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Gestão de Obra

Diego da Luz Adorna


Planejamento financeiro
de execução de obras
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir planejamento financeiro de execução de obras.


 Reconhecer aspectos do controle financeiro da obra.
 Elaborar a matriz de risco financeiro da obra.

Introdução
A engenharia civil moderna se baseia em conceitos de sustentabilidade
e gestão econômica. As obras são projetadas de modo a evitar o des-
perdício de recursos naturais, enquanto, paralelamente, são executadas
com a maior agilidade possível.
O planejamento e o controle de obras consistem em instrumen-
tos do gerenciamento, que buscam obter o máximo desempenho das
obras da construção civil dos pontos de vista de execução, ambiental e
financeiro. O planejamento e o controle são fundamentais para garantir
a saúde financeira e a segurança institucional das empresas do ramo de
engenharia civil e arquitetura.
Neste capítulo, você vai conhecer os conceitos envolvidos no estudo
do planejamento e do controle financeiro de obras, os aspectos de con-
trole financeiro da obra e como se elabora uma matriz de risco financeiro.
2 Planejamento financeiro de execução de obras

Planejamento financeiro de execução de obras

Contextualização e definição
As cidades modernas se caracterizam pela elevada densidade populacional
e pelo limitado espaço urbano com infraestrutura e serviços adequados para
atender às demandas da população. A melhoria da qualidade de vida da so-
ciedade está intimamente ligada ao desenvolvimento do setor da construção
civil, visto que é essa atividade que permite o acesso das pessoas a moradia,
saneamento básico, rede de energia elétrica, entre outros serviços.
A construção civil, durante muito tempo, baseou-se em técnicas empíricas,
com pouco ou nenhum embasamento científico e sem apresentar o devido
planejamento e controle técnico e financeiro sobre o objeto a ser construído.
O resultado pode ser observado, atualmente, em cidades urbanisticamente
desorganizadas, com infraestrutura precária e com alto índice de obras pa-
ralisadas e inacabadas.
A falta de planejamento financeiro no setor da construção civil gera,
também, impactos econômicos significativos. Construtoras de pequeno e
médio porte, que compõem a maior parte das empresas atuantes no setor da
construção, frequentemente têm que encerrar suas atividades em função de
prejuízos insustentáveis decorrentes de falhas de planejamento e execução
de obras. Situações como essa criam grande instabilidade nos setores da
construção civil e imobiliário, podendo resultar em crises econômicas de
grande impacto nacional.
O planejamento financeiro de obras, portanto, consiste em um conjunto
de medidas adotadas por empresas de pequeno, médio e grande porte com o
objetivo de gerenciar os custos decorrentes das etapas de projeto, execução e
administração de obras de engenharia civil e arquitetura, de modo a garantir
segurança financeira às empresas envolvidas no empreendimento.
Pinheiro e Crivelaro (2014) definem planejamento como o plano de
trabalho que indica os recursos financeiros, humanos e materiais neces-
sários para a execução de uma obra, assim como o instante no tempo em
que esses devem ser utilizados. Desse modo, o planejamento permite a
previsão dos recursos utilizados na construção, bem como a estimativa
da duração e, por consequência, do término da obra. No Quadro 1, são
apresentados os principais benefícios decorrentes do planejamento de
obras, segundo Mattos (2010).
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Quadro 1. Benefícios do planejamento de obras

Benefício Descrição

Conhecimento O gestor, ao realizar o plano de trabalho, deve considerar


pleno da obra todas as variáveis envolvidas na construção da obra, como
projetos, métodos construtivos, orçamentos e prazos de
execução. Desse modo, o gestor adquire conhecimento de
todas as etapas da obra.

Detecção de situa- A existência de um plano de trabalho adequado permite ao


ções desfavoráveis gestor analisar e detectar inconformidades no andamento
do projeto, podendo intervir antes que a situação desfavo-
rável se torne irreversível.

Agilidade de A existência de planejamento e controle na execução da obra


decisões permite que o gestor analise e tome decisões rápidas e pon-
tuais, de modo a gerir prazos e recursos materiais e humanos,
intervindo no processo construtivo quando necessário.

