Abrir portas onde

nde se erguem muros Director:

Di
Dire
r ctor: David Pontes Segunda-feira, 8 de Abril de 2024 • Ano XXXV • n.º 12.394 • Diário • Ed. Porto • Assinaturas 808 200 095 • 1,50€

Gu
Guerra no Futebol
FC Porto volta a perder na
Médio Oriente
Mé Liga e desaproveita deslizes
de Benfica e Sp. Braga
Em Gaza, o Desporto, 35
trauma vê-se
tra Perfil
no rosto de Quem é Geny Catamo,
a grande revelação da
cad
cada criança temporada no Sporting
Mundo, 18/19
Mund Desporto, 36

Famílias obrigadas a celebrar novos

contratos perdem apoio à renda
Há pessoas a viver na mesma casa e com os mesmos rendimentos que deixam de ter acesso a apoio
Vários beneÆciários do apoio extraor- para apoiar os arrendatários com terem sido obrigados a celebrar que se mantenham na mesma casa e causa está o facto de a medida abran-
dinário à renda, medida criada pelo taxas de esforço mais elevadas, estão novos contratos de arrendamento, continuem a cumprir os restantes ger apenas contratos até 15 de Março
último Governo de António Costa a perder o direito a este subsídio por por vontade dos senhorios, ainda requisitos de acesso ao apoio. Em de 2023 Destaque, 2/3

RUI GAUDÊNCIO

Droga
Porto vai ter
carrinha
de consumo
assistido
Vai ser desta. Concurso público para
segunda unidade móvel do país para
consumo assistido terminou na sex-
ta-feira Sociedade, 13

Ziraldo (1932-2024)
Morreu o génio
que desenhou
o Brasil e
a infância
Cultura, 28

Direita

Prescrição social cresce Mayan avança

com manifesto
Médico receitou a Mário para refundar
passeio de trishaw. Iniciativa Liberal
“Já parece outra pessoa” Ex-candidato presidencial apresenta
hoje em Lisboa manifesto “Unidos
Sociedade, 10/11 pelo Liberalismo”, que traça novo
rumo para o partido Política, 9

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ISNN-0872-1556
2 • Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024
Destaque Habitação
Famílias obrigadas
a celebrar novos
contratos perdem
apoio à renda
BeneÄciários do apoio à renda têm de ter celebrado o contrato
até 15 de Março de 2023. Há famílias a perder o direito ao apoio
por serem obrigadas a celebrar novo contrato
Rafaela Burd Relvas
V
ários beneÆciários do apoio
extraordinário à renda,
medida criada pelo último
Governo de António Costa
para apoiar os arrendatá-
rios com taxas de esforço
mais elevadas, estão a perder o direi-
to a este subsídio por terem sido
obrigados a celebrar novos contratos
de arrendamento, por vontade dos
senhorios, ainda que se mantenham
na mesma casa e que continuem a
cumprir os restantes requisitos de
acesso ao apoio. Em causa está o fac-
to de a medida abranger apenas os
agregados com contratos de arren-
damento celebrados até 15 de Março
de 2023.
Criado no ano passado, no âmbito
do pacote legislativo Mais Habitação,
o apoio extraordinário à renda é atri-
buído de forma automática aos agre-
gados familiares com taxas de esforço
superiores a 35% no pagamento das
rendas habitacionais e com rendi-
mentos até ao sexto escalão de IRS (o
que, em 2024, corresponde a um
máximo de 39.791 euros por ano). Há,
contudo, uma regra que limita signi-
Æcativamente o universo de beneÆ#
ciários: só são abrangidos pelo apoio
aqueles que tenham contratos de
arrendamento celebrados até 15 de
Março de 2023.
Para se ter uma ideia da dimensão
dos potenciais beneÆciários que aca-
bam por Æcar de fora desta medida
por não terem celebrado contratos a
tempo, só no conjunto do segundo,
terceiro e quarto trimestre de 2023,
de acordo com os dados mais recen-
tes do Instituto Nacional de Estatísti-
ca (INE), foram celebrados mais de
69 mil novos contratos de arrenda-
mento habitacional em Portugal. Não
se sabe quantos destes agregados
cumprirão os restantes requisitos do
apoio (uma taxa de esforço superior
a 35% e rendimentos até ao sexto
escalão de IRS).
A regra foi contestada desde o iní-
cio pelas associações pelo direito à
habitação e, ainda em meados do
ano passado, pouco depois de o
apoio ter começado a ser atribuído
às primeiras famílias, a Associação
Portuguesa para a Defesa do Consu-
midor (Deco) já alertava para os ris-
cos de perda do apoio.
“Se o arrendatário for conduzido a
uma situação em que o senhorio se
opõe à renovação para, no fundo,
negociar uma nova renda, e se cele-
brar um novo contrato, então essa
pessoa já vai deixar de estar elegível
para efeitos do apoio”, dizia, então,
Mariana Almeida, jurista da Deco.
Isso mesmo começa, agora, a veri-
Æcar-se. Entre as centenas de queixas
recebidas pela Deco relativas ao mer-
cado de arrendamento, algumas das
mais frequentes dizem respeito à
pressão de senhorios para a cessação
ou não-renovação de contratos e cele-
bração de novos contratos, de forma
a poderem aumentar as rendas.
“Esta situação é particularmente
grave quando os arrendatários eram
beneÆciários do apoio extraordinário
à renda e, em face da celebração de
um novo contrato, deixam de o ser”,
resume Mariana Almeida, em respos-
tas enviadas ao PÚBLICO.
À associação, descreve ainda Natá-
lia Nunes, coordenadora do gabinete
de protecção Ænanceira da Deco, já
chegou, só este ano, “mais de uma
centena de pedidos de famílias que,
apesar de entenderem estar cumpri-
dos os requisitos”, não recebem o
apoio à renda, sem “qualquer expli-
cação” para tal. Entre elas, várias
reclamam ter perdido o apoio por
terem sido obrigadas a celebrar novos
contratos.
“Venho, por este meio, pedir ajuda
para compreender por que deixei de
ter direito ao apoio extraordinário
ao pagamento da renda, se o meu
contrato foi cessado por se tratar de
uma casa proveniente de uma heran-
ça. Os herdeiros decidiram vender.
A vontade [de cessar o contrato] foi
da senhoria, não minha, tive de sair
até ao Æm de Setembro, data em que
terminaria o contrato. Tem de haver
excepções ao decreto para situações
como a minha, em que a senhoria
quis vender a casa, o que originou,
forçosamente, um novo contrato”,
pode ler-se num email enviado à
associação.
Ao PÚBLICO, outra inquilina con-
ta que a sua senhoria propôs, no ano
passado, terminar o contrato e cele-
brar um novo, com uma renda que
aumentaria para o dobro do valor.
“Não só não ia conseguir pagar a
nova renda, como ainda perdia o
apoio com a celebração do novo con-
trato”, conta, sob anonimato, expli-
cando que a senhoria propôs que
tentasse aceder ao Porta 65, outro
apoio ao pagamento de rendas, des-
tinado a jovens.
O Porta 65, contudo, impõe limites
às rendas com as quais os inquilinos Apoio à renda chegava a quase 237 mil famílias em Portugal no final de 202
NotíciasFlix
MANUEL ROBERTO
se podem candidatar a receber este
apoio. “Sugeriu-me estabelecermos
uma renda falsa no contrato, mais
baixa, e o resto do valor Æcou deÆni-
do como um pagamento por serviço
de limpeza, que não tenho”, conta
esta inquilina, que optou por deixar
a casa.
Falta de explicações
Noutros casos, os inquilinos são pre-
judicados por se enquadrarem em
situações omissas na legislação ou
pela falta de cumprimento da lei por
parte dos senhorios. Foi esse o caso
de Ana Gago, investigadora e mem-
bro da associação Habita!, que deixou
de receber o apoio à renda quando o
seu senhorio não comunicou à Auto-
ridade das Finanças um aditamento
do contrato de arrendamento, como
previsto na legislação em vigor.
Ana Gago celebrou um contrato de
arrendamento em 2021, com um pra-
zo de dois anos, mas com um detalhe
que a deixa de fora de uma protecção
prevista para os inquilinos. A lei em
vigor estabelece que os contratos de
arrendamento para habitação perma-
nente com prazo certo têm um míni-
mo de um ano e renovam-se automa-
ticamente no seu termo (ou por um
período mínimo de três anos). Con-
tudo, há senhorios a fugirem à reno-
vação automática de contratos, já que
a lei estipula que só acontece “salvo
estipulação em contrário”. Ora, o seu
contrato de arrendamento era, pre-
cisamente, não-renovável, terminan-
do a 31 de Julho de 2023.
A isto, acrescia o facto de ser bol-
seira de investigação, o que signiÆca
que auferia um tipo de rendimento
que, inicialmente, não estava previs-
to na lei como um dos que podiam
ser considerados para o cálculo do
apoio à renda a receber pelos poten-
ciais beneÆciários. Só mais tarde,
com uma alteração que entrou em
vigor em Novembro de 2023, é que
os bolseiros de investigação passaram
a ser abrangidos pelo apoio. Foi nes-
se mês que Ana Gago recebeu o equi-
valente a sete meses de apoio: os
montantes, atribuídos retroactiva-
mente, relativamente aos meses de
Janeiro a Julho de 2023, quando ter-
minava o contrato.
Acontece que, mesmo sendo o
contrato não-renovável, a investiga-
dora conseguiu fazer um aditamen-
to, prolongando-o até 2025. Ou seja:
mantém o mesmo contrato, que foi
celebrado antes de 15 de Março de
2023 (o prazo previsto por lei para
que os arrendatários possam rece-
ber o apoio extraordinário à renda),
bem como os restantes requisitos,
relativos à taxa de esforço e aos ren-
dimentos.
Mas o senhorio só comunicou este
aditamento à Autoridade Tributária
já em Dezembro de 2023, o que fez
com que o Instituto da Habitação e da
Reabilitação Urbana (IHRU), entidade
responsável pela gestão e atribuição
do apoio, assumisse que o contrato
23 tinha sido cessado e, portanto, can-
Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024 • 3
Tem de haver
excepções ao
decreto para
situações como a
minha, em que a
senhoria quis vender
a casa, o que
originou,
forçosamente, um
novo contrato
Pedido de ajuda enviado à Deco
236
No final de 2023, segundo os
dados mais recentes, o apoio
extraordinário à renda abrangia
236.862 agregados familiares,
num total de 258.661 pessoas
113
euros era o apoio médio mensal,
no final do ano passado,
segundo o IHRU. O valor máximo
do apoio é de 200 euros por mês
69
mil novos contratos de
arrendamento habitacional
foram celebrados entre Março
e Dezembro de 2023, diz o INE
celasse a atribuição do apoio.
Desde então, Ana Gago tem procu-
rado corrigir a informação, mas sem
sucesso, até porque os canais de
comunicação com as entidades com-
petentes não funcionam. Num pri-
meiro momento, enviou emails ao
IHRU e a um endereço criado propo-
sitadamente para esclarecer dúvidas
sobre o apoio à renda (que, entretan-
to, foi eliminado). Depois, as reclama-
ções passaram a ser feitas no Portal
da Habitação, através de um formu-
lário. No seu caso, contudo, este for-
mulário, já pré-preenchido, contém
informações erradas (declarando,
por exemplo, que o contrato de
arrendamento foi cessado) que não
podem ser corrigidas pelo inquilino.
Nos contactos telefónicos do IHRU,
ninguém atende.
Universo desconhecido
O PÚBLICO questionou o IHRU sobre
quantos agregados familiares estão,
actualmente, a beneÆciar deste sub-
sídio, bem como quantos já deixaram
de beneÆciar dele por terem celebra-
do um novo contrato de arrendamen-
to, posterior a 15 de Março de 2023,
mas não obteve quaisquer respostas
até à publicação deste artigo.
No Ænal do ano passado, segundo
os dados mais recentes disponibiliza-
dos pelo IHRU, o apoio extraordinário
à renda abrangia 236.862 agregados
familiares (num total de 258.661 pes-
soas), com um apoio médio mensal
de 113 euros (o valor máximo do apoio
é de 200 euros por mês).
Estes números estarão, contudo,
desactualizados, não só por não con-
siderarem as famílias que, desde
então, já terão perdido o direito ao
apoio, como também porque ainda
não contabilizam os agregados que
passaram a beneÆciar já este ano, na
sequência da actualização das rendas
por via da inÇação.
Este ano, recorde-se, as rendas
estabelecidas em contratos já em
vigor puderam ser actualizadas em
6,94%, no âmbito da aplicação do
coeÆciente de actualização de rendas
determinado pela inÇação. O anterior
Governo decidiu não impor qualquer
travão a esta actualização, optando
por atribuir um apoio directo aos
inquilinos que tenham diÆculdade
em suportar os aumentos de rendas:
por um lado, quem já beneÆciava do
apoio extraordinário à renda teve
direito a um reforço automático, de
forma a baixar a taxa de esforço de
novo para um patamar inferior aos
35%; por outro, quem ainda não
beneÆciava deste subsídio, mas pas-
sou a suportar uma taxa de esforço
superior a 35% com a actualização da
renda e tem rendimentos dentro dos
limites estabelecidos e contrato cele-
brado até ao prazo previsto, passou
a ter direito ao apoio.
Não se sabe ainda, contudo, quan-
tas famílias passaram a ser abrangidas
pelo apoio à renda, nem qual passou
a ser o valor médio do mesmo, desde
estas alterações.
4 • Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024

Espaço público

Da memória e do fascismo

A
propósito da data redonda
Editorial de 50 anos do 25 de Abril,
o PÚBLICO tem vindo a
publicar uma série de
trabalhos que recuperam
a memória dos tempos terríveis da
ditadura em Portugal e que
David Pontes procuram reÇectir sobre o que
sucedeu nestas cinco décadas de
democracia. Fazemo-lo com sentido
de gratidão para com aqueles que
lutaram contra o Estado Novo e com
a perfeita noção de como, numa
altura em que pelo passar do tempo
a memória se tende a esbater, é
importante sublinhar o mau que foi,
para valorizarmos o bom que é hoje.
A memória é um excelente
A melhor resposta será antídoto contra as derivas
reaÄrmar os princípios autoritárias que temos vindo a ver
da democracia liberal, crescer, mas o caminho das analogias
melhorar essa é um perigo para o qual também
devemos estar atentos. Ver fascismo
democracia e proibir e fascistas em tudo o que é direita
o menos possível radical ou extrema-direita é
contraproducente, porque tende a
ocultar as razões dos perigos de hoje,
necessariamente diferentes dos do
passado. Em vez de se combater o
perigo real de agora, estaremos a
tentar esmurrar uma imagem errada,
porque fundada numa analogia que
não ajuda a perceber a actualidade.
A manifestação “Contra o
Fascismo, Mais e Melhor Habitação”
que se realizou sábado no Porto,
labora nesse equívoco, mas ter nessa
manifestação um cartaz em que o
presidente da Câmara do Porto surge
mascarado de SS é um outro nível de
equívoco e contrário aos “valores de
Abril”. Os manifestantes pretendiam
que a autarquia tivesse proibido uma
manifestação de extrema-direita,
esquecendo que com o 25 de Abril
conquistamos o direito de
manifestação, direito válido mesmo
para os que estão contra o sistema
democrático e defendem coisas que
a Constituição não permite.
A margem para proibir qualquer
manifestação é, felizmente, muito
pequena, como defendem vários
constitucionalistas, que consideram
que só mesmo perante o acto
concreto de se usarem cartazes ou
palavras que incitem ao ódio, à
violência ou sejam discriminatórios é
que se pode impedir alguém de se
manifestar. Para proibir
antecipadamente, a principal
justiÆcação é a do perigo para a
ordem pública, razão pela qual
Moedas pôde inviabilizar uma
manifestação similar à do Porto, pois
tinha um parecer da PSP nesse
sentido. Culpar Rui Moreira pela
manifestação de sábado é falhar
completamente o alvo.
Por muito que doa a quem não
gosta de ver nas ruas cânticos de
ódio e intolerância, a melhor
resposta para defender os princípios
de uma democracia liberal será
sempre reaÆrmar esses princípios,
melhorar a democracia e proibir o
menos possível. Não é fácil, mas é
mesmo assim.

CARTAS AO DIRECTOR
Os novos ministros do
Governo AD
Para a generalidade dos
portugueses, os ministros não
passam de simples desconhecidos
que saltam para a área de
governação, mas, para Luís
Montenegro, não é assim.
Convida-os ou porque são amigos
muito próximos ou porque acha
que serão pessoas competentes na
área da governação com provas
dadas nos seus ofícios antes do seu
convite. No caso do ministro dos
Negócios Estrangeiros (MNE), o
nome recaiu em Paulo Rangel. Não
me parece que possua o perÆl
indicado para esta pasta. Mais:
Paulo Rangel, nos primeiros
momentos em que se deu a
conhecer como o novo MNE de
Portugal na Comunidade Europeia,
foi demasiado voluntarioso, já se
pôs em bicos de pés em assuntos
delicados que requerem uma certa
prudência, contenção e discrição.
Paulo Rangel não foi uma boa
escolha para o lugar que agora
ocupa.
António Cândido Miguéis, Vila Real
Novas regras eleitorais
Excelente artigo do prof. Jorge
Miranda a lembrar a necessidade de
“50 anos depois, melhorar as regras
eleitorais”. Se a actual composição
da Assembleia da República poderá
trazer algumas diÆculdades quanto
a uma governação, julgo que, pelo
contrário, há condições para uma
certa revisão da Constituição, que,
devido ao tempo, necessita de
alguns ajustes. Um deles é, sem
dúvida, a lei eleitoral. Numas
eleições que tiveram uma das
menores taxas de abstenção de
sempre, não é aceitável que mais de
um milhão e meio de votos sejam
desprezados. Há necessidade de se
poder validar o maior número de
votos possível. Também aqui está
muito correcto fazer a diferença
entre votos em branco, os nulos e a
abstenção. Apenas não concordo
com os agrupamentos propostos.
Em vez de fazer junções de norte
para sul do país, faria na horizontal,
ou seja, de leste para oeste.
Teríamos “zonas” eleitorais: Zona
Norte, que incluía todo o país a
norte do rio Douro; Zona Centro,
entre Douro e Tejo; Zona Sul, todo o
país a sul do Tejo. Haveria ainda
outras duas que seriam a das
regiões autónomas e Ænalmente a
que representasse toda a diáspora.
O número de deputados a eleger
seria proporcional ao número de
eleitores de cada um destes
espaços. Acredito que esta situação
não seria a que mais beneÆciaria os
grandes partidos, que eram dois e
agora são três mais pequenos, mas o
país estaria muito mais bem
apresentado na casa da democracia
e a política e os políticos ganhariam
maior credibilidade
António Barbosa, Porto
Nove milhões não
votaram em si!
Uma das primeiras reacções ao
choque provocado pelos resultados
eleitorais foi, argumento superÆcial-
mente fraco, tornar claro ao Chega
que não sei quantos milhões de
pessoas não tinham votado neles. A
forma preocupante (arrogante, com
patéticas colagens ao passado) como
o novo primeiro-ministro (e a nova
“maioria”) entrou em funções já foi
bem escalpelizada no PÚBLICO,
nomeadamente por Manuel
Carvalho e São José Almeida. Mas
talvez seja bom lembrar ao novo
primeiro-ministro que quase nove
milhões de eleitores inscritos não
deram o seu voto à coligação que
liderou. E que o tom que escolheu
para começar poderá agradar
apenas àqueles que nele votaram;
os restantes, por muito que
respeitem os resultados eleitorais,
não estão a gostar. Luís Montenegro,
nove milhões não votaram em si!
Mais humildade, por favor!
João Silva, Lisboa
O tempo é de governar
Ainda o Governo não tinha tomado
posse, já se ouviam diversas vozes
vaticinando a sua próxima morte,
conjecturando as possíveis alianças
e elaborando sobre a viabilidade de
futuros orçamentos. A comunica-
ção social, com os seus múltiplos
comentadores, tem tido assunto
para longos períodos de emissão,
como se mais nada tivesse
importância no país. A maioria
parlamentar é exígua, mas… é o
que é! O país tem graves problemas
e fracos recursos, mas… é o que é!
E o que vamos fazer com tudo isto?
Não será altura de deixar o
Governo governar? Não será justo
deixar que trabalhem e possam
concretizar o que prometeram?
Não seria melhor a comunicação
social convidar quem conhece as
diversas áreas para análises
construtivas em vez de promover a
discussão estéril e picardias entre
os actores políticos? O tempo é de
deixar construir e governar com
serenidade e honestidade e só
depois se avaliar, criticar e julgar.
Isabel Ribeiro, Lisboa
O PÚBLICO ERROU
No texto “Votos (in)úteis?”, de
Maria Castello Branco, publicado
ontem no caderno P2, faltou citar
em duas passagens o livro Oxford
Handbook of Portuguese Politics
(Oxford University Press, 2022), ed.
Jorge M. Fernandes, Pedro C.
Magalhães e António Costa Pinto.
Aos autores e aos leitores, as nossas
desculpas.

As cartas destinadas a esta secção têm de ser enviadas em exclusivo para o PÚBLICO e não devem exceder as 150 palavras (1000 caracteres). Devem indicar o nome, morada e contacto
telefónico do autor. Por razões de espaço e clareza, o PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e editar os textos e não prestará informação postal sobre eles cartasdirector@publico.pt

ESCRITO NA PEDRA Finalmente um bom Ripley
Quando um
homem pratica Ainda ontem
uma coisa
profundamente
estúpida é
sempre pelo
P
mais nobre Miguel Esteves Cardoso
motivo atricia Highsmith era muito má
pessoa, mas, como era uma
Oscar Wilde escritora genial, usou a maldade da
pessoa dela para escrever
(1854-1900) genialmente. Criou, por exemplo,
personagens geniais, muito maus,
muito parecidos com ela, como Ripley.
A excelentíssima série Ripley, realizada por
O NÚMERO Steven Zaillian, com Andrew Scott a fazer de
40%
Ripley, é mais deliciosamente highsmithiana
do que qualquer outro Ælme baseado em
romances dela, excepto talvez Strangers On A
Train, de Hitchcock.
Highsmith publicou Strangers On A Train em
1950, ainda ela não tinha 30 anos. Em 1951, já
era um Ælme de Hitchcock.
A relação de Highsmith com o cinema – e não
há melhor maneira de começar do que com
das 33 mil vítimas mortais Hitchcock – é incestuosa. Os romances dela
causadas pelo conflito em Gaza eram romances, eram literatura, mas também
são crianças eram Ælmes escritos, puxavam a imaginação
ZOOM SAN SALVADOR
Procissão Queer em homenagem às vítimas de femicídios e mulheres transexuais assassinadas, na capital de El
Salvador, este sábado
para o cinema. Por isso é que quase todos
deram Ælmes.
A série Ripley que agora está na NetÇix tem a
grande virtude de ser a mais parecida com o
personagem de Highsmith. É uma série de
quem leu. É a série de quem sofreu com tudo o
que se perdeu quando se Æzeram Ælmes com
Ripley.
Mostra o sentido de humor narcisista de
Highsmith. O personagem que quer escrever
não sabe escrever. O personagem que quer
pintar não sabe pintar. O personagem que
assassina não sabe assassinar. O personagem
que quer apanhar o assassino não sabe apanhar.
A única pessoa que não é incompetente é a
Patricia Highsmith. Essa sabe mesmo escrever:
disso não há dúvida.
O Ripley de Zaillian é um Ripley que adora a
Itália como Highsmith a adorava: com verdade,
(jornalista de dados); Ruben Martins, Inês Rocha (áudio); Joana Bougard (editora
sem colonialismo, sem sobranceria, sem
postalinhos. Os outros Ælmes americanos sobre
Ripley podem ser divertidos, mas são
(subeditor), Ana Sá Lopes, São José Almeida (redactoras principais), Ana Bacelar
irremediavelmente turísticos.
O espírito da série é católico e castigador,
cheio de pecados e de temores, decadente e
antigo.
Quanto a Andrew Scott, apanha Ripley de
Alexandra Campos, Ana Cristina Pereira, Ana Dias Cordeiro, Ana Henriques, Ana
uma vez por todas. Apanha o medo, a
sexualidade, o provincianismo, a preguiça, o
desprezo, a misantropia, o desconforto.
É genial.
RODRIGO SURA/EPA
Luís J. Santos (editores), Alexandra Prado Coelho (grande repórter), Luís Octávio
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Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024 • 5
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6 • Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024
Espaço público
Aeroporto de Lisboa: é melhor repensar
A
S. Pompeu Santos
Comissão Técnica
Independente (CTI) nomeada
pelo Governo de António Costa
para a escolha da solução
aeroportuária de Lisboa fez em
11 de março (um dia após as
eleições que ditaram o Æm desse executivo)
a entrega do seu relatório Ænal. Embora o
ditado diga que “o mandato acaba quando
deixa de haver mandante”, apressaram-se a
entregá-lo ao Governo cessante, receando
talvez que Æcasse sem destinatário.
Apesar das mais de mil páginas de
comentários e críticas recebidas pela
comissão durante a consulta pública, o
relatório final é basicamente igual ao
relatório preliminar, apresentado em
dezembro último, com a indisfarçável
imposição da localização CT (Campo de
Tiro) de Alcochete como solução
recomendada, a que era já defendida no
relatório anterior.
Quanto ao Montijo, para que não
subsistam ilusões, é agora duplamente
chumbado; por um lado, segundo é dito,
“por não permitir manter o hub
aeroportuário em Lisboa” e, por outro, por
razões ambientais, aproveitando a “boleia”
de a APA (Agência Portuguesa do Ambiente)
não ter, entretanto, renovado a DIA
(Declaração de Impacto Ambiental) que
tinha emitido para esta localização há
apenas quatro anos. O porquê da
não-renovação da DIA do Montijo agora é
ainda um mistério, ou… talvez não.
Ora, há aqui coisas que precisam de ser
desmontadas.
Em primeiro lugar, a ênfase que vem
sendo dada a que a CTI é uma comissão
“técnica e independente”. Técnica, sim,
pois é formada essencialmente por
engenheiros e economistas. Agora,
“independente”? É claro que os seus
membros têm as suas opiniões, não são
independentes. Ora, como à comissão foi
atribuído um mandato, mas não lhe foram
fornecidos termos de referência, Æcou em
roda livre; deÆniu as suas próprias regras e
chegou às conclusões que entendeu.
Por exemplo, a procura aeroportuária que
se pretende satisfazer ou o tipo de
aeroporto, por exemplo, ser ou não um
grande hub são questões essencialmente
políticas e por isso terão de ser previamente
deÆnidas e assumidas pelo poder político,
não podem Æcar dependentes dos humores
ou preferências pessoais dos membros de
uma comissão nomeada ad hoc.
Assim, como na CTI havia membros com
uma clara preferência pelo CT de Alcochete
(basta ver o seu passado), foi considerada
uma procura estapafúrdia, de mais de 140
milhões de passageiros em 2086 (mais de
quatro vezes a procura atual), maior que o
movimento atual de qualquer aeroporto no
mundo, e que apenas um mega-aeroporto
pode satisfazer, eliminando assim qualquer
solução sensata, como Portela+Montijo.
Quanto à questão do hub, ninguém impôs
à CTI que Lisboa devia passar a ser um
grande hub intercontinental; isso é apenas a
opinião dos seus membros. Ora, um hub em
Lisboa já existe, no aeroporto atual, a
Portela. Será que vale a pena apostar (gastar
dinheiro) para ter em Lisboa um grande hub
que não caiba na Portela?
Ora, as companhias de aviação
estrangeiras que operam em Lisboa não
precisam de nenhum hub aqui. Tanto para
elas como para a maior parte das
companhias em todo o mundo, a estratégia
é, cada vez mais, o transporte “ponto a
ponto”, sem transfers. Aliás, a atual maior
companhia europeia, a Ryanair, já disse
claramente, por diversas vezes, que para um
aeroporto no CT de Alcochete não irá voar.
A única companhia que parece ter
interesse no hub em Lisboa é a TAP, mas,
como se sabe, o seu futuro é incerto,
depende de vários fatores, como, por
exemplo, se vai ser privatizada ou não e a
dimensão que passará a ter no futuro.
Contudo, tendo voltado aos prejuízos,
apesar das injeções de dinheiro dos
contribuintes, não terá grande futuro e a
tendência será encolher.
As conclusões da CTI no seu relatório são,
portanto, meras opiniões pessoais, pelo que
não devem servir de base para a tomada de
decisão numa matéria tão estruturante para
o futuro do país como é a escolha da solução
aeroportuária de Lisboa.
Aliás, a postura de alguns dos membros da
CTI parece reÇetir uma revanche em relação
ao Governo de Passos Coelho, que, há dez
anos, decidiu abandonar os planos
megalómanos e irresponsáveis dos governos
de José Sócrates (que puseram Portugal à
beira da bancarrota), e decidiu avançar com
a solução minimalista Portela+ Montijo.
É certo que os governos de António Costa
começaram por se alinhar com a estratégia
de Passos Coelho, mas, eventualmente
pressionados, foram progressivamente
abandonando a solução (o seu grande
defensor, o ex-ministro Pedro Marques, foi
entretanto “despachado” para Bruxelas),
abrindo caminho ao regresso aos planos
daqueles tempos fatídicos.
Ora, conforme é sabido, a solução
Portela+Montijo garante a satisfação das
necessidades aeroportuárias da região de
Lisboa durante, pelo menos, os próximos 30
anos. A concessionária dos aeroportos, a
ANA, já a estudou e compromete-se a
implementá-la sem encargos para os
contribuintes. Por outro lado, a ANA tem
reiteradamente manifestado a sua
discordância com a solução CT de
Alcochete.
Assim, impor à ANA a construção de um
mega-aeroporto no CT de Alcochete, sem
razão ponderosa, é uma grande
irresponsabilidade. Além de abrir uma
“guerra” com a empresa, que irá custar caro
aos contribuintes e poderá arrastar-se
indeÆnidamente nos tribunais, a sua
A postura de alguns dos
membros da CTI
[Comissão Técnica
Independente] parece
reÅetir uma revanche
em relação ao Governo
de Passos Coelho
construção pode transformar-se em mais
um “elefante branco”. Ouvir pessoas ligadas
à CTI dizer que é preciso “encostar a ANA à
parede” é assustador.
A narrativa de que a questão do aeroporto
de Lisboa precisa de ser rapidamente
resolvida, pois “estamos há 50 anos para
tomar uma decisão”, deve também ser
aclarada.
Em 1972, foi tomada uma decisão clara:
Rio Frio, que só não avançou devido à
alteração de paradigma, na sequência do 25
de abril de 1974. Durante as duas décadas
seguintes, o dossier esteve praticamente
parado, até porque a Portela ia respondendo
às necessidades. Apenas em 1999 o assunto
foi, efetivamente, retomado. O Governo de
então selecionou duas localizações: Rio Frio
e Ota, e encomendou um estudo
comparativo a um consultor internacional, o
Airports de Paris. Só que o impensável
aconteceu: quando o consultor se preparava
para escolher Rio Frio, o próprio Governo
vetou essa localização, invocando prejuízos
ambientais, pelo que Æcou a Ota. Ora,
passado algum tempo, percebeu-se o
embuste, pelo que havia que deixar cair a
Ota. Assim, em 2007 inventou-se então um
confronto entre a Ota e o CT de Alcochete,
cujo estudo foi atribuído ao LNEC, o qual,
num relatório opinativo (como o agora da
CTI), recomendou este último. Isto é, nestes
25 anos não se aprendeu nada!
Neste momento crítico para o futuro do
país, espera-se do novo Governo
discernimento e sentido de
responsabilidade; é o futuro de todos nós
que está em jogo. A crise de 2010-2011 está
ainda bem viva e, apesar da “conversa” dos
cofres cheios, a dívida pública já vai nos
quase 300 mil milhões de euros. Não
voltemos a jogar à roleta. É melhor repensar!
Engenheiro civil, membro conselheiro da
Ordem dos Engenheiros
NUNO FERREIRA SANTOS

