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Análise Crítica do Setor de Revestimentos

Cerâmicos no Brasil Parte I: Histórico Recente

Amandio Araújo1, João C. Romachelli2 e Manoel Martins3

1
Johnson Matthey - Colours Coating Division - Brasil
2
PENGPRO/DEP/UFSCar - Programa de Pós-Graduação em Eng de Produção - Dep
de Eng de Produção - Universidade Federal de São Carlos
3
DEP/UFSCar - Dep de Eng de Produção - Universidade Federal de São Carlos
e-mail: manoel@power.ufscar.br

Resumo: A indústria nacional de revestimentos cerâmicos tem crescido de forma acen-


tuada, principalmente após 1994. Este crescimento ocorreu de forma preponderante nas in-
dústrias que estrategicamente buscaram a liderança competitiva no custo, como fator princi-
pal. Estas indústrias têm como principal característica produtiva a preparação de massa utili-
zando a moagem por via seca. O presente trabalho efetua uma análise contextual comparativa
entre as indústrias que utilizam o processo de moagem via seca e úmida.

Palavras-chaves: revestimentos cerâmicos, competitividade, moagem a seco, moagem


úmida

fabricação de produtos “commodities” alicerçada no sis-


Introdução tema de produção em massa, representada pelos produto-
A indústria de revestimentos cerâmicos está incluída res que utilizam o sistema de preparação de massa por
como um segmento da indústria de transformaçäo de capi- moagem a seco e de outro lado as empresas que foram
tal intensivo, inserido na classificação do ramo de mine- “forçadas”, dado a opção do sistema de produção escolhi-
rais não metálicos. Segundo a Anfacer (2000) a indústria do, a optar pelo sistema de produção flexível determinado
cerâmica nacional é constituída por 127 empresas, movi- pela estratégia mercadológica da diferenciação, porém ao
mentando 2,3 bilhões e gerando 23.000 empregos diretos menor custo possível. O objetivo deste trabalho é efetuar
e 160.000 indiretos. uma análise evidenciando o crescimento da indústria de
A produção de revestimentos cerâmicos pode ser clas- revestimentos cerâmicos. A análise será feita consideran-
sificada de acordo com o processo de preparação de mas- do uma comparação entre as indústrias que utilizam o pro-
sa, ou seja, em via úmida(atomizada) e via seca. Os produ- cesso de moagem a seco com aquelas que utilizam o pro-
tos confeccionados por via úmida tendem a apresentar cesso de moagem a úmido.Este trabalho apresenta a
maior constância de qualidade, porém a um custo mais ele- seguinte estrutura: inicialmente serão feitas breves consi-
vado. A utilização do processo de produção por via seca derações sobre competitividade.Posteriormente será apre-
(com suas vantagens de menor investimento no processo sentado um histórico recente sobre a evolução tecnológica
produtivo e menores custos energéticos e de manutenção) entre as indústrias que utilizam estes dois tipos de proces-
proporcionou o surgimento e crescimento acentuado (prin- so no Brasil e algumas considerações finais.
cipalmente a partir do início da década de 90) do impor-
tante “pólo regional de Santa Gertrudes e Cordeirópolis” Algumas considerações sobre
que se extende a outras cidades como: Rio Claro, Piraci- competitividade
caba, Barra Bonita, Tatuí, Casa Branca e Tambaú no esta- Segundo FERRAZ, KUFPER, HAGUENAUER
do de São Paulo. (1995) a maior parte dos estudos recentes faz menção a
Em um ambiente extremamente competitivo defron- competitividade ás características de desempenho ou de
tamo-nos com duas estratégias principais de liderança, ten- eficiência técnica e alocativa referentes a empresas e pro-
do de um lado a busca da liderança no custo total com a dutos e considera-se a competitividade das nações como a

