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Gest. Prod., São Carlos, v. 20, n. 1, p.

162-179,
2013

Modelo de referência para o processo de


desenvolvimento de produtos mecatrônicos (MRM):
Validação e resultados de uso

Mechatronic reference model (MRM) for new product development:


Validation and results

Sanderson César Macêdo Barbalho1


Henrique Rozenfeld2

Resumo: Este artigo apresenta o modelo de referência para o desenvolvimento de produtos mecatrônicos (MRM)
enfatizando o trabalho de validação do modelo pela implantação de melhorias no processo de desenvolvimento
de produtos (PDP) de uma empresa desenvolvedora. A aplicação e validação do modelo foi realizada por meio de
uma pesquisa-ação. O conteúdo do modelo é sumarizado e sua metodologia de aplicação e validação é
apresentada. As melhorias introduzidas aumentaram a capabilidade do PDP da empresa tanto na análise dos
principais atores da implantação quanto para executores do processo não envolvidos na implementação. Estes
últimos reportaram uma percepção de melhoria de indicadores de tempo, custo e qualidade do PDP. Os
resultados mais significativos ocorreram no controle de documentos e configurações de produto e isso se deveu a
aspectos regulatórios do mercado de equipamentos médicos. Embora tenha havido forte investimento em
melhorias na área de gestão de projetos, seus resultados em controle de prazos e custos foram limitados por
aspectos vinculados à integração entre as áreas de engenharia e marketing.
Palavras-chave: Processo de desenvolvimento de produtos. Melhoria de processos. Modelos de referência.

Abstract: This paper presents a reference model for the development of mechatronic products (MRM) emphasizing
the model validation by making improvements in the new product development (NPD) of a manufacturing
company. The model was applied and validated through an action research. The model content was summarized
and its application and validation methodology was presented. The improvements increased the company’s NPD
capability even for those who work on the process but who were not involved in the process implementation. The
latter reported a perceived improvement in time, cost, and quality of NPD. The most significant results occurred in
document control and product configurations due to regulatory aspects of medical devices. Although there have
been significant investments in the project management area, the time and cost control results were limited by
aspects related to the integration between engineering and marketing personnel.
Keywords: New product development. Process improvement. Reference model.