Antes eurocéptico que euro-ingénuo
N época, a potência emergente da Ásia).
Ricardo Paes Mamede
Quando se abatem as
fronteiras entre duas ou mais
economias, não são apenas
os produtores de cada país
que ficam mais expostos aos
competidores externos
S
egundo as descrições mais comuns
em Portugal, as posições políticas
sobre a União Europeia (UE)
dividem-se entre o europeísmo e o
antieuropeísmo. É uma má
descrição. Para ser uma coisa ou
outra é preciso ter paixões fortes sobre o
assunto – e a UE desperta pouca paixão e
interesse no nosso país. Além disso, o
processo de integração europeia é complexo
o suÆciente para tornar absurdo ser-se
apenas contra ou a favor.
Desde a sua origem, a construção da UE
tem sido inÇuenciada por visões muito
distintas – umas que valorizam os
mecanismos de cooperação entre países,
outras que promovem a concorrência
generalizada, com mais ou menos regulação;
umas que prosseguem o sonho de uma
democracia de escala continental, outras
que vêem a soberania das nações como
indispensável, seja em nome de uma
democracia efectiva ou de interesses
particulares. A UE que hoje existe é resultado
de compromissos entre diferentes
perspectivas e interesses, o que se reÇecte
nas tensões que emergem a cada passo.
Acresce que a natureza da UE não se
manteve estável ao longo das décadas. O
Mercado Comum que seis países ricos
decidiram criar em Roma, em 1957, tinha
pouco a ver com o que hoje conhecemos. Na
altura – e durante mais de três décadas –
continuaram a existir fronteiras físicas entre
os países, controlo de circulação de pessoas
e capitais, moedas próprias e políticas
orçamentais sem regras comuns. A
organização que devolveu a paz à Europa
não tinha nenhum banco central e o poder
da Comissão estava limitado à regulação de
alguns mercados de produtos, deixando
larga margem para a intervenção dos
Estados nacionais em várias esferas da vida
económica e não só.
A UE como hoje a conhecemos tem as suas
origens directas na segunda metade da
década de 80, quando as preocupações dos
líderes políticos se focavam mais na
competitividade do que na preservação da
paz. Depois de uma década e meia de crises
petrolíferas e instabilidade Ænanceira, as
economias dos seis países fundadores
cresciam abaixo dos EUA e do Japão (à
Entretanto, o número de Estados-membros
tinha duplicado para 12, passando a incluir o
Reino Unido de Thatcher e um conjunto de
países mais pobres do que a média (Espanha,
Grécia, Irlanda e Portugal).
É nesse contexto que a integração
europeia se transforma, acima de tudo, num
processo de liberalização económica. São
abolidas as fronteiras, harmonizada a
regulação dos mercados, liberalizados os
movimentos de capitais, facilitada a
circulação de pessoas, reforçado o poder da
Comissão na política de concorrência, e
limitado de forma estrita o apoio dos Estados
às empresas nacionais.
Os responsáveis máximos por esta
transformação profunda sabiam que o
reforço da integração aumentava também a
interdependência entre as economias. Por
exemplo, as políticas monetária e
orçamental de cada país passariam a ter
impactos mais relevantes nas economias dos
outros Estados-membros. Isto justiÆcou a
criação de regras orçamentais comuns e a
moeda única europeia, moldadas à imagem
de quem tinha mais poder. Da mesma forma,
o desarmamento alfandegário punha em
risco a competitividade das economias
menos soÆsticadas e prometia beneÆciar as
grandes empresas dos países mais ricos.
Reforçaram-se, por isso, os fundos
estruturais, tentando compensar um pouco
as perdas e ganhos de uns e outros, e
conquistar assim o apoio dos povos para o
processo em curso.
Mas as implicações da integração
económica são muito mais vastas – e nem
todos os domínios mereceram a mesma
atenção dos líderes da UE. Quando se
abatem as fronteiras entre duas ou mais
economias, não são apenas os produtores de
cada país que Æcam mais expostos aos
competidores externos. A concorrência
económica põe em causa modelos de
sociedade distintos. Cada país tem as suas
Menos direitos laborais,
impostos mais
regressivos e menos
Estado social resultam
em sociedades mais
desiguais e menos
coesas. Por isso,
também, mais dispostas
ao conÅito.
Por acção ou omissão,
este plano inclinado
está inscrito nas regras
em vigor na UE
normas de relações laborais, Æxação de
salários, contribuições para a segurança
social, impostos sobre lucros e sobre
rendimentos do trabalho. Estes aspectos
reÇectem-se nos custos das empresas e,
como tal, no desempenho das economias
nacionais.
Quando decidiram avançar para o
aprofundamento da integração económica,
os líderes da UE poderiam ter decidido criar
regras comuns para as políticas laborais e
Æscais, mas não o Æzeram. Pior: inscreveram
nos tratados que nenhum país poderia ser
obrigado a harmonizar esse tipo de normas
contra a sua vontade. Os resultados deste
aparente respeito pela soberania nacional
eram previsíveis e as últimas décadas
demonstraram-no.
Não podendo recorrer à taxa de câmbio,
nem à pauta aduaneira, nem ao apoio
público aos produtores nacionais, a forma
mais simples de um Governo promover a
competitividade económica do seu país é
reduzir os custos para as empresas. Entre
esses custos, os mais relevantes são os
salariais e os Æscais. Ou seja, no seio da UE os
governos são incentivados, na prática, a
reduzir os impostos sobre os lucros e
rendimentos mais elevados, as contribuições
das empresas para a segurança social e os
direitos laborais.
Neste processo, a capacidade Ænanceira
dos Estados degrada-se. Para tentar
compensar a perda de receita Æscal e
contributiva, aumenta-se o peso dos
impostos indirectos (como o IVA) no
Ænanciamento dos Estados. Mas esses
impostos penalizam mais os mais pobres do
que os mais ricos. Menos direitos laborais,
impostos mais regressivos e menos Estado
social resultam em sociedades mais
desiguais e menos coesas. Por isso, também,
mais dispostas ao conÇito.
Por acção ou omissão, este plano inclinado
está inscrito nas regras em vigor na UE.
Alterá-las já era difícil, uma vez que implicam
mudanças nos tratados, o que exige
unanimidade entre os Estados-membros. O
alargamento da UE para mais do dobro de
países e as crises sucessivas que têm assolado
a Europa tornaram ainda mais improvável a
obtenção de consensos para alterar aquela
deriva anti-social.
Não é preciso ser “antieuropeísta” (o que
quer que isso signiÆque) para identiÆcar
aquele viés no processo de integração
europeia. Podemos e devemos valorizar o
contributo que a CEE deu para o regresso da
paz à Europa, depois de séculos de conÇitos
recorrentes. Podemos e devemos reconhecer
nas instituições europeias elementos cruciais
de aprendizagem colectiva e de promoção
do diálogo e cooperação entre povos e entre
Estados. Tal não signiÆca que da UE só venha
bem ao mundo, ou que podemos
transformá-la de repente em algo melhor só
porque gostaríamos muito que isso
acontecesse. Ser céptico sobre o que é e o
que pode ser a União Europeia é uma
questão de bom senso.
Economista e professor do Iscte
Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024 • 7
Nódoas
negras
Fábrica
de criadas
C
Afonso Cruz
asa da Alexandra, Ana
desorientada, Calvo a servir café
e chá, televisão a dar o
noticiário, Ana a dizer que se
sentia confusa, Alexandra a
dizer que é normal andar às
aranhas, pausa para anúncios na
programação, cão a ladrar na rua, Calvo a
fechar a janela, Alexandra a discordar do
fechamento, está calor, disse ela, Ana a dizer
que não sabia bem o que acontecera na noite
de sábado, Alexandra a pedir pormenores,
Calvo a colocar bolos secos para serem
comidos com o café e com o chá, Ana a dizer
que tinha nódoas negras nas coxas, nos
braços, nas nádegas, o noticiário a dar o
desporto.
Sei que estás a passar um momento difícil,
disse a Alexandra abraçando a Ana, eu muitas
vezes — e cada vez mais — olho para um
bosque ou para as nuvens e já não vejo anjos,
e quando a minha mãe me beija, porque ela
me beija todos os dias, era o que mais faltava
uma mãe se ausentar com a desculpa de que
está morta, não sinto o hálito de Deus e
quando ela sorri, porque ela me sorri todos os
dias, não vejo as ovelhas do monte Hebron e
quando me penteio já não sinto que faço o
mesmo aos oceanos e quando chove não vejo
o espírito de nada e quando comungo não há
uma só migalha de Espírito Santo no meio da
farinha da hóstia. Nessas alturas não vejo
nada e o mundo é um amontoado de matéria
morta, um cenário, não há nada lá atrás,
apenas um vazio, uma daquelas ilusões do
cinema em que as casas são apenas fachadas,
não há nada dentro delas, não há recheio, e se
nós, meu futuro cadáver, precisamos de
alguma coisa é de recheio, o universo é como
um bolo.
Mas isto não importa nada, porque não é
sobre mim é sobre ti, só o disse para mostrar
que percebo de confusões, mesmo quando
pareço tão repleta de Deus e tão isenta de
fraquezas. A questão, disse a Ana, é que o
Flávio me diz que o Eduardo saiu com uma
mulher da discoteca, o Eduardo diz-me que é
mentira, o vizinho do Eduardo disse-me que
me viu nessa noite a fornicar, expressão dele,
nas escadas que dão para a cave, e é possível
que as nódoas negras tenham sido feitas
nesses degraus, ou talvez não, posso ter caído.
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Fábrica
de criadas os textos lidos pelo autor.
AFONSO
CRUZ
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8 • Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024
Política Livre prepara voto contra o OE25
“O Livre estará preparado para
novas eleições”
Isabel Mendes Lopes assumiu a liderança da bancada para mostrar que o Livre
nunca foi um partido de um homem só
Entrevista
Liliana Borges Texto
Nuno Ferreira Santos Fotografia
Estreante no Parlamento, Isabel
Mendes Lopes foi escolhida pelo
Livre para liderar a bancada de
quatro deputados. Dirigente do
Livre e deputada municipal por
Lisboa, é engenheira civil e
especialista em transportes e
mobilidade.
O Livre falou na sua
disponibilidade para um diálogo
com a direita democrática. Já se
reuniu com o PSD?
O Livre disse que os partidos
democráticos nunca podem deixar
de dialogar uns com os outros.
Estamos disponíveis para dialogar
em questões de democracia —
como a introdução de um círculo
de compensação nacional — ou em
questões de justiça. Mas há
aspectos em que diÆcilmente
arranjaremos pontos de diálogo,
seja em questões de Estado social,
de reforço do sector privado da
saúde, ou do lado de retrocessos
de direitos sociais e das mulheres
ou de aspectos ambientais.
Na eleição do Presidente da
Assembleia da República, o
diálogo foi apenas entre o PS e o
PSD. A esquerda saiu
fragilizada?
O PSD apresentou um candidato
sem falar com os outros partidos.
Teoricamente, terá falado com o
Chega. Mas não teve cuidado de
apresentar o seu candidato e as
razões dessa candidatura a todos
aos outros. Não votámos em
Aguiar-Branco, mas a solução
encontrada entre os dois partidos
não minimiza nem fragiliza as
relações à esquerda, que são
programáticas.
Abriu-se um precedente que se
pode repetir no Orçamento do
Estado (OE)?
É uma questão que o PS e o PSD têm
de ver. Da parte do Livre, faremos
uma oposição leal, mas vigorosa.
Na tomada de posse também falou
num diálogo. Exclui um voto a
favor?
Luís Montenegro fez quase uma
ameaça à oposição para dizer que
deve deixar o Governo trabalhar e
que não pode ser um bloqueio demo-
crático. Não é assim que se faz diálo-
go. O diálogo faz-se com disponibili-
dade para encontrar consensos. E
não foi isso que se viu. Estaremos
sempre disponíveis para discutir e
para apresentar propostas e soluções
que contribuam para a melhoria da
vida das pessoas e do país. E isso faz-
se no Parlamento, mas também no
OE. Mas não estou a ver como é que
o Livre conseguirá viabilizar o OE do
PSD se for equivalente ao programa
da Aliança Democrática. Mas não dei-
xaremos de apresentar propostas.
Assumindo que o programa de
Governo é semelhante ao
programa eleitoral da AD, qual o
voto do Livre?
O programa do PSD vai contra os
valores e as propostas do Livre.
Será sempre um voto contra.
Se o OE “chumbar”, a esquerda
está preparada para
reconquistar o eleitorado que
perdeu?
Fica claro nestes primeiros tempos
do Parlamento que é a esquerda
que tem muito mais maturidade e
capacidade de diálogo do que a
direita. O Livre estará preparado
para novas eleições.
Falou na preocupação de
garantir que não há retrocessos
nos direitos sociais. O Livre
tentará recuperar a
despenalização da morte
assistida?
Neste momento, o que falta é a
regulamentação e deve-se
caminhar para isso. Mas é um
diálogo que tem de ser feito com
todos os partidos, para perceber se
há sensibilidade para isso.
O PCP e o BE já expressaram a
sua preocupação em travar a
revisão constitucional com este
Parlamento. O Livre também
tem esta preocupação?
Uma revisão constitucional, feita
nos 50 anos do 25 de Abril, deveria
ser uma revisão não fechada nas
quatro paredes do Parlamento,
mas aberta à sociedade e discutida
de forma participada e
transparente. Não foi o que
aconteceu na legislatura passada,
que começou com uma revisão
constitucional sugerida pelo
Chega, a que depois os outros
partidos se juntaram. Mas nesta
conÆguração do Parlamento
parece-nos difícil que isso possa
acontecer.
Uma das iniciativas que já
entregaram no Parlamento foi a
introdução de um círculo
eleitoral de compensação
nacional, o que exige dois terços
do hemiciclo. Acredita que há
abertura para essa mudança
nesta legislatura?
Esse é um dos exemplos em que o
Livre pode dialogar com os
partidos à direita. O círculo de
compensação é uma proposta que
é bem acolhida por vários partidos
de esquerda e direita, mas não
pelos partidos maiores.
Entregou uma proposta para
que o excedente orçamental seja
usado para erradicar a pobreza.
O Livre também defende um
orçamento rectificativo?
O debate sobre o que fazer com o
excedente orçamental deve ser
feito. Houve uma série de
promessas feitas por Luís
Montenegro, durante a campanha.
Mas no discurso de tomada de
posse começou a dizer que esta
coisa dos cofres cheios não é bem
assim. Havendo excedente
orçamental, consideramos que
deve ser aplicado, nomeadamente
no reforço do abono de família.
O Livre irá insistir em trazer ao
Parlamento as decisões do
Governo?
O Governo não pode governar à
margem da Assembleia da
República. Se governar por
decretos-lei, a AR tem o dever de
chamar a si todos os decretos-leis
que levantem dúvidas ou que
signiÆquem retrocessos.
Que sinal deu o Governo com as
primeiras decisões?
É irónico que a primeira decisão do
Conselho de Ministros seja a
alteração do logótipo. Parece-nos
que as prioridades não estão bem
no sítio certo. Sobre o diálogo de
combate à corrupção, estamos
totalmente disponíveis para
apresentar propostas, sendo que
para o Livre a solução passa por
prevenir a corrupção a montante.
Agora que tem um grupo
parlamentar, é o momento de o
Livre mostrar que não é um
partido de um homem só?
Nunca foi um partido de um
homem só. Devemos muito ao Rui
Tavares, e este resultado é muito
fruto do trabalho dele, mas é um
partido de muitas pessoas. Agora
mais pessoas serão visíveis.
 Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024 • 9

Política

Mayan quer refundar a IL para depois

avançar com uma candidatura à liderança
Margarida Gomes
Crítico da direcção, o
ex-candidato presidencial
apresenta hoje em Lisboa
o manifesto “Unidos pelo
Liberalismo”
O fundador da Iniciativa Liberal Tiago
Mayan Gonçalves divulga hoje o Mani-
festo “Unidos pelo Liberalismo”, uma
declaração pública de princípios e
intenções que traça um novo rumo
para o partido. A apresentação do
manifesto, em Lisboa, é vista como
sendo o primeiro passo para o ex-can-
didato à Presidência da República
avançar com uma candidatura à
comissão executiva do partido. A con-
venção electiva está prevista para
Janeiro, altura em que termina o man-
dato que os liberais deram ao presi-
dente do partido, Rui Rocha.
O manifesto recebeu o contributo
de vários membros do partido que
defendem uma alternativa à actual
liderança. Muitos destes rostos vão
estar presentes na conferência de
imprensa ao lado de Mayan, que é o
único autarca que o partido tem. Elei-
to em 2021, na lista do independente
Rui Moreira, Mayan é presidente da
União de Freguesias de Aldoar, Foz
do Douro e Nevogilde, no Porto.
No documento, os críticos de Rui
Rocha identiÆcam-se como “um con-
junto vivo, aberto e alargado de mem-
bros da Iniciativa Liberal que se reu-
niram em torno do objectivo maior
de oferecer uma alternativa capaz de
restabelecer os valores liberais na
estrutura e cultura do partido que
foram a sua génese”. Por outro lado,
consideram que “a estratégia desen-
volvida pela actual direcção do parti-
do tem consecutivamente falhado em
atingir os objectivos declarados, seja
Tiago Mayan
nas eleições regionais nos Açores e na
Madeira e nas eleições legislativas,
seja no cumprimento de metas e
acções da sua própria moção de estra-
tégia global”.
Os mentores do “Juntos pelo Libe-
ralismo” aÆrmam que a “actual direc-
ção do partido se tem vindo continua-
mente a afastar dos valores liberais
(…), seja na forma de agregar valor,
seja na promoção de uma cultura de
abertura aos membros e à sociedade
civil, seja no foco da sua comunica-
ção, seja no relacionamento com as
demais estruturas internas nacionais
e locais”.
Com as eleições antecipadas na
Madeira (26 de Maio) e as eleições
para o Parlamento Europeu (9 de
Junho) no horizonte, os críticos adver-
tem para outros desaÆos que decor-
rem do novo ciclo político. Ao mesmo
tempo, alertam para a “instabilidade
governativa e para o risco da irrele-
vância das ideias liberais” e dizem
que as “autárquicas não podem ser
uma oportunidade perdida para a
implementação do partido”.
O Manifesto reclama “um partido
liberal, internamente e para o país;
um partido aberto aos membros e à
sociedade civil; um partido ambicio-
so, com uma visão clara e diferencia-
dora com o objectivo de reformar
Portugal”.
Tiago Mayan propõe-se “refundar
a estrutura do partido nos valores e
nos princípios liberais”. No âmbito
desta ideia, considera que é preciso
“restabelecer o equilíbrio entre
órgãos nacionais e a sua representa-
tividade; estabelecer um processo
claro e que envolva todos os órgãos
para a deÆnição de perÆs e para a
escolha de candidatos, respeitando o
princípio da subsidiariedade e a auto-
nomia dos órgãos locais”.
Há ainda uma outra ideia que se
destaca no documento, a que o
PÚBLICO teve acesso, que tem que
ver com a recuperação e o reforço
da autonomia dos núcleos territo-
riais da IL.

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Marcelo pede “estatuto

condigno” para
os militares
O Presidente da República, Marcelo
Rebelo de Sousa, pediu ontem um
estatuto condigno para os militares,
sem os quais “não há Forças Arma-
das fortes”, considerando não se
poder desbaratar o momento irre-
petível na História de Portugal.
“(…) Forças Armadas fortes são
navios, aviões e blindados, mas são,
sobretudo, quem os navega, os pilo-
ta e os conduz e que, ou têm estatu-
to condigno para serem militares e
se manterem militares, ou, uma vez
mais, se pode desbaratar um
momento irrepetível na nossa His-
tória, tal como se não deve desbara-
tar o momento irrepetível de cum-
prir aquilo que está por cumprir no
Estatuto do Antigo Combatente”,
aÆrmou Marcelo Rebelo de Sousa.
Na Batalha (Leiria), onde presidiu
às cerimónias comemorativas do
106.º aniversário da Batalha de La
Lys e do Dia do Combatente, o
Comandante Supremo das Forças
Armadas considerou que “é tão sim-
ples perceber isto aqui, junto ao
mosteiro da luta pela soberania
pátria, que importa não desperdiçar
mais tempo a descobrir o que deve-
ria representar, há muito, uma evi-
dência”.
“É esta a evidência que, uma vez
mais, o vosso comandante supremo
quer que atinja todos os portugue-
ses no ano em que se evoca meio
século de uma mudança decisiva na
vida de Portugal [Revolução de 25
de Abril de 1974], feita nessa hora
decisiva por quem?”, perguntou,
respondendo “por militares”.
“Tal como foram militares a lutar
com denodo, em La Lys, em toda a
Grande Guerra, tal como foram mili-
tares mais tarde no Ultramar, em
três territórios africanos diferentes,
a viver uma, duas, três, quatro, nal-
guns casos cinco comissões de ser-
viço sucessivas, chamados em nome
de Portugal”, continuou Marcelo,
frisando que “sem militares não há
Forças Armadas fortes, sem Forças
Armadas fortes não há Portugal
forte”.
Antes, ao referir-se à Batalha, o
Presidente da República declarou
que esta recorda os soldados portu-
gueses “presentes nas fronteiras da
Europa, a norte, a leste, a sul, a oes-
te, em África, no centro, a oeste, a
leste, no sul, presentes noutros con-
tinentes, presentes nos oceanos
todos eles, presentes, pois, em mar,
terra e ar”. Lusa
10 • Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024
Sociedade Portugal já tem mais de dez projectos de prescrição social
Em vez de fármacos,
médico receitou a Mário
passeios de trishaw.
“Já parece outra pessoa”
Portugal passa a ter rede nacional de prescrição social. Médico
importou do Reino Unido a ideia de receitar, em vez de apenas
medicamentos, aulas em universidades, jardinagem e passeios
Alexandra Campos Texto
Rui Gaudêncio Fotografia
Quando ao Æm de três quartos de
século Mário Silva foi obrigado a tro-
car a velha casa da mãe no bairro de
Alfama, em Lisboa, por um exíguo T1
no Castelo de S. Jorge, há cinco anos,
foi como se tivesse migrado para
outra cidade. Cego de um olho, asmá-
tico, com artroses — carrega no corpo
a carga de anos de trabalho como
estivador —, passava os dias encarce-
rado em casa. “Vivo sozinho, dentro
de quatro paredes, agarrado à televi-
são. Deito-me às sete da tarde, acordo
às quatro da manhã, Æco com tanto
tempo para pensar...” Sem amigos na
nova vizinhança, Mário recorria com
frequência aos hospitais: “Quase
todos os dias era: 112-S. José, 112-S.
José, idas à pneumologia no Santa
Marta.” Até que o seu médico na uni-
dade de saúde familiar (USF) da Bai-
xa, no Martim Moniz, centro de Lis-
boa, lhe lançou um desaÆo inespera-
do. E se fosse dar uns passeios de
trishaw pela cidade?
“Para mim, foi um achado!” A bor-
do do trishaw pilotado por voluntá-
rios da associação “Pedalar sem
Idade”, Mário passou a ter, aos 81
anos, um motivo para sair de casa.
Agora, já não dispensa estas incur-
sões semanais gratuitas por Lisboa.
“Vamos até ao Poço do Bispo, à Mati-
nha, aos pastéis de Belém. Como
conheço Lisboa, eu é que sou o cice-
rone. E, olhe, tenho ido menos aos
hospitais e até engordei.”
O antigo estivador é uma das cen-
tenas de pessoas que já usufruíram
de um projecto inovador, a prescri-
ção social, uma abordagem “fora da
caixa” que o jovem médico de família
Cristiano Figueiredo transplantou do
Reino Unido para a USF da Baixa, em
2018, e estruturou em conjunto com
a assistente social Andreia Coelho.
A ideia é revolucionária: em vez de
receitarem só fármacos, exames ou
tratamentos clínicos, os médicos
prescrevem actividades que ajudem
a melhorar o bem-estar e a qualidade
de vida dos utentes, aproveitando os
recursos disponíveis na comunida-
de. “Apenas 20% dos resultados em
saúde dependem da actuação do
sistema de saúde, os outros 80%
dependem dos determinantes
sociais. É necessário perceber qual
é a raiz dos problemas das pessoas,
olhar para todo o seu contexto para
actuar naquilo que o sistema de saú-
de não consegue resolver. No fundo,
é dar resposta às necessidades
sociais, emocionais e práticas que
surgem a toda a hora nas consultas”,
resume Cristiano.
Problemas como o isolamento
social, a falta de propósito que
alguns idosos sentem após a refor-
ma, e para os quais não existem
soluções nos prontuários terapêu-
ticos. Como a receita encontrada
para Mário, que, enfatiza o médico,
“já parece outra pessoa”.
Idas ao cinema e ao teatro
No computador do consultório, na
plataforma informática criada para
ajudar os médicos a referenciar para
o assistente social os potenciais
beneÆciários da prescrição social,
de um lado perÆlam-se os motivos
diagnosticados — além do isolamen-
to social, desemprego, endivida-
mento, sedentarismo — e, do outro,
as respostas que existem, em asso-
ciações como a “Pedalar sem Ida-
de”, workshops de alimentação
saudável, voluntariado em centros
de dia. Longa, esta lista que tem
evoluído ao longo dos anos obrigou
a um trabalho preliminar de articu-
lação e de ligação entre sectores
habituados a coexistir de costas vol-
tadas — o da saúde, o social e o
comunitário.
Seis anos depois, a prescrição
social — que chegou entretanto a
mais cinco USF na capital — “conti-
nua a ser um projecto-piloto e ainda
depende muito da carolice dos pro-
Æssionais, apesar dos vários prémios
que entretanto arrecadou e do reco-
nhecimento público, assume Cris-
tiano. Mas tem vindo a inspirar
réplicas e experiências diversas em
vários pontos do país.
Ao mesmo tempo, têm surgido
outros projectos inovadores, como
o da prescrição cultural no Alentejo.
Se em Lisboa as receitas vão varian-
do entre estes passeios grátis de
trishaw, aulas de história, línguas ou
crochet em universidades seniores
e hidroginástica em piscinas muni-
cipais, em oito concelhos do Alen-
tejo, o que alguns médicos de famí-
lia têm à sua disposição para pres-
crever é cultura, como idas ao
cinema ou ao teatro, aulas de dança
ou de instrumentos musicais.
Noutro projecto, no Algarve, para
idosos em situações de maior vulne-
rabilidade residentes em Faro,
Olhão e Loulé (os concelhos mais
envelhecidos da região), há sessões
de estimulação cognitiva ou ioga. E,
em Vila Pouca de Aguiar, a câmara
prepara--se para arrancar com um
projecto de prescrição social que,
além dos proÆssionais dos centros
de saúde e da autarquia, contará
com duas farmácias, para tentar
chegar a idosos em zonas rurais
mais recônditas.
Esta terça-feira, a Escola Nacional
de Saúde Pública (ENSP) da Univer-
sidade Nova de Lisboa — que desde
o início acompanha e está a avaliar
o impacto da experiência da USF da
Baixa — lança formalmente, na Fun-
dação Calouste Gulbenkian, a rede Por causa da prescrição de fazer medicina. Dois anos mais
Prescrição Social Portugal, onde social importada pelo médico tarde, já a trabalhar na USF da Bai-
estes e outros projectos vão ser Cristiano Figueiredo xa, percebeu que tinha ali as condi-
apresentados. “A ideia é constituir (foto mais pequena), ções ideais para avançar — “uma
uma rede que junte proÆssionais de o octogenário Mário Santos equipa jovem e motivada” para tra-
saúde, decisores políticos e acadé- recuperou a sua ligação tar de uma comunidade diversiÆca-
micos, para conseguirmos escalar a com a cidade da, constituída por idosos que esca-
iniciativa e alavancar projectos que param aos despejos dos bairros
foram surgindo, alguns de forma Na página ao lado, históricos, Æcaram sozinhos e com
incipiente e pontual, seguindo o Shipra Das tratou a depressão problemas de mobilidade, e migran-
movimento que tem feito caminho com ajuda da jardinagem tes de muitas nacionalidades, oriun-
a nível internacional”, explica Sónia dos sobretudo do Sul da Ásia, com
Dias, directora da ENSP. diÆculdades Ænanceiras, de habita-
ção, de integração. Problemas que
Jardinagem para a depressão afectam a saúde mental mas não se
Foi durante um curto estágio em resolvem com medicamentos.
Londres, em 2015, que Cristiano se Para Shipra Das, que veio do Ban-
apaixonou por esta forma singular gladesh para Portugal há sete anos,

