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XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção


Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

PROPOSTA DE APRIMORAMENTO DE UM
PROCESSO PRODUTIVO COM BASE NO USO
DE RECURSOS ESQUEMÁTICOS: ESTUDO DE
CASO EM UM ENGENHO
Ramon Swell Gomes Rodrigues Casado (UFCG)
ramonswell.grc@gmail.com
Ellen Mendes de Freitas (UFCG)
freitas.ellen@hotmail.com
Mahyslanne Marianna Soares da Silva (UFCG)
mahyslanne@hotmail.com
Jaqueline Marques Rodrigues (UFCG)
jaquelinekely1@hotmail.com
LORENA VIEIRA BRAZ SANTOS (UFCG)
lorena_vbs@hotmail.com

No atual contexto da globalização, nos mais diversos setores é comum a


busca por ideias que possam trazer um diferencial competitivo no mercado,
com a intenção de que se consiga obter uma maior eficiência do sistema
produtivo, e consequentemente garantir uma maior produtividade. Nesse
sentido, apesar das organizações estarem sempre na procura por novas
metodologias para a gestão de seus processos organizacionais, o uso dos
recursos esquemáticos ainda vigora como um importante mecanismo para o
aperfeiçoamento dos processos. Esse estudo se mostra relevante por
demonstrar que o uso desses recursos facilita a visualização de falhas e
colabora para a correção mais incisiva. Assim, pretendeu-se nesse artigo
propor a utilização combinada de 2 (dois) recursos esquemáticos como forma
de avaliar problemas encontrados em um processo de produção de cachaça
orgânica. Para tanto, fez-se uso de um levantamento bibliográfico para
melhor conhecimento dessa área, bem como entrevistas, visitas in loco no
período de novembro a março de 2014 e tratamento de informações
mediante os softwares AutoCAD e Dia Portable. Como resultados mais
expressivos, obteve-se mediante a análise desses 2 (dois) recursos uma
significativa redução na movimentação (cerca de aproximadamente 48,35%)
e aumento da produção da cachaça (cerca de aproximadamente 66,66%).

Palavras-chave: Recursos esquemáticos; Fluxograma; Mapofluxograma;


Engenho.
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1. Introdução

Por meio de uma breve análise de mercado, percebe-se que o desenvolvimento ininterrupto
das tecnologias vem provocando, de forma geral, mudanças cada vez mais rápidas no cenário
globalizado, no que tange o aprimoramento das empresas em relação à eficiência dos
processos produtivos, de forma a acolher as necessidades e cobranças da demanda
consumidora.

Nessa linha de raciocínio, essa busca pela eficiência vigora-se como uma vertente
preponderante em qualquer que seja a organização. Sendo que segundo Barnes (2001),
quando essa procura é proveniente de implantações de melhorias, deve haver um estudo
global do sistema produtivo de forma a compreender melhor suas atividades para que se
possam efetuar alterações concretas.

Dessa forma, para que haja esse tipo de estudo, a utilização de recursos esquemáticos pode
colaborar na identificação de falhas no decorrer do sistema produtivo, haja vista que tais
recursos atuam registrando o processo de forma compacta, para posterior análise e avaliação
que culminará na visualização de aspectos pouco eficientes no processo produtivo.

Sendo que, cada recurso esquemático tem suas vantagens e desvantagens, possuindo critérios
individuais de acordo com o objetivo de sua aplicação. Deste modo procurou-se nesse estudo
fazer a combinação do fluxograma com o mapofluxograma, onde segundo Barnes (2001),
essa combinação gera a vantagem de que mostra a sequência, o posicionamento físico das
atividades e a direção do movimento dos estágios de cada tarefa, de modo a proporcionar
diretrizes para eventuais aprimoramentos dos processos produtivos.

Assim, partindo a combinação dessas ferramentas e tendo em vista a tradição na produção de


cachaça na Paraíba, fica-se evidente que os empreendedores desse segmento devem investir
na elevação do seu nível de qualidade, para que dessa forma reflita diretamente no mercado
consumidor.

Nesse sentido, o presente estudo propôs a utilização combinada desses 2 (dois) recursos como
forma de avaliar falhas em um processo produtivo de uma empresa do setor sucroalcooleiro,
responsável pela produção de cachaça orgânica, e, com isso, possibilitar o levantamento de
ações que agregam valor à melhoria da eficiência e produtividade da organização, para que
assim se obtenha um melhor nível de qualidade e de vendas.

