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XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO

Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil


João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

GESTÃO DE ESTOQUES: UM ESTUDO DE


CASO DA INDÚSTRIA DE PNEUMÁTICOS
Caroline Sequeira Paiva Antonio (UFABC )
eder.abensur@ufabc.edu.br
Danielly Ribeiro Castro (UFABC )
eder.abensur@ufabc.edu.br
Eder Oliveira Abensur (UFABC )
eder.abensur@ufabc.edu.br

A gestão de compras e estoques tem desempenhado um papel estratégico


no comportamento competitivo das empresas, pois apresenta reflexos
imediatos nos resultados comerciais e financeiros da organização. Este
estudo analisou as principais deffinições sobre custos de estoques e
desenvolveu um modelo matemático para suporte à gestão de estoques de
um agente acelerante numa tradicional indústria de pneumáticos instalada
no Brasil.

Palavras-chave: Gestão de estoques, custos de estoques, programação


linear inteira
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1. Introdução

A gestão de compras tem desempenhado um papel estratégico nos negócios, pois o resultado de
suas ações não se limita ao valor do custo de um produto ou serviço, mas influencia diretamente a
competitividade da empresa no mercado e até mesmo limita ou libera recursos a serem
investidos. A área de compras corresponde a uma atividade de apoio fundamental ao processo
produtivo, suprindo-o com todas as necessidades de materiais, o que significa responsabilidade
preponderante nos resultados de uma empresa (POZO, 2010).

Em conjunto à gestão de compras, está a gestão dos estoques, que tem relação de
interdependência, uma vez que alterações na política de estoques possibilitam mudanças no perfil
de compras e suas negociações, e seu desempenho tem reflexos imediatos nos resultados
comerciais e financeiros da empresa (NAPIERALA, 2009).

A existência do estoque é necessária para que a empresa consiga conciliar as diferenças entre
fornecimento e demanda, proporcionando segurança em um ambiente complexo e incerto. A
demanda, conforme Robinson, Narayanan e Sahin (2009), é dinâmica ao longo do horizonte de
planejamento. Portanto, como não é possível conhecer exatamente a demanda futura, e como nem
sempre os suprimentos estão disponíveis a qualquer momento, o acúmulo de estoque deve
garantir a disponibilidade de mercadorias e minimizar os custos totais de produção e distribuição
(NAPIERALA, 2009).

De acordo com Slack (2009), há cinco razões principais para a manutenção do estoque:
 Conseguir suportar as interrupções ocasionais e não esperadas no fornecimento ou
demanda, ou seja, compensar as incertezas inerentes a fornecimento e demanda (estoque
de segurança);
 Um ou mais estágios na operação não podem fornecer simultaneamente todos os itens que
produzem, logo, com o estoque, tornar-se possível lidar com esta inabilidade de
fabricação simultânea de todos os produtos (estoque de ciclo);

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 Permitir que diferentes estágios do processamento operem em velocidades e


programações diferentes e independentes, maximizando a utilização local e a eficiência
dos equipamentos e operadores (estoque de desacoplamento);
 Compensar as flutuações conhecidas no fornecimento ou na demanda, lidando com a
demanda sazonal (estoque de antecipação);
 Lidar com os tempos de transporte na rede de suprimentos (estoque no canal de
distribuição).

Entretanto, a manutenção de estoque não é algo simples e seu gerenciamento apresenta um


dilema que proporciona grandes dificuldades para tomadas de decisão. Se por um lado os
estoques são capazes de oferecer um relevante nível de segurança em ambientes incertos, o que
facilita a conciliação entre fornecimento e demanda, por outro lado, são custosos, comprometem
consideráveis quantias de capital de giro, ocupam espaços que poderiam ser utilizados para
agregar valor, acarretam custos de armazenagem, e sua manutenção pode representar um risco à
empresa, já que os itens estocados podem deteriorar-se, tornar-se obsoletos ou perder-se
(NAPIERALA, 2009).

Com isso, é possível notar que a gestão de compras e estoques envolve duas questões
fundamentais: (i) o custo de compra unitário, o qual pode ser reduzido ao elevarmos a quantidade
a ser comprada, devido aos descontos de preço e (ii) a elevação dos custos de estoque em relação
à armazenagem e ao capital de giro devido ao aumento da quantidade nele mantida.