e que, após um aborto espontâneo
aos cinco meses de gravidez, estava
a afundar-se numa depressão, a
receita foi fazer jardinagem no Jar-
dim Botânico. “Retira infestantes
dos canteiros, limpa folhagens, aju-
da o jardineiro a fazer envasamentos
na estufa”, descreve Raquel Barata,
coordenadora do núcleo educativo
do Jardim Botânico da Universidade
de Lisboa, parceiro recente do pro-
jecto de prescrição social.
“Sinto-me melhor”, aÆança Shipra,
que, depois de ter começado este
voluntariado em Janeiro, já largou os
antidepressivos e assume, num misto
de inglês e português, que a sua ambi-
ção, agora, é arranjar um emprego,
quem sabe como jardineira.
Mas construir esta abordagem
que até parece simples implicou um
trabalho prévio complexo no terre-
no. Para perceber quais eram as
respostas disponíveis na comunida-
de, foi necessário organizar reu-
niões e mobilizar proÆssionais de
saúde, da câmara municipal, de jun-
tas de freguesia, de dezenas de asso-
ciações, instituições locais, organi-
zações não--governamentais.
Também foi necessário ultrapas-
sar as resistências iniciais — “as pes-
soas estavam habituadas a sair dos
consultórios com medicamentos” e
a recorrer ao assistente social “só
para tratar de documentos, de sub-
sídios, de pensões”, lembra Andreia
Coelho. “Tudo isto leva o seu tempo
a construir. A prescrição social é
uma ideia fora da caixa, é inovado-
ra, implica mudanças e uma dinâ-
mica diferente.”
Foi preciso também mapear as
respostas disponíveis e introduzi-las
na tal plataforma informática que
os médicos se habituaram a usar nas
consultas, sempre que percebem
que aquelas dores, aquela insónia
ou aquela ansiedade de que os uten-
tes se queixam não são provocadas
por qualquer doença. Podem assim
referenciá-los para os assistentes
sociais — que deÆnem em conjunto
com os utentes os planos de inter-
venção e Æcam encarregados de os
seguir em todo o percurso.
Andreia colecciona um rol de
casos de sucesso, mas há um de que
se orgulha em particular. O de uma
guineense que veio para Portugal ao
abrigo de um acordo bilateral para
tratamento clínico, Æcou por cá,
mas “como era analfabeta não con-
seguiu mais do que trabalhar duas
ou três horas por dia a fazer limpe-
zas”. A solução, recorda, foi contac-
tar um mentor para migrantes no
Alto Comissariado para as Migra-
ções, que encontrou um professor
que a ajudou a inscrever-se numa
escola à noite e a mudar de vida.
No Reino Unido, o país que foi
pioneiro e onde a prescrição social
começou com projectos-piloto em
1998 e acabou por ser integrada no
serviço nacional de saúde, em 2019,
existe já a Ægura do “link worker”, o
proÆssional que faz a ponte entre os
cuidados de saúde e as respostas na
A prescrição comunidade. Nas USF de Lisboa, os
social é uma enfermeiros de família e os psicólo-
gos também podem referenciar,
ideia fora da explica Cristiano, mas o elo de liga-
caixa, é inovadora, ção é o assistente social, que desem-
penha um papel central.
implica mudanças Além das mais-valias óbvias para
e uma dinâmica o bem-estar e a qualidade de vida
das pessoas, a prescrição social
diferente “também pode aliviar a pressão,
funcionar como uma válvula de
escape para o sobrecarregado siste-
ma de saúde”, destaca. Mário Silva
é prova disso mesmo. “Eu vinha
aqui [ao centro de saúde] quase
todos os dias. Agora, vou ao médico
de ano a ano.”
Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024 • 11
Sónia Dias, Escola Nacional de Saúde Pública
“Foram beneficiadas mais
de 800 pessoas e
referenciadas mais de 1500”
Entrevista
Alexandra Campos
Em parceria com a Escola Nacional
de Saúde Pública (ENSP) da
Universidade Nova de Lisboa, há
actualmente mais de dez projectos
de prescrição social em curso nas
regiões de Lisboa e Vale do Tejo, no
Alentejo, no Algarve e no Norte,
adianta a directora, Sónia Dias.
Como é que a Escola Nacional de
Saúde Pública entrou nesta
aventura da prescrição social?
A escola está, desde o início, a
seguir este projecto que Cristiano
Figueiredo trouxe para Portugal.
Conheci-o num concurso do tipo
shark tank [lago dos tubarões] e
comprei logo a ideia. Há um
conjunto muito abrangente de
actividades e de respostas que
enquadramos no contexto da
prescrição social. O termo pode ir
variando, o social não é a ideia do
social mais assistencialista, tem
muito a ver com as respostas na
comunidade, que podem ser
sociais ou de promoção de estilos
de vida mais saudáveis, com
actividade física, caminhadas,
aulas de dança, de hidroginástica,
ou ainda actividades culturais, por
exemplo a integração em grupos
de teatro, de música ou de pintura.
A escola tem acompanhado a
maioria dos projectos e começamos
a ter diferentes modalidades de
prescrição. Hoje, temos um
conjunto variado de experiências
com diversos modelos de aplicação
em que a coordenação é feita pelos
municípios ou comunidades
intermunicipais, ou então por
organizações do terceiro sector.
Em parceria com a ENSP,
actualmente existem mais de dez
projectos em curso nas regiões de
Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo,
Algarve e Norte. Estão em
diferentes fases de
implementação. Já foram
beneÆciadas mais de 800
pessoas e referenciadas
mais de 1500.
Porque lançaram a
rede?
Queremos partilhar
experiências e
permitir que a
estratégia de
prescrição social
se robusteça e,
quem sabe,
consiga seguir o
caminho que está a ser seguido
noutros países — que possa ser
considerada uma política pública e
permita uma integração entre o
sector social e o da saúde.
Organizada desde 2023, a rede
integra investigadores, proÆssionais
multidisciplinares, utilizadores de
serviços, gestores e decisores
políticos. E conta com o apoio
institucional da Direcção Executiva
do SNS, do Instituto da Segurança
Social e da Direcção-Geral da
Saúde.
A ENSP tem vindo a dar
formação aos proÆssionais que
no Reino Unido se chamam “link
workers”. Quem são estes
proÆssionais em Portugal?
Dentro dos cuidados de saúde, este
trabalho tem vindo a ser feito pelos
assistentes sociais. Mas temos
estado a trabalhar com um
conjunto alargado de proÆssionais
dos municípios, não só assistentes
sociais, mas também psicólogos,
farmacêuticos, animadores sociais,
todos os que conhecem as respostas
disponíveis na comunidade.
É possível perceber que tipo de
mais-valias traz a prescrição
social?
No Reino Unido, onde começou há
cerca de 20 anos, já existe evidência
de mais-valias, desde logo um
aumento do bem-estar e da
qualidade de vida e a melhoria do
estado de saúde, com um impacto
muito signiÆcativo na área da saúde
mental. Em Portugal, os dados
ainda preliminares indicam que
parece ter benefícios a três níveis. A
nível individual, começamos a ter
indicadores de redução do
isolamento social, da ansiedade e
de alguns sintomas depressivos.
Algumas pessoas reportaram
também sentir menos dor e um
maior sentido de pertença à
comunidade, graças ao contacto
social. Começamos também a ter
indicadores que apontam para
uma utilização mais adequada
dos cuidados de saúde e para
a redução de consumo de
alguns medicamentos. Por
outro lado, há um impacto
ao nível das instituições e
do funcionamento em
rede. A prescrição
social permite uma
maior integração das
respostas nos
diferentes sectores
que podem
contribuir para a
saúde.
12 • Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024
Sociedade
IL recomenda que Governo regresse às provas
em papel. Directores das escolas concordam
Maria Lopes
Liberais querem decisão
urgente, já que as provas de
aferição arrancam em Maio.
Hoje, ministro reúne-se com
os directores das escolas
A Iniciativa Liberal vai recomendar
ao Governo que suspenda o plano do
executivo socialista que prevê a gene-
ralização das provas de aferição e
exames nacionais em formato digital
a todos os graus do ensino obrigatório
até 2025, e que regresse, já neste ano
lectivo, às provas em papel. A par dis-
so, os liberais pretendem que, para
os próximos anos lectivos, seja feito
um levantamento sobre as condições
necessárias para a realização das pro-
vas digitais e um novo calendário de
decisão e de implementação.
De acordo com um projecto de
resolução a que o PÚBLICO teve aces-
so e que é entregue hoje (no mesmo
dia em que o novo ministro, Fernan-
do Alexandre, se reúne com os direc-
tores das escolas), esta decisão deve
ser tomada “com carácter de urgên-
cia”, tendo em conta que as provas de
aferição vão começar já em Maio.
Não é a primeira vez que a bancada
liberal tenta suspender as provas em
modo digital e propor o regresso ao
papel, mas viu a pretensão chumbada
por duas vezes. Como o PSD tem
votado ao seu lado nesta questão, a
IL volta agora a insistir na proposta.
Bastonários dos médicos e dos psicólogos divididos
quanto à reestruturação da DE-SNS
Daniela Carmo
Num gesto inédito, as nove ordens
proÆssionais da Saúde dirigiram
ontem, Dia Mundial da Saúde, uma
missiva ao primeiro-ministro, Luís
Montenegro, na qual elencam acções
prioritárias para melhorar o contexto
actual na vertente da saúde humana,
animal e ambiental. Ao PÚBLICO, o
bastonário da Ordem dos Médicos,
Carlos Cortes, foi mais longe e defen-
deu a reestruturação da Direcção
Executiva do Serviço Nacional de Saú-
de (DE-SNS), indo aparentemente ao
encontro da proposta que consta do
programa eleitoral da AD. Porém,
apesar de assinarem o mesmo “cader-
no de encargos”, há visões diferentes
entre os bastonários quanto ao futuro
“Dada a importância de alguns des-
tes exames, como os do 9.º ano, que
este ano devem ser feitos digitalmen-
te e em que a nota será preponderan-
te para a avaliação, é fundamental
garantir a igualdade de oportunidade
a todos os alunos”, argumenta a
deputada liberal Patrícia Gilvaz.
Para além do stress natural de uma
prova, somam-se aqui outros facto-
res: muitos alunos, sobretudo os mais
novos, não estão tão familiarizados
com os computadores; há computa-
dores avariados e sem manutenção
nas escolas, algumas das quais nem
os têm em número suÆciente para
todos os alunos; há falhas na rede de
Internet ou falta-lhe capacidade para
suportar os acessos em simultâneo
nos exames, enumera a deputada
liberal. “E os professores de Informá-
tica já anunciaram que farão uma
greve neste período de exames”,
acrescenta.
Perante tantas diÆculdades, os libe-
rais querem que as provas de aferição
dos 2.º, 5.º e 8.º anos e os exames do
9.º deste ano lectivo sejam feitos em
papel. “E, se este Governo entender
que se deve continuar este processo
de desmaterialização dos exames,
deve ser apresentado um planeamen-
to com as condições necessárias para
as provas e um calendário de imple-
mentação adequado que devolva a
segurança e estabilidade a toda a
comunidade educativa”, defende
Patrícia Gilvaz.
A IL critica o facto de o anterior
da DE-SNS, agora nas mãos da nova
ministra da Saúde, Ana Paula Martins.
O bastonário da Ordem dos Psicólo-
gos, por exemplo, entende que não
devem ser dados passos atrás, para
não se ter “de fazer tudo de novo”.
Começando por instar o primeiro-
-ministro a reforçar as “políticas que
permitam prevenir a degradação dos
serviços públicos de Saúde”, as nove
ordens proÆssionais alertam para a
importância de avançar com a “inte-
gração e continuidade de cuidados
que caracterizam a nova organização
do SNS”.
Questionado pelo PÚBLICO sobre
este pedido, Carlos Cortes justiÆca-o
com “a importância da ligação dos
cuidados de saúde primários, secun-
dários, hospitalares, continuados e
As provas de aferição começam já no dia 2 de Maio
ministro João Costa ter começado
“este processo pelo tecto” impondo
um calendário em que até 2025 todas
as provas e exames teriam de ser digi-
tais, mas sem cuidar de precaver as
condições mínimas. “Os professores,
directores de escola, pais e sindicatos
já vieram apelar a que este processo
seja revisto.” Em Janeiro, numa audi-
ção parlamentar a pedido da IL e do
PSD para debater os resultados do
PISA, o então ministro João Costa
anunciou que, apesar de os exames
nacionais do secundário continuarem
a ser em papel, haverá, este ano, um
conjunto de escolas e de alunos que
participará num projecto-piloto, rea-
lizando as provas em formato digital.
até na parte social”. “Para tal, há
vários modelos. Não estamos nem a
criticar o modelo das Unidades Locais
de Saúde (ULS) nem a elogiar. O que
é importante é a integração de cuida-
dos. E essa integração ter de ser ainda
mais aprofundada”, sustenta.
Sobre o futuro da DE-SNS, Cortes
reconhece a necessidade de rever as
suas funções, no sentido de que esta
estrutura se possa “adaptar melhor
às necessidades e à forma de intervir
Fernando Araújo
lidera a Direcção
Executiva do
SNS, que ameaça
congregar forte
contestação no
novo Governo
RUI GAUDÊNCIO
A ideia era que tivessem algum tempo
para se familiarizarem com a plata-
forma e para se monitorizar variáveis
como o tempo necessário para a reso-
lução de diferentes tarefas em função
do formato digital ou papel.
Para a reunião de hoje com o minis-
tro da Educação, Ciência e Inovação,
Fernando Alexandre, nas instalações
do ministério, em Lisboa, os dirigen-
tes escolares levam também o pedido
para que as provas Ænais do 9.º ano
sejam feitas em papel e não em for-
mato digital.
“O que nos está a preocupar de
imediato, com urgência, é que o
senhor ministro valide ou não a rea-
lização das provas de aferição e das
dentro do Ministério da Saúde”.
“Tínhamos uma espécie de dupla
liderança, em que as competências
de uma Direcção Executiva iam mui-
to além do que deveriam e havia dois
ministros da Saúde”, sustenta, para
completar: “Isso tem de ser revisto,
na perspectiva de que a DE deve fun-
damentalmente tratar da coordena-
ção nacional das unidades de saúde,
muito mais do que fazer reformas e
mudanças orgânicas.”
No programa eleitoral da AD Ægura
a proposta de reformulação da DE-
-SNS, alterando “a sua estrutura orgâ-
nica” e as suas competências funcio-
nais”. E também a revisão do novo
modelo do SNS — que avançou no
início deste ano com a generalização
das ULS —, propondo a AD, em alter-
provas Ænais de 9.º ano em formato
digital. Esse é um assunto premente.
Penso que ainda esta semana devia
ser tomada uma decisão”, defendeu
ao PÚBLICO o presidente da Associa-
ção Nacional de Directores de Agru-
pamentos e Escolas Públicas
(ANDAEP), Filinto Lima.
Os directores estão preocupados
com possíveis casos de “iniquidade”
subsequentes do número de compu-
tadores avariados nas escolas que
possam prejudicar o aproveitamento
dos alunos. “Na escola não há aquela
Ægura que tanto reclamamos que é o
técnico de Informática e, por isso,
não há quem arranje os computado-
res. Há alunos que podem sair preju-
dicados”, sublinha Filinto Lima.
Também os dirigentes da Associa-
ção Nacional de Dirigentes Escolares
(ANDE), Manuel Pereira, e do Conse-
lho das Escolas, António Castel-Bran-
co, vão estar na mesma reunião.
As provas de aferição começam no
próximo dia 2 de Maio, enquanto as
de Ænal de ciclo se iniciam em Junho.
Além do pedido para a realização de
provas em papel, Filinto Lima adian-
ta que, na pasta, os directores levam
também o alerta para a escassez de
professores, “algo que se pode trans-
formar numa pandemia no nosso
país”. “E temos também de analisar
aquilo que nos parece que vai ser
cumprido: a atribuição da recupera-
ção dos seis anos, seis meses e 23
dias” de tempo de serviço que os pro-
fessores viram congelado.
nativa, “sistemas locais de saúde Çe-
xíveis com participação de entidades
públicas, privadas e sociais”.
Para Francisco Rodrigues, bastoná-
rio da Ordem dos Psicólogos, “é
necessário não voltar para trás relati-
vamente às transformações imple-
mentadas e a uma DE-SNS que até
agora não teve oportunidade sequer
de ter os recursos necessários para
exercer a sua acção”.
“A DE-SNS tem tido um sentido de
missão exemplar que é preciso não
deixar cair no esquecimento”, alerta,
para, reconhecendo que “são neces-
sárias clariÆcações”, concluir que as
mesmas não podem traduzir-se num
recuo relativamente ao que já foi fei-
to.” Aí estaríamos a bloquear o siste-
ma e seria um erro tremendo.”

Portugal vai ter segunda unidade móvel
de consumo assistido de drogas
Amílcar Correia
Quinze organizações
querem consumo vigiado
em mais cidades, devido ao
“crescente consumo de
drogas a céu aberto”
O Porto vai dispor, em breve, de uma
unidade móvel de consumo assistido
de drogas, a segunda do país, uma
vez que um equipamento semelhan-
te já opera em Lisboa. O concurso
público para a aquisição da viatura
necessária a este serviço terminou na
sexta-feira, conÆrmou ao PÚBLICO
Catarina Araújo, vereadora da Câma-
ra do Porto, com os pelouros da Saú-
de e da Qualidade de Vida.
O objectivo é que esta unidade pos-
sa prestar o serviço de consumo assis-
tido em vários pontos da cidade, em
articulação com a sala amovível já
existente na zona ocidental da cida-
de, na Pasteleira, que atingiu o seu
pico de actividade no terceiro trimes-
tre de 2023. Catarina Araújo não se
compromete com uma data para a
entrada em funcionamento deste
equipamento, embora acredite que
isso possa acontecer em breve, “no
espaço de um a dois meses”.
A apreciação positiva do funciona-
mento da sala existente, gerida no
âmbito de um consórcio, convenceu
a autarquia a dar este passo. A verea-
dora aÆrma que o Instituto para os
Comportamentos Adictivos e as
Dependências (ICAD) e a Adminis-
tração Regional de Saúde do Norte
reconheceram a “utilidade e a eÆcá-
cia da resposta” e destaca o facto de
este serviço dispor de consultas des-
centralizadas no local, com médicos
dos hospitais de Santo António e de
São João.
Todavia, ao contrário do que acon-
tece na actual sala, o serviço móvel
será exclusivo para utilizadores de
drogas injectadas, Æcando de fora as
drogas fumadas, porque, “no seu
interior, não é possível cumprir requi-
sitos de segurança pública, quer jun-
to daqueles que estivessem lá a con-
sumir, quer junto das pessoas que
estão lá a trabalhar”. A mistura fuma-
da de heroína e crack é a principal
forma de utilização na sala existente:
52% da totalidade de consumos.
Como refere Catarina Araújo, a
actual sala de consumo do Porto é
frequentada por 62% de utilizadores
que residem em outros concelhos da
Área Metropolitana do Porto ou mes-
mo de outras regiões do país, citando
os dados do relatório Ænal do período
experimental daquele equipamento,
relativo a Setembro passado.
“O município do Porto tem feito,
na minha opinião, tudo o que está ao
seu alcance. Mas não pode ser só o
município a fazê-lo. Se esta resposta
só existe na cidade do Porto, é natural
que as pessoas se deslocam até aqui”,
diz. “Existem outros municípios à
volta, que também têm, ou que
tinham, a criação de respostas destas
nos seus programas, mas elas não
saíram do papel”, observa. O municí-
pio disponibilizou-se, em Agosto do
ano anterior, a criar uma segunda sala
amovível, na zona oriental da cidade,
na antiga Escola Preparatória do Cer-
co (um espaço transformado em local
de consumo e entretanto selado),
caso outras autarquias também esti-
vessem dispostas a fazer o mesmo.
A vereadora considera que Æca a
faltar uma resposta mais integrada
O serviço móvel será exclusivo
para utilizadores de drogas
injectadas, ficando de fora as
drogas fumadas
para esta população, para além da
política de redução de riscos, para a
“promoção da qualidade de vida e
acompanhamento da vida familiar
das pessoas, das situações de carência
económica e de integração social”.
“A meu ver” — prossegue —, “estas
questões Æcaram um bocadinho
esquecidas por ausência de resposta
de parte da Segurança Social”. Cata-
rina Araújo justiÆca essa necessidade
com o facto de, por exemplo, “76%
daquela população se encontrar em
situação de sem abrigo” ou “77% estar
em situação de desemprego”.
José Queiroz, director executivo da
Agência Piaget para o Desenvolvimen-
to (Apdes), líder do consórcio Um
Porto Seguro, concorda com a neces-
sidade de uma melhor articulação e
acesso ao serviço de protecção social,
Uma experiência com quase quatro décadas
A
primeira sala de consumo
assistido foi criada, em 1986,
em Berna, na Suíça. Embora
em Portugal os poucos
equipamentos que existem
sejam procurados, sobretudo,
por consumidores de heroína e
crack por via fumada ou
injectada, no centro da Europa
assiste-se a uma maior variedade
de substâncias consumidas, um
maior número de mulheres,
migrantes e à adopção de
Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024 • 13
Números
24.176
utentes estavam, em 2022, a
ser tratados por problemas
ligados ao consumo de droga
69
mortos por overdose em
Portugal em 2022, com uma
média de idades de 43 anos
DANIEL ROCHA
métodos de verificação da
qualidade das substâncias,
relevantes para detectar
alterações de consumo, como
aconteceu em alguns países com
o fentanil. O último relatório do
Observatório Europeu da Droga
revela que existem cerca de 100
salas na Europa, visando prevenir
as mortes por overdose, reduzir a
transmissão de doenças e
minimizar o incómodo do
consumo ilegal ao ar livre.
Sociedade
que tenha em conta preocupações
com a formação, educação, habitação
ou emprego. O director executivo
desta agência acrescenta que a cria-
ção de um novo equipamento no
Bairro do Cerco “permitiria fazer uma
pequena rede, em articulação com a
existente, de redução de riscos na
cidade”, e defende que estes equipa-
mentos deveriam incluir serviços de
testagem de drogas. Uma proposta
que Catarina Araújo não rejeita.
Outras cidades
“Estas estruturas [salas de consumo
assistido] não podem apenas existir
em Lisboa e Porto.” Este é o mote do
apelo de 15 organizações que defen-
dem o alargamento dos programas
de consumo vigiado de drogas a mais
cidades do país, para responder ao
“crescente consumo de drogas a céu
aberto e garantir o direito à saúde e à
dignidade destas populações”.
Aquelas organizações propõem a
criação de um grupo de trabalho,
composto pelo ICAD, autarquias,
entidades da sociedade civil e utiliza-
dores de drogas, para estudar melho-
res soluções de Ænanciamento para
as salas de consumo assistido de dro-
gas e de alargar a oferta destes servi-
ços a outras cidades até 2026.
A proposta de alargamento, feita
sobre a forma de uma carta aberta,
inclui os municípios de Almada, Ama-
dora, Braga, Coimbra, Espinho, Faro,
Gondomar, Lisboa, Maia, Matosinhos,
Porto, Setúbal, Viana do Castelo e Vila
Nova de Gaia. Na mesma carta, as
associações, que trabalham nesta
área de redução de riscos, justiÆcam
o desaÆo “por uma questão de justiça
e equidade territorial. A intenção sur-
ge de um aparente crescimento de
consumo a céu aberto, mas não só:
“A este fenómeno não são alheios o
envelhecimento da população que
usa drogas, a crise de habitação, os
problemas de saúde mental e as desi-
gualdades sociais que se traduzem na
pobreza e exclusão.”
Entre as organizações signatárias
Æguram a Apdes, que lidera o consór-
cio que gere a sala do Porto, e a Ares
do Pinhal, responsável por um servi-
ço idêntico em Lisboa. Foram neces-
sários 19 anos para que a primeira sala
deste género fosse criada em Portu-
gal, em Lisboa, uma vez que as insta-
lações destas respostas de redução de
riscos provocam, regra geral, pouca
adesão na vizinhança e pouco empe-
nho nos autarcas. A lei determina que
sejam as autarquias a tomar a inicia-
tiva de instalar estes equipamentos,
uma medida que resultou da legisla-
ção que descriminalizou o consumo
de droga em 2001.
14 • Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024
Sociedade
Encontro de activistas saiu da urbe e quer
alertar contra a “falsa transição energética”
Aline Flor
O 9.º Encontro de Justiça
Climática saiu de Lisboa
para Boticas para
questionar as premissas da
transição energética
Os activistas pela justiça climática já
estão fartos de ouvir falar da “transi-
ção justa”, que, dizem, nem é tran-
sição nem é socialmente justa, além
de que não está a ser uma transição
“verde”, acusam ainda. É uma das
principais mensagens que Æcam do
9.º Encontro Nacional pela Justiça
Climática (ENJC), que entre 5 e 7 de
Abril juntou 140 pessoas de todo o
país em Boticas, distrito de Vila Real,
para falar sobre os caminhos a seguir
na luta climática.
O tom deste encontro de activistas
ambientais e climáticos — ou “ecoló-
gicos”, como alguns preferem — foi
dado logo pelo facto de ser a segunda
vez que sai de Lisboa (no ano passado
teve lugar em Coimbra) e a primeira
fora de uma grande cidade. “Vivemos
numa região isolada com um proble-
ma grande à nossa porta, para nós
este encontro é muito importante”,
nota Aida Fernandes, da associação
Unidos em Defesa de Covas do Barro-
so. A região do Barroso, reconhecida
como património agrícola mundial,
será muito afectada pelos planos de
extracção de lítio, mineral com gran-
de importância para as baterias de
produtos como carros eléctricos.
“Para nós, a transição verde tem um
sabor muito amargo”, lamenta Aida,
uma agricultora convertida em acti-
vista, recordando um dos mantras da
comunidade nos últimos anos: “Não
à mina, sim à vida.”
Juntar mais de cem activistas numa
cidade do interior tornou-se possível
com o apoio da autarquia. O vereador
Guilherme Pires, vice-presidente da
Câmara Municipal de Boticas, explica
que não houve dúvidas: “Foi só pedi-
rem e nós demos.” A câmara tem sido
uma das aliadas da população na luta
contra a instalação de uma mina a céu
aberto, explorada pela empresa bri-
tânica Savannah Resources. Num
município onde a natureza sempre
foi central para a prosperidade eco-
nómica e para a coesão social, as
autarquias alinham com os activistas
no entendimento de que, se não resis-
tirem, serão os perdedores da tão
apregoada transição energética.
O encontro contou com painéis
sobre temas desde a mobilidade e
reforço da ferrovia até à mineração
em mar profundo, passando pelas
assembleias cidadãs ou a reÇexão
interna dos colectivos que têm causa-
do “disrupção” em locais públicos.
Leonor Canadas, do Climáximo,
partilhou “o que signiÆca viver em
estado de emergência climática”,
uma inquietação que a impele a “agir
em conformidade” para quebrar a
normalidade. Com cada vez mais rela-
tórios a indicar pontos de não-retorno
planetários, é para Leonor cada vez
mais claro que os planos insuÆcientes
dos países, na prática, “condenam à
morte centenas de milhares de pes-
soas”. “A ciência tem implicações
políticas”, alerta a activista. “Sur-
preende-me que não esteja a haver
revoltas o tempo todo.”
Uma lei por cumprir?
A associação Último Recurso veio
falar sobre litigância climática, num
momento em que está a estudar a
possibilidade de um processo desta
natureza contra as explorações de
lítio. O argumento: a destruição de
património natural, por mais que
contribua para a transição energética,
é contraditória com os objectivos de
conservação do planeta.
A plateia no Auditório Nadir Afonso
vai reagindo à medida que ouve falar
das responsabilidades do Estado por-
tuguês, tais como uma “exploração
responsável dos recursos”, o facto de
que “a população tem de fazer parte
deste processo” ou a “melhoria das
condições de vida das populações”.
Na plateia, algumas das reacções mais
exasperadas foram de Cheila Fernan-
des, que pediu mesmo a palavra no
Ænal da apresentação para comentar:
“Qual foi a consulta pública que parou
qualquer megaprojecto?”
Cheila é uma das várias “Ælhas
PAULO PIMENTA
Os protestos de Covas
do Barroso contra as minas
congregaram centenas de
pessoas em Boticas
A agenda climática
O
Encontro Nacional
pela Justiça Climática
é a altura também
de partilhar a agenda
de lutas.
Entre 22 e 24 de Abril,
por exemplo, o Climáxim
o está a preparar as
“Assembleias de Abril”, junto
ao Campus da Justiça, em
Lisboa, enquanto 11 pessoas
são julgadas pelo bloqueio do
túnel do Marquês.
A 11 e 12 de Maio, decorrem
as Jornadas pela Democracia
Energética, em Lisboa. Na
agenda deste ano também
não poderia deixar de estar
o acampamento em Covas
do Barroso, em Agosto, onde
há alguns anos activistas têm
convergido para conhecer
os desafios das com
unidades locais e apoiar
as acções públicas.
adoptivas” que o território ganhou
nos últimos anos. Chegou ao Barroso
quando percebeu que a serra do
Gerês — a sua “catedral” — estava cer-
cada por vários grandes projectos de
mineração previstos para os próxi-
mos anos. Depois de participar num
acampamento em Covas, Æcou pela
região. “O Parque Nacional está amea-
çado e vai sofrer impactos se estas
minas avançarem”, alerta.
O encontro trouxe a sua quota de
conversas espinhosas, num movi-
mento que congrega lutas e causas
complexas em que, apesar dos cami-
nhos diferentes, o ponto de chegada
é muitas vezes comum. Mas haverá o
risco de que esta complexidade se
transforme em contradição?
Os debates trouxeram a tónica para
a necessidade de reforçar, dentro da
questão climática, as preocupações
ecológicas. Não é possível, por exem-
plo, falar apenas em electricidade
100% renovável sem ser claro sobre
quais os limites ambientais dessa
transição. Para Cheila Rodrigues,
“esta reivindicação é perigosa para
estas populações”, já que pode legiti-
mar a exploração de minerais sem ter
em conta a destruição como a que
acontecerá no Barroso.
É preciso questionar os consumos
e também a crença de que é possível
crescer inÆnitamente e continuar a
ser “verde”. “Onde é que nós vamos
parar? Cada vez mais a destruir...
Sabemos que o planeta não vai aguen-
tar”, lamenta Nelson Gomes, de
Covas do Barroso. E a luta da popula-
ção promete não parar. Cheila Rodri-
gues recorda com um sorriso as for-
mações em desobediência civil que,
em 2022, a levaram de aldeia em
aldeia, culminando numa acção em
que “encheram a entrada da Savan-
nah” com sacos de terra retirada do
lugar onde estarão as minas.
Ana Matias, da associação Sciaena,
vê com entusiasmo a maior represen-
tatividade e diversidade de perspec-
tivas deste encontro. Uma das orga-
nizadoras deste ano nota que o movi-
mento Ænalmente conseguiu que os
debates deixassem de estar tão foca-
dos nos grandes centros urbanos:
“Quebrámos a barreira da urbe. Foi
o ano em que o mundo rural e o inte-
rior estiveram no centro da discus-
são.” Mariana Riquito, outra das
“Ælhas adoptivas” do Barroso, rema-
tou o encontro recordando que “é
pela defesa da Terra” que ali estão,
“em solidariedade desde o mar pro-
fundo até às Covas do Barroso”, e
contra a “falsa narrativa da transição
energética”. “Que estejamos à altura
de imaginar outros futuros e de colo-
car o cuidado da vida ao centro.”
 NÃO É QUALQUER VINHO
NÃO É QUALQUER CASA

2 0 P R O D U TO R E S . 1 0 0 V I N H OS
3 MASTERCLASSES
1 7, 1 8 E 1 9 D E M A I O 2 0 2 4
LA DISTILLERIE, LISBOA

PROGRAMA

17 DE MAIO 18 DE MAIO 19 DE MAIO

Masterclass — Vinhos para acelerar Masterclass — A Taste of History: Masterclass — Porto,

o coração com o Master of Wine
Dirceu Vianna Junior
Prova de 100 grandes vinhos
com 20 dos melhores produtores
e enólogos de Portugal
Showcooking com Luís Sottomayor
(Casa Ferreirinha), Luís Cabral (Herdade
do Peso) e Pedro Baptista (Cartuxa,
Tapada do Chaves), destaques da colecção
particular de copos de Adrian Bridge
(Taylor’s) e música com Carlos Agrellos
(Quinta do Noval)
Portugal´s fine White Wines pelos
Masters of Wine Peter Richards
e Susie Barrie (com prova, em inglês)
Prova de 100 grandes vinhos
com 20 dos melhores produtores
e enólogos de Portugal
Momentos exclusivos com
Mário Laginha, showcooking
com Mário Sérgio (Quinta
das Bágeiras) e música com
o casal de Masters of Wine
Peter Richards e Susie Barrie
as seduções de um vinho clássico,
com Manuel Carvalho (crítico
de vinho PÚBLICO)
Prova de 100 grandes vinhos
com 20 dos melhores produtores
e enólogos de Portugal
Momentos únicos com
Sérgio Godinho e Filipe Raposo,
recital de poesia com Paulo Nunes
(Casa da Passarella) e convidados,
especial vinho da Madeira
com Ricardo Diogo (Barbeito)

Jantar volante com o Chef Alexandre Jantar volante com o Chef Alexandre Jantar volante com o Chef Alexandre
Silva, do LOCO, 1 Estrela Michelin Silva, do LOCO, 1 Estrela Michelin Silva, do LOCO, 1 Estrela Michelin

Venda de vinho com a Garrafeira Imperial, Venda de vinho com a Garrafeira Imperial, Venda de vinho com a Garrafeira Imperial,
com entrega de vinho em casa e descontos com entrega de vinho em casa e descontos com entrega de vinho em casa e descontos

