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Abstract
This paper presents the results of a research study aimed at proposing the
implementation of a set of tools to improve the design management process,
seeking to comply with the Brazilian standards NBR 15575. In order to develop
these tools, we conducted an exploratory study on the design management process
of property developers and construction companies regarding NBR 15575
compliance. The method adopted was Design Science Research, and it involved
performing a diagnosis in four companies, developing tools to assist the design
process, design implementation in companies and analysis of its application. The
results showed that the companies are facing challenges: lack of knowledge
regarding NBR 15575 and the requirements associated with the design
management process, which is poorly structured, as well as a lack of integration
between design disciplines and their insertion in the product development
Ana Cláudia Cotta
Universidade Federal de Minas Gerais
strategies of the property market. The tools developed help to structure the design
Belo Horizonte - MG – Brasil process of companies, facilitating the integration of functions and disciplines. The
tools were evaluated regarding their implementation in the companies and
according to the judgment of senior professionals working in construction and
Paulo Roberto Pereira Andery
Universidade Federal de Minas Gerais design companies. This study contributes to the practices of the market by offering
Belo Horizonte - MG – Brasil the tools it developed. From a scientific point of view, it offers a reflection about
the integration mechanisms within companies to ensure performance, associated
with a diagnosis of the design management process.
Recebido em 17/05/17
Aceito em 08/09/17 Keywords: NBR 15575. Design management process. Performance assurance.
COTTA, A. C.; ANDERY, P. R. P. As alterações no processo de projeto das empresas construtoras 133
e incorporadoras devido à NBR 15575 – Norma de Desempenho. Ambiente Construído, Porto Alegre,
v. 18, n. 1, p. 133-152, jan./mar. 2018.
ISSN 1678-8621 Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído.
http://dx.doi.org/10.1590/s1678-86212018000100213
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 18, n. 1, p. 133-152, jan./mar. 2018.
Introdução
O mercado imobiliário brasileiro, particularmente Referencial teórico
no segmento habitacional, vem passando por
importantes mudanças, em termos de aumento da A melhoria do desempenho das construções tem
competitividade. Um dos marcos nesse sentido foi sido palco de ampla discussão em diferentes países,
a entrada em vigor da NBR 15575 (ABNT, 2013a, segundo Sorgato et al. (2014). No Brasil, embora as
2013b, 2013c, 2013d, 2013e, 2013f), comumente discussões sobre desempenho tenham se iniciado
conhecida como “norma de desempenho”, que nos anos 90, com o projeto de Norma 02:135.07-
trouxe a expectativa de relevantes mudanças no 001/2, que posteriormente tornou-se a NBR 15220
setor. (ABNT, 2005), elas se intensificaram a partir da
elaboração e entrada em vigor da norma NBR
Alguns trabalhos acadêmicos têm tratado a questão
15575 (ABNT, 2013a, 2013b, 2013c, 2013d,
do desempenho sobre vários ângulos, mas ainda são
2013e), que ficou conhecida como Norma de
poucos os relatos que enfocam a questão desde a
Desempenho.
perspectiva da gestão do processo de projeto no
âmbito das empresas incorporadoras e construtoras. Essas demandas normativas elevam a complexidade
do processo de projeto, entendido aqui como o
Nesse contexto, o presente trabalho pretende
conjunto de atividades associadas à análise de
contribuir com o tema: o objetivo deste artigo é
viabilidade técnica, concepção e desenvolvimento
apresentar ferramentas que foram desenvolvidas
integrado dos projetos de arquitetura e engenharias,
para auxiliar o processo de projeto das empresas,
como citado, por exemplo, por Tzortzopoulos e
tendo em vista o atendimento dos requisitos
Cooper (2007). Para tanto, é fundamental a
normativos. O desenvolvimento das ferramentas foi
integração entre os agentes, a adoção de estratégias
embasado pela realização de um diagnóstico sobre
e o uso de tecnologias de apoio (BRÍGITTE;
dificuldades e desafios para atendimento aos
RUSCHEL, 2016).
