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All content following this page was uploaded by Silvio Melhado on 08 December 2020.
Márcio M. FABRICIO
Professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da EESC/USP e doutorando pela EPUSP.
Correio Eletrônico: marcio@sc.usp.br
Silvio B. MELHADO
Professor do Departamento de Engenharia de Construção Civil da EPUSP.
Correio eletrônico: silvio.melhado@poli.usp.br
RESUMO
O presente trabalho busca identificar as interfaces existentes no desenvolvimento de novos
empreendimentos de edifícios, discutir os desafios de integração destas interfaces e apresentar a
“engenharia simultânea” como um modelo referencial para organização do processo de projeto na
construção.
1. INTRODUÇÃO
Com a crescente complexidade dos empreendimentos e com o progresso tecnológico o
desenvolvimento de produto na construção envolve cada vez mais interesses e conhecimentos
especializados, implicando na mobilização de diferentes profissionais para tratar em profundidade
os múltiplos problemas colocados no projeto.
O paradigma atual que norteia o processo de projeto no setor é caracterizado pela integração
contratual dos agentes envolvidos (Cardoso et. al., 1998), pela especialização dos projetistas e
pelo fluxo seqüencial de projetos (Fabricio et. al. 1999).
ARQUITETURA
ESTRUTURAS
SISTEMAS PREDIAIS
PROJET. P/ PRODUÇÃO*
Fluxo do processo
de projeto
atuação intensa
atuação difusa
Este modelo de projeto, conforme ressalta Melhado (1997), é consagrado não só nas práticas
mas, também, nos vários textos institucionais e nas normas técnicas vigentes que se limitam à
abordagem dos projetos do produto e hierarquizam as disciplinas de projeto, colocando o projeto
arquitetônico como o responsável pelas indicações a serem seguidas pelas disciplinas de
estruturas, instalações, etc.
Como destaca o engenheiro Fábio Pimenta da empresa Projetar Arquitetura apud. Mesquita
(1999), a falta de uma coordenação natural e efetiva entre os vários projetos leva ao surgimento
de profissionais especializados em compatibilizar projetos, criando, quase, uma nova e “artificial”
especialidade de projeto.
Para Koskela et. al. (1997), o gerenciamento de projetos e dos serviços de engenharia é uma das
áreas mais negligenciadas nos empreendimentos de construção, levando à substituição do
planejamento e do controle pelo “caos” e pela improvisação no processo.
Estes novo modelo de desenvolvimento de produto tem sido denominado Engenharia Simultânea
(ES) e consiste em “[...] conceber de forma sistemática, integrada e simultânea os produtos e os
processos a eles ligados. É um método que permite aos desenvolvedores de produtos a
considerar todos os elementos do ciclo de vida do projeto, da concepção à disposição aos
usuários, e compreende a qualidade, os custos, a programação e a satisfação das necessidades e
requerimentos dos usuários.” Navarre apud. Jouini & Midler (1996).
De maneira sintética a Engenharia Simultânea, enquanto paradigma de gestão de projeto, está baseada em
três premissas: diferentes atividades de projeto realizadas em paralelo (simultaneamente); ênfase na
integração entre os agentes envolvidos desde o início do processo; e, concepção orientada ao ciclo de vida
do produto (Fabricio & Melhado, 2000).
2. AS INTERFACES DO PROCESSO DE PROJETO DE EDIFÍCIOS
Tendo em vista a integração do processo de projeto de edifícios com base nas premissas da
engenharia simultânea é necessário identificar as principais interfaces deste processo e discutir a
pertinência de sua integração concorrente e as medidas necessárias para alcançar tal objetivo.
Para Jouini & Midler (2000), a concepção de um empreendimento de construção agrupa três
problemas interligados: a concepção do negócio - expressa na formulação do programa de
necessidades; o projeto do produto edifício - traduzidas nos projetos de arquitetura e de
engenharia (fundações, estruturas, instalações elétricas e hidráulicas, etc.); e uma terceira fase
em que se projeta a execução das obras.
