Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. Introdução
Durante muitos anos o Brasil foi caracterizado como sendo um país exportador de toneladas
de matérias-primas e importador de gramas de produtos acabados. Estes últimos vinham
sempre com grande valor agregado, principalmente na forma de tecnologias. Sendo assim,
grande parte das inovações tecnológicas aqui existentes advinha da importação ou
substituição de importações. Tal perfil confere a quem o tem o papel secundário na economia,
notadamente na acumulação de riquezas.
A saída para tal processo de dependência tecnológica implica em produzir inovação. Isto
significa investimento em pesquisa básica e aplicada, principalmente nas áreas da engenharia,
que pode ser averiguado a partir do número de patentes e publicações científicas encontradas.
Neste sentido, a engenharia de produção tem, enquanto campo de engenharia, suas
contribuições a dar. Tais subsídios se constituem no campo da organização da produção e seus
sistemas de gestão, bem como na engenharia de produto.
Digno de nota é o fato de a Associação Brasileira de Engenharia de Produção (ABEPRO)
considerar a engenharia do produto como uma das áreas de atuação de um engenheiro de
produção. A importância desta menção deve-se ao fato que parece ser mais fácil relacionar
outras áreas da engenharia, como a civil e a mecânica, com a engenharia do produto. O senso
comum colocaria o engenheiro de produção como um cliente que recebe o projeto do produto
e projeto, implanta e gerencia o sistema para a produção daquele bem. A referida
especificação da ABEPRO clarifica a inconsistência desta visão, chegando ainda a subdividir
a área em três itens, quais sejam: (1) Gestão do Desenvolvimento de Produto; (2) Processo de
Desenvolvimento do Produto; e (3) Planejamento e Projeto do Produto.
Assim sendo, este artigo visa levantar a contribuição da engenharia de produção na área de
engenharia de produto nos últimos quatro anos, tendo como base de dados os anais do
Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP) nos anos de 2008 a 2011. Não
obstante ao fato de tal base de dados ser insuficiente para analisar um cenário nacional em
termos de engenharia do produto e da contribuição da engenharia de produção nesta, pode-se
considerar que é o início de um trabalho de profundo levantamento a ser realizado.
A intenção é identificar no rol de artigos publicados nos últimos quatro ENEGEPs os
principais temas publicados, as abordagens mais utilizadas, as indústrias onde há maior
incidência de trabalhos de engenharia do produto, quais instituições mais publicam, entre
outros aspectos que possam ser considerados importantes.
2. Abordagem da Engenharia do Produto
O Processo de Desenvolvimento de Produtos (PDP) são as atividades e decisões que
envolvem o projeto de um novo produto ou serviço, ou a melhoria em um já existente. Este
processo inicia-se desde a identificação dos desejos dos clientes, passando pelas
especificações de soluções técnicas, lançamento, até a retirada do produto no mercado.
(BACK, 1983; PAHL et al., 2005; ROZENFELD et al., 2006; SALGADO et al, 2010).
Os profissionais e pesquisadores que atuam no campo da engenharia do produto têm
desenvolvido, no passar dos anos, várias metodologias e ferramentas para dar suporte ao
processo de desenvolvimento de produto. Atualmente é possível sintetizar o conhecimento
desenvolvido na área e agrupá-lo, por exemplo, em correntes de pensamento ou abordagens.
2
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
3
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
novos bens desenvolvidos e implantados na produção. Aqui são realizadas as fases de projetos
informacional, conceitual e detalhado, além da preparação do produto para a produção e seu
lançamento no mercado.
No pós-desenvolvimento é dada ênfase, primeiramente, ao acompanhamento do produto no
mercado e no processo de produção. Posteriormente, é estudado como será descontinuada a
produção do produto, bem como sua retirada do mercado, seu destino após a utilização e a
finalização de todo tipo de assistência técnica prestada pela empresa.
Em cada fase do PDP Rozenfeld et al. (2006) sugere uma porção de atividades que devem ser
realizadas para finalizar a fase com sucesso. O autor utiliza-se ainda de diversas ferramentas
como a análise do ciclo de vida e matriz QFD – Quality Function Deployment, no projeto
informacional, análise da viabilidade econômica, no projeto conceitual, sistemas CAD/CAE,
FMEA – Failure Mode and Effect Analysis, no projeto detalhado entre outras.