requisitos da NBR 15575 no processo de projeto de
empresas incorporadoras e construtoras. Em função Os poucos trabalhos que estudam o processo de
de serem poucos e recentes os estudos sobre o tema, projeto, voltado para o desempenho, nas empresas,
passou a ser uma contribuição do trabalho. como os de Okamoto e Melhado (2014) ou Santos
(2017), apontam para a falta de conhecimento
Para isso, em um primeiro momento, realizou-se
dentro das construtoras e nas empresas de projeto
uma revisão da bibliográfica e um estudo
sobre as questões técnicas e gerenciais para a
exploratório em quatro empresas incorporadoras e
garantia do desempenho. Nessa mesma direção,
construtoras. O objetivo do estudo foi identificar
Lima (2016) sugere que o processo de projeto das
como o processo de projeto das empresas considera
empresas tem sofrido poucas alterações, com
as questões de desempenho, e quais são as possíveis
mudanças pontuais no escopo de contratação dos
dificuldades, para as quais poderia contribuir o
projetos. Resultados similares foram reportados por
desenvolvimento de ferramentas auxiliares ao
Pinheiro (2017), que também destacou a
processo de projeto.
dificuldade, por parte de projetistas, de identificar
A partir das demandas observadas no estudo as informações sobre desempenho dos materiais de
exploratório, foram desenvolvidas e avaliadas diversos fabricantes.
ferramentas de apoio ao processo de projeto, e os
Santos et al. (2016) destacam que ainda é frequente
resultados também são descritos e analisados.
que as especificações de materiais, particularmente
O trabalho é relevante na medida em que aprofunda para revestimentos e acabamentos, sejam feitas
no conhecimento do processo de projeto das pelas equipes de suprimentos das empresas,
empresas, frente aos desafios da norma de frequentemente mais preocupadas com aspectos de
desempenho – tema ainda pouco explorado – e por custo ou assertividade comercial dos materiais
apresentar ferramentas, voltadas para o atendimento escolhidos. Essas especificações impactam
dos requisitos do desempenho. Essas ferramentas significativamente na garantia do desempenho.
contribuem para a introdução, no processo de
Considerando o aspecto gerencial, Barbosa e
projeto das empresas, de conceitos de colaboração
Andery (2016) afirmam que permanece uma visão
e integração entre funções e disciplinas, conceitos
de falta de integração entre disciplinas de projeto
esses ainda pouco aplicados na realidade das
(arquitetura e engenharias) e entre as atividades de
empresas.
incorporação imobiliária e o desenvolvimento de
produtos pelas equipes de incorporação.
A literatura tem sido recorrente ao apontar que a
garantia do desempenho implica na consideração
dos requisitos normativos ou outros parâmetros de (PROGRAMA..., 2017), explicitando ações a serem
desempenho exigidos pelos usuários desde a análise incorporadas no processo de projeto.
de viabilidade e estudos iniciais (BARBOSA;
ANDERY, 2016; BECKER, 2005; HUOVILA, Método
2005; PETERSEN; SVENDSEN, 2010). Isso exige
o desenvolvimento integrado e simultâneo do Uma vez delineado o objetivo da pesquisa –
projeto arquitetônico e das engenharias desenvolver ferramentas que auxiliem no processo
(KAMARA; ANUMBA; CUTTING-DECELLE, de projeto e na construção das soluções projetuais,
2007). Brígitte e Ruschell (2016) também reforçam as quais foram desenvolvidas a partir da realização
a necessidade de uma visão sistêmica entre as de estudo diagnóstico –, o método empregado na
diversas variáveis que compõem os requisitos de condução da pesquisa foi o Design Science
desempenho. Apresentam um fluxo de atividades Research (LUKKA, 2003; LACERDA et al., 2013).
para o processo de projeto, incluindo a etapa e O método operacionaliza a construção de esse método
pode ser
possíveis formas de interação de resultados de conhecimento, permitindo a elaboração de interessante
simulações computacionais. constructos – nesse caso, um conjunto de para a minha
pesquisa
ferramentas para o processo de projeto – que
Oliveira e Mitidieri Filho (2012) destacam a
permitem resolver problemas, avaliar o que foi
necessidade de o processo de projeto prever a
projetado e comunicar os resultados obtidos
seleção antecipada das tecnologias construtivas
(LACERDA et al., 2013), introduzindo novos
considerando o desempenho esperado. Os projetos
referenciais teóricos para a área de conhecimento
passam a exigir a definição dos procedimentos de
(LUKKA, 2003).
execução nos canteiros de obra, integrando-os com
suas formas de controle. Da mesma forma, os Uma representação esquemática dos passos da
projetos deverão considerar, ao definir a vida útil de pesquisa é ilustrada na Figura 1.
