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1. Introdução
O objetivo deste trabalho consiste na análise, à luz dos conceitos do Lean Office, de um
processo administrativo em uma empresa do setor de autopeças, identificando seu estado atual
e elaborando uma proposta de estado futuro.
2. Fundamentação teórica
Para o presente trabalho, deve-se entender de forma mais aprofundada o foco do Lean, seus
pilares e como esta filosofia pode ser aplicada a processos administrativos.
Taiichi Ohno objetivava o “gerenciamento de trabalho para atender aos clientes no menor
tempo possível, na mais alta qualidade e com o menor custo possível” (TURATI; MUSETTI,
2006, p. 2).
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Para tanto, é necessário concentrar o esforço da organização em atividades que agregam valor
para o cliente (GHINATO, 2002).
Atividades que agregam valor: são atividades necessárias pelas quais o cliente se
dispõe a pagar. Representam 5% das atividades realizadas por empresas
manufatureiras e 1% em ambientes administrativos;
Atividades que não agregam valor, mas que são necessárias: mesmo não agregando
valor, continuam sendo necessárias por motivações técnicas ou econômicas, devendo-
se buscar eliminá-las assim que possível. Representam 35% das atividades de uma
empresa de manufatura e 49% em ambientes administrativos;
Atividades que não agregam valor: desnecessárias sob qualquer circunstância e
consideradas desperdícios puros. O cliente não se dispõe a pagar por elas e sua
eliminação deve ser realizada no curto prazo. Abrangem 60% dos esforços de uma
empresa do setor de manufatura e 50% em ambientes administrativos.
A filosofia Lean é sustentada essencialmente por dois pilares: o Just in Time e o Jidoka, os
quais serão abordados a seguir.
A produção de acordo com uma programação e não com as necessidades reais dos clientes
causa a superprodução, o desperdício mais danoso segundo Ohno (1997). De acordo com
Rother e Shook (2009), quando isto ocorre, as perdas surgem, por exemplo, com o excesso de
recursos aplicados em estoques, o espaço destinado ao inventário e o manuseio e transporte
excessivos dos materiais e produtos acabados.
O JIT, expressão inglesa que significa “no momento exato”, pode ser interpretado como a
execução do processo de produção a fim de que seja produzida a quantidade certa no
momento oportuno.
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rapidamente aos pedidos dos clientes. Portanto, é necessário que a organização busque
produzir toda peça pelo menos todo dia.
2.2.2. Jidoka
Jidoka é uma palavra japonesa que é interpretada na filosofia Lean como autonomação, que
significa automação com a mente humana (OHNO, 1997) ou automação com um toque
humano (SHINGO, 1996).
Para Ghinato (1996), um sistema plenamente automatizado deveria ser capaz de detectar
qualquer anormalidade, decidir qual correção deve ser tomada e aplicá-la. Como o nível de
raciocínio e lógica necessário para tal é muitas vezes elevado e sua implementação
dispendiosa e complexa, acaba se tornando necessário utilizar mão de obra em algumas etapas
ou situações, o referido toque humano.
A autonomação significa, portanto, uma maior autonomia para o operador, ocupando-o com
menos atividades operacionais (GHINATO, 1996) e qualificando-o para que atinja a
multifuncionalidade, capacidade de atuar em tarefas, trabalhos ou funções diferentes
(RÉGNIER, 1997).
O principal desafio do Lean Office se relaciona diretamente à natureza abstrata dos processos
de gestão. Eliminar desperdícios no fluxo de valor de informações e conhecimentos nem
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Battaglia (2007) cita o desafio da identificação das necessidades do cliente, ou seja, daquilo
que lhe entrega valor. Ao contrário da manufatura, onde ao final do processo de produção
deve ser atendida a necessidade do cliente externo, na área administrativa, os processos,
muitas vezes, possuem somente clientes internos. Estes clientes estão frequentemente
acostumados com as entregas que recebem, sendo necessária uma análise crítica a fim de
determinar suas reais necessidades.
França (2013) constata, durante seu trabalho de implementação do Lean Office, certa
resistência por parte dos funcionários, seja devido ao desconhecimento das metodologias
utilizadas ou à dificuldade em aceitar as mudanças.
