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Diretrizes para Implantar a Engenharia


Simultânea como ferramenta da gestão de
projetos da Construção Civil
Gabriela Pizarro Crespo

Engenheira de Produção Civil, MBA em Gestão Avançada de Projetos pelo IETEC.

RESUMO

O presente trabalho apresenta o conceito, a aplicação e as diretrizes para implantação da Engenharia


Simultânea no setor da Construção Civil. A aplicação dos princípios da Engenharia Simultânea e Gestão
de Projetos na Construção Civil proporcionam melhoria na qualidade do projeto, dos processos e dos
produtos, pois intervém desde a concepção, na integração de equipes, na eficácia do gerenciamento e na
particularidade do tratamento dos dados, uma vez que os agentes externos variam significativamente de
um empreendimento para outro.

Palavras-chaves:Engenharia Simultânea, Construção Civil, Gerenciamento de projetos

1 INTRODUÇÃO

A indústria da construção civil passa por um momento de intenso dinamismo e competição entre as
empresas do segmento. As crescentes exigências dos agentes sociais, da globalização econômica e das
estratégias empresariais têm ampliado a pressão pela implantação e integração da compatibilização de
projetos de forma a melhorar o desempenho técnico, a qualidade e o resultado dos novos processos e
produtos.

No âmbito de Construção Civil, especificamente na área de edificações, responsável pela construção de


edifícios, as empresas têm buscado novos métodos, mais ágeis e competentes, para desenvolver produtos
e serviços que respondam às crescentes exigências e demandas do mercado e da sociedade. Sua
elaboração e coordenação exerce uma forte influência no produto final no que se refere aos pilares da
tríplice restrição: prazo, recursos (humanos e financeiros) e desempenho técnico.

O gerenciamento de projetos - conjunto e aplicação de técnicas e práticas para administrar atividades não
rotineiras, com objetivos bem estabelecidos e recursos limitados - é importante em diversos segmentos.
Como parte deste estudo, a necessidade do aperfeiçoamento dos mecanismos de gestão no processo e na
integração entre as atividades de projeto e execução permitem que as práticas da Engenharia Simultânea
sejam incorporadas ao setor de Construção Civil.

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Justifica a realização da pesquisa, a necessidade de fomentar as transformações sócio técnicas que


atingem a indústria da construção civil para integrar as equipes envolvidas, otimizar o tempo de
elaboração dos projetos de engenharia civil, garantindo o nível de qualidade esperado e extinção dos erros
ocasionados por falhas nos mesmos, que muitas vezes só são descobertos durante a execução da obra.

Grande parte dos problemas vividos durante a obra é decorrente da falta de compatibilização entre
projetos inerentes e da falta de detalhamento dos mesmos. Comumente, os projetos não são contratados
de modo formal, com as considerações e premissas definidas, o que leva a interpretações distintas pelos
projetistas. Outro grande problema enfrentado é que as obras são iniciadas antes da conclusão dos
projetos executivos, o que pode gerar modificações durante a sua execução.

A aplicação da Engenharia Simultânea no Gerenciamento de Projetos contribui para a empresa no que se


refere à redução do tempo de elaboração, custo e adoção de medidas de racionalização, tanto no projeto
como na execução, obtendo produtos compatibilizados e com mínimas interferências em outras áreas
(arquitetônico, estrutural, instalações hidráulicas/ elétricas/ telefone/ interfone/ SPDA e prevenção e
combate a incêndio).

Para a sociedade, clientes e usuários, a melhoria é vista em edificações que atendam às expectativas,
incorporam os conceitos de construtibilidade, habitabilidade, manutenibilidade e sustentabilidade, além
de serem entregues em menores prazos.

As premissas da Engenharia SimultâneasaÞovaìlidas para modernizar as praìticas de gestaÞo de projetos


no setor de construçaÞo de edifiìcios; com base nestas premissas e na anaìlise das caracteriìsticas do
processo de produçaÞo e do processo de compatibilização de projeto proìprios da construçaÞo de
edifiìcios pode-se postular um novo paradigma de “Projeto Simultâneo” para gestaÞo do processo de
projeto de empreendimentos de edifiìcios (CASAROTTO FILHO, 1999).

