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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL:
ESTRUTURAS E CONSTRUÇÃO CIVIL

THACYLA MILENA PLÁCIDO NOGUEIRA

GESTÃO DE ESTOQUE

FORTALEZA
2023
1 REFERENCIAL TEÓRICO
1.1 Gestão de estoque

De acordo com Slack et al. (2018), o estoque é o resultado do acúmulo de


recursos, sejam produtos finalizados, matéria prima para produção, insumos de consumo local,
entre outros, e são caracterizados também por serem consumidos, despachados e terem
reposição de acordo com os processos, operações ou redes de suprimento. Estes recursos
podem ser físicos ou virtuais, e em ambos existem as necessidades do espaço de
armazenamento, do custo de manutenção, da segurança do local, afinal, armazenar recursos é
o mesmo que guardar dinheiro, porém sem rendimento. Além de tudo isso, é preciso ter um
trabalho de organização voltado ao estoque, para que possa ser gerenciado de maneira que os
benefícios de tê-lo superem as desvantagens. (SLACK et al., 2018).

O gerenciamento das acumulações de recursos é o que se chama de gestão de


estoque. Existe uma realidade atrelada aos estoques em grande quantidade de um mesmo
insumo, que está ligada ao custo, pois essa aquisição pode proporcionar economias maiores,
justificando-a. A maioria dos estoques resultam de fluxos irregulares, e nesse ponto, o dever
da administração da produção é providenciar para que o estoque se acumule apenas quando
suas desvantagens forem superadas pelos benefícios (SLACK et al., 2018).

Se bem administrados, os estoques podem representar uma grande vantagem de


redução de tempo e espaço dentro da organização (SOUZA; SOUSA JÚNIOR, 2018), já que
existem para suprir demandas futuras, é uma garantia para o processo construtivo ou para as
demandas de clientes (SILVA; MADEIRA, 2004). A maioria das organizações possuem o
desafio de não ter estabilidade entre demanda e suprimento em alguns processos, e é nessa
constante realidade que a gestão de estoque busca igualar essas taxas, ou conseguir responder
as necessidades urgentes, como quando a taxa de suprimento está maior que a demanda e tem-
se o aumento do estoque, ou quando a demanda está acima da taxa de suprimento, e ocorre a
diminuição do estoque (SLACK et al., 2018).

Gianesi e Biazzi (2011) abordam a discussão da falta de conhecimento de técnicas


pelos responsáveis da gestão de estoques nas empresas. Um dos argumentos é que é dada
pouca importância a essa área de administração de materiais, o que reflete na ineficiência
daqueles que ficam responsáveis por essas atividades. Sendo a gestão de estoques um dos
processos mais importantes para o sucesso de uma organização, tendo em vista que os
estoques absorvem uma parte significativa do orçamento e não agregam valor ao produto,
deve-se engajar esforços de capacitação em técnicas que minimizem os níveis de estoques,
reduzindo os custos, sem desperdícios nem estoques em excesso, focando sempre na
lucratividade organizacional (SOUZA; SOUSA JÚNIOR, 2018).

Não há dúvidas dos benefícios atrelados ao processo de administração do estoque,


desde a responsabilidade quanto ao suprimento, na aquisição, fabricação, transporte e entrega,
até abranger serviços e mão de obra, tudo que é necessário a execução do empreendimento ou
andamento da indústria (SZAJUBOK et al., 2006).

1.2 Gestão de Estoque na Construção Civil

A construção civil é uma indústria artesanal que utiliza diversos materiais,


diariamente, em suas atividades. Como afirma SZAJUBOK et al. (2006), a demanda desses
insumos está diretamente ligada ao planejamento da obra, que deve ser realizado de maneira
que não haja interrupção no processo construtivo. A grande variedade de materiais comporta
uma enorme quantidade de fornecedores, e tudo isso deve ser levado em consideração no
planejamento para garantir o fluxo dos serviços. Sendo assim, é preciso manter estoques de
materiais nas obras, pois existe um intervalo de tempo entre o pedido e o fornecimento dos
insumos, para que os prazos não venham a se tornar justificativas de atrasos ou interrupção da
produção (SZAJUBOK et al., 2006).

