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1. Introdução
A gestão de compras tem desempenhado um papel estratégico nos negócios, pois o resultado de
suas ações não se limita ao valor do custo de um produto ou serviço, mas influencia diretamente a
competitividade da empresa no mercado e até mesmo limita ou libera recursos a serem
investidos. A área de compras corresponde a uma atividade de apoio fundamental ao processo
produtivo, suprindo-o com todas as necessidades de materiais, o que significa responsabilidade
preponderante nos resultados de uma empresa (POZO, 2010).
Em conjunto à gestão de compras, está a gestão dos estoques, que tem relação de
interdependência, uma vez que alterações na política de estoques possibilitam mudanças no perfil
de compras e suas negociações, e seu desempenho tem reflexos imediatos nos resultados
comerciais e financeiros da empresa (NAPIERALA, 2009).
A existência do estoque é necessária para que a empresa consiga conciliar as diferenças entre
fornecimento e demanda, proporcionando segurança em um ambiente complexo e incerto. A
demanda, conforme Robinson, Narayanan e Sahin (2009), é dinâmica ao longo do horizonte de
planejamento. Portanto, como não é possível conhecer exatamente a demanda futura, e como nem
sempre os suprimentos estão disponíveis a qualquer momento, o acúmulo de estoque deve
garantir a disponibilidade de mercadorias e minimizar os custos totais de produção e distribuição
(NAPIERALA, 2009).
De acordo com Slack (2009), há cinco razões principais para a manutenção do estoque:
Conseguir suportar as interrupções ocasionais e não esperadas no fornecimento ou
demanda, ou seja, compensar as incertezas inerentes a fornecimento e demanda (estoque
de segurança);
Um ou mais estágios na operação não podem fornecer simultaneamente todos os itens que
produzem, logo, com o estoque, tornar-se possível lidar com esta inabilidade de
fabricação simultânea de todos os produtos (estoque de ciclo);
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Com isso, é possível notar que a gestão de compras e estoques envolve duas questões
fundamentais: (i) o custo de compra unitário, o qual pode ser reduzido ao elevarmos a quantidade
a ser comprada, devido aos descontos de preço e (ii) a elevação dos custos de estoque em relação
à armazenagem e ao capital de giro devido ao aumento da quantidade nele mantida.
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Este estudo também desenvolveu um modelo matemático para suporte às decisões de compras
fundamentadas na técnica de Programação Linear Inteira (PLI). Através da inserção no modelo
das informações reais da empresa, seguindo as restrições referentes ao sistema, obteve-se uma
solução otimizada para a decisão de compras de um agente acelerante como matéria-prima no
processo produtivo de pneus, buscando os menores custos relacionados à gestão de compras e
estoques do produto em estudo. Por fim, fez-se a comparação entre os custos de gestão de
compras e estoques gerados pelo modelo proposto e os custos apresentados no histórico da
empresa, a fim de analisar os ganhos financeiros com a aplicação do modelo.
2. Fundamentação teórica
A questão da manutenção do estoque envolve pontos de vistas opostos. Enquanto existem muitos
ensejos a favor da manutenção dos estoques, tanto outros consideram a conservação dos estoques
como ato imprudente.
Segundo Gaither e Frazier (1999), ao optar pela manutenção de elevados estoques, é possível
reduzir os seguintes custos:
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Segundo Slack (2009), há custos que estão diretamente relacionados ao tamanho do pedido. São
eles:
Custo de colocação do pedido: algumas transações são necessárias no processo de
reabastecimento de um pedido no estoque. Tais procedimentos envolvem custos para a
empresa;
Custos de descontos de preço: para grandes quantidades compradas podem ser oferecidos
descontos sobre o preço normal, o que proporciona uma redução no custo do preço
unitário do produto;
Custos de falta de estoque: se a quantidade comprada para reabastecimento do estoque
não for suficiente ou se houver um erro em relação ao período em que a compra deveria
ser feita, a consequência pode ser a falta de produtos no estoque, o que acarreta em
problemas à empresa, como por exemplo, tempo ocioso no processo produtivo,
penalidades e/ou insatisfação de clientes;
Custos de capital de giro: custo contábil (associado aos juros pagos aos bancos por
empréstimos) e/ou custo econômico (custos de oportunidade pelo não investimento em
outras alternativas);
Custos de armazenagem: relacionados à armazenagem física no estoque, tais quais:
iluminação, aluguel, seguro, pessoal, equipamentos etc;
Custos de obsolescência: pertinente ao risco dos itens estocados tornarem-se obsoletos ou
deteriorarem-se com o passar do tempo;
Custos de ineficiência de produção: altos níveis de estoques podem resultar no
impedimento da visão da completa extensão dos problemas dentro da produção.
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denominações diferentes por cada autor. É possível notar também que entre os autores há uma
diversificação em relação ao detalhamento do estudo dos custos de estoque.
Custo do pedido
níveis elevados no estoque
pedido pedido
Custo de
Custos de descontos de
Custos de aquisição transporte/Pagamentos a
preço
fornecedores
Custos de qualidade na
- Custos de Setup
partida
Utilização de mão de obra
- -
e equipamento
Pontos contra a manutenção de níveis elevados no estoque
Custos de receptividade
- -
do cliente
Custo da qualidade de
- -
lotes grandes
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Todo problema de PLI pode ser representado por uma forma-padrão, ou seja, qualquer situação
cuja formulação matemática se encaixe no modelo abaixo é um problema de programação linear
inteira.