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Desenvolvimento Histórico e Conceito

No início dos anos 80 foi iniciado um estudo pelo DefenseAdvancedResearch Project Agency(DARPA)
para aumentar o grau de paralelismo das atividades, reduzindo o ciclo de desenvolvimento dos produtos.
Tarefas que eram executadas apenas depois da conclusão e aprovação das atividades precedentes são
antecipadas, independentemente das entregas anteriores.

O estudo realizado pelo DARPA definiu Engenharia Simultânea (ES), também conhecida como
Engenharia Paralela, da seguinte forma:

"Engenharia Simultânea é uma abordagem sistemática para o desenvolvimento


integrado e paralelo do projeto de um produto e os processos relacionados, incluindo
manufatura e suporte. Essa abordagem procura fazer com que as pessoas envolvidas no
desenvolvimento considerem, desde o início, todos os elementos do ciclo de vida do
produto, da concepção aodescarte, incluindo qualidade, custo, prazos e requisitos dos
clientes." (WINNER et al., 1988 apud PRASAD, 1996).

A partir de então surgiram novos estudos e o conceito de Engenharia Simultânea tornou-se mais
abrangente. Pode ser incluído o consenso dos stakeholders envolvidos no desenvolvimento do projeto, a
utilização de recursos computacionais e a utilização de metodologias. Sobre ES, Finger4 (1993)
apudPrasad (1996) afirma que “Engenharia Simultânea é a integração do projeto do produto e do
processo em toda a empresa”.

Outras definições de Engenharia Simultânea são:

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“Engenharia Simultânea é uma abordagem sistemática para o desenvolvimento


integrado de produtos que enfatiza o atendimento das expectativas dos clientes. Inclui
valores de trabalho em equipe, tais como cooperação, confiança e compartilhamento,
de forma que as decisões sejam tomadas, no início do processo, em grandes intervalos
de trabalho paralelo incluindo todas as perspectivas do ciclo de vida, sincronizadas
com pequenas modificações para produzir consenso.” (ASHLEY, 1992 apud
PRASAD, 1996).

“Engenharia Simultânea consiste em conceber de forma sistemática, integrada e


simultânea os produtos e os processos que lhes são ligados. Este método conduz os
desenvolvedores a considerar todos os elementos do ciclo de vida do projeto, da
concepção à disposição aos usuários, e compreende a qualidade, os custos, a
programação e a satisfação das necessidades e requerimentos dos usuários.”
(NAVARRE, 1993 apud Jouini; MIDLER, 1996).

Dentre os fundamentos da Engenharia Simultânea é importante destacar que as etapas do projeto devem
ser realizadas paralelamente, conforme FIG. 6, ao invés de ocorrer de forma sequenciada e que as
mudanças, quando necessárias, devem acontecer o quanto antes, o que torna o processo mais rápido,
vantajoso e econômico.

Figura 1 – Engenharia Sequencial x Engenharia Simultânea


Fonte: Adaptado de Weck et al. (1991) apud Takahashi (1996)

Pode-se dizer que a Engenharia Simultânea é uma evolução da Engenharia sequencial, capaz de antecipar
a detecção de problemas. “A ES concentra as tendências de forma coerente e substitui as melhorias em
pequenas doses por ganhos em todos os aspectos do produto.” (HARTLEY, 1998)

Hartley (1998) afirma ainda que “um princípio importante da Engenharia Simultânea é que a qualidade se
introduz no projeto desde o começo, erradicando quaisquer características que possam ser adversamente
afetadas por variações na produção”, e complementa que não é possível passar a responsabilidade pela
qualidade. Cada pessoa é o próprio responsável.

2.2 Integração de equipes

O emprego da Engenharia Simultânea substitui as tentativas de compatibilizar as etapas já acabadas dos


projetos e uma característica básica de sua aplicação consiste em que a concepção e o desenvolvimento
dos mesmos sejam feitos de forma integrada por equipes multidisciplinares, propriedade não comum nas
organizações relacionadas à Construção Civil, requerendo alterações importantes na organização e na

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cultura dos agentes.

Para adoção de uma equipe multidisciplinar é necessário estabelecer organogramas matriciais ou


funcionais, no qual equipes compostas por pessoas de diversas especialidades são reunidas com o
objetivo de realizar tarefas com características temporárias e agregar aos projetos a experiência das
diferentes funções. E para Hartley (1998), “... o conjunto é muito mais importante do que a soma das
partes.”