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agregação destes resultados. Apesar de alencar vários in- Articulações na Cadeia); e Regimes de Incentivos e
dicadores percebe-se a convivência de dois conceitos bá- Regulação da Concorrência (Amparo legal, Política Fis-
sicos de competitividade:no primeiro a competitividade é cal e Financeira, Política Comercial, Papel do Estado).
vista como desempenho, sendo expressa de alguma forma Finalmente, os fatores sistêmicos são aqueles sobre os
como market-share alcançado por uma firma em determi- quais a empresa detém escassa ou nenhuma possibilidade
nado mercado em certo momento do tempo. Sobre este de intervir. Podem ser Macroeconômicos, Político-
prisma, é a demanda no mercado que ao arbritar mais pro- Institucionais, Legais-Regulatórios, Infra-Estruturais, So-
dutos de quais empresas serão adquiridos definirá então a ciais, Internacionais.
posição competitiva das empresas, sancionando ou não as Este trabalho prioriza a análise dos fatores empresari-
ações produtivas, comerciais e de marketing que as em- ais: produção e inovação.
presas tenham realizado. A competitividade é uma variá-
vel ex-post que sintetiza os fatores preço e não preço (nes- Uma breve contextualização na
tes últimos estão incluídos a qualidade dos produtos e de história recente da produção de
fabricação e outros similares, a habilidade de servir ao mer- revestimentos cerâmicos
cado e a capacidade de diferenciação de produtos, fator (com ênfase a moagem a seco)
este considerado por estes autores como parcial ou total- A indústria brasileira de revestimentos cerâmicos no
mente subjetivos). inicio da década de 80 observou o surgimento e o cresci-
Numa segunda análise, a competitividade seria vista mento do processo de produção por moagem via seca.No
como eficiência, ou seja, competitividade potencial. Pro- interior de São Paulo, a região de Santa Gertrudes, tradici-
cura-se de alguma forma traduzir a capacidade da firma onal pólo produtor de telhas, através da particulariedade
converter insumos em produtos com o máximo rendimen- das argilas da formação Corumbataí deu inicio a um novo
to. Podem ser utilizados indicadores em termos de custos pólo de produção de revestimentos cerâmicos, inicialmente
e preços. O produtor ao escolher as técnicas que utiliza, utilizando-se em grande parte equipamentos usados e
submetido ás restriçõs impostas pela sua capacitação tecnologicamente defasados adquiridos junto a empresas
tecnológica, gerencial, financeira, comercial, estará defi- de revestimentos estabelecidas, de forma a produzir o en-
nindo a sua competitividade.A competitividade é um fe- tão chamado lajotão cerâmico, queimado aproveitando-se
nômeno ex-ante, isto é reflete o grau de capacitação deti- os fornos a garrafão (anteriormente utilizados na produ-
