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1.INTRODUÇÃO
É crescente a busca das organizações pela qualidade de produtos, serviços, processos e também
a possibilidade de incremento significativo no desempenho organizacional, na mudança de cultura e
no aumento do capital humano. Nesta perspectiva, as organizações buscam “a diminuição dos
custos de produção a eliminação de desperdícios e a redução da variabilidade nos processos críticos
para o negócio” (SANTOS e MARTINS, 2008, p. 43).
Relacionado a isto, o Lean Manufacturing desde a década de 1980 vem ganhando a apreciação
das organizações na busca da competitividade através da “redução do tempo entre o pedido do
cliente e a entrega por meio da eliminação de desperdícios”. Isto ocorre através da identificação do
que agrega ou não valor na expectativa do cliente: “a interligação das etapas necessárias à produção
de bens no fluxo do valor, de tal modo que este avance sem interrupções, desvios, retornos, esperas
ou refugos; e a operação deste fluxo puxada pela demanda” (SILVA, MIYAKE, BATOCCHIO e
AGOSTINHO, 2011, p. 689). Isto direciona ao objetivo gerencial da organização na busca de
processos eficientes e eficazes, com foco na criação de valor, redução de desperdícios e
consequentemente de custos (MANN, 2005).
Sendo assim, o conceito Lean Manufacturing consolida uma abordagem abrangente que alinha à
implementação de estratégias promovendo a melhoria do desempenho do negócio priorizando a
melhoria contínua da qualidade de produtos e serviços, incremento da capacidade de inovação,
reduzindo custos e desperdícios. Considerando suas implicações, essas ações organizacionais vêm
ganhando cada vez mais destaque em todos os setores econômicos empresariais (SCHROEDER et
al., 2002; SANTOS, 2006; SANTOS e MARTINS, 2008).
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28 a 30 de agosto, Catalão, Goiás, Brasil
2. REFERENCIAL TEÓRICO
O termo “Lean” foi definido originalmente no livro “A Máquina que Mudou o Mundo” de
Womack, Jones e Ross (1990), em um estudo sobre a indústria automobilística no mundo e o uso
das práticas de produção enxuta do Sistema Toyota de Produção. De acordo com Womack e Jones
(1996), os 5 princípios do Lean são:
1. Precisamente definir o que é valor, por produto e sob ótica do cliente;
2. Identificar o fluxo de valor para cada produto;
3. Fazer o valor fluir sem interrupções;
4. Puxar;
5. Buscar a perfeição.
As origens do Lean remetem ao Sistema Toyota de Produção, e para Ohno (1997), os pilares do
SPT são: (i) automação, entendida como automação do toque humano, que se trata de direcionar
máquinas, equipamentos e pessoas de autonomia necessária de parar a produção sempre que uma
condição já estabelecida ou normal for atingida, como por exemplo, a quantidade produzida. Ou em
condição anormal, como por exemplo, os desvios de padrão de qualidade desejado; (ii) Just-in-time:
geração de estoque em níveis estritamente necessários ao sistema, de forma a produzir no tempo
exato apenas a quantidade necessária de produtos.
Liker e Meier (2007) apontam os 4Ps que explicam os princípios da produção enxuta:
i. Philosophy (Filosofia): filosofia enxuta em que os líderes enxergam a empresa como uma
forma de agregar valor aos clientes, à sociedade, comunidade e funcionários;
ii. Process (Processo): processos certos que geram resultados certos;
iii. People & Partners (Pessoas e Parcerias): pessoas e parcerias em desenvolvimento a longo
prazo direcionando a geração de valor aos clientes; uma forma de gerar valor aos clientes é a
organização desafiar seus funcionários a crescerem;
iv. Problem Solving (Solução de problemas): solução contínua da raiz dos problemas direciona
à aprendizagem organizacional e à melhoria contínua.
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Liker (2006) adiciona 14 reconhecidos princípios do Lean norteados pelos 4Ps apresentados,
conforme demonstra a figura (1).
Para Hopp e Spearman (2004), o Lean é um sistema que integra e realiza a produção de uma
determinada organização usando o mínimo de estoques e baixos custos. Shah e Ward (2007)
salientam que o Lean é um sistema sócio-técnico integrado com o principal objetivo de eliminar o
desperdício com a simultânea redução da variabilidade em fornecedores, clientes ou dentro da
empresa.
Godinho e Fernandes (2004) definem a Manufatura Enxuta uma estratégia integrada de gestão
que direciona a organização a certas situações do mercado e ajuda no alcance dos objetivos
organizacionais de desempenho (qualidade e produtividade), sendo um modelo comporto por uma
série de princípios (ideias, fundamentos e regras organizacionais) capacitores (ferramentas,
tecnologias e metodologias utilizadas).