No arranjo da equipe multidisciplinar, ilustrado na FIG. 07, há a presença do Coordenador de Projeto, que
tem o papel de interagir com todos os intervenientes do processo e coordenar todas as atividades,
associando áreas de interesse e buscando soluções integradas. Estão presentes nas equipes: os projetistas
do processo, fornecedores, pessoas da produção, controle de qualidade, marketing, vendas, assistência
técnica, clientes e usuários.

Figura 2 - Representação esquemática das interações entre os principais participantes de uma equipe
multidisciplinar genérica de ES

A adoção de uma gestão simultânea permite que os membros da equipe tenham a seu dispor todas as
informações sobre o projeto e interagem, planejando simultânea e coordenadamente, diferentes aspectos
do novo produto. Para Hartley (1998), a força de trabalho, equipe, deve se dedicar integralmente e
permanecer unida durante todo o projeto (com poucas ou sem substituição de seus membros).

Para Fabrício (2002), no setor da construção a maioria dos profissionais envolvidos no desenvolvimento
do projeto é terceirizada, pertencentes a diferentes empresas especializadas na prestação de serviço e
participam de apenas algumas fases do empreendimento. A mobilização temporária é potencialmente
mais complexa, sendo difícil a manutenção de um ambiente de cooperação, confiança e respeito mútuo
entre os agentes da construção.

Segundo Grilo, a falta de integração entre o projeto e a produção na Construção Civil, aliada à ausência
de metodologias para a gestão da qualidade durante o desenvolvimento do projeto, pode ser considerada o
ponto de origem de uma parcela considerável dos problemas com relação à qualidade existentes no setor
de projetos.

Dentre as particularidades das empresas de projeto de edificação que dificultam o sucesso da equipe
multidisciplinar destacam-se que o desenvolvimento de um projeto pode ser iniciado e interrompido
momentaneamente em função de outros empreendimentos com cronograma mais apertado e que os
projetistas prestam serviços a mais de um contratante ao mesmo tempo, estando envolvidos
simultaneamente em diferentes projetos.

Importante ressaltar que como o projeto é organizado e gerido de maneira singular, cada equipe e

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empreendimento apresentam condições e demandas próprias, requerendo exclusividade em muitos


aspectos.

2.3 Aplicação na Construção Civil

Segundo Porter (1989), uma empresa que prosperar e se destacar no mercado deve implementar e
desenvolver uma das seguintes estratégias competitivas genéricas: competição por preço (conseguir
fornecer um produto ou serviço básico pelo menor preço de mercado), diferenciação (desenvolver um
produto que apresente algum diferencial valorizado pelos clientes: qualidade ou desempenho superior,
introdução de uma inovação e de novas funções, etc.) e estratégia de foco (consiste em desenvolver um
produto ou serviço especialmente voltado para um determinado nicho de mercado).

O conceito de Engenharia Simultânea foi desenvolvido inicialmente para o setor industrial, e para
Fabrício (2002), a primeira dificuldade é aplicar sua filosofia na gestão do processo de desenvolvimento e
projeto de edifícios, onde a cultura, estruturas produtivas e desafios competitivos são notadamente
diferentes.

Para tanto, é necessário analisar as características comuns e as divergentes no ambiente e nos objetivos da
indústria de produção seriada (origem da ES) e da indústria de construção. Posteriormente, deve-se
encontrar um modelo próprio que, mesmo inspirado nas práticas colaborativas mais modernas usadas na
ES em outras indústrias, contemple as particularidades e as necessidades específicas da indústria da
construção de edifícios.

Fabrício (2002) defende ainda, que na construção os processos de projeto acontecem de forma pouco
sistematizada e são fragmentados em diversos subprocessos independentes, enquanto na indústria, o
desenvolvimento de um novo produto abrange pesquisas de mercado e identificação de oportunidades de
negócios, passa pela formulação das estratégias de marketing, programas de necessidades e pela
realização dos projetos que caracterizam e especificam o produto, até o desenvolvimento do processo,
envolvendo, às vezes, a fabricação de protótipos e simulação do desempenho do produto e do processo.