VINHO DA CASA É UM ENCONTRO INTIMISTA COM ALGUNS DOS MELHORES PRODUTORES

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16 • Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024
Local Iniciativa do colectivo Mulheres, Arte, Arquitectura e Design
Uma tour feminista pelo
Porto porque “ocupar
o espaço público não
é tão fácil quanto isso”
Isabeli Santiago e Alicia Medeiros lideram visitas guiadas pelas
memórias de mulheres artistas, escritoras e activistas do Porto.
Pelo caminho, deixam lembretes para a cidade não as esquecer
Reportagem
Inês Pinheiro Texto
Nelson Garrido Fotografia
A bandeira branca do colectivo
MAAD (Mulheres, Arte,
Arquitectura e Design) marca o
ponto de encontro: 20 minutos
antes das 9h30 já se retiram de
uma grande sacola os materiais de
apoio das guias e os zines e folhetos
para distribuir pelo grupo que se
vai juntando no Largo do Amor de
Perdição, no Porto.
Nos bancos ao lado da escultura
do escritor Camilo Castelo Branco,
25 pessoas (e um pequeno cão)
aguardam o início da Tour
Feminista do Porto, uma
caminhada de três horas que
percorre cinco pontos da cidade,
descobrindo pelo caminho a
memória de mulheres artistas,
escritoras e activistas que
revolucionaram a história do
Porto, mesmo que a cidade não o
mostre ou que quem lá vive não as
conheça.
O projecto foi concebido em
2016 por Isabeli Santiago,
assistente de curadoria na Galeria
Municipal do Porto, e Alicia
Medeiros, arquitecta e
investigadora independente.
Santiago tinha desenvolvido,
durante a licenciatura, roteiros que
partiam da memória de mulheres e
de arquivos históricos locais e
Medeiros, na altura a fazer um
mestrado na Faculdade de
Belas-Artes do Porto (FBAUP),
trabalhava numa investigação
sobre o acto de caminhar como
expressão artística. O
envolvimento das duas em
colectivos feministas
impulsionaram a primeira visita
guiada, em 2019, durante o Festival
Feminista do Porto.
Agora enquanto colectivo MAAD,
a ideia expandiu-se e conta com a
colaboração de Chloé Darmon,
arquitecta e criadora do projecto
de mapeamento Habitar a Água,
que documenta as práticas urbanas
das mulheres a partir do estudo
dos lavadouros públicos no Porto.
“Numa escala ideal, gostaríamos
que esta experiência
performativo-activisto-artística
servisse para ampliar consciências
em aspectos formais e activos da
vida política – como a luta por
políticas públicas de equidade,
representatividade e
não-discriminação; e em esferas
simbólicas também, como na
transmissão dessas histórias entre
gerações e a sua conservação num
arquivo mental colectivo”, explica
Santiago, que começa por apontar
para a estátuaAmores de Camilo.
Aqui a narrativa não se foca em
Camilo Castelo Branco, mas na
mulher desnuda a ele abraçada,
Ægura feminina que é muitas vezes
associada à escritora e sua amante,
Ana Plácido.
Santiago destaca a vida e as
obras da escritora, assinalando a
forma como foi vítima de
“apagamento histórico devido à
sua relação com Camilo”,
considerada apenas como sua
musa na cultura popular. Escritora
e tradutora “alinhada com os
pensamentos feministas da época”,
o colectivo assinala que Ana
Plácido (1831-1895) foi reduzida a
uma placa numa “rua sem saída
nos subúrbios”, representada em
escultura de maneira “nua,
A mulher
no espaço
público é
recorrentemente
associada a algum
elemento
alegórico, como
o comércio ou a
agricultura
grotesca e colossal” e associada
constantemente a Castelo Branco
de maneira prioritária, tanto na
página da Wikipédia como nos
motores de busca online.
Para Medeiros, a mulher no
espaço público é recorrentemente
associada a algum elemento
alegórico, como o comércio, a
agricultura e, neste caso, de acordo
com o próprio autor da escultura,
“a mulher na obra do Camilo”. No
livro Toponímia Feminina
Portuense, citado durante a visita,
César Santos Silva identiÆca 146
entradas toponímicas “femininas”
na cidade do Porto (3,54% do
total). Grande parte desta lista é
composta por Æguras religiosas e,
devido ao binarismo de género na
língua portuguesa, por nomes ou
adjectivos que não correspondem
a pessoas reais.
Estes números podem acabar
por ser enganosos, salvaguardam
as co-fundadoras do MAAD.
Medeiros e Santiago comentam,
em ensaio para a revista digital
brasileira Performatus, que quem
caminha pela cidade à procura
destes topónimos depara-se com
um “clássico cenário de
apagamento e silenciamento
histórico”. A lista é composta, de
forma minoritária (1,51%), por
Æguras históricas como a
engenheira Virgínia de Moura ou a
escritora e crítica literária Carolina
Michaelis (ambas pontos de visita
recorrentes do Tour Feminista do
Porto). De resto, identiÆcam-se
corpos anónimos, sem identidade,
“alegorias de feições idealizadas e
corpos extremamente erotizados”.
Intervenção pública
No rés-do-chão da casa de Carolina
Michaelis (1851-1925), no número
159 da Rua de Cedofeita, Isabeli
Santiago cola um pequeno cartaz
em homenagem à escritora: “Nesta
casa viveu a maravilhosa Carolina
Michaëlis, tradutora, lexicógrafa e
insigne romanista. Celebramos a

sua vida, o seu legado e todas as
palavras que aprendemos através
dela”, lê-se.
Para as organizadoras da Tour
Feminista do Porto, a intervenção
pública é um apontamento de
“reparação histórica”. Desde os
autocolantes até aos cartazes,
aÆrmam que a intervenção de cariz
efémero pode compreender uma
ligação pessoal à história do
monumento, do indivíduo e da
cidade. Muitas vezes, no entanto,
“a vigilância oÆcial ou privada
nestes espaços, ou até mesmo das
pessoas que passam por perto da
tour” impede-as de deixar uma
marca. “Ocupar o espaço público
não é tão fácil quanto isso...”, diz a
guia em tom optimista, entre o riso
dos participantes.
No Cemitério do Prado do
Repouso, onde alguns entram só
para passear, a visita pára no
monumento mandado erigir por
Henriqueta Emília de Conceição
em 1868. A memória de Henriqueta
está envolvida em vários mistérios,
referida em arquivos locais como
uma Ægura “esquisita no seu
viver”, protagonista de vários
mitos urbanos e histórias de
veracidade duvidosa. Mas é um
facto que este monumento foi
erguido em homenagem à sua
parceira romântica, Teresa Maria
de Jesus, que morreu de uma
Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024 • 17
O projecto começou em 2019,
na quarta edição do Festival
Feminista do Porto
Tour Feminista
do Porto
R
ealizado entre o início da
Primavera e o final do
Verão, esta edição do Tour
Feminista do Porto foi
realizada em parceria com a
Bikini Books, editora de
culturas materiais, design e
política. Projecto auto-
financiado e independente, o
colectivo pretende anunciar
novas datas a partir de Abril, de
acordo com a demanda dos
participantes. O tour tem
novas datas a 1, 2, 13 e 20 de
Abril, sob alçada do projecto
Participo! — Participação
Cívica e Política das Mulheres,
promovido pela União de
Freguesias de Aldoar, Foz do
Douro e Nevogilde.
publico.pt/aovivo
infecção respiratória e ali está
sepultada. No entanto, esta
informação é omitida na placa que
a sinaliza.
Santiago narra um conhecido
episódio “entre o facto e a fábula”
em que Henriqueta, no momento
do sepultamento de Teresa, corta e
rouba a cabeça da sua amada.
Acabou por ser julgada e depois
ilibada pelo juiz, que encarou o
roubo feito por Henriqueta Emília
da Conceição não como
profanação, mas como um acto de
amor extremo.
Lêem-se documentos de arquivo
onde Conceição é protagonista,
destacando a sua fama na Cidade
Invicta e os relatos que foram
deixados pela memória colectiva.
Deixam-se Çores e velas em honra
da “esquisita” Ægura e da sua
amada e cola-se um novo
O clube de leitura
autocolante na placa, para
completar a história: “Monumento do jornal PÚBLICO
dedicado à memória de Teresa e da revista
Maria de Jesus e Henriqueta de Quatro Cinco Um.
Conceição. Amor é amor.
Visibilidade importa”, escreveram,
no papel transparente.
O roteiro termina sempre no
edifício abandonado Pão de
Açúcar, na Avenida de Fernão de
Magalhães. É mantida alguma
distância do empreendimento, que
se encontra protegido por grandes
muros e correntes. Aqui, o
colectivo relembra a história de
Gisberta Salce, imigrante brasileira
“trans”, vítima de um dos maiores
casos de transfobia do país.
A distância mantida deste
edifício abandonado não é ao
acaso. O colectivo teve
diÆculdades, ao longo dos anos, ao
tentar intervir no espaço, dada a
repercussão nacional do crime. TERÇA-FEIRA, 9 ABRIL,
Anteriormente, falavam da 22H (18H EM BRASÍLIA)
memória de Gisberta à frente de
um dos portões de acesso ao
edifício, colocavam autocolantes,
Isabel Coutinho e Paulo Werneck
escreviam mensagens no chão com conduzem um encontro entre
giz, instalavam faixas directamente José Henrique Bortoluci e os seus leitores.
no local e reproduziam a Balada de
Gisberta, canção escrita por Pedro Em destaque, o livro O que é Meu.
Abrunhosa e interpretada por
Maria Bethânia.
“De facto, algumas vezes nos Participe por Zoom
últimos anos fomos agredidas na reunião com
verbalmente, sofremos assédio e a ID 821 5605 8496.
violência, que é também uma A senha de acesso
grande problemática no contexto é 719623.
da prática activista – o que não nos
impede de repetir a experiência,
mas leva-nos a reformulá-la de
forma segura e estratégica”,
explica Santiago. Nas mais recentes
visitas, que se deverão repetir a 13
e 20 de Abril, nada foi escrito e
nenhuma canção foi reproduzida.
Isabeli Santiago desenrola apenas
um grande cartaz à frente dos
participantes: “Porto, não
esqueceremos o que Æzeram com
Gisberta. A culpa não foi da água”.
Texto editado por Renata
Monteiro
18 • Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024
Mundo Seis meses de guerra na Faixa de Gaza
Em Gaza, o trauma vê-se
Há 180 dias que o enclave está cercado. De
33 mil mortos, mais de 40% são crianças.
Para tentar perceber porquê, o PÚBLICO
ouviu equipas humanitárias na Palestina
Carolina Amado Texto
Cátia Mendonça e Gabriela
Gómez Infografia
Na Faixa de Gaza, como em todas as
terras, as crianças continuam a jogar
à bola na rua e a perguntar aos adul-
tos se têm chocolate. Como todos os
miúdos, têm pesadelos, têm medo e
procuram segurança nos mais velhos.
Mas em Gaza, como em nenhum
outro lugar, 14 mil crianças foram
mortas em seis meses — mais de 75
mortes por dia.
Foi em Rafah, Sul de Gaza, que
Karen Beattie se apercebeu de que o
trauma Æca especialmente vincado
no rosto das mulheres. O medo é visí-
vel na expressão, nos espasmos mus-
culares, nos tremores, nos suores.
“Ao mesmo tempo, tentam acalmar
os Ælhos, mas os Ælhos conseguem ver
a mãe aterrorizada. Quando somos
crianças, procuramos conforto nos
adultos, porque não partilham os nos-
sos medos. Aqui os adultos estão tão
apavorados como as crianças.”
Nas raparigas de 12, 13 anos, o olhar
tornou-se mais pesado por cada um
dos últimos 180 dias. “Parecem per-
didas, como se não soubessem o
caminho para casa, confusas, de luto
e profundamente desoladas”, carac-
teriza a coordenadora da resposta
humanitária de emergência da Save
The Children.
Nos rapazes da mesma idade, a rai-
va toma o lugar da tristeza. Irritam-se,
explodem a cada discórdia. “Nunca
as vi antes, mas é claríssimo, não é
preciso ser psicóloga. Não é o primei-
ro lugar onde reconheço esta expres-
são, mas é a primeira vez que a vejo
em tantas crianças.”
Quanto tempo leva a sarar
uma geração traumatizada?
Bill Van Esveld entrou pela primeira
vez na Faixa de Gaza em 2009, logo
depois da Operação Chumbo Fundido,
como lhe chamam as Forças de Defe-
sa de Israel (IDF), ou Massacre de
Gaza, como lhe chamam os palesti-
nianos. O actual director do Departa-
mento de Direito Infantil no Médio
Oriente da Human Rights Watch
(HRW) lembra-se de, nesse ano, Æcar
horrorizado com actos que hoje pare-
cem detalhes.
Pela primeira vez, Israel tinha dis-
parado artilharia pesada contra Gaza.
IBRAHEEM ABU MUSTAFA/REUTERS
As IDF usaram, repetidamente, muni-
ções de fósforo branco contra áreas
residenciais, densamente povoadas,
assim como munições explosivas, de
baixa precisão. “É uma arma para
guerras em terreno aberto. É aterra-
dor pensar que seria utilizada numa
cidade, num local urbano e muito
povoado, como Gaza, de onde as pes-
soas não conseguem fugir”, diz Bill
Van Esveld.
“Foi incrivelmente devastador em
2008/2009, só piorou em 2014 e ago-
ra ultrapassou todos os limites. A
cada novo conÇito em Gaza, novos
horrores parecem eclipsar os anterio-
res”, lamenta o trabalhador humani-
tário, em conversa com o PÚBLICO,
a partir da Grécia. Desta vez, não foi
autorizada a entrada da HRW em
Gaza, nem através do Egipto.
Já a Save The Children, há décadas
em Gaza e com um escritório em
Ramallah, na Cisjordânia, acompa-
nha diariamente crianças palestinia-
nas em Rafah (sem autorização para
operar no Norte e Centro do enclave).
Beattie chegou em Janeiro, para refor-
çar uma equipa de apoio humanitário Crianças palestinianas em Rafah, no Sul da Faixa de Gaza, desesperam por comida
também afectada pela guerra.
Com experiência em zonas de con-
Çito e crise humanitária no Médio têm medo, descrevem as pessoas tor da Defense for Children Palestine quente as IDF comunicarem que cer-
Oriente, África e Ásia, foi em Gaza com quem o PÚBLICO falou. (DCI), organização independente que ta zona seria atingida, alegando ter
que conheceu o que não sabia existir. “Para as crianças que perderam as investiga e documenta violações dos como alvo instalações do Hamas. Ago-
No dia em que conversou com o suas famílias, que foram amputadas, direitos das crianças, sediada em ra estão a “perseguir” as pessoas, é a
PÚBLICO, uma mulher palestiniana que estão gravemente feridas, que Ramallah, na Cisjordânia. expressão utilizada pelo activista e
disse-lhe o que nunca tinha ouvido: foram alvejadas enquanto fugiam das “Comecei a trabalhar como advo- advogado. “Não há consideração
“Estávamos a falar do difícil acesso a suas casas... Eu não sei como é que gado em 1988, na primeira Intifada. pelas vidas civis. É uma escolha. E é
comida e água e ela, referindo-se em isso se gere, nem quando crescerem”, Juntei-me à DCI em 1995, portanto por isso que falamos de genocídio:
particular às crianças, disse-me: ‘A diz Karen Beattie. “Temos uma gera- também assisti à segunda Intifada e a porque há uma intenção, um plano;
saúde mental, o apoio psicológico, é ção inteira traumatizada e esse trau- dezenas de ataques israelitas a Gaza e esse plano é implementado.”
mais importante que a comida’”. ma vai levar muito tempo a sarar.” que se seguiriam. Mas não há compa- Recorda as declarações do ministro
“É um murro no estômago. Os mais ração com o que está a acontecer da Defesa israelita, Yoav Gallant, a 9
pequenos continuam a brincar na “E é por isso que desde 7 de Outubro”, diz ao PÚBLI- de Outubro: “Dei ordens para um
rua. Estão lá fora a brincar com papa- CO. “Estamos a ver o assassinato cerco total à Faixa de Gaza. Não have-
falamos de genocídio”
gaios de papel, feitos por eles. Jogam indiscriminado de crianças, civis, rá electricidade, nem comida, nem
berlindes, futebol se alguém tiver Aos 14 anos, Khaled Quzmar viu o militantes [islamistas]. Gaza está a ser combustível, está tudo encerrado.
uma bola. Estão a divertir-se”, conta irmão ser detido pelos militares israe- bombardeada por via aérea, por terra Estamos a lutar contra animais huma-
Karen Beattie, a partir de Rafah. “Mas litas. Podia visitá-lo na prisão, mas e por mar, 24 horas por dia.” nos e agimos em conformidade.”
todas as noites, quando me deito e uma grade separava-os e proibia os Nos períodos mais violentos das Mais recentemente, o ministro da
ouço os aviões, penso se estarão per- abraços. Khaled percebeu rapida- últimas décadas, a percentagem de Segurança Interna, Itamar Ben-Gvir,
to. E quando chega a explosão, sei mente que só os advogados podiam menores mortos em relação ao total elogiou o “trabalho excepcional” do
que estou bem, mas há alguém que passar para o outro lado — estava de vítimas em Gaza manteve-se entre soldado que “neutralizou uma amea-
não está. Será uma criança? Uma decidida a futura proÆssão. Foi para os 21% e os 25%. O número era alto: ça” no campo de refugiados de Shu-
mulher? Uma família inteira?” a Argélia estudar Direito e regressou por cada quatro vítimas, uma era uma fat, em Jerusalém Oriental: um rapaz
Ao caminhar por Rafah — onde à sua terra, a Palestina, cinco anos criança. Desta vez, a percentagem já de 12 anos, morto com um tiro no pei-
estão mais de um milhão de pessoas, depois. Em poucos dias, entrou na duplicou. As crianças representam to. “Saúdo o soldado que matou o
apertadas numa área semelhante à cela onde o irmão continuava detido. 42% das mortes no enclave. terrorista que tentou disparar fogo-
da cidade de Matosinhos —, vêem-se Podia, Ænalmente, abraçá-lo. Para Khaled, a ausência de alertas de-artifício contra ele e as nossas for-
crianças por todo o lado. Os mais Passou décadas a defender meno- por parte das autoridades israelitas é ças. É exactamente assim que se deve
velhos sabem o que é a guerra e lutam res palestinianos julgados por tribu- uma das explicações para esse actuar no combate aos terroristas”,
contra cada memória. Os mais novos nais militares israelitas e é hoje direc- aumento. No passado, diz, era fre- disse o político de extrema-direita.
 Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024 • 19

no rosto de cada criança

Total de mortos
Israel Palestina Crianças

Primeira Intifada Segunda Intifada Operação Chumbo Operação Margem Operação Espadas de Ferro
1987–1993 2000–2005 Fundido/Massacre de Gaza Protectora/Guerra de 2014 7 de Outubro de 2023 – presente
Dezembro de 2008/Janeiro Julho/Agosto de 2014
de 2009

5 240 118 650 340 550

33
0 1
14.000
13 71 crianças
161 1200
1100 1000 1400 2200
3100

33.000

31 pessoas, incluindo 1 em cada 3 crianças com menos Há 625 mil estudantes São mortas mais Mais de mil crianças
28 crianças, já morreram de dois anos ainda no Norte de sem acesso a educação de 75 crianças por dia tiveram uma ou ambas
de fome e sede Gaza está gravemente subnutrida Média dos 180 dias as pernas amputadas
¬ = 10.000 estudantes
¬ = 1 criança ¬ = 10 crianças

Fontes: B’Tselem, Organização das Nações Unidas, Governo da Faixa de Gaza, Defense for Children Palestine PÚBLICO

Os mais velhos Se em Gaza vivessem 10,4 milhões
de pessoas, como em Portugal, e a
sabem o que é a percentagem de vítimas mortais se
guerra e lutam mantivesse, já teriam sido assassina-
das 156 mil, desde 7 de Outubro. Man-
contra cada tendo a comparação proporcional à
memória. Os mais população portuguesa, já teriam sido
mortas 65.500 crianças.
novos têm, Um trabalhador humanitário que
sobretudo, medo pediu que esta frase não Æcasse asso-
ciada à sua organização, vê dois cená-
rios: “Ou Israel é totalmente incom-
petente, o que acho pouco provável,
Mais de 1 milhão de crianças
ou está a agir deliberadamente. Não
precisam de apoio psicológico há outra explicação.”
e psicossocial
“Um povo sem direito
¬ = 10.000 crianças
à fuga e ao asilo”
De mais de 30, sobram apenas 12 hos-
pitais parcialmente funcionais na
Faixa de Gaza, “se é que lhes pode-
mos chamar funcionais”, nota Amber
Alayyan, uma das coordenadoras da
Médicos Sem Fronteiras (MSF) no
Médio Oriente. Não hesita ao consi-
derar que o sistema de saúde de Gaza
está a ser, sistemática e deliberada-
mente, destruído por Israel.
Em conferência de imprensa, a 4
de Abril, contou o que viu em Gaza:
a grande maioria das pessoas que
chega aos hospitais é vítima de bom-
bardeamentos e explosões. Muitos
Æcam presos sob escombros enquan-
to as chamas se alastram. O resultado
são lesões por esmagamento no tórax
e abdómen e queimaduras graves.
Sem cuidados de saúde adequados, a
amputação de membros torna-se, em
demasiados casos, inevitável.
“Os hospitais ainda a funcionar
estão tão cheios que há cirurgias feitas
no chão e os doentes recebem ‘alta’
logo a seguir porque não há espaço
para internamento”, relata. “Isto pas-
sa-se há meses, as feridas das pessoas
estão, literalmente, a apodrecer, o
cheiro é muito forte. E nem sequer
conseguimos perceber que tipo de
infecções estamos a tratar.”
Quanto às mulheres grávidas, não
há tempo para recuperação pós-par-
to. “Assim que conseguem andar, têm
de sair. Nem sequer conseguimos
apoiá-las na amamentação”, lamenta
Amber Alayyan. “Para amamentar,
uma mulher não pode estar subnutri-
da. Se não conseguir amamentar, usa
leite em pó. Mas, para isso, precisa de
água potável. E nada disto está dispo-
nível em Gaza.”
Karen Beattie trabalha no mesmo
cenário, questionando-se vezes sem
conta: “Porque é que o povo palesti-
niano é o único no mundo que não é
elegível para ser refugiado?”
“Mesmo que conseguissem sair de
Gaza, para onde iriam? Nunca
nenhum país se chegou à frente e dis-
se: ‘Deixem-nos sair e nós recebemo-
los’. Fizemos isso com os ucranianos,
com os afegãos, com os sírios, até
certo ponto”, diz, sem respostas.
“Porque é que os palestinianos não
merecem o mesmo?”
“Israel considera-se
acima da lei”
Em 1948, uma linha verde foi traçada
num mapa para dividir a Palestina e
dar lugar a um novo Estado: Israel.
Durante toda a vida, Khaled Quzmar
viu essa fronteira ser militarizada,
ocupada e apagada pelo regime israe-
lita. Teve também vista privilegiada
sobre as reacções que chegavam de
fora. “Não conheço nenhum país que
receba da comunidade internacional
o mesmo tratamento que Israel. Israel
considera-se acima da lei.”
“Não parece existir vontade políti-
ca para responsabilizar o regime
israelita pelos seus crimes. Mas, mais
grave do que isso, enquanto Israel
comete um genocídio, os Estados Uni-
dos, Alemanha e Reino Unido conti-
nuam a enviar armamento. São cúm-
plices dos crimes cometidos em
Gaza”, acusa o director da Defense for
Children Palestine.
Também Bill Van Esveld considera
“absurda” a relação dos EUA com
Israel, e defende um embargo de
armas, “não só as enviadas para
Israel, mas para todos os envolvidos
nesta guerra, como o Irão”. “A priori-
dade agora é manter as crianças vivas.
Mas ainda precisamos de garantir que
há um amanhã em Gaza.”
Das crianças de Rafah, Beattie ouve
desejos para esse amanhã. Um rapaz
com talento para o futebol sonha com
uma carreira internacional para doar
todo o dinheiro à Palestina. Os mais
pequenos perguntam por chocolates.
Muitos só querem rever a família,
regressar a casa, ao quarto e à cama
que eram seus. Talvez guardem,
como Æzeram os seus avós, as chaves
dessas casas, mesmo que já não exis-
tam para lá da última memória guar-
dada: a do dia em que fugiram.
20 • Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024
Mundo
Israel anuncia redução
de presença militar no Sul de Gaza
Maria João Guimarães
Conversações para
cessar-fogo recomeçam no
Cairo, enquanto Israel
se prepara para possível
retaliação iraniana a ataque
O Exército israelita anunciou ontem
que retirou mais militares do Sul da
Faixa de Gaza, deixando apenas
uma brigada no terreno, no dia em
que se assinalaram seis meses sobre
o ataque lançado pelo Hamas contra
localidades do Sul de Israel.
Habitantes da cidade de Khan
Younis disseram que as forças israe-
litas que estavam no centro da cida-
de se deslocaram para a periferia,
enquanto o Exército de Israel decla-
rou que tinha concluído a sua mis-
são na cidade e que a força a operar
no local tinha deixado o território
“para recuperar e preparar-se para
operações futuras”, segundo a agên-
cia AFP.
“Uma força signiÆcativa liderada
pela 162.ª divisão e a Brigada Nahal
continua a operar na Faixa de
Gaza”, dizia ainda o comunicado do
Exército.
O porta-voz da Casa Branca, John
Kirby, foi questionado sobre o signi-
Æcado da mudança. “É difícil saber
exactamente o que isto nos diz”,
respondeu. “Pensamos que é uma
questão de descanso e recuperação
para militares que estão há quatro
meses no terreno, e não indicativo
de uma nova operação para estes
militares.”
Já desde o início de Fevereiro que
o primeiro-ministro, Benjamin
Netanyahu, diz que irá levar a cabo
uma operação terrestre em Rafah, a
cidade de fronteira com o Egipto em
que estão a maioria das pessoas des-
locadas (que serão cerca de 80% de
2,2 milhões de habitantes do territó-
rio), levando a vários avisos interna-
cionais sobre a necessidade de asse-
gurar que a população civil poderia
ser deslocada e protegida.
Ontem foi também anunciado um
plano de preparação para receber
reservistas no Norte, caso seja neces-
sário uma presença militar extensa
face a ataques do Hezbollah, o movi-
mento xiita do Líbano.
Isto acontece quando o Estado
hebraico está em alerta para um
possível ataque de retaliação do Irão
a um bombardeamento israelita a
um complexo diplomático iraniano
em Damasco, a 1 de Abril, que matou
um importante general iraniano da
Força Al-Quds e outros seis militares
(Israel não comentou, como é regra
Militares israelitas deixaram
Khan Younis, depois de o
Exército dizer que a sua missão
na cidade tinha sido concluída
“Pensamos que é
uma questão de
descanso para
militares que estão
há quatro meses
no terreno, e não
indicativo de uma
nova operação”,
disse o porta-voz
da Casa Branca
John Kirby
em operações no estrangeiro).
A retaliação poderia acontecer
num ataque iraniano (ou de uma
milícia que apoie, como o Hezbollah)
a uma representação diplomática
israelita, a alvos dentro do Estado
hebraico, ou ainda a alvos america-
nos, segundo indicações dos servi-
ços secretos citadas nos media dos
dois países. Esperava-se que acon-
tecesse a qualquer momento, dentro
de, no máximo, poucos dias.
Ainda em relação à retirada de
forças do Sul de Gaza, o analista
israelita Omer Dostri prevê que esta
acção possa ajudar nas conversações
para um acordo de trégua, mas que,
“depois da retirada dos residentes,
dentro de dois meses haja uma
acção em Rafah para destruir as últi-
mas brigadas do Hamas”, declarou,
citado pela Al Jazeera.
Uma organização de representan-
te de reféns, o Fórum de Famílias de
Reféns e Pessoas Desaparecidas,
reagiu ao anúncio de retirada de
forças da Faixa de Gaza dizendo que
esta “prova que as IDF [Forças de
Defesa de Israel] conseguiram mui-
tos avanços militares para Israel e
diminuíram as capacidades do
Hamas”. Esta acção de retirada,
concluiu o Fórum, “deveria ser o
primeiro passo num acordo para
libertação de reféns.”
Negociações no Egipto
Enquanto isso, o site Axios noticia
que uma equipa negocial israelita
ABIR SULTAN/EPA
está a caminho do Cairo, no Egipto,
com um mandato mais alargado
para negociar um acordo que impli-
caria um cessar-fogo e libertação de
reféns ainda na Faixa de Gaza.
Até agora, Israel tem dito que não
considera cumprir a maior exigência
do Hamas para libertar os reféns,
que seria um cessar-fogo permanen-
te em Gaza, já que este seria contra-
ditório com o seu objectivo de “aca-
bar com o Hamas”.
Não era claro o que implicava a
decisão de participar nas negocia-
ções, uma vez que, antes, não era
certo que Israel enviasse represen-
tantes ao Cairo, dizendo temer par-
ticipar num “teatro político”.
Na véspera, Tami Arad, mulher
de Ron Arad, que desapareceu em
combate em 1986 no Líbano, fez
uma publicação no Facebook criti-
cando o Governo pela sua actuação
em relação aos reféns. “O regresso
dos reféns não depende de um
remédio inovador, da ocorrência de
um milagre, mas sim de decisões de
seres humanos”, escreveu no sába-
do, citada pelo Haaretz. “Neste caso,
da decisão de uma pessoa, e o nome
dela não é Sinwar [Yahya Sinwar, o
líder do Hamas em Gaza]. O primei-
ro-ministro de Israel é quem tem de
tomar a decisão”, declarou Tami
Arad.
Algumas famílias de reféns junta-
ram-se entretanto a protestos contra
o Governo, pedindo agora aberta-
mente a demissão de Netanyahu.
Chef Andrés pede
nova investigação
O
fundador da World
Central Kitchen,
organização que prestava
apoio na Faixa de Gaza
quando sete dos seus
trabalhadores morreram num
ataque israelita, teceu duras
críticas a Israel numa entrevista
com a jornalista da ABC Martha
Raddatz.
“Foram seis meses a atacar
tudo o que se mexe”, acusou o
chef espanhol José Andrés.
“Isto já não parece uma guerra
para defender Israel. Nesta
altura, isto já parece mesmo
uma guerra contra a própria
Humanidade.”
Israel levou a cabo uma
investigação ao ataque com
drones que matou os sete
humanitários – três britânicos,
uma australiana, um polaco,
um cidadão com dupla
nacionalidade (americana e
canadiana) e um palestiniano –
e concluiu que tinha sido
erradamente confundido um
combatente do Hamas com
um dos funcionários da
organização.
“Cada vez que acontece
alguma coisa, não podemos
simplesmente trazer o Hamas
para a equação. Isto já não é
uma questão de sete homens e
mulheres da World Central
Kitchen que morreram neste
acontecimento infeliz. Isto está
a acontecer há demasiado
tempo.”
Questionado sobre a sua
opinião sobre a conclusão da
investigação israelita (que
identificou falhas de
comunicação graves e
concluiu que o ataque se
deveu a erros de identificação,
má comunicação – já que a
rota dos veículos humanitários
tinha sido coordenada com o
Exército – e ainda a violações
do código de conduta), Andrés
agradeceu às forças militares
israelitas a investigação tão
rápida, mas disse que esta não
era suficiente.
“Para algo tão complicado, a
investigação devia ser mais
aprofundada”, declarou. “E
diria que quem levou a cabo a
acção não pode ser quem a
investiga.”
 Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024 • 21

Mundo

EUA, Reino Unido e Austrália querem

expandir o AUKUS e piscam o olho ao Japão
António Saraiva Lima
Os três países pretendem
atrair aliados a juntarem-se
ao “segundo pilar”
da parceria de segurança
para o Indo-Pacífico
Os Estados Unidos, a Austrália e o
Reino Unido querem a abrir a novos
aliados as portas da parceria de segu-
rança que lançaram em 2021 para a
região alargada do Indo-PacíÆco. O
Financial Times noticiou ontem que
os ministros da Defesa dos três países
vão iniciar hoje negociações para esse
efeito, com a esperança de consegui-
rem convencer o Japão a tornar-se o
primeiro Estado não-fundador a ade-
rir ao AUKUS.
Segundo o diário económico britâ-
nico, que cita fontes com conheci-
mento do processo, o plano passa, no
entanto, por expandir apenas o cha-
mado “segundo pilar” do AUKUS,
relativo à partilha de tecnologia mili-
tar avançada, como a computação
quântica, o armamento hipersónico
ou a inteligência artiÆcial, entre as
diversas Forças Armadas. Ou seja,
pelo menos para já, os três aliados
não estão a ponderar convidar novos
membros para o “primeiro pilar”,
que é, de longe, o mais importante, e
que implica um plano ambicioso para
fornecer à Marinha australiana uma
frota de submarinos movidos a ener-
gia nuclear a partir de 2030, através
do maior investimento militar da His-
tória da Austrália — 368 mil milhões
de dólares australianos (cerca de 223
mil milhões de euros) até 2055.
Lançado há três anos por Joe Biden
(Presidente dos EUA), Scott Morrison
(ex-primeiro-ministro da Austrália) e
Boris Johnson (antigo primeiro-minis-
tro do Reino Unido), o AUKUS é visto
como uma iniciativa militar dos EUA
e dos seus aliados para conterem a
Biden vai receber amanhã o primeiro-ministro japonês
República Popular da China na sua
Pacto militar foi vizinhança alargada, no âmbito da
lançado há três competição geopolítica entre
Washington e Pequim.
anos e tem como Há cerca de um ano, o Governo da
objectivos conter Nova Zelândia já tinha demonstrado
a China na região abertura para aderir ao “segundo
pilar” do AUKUS.
e fornecer A notícia publicada pelo FT surge
no dia em que as Marinhas dos EUA,
submarinos da Austrália, do Japão e das Filipinas
nucleares iniciam exercícios militares “anti-sub-
marino” no mar do Sul da China, uma
à Austrália das zonas mais disputadas da região,
a partir de 2030 onde o Governo da China e de vários
EVELYN HOCKSTEIN/EPA
países do Sudeste Asiático têm reivin-
dicações territoriais.
Segundo as fontes citadas pelo jor-
nal britânico, as novidades que Lloyd
Austin (EUA), Grant Shapps (Reino
Unido) e Richard Marles (Austrália),
responsáveis pelas respectivas pastas
da Defesa, vão anunciar hoje, assim
como a possibilidade de adesão do
Japão ao “segundo pilar” do AUKUS,
constam na agenda do encontro entre
Biden e Fumio Kishida, primeiro-mi-
nistro japonês, agendado para ama-
nhã, na Casa Branca.
Nessa reunião já é expectável que
seja alcançado um acordo para a
ampliação da cooperação securitária
entre EUA e Japão, para o nível mais
elevado desde a assinatura do Trata-
do de Cooperação Mútua e Seguran-
ça, em 1960.
No dia seguinte, Ferdinand Marcos
Jr., Presidente das Filipinas, junta-se
a Biden e a Kishida para uma cimeira
a três na capital dos EUA, onde discu-
tirão, sobretudo, temas relacionados
com o que os três Governos chamam
“defesa liberdade de navegação” no
mar do Sul da China.
Num artigo de opinião, publicado
na passada quarta-feira pelo Wall
Street Journal, intitulado Uma Nova
Era nas Relações EUA-Japão, e no qual
também defendeu a adesão japonesa
ao “segundo pilar” do AUKUS, Rahm
Emanuel, embaixador norte-ameri-
cano em Tóquio, salientou que o
Japão “está a posicionar-se no centro
da estratégia de alianças regionais de
Washington” e a “transformar-se num
parceiro de pleno direito” dessa
“estratégia para o Indo-PacíÆco”.
“As areias geopolíticas moveram-se
drasticamente em poucos anos. Até
há pouco tempo, os cépticos previam
que a América se iria retirar do Indo-
PacíÆco, deixando um vazio para a
China preencher. Aconteceu o con-
trário”, congratulou-se o diplomata.
“Embora seja verdade que a nossa
política económica precisa de acom-
panhar as nossas iniciativas diplomá-
ticas e de Defesa, Biden reforçou a
reivindicação da América como
potência permanente do PacíÆco.”