projeto, as condições de uso e operação, que serão
refletidas nos manuais a serem entregues aos Contextualização
usuários (BARBOSA; ANDERY, 2016;
OLIVEIRA; MITIDIERI FILHO, 2012). O processo de pesquisa iniciou-se com a
identificação do problema e a definição do objetivo,
Além da necessária reestruturação do processo de etapa denominada contextualização.
projeto, Huovila (2005) aponta para a importância
de serem desenvolvidas listas de verificação
associadas às atividades de coordenação de projetos
Compreensão do problema
ou para análise crítica e verificação das saídas de Considerando que a implementação da NBR 15575
cada tipo de projeto. Nessa linha de ação é recente, e os seus impactos no processo de projeto
encontram-se as recentes exigências do Sistema de são ainda relativamente pouco conhecidos na
Avaliação de Conformidade (SIAC) para empresas realidade brasileira, o estudo contou com uma etapa
de serviços e obras, referencial normativo baseado de compreensão dos desafios e impactos que supõe
na ISO 9001, que passou a incorporar, na sua versão a implementação da norma, e o estabelecimento de
de janeiro de 2017, requisitos na NBR 15575 diretrizes para sua solução.
As alterações no processo de projeto das empresas construtoras e incorporadoras devido à NBR 15575 – Norma de 135
Desempenho
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 18, n. 1, p. 133-152, jan./mar. 2018.
Quadro 2 – Caracterização dos agentes que opinaram sobre a aplicação das ferramentas
Avaliador Formação Cargo
Engenheiro Coordenador de projetos em incorporadora / construtora de grande
1
civil porte em Belo Horizonte, que possui atuação nacional.
Coordenadora de projetos em outra incorporadora / construtora de
2 Arquiteta
grande porte em Belo Horizonte, que possui atuação nacional.
Coordenadora de projetos na empresa B: incorporadora / construtora
3 Arquiteta
de médio porte em Belo Horizonte.
Coordenadora de projetos de empresa incorporadora / construtora de
4 Arquiteta médio porte, do Rio de Janeiro, responsável pela contratação e
coordenação de projetos.
Diretora em empresa de projetos de arquitetura e instalações, com
5 Arquiteta
atuação em Belo Horizonte; atua como coordenadora de projetos.
Engenheiro Diretor técnico em empresa de projetos de instalações em Belo
6
civil Horizonte, com ampla atuação em Belo Horizonte
Engenheira
7 Diretora em empresa de projetos de instalações em Belo Horizonte
civil
Engenheiro Diretor em empresa de projetos de cálculo estrutural, com boa atuação
8
civil no mercado de Belo Horizonte; atua como engenheiro calculista
Diretor em empresa de projetos de cálculo estrutural, com ampla
Engenheiro
9 atuação no mercado de Belo Horizonte; atua como engenheiro
civil
calculista
Fonte: Cotta (2017).
As alterações no processo de projeto das empresas construtoras e incorporadoras devido à NBR 15575 – Norma de 137
Desempenho
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As alterações no processo de projeto das empresas construtoras e incorporadoras devido à NBR 15575 – Norma de 139
Desempenho
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 18, n. 1, p. 133-152, jan./mar. 2018.
Desempenho. Nas empresas A e D, pouco (b) nessa linha de raciocínio, desenvolver formas
estruturadas, com sobrecarga de funções em um mais avançadas de trabalho conjunto com
profissional, viu-se maior dificuldade para projetistas, para que, também, eles busquem a
planejamento e implementação da norma. aplicação da Norma de Desempenho e passem a ter
Verifica-se uma necessidade de revisão do fluxo de postura mais ativa;
atividades no processo de projeto, que concentre (c) considerar as características de desempenho
sua atenção (com maior ou menor rigor, de acordo para as especificações de projeto e não apenas
com a maturidade gerencial da empresa) na análise parâmetros visuais e comerciais e estabelecer
de compatibilização de projetos, com mecanismos critérios e procedimentos para compras de
para a introdução de soluções integradas de projeto, materiais, baseadas nas características técnicas e
priorizando os conceitos de engenharia simultânea de desempenho;
(BRÍGITTE; RUSCHEL, 2016). Conceitos esses
(d) para as empresas certificadas Siac (PBQP-H),
disseminados inclusive por associações
é necessária a adequação de seus processos,
representativas das empresas de projeto, para além
implementando procedimentos fundamentais para
do âmbito acadêmico, mas ainda de pouca
a garantia do desempenho, tais como procedimento
penetração em ampla gama de empresas.