dos pelas firmas, que se traduz nas técnicas por elas ção de telhas e tijolos) utilizando mão de obra intensiva.
praticadas. O sistema de moagem utilizado era basicamente o de
De uma forma genérica definer-se-ia competitividade moinho de martelos e a umidificação do pó para prensagem
como “a capacidade da empresa formular e implementar era efetuada através de gotejamento. A experiência relativa
estratégias concorrenciais, que lhe permita ampliar ou ao controle e extração de matéria prima advinha do proces-
consevar de forma duradoura, uma posição sustentável no so de fabricação de telhas e tijolos anteriormente fabrica-
mercado“. dos. O processo apresentava excessiva variabilidade e ocor-
FERRAZ, KUFPER, HAGUENAUER(1995), fazem riam como consequência defeitos de superfície, baixa
menção a 3 grupos de fatores determinantes da compe- resistência mecânica, baixa aderência de esmaltes,
titividade.Os empresariais (internos a empresa), os estru- gretamento, trincas, defeitos de superfície, expansão por
turais (referentes a indústria/complexo fabril e os umidade e baixa estabilidade dimensional. Não havia gran-
sistêmicos. De uma forma geral, os fatores empresarias des preocupações com quaisquer normas técnicas vigentes.
seriam aqueles sobre os quais a empresa detém poder de O aspecto estético apresentava diferenciação em relação a
decisão: Gestão (Marketing, Serviços de pós venda, Fi- esmaltação com sal (tradicionalmente utilizada), porém ba-
nanças, Administração, Planejamento); Produção (Atuali- sicamente era efetuado com aplicacões a disco e tubeto go-
zação de equipamentos, Técnicas Organizacionais, Quali- tejado de forma a esconder os defeitos de “furos” na super-
dade); Inovação (Produto, Processo, Transferência de fície de esmaltes.Parte destes esmaltes utilizados tratava-se
Tecnologia); Recursos Humanos (Produtividade, Qualifi- de reaproveitamento de resíduos de empresas estabelecidas.
cação, Flexibilidade). A inversão destas empresas para produzir revestimentos
Os fatores estruturais são aqueles sobre os quais a ca- cerâmicos, efetuou inicialmente investimentos de pouca
pacidade de intervenção da empresa é limitada pela medi- monta (a utilização de moagem a úmido teria na época sido
ação do processo de concorrência, estando por isto apenas impraticável seja pelos investimentos envolvidos em siste-
parcialmente sobre sua área de influência. Suscintamente mas de estocagem, dosagem, moagem, atomização, e silos,
fariam parte destes, questões referentes a Mercado (Tama- como pelos custos inerentes a este processo, parte destes
nho e Dinamismo, Grau de Sofisticação, Acesso a Merca- devido a utilização de formulação de massa que contem-
dos Internacionais); Configuração da Indústria (Desem- plasse a utilização de outras matérias primas, visto que as
penho e Capacitação, Estrutura Patrimonial e Produtiva, argilas da formação Corumbataí utilizadas atualmente no