A função que está sendo maximizada e/ou minimizada, Z=c1x1+c2x2+ .... +cnxn é chamada
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3. Metodologia da Pesquisa
Escolheu-se o estudo de caso como metodologia para realização deste estudo de caráter analítico
sobre um problema específico (no caso, a gestão de compras e estoque de um agente acelerante
essencial ao processo de vulcanização da empresa), em que, além de seu entendimento e análise,
propôs-se um modelo matemático que utiliza a técnica de PLI e possibilita a tomada de decisão
através da consideração dos custos envolvidos. A aplicação deste modelo foi confrontada com o
atual modelo de gestão, que não utiliza a relação dos custos como referência.
Atualmente, o responsável pela compra deste produto químico recebe do MRP (Material
Requirements Planning) as demandas previstas para todo ano e, com base nestes dados e na
quantidade do produto em estoque, é feito o planejamento da quantidade a ser comprada a cada
mês. A demanda apresenta baixa variação e pode ser encontrada na tabela 1 abaixo. Este produto
fica armazenado em pallets, conforme apresentado na figura 1, e não necessita de condições
especiais de armazenagem.
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espaço físico, é de 35 toneladas. Este valor foi considerado observando o máximo valor estocado
nos anos de 2012 e 2013.
Considerando que o produto em questão é importado por via marítima da Dinamarca, a compra é
realizada com três meses de antecedência, a fim de garantir que o produto chegue à fábrica no
momento certo. Além disso, um fato importante a ser considerado é que este é o único fornecedor
homologado para esta matéria-prima.
Para importar produtos via marítima, é necessária a locação de containers. Há três tamanhos de
containers: 20 pés, 40 pés e 40 pés HC (High Cube). Na figura 2 temos as dimensões de cada um
dos containers e na tabela 2 estão os valores da locação de cada container e as quantidades desta
matéria-prima que pode ser transportada em cada um.
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Através da análise da situação atual, pode-se notar que o foco está apenas em atender à demanda
e manter uma meta estoque baixa, não havendo nenhuma consideração sobre a diminuição dos
custos com a compra e estocagem desta matéria-prima.
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min Z xijCci xijCapiCMp Ej xijCapi Dj Ca Ej xijCapi Dj CMp TMA (custo total ) (1)
i 1 j 1
s.a.
35 Ej xijCapi Dj 15t (estocagem) (2)
3
x
i 1
ij 1 (containers por mês ) (3)
xij
Onde:
xij = quantidade de containers do tipo i comprados no mês j
Ca = custo unitário de armazenagem
CMP = custo de matéria prima
Capi = capacidade do container do tipo i
Cci = custo de container do tipo i
Ej = estoque inicial no mês j
Dj = demanda do mês j
TMA = taxa mínima de atratividade
6. Resultados
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e. Na tabela 6 são apresentados os dados de estoque inicial para cada mês de 2012. O
dado utilizado como entrada foi o estoque inicial de fevereiro, obtido através do
estoque final de janeiro. Como foram utilizados dados apenas de 2012, o estoque
inicial de janeiro de 2012 dependia do estoque final do mês anterior (dezembro de
2011). A não obtenção deste dado justificou a aplicação do modelo a partir do mês de
fevereiro. Os demais valores são resultados das quantidades compradas e demandadas.
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j. Custo total, calculado pela somatória dos custos de compra e de armazenagem são
mostrados na tabela 11 a seguir.
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Nota-se que a variação entre os modelos está na quantidade comprada em cada lote e na
frequência de tais compras, entretanto, o saldo ao final do período analisado é o mesmo para
ambos os modelos.
Verificou-se que o modelo proposto apresentou uma quantidade maior em estoque do que modelo
seguido pela empresa. Logo, os custos de armazenagem e de capital de giro foram mais elevados
no modelo desenvolvido. Apesar da quantidade em estoque variar por todo o período em cada um
dos modelos, o valor do estoque final em dezembro foi o mesmo (15,6 toneladas).
Mesmo com os custos de armazenagem e capital de giro mais elevados, no modelo proposto os
custos de compra foram inferiores (diferença de R$ 11.873,72) resultando numa redução dos
custos totais. Enquanto o modelo atual da empresa apresentou um custo total de R$850.797,36, o
modelo proposto apresentou R$839.631,35, ou seja, o modelo desenvolvido proporcionaria uma
redução de custo de R$11.166,00 (1,31%).
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7. Conclusão
Apesar de trabalhar com um nível de estoque mais elevado que o modelo atual da empresa e
empregar uma opção de container que não era utilizada na compra deste agente acelerante, a
quantidade de matéria-prima adquirida durante o período analisado corresponde a 120 toneladas
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em ambos os modelos, ou seja, alterou-se apenas o tamanho de cada lote comprado e a frequência
em que tais compras foram realizadas.
Pode-se concluir que a melhor opção à empresa seria seguir o modelo baseado na otimização dos
custos totais com frete e estoque, pois oferece ganhos financeiros, mesmo com o nível de material
estocado mantendo-se, em geral, superior ao atual modelo da empresa. À empresa, seria
interessante a expansão deste modelo baseado na otimização de custos para matérias-primas que
apresentam volumes maiores de demanda onde a redução de custos seria ainda mais significativa.
REFERÊNCIAS
COLIN, Emerson Carlos. Pesquisa Operacional - 170 Aplicações em Estratégia, Finanças, Logística, Produção,
Marketing e Vendas. Rio de Janeiro: LTC, 2007.
GAITHER, Norman e FRAZIER, Greg. Administração da Produção e Operações. São Paulo: Thomson, 1999.
HILLIER, Frederick e LIEBERMAN, Gerald. Introdução à Pesquisa Operacional. Porto Alegre: Bookman, 2010.
POZO, Hamilton. Administração de Recursos Materiais e Patrimoniais. São Paulo: Atlas, 2010.
ROBINSON, P.; NARAYANAN, A. e SAHIN, F. Coordinated deterministic dynamic demand lot-sizing problem: a
review of models and algorithms. Omega, v. 37, p. 3-15, 2009.
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