÃO.
racionais e de qualidade também atestam esses
Processos e produtos laminados e revestidos.
resultados satisfatórios. E por último, mas não
Vitória ES: ABM – Associação Brasileira de
menos importante, os clientes agradeceram à
Metalurgia e Materiais, 2003.
empresa CSN pela qualidade do material re-
cebido e não houve mais reclamações acerca 39º SEMINÁRIO DE LAMINAÇÃO.
dos materiais fornecidos. Esses resultados e Processos e produtos laminados e revestidos.
repercussões corroboraram a proposta inicial Ouro Preto MG: ABM – Associação Brasileira
do estudo e confirmaram a validade de aplica- de Metalurgia e Materiais, 2002.
ção da metodologia DMAIC.
SLACK, Nigel; STUART, Chambers;
7. Referências Bibliográficas ROBERT, Johnston. Trad. CORRÊA,
Henrique Luiz . Administração da produção.
ARAUJO, Luiz Antônio de. Manual de
3. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
siderurgia. São Paulo: Arte & Ciência, 1997.
v.1 e 2. WERKEMA, C., Lean Seis Sigma: Introdução
às ferramentas do lean manufacturing, São
BALLOU, Ronald H. Gerenciamento
Paulo: Elsevier, 2012.
da cadeia de suprimentos / logística
empresarial. 5 ed. Porto Alegre, 2007. WISNER, Alain. Por dentro do trabalho
ergonomia: método & técnica. São Paulo:
CAMPOS, Vicente Falconi. Controle da
FTD / Oboré, 1987.
qualidade total no estilo japonês. 2. ed. São
Paulo: Bloch, 1992,
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CARVALHO, Wailton de, Curso de
especialização em engenharia da qualidade
– Lean Six Sigma. Taubaté: Universidade de
Edição Especial Engenharia de Produção

Taubaté, 2008.

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