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processo de via-seca, ainda não são utilizadas como formu- declínio do crescimento econômico e ao aumento do nú-
lação única para moagem atomizada, devido a sua dificul- mero de empresas concorrentes, levando-se ao estabeleci-
dade de defloculação). No processo de produção de revesti- mento do código de defesa do consumidor.
mentos cerâmicos a proximidade dos jazimentos é fator O inicio dos anos 90 inicia um processo de nivelamento
estratégico devido aos custos de transportes de insumos en- de padrão tecnológico de equipamentos relativo aos pro-
volvidos. O processo de moagem a úmido redundaria em cessos de prensagem, secagem, esmaltação, queima e clas-
agregar também, custos com defloculantes, custos sificação entre as empresas que utilizam o processo de mo-
energéticos, custos de manutenção,custos adicionais de mão agem a úmido e atomização e que sobreviveram as
de obra, depreciação, financeiros, etc; sobre o processo de dificuldades econômicas dos anos 80 e inicio dos anos 90 e
moagem e atomização. as empresas emergentes que utilizavam o processo de moa-
Inicialmente as cores de fabricação situavam-se basi- gem a seco efetuando-se investimentos para aquisição de
camente em variações de colorações escuras priorita- sistemas de preparação de massa de tecnologia recente que
riamente tonalidades marrom e cinza eventualmente (era proporcionavam menores granulometrias, otimização no
bem aceito pelo mercado de baixa renda e disfarçavam processo de granulação e umidificação, tanto quanto a as-
defeitos de superfície) e os formatos básicos de produção pectos relativos a qualidade como a constância do processo.
eram basicamente o “20x30”e o “30x30” operando-se com Tendo sido criada inclusive uma central de moagem a seco
o mínimo número de trocas (set-up). para atender algumas empresas.
Crescendo a margem das estatísticas esta indústria pros- As crises econômicas e de estabilização da moeda, du-
perou em volume rapidamente ,alicerçada basicamente na rante os anos 80 e 90, levaram as indústrias de moagem
vantagem competitiva de custos, tendo como clientes na atomizada a difuldades no estabelecimento de uma estraté-
revenda antigos parceiros da cerâmica estrutural e como gia de negócios. A demanda potencial nacional levava a um
clientes consumidores principais a população de baixa ren- direcionamento quase total para o mercado interno. Perío-
da que não tinha tido oportunidade da aquisição do reves- dos de crise redundavam em tentativas de incursões para o
timento cerâmico. mercado externo. A diferenciação parecia ser um grande
A indústria cerâmica de revestimentos tradicionalmente caminho como direcionamento estratégico para a obtenção
estabelecida a partir da década de 60 e que teve grande de aumento de lucratividade, mas este mercado era limitado
desenvolvimento na década de 70 (sempre atuando como no país e oscilava ainda mais nos momentos de crise econô-
seguidor tecnológico quanto a equipamentos, processos e mica. As variações cambiais não proporcionavam seguran-
produtos da indústria italiana), produzia em quase sua to- ça quanto a exportação deste tipo de produto. Em contra-
talidade através do processo de moagem atomizada. A partir partida, o direcionamento competitivo objetivando custos
de 1981 houve uma importante alteração no paradigma encontrava a concorrência da indústria de revestimentos
tecnológico com o inicio da implementação do processo cerâmicos de moagem a seco crescendo rapidamente. En-
de monoqueima rápida sobre rolos cerâmicos no Brasil, quanto a indústria de revestimentos cerâmicos atomizados
levando as empresas a rapidamente efetuarem inversões necessitava efetuar inversões de conjuntura tecnológica (por
de forma a se adequarem a esta nova tecnologia com o questões de sobrevivência) em momentos de crise econô-
intuito da otimização da qualidade e principalmente de mica, levando as mesmas a um alto grau de endividamento
produtividade.Este fenômeno de adequação ao novo (e tendo que apropriar os altos custos financeiros relativos a
paradigma da monoqueima rápida para os fabricantes com sucessivos planos de estabilização da moeda), a indústria
processo de moagem a seco ocorreu no final da década de de revestimentos cerâmicos confeccionados por moagem a
1980, justamente quando se implantava no Brasil as nor- seco era criada já no novo paradigma tecnológico de produ-
mas ISO referentes a metodologia de ensaios e conformi- ção através de financiamentos efetuados em grande parte
dade as especificações. A partir de meados da década de com recursos próprios ou tomados no curto prazo (via de
80 inicia-se a classificação e embalagem automática de regra inferior a 3 anos).
revestimentos cerâmicos.Possuir uma máquina de classi-
ficação automática significaria garantir que todas as peças Moagem a Seco
estariam devidamente separadas em lotes de acordo com
sua variações estruturais dimensionais relativas a tamanho, A explosão de crescimento da capacidade produ-
deformações, empeno e visuais relativas a defeitos desta tiva das indústrias de revestimento produzidos
ordem e tonalidades. Havia no Brasil uma mudança gran- através de moagem a seco após 1994
de de conscientização de qualidade por parte dos consu- A escolha do processo de produção através do proces-
midores e consequentemente das empresas, impulsionada so de moagem a seco por si só não é causa ou explicação
pela abertura de mercados no inicio da década de 90 em do crescimento deste tipo de indústria no Brasil. Além das
relação ao modelo econômico de substituição das impor- questões econômico- financeiras discriminadas anterior-
tações; ao maior incremento de competitividade devido ao mente, outros aspectos devem ser realçados como a :