Relação com o Os serviços de engenharia são orçados considerando índi-


orçamento ces de produtividade das equipes e quantitativos de mate-
riais. O planejamento e o controle da obra deve considerar
esses parâmetros, de modo a poder verificar o desenvolvi-
mento da obra e intervir pontualmente em serviços que não
transcorram conforme definido em projeto.

Otimização da alo- Por meio do plano de trabalho, o gestor da obra adquire


cação de recursos conhecimento dos recursos necessários e prazos estimados.
Com esses parâmetros, o gestor pode intervir nos serviços
de engenharia, alocando recursos de serviços cujos prazos
estão adiantados para serviços atrasados.

Referência para o A existência de um plano de trabalho original em uma obra


acompanhamento de engenharia fornece ao gestor um referencial, pelo qual
pode analisar e controlar o desenvolvimento dos serviços
efetivamente executados. A esse plano de trabalho original,
dá-se o nome de planejamento referencial ou linha de base.

Padronização O planejamento de execução de uma obra permite que


todos os profissionais envolvidos, desde o engenheiro ao
servente de obras, tenham consciência dos procedimentos,
prazos e metodologias adotadas.

Referência para A existência de um plano de trabalho permite a adoção de


metas metas de execução de serviços, as quais agregam benefícios
financeiros e econômicos à construção, além de melhorar o
marketing da empresa, visando futuras obras.

(Continua)
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(Continuação)

Quadro 1. Benefícios do planejamento de obras

Benefício Descrição

Documentação e O planejamento e o controle de execução de obras permi-


rastreabilidade tem que a empresa obtenha maior organização na gestão
de documentos e registros, facilitando a elaboração de
justificativas e pleiteando maiores prazos ou recursos finan-
ceiros, assim como garantindo maiores chances de defesa
em casos judiciais.

Criação de dados Um mesmo plano de trabalho pode ser aplicado integral ou


históricos parcialmente em obras similares, permitindo que a empresa
desenvolva planos de ação que garantam maior destaque
no mercado da construção civil.

Profissionalismo A empresa que preza pelo planejamento e pelo controle de


execução das obras garante a confiança dos clientes e maior
visibilidade no mercado.

Fonte: Adaptado de Mattos (2010).

As deficiências em planejamento de obras são problemas constantes


no âmbito da construção civil, sendo decorrentes da execução de plane-
jamentos incorretos, da não utilização de planejamos executados ou da
ausência total de planejamento. Mattos (2010) destaca que as deficiências
no planejamento e no controle da obra consistem nas principais causas
de baixa produtividade e qualidade no setor da construção civil, além de
serem responsáveis pelas elevadas perdas de recursos materiais e finan-
ceiros. As principais causas das deficiências em planejamento de obras
são apresentadas no Quadro 2.
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Quadro 2. Deficiências em planejamento de obras

Deficiências Descrição

Planejamento e Consiste na atribuição das atividades de planejamento e con-


controle como trole da obra a um setor específico da empresa, sem que haja a
atividades de interação entre as diferentes áreas envolvidas no projeto (enge-
um único setor nharia, finanças, administração, etc.). Em consequência, são pro-
duzidos planos de trabalho incompletos e, portanto, ineficientes.

Descrédito por Em função da grande variabilidade e das incertezas in-


falta de certeza trínsecas ao processo de construção, o planejamento e o
nos parâmetros controle de obras tendem a ser relegados a segundo plano
em função da crença de que o desperdício de recursos
materiais e financeiros é natural no setor da construção civil.

Planejamento ex- Consiste nas situações em que a empresa delega o planeja-


cessivamente in- mento a um profissional que toma as decisões rapidamente em
formal e “mito do obra (o “tocador de obra”). Nessas situações, o planejamento
tocador de obra” é deficitário, não sendo previstos os processos a longo prazo e
não havendo comunicação entre os vários setores da empresa.

Fonte: Adaptado de Mattos (2010).