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2. Referencial teórico

2.1. Engenharia de métodos

A engenharia de métodos preocupa-se com a integração entre o homem e o processo


produtivo no qual está inserido, onde Souto (2002) relata que essa técnica está ligada com a
implementação de metodologias e com a análise da carga de trabalho, tendo como intuito
aprimorar o rendimento das operações e eliminar aquelas desnecessárias.

Portanto, o estudo da engenharia de métodos é um instrumento que avalia o trabalho de forma


sistêmica, na busca de sua racionalização mediante análise de procedimentos já existentes, a
fim de obter melhorias ou criar novos mecanismos para o desenvolvimento de determinada
tarefa.

Dentre os instrumentos utilizados pela engenharia de métodos, os recursos esquemáticos se


destinam a encontrar falhas na execução de tarefas, a partir do registro gráfico e análise
sistemática dos processos. Sua aplicação busca melhorias ao facilitar a identificação global de
problemas, contribuindo assim para uma melhor qualidade dentro do processo produtivo.

2.2. Recursos esquemáticos

São empregados na engenharia, em qualquer tipo de organização, com o objetivo de criar


artifícios de fácil utilização e de grande eficiência, buscando o melhoramento ininterrupto dos
processos ao se registrar e analisar as operações de um sistema produtivo. O emprego destes
recursos permite uma maior percepção dos erros cometidos, assim como uma maior agilidade
na resolução dos mesmos, acarretando por fim em uma maior qualidade dentro do processo.

Conforme Barnes (2001), primeiro deve-se estudar o processo integralmente, ou seja, estudar
o processo como um todo, e posteriormente analisá-lo de forma especifica, avaliando cada
etapa sequencialmente. Nesse sentido os recursos esquemáticos simplificam a forma como as
atividades ocorrem dentro da empresa, pelo fato de que transmite as informações de forma
mais objetiva e detalhada, além de proporcionar uma uniformização dos registros, facilitando
a percepção de falhas em longo prazo.

Ao pesquisar sobre algumas técnicas utilizadas pela engenharia para análise de processos, a
exemplo do fluxograma, mapofluxograma, carta de para, diagrama de frequência, entre
outros, pode-se averiguar que as mesmas foram desenvolvidas com objetivos distintos. Dessa

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forma percebe-se que é pouco provável que se encontre um recurso que venha a se adequar a
todos os tipos de situações encontradas dentro das empresas, assim, buscou-se para este
estudo a utilização conjunta de 2 (duas) técnicas: o fluxograma e o mapofluxograma.

2.2.1. Fluxograma

Fundamenta-se como sendo uma representação esquemática, na qual tem por objetivo
proporcionar uma melhor visualização de todo processo produtivo de forma analítica. Por
meio deste recurso é possível de forma prática e compacta registrar as inúmeras etapas que
compõe um processo produtivo, permitindo assim que consiga ampliar a compreensão sobre
estas e a partir de uma visão sistêmica projetar posteriores melhorias (BARNES, 2001).

Sendo que para essa técnica de representação, conforme discorre Oliveira (2005), tem-se que
empregar o uso de símbolos previamente convencionados, de forma a proporcionar uma
análise clara e precisa do fluxo de um sistema produtivo. Para tanto é imprescindível que haja
uma sequência lógica das atividades produtivas mediante o encadeamento desses símbolos.

Neste sentido, cada etapa ou atividade presente no fluxo é relacionada a determinado símbolo,
onde segundo Peinado e Graeml (2007), normalmente são utilizados os 5 (cinco) símbolos
estipulados pela American Society of Mechanical Engineers (ASME), que representam as 5
(cinco) famílias de ações passíveis de serem encontradas nos processos industriais de
produção, como pode-se observar no Quadro 1.

Quadro 1 ‒ Simbologia utilizada pela ASME para representação de processos industriais

Fonte: Peinado e Graeml (2007)

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2.2.2. Mapofluxograma

Consiste na junção do arranjo físico de uma determinada organização com o fluxograma, que
como descrito no tópico anterior, é a descrição do fluxo das atividades da empresa. Em outras
palavras, conforme Barnes (2001), o mapofluxograma apresenta a circulação física de um
processo organizado sobre o layout do setor produtivo.

