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ISSN: 2596-1934
RESUMO
O Lean Manufacturing é uma das metodologias de melhoria contínua mais utilizadas e é considerada
uma vantagem competitiva. Porém para a sua efetiva implementação é necessário medir o seu
desempenho na empresa e esta medição é obtida por meio de modelos e avaliaçoes de maturidade.
Portanto, o presente trabalho tem por objetivo realizar uma análise dos modelos de maturidade em
Lean Manufacturing. A metodologia utilizada foi a análise bibliográfica exploratória (qualitativa e
quantitativa) na base de dados web of science e os resultados são apresentados. Os modelos de
maturidade em Lean Manufacturing Relavantes, publicados entre 2010 e 2019, são discutidos e
comparados. Foi observado que ainda existe a predominância dos modelos aplicáveis a ambientes
industriais e a ausência deste tipo de modelo para outros setores.
ABSTRACT
Lean manufacturing is one of the most spread of continuous improvement methodologies and it is
recognozed as a competitive advantage. However, in order to have an effective implementation is
necessary to measure its performance in the company and this measurement is achieved through the
maturity models and assessments. Thus, the present paper has the purpose of analyzing the lean
manufacturing maturity models. The methodology applied was an exploratory literature review
(quantitative and quantitative) through the web of science database and the results are presented.
Relevant Lean Manufacturing maturity models published between 2010 and 2019, were discussed
and compared. A predominance of models for industrial environments and the lack of this type of
models for other sectors were observed.
1 INTRODUÇÃO
O avanço da tecnologia entre outras consequências, tem favorecido a globalização; e esta
por sua vez tornou o ambiente industrial, cada vez mais competitivo. Somando-se a isto a atual
situação econômica, as empresas tem buscado alternativas para se manterem competitivas no
mercado. Somente desenvolver metas a curto prazo já não é suficiente e é necessário desenvolver
estratégias de manufatura para melhorar a capacidade e a flexibilidade a longo prazo (SETIANTO;
HADDUD, 2016). Além disto, as pequenas melhorias incrementais podem gerar resultados a longo
prazo e que podem ser alcançados com base em uma filosofia de melhoria contínua (SANTOS
BENTO; TONTINI, 2018). Uma das metodologias mais reconhecidas deste meio é o lean
manufacturing (manufatura enxuta).
O lean manufacturing tornou-se popular após o sucesso alcançado pela Toyota (OHNO,
1997) e diversas empresas em todo mundo almejam implementar esta metodologia (WOMACK;
JONES; ROOS, 1990). Seu principal objetivo é eliminar o desperdício e atingir altos níveis de
eficiência nos processos (OHNO, 1997). Algumas ferramentas são utilizadas para atingi-los, como
por exemplo: Kanban, JIT (Just-In-Time), gestão visual, trabalho padronizado, nivelamento da
produção e outras mais. Porém, a implementação destas ferramentas são basicamente físicas e
representam somente 20% do esforço necessário para se atingir os objetivos principais, os outros
80% dependem de uma mudança do modo de se pensar e agir para se alcançar o sucesso desejado
(MANN, 2014). E assim se estabelece a necessidade da mudança do pensamento de produção em
massa para a mentalidade enxuta, que é uma tarefa pouco óbvia e muito exigente (MANN, 2014).
Porém para a implementação de qualquer metodologia de melhoria contínua é necessário
diferenciar empresas imaturas e maduras. Esta diferenciação pode ser obtida por meio de avaliações
estruturadas, para preparar as empresas para a implementação bem- sucedida do programa lean
manufacturing (PAULK et al., 1993; SARSHAR et al., 2000). Isto permite que a empresa
identifique os seus pontos fortes e fracos e possa estabelecer um plano de ação com base em critérios
pré-definidos e consiga obter o desenvolvimento desejado (ABNT, 2019)
Diversos modelos de avaliação de maturidade do programa lean manufacturing foram
propostos por especialistas em gestão, como por exemplo: Lean Self- Assessment Tool, que foca no
grau de enxugamento da organização e sua facilidade para mudança (NIGHTINGALE; MIZE,
2002), Lean Management System Assessment, que foca no grau de enxugamento da organização
com base nos processos e comportamentos de um gerenciamento lean (MANN, 2014) outros.
2 REVISÃO BIBLOGRÁFICA
Este capítulo apresenta uma revisão bibliográfica referente a origem e evolução do lean
manufacturing, assim como a sua definição, princípios, elementos e ferramentas adotadas. Em
seguida, apresenta-se uma revisão bibliográfica referente a origem e definição do modelo de
maturidade em capacitação, e a discussão da relação entre este modelo de maturidade em
capacitação em ambientes de operação lean manufacturing.
Os principais pilares para a sua sustentação são: Just-in-time e a Automação (OHNO, 1997).
Porém, existem autores que defendem que os seus pilares são: Melhoria Contínua e o Respeito pelas
Pessoas (LIKER; DAVID, 2007).