1 Introdução
Modelos de referência podem ser entendidos não têm sido estudados em profundidade. O que
como diretrizes, procedimentos e critérios de realmente é melhorado no PDP depois da
decisão para o sucesso no processo de introdução de um modelo? Como um modelo deve
desenvolvimento de produtos (PDP). Eles ser aplicado de maneira a trazer bons resultados?
objetivam prover um meio para introduzir produtos Enfim, mesmo que estudos clássicos indiquem
lucrativamente no mercado. Estudos de que a utilização de modelos de referência implica
benchmarking clássicos, como Cooper e em melhoria no PDP, algumas questões práticas
Kleinschmidt (1995) e Griffin (1997), apontam para a efetividade na aplicação desses modelos
entre as melhores práticas em PDP que a não são bem entendidas. Por exemplo, Cooper
utilização dos modelos de referência é um fator (1993) afirma que os modelos permitem um
crítico de sucesso para melhoria do PDP e para a planejamento mais acurado dos projetos. Ulrich e
lucratividade dos novos produtos. Eppinger (2003) sugerem mais efetividade à
Todavia, os mecanismos que relacionam a garantia da qualidade do produto. Beskow (2000)
Núcleo de Engenharia
melhoria
1
em PDPdee Produção, Faculdade
a aplicação de demodelos
Tecnologia,de
Universidade de Brasília –UnB, CEP 70904-970, Brasília, DF, Brasil,
e-mail: sandersoncesar@unb.br
referência
2
Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo – USP, CEP 13566-590, São Carlos, SP, Brasil, e-mail: roz@sc.usp.br
Recebido em 19/10/2010 — Aceito em 18/10/2012
Suporte financeiro: CAPES.
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aponta que os modelos facilitam a transferência é apresentado seu método de aplicação. Enfim,
de conhecimento entre projetos. Engwall, Kling e apresenta-se a aplicação e se discutem seus resultados
Werr (2005) acreditam que a única melhoria com vistas ao teste de validação do modelo. Ao
relativa ao uso dos modelos é que eles proveem final, constam as conclusões do trabalho.
um léxico comum para as diversas áreas
envolvidas no PDP. Tais estudos, entretanto, não 2 Aspectos metodológicos
vêm acompanhados de dados empíricos e relações
O modelo de referência mecatrônico foi
de causa-efeito, o que é apresentado neste texto.
Este artigo é parte de uma pesquisa em que foi desenvolvido mediante uma série de procedimentos
proposto um modelo de referência para desenvolver metodológicos. Primeiramente foi realizado um
produtos mecatrônicos. É resultado de um estudo de caso em uma empresa desenvolvedora de
doutoramento no qual dois anos foram dedicados produtos mecatrônicos, seguindo os
à aplicação do modelo em problemas operacionais procedimentos descritos em Yin (2008). O
do desenvolvimento de produtos de alta objetivo foi levantar o léxico terminológico dos
tecnologia. A maioria dos modelos de produtos mecatrônicos e verificar in loco aspectos
referência em PDP descritos na literatura são práticos do desenvolvimento desse tipo de produto.
genéricos, de acordo com Vernadat (1996). A O estudo foi realizado ao longo de seis meses e,
opção por instanciar o modelo aqui apresentado além de entrevistas, utilizou-se observação
para o caso de produtos mecatrônicos teve por participante como técnica de levantamento de dados.
motivação a necessidade de entender detalhes Em seguida, realizou-se extensa revisão bibliográfica
tecnológicos dos produtos de forma a permitir sobre as temáticas: desenvolvimento de produtos e
estudos de caso detalhados e aplicação de métodos mecatrônica. A partir daí foi realizada análise de
e ferramentas de PDP em harmonia com a conteúdo de acordo com os procedimentos
tecnologia projetada. descritos em Bardin (1979) quanto à vertente
A utilização do conceito de mecatrônica se deu categorial. Optou-se por realizar o trabalho com
pelo fato de que essa terminologia permite base na literatura clássica e apenas alguns artigos
caracterizar produtos com alto grau de de períodico com maior impacto na área, segundo
complexidade tecnológica, já havendo extenso o número de citações no sistema Web of Science.
material bibliográfico a respeito. Assim, a Ao final dessa etapa, o modelo de referência
conceituação de produtos mecatrônicos foi apresentava formato e conteúdo tais que era
extensamente pesquisada fugindo, porém, ao possível aplicá-lo e testá-lo em casos reais de
escopo deste trabalho o seu detalhamento. Em desenvolvimento de produtos mecatrônicos.
suma, os produtos mecatrônicos são aqueles cuja Passou-se à fase de aplicação e validação, as
função principal é provida por soluções que quais
agregam tecnologias mecânica, eletrônica e de são aqui relatadas.
software (BRADLEY et al., 2000). Seu projeto A aplicação do modelo foi conduzida mediante
demanda alto esforço em organizar pessoal com conceitos e técnicas de pesquisa-ação
diferentes especialidades e em articular todo um (THIOLLENT, 1997) em 24 meses de trabalho. O
sistema de produção que consiga produzir partes pesquisador foi integrado à equipe de projeto de
mecânicas e eletrônicas de maneira integrada. uma empresa que desenvolve produtos
O recorte do trabalho são as atividades de mecatrônicos e passou a realizar melhorias no seu
pesquisa relacionadas com a validação do modelo PDP com base em uma metodologia previamente
de referência mecatrônico (MRM), assim como definida (descrita no item 6). Ao final, foram
os resultados de melhoria conseguidos e os desenvolvidos dois questionários para inferir a
fatores do contexto organizacional e mercadológico melhoria conseguida e a opinião dos participantes
que se considera terem sido os principais 3do Reflexões
PDP quanto sobre
aos resultados e às limitações
desempenho e da
influenciadores do êxito conseguido. Assim, não ferramenta. Os resultados desses questionários são
será dado enfoque no conteúdo do modelo ou na melhoria em PDP
aqui relatados.
descrição detalhada de seus resultados práticos na O estudo pioneiro e, ainda hoje, principal
empresa, mas no framework geral de sua aplicação e referência na análise do desempenho do PDP é o
validação como ferramenta de melhoria do PDP. trabalho de Clark e Fujimoto (1991) acerca da
Dessa forma, espera-se contribuir para a definição indústria automotiva. Os autores tratam a
de metodologias de aplicação e validação de performance do desenvolvimento de produtos
modelos de referência, uma vez que vários como um reflexo das capacidades de longo prazo
trabalhos acadêmicos têm apresentado modelos da firma e estabelecem a qualidade total do
baseados apenas em revisão bibliográfica, o que produto, o lead-time de desenvolvimento e a
traz interrogações sobre sua aplicabilidade produtividade como os principais critérios de
prática. desempenho do PDP.
O texto apresenta inicialmente os aspectos da
metodologia da pesquisa e, em seguida, a revisão
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Alguns estudos buscam entender os direcionadores mecatrônicos, sua metodologia foi utilizada como
do desempenho do PDP que implicam em um referência de aplicação do MRM.
PDP eficiente e que gere produtos de sucesso. A A melhoria de processos sugerida pelo CMMI é
Tabela 1 apresenta alguns direcionadores e implementada através da construção de padrões de
indicadores de desempenho usados neste tipo de referência para a operação do que os autores
estudo. chamam de áreas de processo (AP) do
O tipo de estudo apresentado na Tabela 1 é desenvolvimento de produtos. Os autores
baseado no seguinte ponto de vista: se os sugerem a adoção de dois diferentes caminhos
aspectos que resultaram em sucesso no PDP de para a melhoria do PDP. O primeiro é
algumas empresas forem descobertos e denominado de “contínuo” e habilita a empresa a
entendidos, relações de causa- efeito podem ser melhorar incrementalmente o processo em uma
estabelecidas no sentido de identificar que elemento AP previamente definida pela organização, seja
permitirá potencializar qual resultado em termos em função da facilidade de acesso, do potencial de
de sucesso do produto. Por exemplo, se a melhoria ou da estratégia da firma. O segundo,
companhia almeja melhor desempenho em tempo, ela denominado “por estágios”, permite que a
pode melhor gerenciar seus processos realizando organização melhore um conjunto de processos
testes de mercado no início do desenvolvimento inter-relacionados sob a responsabilidade de
(ROBERTS; BELOTTI, 2002) ou designar um forte diferentes unidades organizacionais por abordar
líder de projeto (comumente denominado agrupamentos sucessivos de APs que são pré-
champion) para dirigir o projeto (COOPER; definidos pelos autores. Em suma, a representação
KLEINSCHMIDT, 1995). Além “contínua” melhora o PDP por trabalhar sua
capabilidade (capability), i.e., atingir a melhoria do
dos direcionadores e indicadores de
processo em uma determinada área de processo,
desempenho, Kahn, Barczak e Moss (2006)
enquanto que a representação “por estágios”
mencionam que estudos similares aos da Tabela 1
melhora por abordar a “maturidade” do processo
são delineados ao longo de “dimensões” do PDP.
(maturity). A dificuldade em aplicar métodos de
Adams-Bigelow (2006) enfatiza a necessidade de
melhoria contínua no PDP é analisada por Caffyn
cada companhia desenvolver suas próprias
(1997). A autora acredita que a intangibilidade e a
métricas uma vez que elas devem estar alinhadas
criatividade inerentes ao PDP, a demanda por
aos objetivos estratégicos da empresa. padronizar um processo para que a partir do
A pesquisa aqui relatada adota como principal padrão seja melhorado e a usual lacuna de
direcionador do desempenho em PDP o nível de medidas de desempenho para gerenciar o PDP são
maturidade das suas áreas de processo, conforme as principais causas dos parcos resultados
define Chrissis, Konrad e Shrum (2006) no conseguidos pela aplicação de metodologias
Capability Maturity Model Integration (CMMI). de melhoria em desenvolvimento de produtos.
O modelo CMMI, além de apresentar uma Análises da implantação de ISO 9001 no PDP
sistemática de indicadores de PDP, sugere uma ilustram diversas barreiras para a melhoria contínua
metodologia de melhoria contínua baseada nesses no PDP. Auer, Karjalainen e Seppänen (1996)
indicadores. Por essa razão, e pelo CMMI ter sido consideram difícil implementar um sistema de
desenvolvido
Tabela para atender
1. Direcionadores a requisitos
de desempenho de produtos
do PDP e métricas dequalidade em organizações de P&D em função
sucesso de novos
produtos.
que integram hardware
Referências e software,Direcionadores
portanto, da dodificuldade
PDP Métricas de sucesso do produto
próximos da(2007)
• Paladino definição de produtos• Decisões de estratégia do produto • Desempenho financeiro
• Cooper e Kleinschmidt (1995) • Orientação estratégica de recursos • Qualidade do produto
• Griffin e Page (1996) • Orientação de marketing do produto • Valor para o cliente
• Roberts e Belotti (2002) • Estudos de mercado • Percentual de vendas com novos
• Kahn, Barczak e Moss (2006) • Forte liderança no projeto produtos
• Da Silva et al. (2007) • Nível hierárquico do patrocinador • Percentual de lucro com novos
• Toledo et al. (2007) • Vantagem em serviços e suporte técnico produtos
• Chiesa e Frantini (2007) • Rápida e acurada definição do produto • Taxa de sucesso técnico
• Teste de mercado do produto no início do • Participação de mercado
desenvolvimento • Impactofinanceiro na firma
• Conteúdo técnico do produto • Tempo de ciclo
• Organização do projeto orientado a times • Cumprimento de metas de
• Comunicação e colaboração dentro dos prazo
projetos de novos produtos • Crescimento de mercado
• Uso de técnicas de gestão da qualidade • Taxa de inovação
• Aceitação da estratégia tecnológica • Tempo de retorno do
investimento
• Satisfação de partes
interessadas
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de agregar recursos extras para trabalhar apenas e as habilidades de gerenciamento de times de