Este recurso tem como objetivo principal, através da visualização do layout junto com o fluxo
do processo, avaliar a movimentação física realizada no processo, visando à correção de
circulações desnecessárias ou de grandes percursos, e também busca o melhoramento do
arranjo físico de forma a reduzir o tempo gasto com deslocamento (BARNES, 2001).

Entretanto, em algumas situações, este recurso pode ser considerado complexo, pelo fato de
necessitar de uma vasta gama de informações globais para seu desenvolvimento, o que pode
retardar a prática de conceitos enxutos da produção.

Por outro lado a aplicação correta do mapofluxograma pode acarretar também na


identificação e agilidade na correção das 7 (sete) grandes perdas, que segundo Hines e Rich
(1997) são: superprodução, estoque, espera, transporte, processamento em si, movimentação e
peças com defeitos. Nesse sentido a eliminação desses desperdícios possibilitará a redução
dos custos podendo-se assim aumentar a produção.

De acordo com Batista et al. (2006), as falhas comuns do setor de produção estão diretamente
ligadas às operações dispensáveis, às possibilidades de unificar e combinar processos, aos
longos deslocamentos, aos retornos e interrupção do fluxo, e por fim, ao posicionamento dos
estoques em relação às áreas de trabalho e expedição.

Deste modo a utilização do mapofluxograma torna-se essencial e eficaz, a partir de que o


mesmo facilita a organização e visualização das etapas dos processos, a sequência de
execução, o posicionamento físico das atividades e a direção do movimento. Além disso, de
acordo com Correia, Leal e Almeida (2002) o deslocamento é uma das etapas mais
significativa do processo de produção, sendo assim importante a utilização desta ferramenta
para aperfeiçoar o sistema produtivo de acordo com a necessidade no ambiente de produção.

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3. Metodologia

Partindo inicialmente da classificação desse estudo, tem-se que segundo Gil (2010), quanto
aos objetivos, o mesmo pode ser descrito como exploratório, visto que seu planejamento
possibilitou a consideração de variados aspectos relativos ao aprimoramento do processo
produtivo, envolvendo o levantamento bibliográfico, entrevistas e visitas in loco. Em relação
à natureza desse trabalho, pode-se classificá-lo como aplicado, pois de acordo com Gerhardt e
Silveira (2009), o mesmo tem o objetivo de gerar conhecimentos para aplicação prática, que
neste caso está relacionada à solução de problemas específicos de uma empresa do ramo
sucroalcooleiro.

Quanto à abordagem do problema, pode-se descrevê-la como qualitativo-quantitativa, onde o


ambiente da empresa é a fonte direta para coleta de dados. Já quanto aos procedimentos
técnicos, tem-se que se trata de um estudo de campo, onde se buscou diagnosticar problemas
relativos ao processo produtivo de uma empresa, com base no uso de recursos esquemáticos.

O estudo mencionado teve como universo de atuação um engenho, localizado nas imediações
da cidade de Puxinanã – PB, que tem como foco a produção de cachaça. Os procedimentos
utilizados para fazer o estudo se iniciam com a coleta em fontes primárias por meio da
aplicação de entrevistas semiestruturadas e visitas in loco, efetuadas no período de novembro
de 2013 a março de 2014.

As entrevistas foram realizadas com o mestre alambiqueiro do engenho, que trabalha


diretamente no processo produtivo. Em seguida, os dados coletados foram analisados para que
fosse possível estruturar um mapeamento da situação do sistema de produção, e por fim,
elaborar propostas de melhorias.

Nas entrevistas buscou-se extrair as informações seguindo-se o seguinte roteiro: determinar


todo o sequenciamento das atividades realizadas no setor de produção da cachaça; obter e
desenvolver o esquema do arranjo físico desse setor; e desenvolver a planta baixa em
conjunto com o fluxo do produto através da fábrica. Em relação às fontes secundárias,
utilizou-se de um levantamento bibliográfico para contribuir para um melhor conhecimento
dessa área.

Para o tratamento dos dados coletados, fez-se uso dos softwares: AutoCAD ‒ software que
serve para a elaboração de desenhos técnicos e modelos tridimensionais ‒ que foi utilizado
nesse estudo para a criação das plantas baixas; Dia Portable ‒ ferramenta baseada no

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Microsoft Visio, com o qual se pode criar vários tipos de diagramas ‒ que foi utilizado de
forma a facilitar o delineamento e análise do estudo.