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• rapidez na tomada de decisões devido ao pequeno nú- moagem com moinho de martelos ou pinos, sistemas
mero de níveis hierárquicos na empresa e também por de separação magnética, sistemas de umidificação com
isto, rápida adequação as necessidades de mercado. nebulizadores e granuladores, peneiras para controle
• natureza empreendedora de seus propietários. granulométrico e rotativas de alimentação. Outro fa-
• capacidade de mobilização conjunta em prol de inte- tor de extrema importância foi o maior investimento
resses comuns. no processo de controle de extração, homogeinização,
• proximidade junto a universidades e instituições im- sazonamento, armazenamento e secagem de argilas.
portantes de pesquisa. • Prensas de maior capacidade desenvolvidas também
• grande interesse na disseminação de tecnologia efe- em função da produção de grês porcelanato que no
tuada por fornecedores de equipamentos e insumos Brasil têm sido enormemente utilizadas com aumento
pelo fato destes fabricantes encontrarem-se capitali- do número de saídas para aumento de produtividade.
zados e com alto potencial de crescimento. Este fato • Secadores de forma a absorver a alta produtividade
(motivado também por um aumento de compe- das prensas.
titividade entre as próprias empresas que utilizam a • Linhas de esmaltação que possibilitassem pelo me-
moagem a seco), tem levado a uma tendência gradativa nos três tipos decoração.
de aproximação de qualidade técnica e estética entre • Serigráficas rotativas em substituição as planas de
os processos de via seca e atomizada. forma a absorver a produções superiores a 10.000
• proximidade das empresas de forma a disseminar metros quadrados dia com menor intervenção de ope-
novas tecnologias e fomentar parcerias com empresas radores e redução do índice de quebras de “biscoito “.
prestadoras de serviços. • Máquinas de impressão flexográfica, possível de ser
• contínua otimização da qualidade do produto abali- utilizada em linhas de alta produtividade, porém com
zada por um número crescente de empresas através do qualidade de definição de impressão muito superior a
Centro Cerâmico do Brasil (C.C.B) que teve o início serigrafia, decorando os produtos até as bordas ,e pro-
de suas atribuições em 1994 e é credenciado pelo porcionando peças diferenciadas entre si, em curto
INMETRO. espaço de linha.
• e, principalmente a mecanismos de gestão da produ- • Campanas e véu filiera de alta pressão de forma a
ção que privilegiam culturalmente, a obtenção dos me- otimizar a qualidade de aplicação de esmaltes para pos-
nores custos possíveis de produção, com a aquisição terior decoração.
de equipamentos de última geração para a obtenção • Fornos mais largos e compridos com resfriamento
de altíssima produtividade. otimizado, possibilitando sensível economia térmica
Salienta-se porém o fato de que a indústria não é total- e operação a ciclos räpidos (em alguns casos inferio-
mente homogênea. res a 30 minutos).
• Máquinas de classificação compatíveis com o novo
Mudança de paradigma tecnológico após 1994 módulo de produção.
A partir de 1994 é estabelecido um novo marco no
Brasil no que diz respeito ao plano de estabilidade econô- Alterações nas tipologias de produtos e processos
mica com o intuito da redução da inflação anual a patama- produzidas nas indústrias que operam por
res de um dígito. A paridade do dólar em relação ao real moagem a seco após 1994
facilitou a importação de equipamentos. A redução da O aumento da competitividade entre as indústrias
alíquota também favoreceu este processo. Porém, esta entrantes neste processo de produção e as já estabelecidas
mesma paridade dificultou a continuidade do processo de levou a uma necessidade de maior diversificação deste tipo
exportação que era visto como alternativa importante para de produto, sem no entanto perder o foco do custo como
a indústria de moagem a úmido (em grande parte endivi- principal vantagem competitiva.
dada e descapitalizada) em sintonia com a tecnologia mun- A técnica de aplicação de engobes e esmaltes a disco
dialmente predominante. E passou a tornar-se uma opor- têm sido gradativamente substituída por aplicações com
tunidade de investimentos (através de aquisições campana, e filieras de alta pressão de modo a otimizar o
prioritariamente no mercado italiano) para a indústria de processo de decoração.
moagem a seco que via no novo plano econômico seu Têm sido feito um esforço de forma a minimizar aspectos
mercado aumentar, pois o mesmo proporcionou aumento relativos a manchabilidade dos engobes. Os engobes aplicados
de renda para as classes menos favorecidas consumidoras a campana têm este procedimento ligeiramente facilitado.
de produtos de menor custo. Os esmaltes brilhantes com fritas alcalinas têm sido
Foram em grande parte adquirido por estas empresas gradativamente substituídos por fritas de alto ponto de
entre outros: amolecimento, tipo “monoporosa” ,de forma a otimizar a
• Moinhos pendulares( utilizados posteriormente a superfície dos produtos, aumentar o brilho, propiciar o