Além disso, os empreendimentos da Construção Civil são desenvolvidos baseados nos padrões
tradicionais e não aplicam inovações, contrariando as séries industriais, que fazem elevados investimentos
financeiros e mobilizam equipes em tempo integral. Uma das justificativas para a situação é que os
recursos mobilizados no projeto da construção têm que ser amortizados em um número bastante restrito
de unidades de produto.

Mesmo com as diferenças, para Tahon (1997) apud Fabrício (2002), “os fatores genéricos de evolução
dos processos produtivos e de projetos são os mesmos para a indústria seriada e de construção”. A
divergência acontece na forma de percepção e influência dos fatores em cada organização, que varia com
a cultura de cada uma. Tanto a indústria como a construção procuram aumentar a produtividade, diminuir
os prazos de concepção e execução, estender a qualidade e reduzir custos dos produtos e processos.

A adoção do modelo de ES não implica na rigidez e complexidade de métodos e ferramentas utilizados


pela indústria. É possível desenvolver um modelo próprio baseado na cooperação, na comunicação e na
interatividade multidisciplinar. O conceito da engenharia simultânea aplicado na Construção Civil
possibilita a ampliação da eficiência produtiva e qualidade dos produtos às empresas que vivem em um
mercado aquecido e almejam destaque no mercado. Durante as fases de desenvolvimento do projeto são
estudadas alternativas e soluções otimizadas ao escopo para atender dentro das metas pré-estabelecidas,
aos objetivos funcionais, de prazo, de custos e de qualidade, além de evitar o retrabalho.

2.4 Implantação da Engenharia Simultânea

A Engenharia Simultânea pode ser adotada com a intenção de: ampliar a qualidade do projeto e, por

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conseguinte, do produto; aumentar a sua construtibilidade; reduzir os prazos globais de execução; integrar
os agentes envolvidos no processo e auxiliar na introdução de novas tecnologias e métodos no processo
de produção de edifícios.

Especialistas afirmam que o sinal mais visível da ES é o trabalho em equipe. Entretanto, sua adoção pode
gerar resistências e conflitos, pois os chefes funcionais devem compartilhar autoridade com o líder em
favor das equipes. Em grandes empresas, onde os cargos são bem definidos, sua implantação exige
treinamento dos recursos humanos, inicialmente para a sensibilização da abordagem e posteriormente no
adestramento das técnicas requeridas.

Segundo Lugli&Naveiro (1996) apud Júnior (2003), “a chave para implementação da Engenharia
Simultânea é alcançar o mais cedo possível a integração do conhecimento prático da empresa na atividade
de projetar um produto”.

Júnior (2003) menciona também que os principais elementos considerados para implantação da filosofia
de Projeto Simultâneo na construção de edifícios são:

- valorização do papel do projeto e integração precoce entre os vários especialistas e agentes


do empreendimento - considerar os projetos como serviços cuja qualidade tem uma função
estratégica para os custos, qualidade e prazos das obras;

- transformação cultural e valorização das parcerias entre os agentes do projeto – abrir canais
de participação dos fornecedores de materiais e serviços para um ambiente de geração
simultânea;

- reorganização do processo de projeto de forma a coordenar concorrentemente os esforços;

- utilização das novas tecnologias de informática e telecomunicações na gestão do processo


de projeto.

Para a adoção de um processo de projeto orientado à integração e à simultaneidade, as principais


características da ES que devem ser abordadas na construção são: Gestão da Qualidade, Grupo de Projeto,
Estruturas Organizacionais e Tecnologia da Informação.

No âmbito da Gestão da Qualidade, todos os agentes são responsáveis pela qualidade da sua etapa no
processo e pelo atendimento das necessidades dos clientes (internos e externos), sendo co-responsáveis
pela qualidade dos produtos fabricados. Assim, a qualidade é considerada durante a concepção do produto
e ao longo da sua produção e uso.

Na abordagem da Estrutura Organizacional é necessária uma constante e ampla interação entre


departamentos e especialidades, de forma a integrar pessoas em grupos multidisciplinares. O objetivo é
estabelecer processos de comunicação formais interativos, cuja coordenação garanta a distribuição das
informações pertinentes entre os participantes da equipe de projetos.