4. Análise e interpretação dos dados

4.1. Descrição da empresa objeto de estudo

A empresa foco desse trabalho pertence ao setor sucroalcooleiro, com atuação voltada
exclusivamente para a produção de cachaça artesanal, caracterizando-se como um engenho de
pequeno porte, e está localizada nas imediações do município de Puxinanã – PB, onde suas
atividades iniciais datam do ano de 2006, no entanto a produção propriamente dita iniciou-se
apenas no ano de 2009, quando o mesmo tinha uma adequada estrutura.

A referida empresa tem caráter familiar e seu corpo de trabalho é composto por 5 (cinco)
funcionários, os quais subdividem-se em um mestre alambiqueiro e 4 (quatro) operários que
responsabilizam-se pela colheita e moagem da cana.

A mesma detém de uma área de 206 m², com sua disposição física como mostra a Figura 1, e
possui 2,5 hectares (ha) de canavial, sendo que destes apenas 1,5 ha são utilizados para
plantio de cana-de-açúcar, tendo sua produção anual em torno de aproximadamente 7050
litros (L), tendo em vista que a safra 2014/15 na Paraíba girou em torno das 47 toneladas/ha.
Segundo a CONAB (2013) em média 1 tonelada (ton.) de cana gera cerca de 100 L de
cachaça.

Grande parte da cachaça produzida no engenho é preparada para exportação para os Estados
Unidos, e uma pequena parcela é destinada a algumas cachaçarias da cidade de São Paulo. Ela
é classificada como do tipo amarela, na qual é armazenada ou envelhecida em madeira
(carvalho e freijó) e apresenta alterações substanciais na sua coloração (Mapa da cachaça,
2010).

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Figura 1 ‒ Representação do layout do engenho

4.2. Descrição do processo de produção

No intuito de facilitar a compreensão do funcionamento do engenho, é primordial que todo o


processo de produção da cachaça orgânica seja considerado, sendo assim, tem-se a seguir a
descrição do processo produtivo e logo após o respectivo organograma na Figura 2.

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 O processo começa com a colheita manual da cana-de-açúcar, sem a queima das


folhas, o que favorece tanto a qualidade do produto quanto a proteção do solo;
 Após a colheita, a cana é preparada (limpa) e segue para a moenda para que seja moída
(em no máximo 24 horas após seu corte, para não perder propriedades nutritivas),
onde se separa a garapa (caldo);
 Em seguida o caldo segue para o decantador onde depois de um período em
decantação será filtrado, a fim de sejam retiradas as impurezas;
 Logo após, o caldo extraído segue para as dornas de diluição, onde será diluído
transformando-se em mosto, pois o caldo puro está em uma concentração elevada de
teor de açúcar que não atende as exigências das leveduras alcoólicas;
 Neste ponto, o mosto segue para as dornas de fermentação, onde é acrescido de
fermento (suspensão de células de leveduras), para que o açúcar presente no caldo seja
transformado em álcool e gás carbônico, resultando em um produto denominado
vinho;
 Por fim, o vinho segue para o alambique de cobre onde ocorre seu aquecimento, de
forma que permita separar a cachaça produzida no início (cabeça) e no fim (pé ou
cauda) do coração, parte mais nobre do destilado que é utilizado para envelhecimento.

Figura 2  Organograma do processo de fabricação da cachaça

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4.3. Descrição do fluxograma produtivo

Tendo como base o levantamento bibliográfico do processo de produção de cachaça, como


pode ser observado no tópico anterior, e com a entrevista realizada com o mestre
alambiqueiro, chegou-se a descrição detalhada das operações dentro da empresa, como se
pode observar no Quadro 2.

Quadro 2  Representação do fluxo produtivo da cachaça

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4.4. Descrição do mapofluxograma

Diante do fluxograma esquematizado no tópico anterior, pode-se descrever como as


atividades da produção da cachaça em estudo estão dispostas no layout da empresa, conforme
Figura 3. Apenas ressalta-se que o fluxo está representado de forma geral na sequência que as
operações ocorrem.