3. METODOLOGIA
A pesquisa possui uma abordagem qualitativa, pois pode proporcionar uma visão e compreensão
melhor do problema em que a coleta de dados é analisada de forma interpretativa possibilitando
uma aproximação da fonte de coleta de dados (MALHOTRA, 2011). Neste sentido, a pesquisa
constitui um estudo de caso único com abordagem descritivo qualitativa.
Para análise de dados foi realizada a análise documental. Os documentos analisados foram
planilhas eletrônicas (Excel 2010), descrições de layout, tempos de processo e custos de produção.
Para Yin (2015) o uso de documentos colabora e valorizam as evidências, provenientes de uma
determinada fonte.
Assim, será apresentada através da documentação, a fonte de evidências e informações
possibilitando demonstrar como ocorreu a melhoria no processo através do Lean Manufacturing na
montadora automobilística localizada no estado de Goiás.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
As estufas possuem controlador lógico programável (CLP), responsável pelo controle de todas
as etapas do processo. Cada equipamento estava ajustado para 6 veículos por hora, totalizando 12
veículos por hora, com uma produção diária de 100 veículos. A tabela (2) apresenta a capacidade de
processamento das estufas de pintura.
Tabela 2: Capacidade de processamento das estufas de pintura (Fonte: Elaborado pelos autores)
Veículos Total
Horas /
Equipamento / de
dia
Hora Veículos
Para que haja o pleno funcionamento das estufas algumas fontes de energia são necessárias para
operacionalizar os equipamentos em questão: energia elétrica e gás liquefeito de petróleo (GLP). Na
organização objeto de estudo, o Quilowatt-hora (KWh) possui tarifas diferenciadas ao longo do dia,
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sendo R$ 0,20 das 00:00 ás 17 horas e 59 minutos e das 21 horas ás 23 horas e 59 minutos. O
horário compreendido das 18 ás 21 horas, também denominado de Horário de Ponta (HP) possui
tarifa de R$ 1,50. Já o GLP possui o custo de R$ 3,50 Kg.
O horário de Ponta sempre foi uma premissa para a organização não utilizar equipamentos de
produção em função do custo. Neste horário basicamente apenas iluminação do pátio de veículos
permanece ligada. A variável energia elétrica possuía assim relevância na análise. O custo mensal
gerado pelo consumo de energia elétrica e GLP é descrito na tabela (3).
Tabela 3: Custo Mensal com Energia Elétrica e GLP (Fonte: Elaborado pelos autores)
Custo
Dias KWh Kg/h
Variável Equipamento Quant. KWh KG/h Hs. Mensal
(Mês) (R$) (R$)
(R$)
Estufa
2 250 - 12 20 0,2 - 24000
Energia Primer
Elétrica Estufa
2 250 - 12 20 0,2 - 24000
Base/Verniz
Estufa
2 - 48 10,5 20 - 3,5 70560
Gás Primer
(GLP) Estufa
2 - 48 10,5 20 - 3,5 70560
Base/Verniz
TOTAL R$ 189.120
Em função de um volume diário menor que o projetado para o processo e que consequentemente
ocasionava ociosidade dos equipamentos, os engenheiros de produção, investigaram a possibilidade
de desligar uma estufa de primer e uma estufa de Base/Verniz. Para isso foi necessário duas ações:
aumentar a velocidade do transportador de piso responsável pelo arraste dos veículos dentro das
estufas elevando quantidade veículos processados de 6 para 9 veículos por hora e aumentar o tempo
de processo, que anteriormente finalizava as 17 horas e 10 minutos e que após a melhoria de
processo, o término passou a ser as 20 horas e 10 minutos. A tabela (4) ilustra os novos horários de
funcionamento das estufas após a realização do pensamento Lean Manufacturing.
Tabela (4): Horário de funcionamento das estufas (Fonte: Elaborado pelos autores)
Término
Tempo Processo Tempo Términ
Início do
Equip. Start de / de o do
Processo
Aquecimento Inicio do Resf. Resf.
Resfriamento
Estufa Primer 05:20 02:00 07:20 18:50 01:20 20:10
Estufa
Base/Verniz 05:30 01:50 07:20 18:50 01:20 20:10
Tabela (5): Custo Mensal com Energia Elétrica e GLP (Fonte: Elaborado pelos autores)
Custo
Dias Kg/h
Variável Equipamento Quant. KWh KG/h Hs. KWh Mensal
(Mês) (R$)
(R$) (R$)
Estufa 12 0,2 12000
1 250 - 20 -
Energia Primer 3 1,5 22500
Elétrica Estufa 12 0,2 12000
1 250 - 20 -
Base/Verniz 3 1,5 22500
Estufa
Gás Primer 1 - 48 13,5 20 - 3,5 45360
(GLP) Estufa
Base/Verniz 1 - 48 13,5 20 - 3,5 45360
TOTAL R$ 159.720
A Figura (3) ilustra a nova configuração de processo após a retirada de uma estufa de primer e
outra estufa de base/verniz.