No que se refere aos princípios do Grupo de Projeto, que consiste em concentrar nos aspectos
organizacionais e culturais relacionados ao ato de projetar, a prática de desenvolvimento da Engenharia
Simultânea requer:

- esforçar-se por fazer certo na primeira vez, o que na prática exige conceituar o projeto
corretamente desde o início, considerando as necessidades de cada etapa e prevendo as
discrepâncias futuras;

- realizar as tarefas de forma simultânea, superpondo atividades que antes seriam realizadas

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de modo sequencial. A implementação desse princípio se verifica através da liberação de


documentação parcial para os membros da equipe que trabalham “a jusante”, de forma a
permitir avaliações preliminares desde o início.

Do ponto de vista da Tecnologia da Informação, o emprego da informática e tecnologia dá apoio às


decisões e são importantes ferramentas para o desenvolvimento de produtos com ES. Além de permitir,
de forma mais barata e eficiente, a interatividade de pessoas alocadas em áreas geograficamente distintas,
a informática e as telecomunicações possibilitam: o desenvolvimento de projetos parametrizáveis, como
cálculos e simulações, que podem ser sofisticados e mais detalhados, de forma a buscar soluções
melhores para as especialidades de produtos e de processos e, principalmente, permitindo uma maior
integração e análise global das soluções; a formação de bancos de dados (nos quais se armazenam as
soluções anteriores e os resultados obtidos), voltados a retroalimentar do processo de projetos com
experiências passadas.

Para que a implementação da ES seja bem sucedida, alguns fatores chaves devem ser atendidos, como:

- transformação da cultura da organização;

- instituição de política da qualidade – estabelecimento de métricas para medição de


desempenho;

- definição de equipes interdisciplinares;

- apropriação de novas tecnologias de informática e telecomunicações;

- desenvolvimento em paralelo das diferentes especialidades do projeto;

- foco no trabalho em série;

- experiência prática das atividades.

2.4.1 Diretrizes para implantação

De acordo com a análise do processo tradicional de projeto dos empreendimentos de construção de


edifícios e das filosofias de gestão de projeto, para viabilizar a implementação do projeto simultâneo no
processo foram identificadas, conforme FIG. 8, três transformações fundamentais: cultural, tecnológica e
gestão organizacional.

Figura 3 – Eixo de Transformações para implantação do Projeto Simultâneo


Fonte: A autora, adaptado de Fabrício, 2002

Para Vargas (2008), a implantação da Engenharia Simultânea deve obedecer às seguintes diretrizes:

- implantação de um Programa de Gestão da Qualidade: o programa deverá intervir em todas

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as atividades referentes aos empreendimentos em andamento, tanto no sistema já implantado


como na transição do novo sistema colaborativo e simultâneo de produção, padronizando
procedimentos e gerindo os quadros da autarquia. Constitui-se em ação efetiva para a
transformação da cultura dos agentes envolvidos nos empreendimentos;

- alteração do organograma funcional e das relações entre agentes de projeto: a estrutura


funcional deve ser redefinida de forma a possibilitar a presença, na fase de projeto, de todos
os profissionais do ciclo de vida do empreendimento, rompendo as barreiras rígidas da
organização, propondo assim, um modelo mais flexível, baseado em um desenho matricial ou
funcional-cruzado, que permita a interação imediata entre os participantes do processo e onde
a gestão das obras, dos projetos e planejamento caminhem juntas e em cooperação
simultânea;

- investimento em informática e telecomunicações: o sistema informacional deve permitir o


controle e a colaboração, em tempo real, do andamento dos projetos, necessitando, para
tanto, de investimento significativo em softwares e equipamentos adequados em número
suficiente para o acesso individual e integral dos profissionais, racionalizando paralelamente
o armazenamento de informações geridas e acessadas por ambiente virtual, diminuindo os
gastos com o físico (impressão em papel);

- instauração de um ambiente de desenvolvimento simultâneo de projetos: a partir da


reestruturação interna que garanta uma estrutura mais participativa e colaborativa e com o
ambiente de comunicação potencializado pelas ferramentas de informática, é possível o
gerenciamento de reuniões periódicas a partir de vídeo conferências envolvendo todos os
agentes do processo. Assim, o desenvolvimento de projetos, mesmo que terceirizado, pode
ser monitorado em todas as suas fases;