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desenvolvimento de cores, e melhorar características de produtos italianos apresentam-se com coloração de base
resistência ao ataque químico, a abrasão e acordo avermelhada (qualquer que seja o processo de produção
dilatométrico. utilizado). Assim o produto de massa vermelha até hoje,
O processo de decoração como citado antes, tem sido independentemente de sua qualidade técnica ou estética
alvo de melhoria constante de forma a acompanhar a evo- apresenta-se menor remunerado no mercado brasileiro
lução do design que tem como fonte de inspiração os mes- comparativamente aos produzidos com massa clara.
mos fornecedores das empresas fabricantes de material Outro fato importante a ser ressaltado é de que apesar
atomizado e as mesmas tendências verificadas em feiras de ser um processo ainda de menor previsibilidade (prin-
internacionais. A diferença básica é a máxima simplifica- cipalmente quando se opera com derivações de uma única
ção de operacionalização do processo produtivo, adequan- argila) produzir por moagem a seco na Europa não signifi-
do os produtos ao gosto popular brasileiro que têm sido ca necessariamente produzir produtos populares.
ditado ao longo do tempo, em sua grande maioria, por pro-
dutos brilhantes. Esta tendência, aliada aos menores cus- Moagem Atomizada
tos de produção fez com que o revestimento cerâmico bra-
sileiro subisse para as paredes, penalizando mais que Alteração de tipologia de produto produzido e
proporcionalmente a indústria de “azulejos” produzidos processos por moagem a úmido após 1994
por moagem a úmido. Outro aspecto interessante que con- Algumas empresas definiram-se claramente em sua
tribuiu para este fim, foi a confecção (por parte de algu- estratégia de produção optando pelo mercado da diferen-
mas empresas de moagem a seco) de peças complementa- ciação através da inversão do processo produtivo ou cons-
res simples universais em processo monoqueima e posterior trução de novas unidades de produção para “monoporosa”
corte terceirizado. (produção de produtos de brilho especular e pequena vari-
A temperatura de queima têm sido incrementada de ação dimensional; em processo de monoqueima rápida, que
forma a obter-se produtos com menor expansão por umi- tem a Espanha como criador e disseminador de tecnologia)
dade e absorção de água para enquadramento nos grupos possibilitando a produção de formatos maiores que os azu-
BIIb (6 a 10%) e até mesmo BIIa (3 a 6%). lejos tradicionalmente produzidos pelo processo de
Quanto aos formatos ocorre a tendência de especiali- biqueima. O processo de produção em “monoporosa” para
zação de linhas de produção, de forma a maximizar volu- formatos de dimensão de fabricação inferiores ao 20x30
mes. Quando não é possível, esforços de gestão e também foi utilizado de forma a abastecer os consumido-
tecnológicos têm sido realizados para facilitar o set-up. O res do azulejo tradicional, reduzindo-se a espessura do pro-
principal formato de fabricação é o 30 x30 porém a ten- duto, camada de esmaltes e ciclos de queima. Grande par-
dência é o aumento da diversificação de formatos, inclusi- te das empresas que operavam no processo de biqueima
ve para maiores dimensões. tradicional, implementaram como transição,a segunda quei-
O mercado internacional de revestimentos cerâmicos ma (esmalte) em ciclos rapidíssimos (em alguns casos in-
(e o mercado brasileiro um pouco mais sofisticado) que feriores a 20 minutos).
apresenta tendência de texturas naturais mate preponde- As grandes indústrias que operam com moagem a úmi-
rantemente rústicas tem sido abordado de forma crescente do, se esmeraram na possibilidade da venda “casada” de
por algumas empresas que operam por moagem a seco. pisos e revestimentos desenvolvidos para este fim. As pe-
Este fato ficou evidenciado na última FEICON (Feira da ças complementares para particularização de ambientes
Indústria da Construção Civil). Aliás, parte das empresas foram confeccionadas por estas empresas na tecnologia
que utilizam este processo têm iniciado o processo de ex- de terceira queima, internamente.
portação para mercados como: América do Sul, América Como o ápice da diferenciação de revestimentos
Central, Caribe e até mesmo os E.U.A. cerâmicos iniciou-se a produção nacional de grês
porcelanato natural, polido e esmaltado. A situação de câm-
Massa clara x massa vermelha bio atual tem proporcionado duplamente a ocorrência de
As argilas fundentes utilizadas no Brasil no processo barreiras de entrada no mercado interno, seja pela dificul-
de produção a seco apresentam coloração avermelhada. O dade de custos relativa a importação deste tipo de produto,
histórico de problemas técnicos ocorridos sistematicamente ou pelo surgimento de maior número de fabricantes nacio-
no Brasil para este tipo de produto quando do inicio de nais, visto que grande parte dos equipamentos necessários
produção via seca levou a uma cultura de mercado que a fabricação do grês porcelanato são importados, e é alto o
têm sido arduamente contestada pelos fabricantes deste tipo investimento demandado (principalmente quando se trata
de processo de que produto de base vermelha não é sinô- de produto polido). Mesmo assim, novos fabricantes têm
nimo de qualidade. Estes têm razão em sua argumentação surgido recentemente. Acompanhando uma tendência
visto que este conceito não ocorre no restante do mundo, mundial,deve ocorrer ao longo do tempo,um incremento
pois os produtos espanhóis principalmente e boa parte dos da produção nacional de gres porcelanato, motivado prin-