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Figura 3  Representação do mapofluxograma das operações do engenho

4.5. Análises dos problemas

Assim, partindo do que foi exposto mediante os recursos esquemáticos (fluxograma e


mapofluxograma), bem como das análises feitas in loco, foi possível observar uma série de

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problemas que interferem diretamente na eficiência produtiva do engenho. Deste modo,


listaram-se os principais problemas evidenciados pela análise.

I. Ineficiência produtiva

Verificou-se que a produção da cachaça é realizada apenas uma vez ano (em massa), tendo
sua plantação renovada a cada 3 (três) anos, devido ao ciclo de reforma da cana-de-açúcar,
conforme pode-se observar na Figura 4.

Figura 4  Fases do ciclo de produção da cana-de-açúcar

Fonte: Adaptado de Gascho e Shih (1983)

Dessa forma, pode-se constatar que o engenho possui certa ineficiência quanto à capacidade
total de produção, visto que o mesmo poderia usufruir melhor de seu canavial, tanto em
relação à área de utilização quanto ao número de produções, isto mediante a implantação de
um manejo rotativo na plantação da cana-de-açúcar, de forma que possibilitaria mais ciclos
produtivos durante o ano.

Assim propõem-se um nivelamento da produção mediante a divisão do canavial em 2 (duas)


partes distintas de crescimento, havendo assim a possibilidade de se realizar 2 (duas)
produções a cada ano, com renovação da plantação seguindo ciclo da cana-de-açúcar citado
anteriormente.

 Uma com plantio do tipo “cana de ano-e-meio”: sendo composta por 1,5 ha;
 Outra com plantio do tipo “cana de ano”: sendo composta por 1 ha.

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O plano de manejo do canavial leva em consideração que o plantio do tipo “cana de ano-e-
meio”, segundo Souza et al. (2013), deve ser realizado de janeiro a março/abril, sendo que a
colheita ocorre a partir de maio do ano seguinte, compreendendo um ciclo de
desenvolvimento de 14 a 18 meses. E que o plantio do tipo “cana de ano”, segundo os
mesmos autores, deve ser realizado de setembro a outubro, com a colheita ocorrendo
geralmente de setembro a novembro, compreendendo 10 a 14 meses de desenvolvimento. O
plano de manejo pode ser melhor visualizado no Quadro 3, a seguir.

Quadro 3  Plano proposto para o manejo do canavial

II. Perda por espera do lote

Outro fator observado na avaliação dos recursos esquemáticos refere-se à perda por espera do
lote da matéria-prima, visto que o deslocamento para o setor de moagem é evidentemente
extenso, além do fato de que o mecanismo de transporte das canas é feito várias vezes em
pequenas quantidades por meio de carroças, tornando o trabalho muito repetitivo e esforçado.

Dessa forma, levantou-se a possibilidade de instalação de um transportador mecânico


contínuo composto de uma correia taliscada (conforme Figura 5), a fim de reduzir esse tempo
de transporte, onde essa correia é construída com borracha de alta resistência ao desgaste por
atrito. As taliscas são vulcanizadas para que se obtenha máxima resistência mecânica entre ela
e a correia (COFACO, s.d.).

Figura 5  Transportador mecânico contínuo de correia taliscada reta com reforço lateral

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Fonte: Adaptado de PINHALENSE (s.d.)

III. Perda por desperdício

Outro quesito analisado refere-se à questão do não reaproveitamento do bagaço e do vinhoto


no processo de produção, de forma a reduzir custos indiretos, haja vista que o primeiro
geralmente é apenas utilizado como ração animal, e o segundo é meramente descartado de
forma aleatória.

Tendo em vista que a cada litro de álcool produzido, são gerados cerca de 12 L de vinhoto,
pode-se sugerir que o mesmo seja reaproveitado como adubo no canavial do próprio engenho,
visto que o vinhoto é rico em potássio (CACHAÇA EXPRESS, 2013). Quanto ao bagaço
gerado na moagem da cana, o mesmo pode ser utilizado como combustível para a caldeira na
produção de vapor, que será utilizado para destilar a própria cachaça.

IV. Déficit de mão-de-obra

Apesar desse estudo não ter efetivado nenhum cálculo da mão-de-obra necessária para a
execução das atividades dentro do engenho, nota-se que há um déficit dentro do
processamento da cachaça, haja vista que o mesmo fica restrito a um único operador: o mestre
alambiqueiro.