em documentação, pela insatisfação que poderia projeto como principais aspectos presentes em
ser causada, o que poderia prejudicar a captação e projetos exitosos. Enfim, os autores identificam que
manutenção de pesquisadores competentes. Terziovski, a atividade de prover documentação do produto é
Samson e Dow (1997) mostram em estudo fator diferencial em projetos exitosos. Da Silva et
realizado com empresas neozelandesas e al. (2007) apresentam estudo com firmas de
australianas que há correlação negativa entre a tecnologia nas áreas médica e de automação
certificação ISO 9000 e a inovação de produtos. Ou industrial. Empresas de automação têm seus fatores
seja, empresas certificadas apresentam menor taxa de sucesso relacionados com desempenho superior
de inovação que as não certificadas. Ragotaman de seus produtos frente à concorrência. Empresas
e Korte (1999) estudaram empresas americanas da área médica dependem de uma boa interpretação
certificadas e detectaram que há forte discordância das necessidades do cliente e da criatividade nas
quanto à existência de resultados positivos soluções de engenharia. Os autores identificam que
decorrentes da certificação ISO 9000 como atividades de homologação têm relação com o
ferramenta de melhoria no PDP. Dados apresentados sucesso do produto em ambas as áreas.
por Blind e Hipp (2003) mostram que, de um 4 Sumário do modelo de referência
universo de 2100 empresas alemãs, 89% das aplicado
consideradas inovadoras não aplicam ISO 9001 e
que este número aumenta com a redução do Uma vez que não é objetivo do trabalho a
número de empregados na firma. descrição do Modelo de Referência Mecatrônico
No Brasil, diversos pesquisadores têm se (MRM), apenas um sumário do seu conteúdo será
dedicado a estudar a melhoria em desenvolvimento apresentado. O modelo utiliza uma representação
de produtos, seja entendendo fatores de sucesso de do tipo stage gate© e, com base nela, uma
determinadas empresas e setores, seja classificação das áreas de processo e um método
analisando a aplicação de determinados de melhoria do PDP foram construídos. O modelo
conceitos no PDP das empresas. Santos Junior e reflete melhores práticas detectadas na
Mello (1996) analisam o PDP de empresas do bibliografia quanto ao desenvolvimento de produtos
polo tecnológico de São Carlos. Os autores mecatrônicos. A Figura 1 mostra a visão do
identificaram uma série de comportamentos processo do modelo de referência construído. As
comuns entre as diferentes empresas sob o ponto de fases do MRM são definidas em função dos
vista da criação do negócio e discutem fatores resultados que geram. Tais resultados são
que determinaram o insucesso de alguns dos documentos que representariam o conceito de
produtos desenvolvidos por estas empresas. “informações de valor”, discutido por Clark e
• Estratégia:
Fujimoto (1991). definição
As fases são descritas acomo
da estratégia ser
Problemas relativos às interfaces entre a engenharia
e atividades de outras áreas, especialmente a de segue:perseguida em cada linha de produtos
marketing, foram ressaltados. Toledo et al. (2007) (LDP);
descreve um survey com um considerável número • Portfólio: definição do portfólio de cada LDP;
de pequenas empresas brasileiras de alta tecnologia • Especificações: definição das especificações
para identificar direcionadores de desempenho em de cada produto;
PDP. Os resultados identificam a importância do
trabalho de levantamento de requisitos

Figura 1. Fases e decisões do


MRM.
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• Planejamento do projeto: definição do plano Entre cada fase há um ponto de decisão, ou


de projeto de cada produto; gates, sendo eles de quatro tipos. Os gates
• Concepção: definição dos principais ilustrados por ( ) representam momentos nos
componentes e princípios de solução para as quais as decisões são tomadas em torno de um
determinado conjunto de produtos. Na fase de
funções principais do produto mecatrônico;
estratégia, o conjunto são todos os produtos da
• Planejamento técnico: detalhamento do plano
empresa. Na de portfólio, são todos de uma
de projeto com base na concepção definida; determinada LDP. Os gates representados como (
• Projeto técnico: soluções técnicas para as funções ) são decisões com ênfase no negócio realizadas
principais do produto; com base em indicadores de desempenho de
• Otimização: detalhamento e teste de soluções projetos. Gates ( ) são decisões técnicas realizadas
para funções secundárias do produto e em encontros do tipo peer review. O gate ( )
representa o fechamento de um determinado projeto
realização de análises necessárias ao aumento
de desenvolvimento após o ramp-up do produto.
da robustez e confiabilidade do produto; As decisões representadas nos gates foram
• Homologação: homologação do processo de também utilizadas para definir as atividades da
fabricação e montagem do produto; fase precedente, assim como o conteúdo dos
• Validação: validação e certificação do produto documentos de saída de cada fase.
por terceira parte; Para cada fase do modelo, foi desenvolvido
• Lançamento: lançamento do produto no um
mercado; e fluxograma de processos representando a
• Monitoramento: visão de atividades (VERNADAT, 1996) do
acompanhamento dos
MRM. De maneira a apenas exemplificar a
resultados conseguidos com o produto e estrutura do modelo confeccionado, apresenta-se,
gerenciamento das modificações realizadas na Figura 2, o fluxo da fase de estratégia. Vê-se que
na configuração inicial de produção. a fase tem como entradas o plano estratégico da
firma e dados de mercado mediante os quais
diversas atividades são realizadas. São gerados,
como saídas da fase, um documento de

Figura 2. Fase de estratégia.


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diretrizes para o portfólio de produtos e a própria de entrada necessárias à execução da atividade; e


estratégia de produtos da empresa. (4) suas principais saídas. Tal descrição textual é
Para cada atividade ilustrada nos fluxogramas complementada com uma árvore de funções
similares ao ilustrado na Figura 2, há uma descrição (SCHEER, 1999), um fluxo de entradas e saídas e
detalhada de seu conteúdo com: (1) referências à uma caixa explicativa sumarizando suas
bibliografia de PDP ou das áreas técnicas características no contexto do MRM.
vinculadas ao projeto mecatrônico; (2) uma A Figura 3 apresenta o detalhe da atividade
descrição das tarefas que compõem a atividade; “Definir objetivos do portfólio” que é parte do
(3) as informações fluxograma