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cipalmente pelos altos preços que ainda vigoram no mer- a uma dura queda de braço com as revendas em inserções
cado interno ,comparativamente ao mercado mundial, a de tentativas de vendas diretas a construtoras, órgãos pú-
descoberta de novas fontes de matéria primas e a perspec- blicos e consumidores.
tivas de exportação.
Uma tipologia de produto que esteticamente asseme- Considerações finais
lha-se “aos olhos do consumidor”, ao grês porcelanato é a O aumento significativo do número de fabricas e o in-
de produtos esmaltados com alta camada de esmaltes e cremento da capacidade produtiva (substancialmente em
granilhas e posteriormente polidos. Trata-se também de empresas que utilizam o processo de moagem a seco), con-
produtos diferenciados de alto valor de revenda devido ao siderando como estudo de viabilidade econômica para a
alto custo de produção e necessidade de investimentos realização de investimentos apenas a demanda potencial
devido ao processo de polimento. (as oscilações econômicas dificultam a previsibilidade com
Quanto ao revestimento convencional para piso pro- maior acuracidade) e as crises de energia e mundial geram
duzido através da moagem a úmido houve uma tendência atualmente no ramo de revestimentos cerâmicos como re-
a confecção de produtos mates e ou rústicos de forma a sultado, uma crise de excesso de oferta e principalmente
proporcionar sintonia com o mercado externo e diferenci- de demanda (a redução de producão tem sido maior,em
ar-se dos produtos brilhantes produzidos em grande esca- grande parte das empresas, á proporcionalidade da neces-
la pelos produtores que utilizam o processo de moagem a sidade de redução de consumo de energia elétrica.
seco. A particularização de ambientes tem sido proposta Como seqüência a este trabalho será publicada uma
através de complementos e diversificação de tamanhos. pesquisa de crescimento estatístico da indústria de revesti-
Algumas empresas têm históricamente efetuado grande mentos cerâmicos, considerando-se o aumento da capaci-
esforço no sentido de exportar produtos. O câmbio favorável dade produtiva.
e as dificuldades relativas ao mercado interno têm fomentado
sensível aumento no volume das exportações, porém este fato Referências Bibliográficas
está centralizado em pequeno volume nas empresas que têm 1. ANFACER_Associação Nacional dos Fabricantes de
mantido parcerias de exportação ao longo dos anos, mesmo Cerâmica para Revestimento,2000.Anfacer apoiando
em situações de câmbio adverso. Segundo a ANFACER a cerâmica do Brasil, SP:ANFACER,24p.
(2000) o volume de exportações brasileiro em 1999 foi da 2. Bustamante, G.M., Bressiani, J.C.2000. A indústria ce-
