Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
1. Introdução
Ao longo dos anos, a busca por um melhor gerenciamento de projetos impulsionou o estudo e
a evolução de diversas metodologias, conceitos, processos e técnicas visando uma melhor
assertividade em controlar os projetos e tudo o que o mesmo engloba. Neste contexto, o
Project Management Institute (PMI) foi uma organização que direcionou, padronizou e
popularizou métodos, processos e técnicas no que hoje pode ser considerado como o principal
guia de boas práticas do gerenciamento de projetos: o Project Management BodyofKnowledge
- PMBOK (PMI, 2017).
Porém, diante de um mundo cada vez mais competitivo e que valoriza o desenvolvimento de
novos produtos em um menor tempo possível, além de ter que garantir a sustentação deste
produto e suas constantes melhorias, diferentes metodologias e conceitos foram criados como
alternativa no que se refere à gestão de projetos tradicional do PMI, dentre elas os métodos
ágeis. O desenvolvimento ágil ou método ágil é um conjunto de metodologias que tem sua
origem na década de 90, sendo formalizada apenas em 2001 com o Manifesto Ágil,
documento no qual o conceito é explicado junto aos seus doze princípios base. Os métodos
ágeis defendem uma maior interação entre os indivíduos em um ambiente colaborativo que
visa transparência nas atividades, focando a equipe numa abordagem incremental de
adaptabilidade e iteração (BECK, 2001; SCHWABER e SUTHERLAND, 2010). Dentro deste
contexto da metodologia ágil, diversos métodos baseados nesta abordagem foram criados e
disseminados como diretrizes de trabalho, cada qual com sua singularidade conceitual, porém
todos possuindo as características chaves ágeis. Exemplos de tais metodologias ágeis são o
Scrum, o Extreme Programming (XP), o FeatureDrivenDevelopent (FDD) e o Adaptive
Software Development (ASD) (PAZ, DUARTE e BIGÃO, 2017; LIBARDI e BARBOSA,
2010).
Desta maneira, atualmente há discussões nas quais se questionam qual seria o método mais
aconselhável e assertivo para que seja realizada a gestão de um projeto. Considerando o
gerenciamento tradicional do PMI e o modelo ágil, ambas metodologias comumente
utilizadas no cenário atual de projetos, é certo dizer que cada qual possui aspectos positivos e
negativos no que se refere à gestão de projetos (SILVA e ELIAS, 2016; CUNHA, 2017).
2
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
Tanto a metodologia PMI como os métodos ágeis são hoje amplamente utilizados como
métodos de gestão de projetos e cada um deles possuem características únicas e,
consequentemente, fatores a favor e contra no que se corresponde ao gerenciamento de
projetos (CUNHA, 2017). Assim, o trabalho realizado teve como principal motivação o
estudo comparativo dos aspectos assertivos no gerenciamento de projetos através da gestão
tradicional e da gestão ágil. A partir de questionários foram avaliados os aspectos assertivos e
não assertivos da gestão de projetos tanto pelo método tradicional como pelo método ágil,
comparando ainda entre ambos, qual a metodologia mais assertiva por aspecto questionado.
Ainda, puderam-se avaliar quais dos aspectos questionados poderiam ser melhorados para
com cada método de gestão.
2. Referencial teórico
De acordo com o PMI (2017), um projeto é definido como um esforço temporário no qual se
dedica para a criação de um serviço, um produto, uma melhoria ou de um resultado esperado.
Cada projeto é distinto, bem como os seus respectivos resultados e, para que exista uma maior
assertividade no que envolve o atingimento dos mesmos, além da aderência aos requisitos
previamente definidos, énecessária a aplicação de todo um conhecimento, de habilidades, de
ferramentas e de técnicas específicas ao longo da evolução das atividades deste projeto. Este
acompanhamento detalhado das atividades do projeto, junto ao cuidado do atendimento dos
requisitos desejados no resultado esperado, considerando diversos outros fatores, tais como o
atendimento de escopo, qualidade, orçamento, cronograma, riscos e recursos, pode ser
designado como gerenciamento de projetos (PMI, 2017).
3
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
Os fatores de sucesso que podem ser mencionados para dimensionar o êxito de um projeto
podem variar conforme cada projeto, porém aspectos como o cumprimento de prazos, custo e
qualidade são comumente encontrados como itens associados ao sucesso de um projeto
(CUNHA, 2017). O atendimento de tais pontos é um dos exemplos e benefícios que surgem
com o apoio da gestão de projetos em administrar, coordenar e executar as atividades
previstas ao longo da execução do mesmo, tornando-se assim uma ferramenta fundamental de
sucesso (SILVA e ELIAS, 2016). No Quadro 1, são apresentadas algumas métricas de
diferentes autores para dimensionar a performance de projetos.