Figura 3. Detalhamento da atividade de definição dos objetivos do portfólio da


empresa.
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ilustrado na Figura 2. Ao menos uma página de escopo, prazos, custos, aquisições de recursos e
texto foi escrita para cada atividade do MRM de subcontratações realizadas no PDP. Entretanto,
forma a facilitar seu uso. O MRM comporta 127 entende-se que, à medida que as soluções de
atividades divididas nas suas 12 fases. O detalhe projeto vão se tornando robustas, os processos de
de como cada atividade deve ser realizada soma a aquisição passam a estar mais relacionados com o
descrição de 587 tarefas que constam nas árvores projeto da estrutura de produção e suprimentos
de funções. Há ainda a descrição do conteúdo de que com o de desenvolvimento das soluções de
documentos intermediários e de saída de cada fase engenharia. O ciclo planejamento-execução-
e de alguns métodos previstos. controle-fechamento, definido pelo
PMBOK:2008, é implementado por meio dessa
5 Áreas de processo do MRM AP. As atividades relacionadas à gestão de
O MRM foi confeccionado para ser usado em requisitos, que foram incorporadas à área de gestão
pequenas e médias companhias. Como há de escopo no PMBOK:2008, são tratadas nas áreas
evidências científicas de que o modelo CMMI não de desenvolvimento de mercados e de arquitetura
é aderente às pequenas empresas desenvolvedoras de sistemas, conforme mencionado anteriormente.
de produtos (JUCÁ JUNIOR; CONFORTO; O projeto de engenharia consiste nas atividades
AMARAL, 2010), o de projeto e teste de soluções técnicas definidas na
MRM não utiliza APs previstas no CMMI. O bibliografia como “engineering design”, conforme
conceito de AP do CMMI foi, então, adaptado proposições de Pugh (1990) e Pahl e Beitz (1996).
mediante uma abordagem mais apropriada à Com base na proposta desses autores, foram
tecnologia mecatrônica e às pequenas empresas. A suprimidas apenas as atividades relacionadas
Figura 4 representa, por meio de barras com as fases de especificações (PUGH, 1990) e
horizontais, as áreas de processo do MRM clarificação da tarefa (PAHL; BEITZ, 1996).
distribuídas ao longo de suas fases. Embora todas Nessa AP, agregam-se as contribuições dos
terminem apenas na fase de monitoramento do autores de mecatrônica e das engenharias
produto, o início de cada uma é bastante eletrônica, mecânica e de software, tais como
expressivo de sua função dentro do PDP. Bradley et al. (1991) e Horowitz e Hill (1999). O
A área de processo de desdobramento da projeto da produção e suprimentos consiste nas
estratégia é baseada na proposição de Cooper, atividades discutidas por Clark e Fujimoto (1991)
Edgett e Kleinschmidt (1998) acerca da e Wheelwright e Clark (1992) como “engenharia
integração entre decisões de portfólio e decisões de processo” e naquelas que consistem no projeto
de gate. São as atividades pelas quais se garante da estrutura fabril necessária à introdução do
que as diretrizes da estratégia da empresa serão produto na linha de produção, conforme Slack,
aplicadas ao longo do PDP. O desenvolvimento de Chambers e Jonhston (2002). As atividades de
mercados é uma proposta dos autores e consiste logísticas de suprimento e distribuição
nas atividades desenvolvidas por várias unidades (BALLOU, 1993) são incorporadas nessa área.
organizacionais objetivando tornar o produto A qualidade do produto consiste nas atividades
adequado às necessidades do mercado. Essa é a de análise realizadas para prever falhas nos
AP na qual se levantam os requisitos de um produtos, garantir sua confiabilidade e garantir
determinado segmento de mercado, se desenvolvem que eles não apresentem riscos de segurança
ações de marketing necessárias para tornar o para usuários e operadores (JURAN, 1997). As
produto reconhecido no mercado-alvo e se atividades de identificação e análise de
monitora a satisfação do cliente. requisitos de clientes foram subdivididas de
A arquitetura de sistemas é baseada no conceito maneira a refletir a origem das necessidades que
de engenharia de sistemas com ênfase nas elas expressam. Assim, a identificação das
atividades de desenvolvimento de requisitos para necessidades relacionadas com os clientes está na
o produto e de documentação técnica, conforme AP de desenvolvimento de mercados, enquanto
discutido no padrão Institute of Electrical and que os requisitos normativos foram associados
Electronicis Engineers (INSTITUTE..., 1998) – à qualidade do produto, pois decorrem do
IEEE 1220. conhecimento acumulado e consolidado em padrões
Tal padrão é complementado pela atividade de qualidade acerca de tipologias/tecnologias de
de análise de requisitos de software (ver produto. O monitoramento da qualidade do produto
PRESSMAN, 2001; BRADLEY et al., 2000). após seu lançamento também está incorporado a
Enquanto a AP de desenvolvimento de mercados esta AP.
identifica os clientes potenciais do produto e A área de documentos e configurações são
levanta suas necessidades, a arquitetura de sistemas as atividades que mantêm o PDP registrado e as
transforma essas necessidades nos requisitos configurações de projeto e de produto sob
técnicos entregues às equipes de engenharia e controle. Tal área é advogada por padrões de
os gerencia ao longo do PDP. engenharia de sistemas como o IEEE 1220 e é
A gestão de projetos segue o conceito definido explícita em normas de qualidade, a exemplo da
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Figura 4. Áreas de processo do


MRM.
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demais APs, a exemplo do que é proposto no podiam ser classificadas de acordo com a forma
padrão European Cooperation for Space pela qual eram tratadas na empresa, segundo a
Standardization (ECSS-M-40A) (EUROPEAN..., classificação de seu grau de capabilidade, conforme
1996). Considera-se sugerido por Chrissis, Konrad e Shrum (2006),
que, desta forma, a temática da documentação de adaptado ao caso dos produtos mecatrônicos em
projeto fica tratada de forma mais explícita. Do pequenas empresas. Cada atividade de cada fase
ponto de vista prático, isto facilita os aspectos de do PDP teria diferentes possibilidades de ser
certificação ISO 9001 do PDP e, do ponto de vista cumprida, dependendo de sua capabilidade,
teórico, deixa clara a diferenciação entre as conforme ilustrado na Figura 6.
atividades de engenharia, gestão de projetos e A definição dos níveis de capabilidade
qualidade quanto às atividades de gestão de apresentados na Figura 6 é a seguinte: (i)“NÃO
configurações e registro de lições aprendidas ao FAZ” – nível de capabilidade “incompleto” ou
6longo
Método de aplicação e validação
dos projetos. zero: a companhia não realiza a atividade prescrita
no modelo; (ii) “FAZ” – nível de capabilidade
do modelo desenvolvido “realizado” ou um: a atividade é realizada, mas
O desenvolvimento e a validação do MRM, sem processo padronizado ou um planejamento
conforme já mencionado, se baseou não só na prévio para sua execução; (iii) “PLANEJA” – nível
revisão bibliográfica realizada, mas também em de capabilidade “gerenciado” ou dois: a atividade
uma pesquisa-ação com enfoque na implantação é executada de acordo com um planejamento
de melhorias baseadas nas prescrições do modelo. prévio;
A aplicação do modelo de referência e a (iv) “MÉTODO” – nível de capabilidade
verificação do grau de melhoria conseguido por “definido” ou três: atividade realizada conforme
meio dele seguiram a metodologia ilustrada na planejada sendo baseada em um método e um
Figura 5. conjunto de padrões e templates; (v)
A ETAPA 1 consiste em aplicar um “MENSURA” – nível de capabilidade
questionário “quantitativamente gerenciado” ou quatro: a
objetivando identificar ações de melhoria atividade é realizada, sendo baseada em
necessárias ao PDP da empresa com base no MRM. planejamento e método e seus resultados são
O questionário foi estruturado de forma que as medidos de forma a comparar as diferentes
atividades do modelo instâncias de sua execução; e (vi) “OTIMIZA” –
nível de capabilidade

Figura 5. Utilização do método sugerido para a aplicação do MRM para o teste das proposições de validação do
modelo.
Modelo de referência para o processo de desenvolvimento... 171

Figura 6. Escala de aferição da capabilidade das áreas de processo do


PDP.

“otimizado” ou cinco: a atividade é continuamente preferível aumentos de capabilidade de um nível