ordem de 42,6 milhões de metros quadrados. Apesar de su- râmica brasileira. Ceramic News.Vol.7. No. 1.p.55-59.
perar em cerca de 10 milhões de metros quadrados o ano 3. BNDES. Cerâmica para revestimentos. Informe Setorial,
anterior, este valor ainda pode e deve ser acrescido em muito, Rio de Janeiro, 10.09.99.
quando comparado a países como Itália e Espanha que em 4. Caridade, M.D.,Torkomian.A.L.V.Estratégias de produ-
1998 exportaram respectivamente 406 e 242 milhões de metros ção das empresas de Santa Gertrudes.Cerâmica Indus-
quadrados tendo produzido, segundo a ANFACER (2000) trial. v6. No 1. p39.
apenas,respectivamente, cerca de188 e 163 milhões de metros 5. Ferraz, J.C.,Kupfer, D&Haguenauer, L.Competitividade,
quadrados a mais que o Brasil. padrões de concorrência e fatores determinantes. In:
As empresas que operam com moagem a úmido, têm Made in Brazil: desafios competitivos para a indústria.
trabalhado arduamente em termos de fatores competitivos Rio de Janeiro: Campus. 1995.
empresariais (efetuando prioritariamente estratégias visan- 6. Lolli,L., Nassetti,G., Marino, L.F.B.2000.A preparação
do a redução de custos, ao mesmo tempo tentando manter a seco de massas cerâmicas. Cerâmica Industrial, v.5,
a grande maioria de seus produtos com algum diferencial No.2, mar./abr., p.30-38.
em relação aos confeccionados por moagem a seco e em 7. Lemos, A., Vivona. D.1997. Visão estratégica do setor
menor escala produzindo produtos com alto grau de de revestimentos cerâmicos, mercadológica e tecno-
diferenciação,inclusive como estratégia de marketing) e lógica, em busca da consolidação da competitividade
tentam sensibilizar o governo quanto a fatores de internacional.Cerâmica industrial. v.2. No.3-4. p10-18.
competitividade estruturais e fatores sistêmicos. 8. Motta, J.F.M., Cabral Jr., Tanno. L.C.1998. Panorama
Outro duelo que está se travando, na indústria de re- das matérias-primas utilizadas na indústria de revesti-
vestimentos cerâmicos em geral, refere-se ao aumento do mento cerâmico: desafios ao setor produtivo. Cerâmi-
número de fabricantes em contrapartida a concentração das ca Industrial. v.3. No. 4-6. p30-38.
revendas, o que aumentou em muito seu poder de compra. 9. Nassetti, G.1990. Innovative system for the preparation
O espaço de exposição do produto é extremamente dispu- of ceramic tile bodies.Tile &Brick, No. 3, may,p.1211-
tado e só é mantido se o produto “gira” rapidamente, sen- 1219.
do o preço de venda, entre outros, fator decisivo para que 10. Porter, M.Estratégia Competitiva, Rio de Janeiro,
isto ocorra. Este fato, têm levado algumas empresas a cri- Ed.Campos, 1986.
arem espaços próprios para exposição de seus produtos e

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