4
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
Com a evolução dos métodos de gestão de projetos, houve a criação de diversas instituições
exclusivas destinadas ao estudo e disseminação do gerenciamento de projetos, cada qual
centralizando seu respectivo conjunto de metodologias, técnicas e ferramentas em “guias de
conhecimento”, apresentando padronizações de métodos e aplicações do gerenciamento de
projetos. Esta diretriz da gestão de projetos é tida pelos teóricos como a maneira tradicional
de realizar o gerenciamento de projetos (EDER, et al., 2012).
Com relação aos métodos considerados como mais tradicionais na gestão geral de projetos,
podemos citar o Project Management BodyofKnowledge (PMBOK) criado pela instituição
americana Project Management Institute (PMI), o IPMA Competence Baseline (ICB) do
instituto europeu International Project Management Association (IPMA), o Professional
Competency Standards for Project Management da instituição australiana
5
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
3. Metodologia
6
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
custo por respondente para operacionalizar a pesquisa e a existência de questões sensíveis aos
entrevistados.
4. Resultados e discussão
A aceitação das respostas baseou-se no fato dos respondentes terem tido ao longo de suas
experiências de trabalho, contato com alguma metodologia de gerenciamento de projetos.
Neste contexto, quatorze respondentes não possuíam contato algum com metodologias de
gerenciamento de projeto e, desta maneira, as suas respostas foram desconsideradas das
análises, sendo avaliadas apenas trinta e seis respostas, cujo estudo é apresentado a seguir.
7
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
Analisando os dados obtidos, foi possível constatar que a maior parte dos respondentes atua
em empresas do segmento de engenharia (28%) e possuem tempo de atuação na companhia
entre dois a cinco anos (40%), além do fato de que 62% das empresas dos respondentes
possuem um volume de funcionários acima de 500 indivíduos. Foi observado também que,
72% dos respondentes tiveram contato com alguma metodologia de gerenciamento de
projetos.
Baseado nas respostas coletadas foi observado que em 58% dos casos a diretriz na escolha do
método é fornecida pela empresa. Além disso, estabelece-se que a metodologia tradicional
continua sendo o método mais familiar no que se refere ao gerenciamento de projetos, com
cerca de 53% das respostas, embora seja considerável a porcentagem de 42% dos
respondentes que possuem contato com ambas as metodologias. O contato com apenas a
metodologia ágil possui baixa seleção de resposta, com somente 5%.
Com relação à propensão da empresa para com as metodologias de projetos, observou-se que
embora a maioria das empresas considerem de grande importância o gerenciamento de
projetos (numa escala de 1 a 5, sendo 1 pouca importância e 5 muita importância, foram
obtidos 44% na escala 5 e 36% na escala 4), a exigência ou incentivo às certificações de
gerenciamento de projetos, tais como PMP (Project Management Professional), PSM
(Professional Scrum Master) e CSM (Certified Scrum Master) é muito baixa, sendo
considerado 1 por 50% dos respondentes (numa escala de 1 a 5, sendo 1 pouca exigência e 5
muita exigência). Já sobre a maturidade de gerenciamento de projetos considerado nas
8
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
9
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
cor foi adicionado para deixar mais aparente os aspectos que apresentaram maior delta de
variação de porcentagem, alternando entre as tonalidades de verde (pouca variação), amarelo
(variação média) e vermelho (alta variação).
Variação das %
% Metodologia
Aspecto % Ágil entre as
Tradicional mais assertiva
metodologias
Escopo 74% 59% 15% Tradicional
Cronograma 71% 53% 18% Tradicional
Custos 47% 53% 6% Ágil
Qualidade 65% 82% 18% Ágil
Riscos 47% 65% 18% Ágil
Comunicação 47% 71% 24% Ágil
Recursos 59% 53% 6% Tradicional
Aquisições 56% 47% 9% Tradicional
Integração 44% 71% 26% Ágil
Partes interessadas 50% 82% 32% Ágil
Formalização do projeto 79% 41% 38% Tradicional
Tabela 2 - Comparativo entre as metodologias PMBOK e ágil nas faixas de aumento das variações de valores de
escopo, duração e orçamento
10
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
Tabela 1 - Comparativo entre as metodologias PMBOK e ágil nas faixas de economia das variações de valores de
escopo, duração e orçamento
Como pode ser visto no Quadro 2, embora de maneira geral tanto o gerenciamento de projetos
pelo método tradicional como pelo ágil sejam assertivos na maioria dos aspectos questionados
aos respondentes, nenhuma das metodologias atendeu de maneira satisfatória a assertividade
de todos os fatores questionados. Assim, pode-se concluir segundo os resultados que mesmo
que sejam enfatizadas na literatura tradicional e ágil as diversas diretrizes, processos e
ferramentas para uma melhor gestão de projeto, nenhuma delas a princípio atenderia por
completo a todos os aspectos necessários.