melhorada por meio da identificação e eliminação utilizando a sistemática ilustrada acima.
das causas da variabilidade de seus resultados. Como método de uso do MRM, na ETAPA 1,
O questionário permite, após tabulados seus o grupo ao qual é submetido o questionário de
resultados, classificar todas as respostas de uma diagnóstico deve ser designado pela alta direção
determinada AP e calcular a média da da empresa. Dessa forma, busca-se garantir que as
capabilidade da área. Obviamente, quando pessoas às quais é submetido o questionário tenham
calculada a média de uma área de processo, respaldo para responder oficialmente pela
poderão ocorrer resultados expressos em empresa com relação a suas áreas específicas de
números reais ou fracionados, tais como 1,2 ou atuação. Portanto, ao final do diagnóstico, tem-se
1,7. Estes resultados demonstram que os níveis de o ponto de vista dos principais decisores sobre as
capabilidade são de um em ambos os casos. demandas do PDP da empresa. No caso da
Entretanto, também demonstram que a AP com aplicação utilizada para validar o MRM, o
um resultado de 1,7 está mais próxima de um Presidente da firma designou um grupo de seis
nível dois. Tais diferenciações são retomadas ao executivos, inclusive ele próprio, para responder
final da aplicação do MRM, pois o método de ao questionário, e definiu que as decisões
melhoria utilizado supõe que áreas com maiores relativas às melhorias a serem implementadas
níveis de capabilidade devem resultar em maior
fossem tomadas junto aos diretores de engenharia
impacto no desempenho do PDP.
e de manufatura. Estabelecidas as prioridades para
Depois que o nível inicial de capabilidade
a aplicação do modelo, sua implementação durou
foi identificado, uma análise deve ser realizada,
24 meses e enfocou as atividades do departamento
necessariamente com a participação dos principais
de engenharia e as interfaces deste com os setores
decisores do PDP da empresa, com vistas a definir
representativos da manufatura, garantia da qualidade,
as melhorias a serem aplicadas. Para tal, o MRM
oferece ferramentas para transições de capabilidade marketing e finanças.
A ETAPA 2 se inicia ao final da aplicação do
de zero a um, de um a dois e de dois a três. Tais
modelo
soluções basicamente seguem as regras a seguir:
de referência, quando o questionário diagnóstico é
(i) se a capabilidade de uma área de processo é
novamente aplicado ao mesmo público que fora
zero, usam-se as atividades do MRM como
checklist do que deve ser feito para aumentá-la entrevistado na ETAPA 1. A diferença entre o
para um; estado final da aplicação do modelo, após sua
(ii)se o nível de capabilidade é um, as atividades aplicação, e
devem ser planejadas de forma que as informações o estado inicial detectado na ETAPA 1, representa
e documentos intermediários, tais como ilustrados o grau de melhoria conseguido com o modelo de
na Figura 3, possam ser gerados sistematicamente. referência conforme a percepção do público
Isto deve ser feito usando os templates de designado pela diretoria da empresa.
documentos desenvolvidos para cada atividade do Neste ponto da pesquisa, uma reflexão foi
modelo. Tal procedimento aumentará a decisiva
capabilidade para dois; para definir os passos seguintes necessários à validação
(iii)se a capabilidade é dois, o modelo prevê do MRM. Caso tenham sido detectadas melhorias
diversos métodos que podem ser transformados em do PDP na empresa com base nas entrevistas com
processos- padrão a serem aplicados na empresa o público designado pela diretoria (ETAPA 2),
de forma a aumentar sua capabilidade para três. poderia haver, ainda, dois fatores que tenderiam a
Note que, se as melhorias definidas resultarem mascarar os dados levantados no sentido de
em aumento de capabilidade para alguma AP que considerar validado o MRM: (1) a pessoa
seja maior que um, de acordo com o conceito de entrevistada tenderia a responder que houve
perfil projetado (do inglês targeted profile em melhoria nas atividades em que foi questionada,
CHRISSIS; KONRAD; SHRUM, 2006), pode pois tendo ela responsabilidade sobre o processo,
haver problemas de implementação decorrentes da haveria uma tendência de identificar evolução
falta de maturidade do PDP da empresa e, temporal; e (2) as pessoas avaliariam a melhoria
172 Barbalho et al. Gest. Prod., São Carlos, v. 20, n. 1, p. 162-179,
2013

Em função do potencial dessas influências detectados e comente a aplicação do modelo na


sobre o resultado da pesquisa, realizou-se a empresa. Dessa forma, busca-se entender o porquê
ETAPA 3 da análise da melhoria, conforme dos resultados conseguidos na aplicação, e isso
ilustrado na Figura 5. Essa ETAPA consistiu em implica no registro de lições aprendidas com
aplicar uma segunda ferramenta de levantamento relação ao desenvolvimento e à aplicação de
de dados que permitiria: modelos de referência.
(i) submeter os graus de melhoria detectados
para que pessoas que não responderam ao 7 Aplicação do modelo de referência
questionário original pudessem expor sua opinião
e resultados
de concordância ou discordância quanto a eles; e
(ii) analisar se houve melhoria de indicadores de A aplicação do modelo se iniciou com o
desempenho do PDP na empresa. É importante diagnóstico do PDP da empresa baseado nas
ressaltar que, em uma aplicação genérica do MRM, atividades do MRM, o qual foi utilizado para
não seria necessária essa etapa de análise. Tal subsidiar discussões que estruturaram a aplicação
sistemática foi adotada no caso relatado em função do modelo propriamente dita, ainda na ETAPA 1 do
dele ter sido usado para validar o modelo. método ilustrado na Figura 5. A aplicação ocorreu
Submetendo os resultados detectados na ETAPA em 24 meses de pesquisa-ação, sendo sumarizada
2 quanto à melhoria do PDP a pessoas que no Quadro 1. Descrições detalhadas das atividades
não participaram do diagnóstico de situação e seus resultados parciais fogem ao escopo do
inicial e final, seria possível verificar se os artigo.
resultados do primeiro grupo se repetiriam. Além Conforme o quadro, todas as
disso, como esse último grupo analisado não seria aplicações
o designado pela alta direção da empresa, haveria estavam relacionadas com realizar atividades
um relaxamento na tendência de responder que não implementadas anteriormente na empresa,
houve melhoria nas áreas pesquisadas. Outro desenvolver procedimentos ou melhorar métodos
aspecto que tende a relaxar possíveis distorções da para realizar certas atividades. Todos os
ETAPA 2 é o fato de terem sido escolhidos para o procedimentos e métodos foram primeiramente
segundo grupo pessoas que estão no nível aplicados em um projeto que estava em
operacional do PDP na empresa: projetistas, andamento quando começou a aplicação do
montadores, gerentes de produto, operadores etc. MRM. Tal projeto foi usado para refinar e testar os
A segunda fonte de distorções dos dados foi procedimentos e métodos desenvolvidos, para
minimizada pela não utilização direta dos conceitos discuti-los com os principais interessados e apenas
do modelo de referência para avaliá-lo. Ou seja, depois utilizá-los como padrão para os demais
em vez de utilizar as atividades, documentos e projetos. Ao final do período de aplicação, os
templates do modelo para verificar seus novos projetos eram executados utilizando tais
resultados (como realizado na ETAPA 2), procedimentos, e um escritório de projetos foi
utilizaram-se indicadores de desempenho estabelecido para monitorar seu uso. As melhorias
reconhecidos como capazes de demonstrar a da área de “desdobramento da estratégia”,
melhoria do PDP, conforme discutido no item 3. entretanto, não foram realizadas diretamente
Com base nos resultados da ETAPA 3, pode-se pelo pesquisador, uma vez que não houve acesso a
considerar que houve resultado positivo da reuniões formais da alta direção. Apenas foram
aplicação do MRM, caso tenha havido fomentados conceitos extraídos das melhores
concordância dos entrevistados quanto aos graus práticas reportadas na bibliografia junto aos
de melhoria detectados na ETAPA 1. A concordância diretores de engenharia, de manufatura e
é considerada suficiente para validar a melhoria, comercial.
uma vez que ela demonstra que o modelo Depois da aplicação do modelo, passou-
apresentou resultados capazes de melhorar a se à
percepção do pessoal de nível gerencial e ETAPA 2, ilustrada na Figura 5, na qual foi
operacional da empresa sobre o PDP. Embora as novamente aplicado o questionário de diagnóstico de
análises realizadas nas ETAPAS 2 e 3 permitam capabilidade do MRM de forma a estabelecer a
identificar a melhoria conseguida no PDP e a condição final do PDP da empresa. Com isto, foi
percepção do aumento de alguns indicadores de possível inferir o grau de melhoria apontado pelos
desempenho, no caso de o modelo ser gestores do processo. A Figura 7 mostra o nível de
considerado validado, elas não permitem entender capabilidade do PDP no início da aplicação do
o que determinou a validade ou rejeição do modelo (Nci), no final (Ncf) e a razão entre eles,
modelo. Ou seja, não identificam as características designado como grau de melhoria (c). Os
da forma de aplicação, do mercado, do pessoal números apresentados em cada área de processo
envolvido, da cultura da empresa e dos desafios a ela representam a capabilidade média das atividades
impostos etc. que refletiram nos resultados da de cada área, avaliadas como descrito na Figura 6.
aplicação do MRM. No início da aplicação do MRM, o nível
Modelo de referência para o processo de desenvolvimento... 173