Neste trabalho, estudou-se a gestão de compras e estoque de uma empresa multinacional de


pneumáticos. A empresa é uma multinacional líder no segmento de pneumáticos premium com
elevado conteúdo tecnológico que, com mais de um século de atuação, possui uma longa tradição
industrial. Em particular, foi avaliada a gestão de estoques dos agentes acelerantes considerados
como uma matéria-prima crítica e fundamental à fabricação dos pneus.

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Este estudo também desenvolveu um modelo matemático para suporte às decisões de compras
fundamentadas na técnica de Programação Linear Inteira (PLI). Através da inserção no modelo
das informações reais da empresa, seguindo as restrições referentes ao sistema, obteve-se uma
solução otimizada para a decisão de compras de um agente acelerante como matéria-prima no
processo produtivo de pneus, buscando os menores custos relacionados à gestão de compras e
estoques do produto em estudo. Por fim, fez-se a comparação entre os custos de gestão de
compras e estoques gerados pelo modelo proposto e os custos apresentados no histórico da
empresa, a fim de analisar os ganhos financeiros com a aplicação do modelo.

Atualmente, a gestão de compras do agente acelerante é feita com o objetivo de minimizar a


quantidade estocada e atender às demandas. Nenhum estudo foi realizado no sentido de,
simultaneamente, minimizar os custos totais com frete e estoque. Além disso, nunca houve uma
avaliação sobre os impactos de antecipação de compras e armazenamento de matéria-prima sob
uma ótica de médio e longo prazo.

2. Fundamentação teórica

2.1. Gestão de estoques

A questão da manutenção do estoque envolve pontos de vistas opostos. Enquanto existem muitos
ensejos a favor da manutenção dos estoques, tanto outros consideram a conservação dos estoques
como ato imprudente.

Nessa discussão sobre perspectivas conflitantes na gestão de estoque, os custos envolvidos


tornam-se proeminentes e, direta ou indiretamente, contribuem para a competitividade das
empresas no mercado. A seguir, serão expostos os custos envolvidos na gestão de estoque, de
acordo com a visão de importantes autores da Administração da Produção.

Segundo Gaither e Frazier (1999), ao optar pela manutenção de elevados estoques, é possível
reduzir os seguintes custos:

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 Custos de emissão do pedido: Com a compra de lotes maiores, haverá uma


elevação nos níveis do estoque, porém serão necessários menos pedidos de compra
e, consequentemente, tais custos relacionados serão reduzidos;
 Custos de stockout: Custos relacionados às interrupções na produção, vendas
perdidas e insatisfações de clientes devidos à falta de estoque;
 Custos de aquisição: ao comprar lotes maiores, os custos unitários podem ser
diminuídos devido aos descontos oferecidos pela quantidade e pelos menores
custos de frete e manuseio do material;
 Custos da qualidade na partida: Lotes maiores reduzem a quantidade de mudanças
realizadas, o que resulta na redução dos custos relacionados a todo o processo de
preparação que essa mudança exige.
No entanto, Gaither e Frazier (1999) também apontam custos que se elevam à medida que a
quantidade mantida em estoque aumenta. São eles:
 Custos da manutenção em estoque: englobam diversos custos relacionados ao
armazenamento desse estoque, tais quais aluguel do armazém, iluminação,
resfriamento, aquecimento, limpeza, proteção, conserto, impostos e também dos
juros de renda não auferida;
 Custos da receptividade do cliente: o sistema de produção pode ser obstruído por
grandes estoques tornando-o inflexível;
 Custos para coordenar a produção: contratação de mais mão de obra para resolver
problemas com congestionamentos, engarrafamentos na produção e coordenar
programas;
 Custos de redução do retorno sobre o investimento (ROI): grandes estoques
proporcionam uma redução do retorno sobre o investimento;
 Custos da capacidade reduzida: materiais perdidos, guardados e produzidos antes
que sejam necessários desperdiçam a capacidade de produção da empresa;
 Custos da qualidade de lotes grandes: tamanhos de lotes menores reduziriam a
quantidade de produtos defeituosos e seus custos envolvidos;
 Custos de problemas de produção: problemas de produção subjacentes podem ser
camuflados pelo processo de estoques mais elevados.