de avaliação de terrenos, checklists de análise
O trabalho aponta para a percepção de que a crítica dos requisitos de desempenho e validação
introdução de um pensamento sistêmico de dos projetos. Há que se considerar aqui as recentes
integração de disciplinas (projeto de arquitetura e exigências do Siac, que foi publicado em janeiro
projetos de engenharia) e de uma visão integrada de 2017; e
entre conceito de produto, requisitos de
(e) considerar a elaboração de ensaios que
desempenho e desenvolvimento de projetos esbarra
comprovem o atendimento do desempenho,
em alguns aspectos.
elaborando um planejamento (físico e financeiro)
Em primeiro lugar, uma cultura de desvalorização para sua execução, e, quando aplicável,
dos projetos, amplamente reportada na literatura alimentando o processo de projeto com requisitos
(ARROTÉIA; AMARAL; MELHADO, 2014). de entrada.
Essa desvalorização implica, por exemplo, em
Com base nessas considerações, resultantes da
ainda contratar projetos com base no preço, ou na
análise do processo de projeto das empresas e em
ausência de mecanismos de avaliação da qualidade
consonância com as observações da literatura,
dos projetos e de seus serviços associados.
foram desenvolvidas e implementadas as
Em segundo lugar, a mudança na forma de ferramentas apresentadas na sequência.
contratação de projetos, em termos de momento e
definição do escopo de atividades e produtos, que Implementação de ferramentas
se depara com a falta de conhecimento e, portanto,
de processos estruturados sobre quando e como de apoio ao processo de
contratar para atender ao desempenho requerido. projeto para garantia do
Nesse sentido, as características do processo de desempenho
projeto das empresas apontam para uma
concordância com outros estudos citados, ainda que A partir do diagnóstico realizado nas empresas, e
não tenham aprofundado no conhecimento do tendo em vista as diretrizes delineadas acima, foram
processo de projeto das empresas. desenvolvidos um fluxo de atividades para o
processo de projeto e outras ferramentas para
Em síntese, o estudo exploratório, brevemente suporte técnico e gerencial às empresas na
descrito, aponta para algumas diretrizes a serem implantação da Norma de Desempenho.
aplicadas ao processo de projeto das empresas, e
que são esquematicamente apresentadas: As ferramentas têm como premissa o conceito de
engenharia simultânea e podem ser usadas por
(a) a necessidade de redefinir os escopos de empresas que já estão com processo de
contratação dos projetos e redesenhar os processos implementação da Norma de Desempenho mais
de projeto com seus marcos e etapas, adequando os avançado e por aquelas que ainda não conseguiram
momentos das atividades às exigências de se mobilizar para isso.
desenvolvimento dos projetos quanto à Norma de
Desempenho. Soma-se a isso a necessidade de Na sua elaboração foram utilizados, como base ou
diversificar a gama de disciplinas de projetos, ponto de partida, guias e manuais publicados
consultorias a serem contratadas para orientar as recentemente pela Câmara Brasileira da Indústria
soluções de projeto para o atendimento do da Construção (CBIC) e Associação Brasileira de
desempenho requerido; Escritórios de Arquitetura (ASBEA).
Para aprimoramento das ferramentas, além do seu até o acompanhamento das atividades nos
emprego nas empresas estudadas, com a canteiros de obras;
consequente análise do seu impacto, elas foram
(b) integração entre a equipe de projeto e os
apresentadas a um grupo de especialistas,
agentes responsáveis pela incorporação
profissionais atuantes no mercado, que fizeram
imobiliária, de modo que aspectos estratégicos dos
observações sobre sua utilidade e aplicabilidade,
empreendimentos (como a definição do perfil de
como mencionado anteriormente.
desempenho para cada requisito normativo) e a
análise de viabilidade dos terrenos e tipologias
Descrição das ferramentas construtivas sejam feitos de maneira conjunta
Uma breve descrição dessas ferramentas é pelos agentes de incorporação e responsáveis pelos
apresentada a seguir. projetos; e
(c) integração entre as equipes de projetos e de
Modelo de fluxo de atividades para o apoio às obras, particularmente no que diz respeito
processo de projeto a suprimentos, definição de estratégias construtivas
e planejamento da produção. Detalhes da
Trata-se da apresentação de um fluxo de atividades
ferramenta são apresentados no Manual de Escopo
para o processo de projeto dividido em fases e
para a Contratação de Projetos para a Garantia do
marcos, considerando desde as etapas iniciais de
Desempenho (SERVIÇO...; SINDICATO...,
concepção dos projetos até a pós-entrega da obra e
2016).
levando em consideração as atividades e produtos a
serem gerados em cada uma de suas etapas, tendo Uma ilustração da ferramenta é apresentada na
em vista as diretrizes normativas de desempenho. Figura 2.