Quadro 1. Sumário das aplicações do MRM na empresa


pesquisada.
Áreas de processo Descrição da aplicação
Melhoria conceitual da forma de realização da caracterização de linhas de produto,
• Desdobramento da usando matriz BCG
estratégia Melhoria conceitual da forma de análise do ambiente competitivo utilizando conceitos
de Michael Porter
Validação de produtos diretamente com lead users mediante procedimento sistematizado
• Desenvolviment
Realização de treinamento sistemático com assistência técnica em função de erros e análise
o de mercados de riscos realizada na fase de projeto e requisitos de lead users
Desenvolvimento de processo padronizado de planejamento de projetos com WBS
e cronograma padrões
Desenvolver estrutura de orçamentação de projetos
• Gestão de projetos Consolidar metodologia de gerenciamento de riscos por
projeto Consolidar planos de gerenciamento dos projetos
Estabelecimento de estrutura de monitoramento e controle de prazos e custos ao longo
dos projetos
Criação de procedimento padrão para a construção de concepções e arquiteturas de
• Projeto de
produtos Especificação de interfaces e sistema de controle por produto
engenharia
Implementar análises de tolerãncias ao longo do projeto
Criação de procedimento para a identificação sistemática dos requisitos dos produtos a
desenvolver
• Arquitetura de Desenvolvimento de procedimento de identificação, descrição e análise de requisitos
sistemas de
software
Confecção de matrizes de verificação de requisitos para os produtos em desenvolvimento
Consolidação de arquitetura dos produtos nos estágios iniciais dos projetos
Criação de padrão para o planejamento e a documentação de projetos com base em árvores
de produto
Desenvolvimento de procedimento para orientar a gestão das configuraçoes dos protótipos
dos produtos
Criação de templates para a sistematizaçao do projeto técnico dos produtos em
relatórios técnicos
• Documentos e Criação de templates para a sistematização de dados e a produção de relatórios de testes
configurações de
software
Criação de templates de documentos de montagem eletrônica e mecânica e integração de
software
Criação de procedimento para consolidar e controlar a configuração comercial do
produto Criação de procedimento para o gerenciamento de mudanças nos produtos
Documentação das fases já concluídas para os projetos em andamento
Documentação e registro das soluções de projeto de engenharia

Criação de procedimento e template para a análise de riscos de produtos com base em


formulário FMEA
Criação de checklists para a identificação de requisitos normativos por tipologia de produto
• Predição e Criação de procedimento e template para a análise de falhas de processo com base em
monitoramento da formulário FMEA
qualidade Desenvolvimento de template de processo de controle de qualidade de produtos em
processo Criação de procedimento de validação de produtos com base na aprovação dele
e de seus documentos
Criação de procedimento para a detecção e exploração de possíveis melhorias de produto

Detalhamento das atividades de manufatura e montagem dos produtos em desenvolvimento


Desenvolvimento de template de fluxograma de processo para transferir produtos para a
manufatura
• Projeto de produção Criação de procedimento de documentação de informações de compra e contratação
e suprimentos de fornecedores
Homologação de fornecedores de partes críticas
Desenvolvimento de procedimento para a produçao de lotes piloto e o treinamento
de operadores.
174 Barbalho et al. Gest. Prod., São Carlos, v. 20, n. 1, p. 162-179,
2013

Figura 7. Nível de capabilidade das áreas de processo antes da aplicação do MRM application (Nci), depois da (Ncf) e o
grau de melhoria conseguido (c).

quando se iniciou a aplicação do MRM. Retomando refletiu na realização de melhorias em praticamente


a metodologia de aplicação do MRM, isso significa todas as APs do MRM.
que, em geral, as aplicações deviam seguir uma Analisando os valores de Ncf na Figura 7, a
estratégia de melhoria baseada na execução de média da capabilidade aumentou, embora a
atividades não realizadas. Tal estratégia resultaria dispersão de seus valores no final da aplicação
no avanço de um nível “NÃO FAZ” para um nível tenha sido maior que no começo. A área com
“FAZ”. Porém, a análise permitiu verificar que, maior capabilidade continuou sendo a “qualidade
nas áreas de “projeto de engenharia” e de do produto”, seguida por “documentos e
“qualidade do produto”, haveria possibilidade de configurações”, ambas apresentando nível dois.
buscar atender ao nível “PLANEJA” sem ferir o As áreas de “gestão de projetos” e “projeto de
conceito de perfil projetado. Obviamente, como a engenharia” figuraram capabilidade de 1,4. As
análise foi realizada no nível de atividades e não capabilidades de “desenvolvimento de
da AP como um todo, é possível, dentro de uma mercados”, “arquitetura de sistemas” e “projeto da
mesma AP, implantar melhorias solicitadas pelos produção e suprimentos” ficaram próximas de um.
decisores sem que, necessariamente, o perfil A menor capabilidade no final da implantação foi
projetado para a AP, como um todo, seja seguido. em “desdobramento da estratégia” apesar de a
Ainda analisando o estado inicial das APs, a diretoria da empresa ter reportado o uso de melhor
que apresentava menor capabilidade era a de sistemática de definição da estratégia e os próprios
“documentos e configurações”, especialmente nas diretores terem sido entrevistados nas ETAPAS 1 e
fases de projeto mais próximas ao lançamento 2.
do produto e ao congelamento de sua configuração O gráfico linear na Figura 7 mostra o grau de
final entregue para a manufatura. Importante melhoria do nível de capabilidade das áreas de
ressaltar que as demandas pela aplicação do MRM, processo (c), i.e., a razão entre o nível de
no início da pesquisa-ação, estiveram vinculadas capabilidade final e inicial (Ncf/Nci) de cada área
ao fato de a empresa estar implantando ISO de processo. Nota-se que a melhoria de
9001, o que teve forte impacto na área de capabilidade de todas as APs foi maior que um.
“documentos e configurações”. Em função do Pode-se também verificar que a área com maior
longo tempo de pesquisa-ação, foi possível captar grau de melhoria, “documentos e
nuances da evolução da estratégia operacional da configurações”, foi também aquela com maior
empresa à medida que ela conquistava projetos de número de aplicações do MRM; e que a área com
engenharia nas áreas espacial e militar, o que se menor c foi também a com menor quantidade de
intervenções baseadas no modelo.
Modelo de referência para o processo de desenvolvimento... 175