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Segundo Krajewski et al (2009) o papel do gerente está em encontrar o equilíbrio entre as


vantagens e desvantagens das duas situações de estoque. Há custos que são reduzidos a partir da
manutenção de níveis de estoques mais elevados, tais quais:
 Atendimento ao cliente: a geração de estoque reflete na aceleração e melhoria da
pontualidade da entrega, reduzindo perdas de vendas do produto por insatisfação
de clientes;
 Custo do pedido: quanto menor a quantidade de pedidos a ser realizada, o que
implica em compra de lotes maiores, menores serão estes custos;
 Custo de setup: Estão relacionados aos custos de preparação de uma máquina para
iniciar a produção de um produto diferente, envolvendo limpeza, troca e até
mesmo novas ferramentas;
 Utilização de mão de obra e equipamento: ao efetuar pedidos de produção maiores
e menos frequentes, haverá uma significativa redução do número de preparações
improdutivas;
 Custo de transporte: com níveis de estoque mais elevados, elimina-se o uso de
modalidades de transporte mais caras, as quais ocorrem por necessidade e urgência
de matéria-prima ou produto. O aumento da quantidade de pedidos, que podem
levar a descontos nos preços, reduz os custos de transporte e de matérias-primas;
 Pagamentos a fornecedores: tolerando níveis de estoques mais altos, a empresa
pode negociar com os fornecedores, buscando reduzir os pagamentos totais.

Em contrapartida, procurando-se manter níveis de estoque mais baixos, serão reduzidos os


seguintes custos:
 Custo de capital: trata-se do custo de oportunidade de investimento em um ativo
em relação ao retorno esperado dos ativos de risco semelhante;
 Custo de armazenamento e manuseio: envolve o aluguel do espaço e custos
referentes ao manuseio do estoque entre as instalações da empresa;
 Encargos, seguros e perdas: custos com os furtos de estoque, obsolescência e
deterioração por meio de estrago ou dano físico.

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Segundo Slack (2009), há custos que estão diretamente relacionados ao tamanho do pedido. São
eles:
 Custo de colocação do pedido: algumas transações são necessárias no processo de
reabastecimento de um pedido no estoque. Tais procedimentos envolvem custos para a
empresa;
 Custos de descontos de preço: para grandes quantidades compradas podem ser oferecidos
descontos sobre o preço normal, o que proporciona uma redução no custo do preço
unitário do produto;
 Custos de falta de estoque: se a quantidade comprada para reabastecimento do estoque
não for suficiente ou se houver um erro em relação ao período em que a compra deveria
ser feita, a consequência pode ser a falta de produtos no estoque, o que acarreta em
problemas à empresa, como por exemplo, tempo ocioso no processo produtivo,
penalidades e/ou insatisfação de clientes;
 Custos de capital de giro: custo contábil (associado aos juros pagos aos bancos por
empréstimos) e/ou custo econômico (custos de oportunidade pelo não investimento em
outras alternativas);
 Custos de armazenagem: relacionados à armazenagem física no estoque, tais quais:
iluminação, aluguel, seguro, pessoal, equipamentos etc;
 Custos de obsolescência: pertinente ao risco dos itens estocados tornarem-se obsoletos ou
deteriorarem-se com o passar do tempo;
 Custos de ineficiência de produção: altos níveis de estoques podem resultar no
impedimento da visão da completa extensão dos problemas dentro da produção.

Os principais custos referentes à discussão sobre gestão de estoque encontram-se resumidos no


quadro 1. Nela, ficam evidentes os pontos comuns e os divergentes entre os autores estudados,
sendo que os custos localizados na mesma linha abordam o mesmo assunto, porém receberam

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denominações diferentes por cada autor. É possível notar também que entre os autores há uma
diversificação em relação ao detalhamento do estudo dos custos de estoque.

Quadro 1 - Comparativo da abordagem dos custos de estoque

Slack Gaither e Frazier Krajewski et al

Custo de colocação do Custo de emissão do


Pontos a favor da manutenção de

Custo do pedido
níveis elevados no estoque

pedido pedido

Custos de falta de estoque Custos de stockout Atendimento ao cliente

Custo de
Custos de descontos de
Custos de aquisição transporte/Pagamentos a
preço
fornecedores
Custos de qualidade na
- Custos de Setup
partida
Utilização de mão de obra
- -
e equipamento
Pontos contra a manutenção de níveis elevados no estoque

Custos de capital de giro Custo de redução do ROI Custos de capital

Custos da manutenção em Custo de manuseio e


Custos de armazenagem
estoque armazenamento

Custos de obsolescência - Encargos, seguros e perdas

Custos de ineficiência da Custos de problemas de


-
produção produção

Custos de receptividade
- -
do cliente

Custos para coordenar a


- -
produção
Custos da capacidade
- -
reduzida

Custo da qualidade de
- -
lotes grandes

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2.2. Programação Linear Inteira (PLI)

A modelagem de problemas de PLI é muito parecida com a modelagem de problemas de


Programação Linear (PL). A diferença fica por conta de que pelo menos parte das variáveis é de
números inteiros. Em termos de programação matemática, há duas classes importantes de
números inteiros: os números inteiros genéricos (1,2,3,...) e os números inteiros 0 e 1. Os
números 0-1 representam fenômenos do tipo sim e não, presença e ausência, verdadeiro e falso,
aberto e fechado (COLIN, 2007).