- revisão dos critérios para contratação de empresas e profissionais: dirigir o "foco" da busca
por prestadores de serviço adequados, do ponto de vista do prazo e da qualidade. É
necessário recriar os processos e redefinir as responsabilidades entre as unidades gestoras do
processo e usar sistematicamente de informações como base para adotar procedimentos mais
sofisticados de identificação e seleção de prestadores de serviço de forma a minimizar as
chances de insucesso e seus impactos negativos sobre toda a operação, criando critérios de
seleção a partir dos quais os potenciais prestadores de serviço serão avaliados, tais como
porte, áreas de atuação, experiências e competências necessárias, dentre outros;

- revisão do papel do Coordenador e orientação à realização de parcerias: os critérios de


avaliação para contratação do coordenador também devem ser reestruturados, juntamente
com os de contratação de empresas, com base na experiência e currículo deste profissional
que deve se responsabilizar pela organização e planejamento do processo de projeto e a
gestão e coordenação das soluções de projeto desenvolvidas, além do recebimento e
distribuição de tarefas;

- instituir o Projeto para Produção: dentro do fluxo normal de projetos, em ambiente


colaborativo e simultâneo, incluir o Projeto para Produção (etapa onde são definidas as
atividades produtivas e sua seqüência tecnológica de produção bem como sua base técnica)
como parte integrante do pacote de serviços contratados;

- amarrar contratualmente as empresas de projeto à etapa de obras: responsabilizar a empresa


contratada em caso de falha de projeto ou necessidade de adaptação decorrente de falha neste
serviço, durante a obra. Para tanto, devem ser buscadas alternativas em um trabalho conjunto
ente Planejamento, Jurídico, Projeto e Obras;

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- revisar e ampliar os procedimentos e elementos padronizados: a fim de dotar o sistema de


mais agilidade, todos os padrões devem ser revistos e sua quantidade ampliada obedecendo à
política de gestão da Qualidade proporcionando maior racionalidade e rapidez na elaboração
dos projetos. Estes padrões devem estar em uma base digital compartilhada.

2.4.2 Agentes influenciadores

De acordo com Borsato (2001a) apud Júnior (2003), há sete agentes capazes de influenciar a Engenharia
Simultânea (ver FIG.9):

- talento – recurso humano qualificado. O profissional deve estar preparado tanto para a
ciência da engenharia quanto possuir as habilidades necessárias para executar o cargo de
engenheiro;

- tarefas – novas tarefas trazem a necessidade de formar a equipe multidisciplinar sob o


comando de um líder, o qual não possui a função de gerente, mas de um intermediador;
o equipe de trabalho – para o seu bom entrosamento é importante alocar a equipe em uma
área de trabalho, o que gera grandes benefícios. Isto permite que as relações interpessoais se
desenvolvam rapidamente, levando a uma troca de informações mais efetiva e rápida. Esta
proximidade traz uma melhor oportunidade de feedback e discussões sobre os requisitos e
assuntos relacionados ao projeto, facilitando uma melhor coordenação;

- tempo – necessário adotar políticas que permitam uma resposta mais rápida para as
questões pautadas no projeto, de forma que o processo e suas tarefas relacionadas sigam em
frente. O projeto tem o objetivo de cumprir metas estabelecidas dentro de parâmetros de
custo, tempo e qualidade;

- treinamento – fundamental para estabelecer um ambiente de Engenharia Simultânea bem


sucedido. É imprescindível que todos os projetistas sejam proficientes nas ciências e nas
ferramentas que utilizam;

- ferramentas computacionais e tecnologia – são frequentemente tidas como a solução dos


problemas dos projetistas. Devem permitir compartilhamento de arquivos, gerenciamento de
versões, compatibilidade e consistência de dados e sincronização de trabalhos da rede
corporativa. Se mal utilizadas, podem ser a causa de atrasos e erros.

Figura 4 – Agentes Influenciadores da Engenharia Simultânea


Fonte: A autora, 2014

Para tanto, torna-se necessário buscar, com o apoio dos gerentes administrativos, novas metodologias e

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novas tecnologias que otimizem o processo de projeto.