Com base nesse raciocínio Melhado (1999) propõem que a aplicação da ES na construção passe
pelo estabelecimento de uma cooperação mais estreita entre os agentes do projeto, envolvendo
três interfaces principais de colaboração no projeto; a estas interfaces acrescentamos a
retroalimentação das fases de execução (i4 – interface com a obra) e de uso (i1 – interface com o
cliente), conforme mostra a figura 2.
A interface um (i1) deve garantir a orientação do projeto às necessidades dos clientes/ usuários,
tendo início com a investigação das demandas do mercado / população que se deseja atender e
completando-se com a análise do desempenho do edifício visando subsidiar novos projetos.
CLIENTE USUÁRIO
arquitetura EXECUÇÃO
i1
Necessidades
PROJETO
i2
Desempenho
PROGRAMA DO i4 PROJETO P/
PRODUÇÃO
PRODUTO
i3 engenharia
i5
i1
Com base nestes trabalhos podem-se identificar três vertentes integradas de transformação
necessárias para viabilizar a integração “simultânea” das etapas do processo de desenvolvimento
e projeto de edifícios.
PROGRAMA DE
INFORMAÇÕES NECESSID. PROJETO
BÁSICAS LEGAL
ARQUITETURA
PROJETO
ESTUDO ANTEPROJ. EXECUTIVO
PRELIMINAR ARQUITETURA ARQUITETURA
ESTRUTURAS
CONSULTA PROJETO
SOBRE ANTEPROJETO EXECUTIVO DE
SISTEMAS DE SISTEMAS SISTEMAS
PREDIAIS PREDIAIS PREDIAIS
COORDENAÇÃO
COORDENAÇÃO
COORDENAÇÃO
PRODUÇÃO
CONSULTA
ANÁLISE DAS PROJETOS
PROJ. P/
SOBRE
OBRA
Por fim, a última vertente se relaciona à apropriação das novas tecnologias de informática e
telecomunicações como ferramentas que facilitam a comunicação virtual a distância e permitam
um novo ambiente cognitivo para o processo de projeto.
4. CONCLUSÕES
O desenvolvimento de empreendimentos de edifícios é uma atividade ampla que envolve a
compreensão das necessidades dos clientes, o desenvolvimento dos projetos de produto
(arquitetura, estrutura, instalações, etc.) e da produção, configurando pelo menos cinco grandes
interfaces de projeto.
De fato, a complexidade das questões envolvidas nos empreendimentos contemporâneos impõe a
mobilização de diferentes profissionais especializados e impõem a necessidade de coordenação
dos agentes, de suas formações e interesses de forma a otimizar globalmente o projeto.
No paradigma de projetos vigente as interfaces são medias por contratos e organizadas de forma
seqüencial, gerando resultados pobres de coordenação e quanto a qualidade técnica do projeto.
Uma série de desenvolvimentos teóricos e experimentais recentes, desenvolvidos por Melhado
(1994), Novaes (1996), Tzortzopoulos (1999), etc., propuseram metodologias de coordenação de
projetos envolvendo os projetos de produto e ampliaram a discussão de forma a considerar a
integração entre projeto e produção através dos projetos para produção.
Dando continuidade e estes desenvolvimentos o desafio atual é expedir o processo de projeto de
forma a considerar a totalidade das questões envolvidas no ciclo de vida dos empreendimentos de
construção (do negócio imobiliário ao desempenho de uso) e buscar modelos mais eficientes de
organização do processo de projeto.
Como referencial para um novo modelo de organização do processo de desenvolvimento e projeto
de novos empreendimentos de edifícios as premissa da “engenharia simultânea” podem ser
adaptadas as necessidades do setor de forma a garantir uma maior integração entre os agentes e
as interfaces do projeto.
BIBLIOGRAFIA
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