Um mal planejamento do estoque ou um controle ineficaz pode gerar prejuízos à


empresa, visto que o risco de manter itens acumulados é real e pode causar perdas por
deterioração, danificação, roubos, incapacidade quantitativa de suprir as demandas urgentes,
além do espaço comprometido que poderia estar sendo utilizado para outra finalidade. O
gerenciamento de materiais na obra muitas vezes é prejudicado devido a falta de integração
entre o estoque e as atividades de consumo, considerando ainda as muitas etapas nos diversos
departamentos, para a aquisição dos suprimentos (AIRES et al., 2019).

A gestão de estoque no canteiro de obras, além de observar o armazenamento dos


materiais e controlar as aquisições para garantir que estejam disponíveis no momento certo,
também deve se atentar à quantidade das compras dos insumos, para que não sejam
adquiridos volumes elevados ou desnecessários de determinados materiais, o que pode gerar
custos que ultrapassam o valor estipulado no orçamento (NASCIMENTO, 2022).
1.3 Lean Construction e a Gestão de Estoque

De acordo com Pedroso e Lucena (2022), a indústria da construção civil tem uma
atuação marcada pelo desperdício de materiais, pela geração de resíduos e pelos custos
desnecessários nos orçamentos, geralmente causados por projetos e planejamentos com
informações insuficientes. Dessa forma, tem-se buscado implementar em maior escala uma
forma de otimizar o desempenho da produção, na intenção de reduzir ao máximo os
desperdícios e os custos desnecessários (PEDROSO; LUCENA, 2022).

A filosofia Lean na construção civil, também conhecida como construção enxuta,


é um conjunto de ferramentas que auxiliam a gestão de obras. A principal atuação dessa
filosofia é a redução de desperdícios, com o exercício da melhoria contínua (SILVA; SILVA,
2018). Dentre as ferramentas que a Lean Construction dispõe, duas serão abordadas como
opção para a gestão de estoque, são elas: o Just-in-time (JIT), que é um sistema de estoque
mínimo, onde os fornecedores são solicitados de acordo com a necessidade dos insumos na
construção (PINTO et al., 2015), e o Kanban, que é uma forma de comunicação baseada em
cartões de sinalização, simplificando o processo de reposição de estoque e a transparência das
informações, que acabam sendo compartilhadas com todos que o visualizam (LEITE et al.,
2004).

O JIT envolve o fluxo contínuo do estoque, atendendo as demandas no momento


da solicitação, sem reservas a mais, sendo reposto o insumo apenas quando é consumido o
que se tem. Com essa ferramenta é inegável o ganho no espaço de armazenamento, uma vez
que reduz largamente a quantidade de materiais estocados, também diminui os riscos de
perdas por deterioração ou danificação, tendo em vista que os suprimentos serão requisitados
sem que tenham ficado grandes períodos armazenados (SILVA; SILVA, 2018). Para a
implantação do JIT, o planejamento da produção deve garantir estabilidade no processo
construtivo permitindo o fluxo contínuo de um material (PINTO et al., 2015).

Mesmo com inegáveis benefícios, não é sempre viável aderir ao Just-in-time. A


política do JIT demanda um engajamento de excelência dos colaboradores, com uma
produção estável, a comunicação sem falhas dentro do canteiro e com os fornecedores, além
da necessidade de ter fornecedores disponíveis e alinhados com essa modalidade de atuação.
Na construção civil ainda há muitas barreiras e resistências para essa ferramenta,
principalmente ligado aos prazos de compra e entrega, e aos custos de aquisição dos materiais,
que muitas vezes são solicitados em grande quantidade para obter descontos, o que acaba
demandando um espaço de armazenamento maior para o estoque (PINTO et al., 2015).

