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ABSTRACT
This paper discusses the application of the principles and tools of the lean construction. The traditional
conceptual basis of construction is criticized and a new paradigm of construction is proposed.
In order to guarantee the production flow it is proposed a new production planning and control
techniques called lookahead planning and weekly planning.
A practical building site experience oriented to short term planning is described and the benefits
obtained.
RESUMO
Este trabalho apresenta uma discussão sobre a aplicação dos princípios e ferramentas da construção
enxuta – lean construction – em processos produtivos de empresas do setor da construção civil.
Constata-se que o projeto da construção civil requer transformações radicais, iniciadas a partir da
reconcepção de seu modelo tradicional de conversões para o modelo de fluxos e conversões, sugerido
pela filosofia de construção enxuta.
Apresenta-se em seguida um modelo de planejamento e controle da produção destinado ao curto prazo,
como um meio eficaz de se estabilizar e garantir o fluxo de produção.
Na sequência do trabalho descreve-se os resultados de uma intervenção voltada para o
desenvolvimento do processo de planejamento de curto prazo realizada em uma empresa do setor da
construção.
SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO
Nesse sentido, atualmente existe uma outra tendência na manufatura cujo impacto parece
ser bem mais positivo que as soluções sugeridas para resolver os problemas da construção,
baseadas em tecnologias de informação e automação. Essa tendência é centrada em uma
nova filosofia de produção que não se baseia na implementação de novas tecnologias, mas
na aplicação de teorias e princípios básicos de gestão relacionados à melhoria dos processos
de produção.
De uma maneira geral, o modelo de conversões de acordo com o qual o processo produtivo
da construção está estruturado apresenta as seguintes peculiaridades (Koskela, 1992):
1 - o processo de produção é uma conversão de entradas (insumos como materiais,
informações, energia, ferramentas, equipamentos e mão-de-obra) em uma única saída (uma
obra);
2 - o processo de produção pode ser dividido em subprocessos, os quais também são
considerados como conversões;
3 - o custo do processo como um todo pode ser otimizado através da minimização do custo
de cada subprocesso isoladamente ;
4 - o valor do produto (resultado final) de um processo está associado aos custos dos
insumos (entradas) consumidos.
Ao focar sua atenção somente nas conversões, o modelo convencional despreza os fluxos
físicos existentes entre elas, ou seja, despreza todas as operações referentes a transportes
(de equipamentos, ferramentas e materiais até o posto de serviço onde será executada uma
operação produtiva), movimentação dos operários, espera (por materiais, ferramentas,
ordens de serviço, cura de materiais, etc.) e atividades de inspeção necessárias ao controle
de qualidade (Koskela, 1992). Para a construção enxuta é fundamental a consideração dos
fluxos entre as atividades. Tais fluxos são vistos como desnecessários ao processo
produtivo, devendo ser eliminados, partindo-se do princípio de que eles não agregam valor
ao produto final do ponto de vista do consumidor. Entretanto, o que se vê na prática da
construção civil é a desconsideração da existência dos fluxos ou a consideração de todos
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INTERNACIONAIS, III SIMPOI, Fundação Getúlio Vargas, Escola de Administração de Empresas de São
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eles como partes das atividades de conversão. E quando vistos dessa forma, os fluxos
passam a ser tratados como operações agregadoras de valor.
O processo produtivo da construção, sob a ótica da filosofia JIT, pode ser esquematizado de
uma maneira simplificada (conforme a Figura 2 abaixo), onde os retângulos escuros
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representam as atividades do processo que não agregam valor em contraste com aquelas
que agregam, representadas pelos processamentos:
Retrabalho
Processamento
Transporte Espera Inspeção
1
Processamento
Transporte Espera Inspeção
2
Retrabalho
De uma maneira geral, pode-se dizer que o princípio que rege a filosofia da construção
enxuta consiste na consideração dos elementos do processo produtivo não apenas como
conversões, mas também, os fluxos existentes entre elas. A eficiência do processo, além de
depender das atividades de conversões (os processamentos), é atribuída também à maneira
como são tratados os fluxos existentes entre estas (Shingo, 1996). Considera-se apenas as
atividades de conversões como agregadoras de valor ao produto final, levando a concluir
que as atividades de fluxo devem ser eliminadas ou na impossibilidade disto reduzidas, ao
se buscar a melhoria do processo como um todo.
Koskela (1992) propõe os seguintes princípios para o projeto, controle e melhoria dos
fluxos existentes nos processos:
1 - redução da participação de atividades que não agregam valor ao produto final no
processo;
2 - redução da variabilidade dos procedimentos de produção;
3 - redução do tempo de ciclo das atividades;
4 - simplificação do processo através da redução do número de procedimentos, elementos
constituintes e ligações entre eles;
5 - incremento da flexibilidade do processo;
6 - aumento da transparência do processo para toda a empresa;
7 - controle sobre o processo como um todo;
8 - incentivo à melhoria contínua no processo;
9 - balanceamento entre a melhoria dos fluxos e das conversões.
O sistema de administração da produção do processo construtivo tem sido feito até então
através da organização de um conjunto de atividades direcionadas para um objetivo
comum: a execução final da obra. Essas atividades são na verdade, subprocessos de
conversões, baseados nos modelos convencionais de produção. Esta ótica da construção,
considerada como um conjunto de atividades, é compartilhada tanto pelos antigos quanto
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O grande problema da visão convencional a respeito dos processos de produção é que ela
não consegue enxergar o fluxo de insumos ocorrendo entre as atividades. E se não
consegue enxergar, também não consegue tratar as atividades presentes no fluxo, em
termos de buscar eliminá-las ou reduzi-las, caso seja impossível bani-las do processo
produtivo.