Todo problema de PLI pode ser representado por uma forma-padrão, ou seja, qualquer situação
cuja formulação matemática se encaixe no modelo abaixo é um problema de programação linear
inteira.

max/ min Z  c1 x1  c 2 x 2  .....  cnxn


s.a.
a11 x1  a12 x 2  ............  a1nxn  b1
a 21 x1  a 22 x 2  .........  a 2 nxn  b 2
...... ......... ......... ......

am1 x1  am 2 x 2  .........  amnxn  bm


x1, x 2,...., xn  0
x1, x 2,...., xn  N

A função que está sendo maximizada e/ou minimizada, Z=c1x1+c2x2+ .... +cnxn é chamada

“função objetivo”. As limitações são normalmente denominadas “restrições” e as variáveis


x1,x2,...., xn são conhecidas como variáveis de decisão (HILLIER; LIEBERMAN, 2010).

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3. Metodologia da Pesquisa

Escolheu-se o estudo de caso como metodologia para realização deste estudo de caráter analítico
sobre um problema específico (no caso, a gestão de compras e estoque de um agente acelerante
essencial ao processo de vulcanização da empresa), em que, além de seu entendimento e análise,
propôs-se um modelo matemático que utiliza a técnica de PLI e possibilita a tomada de decisão
através da consideração dos custos envolvidos. A aplicação deste modelo foi confrontada com o
atual modelo de gestão, que não utiliza a relação dos custos como referência.

4. Análise sobre a atual gestão de compras e estoques da empresa analisada


Através de entrevistas com profissionais da empresa e da consulta à documentação, foi possível
caracterizar o atual cenário do sistema de gestão de compras e estoque do agente acelerante em
questão.

Atualmente, o responsável pela compra deste produto químico recebe do MRP (Material
Requirements Planning) as demandas previstas para todo ano e, com base nestes dados e na
quantidade do produto em estoque, é feito o planejamento da quantidade a ser comprada a cada
mês. A demanda apresenta baixa variação e pode ser encontrada na tabela 1 abaixo. Este produto
fica armazenado em pallets, conforme apresentado na figura 1, e não necessita de condições
especiais de armazenagem.

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Tabela 1 - Demanda do agente acelerante


no período de 2012

Figura 1 - Pallet de armazenagem do acelerante

O estoque de segurança deste produto é de 15 toneladas, quantidade suficiente para atender à


demanda de um mês, caso ocorra algum imprevisto. A limitação máxima do estoque, devido ao

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espaço físico, é de 35 toneladas. Este valor foi considerado observando o máximo valor estocado
nos anos de 2012 e 2013.

Considerando que o produto em questão é importado por via marítima da Dinamarca, a compra é
realizada com três meses de antecedência, a fim de garantir que o produto chegue à fábrica no
momento certo. Além disso, um fato importante a ser considerado é que este é o único fornecedor
homologado para esta matéria-prima.

Para importar produtos via marítima, é necessária a locação de containers. Há três tamanhos de
containers: 20 pés, 40 pés e 40 pés HC (High Cube). Na figura 2 temos as dimensões de cada um
dos containers e na tabela 2 estão os valores da locação de cada container e as quantidades desta
matéria-prima que pode ser transportada em cada um.

Figura 2 - Dimensões dos containers de 20 pés, 40 pés e 40 pés HC

Fonte: Euromed (2013)

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Tabela 2 - Custos por tipo de container (R$) e quantidades transportadas (t)

A determinação da quantidade a ser comprada é feita com o objetivo de atender a demanda


prevista e manter a quantidade estocada o mais próximo possível do nível de segurança. Há
atualmente um indicador que mede o nível de estoque de cada matéria prima estocada, chamado
“Meta Estoque”. As pessoas responsáveis pela compra das matérias-primas são instruídas a
manter esta “Meta Estoque” próxima ao nível de segurança, sendo altamente cobradas por isso.