11
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
Classificação quanto à
Classificação quanto à
Aspecto assertividade na metodologia
assertividade na metodologia Ágil
tradicional
Escopo Maior assertividade Maior assertividade
Cronograma Maior assertividade Maior assertividade
Custos Menor assertividade Menor assertividade
Qualidade Maior assertividade Maior assertividade
Riscos Menor assertividade Maior assertividade
Comunicação Maior assertividade Maior assertividade
Recursos Maior assertividade Menor assertividade
Aquisições Maior assertividade Menor assertividade
Integração Menor assertividade Maior assertividade
Partes interessadas Menor assertividade Maior assertividade
Formalização do projeto Maior assertividade Menor assertividade
5. Conclusão
O intuito principal do presente trabalho foi o estudo dos aspectos assertivos no que se refere
ao gerenciamento de projetos através dos métodos tradicional e ágil. Tal objetivo foi atingido,
12
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
sendo possível também analisar os aspectos menos assertivos de cada método e ainda, sobre
os aspectos questionados, compará-los entre ambas as metodologias quanto à assertividade.
Para o método ágil, nos aspectos questionados quanto à assertividade, foi analisado que os
fatores mais assertivos foram: escopo, cronograma, qualidade, riscos, comunicação,
integração e partes interessadas. Quanto aos aspectos de menor assertividade, conclui-se que
foram: custos, recursos, aquisições e formalização do projeto. Com relação à faixa de variação
de valores com a utilização da metodologia ágil de gerenciamento de projetos, constatou-se
que a maioria dos respondentes possui um histórico de aumento no escopo, na duração e no
orçamento de projetos com a utilização do método.
13
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
Embora o objetivo do trabalho tenha sido atendido quanto ao estudo dos aspectos assertivos
no que se refere o gerenciamento de projetos através da gestão tradicional e da gestão ágil,
não foi realizado o mapeamento de alternativas para a melhoria dos aspectos menos assertivos
em ambas as metodologias, dada a limitação do método da pesquisa.
Assim, como sugestões para trabalhos futuros propõem-se explorar tanto na metodologia
tradicional como na ágil como os aspectos de menor assertividade de cada método são
enfrentados no cotidiano de projeto e quais as soluções/alternativas são utilizadas para a
tratativa dos mesmos. Ainda neste contexto, pode-se avaliar qual a melhor combinação de
aspectos entre os dois métodos que culminaria em um melhor gerenciamento de um projeto.
Agradecimentos
Curso de Especialização em Gestão de Projetos (CEGP)- Fundação Carlos AlbertoVanzolini
REFERÊNCIAS
BECK, K. E. A.Manifesto for Agile Software Development, 2001. Disponivel em: <http://www.
agilemanifesto.org/>. Acesso em: Fevereiro 2019.
CUNHA, R. G. Dificuldades na gestão dos projetos baseados nas abordagens ágeis e não ágeis: um estudo
comparativo entre o guia PMBOK e o Framework Scrum. Universidade de São Paulo. São Paulo. 2017.
EDER, S. et al. Estudo das práticas de gerenciamento de projetos voltadas para desenvolvimento de produtos
inovadores. Produto & Produção, São Paulo, v. 13, n. 1, p. 148-165, Fevereiro 2012.
JR, R. R.; CARVALHO, M. M. D.; LAURINDO, F. J. B. Fatores críticos para implementação de gerenciamento
por projetos: o caso de uma organização de pesquisa. Revista Produção, v. 12, n. 2, 2002.
LIBARDI, P. L. O.; BARBOSA, V. Métodos Ágeis. Universidade Estadual de Campinas. Limeira. 2010.
14
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
PATAH, L. A.; CARVALHO, M. M. D. Métodos de gestão de projetos e sucesso dos projetos: um estudo
quantitativo do relacionamento entre estes conceitos. Revista de Gestão e Projetos, São Paulo, v. 3, n. 2, p.
178-206, Maio/Agosto 2012.
PAZ, F. J.; DUARTE, F. D. S.; BIGÃO, E. S. Análise comparativa das metodologias ágeis: Scrum, XP e
FDD. Urcamp. Campinas. 2017.
PMI. Um guia do conhecimento em gerenciamento de projetos(guia PMBOK). 6. ed. São Paulo: Editora
Saraiva, 2017.
SANTOS, G.; SOARES, R. E.; CALDEIRA, V. Métodos Ágeis. Universidade Estadual de Montes Claros.
Montes Claros. 2013.
SCHONLAU, M. et al. Conducting research surveys via e-mail and the web. Rand Corporation, 2002.
SILVA, D. E. D. S.; SOUZA, I. T. D.; CAMARGO, T. Metodologias ágeis para o desenvolvimento de software:
aplicação e o uso da metodologia Scrum em contraste ao modelo tradicional de gerenciamento de projetos.
Revista Computação Aplicada, v. 2, n. 1, 2013.
SILVA, E. P. D.; ELIAS, P. C. Um estudo exploratório acerca da inserção do Scrum como ferramenta
importante na gestão de projetos guiada pelo PMBOK. Revista Conteúdo, Capivari, v. 10, n. 1, Janeiro/Julho
2016.
15