Esse documento foi desenvolvido a partir do fluxo
Procedimentos de contratação de projetos:
de atividades proposto por Barbosa (2013).
escopo
Posteriormente foi adaptado e publicado no manual
de contratação de projetos (SENAI-MG; Foram desenvolvidos documentos, separados por
SINDUSCON-MG, 2016). disciplinas de projetos, contendo o escopo de
Esse documento pode ser usado pelas construtoras trabalho a ser entregue por cada disciplina, em cada
e pelas incorporadoras ao longo do fase do desenvolvimento do projeto. As fases foram
desenvolvimento de todo o processo de projeto. divididas, de acordo com as mesmas fases
apresentadas na Figura 2.
Parte dos conceitos de integração, em vários níveis,
a saber: Foi constatado que as empresas, principalmente as
menos estruturadas, têm dificuldades para definir
(a) integração entre as disciplinas de projeto qual o conteúdo ou escopo dos projetos em cada
(projeto de arquitetura e projetos de engenharia) uma das fases. Dessa forma, foram propostos esses
que são desenvolvidas de maneira simultânea. documentos, para serem usados pelas construtoras e
Além da contratação antecipada dos projetos de incorporadoras no momento da contratação dos
engenharia, que possuem informações que projetos.
alimentam/alteram o anteprojeto arquitetônico, são
previstas reuniões de coordenação ao longo das Para atendimento das diretrizes de desempenho,
fases do processo de projeto, desde a concepção devem ser anexados a esses procedimentos os
checklists de recebimento de projetos que serão
apresentados adiante.
As alterações no processo de projeto das empresas construtoras e incorporadoras devido à NBR 15575 – Norma de 141
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Uma representação esquemática de parte da água, usos antecedentes, estabilidade do solo, entre
ferramenta referente à disciplina de arquitetura é outras. Como traz informações multidisciplinares e
apresentada na Figura 3. Os procedimentos são de várias especialidades técnicas, deve ser
extensos e estão detalhadamente descritos em Cotta preenchido por uma equipe de profissionais que,
(2017). juntos, apresentarão a análise completa.
O desenvolvimento desse documento teve como
Mapa de riscos base inicial o checklist apresentado pelo CBIC
Trata-se de análise de riscos do terreno e entorno, (CÂMARA..., 2013), bem como os itens
norteada por formulário que funciona como um relacionados na Parte 1 da NBR 15.575 (ABNT,
checklist para coleta de informações relativas às 2013a).
características topográficas e geológicas, do ar e da
As alterações no processo de projeto das empresas construtoras e incorporadoras devido à NBR 15575 – Norma de 143
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momento, de forma a atenderem às demandas Pela sua dimensão, não é possível a apresentação
normativas de desempenho. completa da ferramenta e uma representação
parcial, apenas ilustrativa, é mostrada na Figura 5.
O desenvolvimento dessa planilha se deu a partir de
guia para arquitetos (ASSOCIAÇÃO..., 2015),
modificada pelo grupo de trabalho.
As alterações no processo de projeto das empresas construtoras e incorporadoras devido à NBR 15575 – Norma de 145
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A ferramenta mais efetiva e implementada em todas C. A empresa C utilizou-o em maior escala, e serviu
as empresas foi o mapa de riscos, que faz uma como um primeiro modelo para estruturação de seu
análise crítica do entorno dos empreendimentos e processo de projeto. As empresas questionaram a
do terreno, e propicia a análise de aspectos críticos contratação antecipada dos projetos de engenharia,
a serem considerados no processo de projeto. Os e somente no caso da empresa C as resistências
empreendimentos selecionados por cada empresa foram vencidas, o que demonstra que será preciso
estavam em distintas fases de projeto, mas em todos criar indicadores de desempenho e de risco que
os casos a ferramenta mostrou-se especialmente tornem mais evidente a necessidade de contratação
útil, tanto pela “usabilidade”, por se mostrar clara e e desenvolvimento integrado dos projetos desde as
de aplicação imediata, quanto pelo seu impacto. De etapas iniciais dos empreendimentos.