Quaisquer que sejam os princípios adotados, a eliminação do desperdício ocorre com base
nas oito grandes perdas a serem evitadas: superprodução, espera, transporte ou movimentação
excessiva, super processamento, excesso de estoque, movimento desnecessário, defeitos e
desperdício de criatividade dos funcionários. Os sete primeiros desperdícios foram definidos por
Ohno (1997) e o oitavo foi adicionado por Liker e David (2007). De acordo com Ohno (1997), a
superprodução é o pior desperdício, pois pode ocasionar todos os outros.
As ferramentas ou práticas são instrumentos e/ou métodos para se alcançar determinado
objetivo. No caso do lean manufacturing, foram desenvolvidas algumas ferramentas que auxiliam
na redução do tempo dos processos e inventário, e na criação de capacidade adicional. Segundo
Ohno (1997), todas as ferramentas foram desenvolvidas ao longo do tempo com base na busca pela
eliminação dos desperdícios e podem ser implementadas de acordo com as necessidades de cada
empresa e só devem ser implementadas após um diagnóstico prévio.
Nível 1 - Inicial Processos são desorganizados, poucos são definidos. Esforços são individuais.
3 MÉTODO
Os métodos de pesquisa são fundamentais para se compreender a realidade e devem ser
estruturados com base em alguns critérios, como por exemplo: abordagem, objetivo do estudo
método científico, entre outros (LACERDA et al., 2007). Portanto, este artigo é descritivo e
exploratório com um abordagem qualitativa.
Uma análise crítica das publicações foi utilizada para analisar os artigos publicados entre
2010 e 2020. Utilizou-se a base de dados da Web of Science (WoS) para a busca de material
científico referente a este estudo. A pesquisa foi realizada, primeiramente, com as seguintes
palavras-chave: lean manufacturing ou Sistema Toyota de Produção. A segunda pesquisa foi
realizada com as palavras-chave: modelo de maturidade ou avaliação de maturidade. A terceira
pesquisa foi realizada com as palavras-chave: lean manufacturing ou Sistema Toyota de Produção
e modelo de maturidade ou avaliação de maturidade.
Após a busca, realizou-se uma análise crítica das publicações listadas para determinar os
modelos de maturidade mais relevantes e compará-los.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
As pesquisas realizadas, a primeira delas com as palavras-chave: lean manufacturing ou
Sistema Toyota de Produção, resultou em um total de 2.465 publicações entre 1977 e 2019. Na
segunda obteve-se um total de 3.285 publicações entre 1954 e 2019. É possível verificar o aumento
considerável de publicações nas últimas duas décadas, relacionadas a esses dois temas. Porém,
quando se realizou a busca com as palavras-chave: lean ou Sistema Toyota de Produção e modelo
de maturidade ou avaliação de maturidade, a quantidade total de publicações foi de 47 entre 1993 e
2019. Todos os resultados são apresentados na Figura 1.
350
Lean Manufacturing
300
100
50
0
1954 1982 1992 2001 2010 2019
Fonte: Web of Science (2020)
Para o refinamento das publicações e determinação das mais relevantes para uma análise
comparativa, realizou-se uma análise crítica dos seus respectivos resumos e obteve-se um total 23
publicações relevantes e destas, foram identificados seis modelos de maturidade para o programa
lean manufacturing. Os modelos que propõem uma avaliação de maturidade baseada na integração
do lean manufacturing com outros programas foram desconsiderados nesta análise, por enfatizarem
este nível de integração entre os programas.
O modelo proposto por Omotayo et al. (2019) foi adaptado do CMM para permitir a
implementação e avaliação do processo de melhoria contínua para empresas de pequeno e médio
porte do ramo da construção civil na Nigéria. Os autores estabelece cinco variáveis-chave (cultura
organizacional, comunicação, política de redução de desperdício, técnicas de controle de custo pós-
contrato e análise crítica pós-projeto), que influenciam no sucesso do programa e com base nisso,
propõem um roteiro para a implementação do programa, assim como diretrizes e tempo
aproximados para conseguir atingir cada um dos cinco níveis. Porém, os autores não propõem
nenhum método específico e detalhado para a avaliação do progresso da implementação.
O modelo Lean Maturity Assessment (SANTHIAPILLAI; CHANDIMA RATNAYAKE,
2019) foi desenvolvido com base nos oito desperdícios definidos por Ohno (1997). Para cada um
dos desperdícios foram determinadas atividades que não agregam valor, e somam um total de 33
atividades. Os autores propõem que a avaliação da maturidade deve ser realizada com base na média
das pontuações de cada desperdício, de modo a determinar o Índice de Maturidade Individual (IMS),
que por sua vez, é utilizado no cálculo do Lean Maturity Score (LMS). Os autores determinam cinco
níveis de maturidade e a pontuação, que foram baseado no Lean Management Maturity Self-
Assessment Tool (URBAN, 2015). Este modelo foi validado e é aplicável somente para o processo
de desenvolvimento de produtos.
Já o modelo desenvolvido por Santos Bento e Tontini (2018) foi baseado no CMMI e gerou
o instrumento denominado Lean Manufacturing Maturity Model. O instrumento contém 38
questões, que foram baseadas em oito dimensões, que são: planejamento estratégico, qualidade na
fonte, solução de problemas, pessoas, melhoria contínua, integração com o fornecedor e foco no
cliente. A pontuação de cada dimensão é determinada através moda, o que determina o nível de
maturidade. O instrumento foi validado em diversas indústrias brasileiras.