Aliado do primeiro-ministro pró-russo vence eleições

presidenciais da Eslováquia
Maria João Guimarães,
António Saraiva Lima
Peter Pellegrini, antigo
chefe do Governo e aliado
de Robert Fico, derrotou
o candidato pró-europeu
Ivan Korcok
O antigo primeiro-ministro eslovaco
Peter Pellegrini, aliado do actual che-
fe do Governo, Robert Fico, conheci-
do pelas suas posições pró-russas,
venceu a segunda volta das eleições
presidenciais da Eslováquia, realizada
no sábado.
Pellegrini, líder do partido Hlas e
presidente do Parlamento eslovaco,
obteve 53,26% do total de votos, con-
tra os 46,73% do seu opositor, o antigo
ministro dos Negócios Estrangeiros e
candidato pró-europeu, Ivan Korcok.
Pellegrini vai substituir Zuzana Capu-
tova, também pró-europeia.
Apesar de não ter poderes executi-
vos, o Presidente da Eslováquia pode
vetar legislação ou enviá-la para o
Tribunal Constitucional e tem com-
petências para nomear juízes para
aquela instância judicial. Isto pode ter
importância especial, diz o site Politi-
co, numa potencial luta sobre refor-
mas que Fico quer levar a cabo para
diminuir substancialmente as penas
por crimes de corrupção.
Pellegrini foi, em 2018, escolhido
por Fico, então primeiro-ministro,
para liderar o Governo quando o pró-
prio Fico deixou o cargo na sequência
de grandes protestos públicos depois
do assassínio do jornalista de investi-
gação Jan Kuciak e da sua namorada
Martina Kusnirova.
Apesar de ter entretanto saído do
partido de Fico e fundado a sua pró-
pria formação política, juntou-se ao
Governo quando o partido do primei-
ro-ministro nacionalista de centro-
-esquerda e simpatizante da Rússia
Smer venceu as últimas eleições legis-
lativas, realizadas em Setembro. A
coligação incluiu o Smer, de Fico, o
Hlas, de Pellegrini, e ainda os ultrana-
cionalistas pró-russos do SNS.
A oposição acusa Pellegrini de,
enquanto presidente do Parlamento,
não ter feito nada para impedir o que
considera um ataque de Fico à Justiça,
incluindo o Æm de um organismo
público estabelecido há 20 anos para
investigar casos de corrupção e cri-
mes graves, que tinha acusado vários
membros do Smer e estava encarre-
Pellegrini é um
crítico do apoio
militar da
Eslováquia à
Ucrânia e diz que
estará “sempre
do lado da paz”
gado da acusação dos potenciais res-
ponsáveis pelo assassínio de Kuciak
e Kusnirova, segundo a BBC.
O Governo de Fico também apre-
sentou planos para abolir a emissora
pública do Estado e substituí-la por
outra sob controlo praticamente total
do Estado. Esses planos, diz ainda a
BBC, foram suspensos quando Pelle-
grini Æcou em segundo lugar na pri-
meira volta das presidenciais há duas
semanas.
O medo da oposição é que os pla-
nos voltem a ser apresentados agora,
e que sejam aprovados com a luz ver-
de do novo Presidente.
No seu discurso de vitória, no sába-
do à noite, Pellegrini disse que o
Governo de Fico podia contar com o
seu apoio, em vez de uma “oposição
oportunista”.
Mais moderado que Fico, Pellegrini
também apostou, no entanto, numa
campanha semelhante à do primeiro-
-ministro para as legislativas, em que
Fico prometeu acabar com o apoio
militar da Eslováquia ao país invadido
pela Rússia. A Eslováquia foi, sob o
Governo anterior, uma forte aliada da
Ucrânia, enviando sistemas de defesa
aérea e toda a sua frota de caças MiG-
29 (vários analistas sublinharam que
entretanto já não havia muito mais
material militar para enviar, pelo que
a promessa de Fico não tinha uma
enorme relevância).
Na campanha para as presiden-
ciais, Pellegrini acusou o seu opositor
de ser um belicista e de querer armar
a Ucrânia a todo o custo, chegando
mesmo a sugerir que Korkoc pudesse
mandar militares eslovacos para com-
bater na Ucrânia, algo que o candida-
to da oposição negou.
“Farei tudo para que a Eslováquia
permaneça sempre do lado da paz e
não do lado da guerra”, prometeu
Pellegrini, citado pela Reuters.
22 • Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024
Economia Estudo realizado pela New Economics Foundation
Regras
orçamentais
limitam
investimentos
sociais e verdes
Estudo calcula que a maior parte dos
países da UE, incluindo Portugal, não
poderá fazer os investimentos de que
precisa, se cumprir as regras orçamentais
Sérgio Aníbal
Se os países da União Europeia quise-
rem durante os próximos anos reali-
zar o investimento público necessário
para acudir às necessidades sociais e
concretizar com sucesso a transição
climática, a maioria deles, incluindo
Portugal, não o conseguirá fazer sem
violar as regras orçamentais euro-
peias que este ano irão entrar em
vigor, alerta esta segunda-feira a New
Economics Foundation, num estudo
encomendado pela Confederação
Europeia de Sindicatos.
A duas semanas de as novas regras
orçamentais europeias – propostas
pela Comissão Europeia e alteradas e
acordadas pelos governos da UE –
irem a votos no Parlamento Europeu
após novas modiÆcações, este é mais
um alerta relativamente ao constran-
gimento que a sua entrada em vigor
poderá trazer à forma como os países
gerem as suas Ænanças públicas.
Depois da aplicação das antigas
regras ter estado suspensa desde
2020, devido às exigências extraordi-
nárias para os cofres dos Estados tra-
zidas pela pandemia e pela crise inÇa-
cionista, a introdução de novas regras
tinha como objectivo adaptar aquilo
que é exigido a cada país à sua própria
realidade, permitindo, por exemplo,
que a um país com uma dívida públi-
ca muito elevada não seja exigido um
processo de consolidação brusco e
rápido que possa colocar em causa o
crescimento da economia.
São ainda introduzidas, também
por resultado das discussões tidas
recentemente no Parlamento Euro-
peu, excepções no tratamento do
investimento público, nomeadamen-
te aquele que é feito com ajuda de
Ænanciamento europeu.
No entanto, defendem os autores
do estudo agora publicado, tal não
evita o risco de, ao se aplicarem as
novas regras, a maioria dos países
Æcarem limitados no volume de inves-
timento público que podem realizar,
ao ponto de porem em causa a reali-
zação do esforço Ænanceiro necessá-
rio para que os Estados garantam a
prestação dos serviços sociais e cum-
pram os objectivos de transição cli-
mática a que se propuseram.
NUNO FERREIRA SANTOS
As novas regras orçamentais euro-
peias prevêem que, com base numa
análise de sustentabilidade da dívida
feita pela Comissão Europeia, os
governos dos países em que a dívida
pública está acima de 60% do PIB,
acordem com Bruxelas uma trajectó-
ria orçamental para os quatro anos
seguintes que os coloquem no cami-
nho certo. O indicador-chave para
veriÆcar se essa trajectória será cum-
prida é o da variação da despesa pri-
mária líquida, para o qual irão ser
impostos limites anuais que os países
têm de cumprir, caso queiram evitar
a abertura de um procedimento por
déÆce excessivo.
De acordo com as contas feitas pela
New Economics Foundation, se as
regras forem integralmente cumpri-
das, apenas três dos 27 países da
União Europeia conseguirão fazer os
investimentos necessários ao nível
social e ambiental. Em todos os
outros, incluindo Portugal, a realiza-
ção desses investimentos faria com
que a variação da sua despesa pública
superasse os limites impostos pelas
regras orçamentais.
 Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024 • 23

Primeiro-ministro Luís
Montenegro e o ministro das
Finanças, Miranda Sarmento,
na tomada de posse do Governo
Investimento público
As contas da New Economics
Foundation são feitas tendo como
base cálculos feitos por diversas
entidades sobre os déÆces de inves-
timento social e ambiental dos paí-
ses europeus. Um dos pontos de
As novas regras são mais Çexíveis,
dão a possibilidade de as exigências
feitas se adaptarem à realidade de
cada país, mas, ainda assim, impõem
limites, que terão de voltar a ser
cumpridos.

necessário para suprir partida é uma análise feita pela pró-
as necessidades socias pria Comissão Europeia, que apon-
e ambientais ta para um déÆce de investimento
Em percentagem do PIB
Ponto mínimo do intervalo
em infra-estruturas sociais na UE de
192 mil milhões de euros ao ano,
com 120 mil milhões a dizerem res-
Ponto máximo do intervalo peito ao investimento em saúde, 57
mil milhões em habitação e 15 mil
P. Baixos milhões em educação.
Luxemburgo No caso de Portugal, as contas fei-
Lituânia tas neste relatório estimam que o
reforço de investimento público anual
Croácia
necessário para cobrir os déÆces exis-
Rep. Checa tentes ao nível social e ambiental
Estónia estão situados num intervalo entre os
Finlândia 5200 e os 6900 milhões de euros, ou,
em percentagem do produto interno
Malta
bruto (PIB), entre 2,4% e 3,2%.
UE A realização de investimentos des-
Chipre ta dimensão não será possível, estima
a New Economics Foundation, se as
Alemanha
autoridades portuguesas tiverem de
Espanha cumprir os limites de crescimento da
França despesa primária líquida inscrita nas
Letónia regras europeias.
“Os nossos resultados mostram
Portugal
que, por uma larga distância, a UE
Eslovénia não será capaz de cumprir os seus
Polónia investimentos sociais e verdes através
Grécia de mais endividamento se decidir
cumprir as suas regras orçamentais
Roménia
sem alterações”, aÆrma o relatório.
Áustria Os autores reconhecem que os desa-
Hungria Æos sociais e ambientais “podem ser
suplantados com outro tipo de políti-
Bélgica
cas”, mas defendem que “a UE estará
Bulgária
a limitar-se a si própria de forma des-
Itália
Eslováquia
necessária se insistir em manter
regras orçamentais que limitam o
0 1 2 3 4 5
acesso a empréstimos mesmo para
investimentos sociais e verdes que
Fonte: New Economics Foundation PÚBLICO
são necessários”. “Especialmente
porque muitos destes investimentos
têm um efeito multiplicador de gran-
As novas regras de dimensão e podem contribuir
orçamentais signiÆcativamente para a sustentabi-
lidade da dívida”, defendem.
europeias — É de notar que o indicador usado
propostas pela como referência nas regras orça-
mentais europeias — a variação da
Comissão despesa primária líquida — leva em
Europeia e conta as medidas que os Governos
possam tomar do lado da receita.
alteradas e Por exemplo, se um Governo decidir
acordadas pelos aumentar os impostos, é-lhe possível
aumentar também mais a despesa,
governos da UE — cumprindo as regras. Em sentido
vão dentro de duas contrário, se decidir reduzir impos-
tos, a margem para aumentar des-
semanas a votos no pesas diminui ainda mais.
Parlamento
Limites para o novo Governo
Europeu, após A poucas semanas das novas regras
novas serem votadas pelo Parlamento
Europeu e de entrarem em vigor,
modiÄcações este é mais um alerta para as conse-
quências que podem vir a ter para a
forma como os Governos europeus,
ao Æm de quatro anos em que a apli-
cação das regras orçamentais esteve
suspensa, irão ter de gerir as suas
contas públicas.
Mário Rodrigues
Para o Governo liderado por Luís
Montenegro, isto representa, inde-
pendentemente do esforço de inves-
timento que pretendam fazer para
melhorar o nível dos serviços públi-
cos ou para enfrentar o desaÆo das
Marques Calado
alterações climáticas, uma diÆcul- (Diretor da Divisão de Instrumentos
dade para o cumprimento das pro-
messas feitas durante a campanha do Instituto Nacional de Meteorologia
eleitoral. e Geofísica)
Ainda no decorrer deste ano, o
novo executivo irá deÆnir, em nego-
ciação com Bruxelas, uma trajectó-
ria orçamental para os quatro anos Faleceu
seguintes, em que Æcará deÆnido
um limite para a evolução da despe-
sa primária líquida. Adivinha-se difí- A Família participa o seu falecimento e que o velório terá
cil cumprir esse limite pondo em lugar hoje a partir das 18 horas, na Igreja de Carcavelos.
prática medidas como a valorização O funeral irá realizar-se amanhã, pelas 11 horas para o
salarial de professores, proÆssionais crematório de Cascais, em Alcabideche. Às 10:30 horas
de saúde e forças de segurança e será celebrada a Cerimónia Religiosa. Agradecem desde já,
avançando para um corte de diver- a todas as pessoas que de alguma forma,
sos impostos com um impacto esti- lhes manifestarem o seu pesar.
mado de 5000 milhões de euros.
Especialmente tendo em conta
que, em simultâneo, são esperados
Servilusa Agências Funerárias SA
em 2025, de acordo com as contas Tlf: +351 214 706 300 | Tlm: +351 969527982
do anterior Governo, aumentos da
despesa pública de 1500 milhões de
euros devido à aplicação das regras
de actualização das pensões e de
outras prestações sociais e de 1000
milhões em resultado dos aumentos
salariais da função pública previstos
no acordo de rendimentos.
CONHEÇA AS NOSSAS
Mário Centeno, o governador do
Banco de Portugal, alertou para esta
diÆculdade nas suas primeiras decla-
rações após a tomada de posse do
COLECÇÕES DE HISTÓRIA
novo Governo, aÆrmando que “[ten-
do em vista] tudo o que já está legis-
lado e aquilo que é a tendência habi-
tual da despesa, o que se vê é que a
margem [para tomar novas medidas
com impacto na despesa ou na recei-
ta sem uma compensação] é nula”.
Do lado do Governo, e em parti-
cular do ministro das Finanças, Joa-
quim Miranda Sarmento, esperam-
se agora indicações mais claras sobre
como é que pretende aplicar as
medidas prometidas sem passar de
um excedente orçamental de 1,2%
do PIB para um novo déÆce.
Para já, Luís Montenegro já deu
alguns sinais ao aÆrmar, no discurso
de tomada de posse, que “a teoria
dos cofres cheios conduz à reivindi-
cação desmedida e descontrolada
de despesas insustentáveis”.
E embora garantindo que cumprirá
as promessas “de desagravamento
Æscal, de valorização dos salários
e das pensões, de reestruturação
dos serviços públicos e moderniza-
ção do Estado”, o primeiro-ministro
fez questão de avisar que não o
fará “à sombra da ilusão de um
excedente”, mas sim apoiando-se
numa “economia mais produtiva e
competitiva e de um Estado renova-
do e eÆciente”. MAIS INFORMAÇÕES: loja.publico.pt | 210 111 010
24 • Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024

CLASSIFICADOS Rua Júlio Dinis, n.º 270, Tel. 22 615 10 00

Bloco A, 3.º Piso
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De seg a sex das 09H às 18H

REPÚBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL
Consulado-Geral do Brasil em Faro
Retificação
EDITAL FACULDADE DE CIÊNCIAS DA UNIVERSIDADE
EDITAL DE CASAMENTO
Tereza Cristina da Silva Santos, Vice-
Aviso DRH – 02/2024 Cônsul do Brasil em Faro, usando
CANDIDATURAS AO CARGO DE DIRETOR DA FACULDADE DO PORTO
das atribuições que lhe confere o art.º
Instituto Politécnico do Cávado e do Ave 18 da Lei de Introdução ao Código
DE FARMÁCIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA Civil, faz saber que pretendem casar
Dá-se conhecimento público que se encontra aberto Leonardo Arantes Dettmann, natural de
(M/F) um processo de recrutamento e seleção de um Técnico
Torna-se público que, relativamente Vitória, Espírito Santo, Brasil, nascido
a 28/07/1984, residente e domiciliado
O Conselho de Escola da Faculdade de Farmácia da Universidade de ao procedimento concursal para na Rua da Armada, n.º 14, lote 1A,
Superior, em regime de contrato de trabalho a termo Vila Real de Santo António, Portugal,
Lisboa anuncia que se encontra aberto concurso público para a eleição recrutamento de 1 (um) Técnico Superior, Código Postal: 8900-261 nesta jurisdição
certo, ao abrigo do Código de Trabalho, para os Serviços consular, filho de Geraldo Dettmann e
de Diretor da Faculdade. em regime de contrato de trabalho de Maria de Oliveira Arantes Dettmann
de Recursos Humanos, da Faculdade de Ciências da e Marilza da Silva, natural de Curitiba,
Pode candidatar-se professor ou investigador de reconhecido mérito da ao abrigo do Código do Trabalho por Paraná, Brasil, nascida a 07/01/1988,
Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa ou de outra instituição, Universidade do Porto, ao qual podem candidatar-se os residente e domiciliada na Rua da
indivíduos que reúnam as condições fixadas no aviso tempo indeterminado, para exercer Armada, n.º 14, lote 1A, Vila Real de
nacional ou estrangeira, de ensino universitário ou de investigação. Santo António, Portugal, Código Postal:
disponível nas Notícias do SIGARRA FCUP/Recrutamento, funções Unidade Transversal Flexível 8900-261 nesta jurisdição consular, filha
O perfil do candidato(a), as competências do Diretor, o regime jurídico de Otacilio da Silva e de Francisca Paulina
e estatutário, bem como as condições de elegibilidade, regulamento no seguinte endereço: para o Desenvolvimento Sustentável do da Silva.
Apresentaram os documentos exigidos
e regras e procedimentos que regem a sua eleição pelo Conselho de IPCA, no Campus, em Vila Frescaínha S. pelo Art.º 1.525 do Código Civil.
https://sigarra.up.pt/fcup/pt/cnt_cand_geral.concursos_list Martinho, Barcelos, relativo ao Aviso DRH Se alguém souber de algum impedimento,
Escola da Faculdade estão disponíveis para consulta em www.ff.ul.pt. oponha-o na forma da Lei. Lavrado o
Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, 8 de abril de 2024 Processo de recrutamento Ref.ª 430 2024/10 n.º 02/2024 publicado na página https:// presente para ser afixado em lugar visível
da Chancelaria deste Consulado-Geral.
O Presidente do Conselho de Escola da Faculdade de Farmácia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, 08 de abril de 2024 ipca.pt/procedimentos-concursais/ Ilton Garcia Silveira
Oficial de Registro Civil “ad-hoc”
Universidade de Lisboa, pessoal-nao-docente/, o prazo de
Professor Doutor Rui Ferreira Alves Moreira candidatura foi prorrogado até ao dia 10
de abril de 2024.
Announcement Barcelos, 28 de março de 2024
Application for the position of Dean (Diretor) of the Faculdade Dá-se conhecimento de que se encontra
A Presidente do IPCA,
de Farmácia da Universidade de Lisboa, (Portugal)
aberto o seguinte recrutamento para a Prof. Doutora Maria José Silva Fernandes loja.publico.pt
(M/F)
The Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, Portugal, invites NOVA Medical School da Universidade
applications for the position of Dean (Director of the Faculty).
Applicants must be professors or researchers of recognized merit from
Nova de Lisboa:
the Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, or other national
or foreign universities or research institutions, currently in full exercise of
functions.
• 1 vaga de Técnico Superior para o OFEREÇA
The responsibilities of the Dean (Director) are defined by the recently
approved model for the government of the Faculdade de Farmácia
Serviço de Apoio à Investigação BANDA DESENHADA
da Universidade de Lisboa and its legal and statutory regime. These (Ref.ª: TS/1/SAI/2024);
documents, the conditions of eligibility and the electoral regulations are
available online at www.ff.ul.pt. Podem candidatar-se os indivíduos que
Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, 8 April 2024
The Chair of the School Council of the Faculdade de Farmácia da reúnam as condições fixadas nos avisos
Universidade de Lisboa,
Professor Doutor Rui Ferreira Alves Moreira
disponíveis no endereço: www.nms.unl.pt
(Junte-se à nms/Recrutamento/ Colaboradores).
O prazo-limite para submissão das
CONHEÇA AS NOSSAS COLECÇÕES candidaturas é de 6 dias úteis a contar da
DE HISTÓRIA EM LOJA.PUBLICO.PT data da publicação do presente anúncio.
MAIS INFO: 210 111 010 MAIS INFORMAÇÕES: loja.publico.pt | 210 111 010

Fundada em 1988 pelo Professor Doutor Carlos Garcia, a Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer - Alzheimer Portugal é
uma Instituição Particular de Solidariedade Social. É a única organização em Portugal, de âmbito nacional, constituída há mais de 30 anos especificamente
para promover a qualidade de vida das pessoas com demência e dos seus familiares e cuidadores. Tem cerca de dez mil associados em todo o país.
Oferece Informação sobre a doença, Formação para cuidadores formais e informais, Apoio domiciliário, Apoio Social e Psicológico e Consultas Médicas
da Especialidade.
Como membro da Alzheimer Europe, a Alzheimer Portugal participa ativamente no movimento mundial e europeu sobre as demências, procurando reunir
e divulgar os conhecimentos mais recentes sobre a Doença de Alzheimer, promovendo o seu estudo, a investigação das suas causas, efeitos, profilaxia e
tratamentos.
Contactos
Sede: Av. de Ceuta Norte, Lote 15, Piso 3, Quinta do Loureiro, 1300-125 Lisboa - Tel.: 21 361 04 60/8 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
Centro de Dia Prof. Dr. Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2 - Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa - Tel.: 21 360 93 00
Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário «Casa do Alecrim»: Rua Joaquim Miguel Serra Moura, n.º 256 - Alapraia, 2765-029 Estoril - Tel. 214 525 145 - E-mail: casadoalecrim@alzheimerportugal.org
Delegação Norte: Centro de Dia “Memória de Mim” - Rua do Farol Nascente n.º 47A R/C, 4455-301 Lavra - Tel. 229 260 912 | 226 066 863 - E-mail: geral.norte@alzheimerportugal.org
Delegação Centro: Urb. Casal Galego - Rua Raul Testa Fortunato n.º 17, 3100-523 Pombal - Tel. 236 219 469 - E-mail: geral.centro@alzheimerportugal.org
Delegação da Madeira: Avenida do Colégio Militar, Complexo Habitacional da Nazaré, Cave do Bloco 21 - Sala E, 9000-135 FUNCHAL - Tel. 291 772 021 - E-mail: geral.madeira@alzheimerportugal.org
Núcleo do Ribatejo: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31-A, 2080-114 Almeirim - Tel. 24 300 00 87 - E-mail: geral.ribatejo@alzheimerportugal.org
Núcleo do Algarve da Alzheimer Portugal: Urbanização do Pimentão, lote 2, Cave, Gabinete 3, Três Bicos, 8500-776 Portimão - Telemóvel: 965 276 690 - E-mail: geral.algarve@alzheimerportugal.org
 Público ClassiÄcados • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024 • 25

 

         


 
 
 

      

 


 



 
 


         

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26 • Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024
Cultura Le Monde Comme Il Va na Bolsa de Comércio de Paris
Colecção
Pinault
expõe a frágil
verdade de
um mundo
que nos assusta
Le Monde Comme Il Va, exposição na
Bolsa de Comércio de Paris com algumas
das 10 mil obras da Colecção Pinault: o
conto ÄlosóÄco de Voltaire com o mesmo
nome é o ponto de partida
Alexandra Prado Coelho,
em Paris
Uma das salas de exposição da Bolsa
do Comércio — Colecção Pinault, em
Paris, está cheia de homens, de idade
avançada, cabelos brancos já ralos,
sentados em cadeiras de rodas, man-
tendo a dignidade possível. Um deles,
vestido de almirante da Marinha,
parece conversar com outro, mas
alguns estão claramente adormecidos
como o de longas barbas brancas,
duas medalhas no casaco e keffiyeh
na cabeça que pende para trás, junto
a um padre ortodoxo e a outro idoso,
de fato cinzento-claro, com o Finan-
cial Times pousado sobre a manta que
lhe aquece os joelhos.
Avançamos pela sala e algumas das
cadeiras de rodas movem-se lenta-
mente, recuando, ou fazendo um
pequeno círculo, sem que os seus
ocupantes saiam do torpor em que se
encontram. A peça Old People’s Home
(2007), dos artistas chineses Sun
Yuan & Peng Yu, é uma das escolhi-
das, entre as cerca de 10 mil que com-
põem a colecção Pinault, pelo cura-
dor Jean-Marie Gallais para a exposi-
ção Le Monde Comme Il Va (de 20 de
Março a 2 de Setembro).
As obras reunidas pelo bilionário
francês François Pinault ao longo dos
últimos 50 anos, num panorama que
vai dos anos 1960 até hoje, ganharam
desde Maio de 2021 um novo museu
na antiga Bolsa de Comércio de Paris,
edifício histórico adaptado pelo arqui-
tecto japonês, e prémio Pritzker,
Tadao Ando.
Fazendo lembrar os grandes diri-
gentes do mundo, os 13 idosos cria-
dos por Sun Yuan & Peng Yu “encar-
nam aqui tanto uma visão patriarcal
e patológica do poder quanto a deca-
dência das instâncias dirigentes,
através da senilidade e da vontade
de existir”, lê-se no texto de apoio.
Observamos os traços hiper-realistas
e os gestos impotentes destes fantas-
mas do poder passado enquanto
contornamos as cadeiras de rodas
eléctricas.
Consciênca do presente
Le Monde Comme Il Va reúne obras
criadas sobretudo desde os anos 1980
partindo do título do conto ÆlosóÆco
de Voltaire, cujo narrador, Babouc,
observa Persépolis, entre a admira-
ção e a repulsa pelo comportamento
dos seus habitantes — “como podem
vocês reunir tanta baixeza e grande-
za, tantas virtudes e tantos crimes?”.
É este o Æo condutor — a “consciência
aguda do presente”, nas palavras de
Jean-Marie Gallais — que liga as obras
desta exposição.
Na mesma sala por onde deambu-
lam as cadeiras de rodas, duas imen-
sas tapeçarias a preto e branco
enfrentam-se. Of what is, that it is; of
what is not, that it is not 1 e 2, da artista
polaca Goshka Macuga, realizadas em
2012 para a documenta 13, mostram,
de um lado, “uma multidão de afe-
gãos e ocidentais reunidos em frente
às ruínas do Palácio de Darulaman,
edifício de estilo europeu situado em
Cabul”, e do outro “um grupo de mili-
tantes e personalidades do mundo da
arte — entre os quais a própria artista
— reunidos nos jardins da Orangerie
em Kassel [Alemanha], arquitectura
real do século XVIII europeu”.
São dois espaços históricos que têm
em comum “o facto de terem sido
parcialmente destruídos no século
XX na sequência de conÇitos interna-
cionais”, o que torna particularmen-
te irónica a dança lenta dos ex-líderes
mundiais envelhecidos e adormeci-
(Sentido dos ponteiros do
relógio): Old People’s Home
(2007), de Sun Yuan & Peng Yu;
Of what is, that it is; of what is
not, that it is not 1, de Goshka
Macuga; Him (2001), de
Maurizio Catellan; Untitled #571
de Cindy Sherman
Le Monde Comme
Il Va reúne obras
desde os anos 80
partindo do conto
de Voltaire
dos perante os mundos destruídos
pela política e as guerras.
É curioso cruzar a imagem dos
velhos dirigentes com a Ægura com
que nos confrontamos, num crescen-
te desconforto, numa pequena sala
com uma luz ténue, na galeria 7 do
segundo piso. Vista por trás, quando
entramos, a Ægura parece uma crian-
ça, ajoelhada, virada para um canto,
como quem reza, roupas antigas, que
remetem para os anos 1930, cabelo
com brilhantina, colado à cabeça. É
só quando a contornamos que a peça
Him (2001), de Maurizio Cattelan, nos
atinge como um murro no estômago:
a “criança” tem o rosto de Hitler.
Menos directa mas igualmente
impactante é Tabula Rasa VII (2018-
-2020), da colombiana Doris Salce-
do. Como acontece muito no traba-
lho desta artista, fala-se aqui da
reconstrução após um trauma pro-
fundo, neste caso o conÇito armado
na Colômbia: uma mesa foi partida
em mil pedaços e cuidadosamente
reconstruída. À distância, parece
praticamente inteira, mas vista de
perto exibe os sinais das inúmeras
cicatrizes, apesar das hastes de aço
que incorpora para manter a estabi-
lidade, tal como um corpo humano
destruído.
Todas as obras são políticas, se
entendermos a política na sua con-
cepção mais ampla, mas nem todas
o são de forma tão evidente como
estas. Os olhares pelo “mundo como