As deficiências em planejamento de obras são observadas, principalmente,


em empresas de pequeno e médio porte, devido ao fato de elas possuírem um
número limitado de funcionários, normalmente responsáveis por diversas
funções. A disponibilidade de recursos financeiros, que é reduzida em em-
presas pequenas e médias, também influencia a qualidade do planejamento e
do controle de execução de obras.
O planejamento financeiro das obras de construção civil deve ser encarado,
pelo construtor, não apenas como um conjunto de planilhas elaboradas com
o objetivo de agradar o cliente, e, sim, como um instrumento que garante
segurança financeira para a empresa. A elaboração do planejamento financeiro
se baseia na análise de dois instrumentos fundamentais: o orçamento da obra
e o fluxo de caixa da empresa.
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Orçamento da obra
O orçamento é o instrumento utilizado na previsão de custos de uma obra
(PINHEIRO; CRIVELARO, 2014). A elaboração do orçamento de uma obra
é feita por meio de:

 quantificação dos insumos (mão de obra, materiais, ferramentas e


equipamentos);
 tempo utilizado na execução de cada serviço;
 cálculo dos custos envolvidos na obra.

As construtoras podem fazer uso de diversas tabelas padronizadas de


composições e custos de materiais e serviços, como as tabelas do SINAPI/
CAIXA ou do TCPO/PINI, bem como utilizar valores obtidos por pesquisa
de preços em fornecedores locais de materiais e serviços. Os tempos de exe-
cução dos serviços são estimados em função da experiência do projetista e
das necessidades inerentes à construção.
O cálculo dos custos envolvidos na obra se configura no ponto-chave do
orçamento. Custos estimados muito acima do valor correto podem fazer com
que os clientes desistam de contratar a empresa, ou que esta perca, por exemplo,
a concorrência em um projeto licitatório de órgão público. Custos estimados
muito abaixo do valor correto podem acarretar problemas à empresa, com
elevados prejuízos financeiros e, inclusive, consequências judiciais.
O responsável pelo orçamento deve, portanto, ter profundo conhecimento
técnico sobre os três elementos envolvidos na elaboração orçamentária (insu-
mos, tempo e custo). No que se refere aos custos, estes podem ser divididos
em custos diretos e custos indiretos.
Os custos diretos (CD) são aqueles envolvidos na execução das atividades
ou nos serviços da obra. Enquanto uma atividade ou um serviço não for exe-
cutado, não existe nenhum custo direto atribuído a eles. Os custos diretos são
divididos em três categorias, de acordo com Mattos (2010), confira-os a seguir.

 Mão de obra: hora-base do funcionário, acrescida de insalubridade e


adicionais.
 Material: aquisição, transporte, impostos, entre outros.
 Equipamentos: custos de propriedade, de operação e de manutenção.
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Limmer (1997) caracteriza os custos diretos como variáveis. Custos va-


riáveis são aqueles que variam proporcional e diretamente com a quantidade
de insumos utilizados na execução da obra. Por exemplo, quanto maior a área
de alvenaria executada em uma edificação, maior a quantidade de material
utilizado (tijolos, argamassa, etc.) e mão de obra necessária.
Os custos indiretos (CI) são aqueles que ocorrem independentemente da
execução das atividades ou serviços das obras. Pinheiro e Crivelaro (2014)
destacam que os custos indiretos são aqueles necessários para a comercialização
do produto e os dividem em:

 custos decorrentes da administração central da construtora: diretoria,


corpo técnico e administrativo, material de papelaria, mobiliário, ener-
gia, água, telefone, aluguel, entre outros;
 gastos financeiros: juros, empréstimos, entre outros;
 pagamento de tributos: taxas na prefeitura e licenças;
 gastos de comercialização:propostas, viagens técnicas, materiais pu-
blicitários, entre outros.

Mattos (2010) inclui como custos indiretos, também, os gastos decor-


rentes da mobilização e da manutenção de canteiros de obras e das equipes
de suporte (almoxarife, vigia, entre outros). Limmer (1997) classifica os
custos indiretos em fixos e variáveis. Os custos fixos são aqueles que não
variam em função da quantidade de insumos utilizados na obra, como, por
exemplo, os gastos decorrentes da administração central. Os custos variáveis
são aqueles que variam proporcional e diretamente com a quantidade de
insumos (ou com o porte da obra), como é o caso das taxas na prefeitura,
licenças e gastos de comercialização.
O BDI (Benefício e Despesas Indiretas) é uma taxa adicionada ao custo
da obra, de modo a cobrir as despesas indiretas (ou custos indiretos) de-
correntes da execução da obra, além dos riscos do empreendimento e do
lucro do construtor (PINHEIRO; CRIVELARO, 2014). Uma das maneiras
de calcular o BDI, conforme Pinheiro e Crivelaro (2014), é por meio da
seguinte equação:
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Onde:
DI: despesas indiretas;
B: benefício ou lucro;
CD: custos diretos.