O Lean Maturity Model for Operational Level Planning (ALI MAASOUMAN; DEMIRLI,
2015; MAASOUMAN; DEMIRLI, 2016) foi desenvolvido com base nos sete eixos, que são:
pessoas, gestão de estruturas, condição de trabalho, processo de produção, qualidade, JIT (Just-In-
Time) e liderança. A avaliação é conduzida a partir de listas de verificação e análise dos indicadores,
onde determina-se o índice de aderência para cada eixo e cada nível de maturidade a partir da lógica
fuzzy. Os autores definem quatro níveis de maturidade, principal foco de cada nível e os resultados
esperados. Este modelo é somente aplicado a unidades produtivas, ou seja, células de manufatura.
Fonte: os autores
O modelo desenvolvido por Urban (2015) foi denominado Lean Self-Assessment Tool e é
baseado em cinco dimensões, que são: visão lean, liderança, fluxo de valor, melhoria operacional e
tratamento das pessoas. Uma lista de verificação foi desenvolvida e a soma das pontuações
determinam o índice de maturidade, que pode variar de 0 a 100. Autor não indica limitações para o
uso do modelo e enfatiza a presença de componentes, que avaliam a cultura organizacional.
O modelo Lean Assessment Tool (LAT) foi proposto por Pakdil e Leonard (2014) e é baseado
em oito dimensões, que são: função tempo, qualidade, processo, custo, inventário, recursos
humanos, entrega e cliente. Estas dimensões foram definidas com base nos sete desperdícios
definidos por Ohno (1997). Este instrumento possui avaliações quantitativas realizadas com base
nos indicadores e qualitativas, realizadas com base em um questionário para a pontuação de cada
dimensão. Após a coleta dos dados, utiliza-se a lógica fuzzy para o cálculo dos índices geral de cada
dimensão.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Primeiramente, este trabalho pesquisou publicações relacionadas ao tema de Modelos de
Maturidade e Lean Manufacturing e percebeu-se uma elevada taxa de crescimento, quando se
compararam os dados de 1993 com 2019. Porém, ao se analisar a taxa de crescimento do tema
Modelos de Maturidade em Lean Manufacturing, percebeu-se um crescimento inferior, quando
comparada a taxa de crescimento dos dois temas mencionados anteriormente.
Posteriormente, analisaram-se criticamente os Modelos de Maturidade em Lean
Manufacturing publicados de 2010 até 2019, após refinamento o refinamento da pesquisa, e obteve-
se um total de seis modelos relevantes para comparação.
Com base nesta comparação, observou-se que há predominância de modelos somente
aplicáveis a ambientes industriais, o que demonstra que essa metodologia ainda é amplamente
aplicada neste ambiente. A maior parte dos modelos possuem avaliações qualitativas e podem não
capturar o resultado efetivo do programa lean manufacturing na empresa. Porém, mesmo os
modelos quantitativos podem não capturar o resultado efetivo, pois pode haver viés na coleta de
dados e determinação dos indicadores de performance a serem analisados. Entretanto, qualquer
modelo que seja utilizado terá as suas vantagens e desvantagens, que deverão ser analisadas antes
de sua aplicação. Apesar de possuir uma avaliação qualitativa, o modelo de Mann (2014) foi
amplamente aplicado em indústrias, mas também em empresas do setor de saúde e administrativo.
O modelo de Maasouman e Demirli (2016) sugere a customização da avaliação com base nas
características específicas de cada setor/tipo de negócio.
Porém percebe-se um gap, principalmente em modelos para o setor de serviços (comércio
eletrônico, logística, saúde, etc.).
REFERÊNCIAS
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISO 9004: Sistema de Gestão para o sucesso
sustentado de uma organização, Rio de Janeiro: ABNT, 2019.
ALI MAASOUMAN, M.; DEMIRLI, K. Assessment of lean maturity level in manufacturing cells.
IFAC-PapersOnLine, v. 28, n. 3, p. 1876–1881, 2015.
MAASOUMAN, M. A.; DEMIRLI, K. Development of a lean maturity model for operational level
planning. International Journal of Advanced Manufacturing Technology, v. 83, n. 5–8, p. 1171–
1188, 2016.
OMOTAYO, T. S. et al. Systems thinking and CMM for continuous improvement in the
construction industry. International Journal of Productivity and Performance Management, v.
69, n. 2, p. 271–296, 2019.
PAKDIL, F.; LEONARD, K. M. Criteria for a lean organisation: Development of a lean assessment
tool. International Journal of Production Research, v. 52, n. 15, p. 4587–4607, 2014.
PAULK, M. C. et al. Capability Maturity Model for Software, Version 1.1. Pittsburgh: 1993.
SARSHAR, M. et al. SPICE: a business process diagnostics tool for construction projects.
Engineering, Construction and Architectural Management, v. 7, n. 3, p. 241–250, 2000.
WOMACK, J. P.; JONES, D. T.; ROOS, D. A máquina que mudou o mundoWorld, 1990.