FOTOS: DR
ele é” levam-nos, por exemplo, a
Untitled #574 e Untitled #571 (ambas
de 2016), fotograÆas de Cindy Sher-
man de uma série na qual a artista
se representa ao estilo de velha
actriz de cinema, uma mulher dos
anos 20, num glamour já um pouco
embaciado e fragilizado, questiona-
mento sobre a representação este-
reotipada do feminino.
E o que faz o lúdico e festivo Bal-
loon Dog (Magenta) (1994-2000), de
Jeè Koons, numa exposição sobre o
estado do mundo? Esta “obra muito
optimista”, nas palavras do artista,
transporta uma inquietação escon-
dida, como se um palhaço brincasse
com um balão numa festa de aniver-
sário e, criando uma forma com
uma clara carga sexualizada, a usas-
se como “um cavalo de Tróia” (a
expressão é do texto que acompa-
nha a peça), oferecendo-a a uma
criança.
O caos do mundo surge evidente
nas impressionantes telas de Anne
Imhof, Untitled (2022), tríptico que,
escreve Emma Lavigne, directora da
Colecção Pinault, num texto de
apoio, “não tem título, como se
nenhuma palavra pudesse qualiÆcar
a cena de apocalipse que ali se desen-
rola, onde nuvens atómicas e crepus-
culares parecem escapar do quadro
e contaminar o espaço”. São as “bele-
zas convulsivas da Terra” que nos
deixam mudos, sem chão.
Mas o caos, o medo (e o silêncio) do
Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024 • 27
Kimsooja, a coreana
que nos oferece o reflexo do céu
A
arte transforma a nossa
forma de ver o mundo – e é
precisamente isso que,
com infinita delicadeza, faz
a artista coreana Kimsooja, que
recebeu carta-branca da
directora da Colecção Pinault,
Emma Lavigne, para uma
intervenção no magnífico
espaço da Rotunda do edifício
da Bolsa de Comércio, o
coração do museu.
“Quero criar obras que sejam
como a água e o ar, que não
possam ser possuídas, mas que
se possam partilhar com todo o
mundo”, diz a artista, que cobriu
o chão da Rotunda com um
espelho, modificando
totalmente a nossa percepção.
A cúpula da Rotunda exibe uma
pintura circular do mundo
assinada por cinco pintores: a
Alexis-Joseph Mazerolle
(1826-1889) couberam os pontos
cardeais, Evariste-Vital Luminais
(1821-1896) ficou com as
Américas, Désiré-François
Laugée (1823-1896) com o
império russo e os países do
Norte, Marie-Félix
Hippolyte-Lucas (1854-1925)
com o resto da Europa, e a África
e Ásia foram confiadas a Victor
Georges Clairin (1843-1919).
Trata-se, na descrição feita
pelo Le Monde, de uma
“apologia ligeiramente lírica do
comércio internacional, num
período em que a
industrialização da França se
baseia, por um lado, nas trocas
comerciais com as potências
europeias e norte-americanas e,
por outro, na colonização em
África e na Indochina”. É esta
visão do mundo “muito III
República” que Kimsooja
duplica, reflectindo-a no chão,
sob os nossos pés, num universo
momento que pode mudar tudo para
sempre materializam-se também, de
forma mais próxima do humano, no
Ferrari vermelho destruído num aci-
dente, na peça Dino (1993), um ready-
-destroyed de Bertrand Lavier. Tal
como a impotência, fragilidade e a
ridícula esperança se materializam no
enorme armário carregado de todo o
tipo de medicamentos, The Fragile
Truth (1997-1998), do britânico
Damien Hirst.
Não será por acaso que a tela Peli-
can (Stag) (2003-2004), de Peter
Doig, foi a escolhida para a capa do
catálogo da exposição. A Ægura de
um homem de tronco nu, que pare-
ce ter sido surpreendido no meio da
natureza, transforma-nos ao mesmo
tempo em voyeurs e em objectos do
que não tem um princípio ou um
fim. Chamou-lhe To Breathe –
Constellation (2024).
A artista coreana, que estudou
pintura em Seul, mas que
trabalha com performance,
vídeo e objectos, centrando-se
em temas como a costura (no
auditório da Bolsa podem ser
vistos os seus filmes Thread
Routes, “poema épico a partir de
gestos ao mesmo tempo ínfimos
e virtuosos” da costura), ocupa
também, com uma série de
objectos, as 24 vitrinas da
Passagem, o espaço que rodeia
a Rotunda, além de apresentar a
instalação-vídeo A Needle
Woman, quatro ecrãs em que
aparece imóvel, de costas,
enfrentando a multidão agitada
que percorre as ruas de quatro
cidades, Xangai, Nova Deli,
Tóquio e Nova Iorque, “presença
anónima, quase invisível, que se
inscreve, pela sua imobilidade e
verticalidade, como uma agulha
no tecido do mundo”.
Alexandra Prado Coelho
voyeurismo, como se também nós
tivéssemos sido surpreendidos por
essa Ægura que nos encara a partir
de um túnel de luz que se desenha
no meio do quadro, vindo de um
mundo que tem algo de subtilmente
ameaçador.
Nesta tela pintada em Trindade,
nas Caraíbas, Peter Doig parte da
memória de um homem que um dia
surpreendeu a matar um pelicano
numa praia — o animal não aparece
na pintura e a Ægura do homem é ins-
pirada numa fotograÆa representan-
do um pescador indiano, mas a essên-
cia do acto de matar o pelicano, essa
mistura de mal e de beleza, de sangue
e de penas, está lá, mesmo sem estar.
É, de novo, a estupefacção de Babouc
perante Persépolis.
28 • Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024
Cultura
Morreu Ziraldo,
o génio que
desenhou o
Brasil e a infância
Obituário
Mário Lopes
Ziraldo (1932-2024)
Cartoonista corajoso, nome
maior da literatura infantil
brasileira, morreu no
sábado aos 91 anos
Cartoonista tão talentoso e
inÇuente quanto corajoso,
desarmando com humor e imagem
a ditadura brasileira nos anos de
maior repressão, nome maior da
literatura infantil brasileira, criador
da revista de BD Turma do Pererê e
do livro Flicts e da personagem
Menino Maluquinho, que viajou
pelo mundo inteiro geração após
geração, Ziraldo morreu na tarde
de sábado, em sua casa, no Rio de
Janeiro, aos 91 anos, de falência de
múltiplos órgãos. A informação foi
conÆrmada à Folha de São Paulo
por Daniela Thomas, Ælha do
artista e realizadora, co-autora,
com Walter Salles, de Terra
Estrangeira.
Ziraldo teve uma carreira
profícua e criou cartoons e
personagens consideradas
emblemáticas da literatura infantil.
Os seus livros venderam mais de 10
milhões de exemplares e foram
publicados em vários idiomas.
Nascido em Caratinga, Minas
Gerais, a 24 de Outubro de 1932, as
suas primeiras memórias seriam
certamente de si a inventar
mundos, a desenhar no mundo.
Desenhava sempre: em papel, no
chão da rua, nas paredes.
Formou-se em Direito em Belo
Horizonte, em 1957, mas, no
momento da sua morte, esse facto
não passa de nota biográÆca
lateral. Ziraldo, aÆnal, desenhava.
Tinha apenas seis anos quando
viu o seu primeiro desenho nas
páginas de um jornal. Na época, foi
a sua mãe quem enviou o trabalho
à extinta Folha de Minas. Esse foi só
o começo de uma longa relação
com a imprensa. Depois disso,
publicou n’O Cruzeiro e no Jornal
do Brasil.
No entanto, foi pelo seu trabalho
no jornal O Pasquim, inÇuenciado
por nomes como Steinberg, Ronald
Searle, André François ou Manzi e,
principalmente, pelo Brasil e pelo
seu contexto, que se tornou uma
Ægura conhecida no país. Com
humor, linguagem ácida e
provocativa nos anos de maior
repressão da ditadura militar, a
publicação, crítica ao regime e
espaço de liberdade e de aÆrmação
da revolução social, sexual e
cultural da geração dos anos 1960,
ditou tendências no jornalismo
brasileiro.
Pelo seu engajamento político,
foi preso três vezes, a primeira
delas em Dezembro de 1968, um
mero dia após a entrada em vigor
do Acto Constitucional Número 5
que oÆcializou o endurecimento da
repressão da ditadura. Nem por
isso deixou de desenhar. Na cela,
continuou o seu ofício e usava o
seu conjunto de canetas para
desenhar, às vezes um simples
limoeiro que imaginava no pátio
cinzento do local.
Seria novamente preso em 1969,
o mesmo ano em que é distinguido
com o prémio principal do 32.º
Salão Internacional de Caricaturas
de Bruxelas e em que recebe outro
prémio, o Merghantealler,
atribuído pela Associação
Internacional de Imprensa,
homenageando o seu trabalho por
uma imprensa livre na América
Latina. Nessa ocasião, não foi
apenas Ziraldo a ser preso, mas
toda a redacção de O Pasquim.
Apesar de todas as pressões, do
perigo físico que correu, dizia em
2007 à Folha de São Paulo que “ter
podido atravessar os anos de
chumbo da ditadura fazendo o
Pasquim foi uma dádiva.
Morríamos de medo, mas
fazíamos de tudo”.
Ele é a orquestra inteira
O desenho foi a sua vida, foi
trabalho, descoberta constante,
alegria imensa, como
testemunhou ao longo dos anos
Daniela Thomas, que o via a
desenhar “cantando,
assobiando, batendo o pé no
chão”: “Ele é a orquestra inteira”,
escreve Daniela nos livros da
colecção ABZ, iniciada em 2003.
Através do desenho, Ziraldo
multiplicou-se: cartoonista,
escritor, pintor, dramaturgo,
Ziraldo teve uma carreira
profícua e criou personagens
emblemáticas da literatura
infantil, como o Menino
Maluquinho
RUI GAUDÊNCIO
cronista, apresentador, autor de
cartazes de títulos emblemáticos
do cinema brasileiro, como Os
Cafajestes (1962) e Os Fuzis (1964),
de Ruy Guerra. Ficará para sempre
associado, porém, à sua obra na
literatura infantil, principalmente a
partir do momento em que revela
ao mundo, em 1980, O Menino
Maluquinho, que perdura como a
mais reconhecida das suas
criações.
Já era longa, porém, a sua
actividade nessa área, onde
procurava encaminhar o seu traço
para uma ideia de universalidade
essencial. “Todos eles têm a
carinha redondinha, eu só mudo as
feições, os tracinhos da cara, o
penteado no cabelo, mas a
estrutura é a mesma para todos,
isso é mesmo a busca da
simplicidade”, explicava, citado,
ontem, no obituário do Jornal
Nacional da Globo.
Nos anos 1960, o saci-pererê,
personagem da mitologia do
folclore brasileiro, criado por
Ziraldo tornou-se a personagem
principal da primeira revista em
quadradinhos brasileira, A
Turma do Pererê. Em 1980,
chegaria então o Menino
Maluquinho, que se tornaria
um fenómeno editorial.
Há dez anos, disse à Folha de São
Paulo que decidira criar a sua
personagem mais conhecida após
uma palestra com pais e
professores sobre a educação dos
Ælhos. “Disse que devíamos
preparar os Ælhos para o dia de
hoje, pois o futuro será feito de
muitos ‘hojes’”, disse. Quando
chegou a casa, já tinha a ideia do
livro na cabeça. Nasceu
Maluquinho, que vive um dia de
cada vez, intensamente.
Desde Março deste ano que está
em cartaz no Centro Cultural
Banco do Brasil do Rio de Janeiro a
mostra Mundo Zira — Ziraldo
Interativo em que, como o título
indica, se pode interagir com os
desenhos de Ziraldo.
“Ziraldo foi um dos dois ou três
maiores artistas gráÆcos da história
do Brasil”, diz o escritor Ruy
Castro, citado pelo jornal
brasileiro. “Ele era capaz de criar
marcas, lettering. Era capaz de
fazer tudo graÆcamente. Ziraldo
desenhava enquanto conversava
com 30 pessoas ao mesmo tempo.
Era capaz de tudo. Cansei-me de o
ver fazer isso. Ele criou
personagens que marcaram
épocas, como a Supermãe, o
Jeremias, o Bom, e os Zeróis, uma
paródia aos super-heróis, tudo isso
antes do Menino Maluquinho.”
Segundo o autor de livros
infantis Ilan Brenman, Ziraldo
revolucionou a literatura para
crianças por não subestimar a
inteligência dos jovens. “Tinha
muito respeito pela sensibilidade e
pela inteligência dos leitores. Não
menosprezava os jovens e não
achava que qualquer coisa valia
para eles.” Os livros Flicts, de 1969,
serão um exemplo disso. É a
história de uma cor solitária que
todas as outras acham feia. “É uma
história maravilhosa sobre
sentimentos e emoções que pode
pegar desde crianças pequenas aos
adolescentes, passando pelos
adultos. É uma obra que mostra a
qualidade do trabalho dele.” Um
sucesso interplanetário. O primeiro
homem a pisar a lua, Neil
Armstrong, leu o livro e, em nota
enviada a Ziraldo, conÆrmou: “A
lua é Çicts”.
“A literatura infantil brasileira
não seria absolutamente nada sem
o Ziraldo”, conclui Brenman.
Em 2019, Ziraldo surgiu
publicamente pela primeira vez,
através de uma mensagem vídeo,
depois de um AVC sofrido no ano
anterior. “Podem achar que estou
um pouco triste, falando devagar,
porque não é o meu estilo.
Acontece que eu de repente Æquei
velho. Foi no outro dia. Eu acordei
de manhã e estava velho. Mas estou
alegre, estou feliz da vida”.
Enganava-nos com humor. A sua
obra e o seu legado não mentem.
Ziraldo nunca envelheceu. com
Letícia Moreira, Folha de São Paulo
 Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024 • 29

Poesia Pública Por Gisela Casimiro

Abril – o cravo vem

1.

Abril — o cravo vem

chamar a liberdade
para brincar

2.

Na mesa de voto
escrevi o poema
a revolução

3.

Uns pulmões que

faísquem na voz —
a ignição da revolução

4.

Meço a minha liberdade

por quantas pessoas
ainda falta libertar

5.

Do sangue feito seiva

brota a Çor da marcha
concreta da liberdade

Gisela Casimiro (Guiné-Bissau, 1984) é escritora, artista, oradora, performer e activista portuguesa. Publicou Erosão, Giz e Estendais. Traduziu e escreveu o
prefácio de Irmã Marginal, de Audre Lorde. É autora da dramaturgia de Casa com Árvores Dentro, encenado por Cláudia Semedo. Fez apoio à dramaturgia de
Blackface!, de Marco Mendonça, e apoio à criação de Belonging, de Raquel André. Coordena o Clube de Leitura do Batalha Centro de Cinema com Teresa
Coutinho. É membro fundador da UNA – União Negra das Artes.

Poesia Pública é uma iniciativa do Museu e Bibliotecas do Porto comissariada por Jorge Sobrado e José A. Bragança de Miranda, com o apoio media do PÚBLICO. Ao longo de 50
dias publicaremos 50 poemas inéditos de 50 autores sobre revolução. Veja mais em publico.pt
30 • Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024
Ciência e Ambiente Astronomia
América do Norte pára para ver o último
eclipse solar total dos próximos 20 anos
Eclipse solar total de hoje será visível do México ao Leste do Canadá, e é um jackpot turístico fora
de época. Uma nova oportunidade na América do Norte, exceptuando o Árctico, só em 2044
Pedro Guerreiro, em Burlington
Serão dois ou três minutos de escuri-
dão total em pleno dia, com estrelas
visíveis no céu, talvez mesmo com
um Mercúrio luminoso à espreita,
uma queda brusca da temperatura e
o ruído de animais noctívagos com as
horas trocadas. Um eclipse solar total
é um espectáculo raro, uma oportu-
nidade que não se repete para a
esmagadora maioria dos mortais. “Se
Æcar quieto num sítio e esperar que
um eclipse solar total venha até si, vai
ter de esperar 360 anos em média”,
explicava esta semana ao jornal Seven
Days o astrofísico John Perry, da Uni-
versidade do Vermont, nos EUA.
Hoje, a Lua cobre o Sol por comple-
to ao longo de uma populosa faixa da
América do Norte, desde o Norte do
México ao Leste do Canadá, passando
por cidades como Mazatlán (México),
Austin, Dalas, Indianápolis, Cleve-
land, Burlington (EUA) e Montreal
(Canadá). Mais de 30 milhões de pes-
soas vivem ao longo desse corredor
com milhares de quilómetros de com-
primento e apenas 115 de largura.
Em Dalas, no Texas, a fase parcial
do eclipse começa às 12h23 locais
(18h23 em Portugal continental) e a
total decorre entre as 13h45 e as 13h49
(mais seis horas em Lisboa). Em Mon-
treal, no Canadá, já na ponta Leste da
faixa, a fase total do eclipse dá-se a
partir das 15h26 locais (20h26 em
Portugal continental) e prolonga-se
por cerca de três minutos.
É só naquele corredor que o eclip-
se solar será visível a 100%, e são só
esses 100% que proporcionam o
espectáculo de uma curta noite em
pleno dia. Uma oclusão de 99% não
basta para obter esse efeito, têm repe-
tido os astrónomos norte-america-
nos, que desaÆam quem mora perto
da faixa de escuridão total a deslocar-
se os quilómetros em falta para assis-
tir ao fenómeno na sua plenitude.
E os norte-americanos, tal como os
mexicanos, canadianos e não só, têm
correspondido ao desaÆo. Desde o
Ænal da semana que milhões de pes-
soas têm acorrido a estados e cidades
na rota do eclipse solar total, esgotan-
do hotéis e alojamentos locais, ani-
mando o comércio, mas apresentan-
do também um quebra-cabeças logís-
tico e securitário às autoridades.
No lado canadiano da fronteira, o
município canadiano de Niagara
declarou preventivamente o estado
de emergência, logo na última quinta-
Eclipse solar total em 2017, que foi visível nos Estados Unidos
O trajecto do eclipse solar total de 8 de Abril de 2024
CANADÁ
EUA
MÉXICO
Fonte: https://www.space.com/ PÚBLICO
feira, perante a previsão de engarra-
Mais de 30 milhões famentos nas estradas, de equipas de
de pessoas vivem segurança e de socorristas esgotadas,
e de redes de telecomunicações
ao longo do móveis entupidas.
corredor, na No pequeno estado norte-ameri-
cano do Vermont, com pouco mais
América do Norte, de 600.000 habitantes, esperam-se
onde será visível o hoje até 200.000 visitantes atraídos
pelo eclipse solar e por uma previ-
eclipse solar total são meteorológica favorável à sua
visibilidade. As autoridades esta-
JONATHAN ERNST/REUTERS
duais aconselham os moradores a
evitarem deslocações e pedem a
estes e aos turistas que, se saírem de
carro, que o façam com o depósito
de combustível cheio e com água e
alimentos suÆcientes para muitas
horas de trânsito nas estradas. Mui-
tas escolas e universidades estarão
encerradas, bem como fábricas e
empresas, e os funcionários públi-
cos não essenciais vão Æcar a traba-
lhar a partir de casa.
Mas apesar do caos, o ambiente é
de entusiasmo. Não só pela especta-
cularidade e raridade do fenómeno
celestial, mas porque este movimen-
to inusitado de massas é um jackpot
turístico fora de época.
Em Burlington, a maior cidade do
estado do Vermont, onde são espe-
rados 50.000 visitantes, os hotéis
estão lotados, os restaurantes têm
reservas completas e, já na quinta-
feira, era visível a falta de alguns pro-
dutos nos supermercados. Vendem-
se óculos para visualizar o eclipse em
segurança (as autoridades repetem
que olhar directamente para o Sol
pode causar danos irreversíveis na
vista) e anunciam-se concertos de
rua. Hoje, o aeroporto local estará
encerrado por algumas horas e tor-
nar-se-á um recinto de festa para
dezenas de milhares de pessoas.
O cenário repete-se ao longo desta
faixa continental, incluindo nos céus.
A Delta Air Lines efectua hoje um voo
especial entre Austin e Detroit, esgo-
tado há mais de um mês, em que os
passageiros podem acompanhar o
percurso do eclipse de sul para nor-
te, prolongando os dois ou três minu-
tos do fenómeno por algumas horas.
Em terra, o interesse abrange até
quem está atrás das grades — no esta-
do de Nova Iorque, de acordo com a
Associated Press, seis reclusos apre-
sentaram uma acção em tribunal
para exigir que os serviços prisionais
os deixem ver o eclipse, alegando
estar em causa a sua liberdade reli-
giosa.
O entusiasmo não é para menos.
Mesmo com dois eclipses solares
totais, parciais ou anulares a ocorrer
anualmente, em média, em algum
ponto do planeta, a sua repetição
numa região concreta é muito menos
frequente. Depois de hoje, os norte-
americanos terão de esperar 20 anos
até aos próximos eclipses solares
totais nos 48 estados continentais
contíguos (exceptuando o de 2033
na costa árctica do Alasca) — a 23 de
Agosto de 2044, numa zona remota
do Montana e Dacota do Norte, e a 12
de Agosto de 2045, numa faixa mais
habitada, da Califórnia à Florida.
Na Península Ibérica
Em Portugal, a melhor oportunidade
para assistir a um eclipse solar total
nas próximas décadas dá-se já a 12 de
Agosto de 2026, numa estreita par-
cela de território no Nordeste trans-
montano. Depois, a Península Ibéri-
ca será palco de outro eclipse solar
total a 2 de Agosto de 2027 (começa
no meio do Atlântico, passa pelo
estreito de Gibraltar e segue pelo
Norte de África até ao Índico) e ainda
um eclipse solar anular a 26 de Janei-
ro de 2028 (atravessa a América do
Sul e o Atlântico, passa na ilha da
Madeira e vai até ao Mediterrâneo).
Numa área geográÆca restrita, a
Península Ibérica, teremos uma
sequência de três eclipses solares
centrais — ou seja, não parciais —, o
que é bastante raro. Depois dessas
datas, oportunidade só para gera-
ções futuras: a ilha de São Miguel terá
um eclipse solar total a 25 de Maio de
2142; em Portugal continental, o
espectáculo só se repete a 17 de Julho
do longínquo ano de 2205.

Fallout: estamos prontos para outro
apocalipse (numa série)
Jonathan Nolan fala ao PÚBLICO da produção da Prime Video que se estreia dia 11
com Walter Goggins e Ella Purnell misturando comédia, violência e Äcção cientíÄca
Entrevista
Joana Amaral Cardoso
Na próxima sexta-feira, a Amazon
Prime Video estreia uma
aguardada série que há um ano
reuniria menos expectativas…
porque é mais uma adaptação de
um videojogo. Mas entretanto
aconteceu The Last of Us (HBO) e
Fallout, que deriva do franchise de
jogos mais vendido do mundo,
ganha novo fôlego na antecâmara.
Sobretudo porque tem o selo
Jonathan Nolan (irmão de
Christopher) e Lisa Joy, que
governaram e depois
desgovernaram Westworld.
Numa entrevista por
videochamada, o Nolan mais novo
explica que não sendo um gamer
começou a jogar com Fallout 3 há
muito e que, como qualquer
produtor executivo que se preze,
valoriza “a história”. Convém
também mencionar que é mais uma
história sobre como sobreviver após
o apocalipse. Mas tem comédia, um
tom camp, e um ambiente anos
1950 que o diferenciam. Walter
Goggins e Ella Purnell, mais Kyle
MacLachlan, dão os pozinhos em
falta no cogumelo nuclear.
Que elementos do jogo, para
além das premissas óbvias de um
RPG [role-playing game, em que
o jogador se torna uma das
personagens] num ambiente
pós-nuclear, teve de incluir na
série? E que parte é uma história
original?
O mais essencial na adaptação foi o
tom. Estes jogos são impossíveis de
adaptar num sentido tradicional – a
mesma personagem pode se
interpretada como um vilão ou um
herói. Fizemos uma adaptação
aterradora, mas uma adaptação
perfeita. A nossa série consegue
ligar-se ao resto da mitologia deste
universo em que o objectivo é
transmitir emotividade, algo de
sombrio. É violento mas também
rico e estranho e divertido e
engraçado - e político. Quando
olhamos para uma adaptação,
Aki Kaurismaki
O cinema do realizador finlandês é um porto de
abrigo, um suplemento de reserva moral e de ética
de que os espectadores e o cinema contemporâneo
estão necessitados como de água para a boca.
Folhas Caídas, o seu último filme, destaca-se nas
propostas da plataforma Filmini
perguntamo-nos: “Porque é que
estou a pegar nesta coisa e a
traduzi-la para outro meio? Há aqui
algo essencial que queira partilhar
com o público?” E para mim era o
mundo, claro, mas também o tom.
E até que ponto o
co-argumentista de Insterstellar,
Memento ou O Cavaleiro das
Trevas se sente confortável na
comédia?
Não foi confortável. E isso foi
divertido, pois tive a oportunidade
de sair da zona de conforto. Nas
colaborações com o meu irmão e
É uma história
sobre o início de
um novo mundo
em que as velhas
hierarquias
caíram por terra e
há oportunidade
para construir um
mundo melhor,
mais justo
nas outras séries em que trabalhei,
ou com Lisa, a minha mulher, em
Westworld, sempre tentámos
introduzir leveza, mas nunca
comédia directa. Na televisão há
uma grande divisão entre
argumentistas de comédia e
argumentistas de drama.
Dizem-nos para nos mantermos na
nossa faixa. Um dos aspectos
estimulantes e aterrorizantes de
Fallout foi não termos esse luxo de
nos mantermos na nossa faixa de
rodagem.
O apocalipse é um tema nas
histórias que a televisão e o
cinema nos contam. E está
presente nas perspectivas mais
terríveis do mundo real —
guerras, crise climática,
populismos. Qual é o papel de
Fallout no meio de tudo isto?
Ficaria aterrorizado com a ideia de
ter qualquer responsabilidade de ten-
tar resolver a confusão em que nos
encontramos. Fallout é como um
memento mori, é um lembrete disso.
Muitas vezes vemos pessoas, na Amé-
rica, a entregarem-se a este tipo de
fantasia de guerra civil. É bom recor-
dar que o mundo, a cultura e a civili-
zação são coisas muito preciosas.
Fallout tem um pano de fundo
western. O que é que se passa
com a forma como os
americanos encaram a distopia
Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024 • 31
ecrãs
DR
na cultura actual?
Não tenho a certeza. Cresci como um
miúdo inglês e depois mudei-me para
os EUA quando tinha 11 anos e, logo
de início, fui confrontado com uma
outra cultura. O primeiro dos Ælmes
que vi quando cheguei à América foi
Amanhecer Violento [de John Millius,
1984]. Uma visão bastante indutora
de pânico de uma certa América.
Há o facto de nos considerarmos
a última geração e, por conseguinte,
a mais importante. O narcisismo de
não conseguirmos imaginar que
podemos ser apenas uma geração
intermédia, que é o que eu espero
desesperadamente que sejamos —
uma geração muito pouco notável,
que conseguiu sobreviver e tornar a
vida mais agradável para os nossos
filhos. Desde os gregos que
percebemos que uma boa narrativa
é muitas vezes conduzida nos
extremos, no limite da existência
humana, e talvez não haja história
mais emocionante do que o fim, o
fim de tudo.
Ser só mediano deixa espaço
para optimismo neste momento?
Para mim, a um nível temático mais
profundo, Fallout é uma história bas-
tante optimista. É sobre o início de
um novo mundo em que muitas das
velhas hierarquias caíram por terra e
há uma oportunidade para construir
um mundo melhor, mais justo.
Guia
publico.pt/streaming
Estreias da semana
NETFLIX
Amores
e Rebeldia
Quinta-feira
Talvez reconheça
mais facilmente este título
se formos pelo original em
inglês: Heart Break High.
É a segunda temporada da
série que começava com
uma lista escondida das ligações
amorosas ou sexuais entre
alunos de uma escola.
Oito episódios.
Neal Brennan:
Crazy Good
Quarta-feira
Especial de stand-up
do homem dos quadrados,
desta feita sob o tema da
sua boa disposição (não é
costume) e tocando outros
como a criptomoeda,
milionários, saúde mental
e relações.
GLOBOPLAY
Os Evangélicos
Segunda-feira
Série documental sobre
o Brasil de hoje e a inÇuência
do cristianismo evangélico,
cujos membros estão a
caminho de se tornarem
o maior grupo religioso do país.
Criada e dirigida por Alberto
Renault, mergulha nas vidas
dos crentes.
FILMIN
Folhas Caídas
Quinta-feira
Obra-prima de Aki Kaurismaki,
disponível para aluguer
por 3,95 euros. Ansa é
solteira e vive em Helsínquia,
onde trabalha num
supermercado.
Uma noite, conhece
Holappa, um trabalhador
alcoólico. Tentam construir
uma relação
32 • Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024
Guia
Cinema
Porto
Cinema Trindade
R. Dr. Ricardo Jorge. T. 223162425
A Zona de Interesse M12. 16h; Meu Nome
é Gal M12. 14h20; A Paixão Segundo G.
H. 19h; Culpado - Inocente - Monstro M12.
19h; A Flor do Buriti M12. 18h; Eureka
21h30; Evil Does Not Exist - O Mal Não Está
Aqui 21h45; How to Have Sex - A Primeira
Vez M14. 20h10; Uma Mulher é uma
Mulher M12. 17h15;
Cinemas Nos Alameda Shop e Spot
R. dos Campeões Europeus 28 198. T. 16996
Pobres Criaturas M16. 21h30; Dune - Duna:
Parte Dois M12. 13h20, 17h, 20h40; O Panda
do Kung Fu 4 M6. 13h30, 16h10, 19h (VP);
Godzilla x Kong 18h10; Imaculada M16.
21h10; Os Gigantes de La Mancha M6.
13h15, 15h40 (VP); Homem Macaco M12.
13h50, 17h10, 20h30; O Génio do Mal:
O Início M16. 13h10, 16h, 18h50, 21h50;
Parece que Estou a + M12. 16h20; Uma Vida
Singular M12. 13h25, 16h05, 18h40, 21h20;
O Hotel Palace M12. 13h40, 19h10, 21h40
Medeia Teatro Municipal Campo Alegre
R. das Estrelas. T. 226063000
O Faraó Negro,
o Selvagem e a Princesa 19h
Aveiro
Cinemas Nos Glicínias
C.C. Glicinias, Lj 50. T. 16996
Dune - Duna: Parte Dois M12. 14h, 20h30,
24h; O Panda do Kung Fu 4 M6. Sala Atmos
- 13h30, 16h, 18h30 (VP); Caça-Fantasmas:
O Império do Gelo M12. 17h30; Godzilla x
Kong: O Novo Império M12. Sala Atmos
- 12h30, 15h15, 18h, 20h45, 23h30;
Imaculada M16. 19h10, 21h45, 00h20; Os
Gigantes de La Mancha M6. 14h15, 16h45
(VP); Homem Macaco M12. 15h45, 21h15,
00h10; O Génio do Mal: O Início M16. 12h45,
15h30, 18h20, 21h30, 00h15; Uma Vida
Singular M12. 13h10, 18h40; O Hotel
Palace M12. 21h, 23h45
Braga
Cinemas Nos Braga Parque
Quinta dos Congregados. T. 16996
Todos Menos Tu M12. 14h10, 16h50; Bob
Marley: One Love M12. 21h20, 00h10; Dune
- Duna: Parte Dois M12. 13h20, 17h, 20h30,
23h50; O Panda do Kung Fu 4 M6. 16h40,
19h (VP/2D), 15h55 (VP/3D);
Caça-Fantasmas: O Império do Gelo M12.
13h, 16h30, 19h, 21h50, 00h35; The
Bricklayer: Missão Mortal 18h, 20h50,
23h40; Godzilla x Kong: O Novo
Império M12. 13h10, 16h, 21h40, 00h30
(2D), 18h50 (3D); Imaculada M16. 19h20,
22h, 00h20; Homem Macaco M12. 18h30,
21h10, 24h; O Génio do Mal: O Início M16.
13h05, 18h40, 21h30, 00h25; Uma Vida
Singular M12. 13h15, 15h50; A Minha Fada
Traquina M6. 13h25, 15h40 (VP); O Hotel
Palace 13h40, 16h10, 18h35, 21h, 00h05
Cineplace Nova Arcada - Braga
C. C. Nova Arcada, Av. De Lamas.
Inseparáveis M6. 13h, 15h (VP);
O Quebra-Nozes e a Flauta Mágica M6. 15h
(VP); Dune - Duna Xplace Atmos - 21h30;
O Meu Amigo Ninja 2 M6. 13h (VP); O Panda
do Kung Fu 4 M6. Xplace Atmos - 13h, 15h,
17h10, 19h20 (VP); Arthur Amigo para
Sempre 17h; Caça-Fantasmas: O Império
do Gelo M12. 19h, 21h40; Godzilla x Kong: O
Novo Império M12. Sala Atmos - 14h, 16h30,
19h, 21h30; Os Gigantes de La Mancha
M6. 13h, 15h, 17h (VP); Homem Macaco M12.
Sala Atmos - 14h20, 16h40, 19h, 21h20; O
Génio do Mal: O Início M16. 14h20, 16h50,
19h20, 21h50; Parece que Estou a + M12.
19h20; Uma Vida Singular M12. 17h, 19h20,
21h40; Miller’s Girl - A Favorita M14. 19h20,
21h30; A Minha Fada Traquina M6. 13h50,
15h40, 17h30 (VP); O Hotel Palace 21h20
Estreias
O Hotel Palace
De Roman Polanski. Com
Oliver Masucci, Fanny Ardant,
John Cleese, Bronwyn James,
Joaquim de Almeida, Luca
Barbareschi, Mickey Rourke.
ITA/SUI/POL/FRA. 2023.
100m. Drama. M12.
O luxuoso hotel Palace, na Suíça,
está a ser preparado para a festa
de passagem do ano 2000, que
contará com hóspedes exigentes
de todas as áreas e lugares do
mundo. Hansueli Kopf, o director
do hotel, está um pouco inseguro
sobre se a sua equipa estará à
altura de satisfazer os caprichos
de cada um dos convivas.
Eureka
De Lisandro Alonso. Com Viggo
Mortensen, Chiara Mastroianni,
Viilbjørk Malling Agger, Rafi
Pitts, Luísa Cruz. POR/FRA/
ARG. 2023. 147m. Drama.
Um drama que reÇecte sobre a
violência colonial inÇigida aos
povos indígenas ao longo dos
séculos. Através de várias
histórias, o realizador Lisandro
Alonso chama a atenção para a
importância da preservação das
tradições e modos de vida das
tribos nativas.
Homem Macaco
De Dev Patel. Com Dev
Patel, Sharlto Copley,
Pitobash, Sobhita Dhulipala.
EUA/Índia/CAN/SIN. 2024.
119m. Thriller. M12.
Um jovem indiano inicia uma
jornada de vingança contra os
responsáveis pela morte da sua
família. Nesse longo e árduo
percurso, onde vai ter muitas
contas a ajustar, ele acaba
transformado no defensor dos
pobres e oprimidos.
Miller’s Girl - A Favorita
De Jade Halley Bartlett.
Com Martin Freeman,
Jenna Ortega, Bashir
Salahuddin, Gideon Adlon.
EUA. 2024. 93m. Drama. M14.
Jonathan Miller é um escritor que
dá aulas de escrita criativa numa
Teatro Circo
Av. da Liberdade, 697. T. 253262403
Dias Perfeitos M12. 21h30
Castelo Branco
Cinebox
C.C. Alegro Castelo Branco. T. 760789789
O Panda do Kung Fu 4 M6. 14h, 16h30
(VP); Godzilla x Kong: O Novo Império
M12. 18h50, 21h40; Os Gigantes de La
Miller’s Girl -
A Favorita
escola secundária. É neste
contexto que se cruza com uma
talentosa estudante de 18 anos
que decide seduzi-lo e
destruir-lhe a carreira e a
credibilidade.
O Génio do Mal: O Início
De Arkasha Stevenson. Com
Bill Nighy, Charles Dance, Ralph
Ineson, Nell Tiger Free. EUA/
ITA. 2024. 120m. Terror. M16.
Quando Margaret, uma jovem
freira norte-americana, faz os
seus votos Ænais, concorda em
mudar-se para Roma e
entregar-se de corpo e alma à
Igreja. O que ela não imaginava
era ver-se envolvida numa
conspiração macabra com o
objectivo de fazer nascer o
anticristo.
Parece que Estou a +
De Denys Arcand. Com
Rémy Girard, Sophie Lorain,
Marie-Mai Bouchard, Yves
Jacques. CAN. 2023. 115m.
Drama. M12.
Jean-Michel é um senhor elegante
e gentil já na casa dos 70 que vive
num lar de idosos gerido pela
temperamental Suzanne
Francoeur. As suas vidas são
perturbadas quando um grupo de
activistas se instala à porta da
instituição, exigindo a remoção
de um quadro antigo que
considera gloriÆcar o
colonialismo.
A Minha Fada Traquina
De Caroline Origer. Com Jella
Haase (Voz), Lucy Carolan (Voz),
Alex Avenell (Voz). LUX/Peru/
ALE. 2022. 85m. Animação. M6.
Maxie, de 12 anos, Æcou
muito abalada por ter de
deixar a casa de campo onde
sempre viveu para se mudar
para o apartamento do novo
namorado da mãe, na cidade.
Simultaneamente, no país da
magia, a fada Violetta vê-se em
sérios trabalhos ao fazer um
exame e é acidentalmente
teletransportada para
o mundo dos humanos.
Mancha M6. 19h (VP); Homem Macaco
M12. 14h, 16h30, 21h30; O Génio do Mal:
O Início M16. 21h30; Uma Vida Singular
M12. 14h, 16h30; Anjos na Terra M12. 19h
Coimbra
Auditório Salgado Zenha
Universidade de Coimbra. T. 239410408
Ryuichi Sakamoto - Opus M12. 15h; How to
Have Sex - A Primeira Vez M14. 18h;
Cartaz, críticas, trailers
e passatempos em
cinecartaz.publico.pt
Casa do Cinema de Coimbra
Av. Sá da Bandeira 33. T. 239851070
A Flor do Buriti M12. 21h30;
Ryuichi Sakamoto - Opus M12. 17h15;
Cinemas Nos Alma Shopping
R. Gen. Humberto Delgado. T. 16996
Oppenheimer 21h10; Inseparáveis M6.
13h50, 16h30 (VP); Pobres Criaturas M16.
20h30; Bob Marley: One Love M12. 17h20;
Dune - Duna 14h, 17h30, 21h; O Panda do
Kung Fu 4 M6. 13h30, 16h10, 18h40 (VP);
Arthur Amigo para Sempre M12. 15h, 18h,
20h50; Caça-Fantasmas: O Império do
Gelo M12. 13h40, 16h20, 19h10, 21h50;
Imaculada M16. 14h20, 17h, 19h30, 22h;
Homem Macaco M12. 18h50, 21h30; Parece
que Estou a + M12. 14h30, 20h40; Uma Vida
Singular M12. 13h20, 15h50, 18h30, 21h40;
A Minha Fada Traquina 15h10, 17h40 (VP);
O Hotel Palace 14h10, 16h40, 19h, 21h20
Cinemas Nos Fórum Coimbra
Fórum Coimbra. T. 16996
Todos Menos Tu M12. 14h20, 17h, 19h50,
22h30; Dune - Duna: Parte Dois M12. 13h35,
17h45, 21h15; O Panda do Kung Fu 4 M6.
13h50, 16h30, 19h20 (VP); The Bricklayer:
Missão Mortal 22h15; Godzilla x Kong:
O Novo Império M12. 13h20, 16h15, 21h45,
19h; Os Gigantes de La Mancha M6.
14h35, 17h15 (VP); O Génio do Mal: O Início
M16. 14h05, 18h15, 21h30; Miller’s Girl
- A Favorita M14. 19h35, 22h
Figueira da Foz
Cinemas Nos Foz Plaza
C. C. Foz Plaza, R. Condados. T. 16996
Dune - Duna: Parte Dois M12. 20h45;
O Panda do Kung Fu 4 M6. 14h15, 16h40
(VP/2D); Caça-Fantasmas 19h15, 21h45;
Godzilla x Kong M12. 15h30, 18h20, 21h (2D),
18h15 (3D); Os Gigantes de La Mancha
M6. 14h45, 17h (VP); O Génio do Mal: O
Início M16. 14h, 17h15, 21h15, 21h30; Miller’s
Girl - A Favorita M14. 21h15; A Minha Fada
Traquina M6. 14h30, 17h30 (VP)
Gondomar
Cinemas Nos Parque Nascente
Praceta Parque Nascente, nº 35. T. 16996
Todos Menos Tu M12. 14h20, 17h20;
Beekeeper - O Protector M12. 22h30; Dune
- Duna: Parte Dois M12. 14h30, 18h05, 22h;
Amigo Imaginário M14. 22h10; O Panda do
Kung Fu 4 M6. 12h30, 15h10, 17h50 (VP);
Arthur Amigo para Sempre M12. 12h35, 15h,
17h30, 20h50, 23h20 ; Caça-Fantasmas:
O Império do Gelo M12. 22h20; Godzilla x
Kong: O Novo Império M12. Sala Atmos -
13h, 15h50, 18h40, 21h30, 00h20;
Imaculada M16. 13h10, 15h30, 18h10, 21h,
23h30; Os Gigantes de La Mancha M6.
11h, 13h30, 16h10, 18h50 (VP); Homem
Macaco M12. 12h20, 15h35, 18h45, 22h25;
O Génio do Mal: O Início M16. 12h50, 15h40,
18h30, 21h20, 00h10; Parece que Estou
a + M12. 13h20, 16h, 19h; Uma Vida
Singular M12. 13h50, 16h30, 20h30, 23h10;
No Way Up - Sem Saída M16. 21h50, 00h15;
Miller’s Girl - A Favorita M14. 20h40, 23h; A
Minha Fada Traquina 14h, 17h, 19h20 (VP)
Guarda
Cineplace La Vie - Guarda
C.C. La Vie. T. 271212140
Dune - Duna: Parte Dois M12. 21h10;
O Panda do Kung Fu 4 M6. 13h, 15h, 17h
(VP); O Panda do Kung Fu 4 M6. 14h (VP);
Caça-Fantasmas: O Império do Gelo M12.
16h10; Godzilla x Kong: O Novo
Império M12. 19h10, 21h40; Os Gigantes
de La Mancha M6. 13h, 15h (VP); Homem
Macaco M12. 17h, 19h20, 21h40; O Génio
do Mal: O Início M16. 16h50, 19h20, 21h50;
Uma Vida Singular M12. 18h50; A Minha
Fada Traquina M6. 13h10, 15h (VP)
Guimarães
Castello Lopes - Espaço Guimarães
25 de Abril, Silvares. T. 253539390
Dune - Duna 17h30, 20h45; O Panda do
Kung Fu 4 M6. 13h10, 15h25, 17h40 (VP);
Caça-Fantasmas M12. 14h15, 16h40,
19h05, 21h30; Godzilla x Kong: O Novo
Império M12. 14h20, 16h45, 19h10, 21h35;
Os Gigantes de La Mancha M6. 13h20,
15h25 (VP); Homem Macaco M12. 21h30;
Miller’s Girl - A Favorita M14. 17h, 19h05,
21h10; A Minha Fada Traquina 14h55 (VP)
Castello Lopes - Guimarães Shopping
Lugar das Lameiras. T. 253520170
Dune - Duna 14h15, 17h30, 20h45; O Panda
do Kung Fu 4 M6. 13h10, 15h25, 17h40 (VP);
Arthur Amigo para Sempre M12. 21h;
Caça-Fantasmas 14h15, 16h40, 19h05,
21h30; Godzilla x Kong M12. 14h20,
16h45, 19h10, 21h35; Os Gigantes de La
Mancha M6. 14h35, 16h40 (VP); Homem
Macaco M12. 19h05, 21h30; O Génio do
Mal: O Início M16. 19h, 21h30; A Minha
Fada Traquina M6. 14h25, 16h30 (VP)