Dessa forma, percebe-se que há uma necessidade evidente de um estudo a respeito do tempo
padrão das operações dentro do engenho para que seja feito o levantamento da mão-de-obra
adequada para os padrões produtivos da mesma, de modo que não ocorra sobrecarga de
atividades.

V. Inadequação do layout

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Por fim compreende-se que há necessidade de reprogramar o sequenciamento da produção de


maneira mais adequada, haja vista que há um excesso de movimentação, no qual o produto
final é deslocado do setor de envase até a entrada do engenho para expedição. Bem como há
um contra fluxo, devido ao posicionamento inadequado de alguns postos de trabalho e de
maquinário como ocorre no setor de envase, como se pode observar na Figura 6.

Figura 6  Detalhe do setor de envase quanto ao contra fluxo existente

Dessa forma, alguns ajustes podem ser realizados de forma a aprimorar o processo produtivo
no todo, tais como:

 Conexão do setor de moagem com os demais setores para facilitar movimentações;


 Criação de um setor administrativo para gerenciamento e acompanhamento da
produção;
 Reposicionamento do almoxarifado, do tonel de armazenamento e dos barris de
envelhecimento;
 Reposicionamento dos maquinários no setor de envase para evitar contra fluxos e fazer
melhor uso da área;

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 Reposicionamento do setor de estocagem/expedição do produto para facilitar o


escoamento da produção;
 Reposicionamento do reservatório de captação do vinhoto para facilitar o escoamento
ao lado alambique.

Com isso, esses ajustes podem ser melhor compreendidos mediante a nova proposta de layout,
como observado na Figura 7.

Figura 7  Representação do layout proposto

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5. Considerações finais

Tendo em vista o que foi exposto pelo referido trabalho, pode-se concluir que mediante a
utilização de recursos esquemáticos, consegue-se de forma satisfatória compreender o
comportamento de um sistema produtivo e atuar com melhorias relevantes para execução das

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tarefas, a exemplo das perdas observadas nesse estudo, assim configurando-se como um
mecanismo prático para o aumento da produtividade de empresas.

Como se pode observar com a análise das alterações propostas pelo novo layout, mostrando a
significativa redução na movimentação (aproximadamente 48,35%), com base na
representação do fluxo produtivo da cachaça, atuando como um ponto estratégico para
agilizar a produção da cachaça, como se pode observar na Tabela 1.

Tabela 1  Comparativo da movimentação total no engenho

Relação das movimentações executadas no engenho


Original Proposto
≈ 66,8 m ≈ 32,3 m

Bem como avaliando as mudanças sugeridas quanto à produtividade do engenho, percebe-se


também uma substancial mudança, haja vista que se propôs uma ampliação da área cultivada,
bem como um manejo mais eficiente, contribuindo para um incremento na produtividade
anual, como se ressalta na Tabela 2.

Tabela 2 Comparativo da produção de cachaça no engenho

Relação da produção no engenho*


Original Proposto
≈ 7050 L/ano Cultivo de 1,5ha ≈ 11750 L/ano Cultivo de 2,5ha
*Com base na safra 2014/15 (PB) de 47 ton./ha (CONAB, 2013)

Dessa forma, além desses ganhos, as demais situações (perda por espera do lote e por
desperdício; déficit de mão-de-obra) que foram analisadas podem gerar uma melhoria
gradativa no processo de fabricação da cachaça e no ambiente organizacional.

Mesmo com novas metodologias de gerenciamento, o uso de recursos esquemáticos continua


sendo um grande instrumento que gera resultados satisfatórios, tendo em vista que é possível
corrigir as falhas e contribuir para racionalização dos processos produtivos.

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REFERÊNCIAS

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Blücher, Tradução da 6ª Edição Americana, 2001.

BATISTA, G. R.;LIMA, M. C. C.; GONÇALVES, V.S. B.; SOUTO, M. S. M. L. Análise do processo


produtivo: um estudo comparativo dos recursos esquemáticos. In: XXVI Encontro Nacional de Engenharia
de Produção, Fortaleza, 2006.

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cachaca/cachacas/sustentabilidade-como-sao-aproveitados-os-rejeitos-da-producao-de-cachaca>. Acesso em 05
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COFACO. Correias para usinas de açúcar e álcool. Disponível em: <http://www.cofaco.com.br/correias-


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