fato, em várias situações, aspectos críticos para o
Os checklists de recebimento de projetos foram
atendimento de requisitos de desempenho haviam
implementados pelas empresas B e D, sendo que na
sido desconsiderados ou negligenciados nos estudos
B vêm sendo utilizados de maneira rotineira,
de viabilidade e elaboração dos programas de
inclusive passando a ser mecanismo de validação de
necessidade dos empreendimentos, e esses aspectos
projetos no âmbito do sistema de gestão da
críticos passaram a ser considerados.
qualidade da empresa. Mostrou-se também
O modelo de fluxo de atividades para o processo de particularmente útil para alguns projetistas, que não
projeto vem sendo empregado nas empresas A, B e
tinham ainda roteiros formais para validação de a dimensão desempenho no processo de projeto das
seus projetos no que diz respeito ao desempenho. empresas.
A ferramenta diretrizes para especificações de Alguns comentários destacaram a importância de
acabamento foi implementada, em conjunto com o treinamento dos coordenadores de projeto para a
profissional responsável das empresas A e B, a utilização de ferramentas mais complexas, como o
partir do padrão de acabamentos determinado pela fluxo de atividades e a planilha de acompanhamento
incorporação. Para um dos empreendimentos da das atividades de coordenação.
empresa A, a implantação desse procedimento se
Para vários avaliadores, a implementação das
deu de maneira facilitada, pois o fornecedor de
ferramentas esbarra na conscientização, por parte
materiais de acabamento em questão já havia
dos níveis estratégicos das empresas, a respeito da
realizado todos os ensaios e laudos de seus
valorização da etapa de projetos e da própria função
materiais, os quais foram disponibilizados para o
coordenação.
cliente, com agilidade. Em outras situações a
ferramenta foi útil como mecanismo efetivo de Ressaltaram a ideia de que as ferramentas induzem
verificação de especificações. Em alguns casos a implementação lógica de uma estrutura de
tiveram de ser alteradas para atendimento a trabalho no processo de projeto, com a definição de
requisitos normativos específicos. Pela sua etapas e atividades, e um fluxo de processos que se
simplicidade de utilização e pelo fato de compilar inicia com o mapeamento de riscos, passando pelos
informações de forma a facilitar a verificação, mecanismos de contratação e desenvolvimento das
mostrou-se de utilidade. disciplinas, até análise crítica e validação.
Enfatizaram que o uso das ferramentas desperta
A planilha auxiliar à coordenação começou a ser
uma consciência sobre a importância de atentar para
empregada na empresa C, inclusive como
o atendimento dos requisitos normativos, criando
instrumento para análise crítica de projetos. Como
condições para que a empresa inicie processos de
apresenta informações compactas que podem ser
melhoria contínua na forma de desenvolver seus
filtradas por disciplina e requisito, mostrou-se
projetos.
muito útil na avaliação do coordenador de projetos,
e passou a ser empregada rotineiramente. Além da avaliação dos profissionais, outras
considerações podem ser feitas.
O plano de realização de ensaios ainda tem, nessas
empresas, caráter informativo. Duas delas Uma análise conjunta do processo de projeto das
começaram a realizar ensaios de incidência sonora empresas e dos resultados da aplicação das
em fachadas, e passarão a desenvolver simulações ferramentas, ainda que em caráter preliminar,
de desempenho térmico, mas ainda não sugere conclusões que caminham na mesma direção
consideraram a ferramenta para a realização de dos comentários feitos na literatura recente: as
planos de controle tecnológico, o que possivelmente empresas carecem de conhecimentos gerenciais que
será feito em função da implementação da nova permitam nortear o processo de projeto para
versão do Siac, que o exige de maneira explícita. atendimento aos requisitos de desempenho, e, nesse
sentido, a introdução de um conjunto de
Além da sua apresentação e utilização nas
ferramentas que sejam aplicadas às diversas fases
empresas, nos termos indicados acima, as
do processo de projeto (análise de riscos,
ferramentas foram objeto de avaliação por parte de
contratação, coordenação de disciplinas, análise
um grupo de profissionais experientes em
crítica e validação) pode proporcionar uma
coordenação de projetos e com conhecimento
estrutura mínima que facilite a introdução de
técnico-gerencial a respeito da NBR 15575,
processos mais sistêmicos e induza as empresas a
conforme indicado na descrição do método de
assumirem uma postura de melhoria contínua.
pesquisa. A avaliação envolveu juízos dos
Torna-se necessária a introdução de ferramentas
especialistas sobre a qualidade técnica das
que cubram os aspectos tecnológicos da Norma de
ferramentas, aplicabilidade no processo de projeto,
Desempenho, em sintonia com os aspectos de
utilidade e outros possíveis comentários.
gestão do processo de projeto.