8 Percepção de melhoria do pessoal vinculado mais diretamente ao desenvolvimento


operacional do PDP da empresa de produtos, foram entrevistados neste trabalho.
Adicionalmente, os diretores de engenharia e
A validação dos graus de melhoria apontados comercial foram entrevistados.
na Figura 7 foi realizada por meio de entrevista A Figura 8 apresenta o grau de concordância
com um segundo grupo de pessoas, configurando médio com relação às melhorias em cada uma das
o início da ETAPA 3 da metodologia de validação áreas de processo. Observa-se que, mesmo tendo o
do modelo (Figura 5). Os dados de melhoria das menor grau de melhoria, há menor concordância
APs foram submetidos a esse grupo para que fosse quanto à área de “desdobramento da estratégia”, o
realizada uma análise do tipo concorda/discorda. que sugere que os entrevistados discordam de ter
A Tabela 2 apresenta o perfil do grupo pesquisado: havido qualquer melhoria nos aspectos
áreas funcionais de origem e função no PDP. relacionados com a estratégia de produtos da
Observa-se que a maioria dos entrevistados empresa. Por outro lado, a área de “documentos e
pertenceu à engenharia uma vez que a empresa configurações”, além de ter maior grau de
adota uma estrutura organizacional funcional para o melhoria, tem maior concordância quanto a esse
PDP, sendo a área de engenharia a responsável aumento.
pela maior parte das atividades de A análise realizada até aqui, considerando
desenvolvimento. É importante salientar que, em também as etapas anteriores, permite validar os
função do tamanho da empresa e do fato de os dados de melhoria do PDP após a aplicação do
departamentos envolvidos no PDP modelo. Confirma-se que houve maior aumento de
compartilharem o mesmo sítio, todos os capabilidade na área de “documentos e
principais executivos que não participaram do configurações” e que tal aumento é percebido
grupo sugerido pela alta direção para o como melhoria por 85% dos respondentes da
cumprimento das ETAPAS 1 e 2, assim como o ETAPA 3 da validação do MRM.
pessoal operacional
Tabela 2. Perfil dos entrevistados na segunda etapa de validação do MRM quanto à área funcional/papel no
PDP.
Total Engenharia Manufatura Vendas Alta direção Gerentes Líderes de Pessoal
funcionais projeto
técnico
20 14 4 2 3 7 5 5

Figura 8. Grau de concordância quanto ao aumento de capabilidade das áreas de processo do


MRM.
Gest. Prod., São Carlos, v. 20, n. 1, p. 162-179,
176 Barbalho et al.
2013

9 Melhoria de indicadores de participaram efetivamente dos projetos mais antigos


que foram comparados aos que estavam em
desempenho do PDP andamento quando da aplicação do MRM –
Como a empresa não tinha um sistema ativo independente de sua função no PDP, setor no qual
de medição de desempenho, optou-se por levantar está alocado ou grau de escolaridade –, elas
o grau de melhoria que o pessoal de engenharia, poderiam realizar melhor comparação entre os
manufatura e vendas percebia com relação ao PDP indicadores de desempenho analisados nos
entre os momentos inicial e final de aplicação do momentos inicial e final da aplicação. A Figura 9
MRM. Além dos aspectos de custo, prazo e apresenta os resultados desta ETAPA. A média da
qualidade (ver CLARK; FUJIMOTO, 1991), optou- percepção de melhoria é de 0,4. O indicador mais
se por utilizar indicadores que permitissem inferir positivo no período considerado foi a “capacidade de
a melhoria do esforço de documentação e controle integrar novos projetistas”, o que sugere uma
de configurações ocorrido. Pesquisas demonstram correlação positiva com a área de “documentos e
que estes aspectos são determinantes de sucesso configurações”: a documentação gerada nos projetos
no PDP de empresas de alta tecnologia (ver é base para a alocação de novas contratações ou a
TOLEDO et al., 2007). realocação de quadros de acordo com as demandas
Os indicadores de desempenho usados foram: e o estado técnico do projeto. Considera-se também
monitoramento e controle de custos, melhoria no que há relação entre um mais eficiente “acesso à
controle dos prazos, exatidão no planejamento de informação gerada ao longo do projeto” e a
tempo, fácil acesso aos dados de projeto, “facilidade para integrar novos projetistas”.
facilidade de integração de novos projetistas, nível Os baixos graus de aumento de capabilidade
de mudança de requisitos ao longo dos projetos e nas áreas de “desdobramento da estratégia” e de
redução de reclamações da manufatura ou de “desenvolvimento de mercados” (Figura 7) podem
clientes. O grupo ilustrado na Tabela 2 respondeu explicar a baixa concordância dos entrevistados
com base em escala de concordância/discordância quanto à melhoria em “mudanças de requisitos dos
sobre haver alguma melhoria destes indicadores. projetos” – gerados pelo pessoal de marketing da
A escala estabelecia quatro níveis de empresa. Quanto à redução das “reclamações dos
concordância: concordo totalmente, valorado como setores de manufatura”, de fato esperava-se que,
dois; concordo, valorado como um; discordo, com o projeto melhor documentado, a transferência
menos um (–1,0); e discordo totalmente, menos das especificações dos produtos para os setores
dois (–2,0). de manufatura e montagem seria simplificada. As
Para validar o MRM, foram considerados os entrevistas demonstraram tal aspecto, e, conforme
valores imputados por entrevistados que tinham os graus de concordância ilustrados na Figura 9,
mais de 10 anos de empresa, somando 12 das 20 houve redução das reclamações dos setores de
entrevistas; média de 15 anos de casa. Como manufatura.
essas pessoas

Figura 9. Graus de melhoria dos indicadores de desempenho


investigados.
Modelo de referência para o processo de desenvolvimento... 177

Uma vez que a AP de “gestão de projetos” espacial. Entretanto há outros elementos


apresentou o segundo maior grau de dispersos nos diferentes discursos. Para o
melhoria (Figura 7), havia forte expectativa de executivo de Engenharia, responsável direto
maior eficiência na gestão dos prazos dos pelo gerenciamento dos projetos de seu setor:
projetos, especialmente quanto ao seu
monitoramento e controle. Como um dos [...] A equipe aumentou [...] começa a te
principais elementos de custo dos projetos é o obrigar a usar ferramentas mais adequadas.
lead-time, o controle dos prazos afetaria o controle Essa visão é compartilhada pelos engenheiros
do custo. Portanto, tinha-se uma expectativa de de projeto:
melhoria dos indicadores de prazo e custo
analisados. Os dados da Figura 9 indicam que, com [...] do tamanho que ficou a coisa não tem
exceção do indicador de estimativa de prazos – como o Diretor ficar cuidando de tudo.
portanto, de planejamento do projeto –, todos os Um outro engenheiro enfatiza:
outros foram considerados melhorados. As
estimativas de prazo são reflexos dos marcos [...] Então, cada projeto tem um
principais dos projetos, especialmente a meta de gerenciamento. Isso já vinha de um certo
lançamento do produto, a qual é estabelecida pelo tempo, mas hoje está mais declarado porque
departamento de marketing. Assim, considera-se que os projetos estão aumentando então cada um
a discordância quanto a melhorias na exatidão tem que cuidar do seu setor para a coisa
dos prazos dos projetos tem relação com a baixa andar. Não tem como uma pessoa cuidar de 5
capabilidade da área de “desdobramento da projetos, então nesse sentido houve uma
estratégia”. Os dados das ETAPAS 2 e 3 evolução na gestão de projetos.
demonstraram que o aumento na capabilidade das Portanto, diferentemente da área de
APs foi acompanhado por aumento na percepção “documentos e configurações”, em “gestão de
de melhoria de indicadores de desempenho do projetos” há um determinante imposto pelo
PDP. O fato de um grupo de respondentes próprio crescimento da empresa. É importante
analisar a capabilidade e outro analisar indicadores enfatizar que, embora o crescimento imponha
sugere que os resultados são consistentes. Portanto, melhoria em gestão de projetos, a condução da
o modelo pode ser considerado válido para melhoria é mais passível de controle e de
realizar melhorias no
10 Direcionadores dosPDP de empresasde
resultados que planejamento por parte do principal executivo da
desenvolvem produtos mecatrônicos.
melhoria conseguidos engenharia que a melhoria em documentos e
A ETAPA 4 do método ilustrado na Figura 5 foi configurações, a qual é imposição normativa.
realizada por meio da análise das entrevistas com o • Sobre os problemas com a gestão de prazos
grupo pesquisado na ETAPA 3. A seguir, apresenta-se na empresa: decorrem da visão do pessoal do
um debate entre as explicações dos entrevistados comercial de que se deixar o prazo aberto, o
acerca dos resultados apresentados nos itens pessoal de projeto não consegue convergir
anteriores e a visão do pesquisador a respeito, para uma solução rapidamente. Segundo o
considerando sua pesquisa-ação na empresa ao principal executivo de Vendas da empresa:
longo de dois anos.
• Sobre a grande melhoria em documentação [...] o engenheiro tende a querer otimizar ao
Essemáximo
tipo de procedimento
o produto. gera reações, como, por
e configurações: resultou de imposições dos exemplo, a explicitada pelo executivo de
órgãos que regulam os mercados em que a Engenharia acerca do que seria uma melhoria
empresa atua: médicos e espacial. Essa visão significativa para o PDP da firma:
é compartilhada pelos entrevistados. Para o [...] trabalhar independente do pessoal
principal executivo de Engenharia, no do comercial.
passado:
Há uma lacuna entre vendas e engenharia na
[...] Não tinha a ANVISA para perturbar. À empresa que foi captada pela baixa melhoria do
medida que foi entrando esses produtos “desdobramento da estratégia”. A fase de
médicos, órgãos reguladores começaram a estratégia não abrange as atividades previstas nas
pegar no pé aí a gente teve que começar melhores práticas, e as reuniões de Diretoria não
certas formas de trabalho. chegam a versar sobre estratégias de produto, de
O representante dos sistemas de gestão enfatiza: mercado etc., mas sobre resultados financeiros do
ano fiscal.
[...] A organização do projeto que existe hoje • Sobre a baixa melhoria em desdobramento da
evolui, principalmente, através de necessidades
regulatórias, de certificação de produtos.
estratégia: não há uma clara noção da
diferença entre gerenciar as LDPs e gerenciar os
• Sobre a melhoria em gestão de projetos: produtos das
também decorre de imposições do
Gest. Prod., São Carlos, v. 20, n. 1, p. 162-179,
178 Barbalho et al.
2013