Fluxo de caixa
O fluxo de caixa consiste em um instrumento administrativo que relaciona
as receitas e as despesas de uma empresa, podendo ser dividido em fluxo de
caixa realizado e fluxo de caixa projetado. O primeiro consiste na relação entre
receitas recebidas e despesas pagas, enquanto o segundo consiste na relação
entre receitas a receber e despesas a pagar.
A aplicação desse instrumento administrativo tem por objetivo buscar o
equilíbrio financeiro da empresa, de modo que a saída de recursos não seja
superior à entrada de recursos. Além disso, a análise do fluxo de caixa permite
que o empresário verifique a capacidade da empresa em entrar ou não em
determinado empreendimento, quais os valores que deveriam ser investidos
e em qual período de tempo seria necessário tal investimento.
O fluxo de caixa das empresas tem especial importância no âmbito da
construção civil, visto que as construtoras devem possuir capital dispo-
nível para bancar a execução da obra. Por exemplo, quando uma empresa
constrói um prédio residencial, não tem todos os apartamentos vendidos
e pagos no início da construção. Assim, deve ter capital para investir no
seu empreendimento, antes que ele realmente possa ser lucrativo. Algumas
maneiras de amenizar esse fluxo de caixa negativo, que geralmente acom-
panha as etapas iniciais da obra, são: obter um financiamento em banco,
oferecer descontos para adiantamento de pagamentos e parcelar em mais
vezes as compras de materiais.
A empresa que firma um contrato sem ter recursos financeiros suficientes
para iniciar os serviços pode ficar sujeita a atrasos ou, inclusive, a não conseguir
realizar a obra para a qual foi contratada. Essas situações podem acarretar
penalidades, como quebra de contrato e pagamento de multas e indenizações,
além de consequências jurídicas.
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No link a seguir, você pode acessar um artigo técnico sobre fluxo de caixa.

https://qrgo.page.link/3bqm4

O planejamento financeiro de obras é fundamental para garantir a saúde


financeira da construtora. Um planejamento adequado permite que o constru-
tor esteja ciente de toda a movimentação de recursos financeiros que deverá
ocorrer ao longo do empreendimento, podendo, assim, gerenciá-los.

Controle financeiro de execução da obra


O planejamento financeiro define, por meio da elaboração do cronograma e
do estudo de fluxo de caixa, os custos referentes à execução das atividades e
serviços, bem como os prazos de despesas e recebimento das receitas.
O controle financeiro de execução da obra tem o objetivo de certificar
se as atividades estão sendo realizadas de acordo com os gastos projetados
e, caso não estejam, verificar os motivos da discordância. Trata-se de um
instrumento de grande importância, por exemplo, para que a construtora
receba do cliente os valores devidos pelos serviços executados. Além disso,
é fundamental para que as receitas sejam recebidas nos prazos estipulados
em contrato, de modo que a empresa possa usar essa receita para seguir
executando as atividades e serviços.
O controle financeiro da obra é realizado paralelamente ao controle técnico
de execução da obra. O controle técnico tem o objetivo de verificar o anda-
mento das atividades e serviços e verificar se essas estão sendo realizadas de
acordo com o projeto. Por meio do controle técnico, é possível identificar as
situações que podem interferir no andamento das atividades e serviços. Na
Figura 1, são apresentados alguns exemplos de situações que, frequentemente,
interferem no andamento das obras.
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Figura 1. Situações que interferem no andamento da obra.


Fonte: Adaptada de Mattos (2010).