A figura (4) ilustra o ganho acumulado no período de 11 meses entre os anos de 2017 e 2018.
0
jul/17 ago/17 set/17 out/17 nov/17 dez/17 jan/18 fev/18 mar/18 abr/18 mai/18
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Lean Manufacturing tem como essência a redução de desperdícios por meio da aplicação de
métodos, como os já citados Jidoka e Just-In-Time, lançando mão do uso de diversas ferramentas de
gestão. Isso se dá a partir da instauração de uma filosofia voltada para o desenvolvimento de uma
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produção mais enxuta possível, em busca de uma cultura que aumenta a produtividade da
organização.
O desperdício que foi constatado neste estudo está relacionado à utilização inadequada dos
equipamentos do setor de pintura da indústria automobilística objeto de estudo, conforme
apesentado nas discussões. Isso porque, ao não utilizar de maneira eficiente à completa capacidade
dos equipamentos, gerava-se desperdício, que não era tão nítido, porem ao se aplicar o pensamento
enxuto, foi possível descobrir o quanto e onde pode se obter resultados satisfatórios no processo
produtivo.
Ao final desta pesquisa ficou evidente, que o pensamento Lean Manufacturing, é realmente uma
metodologia muito valiosa para as organizações que se preocupam em atender de maneira eficiente
seus clientes. Observa-se que houve sucesso na aplicação do pensamento Lean na montadora de
veículos, pois sem nenhum investimento inicial, a aplicação do Lean trouxe redução no custo de
pintura do veiculo. A partir dessa melhoria, entende-se que a presente filosofia pode ser estendida
para outras áreas da organização, o que consequentemente trará mais resultados dentro do processo
produtivo.
Diante deste contexto, entende-se que é possível a organização BETA reproduza o pensamento
Lean para restante da planta com objetivo de eliminar o desperdício ao longo de todo o fluxo de
valor, em vez de pontos isolados, criar processos com menos esforço humano, menos espaço,
menos capital e menos tempo para fabricar produtos e serviços a custos muito menores e com muito
menos defeitos, em comparação com sistemas tradicionais de negócios. Com certeza o
gerenciamento de informações se tornará muito mais simples e preciso.
6. REFERÊNCIAS
HAYES, R.; PISANO, G.; UPTON, D.; WHEELWRIGHT, S. Operations, Strategy, and
Technology: Pursuing the Competitive Edge. Hoboken: John Wiley & Sons, 2005.
HOPP, W. J.; SPEARMAN, M. L. To pull or not to pull: what is the question? Manufacturing &
Service Operations Management, 6(2), 133-148, 2004.
LIKER, J.; MEIER, D. Modelo Toyota - Manual de Aplicação: Um Guia Prático Para a
Implementação dos 4Ps da Toyota. Porto Alegre: Bookman, 2007.
MANN, D. W. Creating a lean culture: tools to sustain lean conversions. New York:
Productivity Press, 2005. 224p.
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OHNO, T. O Sistema Toyota de Produção: além da produção em larga escala. Porto Alegre:
Bokman, 1997.
SHAH, R.; WARD, P. T. Defining and developing measures of Lean production. Journal of
Operations Management, 25(4), 785-805, 2007.
SANTOS, A. B.; MARTINS, M. F. Modelo de referência para estruturar o Seis Sigma nas
organizações. Gestão & Produção, v. 15, n. 1, p. 43-56, jan.-abr. 2008.
SCHROEDER, R. G.; LINDERMAN, K.; LIEDTKE, C.; CHOO, A. S. Six sigma: old wine in
new bottles? Working Paper, Carlson School of Management, University of Minnesota, Dec.,
2002.
SILVA, I. B.; MIYAKE, D. I.; BATOCCHIO, A.; AGOSTINHO, O. L. Integrando a promoção das
metodologias Lean Manufacturing e Six Sigma na busca de produtividade e qualidade numa
empresa fabricante de autopeças. Gest. Prod., São Carlos, v. 18, n. 4, p. 687-704, 2011.
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2015.
WHEELWRIGHT, S.; HAYES, R. Competing through manufacturing. Harvard Business Review,
v. 63, n. 1, p. 99-109, 1985.
WOMACK, J. P., JONES, D. T., & ROSS, D. A máquina que mudou o mundo. Rio de Janeiro:
Campus, 1992.
7. RESPONSABILIDADE AUTORAL