LDPs. Embora a empresa tenha conseguido impositivo na tentativa de sobrepor o


crescer, as oportunidades de negócio não são conteúdo do modelo à cultura da empresa; e
pensadas a médio e longo prazo antes de se • O baixo grau de aplicação do modelo nas
transformarem em novos projetos. Isso faz atividades relacionadas com marketing e vendas
com que, da mesma forma que começam (Quadro 1) pode explicar a baixa percepção
impulsivamente, projetos sejam trocados por de melhoria relacionada com o alinhamento
“oportunidades melhores”, sobre as quais da estratégia da empresa com as prioridades
houve pouca análise. Um dos Gerentes de departamentais e mesmo a discordância do
engenharia afirma: pessoal entrevistado quanto à melhoria do
[...] Porque a gente não vê claramente planejamento dos prazos dos projetos.
desenvolvimento, desdobramento da estratégia Como trabalho futuro é importante aplicar o
do produto. Num instante o diretor solicita modelo em atividades mais voltadas para estratégia
uma coisa, noutro outra coisa. Às vezes a e portfólio de produtos de maneira a analisar o
sinergia, [...] a gente fica no meio fio não impacto final desse tipo de aplicação na melhoria
sabe se pula para lá ou pula para cá e o que do PDP. Por outro lado, é importante a aplicação
acontece muitas vezes é que a gente toca um das atividades mais voltadas para o projeto do
projeto, toca outro projeto e nós somos produto propriamente dito e a verificação dos
cobrados em termos de prazo. Às vezes não resultados dela decorrentes.
tem como cumprir esses prazos. Referências
Em suma, há uma confusão entre “estratégia”, ADAMS-BIGELOU, M. Rejoinders to “establishing an
“portfólio” e “especificações do produto”, o que NPD best practices framework”. Journal of Product
pode decorrer de estarem essas atividades sob Innovation Mangament, v. 23, p. 117-127, 2006.
responsabilidade do mesmo setor na empresa – a http://dx.doi.org/10.1111/j.1540-5885.2006.00187_1.x
diretoria comercial – cujo enfoque é vendas e, AUER, A.; KARJALAINEN, J.; SEPPÄNEN, V.
portanto, curto prazo. Não se questiona as LDPs, Improving R & D processes by an ISO 9001 – based
seu vínculo com a estratégia e a caracterização dos quality management system. Journal of Systems
Architecture, v. 42, n. 8, p. 235-244, 1996. http://
11 Conclusões
produtos que devem a ela atender.
dx.doi.org/10.1016/1383-7621(96)00010-0
O trabalho demonstrou que a aplicação de um BALLOU, R. Logística empresarial: transportes,
modelo de referência em PDP pode resultar em administração de materiais e distribuição física.
melhoria do processo. Tal melhoria foi identificada Tradução de Hugo T. Yoshizaki. São Paulo: Editora
nas entrevistas com o grupo de pessoas indicadas Atlas S.A., 1993.
pela alta direção da empresa (Figura 7) e foi BARDIN, L. Anáise de conteúdo. Tradução de Luís
ratificada pelo grupo de pessoal operacional Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa: Edições
entrevistado na ETAPA 3 da metodologia proposta 70, 1979.
(Figura 8). Adicionalmente, foi possível levantar BESKOW, C. Towards a higher efficiency: studies of
que houve uma percepção de melhoria de changes in industrial product development. Stockholm:
indicadores de desempenho do PDP na empresa Royal Institute of Technology, 2000.
em análise realizada pelo pessoal com maior tempo BLIND, K.; HIPP, C. The role of quality standards in
innovative service companies: an empirical analysis for
de casa. Tal melhoria se deu em indicadores mais
Germany. Technology Forecasting & Social Change,
fortemente vinculados ao controle dos projetos,
v. 70, n. 7, p. 653-669, 2003.
porém o planejamento de prazos e requisitos
http://dx.doi.org/10.1016/ S0040-1625(03)00029-5
precisa ser mais bem estruturado. BRADLEY, D. A. et al. Mechatronics: electronics
Foi possível identificar alguns determinantes do in products and processes. London: Chapman and
sucesso do uso do modelo de referência no caso Hall, 1991.
pesquisado. Os principais fatores que podem ser BRADLEY, D. A. et al. Mechatronics and the design
• O modelo
abstraídos do estudo
foi são:
aplicado em atividades nas of intelligent machines and systems. Cheltenham:
quais havia uma forte demanda da empresa Stanley Thornes, 2000.
para viabilizar a internacionalização de seus CAFFYN, S. Extending Continuous Improvement to
produtos; the New Product Development. R&D Management,
• O modelo foi aplicado em atividades cuja v. 27, n. 3, p. 253-267, 1997. http://dx.doi.
org/10.1111/1467-9310.00061
complexidade tinha aumentado significativamente CHIESA, V.; FRATTINI, F. Exploring the differences
em decorrência do crescimento da empresa; in performance measurement between research and
• O modelo foi aplicado segundo uma development: evidence from a multiple case study.
metodologia de pesquisa-ação em um estudo R&D Management, v. 37, n. 4, p. 283-301, 2007.
longitudinal. Evitou-se qualquer aplicação http://dx.doi.org/10.1111/j.1467-9310.2007.00476.x
de caráter mais
Modelo de referência para o processo de desenvolvimento... 179

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