Por outro lado, a autora identifica que, após a implementação das melhorias, a resistência dos
colaboradores é reduzida, pois estes percebem os benefícios gerados com as mudanças:
Por fim, é interessante citar a constatação de Paoli, Andrade e Lucato (2014): os benefícios
trazidos pelo Lean Office não se restringem à área administrativa, pois sua implementação
ajuda a disseminar a cultura Lean em toda a empresa.
Ohno (1997) define sete desperdícios presentes na manufatura, os quais precisam ser
adaptados para o contexto das atividades administrativas. Com este objetivo, Oliveira (2007)
realiza a seguinte comparação.
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Tapping e Shuker (2010) definem em sua obra oito etapas sequenciais derivadas do Sistema
Toyota de Produção e adaptadas para ambientes administrativos, quais sejam:
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3. Metodologia
Segundo Mascarenhas (2012, p. 50), “o estudo de caso é uma pesquisa bem detalhada sobre
um ou poucos objetos”. O objetivo é entender o conjunto geralmente diversificado de dados
do caso e descrevê-lo com maior profundidade.
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Este trabalho tem natureza aplicada, pois visa à aplicação prática, e objetivo exploratório, com
o levantamento de bibliografia, elaboração e teste de hipóteses.
Yin (2001) define dez etapas para o desenvolvimento de um estudo de caso. A estas etapas
serão integrados os oito passos de Tapping e Shuker (2013), como detalhado na Tabela 2.
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Etapa
(YIN, 2001) Descrição Saída
Revisão bibliográfica,
Consultar livros e artigos científicos sobre
Desenvolver a conhecimentos sobre os temas
metodologia científica, filosofia Lean e,
teoria. necessários para o desenvolvimento
especialmente, Lean Office.
do trabalho.
Definir o Escolher a empresa e definir com sua gestão
projeto de o desenvolvimento do projeto de pesquisa. Projeto de pesquisa oficializado.
pesquisa. Obter apoio de professor orientador.
Dois primeiros passos de Tapping e Shuker
Selecionar o
(2010): comprometimento com o Lean e Caso (fluxo de valor) selecionado.
caso.
escolha do fluxo de valor.
Planejar o VSM para os passos 4 e 6 do
Desenvolver método de Tapping e Shuker (2010). Definir
Instrumentos de pesquisa
instrumentos as métricas para análise do fluxo de valor
selecionados e planejados.
de pesquisa. (passo 5). Definir entrevistas, reuniões,
observação pessoal, coleta de dados.
Mapas dos estados atual e futuro,
Aplicar os instrumentos de pesquisa, assim
Coletar métricas para análise do fluxo nos
como todos os demais passos de Tapping e
dados. dois estados e outros instrumentos
Shuker (2010).
de pesquisa.
Estabelecer a
confiabilidade Analisar criticamente os dados com a equipe
Dados validados.
e validade dos do projeto.
dados.
Analisar a eficácia da implementação dos
conceitos de Lean Office no caso estudado.
Analisar
Analisar o resultado do mapa do estado Informações para teste da hipótese.
dados.
futuro e resultados da implementação das
melhorias, quando possível.
Testar hipótese: “é possível aplicar os
conceitos de Lean Office no processo
Desenvolver e
administrativo escolhido, mapeando seu
testar Validação da hipótese.
estado atual, identificando métricas Lean,
hipóteses.
identificando oportunidades de melhoria e
mapeando seu estado futuro”.
Comparar
com Verificar trabalhos semelhantes. Comparação realizada.
literatura.
Compor o
relatório Desenvolvimento do texto do trabalho. Trabalho final de graduação.
final.
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4. Aplicação
Os próximos itens trarão a descrição das etapas executadas neste trabalho, estando divididas
de acordo com os passos de Tapping e Shuker (2010).
A iniciativa de implementação do Lean Office na empresa foi solicitada e apoiada por sua alta
direção no Brasil.
Através da experiência dos gestores, foi escolhido o setor fiscal, aquele responsável pelo
processamento fiscal das entradas e saídas de materiais e serviços, como área prioritária para
projetos. O setor apresenta natureza basicamente burocrática, sobrecarga de trabalho e estreita
relação com a produção.
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Foi desenvolvido um treinamento para a equipe do projeto com duração de duas horas para
apresentação e discussão dos pilares do Lean, além de exemplos práticos de sua aplicação na
manufatura e no escritório.