3. Metodologia
A pesquisa realizada e aqui apresentada pode ser classificada como bibliográfica, pois sua
fonte de dados foi apenas os Anais Eletrônicos do Encontro Nacional de Engenharia de
Produção. Além disso, a pesquisa tem a finalidade exploratória, pois têm a finalidade de
ampliar o conhecimento a respeito de um determinado tema. (TRAVIÑOS, 1987;
VERGARA, 1997; ZANELLA, 2006)
A realização deste trabalho partiu do levantamento de todos os artigos publicados nos
ENEGEPs de 2008 a 2011 e constantes nos anais do evento. A partir daí, todos os arquivos
eletrônicos de artigos relacionados com a engenharia do produto foram renomeados com seu
título de publicação e separados em pastas por ano do evento e por subárea da engenharia do
produto, conforme classificação do ENEGEP, a saber:
- Pesquisa de mercado;
- Planejamento do produto
4
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
5
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
6
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
participação de cada subárea na totalidade dos artigos enviados entre 2008 e 2011.
Após a identificação destas características, julgou-se importante identificar quais insituições
mais publicaram artigos na área de gestão do produto nos úlitmos ENEGEPs. Para obter tal
dado, cada artigo foi aberto e apenas a instituição do primeiro autor foi contabilizada como
responsável pela publicação.
Apesar de reconher-se que tal critério possa ser considerado questionável, pareceu ser a
melhor forma de não contabilizar uma mesma instituição duas ou mais vezes casos os
diversos autores de um determinado artigo pertencessem à mesma instituição.
Figura 4 – Total dos artigos publicados por subárea de gestão do produto (2008 – 2011)
Fonte: Elaboração própria
Figura 5 – Total dos artigos publicados por instituição do primeiro autor (2008 – 2011)
Fonte: Elaboração própria
7
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
Analisando a Figura 5 é possível perceber que não há poucas instituições dominando a área de
gestão do produto com muitas publicações. As catorze instituições que mais publicaram no
período correspondem a apenas 56,8% do volume de trabalhos (92 artigos), enquanto as
demais cinquenta instituições correspondem a 43,2% deste contingente (70 artigos).
Há outros dados importantes a se extrair da Figura 5, a exemplo da localização geográfica e
da natureza das instituições que publicam. É possível perceber que dentre as 14 instituições
apresentadas explicitamente no gráfico, encontram-se representantes de diversas regiões do
Brasil (Sul, Sudeste e Nordeste). Além disso, é possível perceber que todas as são instituições
de ensino. Ou seja, nenhuma empresa do setor produtivo ou de pesquisa, governamental ou
não, publicaram muitos artigos nos ENEGEPs de 2008 a 2011.
Prosseguindo a análise, foram identificados os principais temas tratados nos artigos, por meio
da leitura de título, palavras-chave e resumo. Quando estes tópicos se mostraram insuficientes
para entender do que o trabalho tratava foi realizada uma análise mais profunda, sendo
estudados outros tópicos de cada artigo, tais como o método e a apresentação dos resultados.
Neste contexto, o primeiro aspecto analisado foi o tipo de produto que cada publicação trata,
ou seja, se o artigo trata de bens ou serviços. Além disso, foram criadas as categorias “Bem ou
serviço” ou “Não se aplica” quando os trabalhos não fizerem menção a quaisquer tipos de
produtos ou quando a metodologia apresentada não fizer distinção entre bem e serviço. A
síntese deste trabalho é apresentada no Quadro 1.
No que se refere aos setores econômicos (ramo ou indústria), foi possível perceber que os
artigos que tratam de bens são em sua maioria não aplicados, consistindo em trabalhos
teóricos (13%). Após isso, ganham destaque os setores de alimentos, eletroeletrônicos,
automobilístico e Tecnologias Assistivas, ou seja, produtos voltados para o público portador
de deficiências. No Quadro 2 são apresentados mais detalhes desta análise.
8
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
Indústria moveleira 4%
Construção Civil 3%
Material de construção 3%
Máquinas de grande porte 3%
Artesanato 2%
Outros 45%
Quadro 2 – Setor econômico dos artigos que tratam de bens (2008 – 2011)
Fonte: Elaboração própria
Quanto aos artigos que tratam de serviços, percebeu-se que a grande maioria dos artigos é
aplicada. Os setores mais relevantes em termos de volume de publicações são os de educação,
software, supermercados, telecomunicações e mídia. No Quadro 3 são apresentados mais
detalhes desta análise.
9
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
10
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
11