Atrasos nos prazos de início e término das atividades podem acarretar


prejuízos financeiros ao construtor e ao cliente em função da deterioração
dos materiais expostos ao ambiente, do valor de aluguel de máquinas e
equipamentos, do pagamento da mão de obra, que fica ociosa no canteiro
de obras, e do pagamento de multas devido ao não cumprimento de prazos,
tanto pelo construtor quanto pelo cliente. A construtora fica, ainda, sujeita
ao não recebimento da receita projetada para suprir as despesas já realizadas
na aquisição de insumos, podendo prejudicar o andamento, inclusive, de
outros empreendimentos.
O andamento das obras pode ser influenciado por dois tipos de fatores:
os previsíveis e os imprevisíveis. Os fatores previsíveis são aqueles que o
projetista tem consciência que podem ocorrer ou que provavelmente irão
ocorrer durante a execução da obra, como, por exemplo, períodos de chuva. O
projetista, ao realizar o orçamento e o cronograma da obra, deve estar ciente
que períodos de chuva podem ocorrer e resultar na paralização da obra, até
que o tempo se torne adequado para a continuidade dos trabalhos. Assim, o
projetista deve estimar folgas devidamente posicionadas no cronograma de
execução da obra, de modo que essas folgas possam suprir os períodos em
que os serviços de execução ficam paralisados. Os fatores imprevisíveis são
aqueles cuja ocorrência não é provável, mas que podem resultar na paralização
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da obra. Como exemplos, destacam-se os acidentes de trabalho, que, além de


acarretarem prejuízos financeiros ao construtor (indenizações, substituição
de funcionários, processos jurídicos, multas, entre outros), podem acarretar
a interdição dos serviços, até que as investigações periciais sejam concluídas
ou que a situação que motivou o acidente seja corrigida.
O controle de execução das obras, segundo Pinheiro e Crivelaro (2014),
pode ser realizado por meio dos seguintes gráficos de acompanhamento:
cronograma físico, cronograma físico-financeiro, diagrama PERT-CPM,
histograma de recursos, curva S e curva ABC de atividades.

Cronograma físico
O cronograma físico, também denominado gráfico de Gantt, foi desenvolvido
em 1917 pelo engenheiro mecânico Henry Gantt. O cronograma físico consiste
em um gráfico formado por barras horizontais que indicam o início e o término
de cada atividade. O gráfico indica, também, a vinculação entre as atividades
de uma obra. O cronograma físico permite que o gestor tenha o registro das
atividades que foram executadas, de modo a poder cobrar do contratante o
pagamento das receitas, conforme definido em contrato, por exemplo.

Cronograma físico-financeiro
O cronograma físico-financeiro consiste em uma extensão do gráfico de
Gantt. Nele, as atividades são indicadas por meio de barras horizontais, sendo
definidos o início e o término de cada atividade, bem como as vinculações
existentes. Além disso, são indicados no cronograma os gastos financeiros,
individuais e acumulados, de cada atividade ao longo do tempo.
O cronograma físico-financeiro facilita o controle do cronograma das etapas
e dos gastos em cada etapa da obra, de modo a verificar se estão de acordo
com o projeto. Permite que o gestor identifique rapidamente se as atividades
e serviços necessitam reajustamento de preços, podendo agir para adequar o
projeto, o cronograma e os gastos esperados. Na Figura 2, é apresentado um
modelo de cronograma físico-financeiro.
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Figura 2. Cronograma físco-financeiro.


Fonte: Pinheiro e Crivelaro (2014, p. 96).

Diagrama PERT-CPM
O diagrama PERT-CPM (Program Evaluation and Review Technique — Critical
Path Method) consiste em uma representação esquemática em que a sequência
de atividades é representada de acordo com sua ordem de execução. O dia-
grama PERT-CPM permite estimar o tempo de duração da obra, determinar
as atividades críticas, ou seja, aquelas cujo atraso resulta no atraso de toda
a obra, e estabelecer as folgas previstas para cada atividade. Na Figura 3, é
apresentado um modelo de Diagrama PERT-CPM.
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Figura 3. Diagrama PERT-CPM.


Fonte: astel design / Shutterstock.com.

O diagrama PERT-CPM permite que o construtor tenha maior capacidade


de gerenciamento dos recursos materiais, humanos e financeiros. Ao verificar
algum atraso nas atividades críticas, o construtor pode avaliar os recursos que
tem disponível nas atividades não críticas, de modo a alocá-los na primeira
ou, ainda, obter mais recursos materiais e humanos por meio de compra de
material e contratação de mão de obra. O construtor pode avaliar, também,
as consequências financeiras dessa alocação ou contratação para verificar a
quantidade de recursos que ele pode movimentar ou adquirir, sem, contudo,
acarretar gastos exorbitantes.
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Histograma de recursos
O histograma de recursos consiste em um gráfico de colunas que representa a
quantidade de recursos (materiais, mão de obra, equipamentos, gastos, entre
outros) em função do tempo (MATTOS, 2010). O histograma permite que o
gestor verifique a quantidade de recurso utilizado em uma atividade específica
em determinado período de tempo. Na Figura 4, é apresentado um exemplo
de histograma de pessoal, elaborado a partir do cronograma da obra.