Nesta etapa, um dos membros da equipe acompanhou o processo do seu início até o fim,
coletando dados, realizando medições e entrevistas. As principais informações identificadas
se encontram na tabela 3.
Assim, foi possível calcular o lead time do processo somando tempos de operação e tempos
de espera, resultando em 28,51 horas, das quais 28,25 horas representam tempo de espera, ou
99,1%. Logo, apenas 0,26 horas são utilizadas em atividades que contribuem para que o
material seja liberado para a produção, 0,9% do lead time. A proporção de tempo de
agregação de valor identificada é coerente com o percentual de 1% apresentado por Hines e
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4.5. Métricas
A equipe identificou três métricas para o fluxo de valor escolhido (Tabela 4).
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Tempo de espera total. Tempo em que o processo está em espera. 28,25 horas
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As métricas foram validadas pela direção e divulgadas para todos os envolvidos. Após a
divulgação, aumentou espontaneamente o contato entre os setores envolvidos. Através de
entrevistas, foi identificado que o principal motivo para esta aproximação foi o desejo de
compreender os desperdícios e suas causas.
Equivalente a um dia útil, este tempo de espera não permite o processamento mais adiantado
da documentação fiscal e a identificação rápida de divergências, assim como a correção e
análise das causas. A Figura 5 apresenta a aplicação da ferramenta “5 Porquês” para este
primeiro problema.
Figura 5 – Análise de 5 porquês realizada para o tempo de espera para recebimento da documentação fiscal
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Durante o brainstorming, foi encontrada uma solução considerada pela equipe como de fácil
implementação: os fornecedores já enviam para a empresa as notas fiscais eletrônicas logo
após a emissão. Assim, é possível antecipar sua análise.
A resolução das divergências exige tempo dos envolvidos, interrompe suas atividades normais
e causa estresse entre os setores.
A equipe decidiu focar sua análise nos dois tipos de problemas identificados através do
gráfico de Pareto (Figura 6) como responsáveis por 84,1% do tempo gasto para correção de
defeitos: as divergências de preços e alíquotas de impostos.
Figura 6 – Gráfico de Pareto com a participação de cada tipo de divergência no tempo total gasto no processo
para correção de defeitos (base: maio a julho de 2015)
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Após a identificação das causas, foi possível realizar um brainstorming para sugestão de
soluções, sendo colhidas dez propostas. As propostas foram analisadas quanto a seu impacto e
esforço. A figura 8 apresenta visualmente a avaliação de cada proposta.
Os cinco pontos em vermelho representam as propostas com maior impacto e menor esforço,
as quais foram selecionadas e expostas abaixo.
Determinar a análise prévia de notas fiscais eletrônicas pelo setor fiscal, de modo que
o despacho de material pelo fornecedor só seja realizado se a documentação fiscal
estiver aprovada.
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Assim, espera-se uma queda significativa no número de defeitos no processo. Com base na
experiência dos membros da equipe, estipulou-se a meta de redução de 50% do número de
pedidos de compra com divergências.
O tempo de agregação de valor representa 1,1% do lead time, uma melhora de 0,2 pontos
percentuais em relação ao estado anterior à aplicação dos conceitos de Lean Office.
Tabela 5 – Tempos projetados para o processo estudado após análise de possíveis melhorias
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A projeção das métricas elaborada pela equipe, de acordo com o novo mapeamento do fluxo
de valor, encontra-se na tabela 6.
Estado futuro
Métrica Estado atual (projetado) Variação
Percentual de pedidos de
8,50% 4,25% -50%
compra divergentes.
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5. Conclusões
Inicialmente, foi possível constatar que não houve impedimento à aplicação das etapas
sugeridas por Tapping e Shuker (2010), mostrando que estas são adequadas ao processo
administrativo estudado.
Como esperado, a natureza mais abstrata dos fluxos de informação dificultou o delineamento
do processo. Porém, a utilização de fluxogramas e do Value Stream Mapping permitiu que a
identificação do fluxo e seu mapeamento fossem realizados de forma mais fácil.
Além disso, espera-se que a implementação das melhorias resulte em um melhor ambiente de
trabalho para os colaboradores, assim com um melhor relacionamento entre as áreas
envolvidas.
6. Agradecimentos
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Os autores agradecem à CAPES, à FAPEMIG e ao CNPq pelo apoio financeiro, que permitiu
o desenvolvimento deste projeto.
REFERÊNCIAS
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