A avaliação foi feita por nove profissionais
Nesse sentido, essa é uma contribuição do presente
experientes, como indicado no Quadro 2 –
trabalho. As ferramentas desenvolvidas contribuem
Caracterização dos agentes que opinaram sobre a
para a introdução de processos sistêmicos de
aplicação das ferramentas.
integração entre as funções incorporação,
Sem nenhuma exceção, os avaliadores coordenação e desenvolvimento de projetos, cujos
consideraram as ferramentas tecnicamente corretas, problemas foram apontados na fase de compreensão
aplicáveis e úteis como instrumentos para trabalhar do processo de projeto das empresas.
As alterações no processo de projeto das empresas construtoras e incorporadoras devido à NBR 15575 – Norma de 149
Desempenho
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 18, n. 1, p. 133-152, jan./mar. 2018.
Ressalta-se o fato de que o problema não se esgota ARROTÉIA, A. V.; AMARAL, T. G. do;
com a implementação de ferramentas; duas posturas MELHADO, S. B. Gestão de Projetos e Sua
essenciais precisam ser alcançadas. Por um lado, a Interface Com o Canteiro de Obras Sob a Ótica da
introdução de uma visão de integração e Preparação da Execução de Obras (PEO).
colaboração entre os agentes responsáveis pela Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 14, n. 4,
definição do produto edifício e os responsáveis pelo p. 183-200, out./dez. 2014.
desenvolvimento dos projetos (coordenadores e ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
projetistas). Por outro lado, faz-se especialmente TÉCNICAS. NBR 15220: desempenho térmico de
necessária a integração entre as disciplinas desde as
edificações. Rio de Janeiro, 2005.
fases iniciais dos empreendimentos. São aspectos
que exigem uma mudança de cultura que começa ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
pelos níveis estratégicos das empresas. TÉCNICAS. NBR 15575: edificações
habitacionais: desempenho: parte 1: requisitos
Considerações finais gerais. Rio de Janeiro, 2013a.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
O presente trabalho apresentou o desenvolvimento TÉCNICAS. NBR 15575: edificações
e aplicação de um conjunto de ferramentas de habitacionais: desempenho: parte 2: requisitos para
suporte técnico e gerencial ao processo de projeto os sistemas estruturais. Rio de Janeiro, 2013b.
de empresas incorporadoras e construtoras. O
desenvolvimento balizou-se em um estudo ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
exploratório sobre o processo de projeto das TÉCNICAS. NBR 15575: edificações
empresas do ponto de vista de sua estruturação para habitacionais: desempenho: parte 3: requisitos para
atendimento aos requisitos normativos da NBR os sistemas de pisos. Rio de Janeiro, 2013c.
15575 (ABNT, 2013a, 2013b, 2013c, 2013d, 2013e, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
2013f). TÉCNICAS. NBR 15575: edificações
Do ponto de vista metodológico, a estrutura do habitacionais: desempenho: parte 4: requisitos para
Design Science Research se mostrou adequada para os Sistemas de Vedações Verticais Internas e
a consecução do objetivo do trabalho. A Externas - SVVIE. Rio de Janeiro, 2013d.
apresentação de ferramentas desenvolvidas para ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
suporte na construção de processos de integração TÉCNICAS. NBR 15575: edificações
entre os distintos agentes de incorporação e habitacionais: desempenho: parte 5: requisitos para
desenvolvimento dos projetos ao longo de suas os sistemas de coberturas. Rio de Janeiro, 2013e.
fases. O desenvolvimento das ferramentas baseou-
se em um melhor entendimento sobre as ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
dificuldades inerentes ao processo de projeto das TÉCNICAS. NBR 15575: edificações
empresas, para a garantia dos requisitos da Norma habitacionais: desempenho: parte 6: requisitos para
de Desempenho. os sistemas hidrossanitários. Rio de Janeiro, 2013f.
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