Figura 4. Histograma de pessoal.


Fonte: Mattos (2010, p. 231).
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Por meio do histograma, o construtor possui a capacidade de avaliar a


quantidade de insumos necessários em cada período de tempo, podendo,
desse modo, planejar a compra de materiais e a contratação de mão de obra. O
construtor pode, também, redefinir o cronograma da obra, de modo a distribuir
os insumos entre as diversas atividades e os serviços.

Curva S
A curva S consiste em um gráfico que representa os valores gastos acumulados
ao longo da obra (Figura 5) (PINHEIRO; CRIVELARO, 2014). O formato da
curva se deve ao comportamento padrão das obras de engenharia, em que,
nos primeiros meses, os gastos são menores, em função de os serviços serem
prioritariamente administrativos. Durante a fase de execução da obra, repre-
sentada no meio do gráfico, os gastos se acumulam rapidamente em função
dos serviços de engenharia executados. Por fim, na etapa de conclusão da
obra, os serviços voltam a adquirir caráter administrativo, demandando menos
gastos. A curva S é um parâmetro importante de controle para o pagamento
de obras, especialmente quando elas possuem caráter público, pois permite
que seja verificado quanto se deve pagar em determinado período de tempo.

Figura 5. Curva S.
Fonte: Pinheiro e Crivelaro (2014, p. 107).
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Curva ABC de atividades


A curva ABC consiste em uma análise que permite ao gestor identificar as
atividades mais caras dentro de uma obra. Por meio dessa análise, o gestor
pode focar os recursos e mão de obra nas atividades mais dispendiosas, de
modo a evitar impactos financeiros em detrimento de atrasos nestas atividades.
Na Figura 6, é apresentado um exemplo de curva ABC.
As regras de classificação das atividades podem variar entre empresas, de
acordo com a interpretação que os gestores fazem de cada atividade. Pinheiro
e Crivelaro (2014) apresentam a regra que você confere a seguir.

 Região A: 7% das atividades que representam 53% do custo total.


 Região B: 14% das atividades que representam 32% do custo total.
 Região C: 79% das atividades que representam 15% do custo total.

Figura 6. Curva ABC.


Fonte: Pinheiro e Crivelaro (2014, p. 108).

As metodologias de controle financeiro de execução de obras, conforme ob-


servado, atuam de modo a permitir que o construtor identifique o andamento dos
serviços e dos gastos de acordo com o que foi projetado. O controle de execução
de obras facilita o gerenciamento de insumos pelo construtor, permitindo que ele
analise todas as medidas disponíveis do ponto de vista técnico e financeiro, a fim
de definir os procedimentos a serem tomados para adequar o planejamento da obra.
Planejamento financeiro de execução de obras 17

Matriz de risco financeiro


Os riscos são inerentes às obras de construção civil e variam de acordo com os
serviços a serem executados. Um risco é caracterizado pela sua probabilidade de
ocorrência e pela maneira que interfere nos objetivos da construção (DNIT, 2013).
O planejamento e o controle de obras visam a identificação dos riscos, de
modo a permitir que o gestor interfira no processo de execução e corrija as
possíveis deficiências. O gerenciamento de riscos pode ser dividido em seis
procedimentos, conforme Portugal (2017) (Figura 7).

Figura 7. Procedimentos do gerenciamento de riscos.


Fonte: Adaptada de Portugal (2017).

A etapa de planejamento consiste na definição do plano de trabalho e


das medidas utilizadas para acompanhamento e monitoração dos riscos.
Na etapa de identificação, os riscos são identificados, de modo a permitir
que sejam discriminados em função de suas características e submetidos à
análise de riscos.
A análise de riscos é dividida em duas etapas: análise qualitativa e
análise quantitativa. Na análise qualitativa, os riscos são caracterizados
em função da sua probabilidade de ocorrência e efeitos sobre as atividades
executadas. Por meio dessa análise, os riscos são classificados prioritaria-
mente em função das consequências que geram sobre a obra de construção
18 Planejamento financeiro de execução de obras