Conclui-se que a melhoria dos processos produtivos envolve considerações sobre o fluxo. E
nesse sentido, a melhor forma de se considerar o fluxo consiste em planejar as ações futuras
a serem realizadas no processo de produção. Além disso, as considerações sobre o fluxo
vão estar presentes nos horizontes de médio e curto prazo, sendo que neste último mais
intensamente, visto que, em função da incerteza existente no ambiente do processo
produtivo da construção civil, muitas das decisões operacionais somente poderão ser
tomadas considerando inércias de decisão – período de tempo compreendido entre a tomada
de decisão e sua efetiva implantação – de curto prazo.
Para cada horizonte de tempo ou cada necessidade associada de inércia de decisão deve-se
pensar em um instrumento de planejamento específico. Para o longo prazo considera-se
genericamente o diagrama de Gantt, a técnica de rede CPM/PERT e a linha de balanço. As
três técnicas baseiam-se em dados preliminares oriundos de orçamentos dos projetos, de
estimativas de tempo das atividades necessárias à realização do projeto e do
sequenciamento técnico entre elas. Alguns trabalhos sugerem vantagens no uso da Linha de
Balanço em relação às demais técnicas em decorrência de sua eficiência em responder às
perguntas básicas do planejamento referentes a quando fazer, o que fazer, quanto fazer,
onde fazer e com que recursos fazer. A Figura 3 apresenta um exemplo da Linha de
Balanço comparando-a com um diagrama de Gantt para algumas atividades existentes em
um projeto da construção:
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FUNDAÇÃO
ativ idades
ESTRUTURA
ALVENARIA
tem po
n
.
.
.
unidades
de
repetição
.
.
.
3
2
1
tem po
Com base no planejamento de longo prazo parte-se para os planejamentos de médio e curto
prazo, denominados neste trabalho respectivamente como Lookahead Planning e Weekly
Planning.
A ligação entre o Lookahead e o planejamento de curto prazo acontece por meio da geração
de cartões de produção para todas as tarefas previsíveis para a conclusão final da obra. São
produzidos, então, diversos cartões de produção – associados às diversas tarefas que
ocorrem no canteiro de obras – que formam uma espécie de estoque de ordens de produção,
liberadas a cada elaboração do Lookahead e confirmadas através da entrega às equipes de
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EQUIPE:
TAREFA:
LOCAL:
Quantidade realizada:
DATA DE INÍCIO:
Data realizada:
DATA DE TÉRMINO:
Início: Término:
Visando à verificação do processo de planejamento de curto prazo, foi analisada uma obra
em execução por uma empresa de médio porte localizada na cidade de Florianópolis, no
Estado de Santa Catarina. Nesse sentido, foi realizada uma intervenção de duração de 5
semanas visando a implementar o planejamento de curto prazo, entre os dias 10 de janeiro e
11 de fevereiro de 2000.
A obra objeto do estudo foi um edifício residencial alto, possuindo 11 pavimentos, com 5
apartamentos por andar. Estes apartamentos possuíam características de grande
personalização em função de uma política de flexibilidade adotada pela empresa
construtora, que permitia aos proprietários dos imóveis promoverem diversas modificações
internas nos projetos.
A partir da determinação dos serviços necessários à conclusão da obra, foi produzida uma
grande lista de ordens de serviço contendo todas as ações passíveis de previsão para a
conclusão da obra. Esta lista de ordens de serviço foi organizada em função das diversas
tarefas a serem executadas segundo critérios de construtibilidade e capacidade produtiva
disponível. Em outras palavras, obedecendo a uma sequência lógica, as ordens de serviços
foram incluídas nos instrumentos de programação (lookahead planning e weekly planning)
de forma a dimensionar uma carga compatível com a capacidade de trabalho disponível e
com a necessidade de conclusão da obra. A operacionalização das ordens de serviços
geradas se deu na forma de cartões de produção, como no modelo apresentado na Figura 4.
Foram geradas centenas de cartões de produção, produzindo assim um estoque de ordens de
serviços a serem liberadas nos momentos oportunos.
As reuniões com o mestre de obras para discutir a evolução dos serviços planejados e para a
entrega de novos cartões de produção, contendo novas ordens de serviços, aconteceram nas
primeiras duas semanas, nas terças e sextas-feiras. Na reunião das sextas-feiras, procurava-
se seqüênciar todas as ordens de serviços para a semana seguinte, organizadas por equipes
de trabalhos, dispostas para cada dia da semana. Às terças-feiras, verificava-se o andamento
do planejamento das sextas-feiras e promovia-se o replanejamento, caso necessário, em
função de algum atraso em uma atividade programada para acontecer naquela semana. O
não cumprimento de tarefas decorreu, principalmente, de interferências de chuvas, falta de
materiais e carência de informações de projeto. Estas discrepâncias entre o planejado e o
executado alimentavam um indicador de qualidade do planejamento chamado de PPC -
Percent Plan Complete, ou Percentual de Atividades Planejadas que foram Efetivamente
Executadas. No início do processo de planejamento, verificou-se que este percentual era
bastante reduzido, ficando na casa dos 50 % - somente metade das atividades planejadas
eram efetivamente executadas. No decorrer da intervenção, com o planejamento de curto
prazo, o PPC percentual aumentou para cerca de 80%.
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6. CONCLUSÕES
Referências bibliográficas