Lazer
VISITAS
Grande Museu das Casinhas
de Bonecas
PORTO Rua Alferes Malheiro,
128. Desde 2/4. Segunda a sexta,
das 10h às 17h. 10€
O novo espaço museológico é
fruto da iniciativa privada de
Ângela Moreira, especialista na
reabilitação de móveis antigos. Foi
das suas mãos que saíram
recuperadas as 60 réplicas de
casas vitorianas expostas, algumas
com quatro décadas, vindas de
vários pontos do globo. São essas
casinhas as estrelas do museu
recém-inaugurado, que junta ao
projecto, e por meio de uma série
de actividades para miúdos e
graúdos, os conceitos de
“reabilitação urbana, reciclagem,
reutilização e sustentabilidade
ambiental”.
EXPOSIÇÃO
Together In Our Spirits
PORTO Museu de Serralves.
De 30/11 a 26/5. Segunda a
sexta, das 10h às 19h; sábado,
domingo e feriados, das 10h às
20h. 24€ (com acesso a todos os
espaços da fundação)
Comissariada por Inês Grosso e
Filipa Loureiro, a mostra reúne
pinturas do artista colombiano
Oscar Murillo (n.1986), inspiradas
em temas como a comunidade, o
ritual, a espiritualidade, a
globalização ou as desigualdades
sociais.
GASTRONOMIA
O Robalo Está Aqui
ESPOSENDE De 1/4 a 30/4.
Depois de ter mergulhado a fundo
em Março com Sabores do Mar,
Esposende dedica o mês de Abril a
mostrar que O Robalo Está Aqui. O
compromisso mantém-se: exaltar
a gastronomia do território, em
que “o pescado mais fresco é a
matéria-prima elementar”, como
garante a autarquia organizadora,
e estimular o consumo do peixe
da casa por meio de receitas
variadas. Grelhado na brasa ou
assado no forno, escalado ou
conÆtado, em Ælete, arrozes,
massadas ou cataplanas, são
várias as formas de apresentar o
robalo nos 35 restaurantes
aderentes e enaltecer “a nobreza
da sua textura e sabor”, sem
esquecer o casamento com outros
produtos locais, como pão,
doçaria ou vinhos.
Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024 • 33
Guia
Jogos Jogue também online.
Palavras-cruzadas,
bridge e sudoku em
publico.pt/jogos
Cruzadas 12.394 Paulo Freixinho
palavrascruzadas@publico.pt
HORIZONTAIS: 1. Enviaram “caderno de encargos” a Montenegro no Dia Mundial
da Saúde. Cobertura. 2. Versos líricos. Equivocar-se. 3. Antes do meio-dia. Vaidade.
4. Consta. Onde a dessalinizadora pode avançar desde que salmoura não mate a
pesca. 5. Experimentar. Identidade Digital. 6. Capital do Equador. Pega. 7. Espécie
de sedeiro, em que os cardadores recardam a lã. Certo ruído na respiração.
8. Estónia (Internet). Bocejara. 9. Mulheres celibatárias (pop.). Cheiro. 10. Procedo.
Herbert (...), o físico que abriu a auto-estrada do mundo digital (1928-2024).
11. «Save Our Souls». Marmanjo (pop.).
VERTICAIS: 1. Poente. Mentiras. 2. Galho. O consumo per capita deste produto
em Portugal atingiu os 14,5 kg por ano em 2022. 3. Doutor (abrev.). Trata por tu.
Cem romanos não entram na desordem. 4. O maior pássaro nativo da Austrália.
Quintais. 5. Que causam desgraças. Símbolo de quilómetro. 6. Elevado. Enrubes-
ce. 7. Pasto (pop.). Que ou aquele que ri ou zomba. 8. “Parir é dor e (...) é amor”.
Levem a reboque. 9. Sulcar. Dispositivo de segurança. 10. Símbolo de Pascal. Ter
por fim. Artigo antigo. 11. Afasta. Terreiro à volta da igreja.
Solução do problema anterior
HORIZONTAIS: 1. Eurico. Vela. 2. Iterar. Alor. 3. Do. Agouro. 4. OPA. Rã. SO. 5. Iberdrola.
6. Ga. Cria. Eng. 7. Coo. Carta. 8. Álea. Mas. Ir. 9. Til. Mo. Alar. 10. Isabel. Nega. 11. Se. Elevador.
VERTICAIS: 1. Eido. Grátis. 2. Utopia. Lise. 3. Re. Ab. Cela. 4. Ira. Ecoa. BE. 5. Cagarro. Mel.
6. Oro. Di. Mole. 7. Urraca. 8. Varão. Asana. 9. Elo. Ler. Led. 10. Lo. Santiago. 11. Arco. Garrar.
Bridge João Fanha
Sudoku © Alastair Chisholm 2008
fanhabridge.pt www.indigopuzzles.com
Dador: Norte jogar um ouro em direção ao Problema 12.554 (Fácil)
Solução 12.552
Vul: Todos morto, com a intenção de jogar o
9 se Oeste assistir com um ouro
pequeno – manejo de segurança.
NORTE Mas, se for necessário fazer todas
ƄAQ5
Ɔ AJ108 as vazas no naipe de ouros, então
Ƈ K964 a maneira correcta de jogar será
ƅA5 ouro de Norte para o Valete de
Sul – manejo de necessidade.
OESTE ESTE
Ƅ K1074 Ƅ J986 Como decidir?
Ɔ 76 Ɔ 943 Teste primeiro a passagem a
Ƈ Q1075 Ƈ8 espadas: se funciona, como é o
ƅQJ9 ƅ 107642 caso de hoje, adopte o manejo de
SUL segurança a ouros, caso contrário Solução 12.553
Ƅ32 terá de usar o manejo de
Ɔ KQ52 necessidade.
Ƈ AJ32
ƅ K83
Considere o seguinte leilão:
Oeste Norte Este Sul
2Ɔ
Oeste Norte Este Sul passo 2ST passo ?
1Ƈ passo 1Ɔ
passo 4Ɔ passo 4ST O que abre em Sul com a seguin-
passo 5ƅ1 passo 6Ɔ te mão? Problema 12.555 (Média)
Todos passam Ƅ3 Ɔ KQJ972 Ƈ QJ10 ƅ1095
Leilão: Qualquer forma de Bridge. Resposta: Marque 4Ɔ. A regra diz Meteorologia
que, em resposta a 2ST, o abridor
Carteio: Saída: Qƅ. Prende a saída deve marcar um novo naipe ao A página de
com o Ás e extrai os trunfos em nível de quatro para mostrar um meteorologia não se
três voltas. Para cumprir este che- curto nesse naipe e uma mão
publicará até ao dia
leme não poderá perder mais do máxima sem figura grande anexa.
28 de Maio e é
que uma vaza entre as espadas e O problema aqui é que o abridor
substituída pela
os ouros. Como continuaria? não pode anunciar 4Ƅ dado que
essa voz, inutilmente, passará por iniciativa Poesia
Solução: Se a maneira de abor- cima da partida em 4Ɔ. Nestas Pública, com a
dar o naipe de espadas não ofe- condições é admissível que, con- publicação de 50
rece dúvidas, já o naipe de ouros vencionalmente, o salto para 4Ɔ poemas inéditos nos
não é assim. Vejamos: se o objec- sirva para mostrar o singleton a 50 anos do 25 de
tivo for perder no máximo uma espadas. Abril.
vaza a ouros, a linha que o asse-
gura consiste em bater em pri-
meiro lugar o Ás para depois
34 • Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024

Guia

CINEMA Televisão Os mais vistos da TV

Sábado, 6
RTP1 10,1% SÉRIE
A Mulher Sem Cabeça
Big Brother - A Expulsão
% Aud. Share
TVI 7,9 18,6
RTP2 1,2 All American T6
RTP2, 23h30
Veronica (María Onetto) vai ao
Primeiro Jornal SIC 7,3 21,4 SIC 11,3 HBO Max, streaming
Chega à sexta temporada a criação
TVI
Big Brother TVI 7,2 14,5
volante do seu carro quando num O Preço Certo (R) RTP1 6,6 15,7 12,4 de April Blair sobre um jogador de

momento de distracção sente que
atropela qualquer coisa. Nos dias
seguintes, sente-se a desaparecer,
sente-se estranha às coisas e às
pessoas que a rodeiam, aluada.
Confessa ao marido que se calhar
atropelou alguém, regressa ao
local do acidente, mas só descobre
o cadáver de um cão. Porém,
quando a vida parece regressar à
normalidade, um cadáver é
descoberto. Este Ælme da
argentina Lucrecia Martel esteve
em competição no Festival de
Cannes, tendo também passado
em Locarno. Foi produzido por
Agustín e Pedro Almodóvar e
surge regularmente em listas dos
melhores Ælmes argentinos de
sempre.
O Terceiro Passo
Star Movies, 21h15
Durante a época vitoriana, em
Londres, dois mágicos
desenvolvem uma terrível
rivalidade, que se alimenta de
RTP1
6.00 Bom Dia Portugal 10.00 Praça
da Alegria 12.59 Jornal da Tarde
14.15 Hora da Sorte - Lotaria Clássica
14.30 Escrava Mãe 15.15 A Nossa Tarde
17.30 Portugal
rtugal em Directo 19.00 O
Preço Certo
rto 19.59 Telejornal
21.00 Erro
ro 404
22.00 Joker
23.00 Vinhos com História
0.00 Ao Largo 1.00 A Caminho do
Taskmaster RTP1 6,0
FONTE: CAEM
RTP2
6.30 Temos Programa 7.00 Espaço
Zig Zag 10.30 Madeira Profunda 11.00
“Ser Cigano” O Valor da Integração
12.00 O Vale da Felicidade 13.00 E2 -
Escola Superior de Comunicação
Social 13.30 Da Ilha e de Mim 13.55
Folha de Sala 14.00 Sociedade Civil
15.00 A Fé dos Homens 15.30 Duplas à
Portuguesa 16.00 Salvemos as Nossas
Espécies 17.00 Espaço Zig Zag 20.30
Folha de Sala 20.35 No Mundo de
Oxford Street
21.30 Jornal 2
22.00 Made in Oslo 22.45 Visita
Guiada 23.25 Folha de Sala
23.30
A Mulher
Cabo
13,4
45,4
TVCINE TOP
16.30 Então... e o Amor? 18.20 Mínimos
2: A Ascensão de Gru (VO) 19.50
Amores Verdadeiros 21.30 Marlowe: O
Caso da Loira Misteriosa 23.20 Ossos e
Tudo 1.30 Borta, o Filme Seguinte
STAR MOVIES
17.14 Relatório Minoritário 19.31 O
Caminho de Volta 21.15 O Terceiro Passo
23.25 Hitman - Agente 47 1.01 Vestida
Para Matar
HOLLYWOOD
17.25 O Sentinela 19.15 Um Sonho
Possível 21.30 O Esquadrão Suicida
(2021) 23.40 Sucker Punch - Modo
Surreal 1.35 A Purga
AXN
futebol americano, que o
acompanha desde os tempos do
liceu até à faculdade. É inspirada
na história real de Spencer
Paysinger, que é produtor e actor
na série. No centro está Daniel
Ezra como Spencer James, que
vem do Sul de Los Angeles, do
bairro duro de Crenshaw, e é
levado para Beverly Hills, uma
zona muito rica.
Sara
RTP Memória, 15h04/23h25
A RTP Memória volta a passar esta
série de 2018 de Marco Martins,
que foi co-escrita pelo realizador,
Bruno Nogueira, responsável pela
ideia e também actor, e Ricardo
Adolfo. Beatriz Batarda é a Sara
que lhe dá o nome, uma actriz
respeitada que decide deixar o
mundo do cinema e do teatro para
se dedicar à televisão mais
popular, mais especiÆcamente às
telenovelas.

truques e de uma vontade
insaciável de desvendar os
segredos um do outro. Robert é
soÆsticado e tem o dom do
espectáculo, enquanto Alfred
Borden, apesar de ser genial na
criação, não tem os mesmos dotes
da apresentação dos truques. Os
dois começam por colaborar, mas
truque após truque a concorrência
entre os dois aumenta. Este Ælme
de 2006 com Christian Bale, Hugh
Jackman, Scarlett Johansson e
Rebecca Hall foi realizado por
Christopher Nolan, que este ano
ganhou os Óscares de Melhor
Realização e Melhor Filme graças
ao megaêxito mundial
Oppenheimer.
O Exorcista
Cinemundo, 22h30
Em 1973 estreava-se este Ælme,
uma adaptação cinematográÆca
do best-seller de William Peter
Blatty, por sua vez baseado num
relato verídico sobre um
exorcismo. O reconhecimento não
tardou. No ano seguinte, o Ælme,
realizado por William Friedkin foi
galardoado com quatro Globos de
Ouro (melhor Ælme, realizador,
argumento e actriz secundária
para Linda Blair). Recebeu dez
nomeações para os Óscares,
vencendo nas categorias de
melhor argumento adaptado e
melhor som. Impôs-se como um
clássico no género do fantástico e,
na altura, foi amplamente
considerado o Ælme mais
aterrorizante de sempre — uma
designação que não o larga ao
longo dos anos.
Euro 2024 1.30 A Essência 1.45
Grandiosa Enciclopédia do Ludopédio
2.45 Escrava Mãe
SIC
6.00 Edição da Manhã 8.30 Alô
Portugal 10.00 Casa Feliz 13.00
Primeiro Jornal 14.45 Linha Aberta
16.00 Júlia 18.30 Morde & Assopra
19.57 Jornal da Noite
21.45 Senhora do Mar
22.45 Papel Principal - A Vingança
23.30 Papel Principal
0.15 Travessia 1.00 Era Uma Vez na
Quinta - Diários 1.45 Passadeira
Vermelha 3.30 Terra Brava
Sem Cabeça
1.00 ESECTV 1.30 Sociedade Civil
2.30 Folha de Sala
2.35 Sei Quem És 3.55 Folha de Sala
4.00 Músicas d’África 4.55 Nha Terra
Nha Cretcheu 5.55 Folha de Sala
TVI
5.50 As Aventuras do Gato das Botas
6.15 Diário da Manhã 9.55 Dois às 10
12.58 TVI Jornal 14.10 TVI - Em Cima
da Hora 15.40 A Herdeira 16.35
Goucha 17.45 Big Brother
19.57 Jornal Nacional
21.20 Big Brother
22.00 Cacau
22.50 Festa É Festa
23.50 Big Brother 2.15 GTI Plus
2.30 O Beijo do Escorpião 3.30 Deixa
Que Te Leve
17.42 The Rookie 19.22 Mentes
Criminosas 21.06 Hudson & Rex 22.00
S.W.A.T.: Força de Intervenção 22.54
Hudson & Rex 23.48 O Segurança do
Shopping: Las Vegas
STAR CHANNEL
17.17 Investigação Criminal: Los Angeles
18.49 Magnum P.I. 20.26 Hawai Força
Especial 22.15 Tracker 23.57 Thor
DISNEY CHANNEL
16.50 Miraculous - As Aventuras de
Ladybug 17.40 A Maldição de Molly
McGee 18.30 Vamos Lá, Hailey! 18.55
Monstros: Ao Trabalho! 19.15 Hamster &
Gretel
DISCOVERY
16.45 Mestres do Restauro 18.22 Águas
Profundas de Jeremy Wade 19.15
Aventura à Flor da Pele 22.39 Aventura à
Flor da Pele XL
HISTÓRIA
17.21 Viagem a 10.000 A.C. 18.50
Assaltos Históricos com Pierce Brosnan
20.13 História Express 22.15 Impérios da
Antiguidade
ODISSEIA
17.50 Jane Goodall: A Esperança Para os
Chimpanzés 18.45 Clima Letal 20.23
Pesca Extrema Abaixo de Zero 21.06
Uma Quinta, 9 Filhos e 1.000 Ovelhas
22.43 Caçadores de Lagostas 0.14
Pesca Extrema Abaixo de Zero 0.58 Uma
Quinta, 9 Filhos e 1.000 Ovelhas
DOCUMENTÁRIOS
Reerguer Notre Dame
National Geographic, 22h10
Em 2019, um incêndio deÇagrou
na Catedral de Notre-Dame, em
Paris. A recuperação é um
processo complexo, visto à lupa
neste documentário de Jody
Lubman e Alessandra Bonomolo
que mostra os pormenores e
desaÆos dessa tarefa, com
depoimentos de cientistas,
artesãos e historiadores e todo o
contexto histórico da construção
do monumento.
Impérios da Antiguidade
História, 22h15
Ao longo de três episódios, esta
minissérie documental com
dramatizações criada por Ari Mark
e Phil Lott foca, como o nome
indica, impérios antigos. Mais
propriamente, os de Alexandre, o
Grande, Júlio César e Cleópatra. O
primeiro episódio passa hoje,
continuando os seguintes dia 15 e
dia 22.
Kailani Jabour na Indonésia
Globo Play, streaming
Neste documentário, o surÆsta
Kailani Jabour, que cresceu no seio
de uma família de gente agarrada à
prancha de surf e a viajar à volta
do mundo à procura da onda
perfeita, ruma à Indonésia. O
documentarista e apresentador
descobre uma zona não muito
turística nem explorada, tanto em
termos da ondulação quanto da
cultura local.