Através da análise da situação atual, pode-se notar que o foco está apenas em atender à demanda
e manter uma meta estoque baixa, não havendo nenhuma consideração sobre a diminuição dos
custos com a compra e estocagem desta matéria-prima.

5. O modelo matemático proposto

A fim de propor um modelo de suporte à gestão de compras e estoque, elaborou-se um modelo


matemático operacionalizado com o auxílio da planilha Excel e do pacote de otimização Solver
do Microsoft Excel ®.

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min Z    xijCci    xijCapiCMp    Ej  xijCapi  Dj  Ca    Ej  xijCapi  Dj  CMp  TMA  (custo total ) (1)
i 1 j 1

s.a.
35  Ej  xijCapi  Dj  15t (estocagem) (2)
3

x
i 1
ij 1 (containers por mês ) (3)

xij  
Onde:
xij = quantidade de containers do tipo i comprados no mês j
Ca = custo unitário de armazenagem
CMP = custo de matéria prima
Capi = capacidade do container do tipo i
Cci = custo de container do tipo i
Ej = estoque inicial no mês j
Dj = demanda do mês j
TMA = taxa mínima de atratividade

6. Resultados

Foram consideradas as seguintes premissas incorporadas nas tabelas 3 a 6:


a. A demanda prevista pelo MRP para o ano de 2012 (fevereiro a dezembro) é
apresentada na tabela 1.
b. Custo da matéria-prima por quilograma encontra-se na tabela 3.

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Tabela 3 - Custo da matéria-prima

c. Imposto de Importação (II), a alíquota do II é calculada com base na Nomenclatura


Comum do Mercosul (NCM) do material em questão. A alíquota para este NCM foi
de 14%. Aplicando esta taxa sobre o custo da matéria-prima por quilograma, têm-se os
seguintes dados apresentados na tabela 4:

Tabela 4 - Imposto de Importação (II)

d. Através do NCM em questão, tem-se que a alíquota aplicável do PIS é de 1,65% e a


da COFINS é de 7,6%. Ainda segundo a Receita Federal, a base de cálculo para

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ambas as contribuições é o valor aduaneiro das mercadorias importadas, acrescido do


valor do ICMS, incidente sobre a importação, e do valor das próprias contribuições,
pois elas são incluídas no preço final das mercadorias (cálculo “por dentro”). A
alíquota do ICMS foi de 18%. Os impostos PIS e COFINS encontram-se na tabela 5.
Tabela 5 - PIS e COFINS

Mês PIS – 1,65% (R$) COFINS - 7,60% (R$)

Fevereiro 0,12 0,54


Março 0,12 0,57
Abril 0,11 0,52
Maio 0,11 0,50
Junho 0,11 0,52
Julho 0,12 0,55
Agosto 0,13 0,60
Setembro 0,13 0,61
Outubro 0,13 0,59
Novembro 0,13 0,59
Dezembro 0,13 0,58

e. Na tabela 6 são apresentados os dados de estoque inicial para cada mês de 2012. O
dado utilizado como entrada foi o estoque inicial de fevereiro, obtido através do
estoque final de janeiro. Como foram utilizados dados apenas de 2012, o estoque
inicial de janeiro de 2012 dependia do estoque final do mês anterior (dezembro de
2011). A não obtenção deste dado justificou a aplicação do modelo a partir do mês de
fevereiro. Os demais valores são resultados das quantidades compradas e demandadas.

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Tabela 5 - Dados de estoque inicial

As tabelas seguintes de 7 a 12 apresentam alguns dos resultados da simulação como:


f. Quantidade comprada e o custo do container, acrescidos dos impostos já discutidos.
Tais custos são apresentados a seguir.

Tabela 6 - Custos da compra

g. Custo do Capital, os quais foram calculados através da quantidade do estoque final,


multiplicada pelo custo da matéria-prima por quilograma e pela taxa de 0,50% am
(considerando a taxa de remuneração dos depósitos da poupança antiga).

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Tabela 7 - Custo do Capital

h. Custo de armazenagem (custo unitário de armazenagem (R$/kg) multiplicado pela


quantidade de estoque final acrescido do custo capital). Os custos de armazenagem
encontram-se na tabela 9.

Tabela 8 - Custo de armazenagem

i. Estoque final, resultado do estoque inicial e da quantidade comprada naquele mês,


retirando a quantidade demandada no mesmo período, conforme visto na tabela 10.