civil. A análise quantitativa é baseada na análise qualitativa e objetiva a


atribuição de valores aos riscos em função da sua prioridade.
A partir das análises qualitativa e quantitativa, o gestor do projeto define
as medidas de controle que serão adotadas na obra, definindo, assim, a
metodologia de controle de riscos. O procedimento final do gerenciamento
de riscos consiste na aplicação das medidas de controle, acompanhada de
verificação da sua eficiência.
A matriz de riscos consiste em uma metodologia de gerenciamento
que busca a identificação e a discriminação dos riscos envolvidos em
uma obra de construção civil, de modo a criar uma lista de prioridades,
caracterizada em função da probabilidade de ocorrência e dos efeitos dos
riscos analisados.
Para a montagem da matriz de riscos, o gestor deve, inicialmente, discri-
minar os riscos em uma tabela. Veja, a seguir, os principais itens considerados
na tabela de risco, de acordo com Portugal (2017).

 ID: consiste em um código de identificação do risco, que pode variar


entre diferentes empresas. Normalmente, utiliza-se numeração sequen-
cial iniciada em 1.
 Efeito: identifica o efeito decorrente do risco. O efeito pode ser negativo
(ameaça) ou positivo (oportunidade).
 Descrição do risco: caracterização do risco, conforme previsto no
planejamento.
 Situação: o risco pode ser classificado em ativo, quando ainda existe
possibilidade de ocorrer; inativo, quando não existe mais a possibilidade
de ocorrer; ou monitorado, quando está em ocorrência.
 Probabilidade: consiste na probabilidade de o risco ocorrer e é avaliada
de 0,10 a 0,90 (a critério da empresa).
 Impacto: consiste em análise da magnitude dos impactos do risco sobre
o empreendimento, avaliado de 0,05 a 0,80 (a critério da empresa).
 Valor esperado: resultado da multiplicação entre a probabilidade e o
impacto. É o valor que irá compor a matriz de riscos.

Na Figura 8, é apresentando um modelo de tabela de riscos, conforme os


critérios expostos anteriormente.
Planejamento financeiro de execução de obras 19

Figura 8. Tabela de riscos.

Obtidos os valores esperados para todos os riscos envolvidos em um em-


preendimento, o gestor pode montar a matriz de riscos (Figura 9). Na matriz
de riscos, os valores esperados aparecem organizados em ordem numérica.

Figura 9. Matriz de riscos.


Fonte: Portugal (2017, p. 82).

Os riscos prioritários são aqueles de maior impacto sobre o empreendimento.


O gestor do projeto, ao obter a classificação dos riscos de acordo com suas priori-
dades, adquire a capacidade de identificar os pontos críticos da execução da obra.
Assim, o gestor pode focar suas energias na resolução desses riscos em vez de se
concentrar na resolução de inúmeros riscos de pouco impacto no empreendimento.
20 Planejamento financeiro de execução de obras

LIMMER, C. V. Planejamento, orçamentação e controle de projetos e obras. São Paulo:


LTC, 1997.
MATTOS, A. D. Planejamento e controle de obras. São Paulo: PINI, 2010.
PINHEIRO, A. C. F. B.; CRIVELARO, M. Planejamento e custos de obras. São Paulo: Érica, 2014.
PORTUGAL, M. A. Como gerenciar projetos de construção civil: do orçamento à entrega
da obra. Rio de Janeiro: Brasport, 2017.

Leituras recomendadas
ARAÚJO, A.; TEIXEIRA, E. M.; LICÓRIO, C. A importância da gestão no planejamento
do fluxo de caixa para o controle financeiro de micros e pequenas empresas. Revista
Eletrônica do Departamento de Ciências Contábeis & Departamento de Atuária e Métodos
Quantitativos (REDECA), [S.l.], v. 2, n. 2, p. 73-88, jun. 2016. Disponível em: https://revistas.
pucsp.br/redeca/article/view/28566. Acesso em: 24 out. 2019.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA EM TRANSPORTES (DNIT). Guia de
gerenciamento de riscos de obras rodoviárias: fundamentos. Brasília: DNIT, 2013. Disponível
em: http://www.dnit.gov.br/download/servicos/guia-de-gerenciamento-de-riscos-
-de-obras-rodoviarias/guia-de-gerenciamento-de-riscos-fundamentos.pdf. Acesso
em: 23 out. 2019.

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