2.4.3 Benefícios

Diante dos princípios, modelos e aspectos da incorporação da engenharia simultânea destacam-se os


principais benefícios dessa filosofia na gestão de projetos, podendo-se listar:

- redução do processo global de desenvolvimento do produto, uma vez que as etapas são
desenvolvidas em paralelo;

- garantia da qualidade desde o princípio;

- facilita a compatibilização dos projetos de edificações;

- enriquece a comunicação e cooperação entre projetistas, gerentes e outros profissionais


envolvidos no processo de desenvolvimento do produto;

- integração dos departamentos;

- maior envolvimento dos funcionários dentro da organização;

- redução das mudanças de projeto;

- redução da quantidade de trabalho em processo;

- redução de custo do material;

- redução do número de equipamentos e ferramentas empregadas;

- redução de defeitos e retrabalhos;

- prazos de execução amortizados;

- desenvolvimento de produtos com maior grau de satisfação dos clientes.

CONCLUSÃO

A complexidade dos projetos, gerada pela evolução da tecnologia e hábitos modernos, segmentou as
etapas do desenvolvimento dos mesmos. Para a construção de um edifício é necessário a elaboração de
projetos técnicos de diferentes disciplinas, bem como:

- terraplenagem;
- arquitetônico: básico, legal, executivo, detalhamento;
- estrutural;
- instalações prediais: hidráulica, elétrica, especiais (telefone, interfone e antena), SPDA;
- paisagismo;
- combate a incêndio;
- redes de abastecimento de água, de esgoto e drenagem.

No entanto, os responsáveis pelo desenvolvimento das representações gráficas não pertencem a uma
única equipe. Em alguns casos, não há comunicação entre eles, o que pode gerar projetos com desenhos e
especificações incompatíveis. Sem uma coordenação de projetos eficaz, os erros e divergências
normalmente são detectados tardiamente, na execução do serviço, causa de retrabalhos e oneroso custo
para as soluções, uma vez que são revelados somente quando a fase anterior já foi desempenhada.

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A Engenharia Simultânea é uma influente ferramenta para potencializar o sucesso do processo de projeto.
Para que apresente o resultado previsto é necessário erradicar as ineficiências do modelo da engenharia
sequencial, maximizar as capacitações existentes na organização e investir em sistemas computacionais,
que permitem maior dinamismo e produtividade no processo, além de promover interatividade no projeto.
Para que seja implantado em uma organização devem-se, principalmente, estabelecer organogramas
matriciais ou funcionais, privilegiar o paralelismo entre etapas de projeto, formar equipes
interdisciplinares, incentivar o livre fluxo de informações entre a equipe, adotar mecanismos que resultem
em maior alinhamento entre as prioridades dos departamentos e as do desenvolvimento de produtos,
instituir programa de qualidade e determinar o papel do coordenador de projetos.

Os fatores que mais influenciam para a implantação da ES na organização são disponibilidade e


cooperação das pessoas. Alguns colaboradores têm dificuldade em organizar, gerenciar e transmitir as
informações, o que compromete todo o projeto. Nota-se que quanto maior os esforços dedicados ao
desenvolvimento dos projetos integrados ou projetos simultâneos, menores serão os esforços necessários
dedicados ao processo de compatibilização de projetos.

Acredita-se que o presente trabalho expressa a importância da compatibilização de projetos técnicos entre
as disciplinas inerentes e o valor de um profissional na organização com visão sistêmica dos processos e
projetos, além do conhecimento das particularidades das diversas interfaces.

Conclui-se que a aplicação da Engenharia Simultânea no subsetor de edificações permite a otimização


dos recursos da construção, integrando o conhecimento com a experiência construtiva durante as fases de
concepção, planejamento, projeto e execução da obra com objetivo de simplificar as operações
construtivas.

Os benefícios mais evidentes alcançados com a adoção da ES são: redução do tempo global de
desenvolvimento e lançamento do produto; redução do custo de fabricação e montagem; incremento da
qualidade em todas as fases do processo; simplificação do produto; e integração das atividades de projeto
e produção.

Apesar de muitos estudos mostrarem casos de sucesso ao implementar a Engenharia Simultânea, poucos
analisam a abrangência das transformações que ocorrem na prática nas empresas do setor da Construção
Civil. Na maioria das vezes esta implementação não é feita por completo, prejudicando o processo de
desenvolvimento de novos produtos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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IETEC Categoria http://www.techoje.com.br/site/techoje/categoria/impressao_artigo/1823

VARGAS, Ricardo Viana. Manual prático do plano de projeto. 4ª edição. São Paulo: Editora Brasport,
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