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Tabela 9 - Estoque final

j. Custo total, calculado pela somatória dos custos de compra e de armazenagem são
mostrados na tabela 11 a seguir.

Tabela 10 - Custo Total

Ao realizar a simulação, obteve-se o seguinte resultado, conforme Tabela 12.

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Tabela 11 - Quantidade Comprada

Os meses em que a quantidade comprada foi de 8 toneladas, refere-se a um container de 20 pés,


enquanto os períodos em que a compra foi de 20 toneladas e 24 toneladas, referem-se,
respectivamente aos containers de 40 pés e 40 pés HC.

Comparando os modelos, nota-se uma grande diferença de comportamento em relação a


quantidade a ser comprada e a frequência em que é realizada. No modelo atualmente usado pela
empresa, em nenhum momento utilizou-se da opção de compra pelo container 40 pés HC. Já o
modelo proposto neste estudo determinou o uso deste container em dois meses (maio e julho),
afinal este tamanho de container transporta 4 toneladas a mais que o container de 40 pés e
apresenta o mesmo custo. Logo, como o custo de armazenagem é menos relevante que o custo
envolvido na compra, torna-se vantajosa a escolha deste container, minimizando os custos totais.

Além disso, o modelo vigente da empresa comprou, respectivamente, 5 vezes o container de 20


pés e 4 vezes o de 40 pés, enquanto o modelo proposto optou 4 vezes pelo container de 20 pés e
apenas 2 vezes pelo de 40 pés. Outra diferença observada foi que na situação atual, a compra não
era realizada em dois meses (março e junho), ao passo que, no modelo proposto, a opção de não
comprar ocorreu em três meses (junho, setembro e dezembro). A quantidade estabelecida
mensalmente para compra em cada um dos modelos encontra-se na tabela 13.

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Tabela 12 - Quantidade comprada em cada um dos modelos (em toneladas)

Nota-se que a variação entre os modelos está na quantidade comprada em cada lote e na
frequência de tais compras, entretanto, o saldo ao final do período analisado é o mesmo para
ambos os modelos.

Verificou-se que o modelo proposto apresentou uma quantidade maior em estoque do que modelo
seguido pela empresa. Logo, os custos de armazenagem e de capital de giro foram mais elevados
no modelo desenvolvido. Apesar da quantidade em estoque variar por todo o período em cada um
dos modelos, o valor do estoque final em dezembro foi o mesmo (15,6 toneladas).

Mesmo com os custos de armazenagem e capital de giro mais elevados, no modelo proposto os
custos de compra foram inferiores (diferença de R$ 11.873,72) resultando numa redução dos
custos totais. Enquanto o modelo atual da empresa apresentou um custo total de R$850.797,36, o
modelo proposto apresentou R$839.631,35, ou seja, o modelo desenvolvido proporcionaria uma
redução de custo de R$11.166,00 (1,31%).

As informações relacionadas à quantidade em estoque e aos custos envolvidos encontram-se


resumidas na tabela 14.

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Tabela 13 - Resumo comparativo entre os modelos apresentados

7. Conclusão

A gestão de compras e estoques tem desempenhado um papel estratégico no comportamento


competitivo das empresas, pois apresenta reflexos imediatos nos resultados comerciais e
financeiros da organização.

O modelo desenvolvido conseguiu atingir os objetivos propostos através da conciliação entre as


necessidades de demanda e estoque de segurança, e a redução de custos, o que resulta em
benefícios à gestão empresarial. A proposta apresentada proporciona uma redução de
R$11.166,00 no período em análise.

Apesar de trabalhar com um nível de estoque mais elevado que o modelo atual da empresa e
empregar uma opção de container que não era utilizada na compra deste agente acelerante, a
quantidade de matéria-prima adquirida durante o período analisado corresponde a 120 toneladas

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em ambos os modelos, ou seja, alterou-se apenas o tamanho de cada lote comprado e a frequência
em que tais compras foram realizadas.

Pode-se concluir que a melhor opção à empresa seria seguir o modelo baseado na otimização dos
custos totais com frete e estoque, pois oferece ganhos financeiros, mesmo com o nível de material
estocado mantendo-se, em geral, superior ao atual modelo da empresa. À empresa, seria
interessante a expansão deste modelo baseado na otimização de custos para matérias-primas que
apresentam volumes maiores de demanda onde a redução de custos seria ainda mais significativa.

REFERÊNCIAS

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