O sistema kanban geralmente é aplicado junto ao JIT, porém, em várias situações


não é possível garantir a estabilidade e fluxo contínuo que o JIT exige, e assim, o kanban
acaba sendo ainda uma opção que auxilia bastante na gestão de estoque, e é aderido com
facilidade, devido a simplicidade e transparência atrelados a ele (SILVA; SILVA, 2018). De
maneira simples, dentro da gestão de estoque, o kanban sinaliza a necessidade de reposição de
insumos, evitando assim que o produto venha a faltar e provoque atrasos ou interrupções na
produção (LEITE et al., 2004).

A ferramenta kanban atribui corresponsabilidades dentro do canteiro de obras,


inserindo cada colaborador na tarefa de manter o sistema de comunicação atualizado, dando
autonomia para as equipes da obra, e otimizando a disseminação dos alertas (LEITE et al.,
2004). As resistências que podem ser encontradas na adesão do kanban podem estar ligadas a
cultura da construtora, não querer dar o treinamento com a justificativa de não parar a
produção, ou não investir em seus colaboradores por não confiar na atuação dos mesmos,
ainda pode haver também a desconfiança na ferramenta. Mesmo com tudo isso, o kanban
ainda acaba sendo o ponto de partida de muitos empreendimentos da construção civil no
processo de adesão ao Lean Construction (SILVA; SILVA, 2018).
REFERÊNCIAS

AIRES, C. S. F.; ALMEIDA, G. J.; SILVEIRA, S. O. INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA


GESTÃO DE ESTOQUE. FATECLOG, V. 1, P. 1-7, 2019. DISPONÍVEL EM: <
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GIANESI, I. G. N.; BIAZZI, J. L. DE. GESTÃO ESTRATÉGICA DOS


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LEITE, M. O.; PINHO, I. B.; PEREIRA, P. E.; HEINECK, L. F. M.; ROCHA, F. E. M. DA.
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MAIO. 2023.
PEDROSO, C. T. M.; LUCENA, A. F. E. APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA LEAN
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PINTO, I. C. M. S.; SARAIVA, R. L. P.; FERNANDES, C. N.; COSTA, A. C. S. S.;


CAMPOS, V. R.. CONTRIBUIÇÕES DOS SITEMAS MRP II E JUST IN TIME PARA
OTIMIZAÇÃO DO GERENCIAMENTO DE ESTOQUES: UM REFERENCIAL
TEÓRICO. IN: SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, XXIII., 09 A 11 NOV.
2015, BAURU, SÃO PAULO, BRASIL. ANAIS[…] BAURU, SÃO PAULO, 2015. TEMA:
“POLÍTICA NACIONAL DE INOVAÇÃO E ENGENHARIA DE PRODUÇÃO”.

SILVA, P. F.; SILVA, E. C. C. APLICAÇÃO DO SISTEMA KANBAN PARA AUXILIAR


A GESTÃO DE ESTOQUE DE UMA EMPRESA DO RAMO DA CONSTRUÇÃO
CIVIL. IN: SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DE SERGIPE, 10., 2018,
SÃO CRISTÓVÃO, SE. ANAIS [...]. SÃO CRISTÓVÃO, SE, 2018. P. 156 - 167.

SLACK, N.; BRANDON-JONES, A.; JOHNSTON, R. ADMINISTRAÇÃO DA


PRODUÇÃO. 8A EDIÇÃO ED. [S.L.] GEN, 2018.

SOUZA, W. S.; SOUSA JÚNIOR, A. B. CONTROLE E GERENCIAMENTO NA GESTÃO


DE ESTOQUE NAS EMPRESAS. ENTREPRENEURSHIP, V.2, N.2, P.54-67, 2018. DOI:
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SZAJUBOK, N. K.; MOTA, C. M. M.; ALMEIDA, A. T. USO DO MÉTODO


MULTICRITÉRIO ELECTRE TRI PARA CLASSIFICAÇÃO DE ESTOQUES NA
CONSTRUÇÃO CIVIL. V.26, N.3, P.625-648, 2006. DOI:
HTTPS://DOI.ORG/10.1590/S0101-74382006000300010

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