A festa dos jogadores do Vitória SC,
após o primeiro golo do jogo
FC Porto abatido pela
eficácia do Vitória
Vimaranenses não venciam no Dragão desde 2018-19. Portistas terminam reduzidos
a dez, com expulsão de Pepe, e desperdiçam aproximação ao segundo lugar
Crónica de jogo
Augusto Bernardino
O FC Porto voltou a cair no Dragão,
confirmando a época errática na
Liga, perdendo (1-2) perante o Vitória
SC e desperdiçando ainda a possibi-
lidade de capitalizar as derrotas de
Benfica e Sp. Braga nesta 28.ª jorna-
da, em que os vimaranenses aprovei-
taram para alcançar o rival minhoto
no quarto lugar, a dois pontos dos
portistas.
O V. Guimarães, derrotado esta
semana em casa (0-1), nas meias-fi-
nais da Taça de Portugal, pelos por-
tistas, revelou enorme eficácia, com
a obtenção de dois golos nas duas
primeiras ocasiões. E só não deu o
xeque-mate porque Kaio César
falhou a terceira ainda no primeiro
tempo de uma noite que acabou
“Dragões” desaproveitam deslizes dos rivais na Liga Desporto
com Pepe expulso com vermelho
directo. No FC Porto, Diogo Costa e
Francisco Conceição regressaram ao
“onze” após suspensão, com Danny
Namaso a ocupar a posição de Eva-
nilson no ataque e Fábio Cardoso a
de Otávio Ataíde, na defesa, ausên-
cias forçadas por razões disciplina-
res. Por opção técnica, Álvaro Pache-
co surpreendeu com a titularidade
de Kaio César, em apoio mais direc-
to a Jota Silva na linha da frente, que
não apresentou nenhuma referência
de área. O Vitória manteve a linha
de cinco na defesa e passou os pri-
meiros dez minutos a tentar blo-
quear as acções portistas, que pode-
riam ter dado frutos numa falha do
regressado Jorge Fernandes.
O central perdeu a bola na transi-
ção para o ataque, corrigindo o erro
ao impedir que Galeno finalizasse,
em lance no limite do penálti. Logo
a seguir, duplo azar do FC Porto, com
Galeno a marcar na própria baliza,
na sequência de um livre lateral.
Seguiu-se um período em que
apenas Francisco Conceição agitou
as águas, com o Vitória sempre na
expectativa. A primeira parte entra-
va no último terço e o FC Porto ainda
dispôs de um livre frontal. Um lance
de laboratório que “explodiu” nas
mãos de Pepe e Diogo Costa, batidos
por Jota Silva na resposta dos minho-
tos.
A defesa menos batida do campeo-
nato consentia dois golos nos dois
lances de ataque do opositor e o FC
Porto passava a jogar sobre brasas.
Pepê ainda esteve perto de reduzir a
desvantagem, mas acabaria por ser
Diogo Costa a evitar o terceiro golo
vimaranense.
Sérgio Conceição tinha decisões
para tomar, mobilizando o banco
(Zé Pedro, Taremi e Iván Jaime avan-
çaram para aquecimento) para uma
Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024 • 35
MANUEL FERNANDO ARAUJO/EPA
FC Porto 1
Galeno 44’
Vitória SC 2
Galeno 12’ (p.b.), Jota Silva 33’
Estádio do Dragão, no Porto.
Espectadores 34.582
FC Porto Diogo Costa; Jorge Sánchez
(João Mário, 56’ a62’), Pepe a69’,
Fábio Cardoso (Zé Pedro, 46’), Wendell
a37’; Alan Varela (Iván Jaime, 56’),
Nico González; Francisco Conceição,
Pepê (Taremi, 67’), Galeno; Danny
Namaso (Toni Martínez, 80’).
Treinador Sérgio Conceição
Vitória SC Bruno Varela a75’; Bruno
Gaspar, Jorge Fernandes, Borevkovic,
Manu a63’, Afonso Freitas a45+1’
(Ricardo Mangas, 46’) (Miguel Maga,
55’); Tiago Silva, Tomás Händel
(Tomás Ribeiro, 46’ a53’), João
Mendes a72’ (Nuno Santos, 77’); Kaio
César (Nelson Oliveira, 61’ a89’), Jota
Silva. Treinador Álvaro Pacheco
Árbitro Fábio Veríssimo (AF Leiria)
VAR Cláudio Pereira (AF Aveiro)
Positivo/Negativo
Jota Silva
Suportou o ataque
vitoriano e marcou o golo
decisivo em lance de
classe, a ganhar na
velocidade e a bater Pepe e
Diogo Costa.
Galeno
Emendou com um bom
golo, a dar esperança ao
Dragão, o momento de
infelicidade de marcar na
própria baliza.
Francisco Conceição
Regressou após castigo e
foi o elemento mais
troca que esteve iminente antes do inconformado e com
descanso. O treinador decidiu espe- capacidade para inverter o
rar e Galeno reduziu em lance com rumo dos acontecimentos.
o contributo decisivo de Pepê. Falhou na finalização, mas
O FC Porto tinha 45 minutos para alimentou sempre a fé da
evitar o pior cenário, mas a primeira equipa.
alteração foi a troca de um central,
com Fábio Cardoso a ser sacriÆcado. Pepe
Sem sinais de retoma e com o Vitória Exagerou na forma como
a cerrar Æleiras, jogando com o tem- protestou uma decisão
po e os nervos do adversário, Sérgio banal e foi expulso,
Conceição deu a Taremi menos de deixando a equipa
meia hora para provar que pode entregue à sua sorte no
recuperar o lugar na equipa. momento em que mais
Mas a estratégia do treinador por- precisava de um líder em
tista foi traída pela expulsão de Pepe, campo.
após reacção desproporcionada a
uma decisão do árbitro num lança- Ricardo Mangas
mento lateral. A reacção “azul e Infelicidade do ala
branca” Æcou ferida de morte, ape- esquerdo que entrou na
sar de os “dragões” terem continua- segunda parte para sair ao
do ao ataque e a criar situações para fim de dez minutos, com
conseguir evitar a derrota, a sexta da problemas físicos.
época na Liga.
36 • Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024
Desporto
Geny de nome, génio nos pés
Marco Vaza
Treinou-se à experiência no
FC Porto, mas foi no Amora
que encontrou espaço de
afirmação. Hoje é uma das
referências do Sporting
Estádio da Medideira, 28 de Abril de
2018. Joga-se a jornada 32 da Série D
do Campeonato de Portugal, entre o
Amora e o Sporting Ideal. Está 1-0
para a equipa da casa quando, mes-
mo a fechar a primeira parte, depois
de um canto, a bola vai ter com um
jovem de 17 anos chamado Geny
Cipriano Catamo. O n.º 54 do Amora
deixa-a bater uma vez no chão e, ao
primeiro toque, Æca parada na relva.
Mais dois toques com o pé esquerdo
para ganhar posição e, com o tercei-
ro, a bola volta a levantar voo e com
uma trajectória perfeita na direcção
da baliza. “Granda golo”, ouve-se no
som de fundo do vídeo que captou o
momento. No dia seguinte, o jornal
Diário do Distrito inaugura os títulos
com o mais óbvio dos trocadilhos
com o nome do autor daquele golo:
“Nasceu um Geny(o).”
É difícil não voltar a um jogo de
palavras semelhante quando falamos
de Geny Catamo, sobretudo depois
do que ele fez neste sábado, em Alva-
lade. O jovem moçambicano marcou
de pé esquerdo o golo que abriu o
marcador no derby aos 47 segundos
e foi com o pé direito que fechou esse
mesmo marcador aos 91’, oferecendo
ao Sporting o triunfo, por 2-1, sobre o
BenÆca que deixa os “leões” com o
20.º título de campeão nas mãos.
Se esse primeiro golo foi uma ques-
tão de oportunidade depois de um
desequilíbrio criado por Pedro Gon-
çalves, o segundo foi um puro
momento de inspiração e fé, parecido
com aquele primeiro golo pelo Amo-
ra. Dois dos três diários desportivos
portugueses Æzeram o mesmo título:
“Golpe de Geny.”
Geny Catamo tem sido a grande
revelação da temporada no Sporting,
já com seis golos e cinco assistências
em 2023-24 como opção preferencial
na ala direita da equipa de Rúben
Amorim. Talvez não fosse ele a pri-
meira opção no início da época, nem
a segunda — havia Ricardo Esgaio e o
reforço Fresneda, por quem o Spor-
ting pagou bom dinheiro. Mas seria o
moçambicano a impor-se, um canho-
to a jogar na direita, com capacidade
de fazer aqueles movimentos para
espaços interiores para o remate ou
para o último passe.
A verdade é que Amorim nunca o
perdeu de vista. O técnico do Spor-
ting já tinha tentado fazer o mesmo
com jogadores de perÆl semelhante,
como Rafael Camacho, Gonzalo Plata
e Fatawu, mas só o moçambicano é
que deu a resposta que Amorim que-
ria para ser o verdadeiro herdeiro de
Pedro Porro na posição. “Tem umas
características muito boas para jogar
ali. Quando joga naquela posição, é
se calhar o jogador mais pressionante
e consegue dividir entre voltar para a
linha defensiva e pressionar na frente
com os colegas”, resumiu Amorim.
Messi do Maxaquene
Geny Catamo nasceu no Bairro do
Aeroporto, na periferia de Maputo,
capital de Moçambique. Começou a
jogar na rua, mas rapidamente entrou
para o Clube de Desportos de Maxa-
quene, que, antes da independência
do país em 1976, se chamava Sporting
de Lourenço Marques — foi o primei-
ro clube de Eusébio da Silva Ferreira
e onde também se formou Hilário da
Conceição, futuro lateral-esquerdo
do Sporting e jogador com mais jogos
pelos “leões”, 474.
As suas características (pequeno,
habilidoso e esquerdino) valeram-lhe
uma comparação com um certo cra-
que argentino. “Ele sempre teve gran-
de qualidade técnica e, como é
esquerdino, quando começou a dar
os primeiros passos no futebol era
conhecido como o Messi do Maxaque-
ne, o que por si só diz da qualidade
demonstrada”, contou ao jornal A
Bola, em Julho do ano passado, Chi-
quinho Conde, actual seleccionador
de Moçambique, que chegou a jogar
no Sporting nos anos 1990.
Do Maxaquene, avançou para a
Academia Black Bulls, de onde deu o
salto para o futebol português em
2018. Chegou a fazer testes no FC Por-
to (com quem os Black Bulls tinham
um protocolo) e chegou a ter contac-
tos com o BenÆca, mas onde ele ater-
rou foi no Amora, clube do concelho
do Seixal que chegou a estar três épo-
cas na I Divisão (1980-1983). Chegou
para os juniores, mas acabou a época
nos seniores e a marcar o tal golaço.
“Por volta de Dezembro, o Geny,
que era júnior de primeiro ano, tinha
ido treinar à experiência no FC Porto,
não Æcou, passou pelo Amora e Æcou
a treinar connosco. Logo no primei-
ro treino, percebi que ele era acima
da média. Chegou a uma altura
em que o meti a jogar. E, logo no
primeiro jogo a titular, marcou
um golo muito parecido ao
que ele marcou ao BenÆca”,
recorda ao PÚBLICO Pedro
A qualidade do último
passe e o poder de
finalização têm elevado
o estatuto de Geny
Catamo no Sporting
Russiano, na altura treinador do Amo-
ra — depois de marcar, Geny foi logo
abraçar o treinador.
Na altura, refere o ainda técnico do
Juventude de Évora, Geny era um
Quando joga naquela extremo puro. “Era um jogador que
gostava de ir de fora para dentro e
posição, consegue driblar o adversário, com qualidade
dividir entre voltar no último passe, que rematava bem
à baliza”, conta o técnico falando do
para a linha jovem moçambicano como “um miú-
defensiva e do pacato e humilde, trabalhador,
pressionar na frente mas irreverente, sem medo de ter a
bola e a desrespeitar um bocadinho
com os colegas os jogadores mais velhos, porque ia
para cima deles, com personalida-
de”.
O “Messi do Maxaquene” não Æcou
muito tempo na Medideira. Na épo-
ca seguinte, já estava nos juniores
do Sporting, ao lado de futuros
colegas na equipa A, como
Gonçalo Inácio, Eduardo
Quaresma e Nuno Mendes,
todos eles recrutados por
Rúben Amorim para a
equipa principal quando
chegou ao Sporting, em
Março de 2020. Geny,
que já era interna-
cional A por
Moçambique des-
de 10 de Setem-
bro de 2019,
não subiu logo,
mas Æcou no
radar do téc-
nico, que o
c h a m o u
várias vezes
para traba-
lhar com
ele.
Em2020-
21, época
em que o
Sporting foi
campeão,
Geny dividiu o
seu tempo entre a B e
os sub-23, aconteceu o mesmo na
primeira metade da época seguinte,
desta vez com direito a estreia na
equipa principal (30 minutos frente
ao Portimonense). Na segunda meta-
de da época, com o vimaranense
Edwards a rumar a Alvalade, Geny
fez o percurso inverso num
empréstimo pouco consequente.
Também tirou pouco do emprés-
timo em 2022-23 ao Marítimo — as
lesões tiraram-lhe tempo de
jogo.
Mas Amorim não o deixou
cair. Voltou a integrar o moçam-
bicano no estágio de pré-época
e, desta vez, ele tinha lugar,
como o tal ala de pé trocado, um
canhoto a jogar na direita. Mas
ele, como se viu em Alvalade,
marca golos com os dois pés.
 Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024 • 37

Desporto

Resultados e classificações Liga dos Campeões

3.ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões
3.ª pré-eliminatória da Conference League
Promoção
Despromoção
Play-off promoção
2.ª pré-eliminatória da Conference League Play-off despromoção
Liga Europa Play-off Conference League
Play-off Liga Europa Play-off Liga dos Campeões
MELHORES MARCADORES
I Liga I Liga
22 golos Viktor Gyökeres, Sporting
II Liga
21 golos Simon Banza, Sp. Braga
Jornada 27 Próxima Jornada 27 Próxima
18 golos Rafa Mujica, Arouca
Farense - Boavista 2-0 Gil Vicente - Sporting 12/04 14 golos Héctor Hernández, Desp. Chaves Nacional - AVS 2-1 Belenenses - Ac. Viseu 13/04
Rio Ave - Gil Vicente 3-0 Vitória SC - Farense 13/04 13 golos Samuel Essende, Vizela Penafiel - Belenenses 3-0 União Leiria - Länk Vilaverdense 13/04
Famalicão - Vizela 3-2 FC Porto - Famalicão 13/04 Leixões - União Leiria 0-0 Tondela - Penafiel 13/04
Sp. Braga - Arouca 0-3 Estoril - Sp. Braga 13/04 Feirense - Tondela 1-3 Benfica B - AVS 13/04
Sporting - Benfica 2-1 Est. Amadora - Rio Ave 14/04 Länk Vilaverdense - Mafra 2-1 Paços de Ferreira - Nacional 14/04
Desp. Chaves - Portimonense 2-3 Portimonense - Casa Pia 14/04 Santa Clara - Paços de Ferreira 0-1 Mafra - Feirense 14/04
Moreirense - Est. Amadora 2-2 Arouca - Boavista 14/04 Torreense - Marítimo 0-0 FC Porto B - Oliveirense 14/04
FC Porto - Vitória SC 1-2 Benfica - Moreirense 14/04 Oliveirense - Benfica B 3-1 Leixões - Torreense 14/04
Casa Pia - Estoril - Vizela - Desp. Chaves 15/04 Ac. Viseu - FC Porto B 18h Marítimo - Santa Clara 14/04
Total Casa Fora Total Casa Fora
P J V E D M S V E D M S V E D M S P J V E D M S V E D M S V E D M S
1 Sporting 71 27 23 2 2 79 27 14 0 0 48 11 9 2 2 31 16 1 Santa Clara 59 28 17 8 3 39 17 9 2 3 20 8 8 6 0 19 9
2 Benfica 67 28 21 4 3 62 23 12 2 0 37 6 9 2 3 25 17 2 AVS 56 28 18 2 8 42 28 9 1 4 17 10 9 1 4 25 18
3 FC Porto 58 28 18 4 6 51 21 10 2 2 29 8 8 2 4 22 13 II Liga 3 Nacional 55 28 16 7 5 50 30 10 3 1 32 13 6 4 4 18 17
4 Sp. Braga 56 28 17 5 6 60 40 8 3 3 27 15 9 2 3 33 25 23 golos Nenê, AVS 4 Marítimo 50 28 14 8 6 42 24 6 5 3 21 11 8 3 3 21 13
5 Vitória SC 56 28 17 5 6 44 28 10 1 3 27 14 7 4 3 17 14 13 golos Wendel Silva, FC Porto 5 Tondela 45 28 11 12 5 41 35 6 4 4 20 18 5 8 1 21 17
6 Moreirense 43 28 12 7 9 30 30 6 4 4 17 16 6 3 5 13 14 12 golos Bruno Almeida, Santa Clara 6 Paçs de Ferreira 43 28 12 7 9 33 25 8 2 4 22 11 4 5 5 11 14
11 golos Lucas Silva, Marítimo
7 Arouca 40 28 12 4 12 48 38 6 2 6 23 22 6 2 6 25 16 10 golos Roberto, Tondela 7 Torreense 40 28 11 7 10 34 29 6 4 4 19 12 5 3 6 15 17
8 Famalicão 34 27 8 10 9 29 33 5 5 3 16 16 3 5 6 13 17 8 Ac. Viseu 38 27 8 14 5 31 27 5 7 1 16 10 3 7 4 15 17
9 Casa Pia 30 27 8 6 13 27 39 2 4 7 6 14 6 2 6 21 25 9 Mafra 38 28 10 8 10 33 32 5 4 5 14 14 5 4 5 19 18
10 Farense 30 28 8 6 14 37 40 5 4 5 19 15 3 2 9 18 25 10 Benfica B 37 28 10 7 11 36 37 5 4 5 16 16 5 3 6 20 21
11 Rio Ave 29 28 5 14 9 29 35 5 6 3 21 17 0 8 6 8 18 11 FC Porto B 37 27 10 7 10 42 36 6 3 5 23 20 4 4 5 19 16
12 Boavista 29 28 7 8 13 33 53 4 5 5 17 26 3 3 8 16 27 12 União Leiria 33 28 8 9 11 35 34 5 6 3 22 18 3 3 8 13 16
13 Gil Vicente 28 28 7 7 14 36 44 5 6 3 24 16 2 1 11 12 28 13 Penafiel 31 28 9 4 15 25 34 7 2 5 18 15 2 2 10 7 19
14 Estoril 28 27 8 4 15 43 49 7 1 6 24 16 1 3 9 19 33 14 Leixões 30 28 6 12 10 22 31 1 8 5 8 14 5 4 5 14 17
15 Est. Amadora 27 28 6 9 13 29 43 5 2 7 19 22 1 7 6 10 21 15 Oliveirense 27 28 6 9 13 28 43 3 5 6 18 22 3 4 7 10 21
16 Portimonense 26 28 7 5 16 30 60 3 4 7 14 25 4 1 9 16 35 16 Feirense 25 28 7 4 17 25 42 6 2 6 16 18 1 2 11 9 24
17 Vizela 21 28 4 9 15 28 59 2 4 8 15 30 2 5 7 13 29 17 Länk Vilaverdense 20 28 6 3 19 23 50 4 2 8 14 25 2 1 11 9 25
18 Desp. Chaves 19 28 4 7 17 27 60 3 3 8 19 31 1 4 9 8 29 18 Belenenses 20 28 4 8 16 21 48 3 4 7 11 20 1 4 9 10 28

Liga inglesa Liga espanhola Liga italiana Liga francesa Liga alemã
Jornada 32 Jornada 30 Jornada 31 Jornada 28 Jornada 28
Crystal Palace - Manchester City 2-4 Cádiz - Granada 1-0 Salernitana - Sassuolo 2-2 Lille - Marselha 3-1 Eintracht Frankfurt - Werder Bremen 1-1
Fulham - Newcastle 0-1 Getafe - Sevilha 0-1 Milan - Lecce 3-0 Lens - Le Havre 1-1 Colónia - Bochum 2-1
Luton Town - Bournemouth 2-1 Almería - Osasuna 0-3 Roma - Lazio 1-0 Paris SG - Clermont 1-1 Mainz - Darmstadt 4-0
Wolverhampton - West Ham 1-2 Valência - Maiorca 0-0 Empoli - Torino 3-2 Brest - Metz 4-3 Union Berlin - Bayer Leverkusen 0-1
Everton - Burnley 1-0 Barcelona - Las Palmas 1-0 Frosinone - Bolonha 0-0 Montpellier - Lorient 2-0 Friburgo - RB Leipzig 1-4
Aston Villa - Brentford 3-3 Celta de Vigo - Rayo Vallecano 0-0 Monza - Nápoles 2-4 Toulouse - Estrasburgo 0-0 Heidenheim - Bayern Munique 3-2
Brighton - Arsenal 0-3 Girona - Real Betis 3-2 Verona - Genoa 1-2 Stade de Reims - Nice 0-0 Borussia Dortmund - Estugarda 0-1
Manchester United - Liverpool 2-2 Alavés - Real Sociedad 0-1 Cagliari - Atalanta 2-1 Mónaco - Rennes 1-0 Hoffenheim - Augsburgo 3-1
Sheffield United - Chelsea 2-2 Real Madrid - Athletic Bilbao 2-0 Juventus - Fiorentina 1-0 Nantes - Lyon 1-3 Wolfsburgo - B. M’gladbach 1-3
Tottenham - Nottingham Forest 3-1 Villarreal - Atlético de Madrid 1-2 Udinese - Inter de Milão 19h45

J V E D M-S P J V E D M-S P J V E D M-S P J V E D M-S P J V E D M-S P

Arsenal 31 22 5 4 75-24 71 Real Madrid 30 23 6 1 66-20 75 Inter de Milão 30 25 4 1 73-14 79 Paris SG 28 18 9 1 65-24 63 Bayer Leverkusen 28 24 4 0 69-19 76
Liverpool 31 21 8 2 72-30 71 Barcelona 30 20 7 3 61-34 67 Milan 31 21 5 5 60-34 68 Brest 28 15 8 5 41-23 53 Bayern Munique 28 19 3 6 80-36 60
Manchester City 31 21 7 3 71-31 70 Girona 30 20 5 5 62-36 65 Juventus 31 18 8 5 45-24 62 Mónaco 28 15 7 6 53-38 52 Estugarda 28 19 3 6 64-34 60
Tottenham 31 18 6 7 65-45 60 Atlético de Madrid 30 18 4 8 56-35 58 Bolonha 31 16 10 5 45-25 58 Lille 28 13 10 5 42-25 49 RB Leipzig 28 16 5 7 64-33 53
Aston Villa 32 18 6 8 66-49 60 Athletic Bilbao 30 16 8 6 50-28 56 Roma 31 16 7 8 56-35 55 Nice 28 12 8 8 28-22 44 Borussia Dortmund 28 15 8 5 55-33 53
Manchester United 31 15 4 12 45-46 49 Real Sociedad 30 13 10 7 43-31 49 Atalanta 30 15 5 10 55-34 50 Lens 28 12 7 9 37-30 43 Eintracht Frankfurt 28 10 12 6 43-36 42
West Ham 32 13 9 10 52-56 48 Valência 30 12 8 10 33-32 44 Nápoles 31 13 9 9 48-38 48 Stade de Reims 28 11 7 10 35-36 40 Augsburgo 28 9 9 10 45-46 36
Newcastle 31 14 5 12 65-52 47 Real Betis 30 10 12 8 36-36 42 Lazio 31 14 4 13 37-34 46 Marselha 28 10 9 9 41-33 39 Hoffenheim 28 10 6 12 48-53 36
Chelsea 30 12 8 10 55-52 44 Osasuna 30 11 6 13 36-43 39 Torino 31 11 11 9 31-29 44 Rennes 28 10 9 9 40-34 39 Friburgo 28 10 6 12 40-52 36
Brighton 31 11 10 10 51-49 43 Villarreal 30 10 8 12 48-53 38 Fiorentina 30 12 7 11 42-35 43 Lyon 28 11 5 12 34-42 38 Heidenheim 28 8 9 11 41-49 33
Wolverhampton 31 12 6 13 44-49 42 Getafe 30 9 11 10 37-43 38 Monza 31 11 9 11 34-41 42 Toulouse 28 8 9 11 32-36 33 B. M’gladbach 28 7 10 11 49-54 31
Bournemouth 31 11 8 12 45-55 41 Las Palmas 30 10 7 13 29-33 37 Genoa 31 9 11 11 34-38 38 Estrasburgo 28 8 9 11 30-39 33 Werder Bremen 28 8 7 13 36-44 31
Fulham 32 11 6 15 47-51 39 Alavés 30 8 8 14 26-36 32 Cagliari 31 7 9 15 32-52 30 Montpellier 28 8 9 11 35-40 32 União Berlim 28 8 5 15 25-43 29
Crystal Palace 31 7 9 15 36-54 30 Maiorca 30 6 13 11 25-35 31 Lecce 31 6 11 14 26-48 29 Le Havre 28 6 10 12 27-36 28 Wolfsburgo 28 7 7 14 34-47 28
Everton 31 9 8 14 32-42 29 Sevilha 30 7 10 13 37-44 31 Udinese 30 4 16 10 29-45 28 Nantes 28 8 4 16 27-45 28 Bochum 28 5 11 12 33-58 26
Brentford 32 7 8 17 45-58 29 Rayo Vallecano 30 6 12 12 25-38 30 Empoli 31 7 7 17 25-47 28 Lorient 28 6 8 14 35-52 26 Mainz 28 4 11 13 26-46 23
Nottingham Forest 32 7 8 17 40-56 25 Celta de Vigo 30 6 10 14 32-44 28 Verona 31 6 9 16 28-42 27 Metz 28 6 5 17 28-48 23 Colónia 28 4 10 14 23-49 22
Luton Town 32 6 7 19 45-65 25 Cádiz 30 4 13 13 21-40 25 Frosinone 31 6 8 17 38-61 26 Clermont 28 4 9 15 20-47 21 Darmstadt 28 2 8 18 28-71 14
Burnley 32 4 7 21 32-67 19 Granada 30 2 8 20 30-60 14 Sassuolo 31 6 7 18 36-59 25
Sheffield United 31 3 7 21 30-82 16 Almería 30 1 10 19 28-60 13 Salernitana 31 2 9 20 25-64 15

MARCADORES MARCADORES MARCADORES MARCADORES MARCADORES

19 golos Erling Haaland, Manchester City 16 golos Artem Dovbyk, Girona 23 golos Lautaro Martínez, Inter de Milão 24 golos Kylian Mbappé, Paris SG 32 golos Harry Kane, Bayern Munique
18 golos Ollie Watkins, Aston Villa 16 golos Jude Bellingham, Real Madrid 15 golos Dusan Vlahovic, Juventus 16 golos Jonathan David, Lille 24 golos Sehrou Guirassy, Estugarda
17 golos Mohamed Salah, Liverpool 16 golos Ante Budimir, Osasuna 13 golos Olivier Giroud, Milan 14 golos Alexandre Lacazette, Lyon 21 golos Lois Openda, RB Leipzig
38 • Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024
Desporto
Max Verstappen volta
aos triunfos no Japão
e dispara na liderança do
Mundial de Fórmula 1
O piloto neerlandês Max Verstappen
(Red Bull) regressou ontem às vitórias
no Mundial de Fórmula 1, ao ganhar
o Grande Prémio do Japão, quarta
prova da temporada, que Æcou mar-
cada por um acidente logo na primei-
ra volta que obrigou a uma interrup-
ção de 32 minutos.
Verstappen, que largou da pole
position, cortou a meta após
1h54m23,566, deixando o segundo
classiÆcado, o seu companheiro de
equipa Sérgio Pérez (Red Bull), a
12,535 segundos, e o espanhol Car-
los Sainz (Ferrari) na terceira posi-
ção, a 20,866.
A prova japonesa, disputada com
bom tempo, Æcou marcada por um
acidente entre o tailandês Alexander
Albon (Williams) e o australiano
Daniel Ricciardo (RB) logo na terceira
curva, que obrigou à interrupção da
corrida por mais de meia hora.
Após a largada, Ricciardo não se
apercebeu da aproximação de
Albon pela sua direita e os dois aca-
baram por se tocar, acabando nas
barreiras de protecção. Os comissá-
rios foram obrigados a interromper
a corrida para retirar os carros em
segurança do local.
A prova recomeçou com novo pro-
cedimento de largada em que, mais
uma vez, Max Verstappen não deu
hipóteses à concorrência. O tricam-
peão mundial apenas perdeu a lide-
rança momentaneamente após as
duas paragens nas boxes para troca
de pneus, primeiro para o monegas-
co Charles Leclerc (Ferrari) e, depois,
para Carlos Sainz.
No entanto, gerindo a degradação
dos pneus e o ritmo, Verstappen rapi-
damente regressou ao comando,
estabelecendo, ainda, a volta mais
rápida da corrida.
Carlos Sainz beneÆciou da estraté-
Verstappen alcançou ontem a 37.ª vitória da carreira
gia da Ferrari, que colocou Leclerc a
servir de tampão ao britânico Lando
Norris (McLaren) para chegar ao
pódio pela terceira vez em quatro
corridas (falhou apenas a da Arábia
Saudita, por ter sido operado a uma
apendicite aguda).
Leclerc foi o quarto classiÆcado
e viu-se novamente batido pelo
companheiro de equipa, seguido de
Norris, que foi quinto, e do espa-
nhol Fernando Alonso (Aston Mar-
tin), o sexto. O simulador indicava
que o piloto da Aston Martin não
conseguiria melhor do que a nona
posição, mas a experiência do astu-
riano rendeu pontos, pois geriu
exemplarmente a degradação dos
pneus e ainda permitiu, na parte
Ænal, que o australiano Oscar Piastri
(McLaren) rodasse a menos de um
segundo da sua traseira de forma a
ter DRS e ajudar na defesa do ata-
que do britânico George Russell
(Mercedes).
Esta foi a terceira vitória de Max
Verstappen nas quatro corridas já
disputadas, a 37.ª da carreira. Foi,
também, a terceira vitória consecu-
tiva no Japão.
“Foi bom. No arranque consegui
Æcar à frente e, a partir daí, o carro
foi Æcando cada vez melhor”, comen-
tou, no Ænal, o tricampeão, que
cimentou a liderança no campeona-
to, tendo agora 77 pontos, mais 13 do
que Sérgio Pérez — Leclerc é terceiro,
com 59.
A próxima ronda do Mundial é o
Grande Prémio da China, dentro de
duas semanas, que marca o regres-
so da cidade de Xangai ao calendá-
rio pela primeira vez desde o início
da pandemia de covid-19. Será, tam-
bém, a primeira das seis provas des-
ta época com uma corrida sprint, no
sábado. Lusa
ANDRONIKI CHRISTODOULOU/REUTERS
Para além do troféu, Hubert Hurkacz arrecadou 88 mil euros de prize money
Hurkacz vence Martínez
e conquista Estoril Open
Augusto Bernardino
Novo número 8 do mundo
impôs-se na primeira final
de terra batida do tenista
polaco. Organização deseja
10.ª edição em 2025
O polaco Hubert Hurkacz, enquan-
to número 10 do ranking ATP e
segundo cabeça de série do torneio,
conquistou a 9.ª edição do Estoril
Open ao vencer o espanhol Pedro
Martínez em dois sets, com os par-
ciais de 6-3 e 6-4, resolvidos ao Æm
de uma hora e 27 minutos.
Hurkacz somou o oitavo título
ATP em dez Ænais disputadas — a
primeira em terra batida —, ascen-
dendo ao oitavo lugar (recupera a
sua melhor classiÆcação de sempre)
e juntando-se ao grego Stefanos
Tsitsipas (2019) e a Casper Ruud
(2023) enquanto jogador do top 10
a vencer o torneio português desde
2015, ano em que o evento de ténis
mais conceituado do país se mudou
do Jamor para o Estoril.
Um torneio que teve uma assis-
tência combinada de 43.400 espec-
tadores durante os nove dias de
competição, mas luta ainda para se
manter no calendário do circuito
ATP em 2025.
Ontem, durante a cerimónia de
entrega dos prémios, o director do
Estoril Open, João Zilhão, recebeu
do principal patrocinador e da
câmara garantias de apoio, a que se
somam os elogios de jogadores
reputados como Casper Ruud e os
dois Ænalistas de 2024. Motivos mais
do que suÆcientes para João Zilhão
deixar a promessa de trabalhar para
que o Estoril Open regresse em 2025
com a 10.ª edição.
Hurkacz encontra o serviço
No que diz respeito à Ænal, Hurkacz
admitiu ter defrontado um adversá-
rio mais desgastado pela “batalha”
com Casper Ruud, o que jogou a
favor do polaco, que encontrou o
serviço, obtendo 15 ases na Ænal,
num total de 35 no torneio.
Com três vitórias nos três con-
frontos anteriores com Martínez —
em que apenas cedeu um set, em
Monte Carlo, em 2022 —, Hurkacz
não teve problemas para assumir o
comando da partida com um break
point logo no quarto jogo do primei-
ro set, que fechou tranquilamente,
com 6-3, em 37 minutos.
Pedro Martínez vinha de uma
8
Hurkacz conquistou oitavo título
ATP, ascendendo dois lugares na
hierarquia mundial para ocupar
o oitavo posto do ranking
RODRIGO ANTUNES/EPA
série de nove triunfos, motivado
pela vitória sobre o número 8 do
ranking e campeão do torneio em
2023, mas acusou algum nervosis-
mo, alimentado pela percentagem
mais baixa de primeiros serviços,
relativamente à média dos encon-
tros anteriores.
Hurkacz, por seu lado, mesmo
fora do seu elemento natural, man-
teve o adversário em sentido com
um jogo de pontos curtos, forte-
mente apoiado no serviço, em que
não teve de enfrentar um único
break point. Resolvido o primeiro
set, o polaco foi ainda mais contun-
dente no início do segundo e que-
brou o serviço de Martínez logo de
entrada. O espanhol precisava de
mais do que amorties para dobrar
Hurkacz, que manteve a consistên-
cia para se sagrar vencedor e suce-
der a Casper Ruud.
Pedro Martínez, que ascendeu ao
60.º posto do ranking, reconheceu
a superioridade de Hurkacz e pro-
meteu voltar ao Estoril. O polaco,
que recebeu 88 mil euros de prize
money, agradeceu o apoio e recor-
dou a carreira de João Sousa, que se
despediu dos “courts” esta semana.
“Queria felicitar o João Sousa pela
fantástica carreira, pelo que fez e
representa para o ténis português,
sem esquecer que me venceu na
relva”, vincou, referindo-se ao jogo
de acesso aos “oitavos” de Halle, em
2019, onde João Sousa bateu Jannik
Sinner (com 17 anos) no qualifying.
 Público • Segunda-feira, 8 de Abril de 2024 • 39

Desporto
Andebol
Selecção feminina Ciclismo Van der Poel soma sexto “Monumento” na Paris-Roubaix
apura-se para o
Europeu de 2024
TERESA SUAREZ/EPA
A selecção portuguesa feminina
de andebol apurou-se ontem
pela segunda vez para um
Europeu, apesar da derrota
sofrida na visita à República
Checa, por 25-22, na 6.ª e última
jornada do Grupo 3 de
qualificação. Em Plzen, as lusas,
que ao intervalo venciam 10-13,
garantiram o apuramento para a
fase final do Campeonato da
Europa, que vai decorrer na
Áustria, Hungria e Suíça, a partir
de 28 de Novembro deste ano,
repetindo o feito de 2008.

Natação
Três recordes
absolutos, cinco
juniores e três juvenis
O campeonato nacional de
juvenis, juniores e absolutos
terminou ontem, em Coimbra,
com três recordes absolutos,
cinco máximos juniores e três
juvenis batidos nos quatro dias
de competição. Na jornada de
ontem, o quarteto do Benfica
composto por Tomás Januário,
Pedro Bonniz, David Morais e
Guilherme Baptista impôs-se
em 3m54,60s nos 4x100m
estilos de juniores, melhorando
o máximo que já pertencia ao
clube da Luz, com 3m54,74s.
Mathieu van der Poel
(Alpecin-Deceuninck) voltou
ontem a conquistar a clássica
Paris-Roubaix, somando o sexto
“Monumento” da carreira, com
um ataque a cerca de 60
quilómetros da meta.
Van der Poel, que tinha
vencido no “Inferno do Norte”
em 2023 pela primeira vez,
percorreu os 259,7 quilómetros
entre Compiègne e Roubaix com
o tempo de 5h25m58s, deixando
longe a concorrência.
O actual campeão do mundo
atacou forte a cerca de 60
quilómetros da meta numa das
muitas zonas de “pavé” e foi
gradualmente, a solo,
aumentando a vantagem para os
perseguidores, pedalando rumo
à meta na mais emblemática de
todas as clássicas.
Mais atrás, o grupo de
perseguidores “partiu”, com
Jasper Philipsen, colega de
equipa de Van der Poel, Mads
Pedersen (Lidl-Trek) e Nils Politt
(UAE Emirates) a chegarem
juntos ao velódromo. Philipsen
foi o mais rápido no sprint e
repetiu o segundo lugar que
tinha conquistado em 2023, com
Pedersen a fechar no terceiro
posto e Politt em quatro.
Uma semana depois do
terceiro triunfo na Flandres, Van
der Poel terminou com três
minutos de vantagem sobre
Philipsen e Pedersen.
Este é o sexto “Monumento”
conquistado pelo neerlandês na
carreira, segundo na actual
temporada, pois para além dos
dois triunfos na Paris-Roubaix,
soma ainda três triunfos na Volta
a Flandres (2020, 2022, 2024) e
um na Milão-Sanremo (2023).

Hóquei em patins Atletismo Ginástica Motores

Quarteto da frente
vence e FC Porto
mantém liderança
O Benfica encerrou ontem a
22.ª jornada do campeonato
nacional de hóquei em patins,
com um triunfo em casa do
Sp. Tomar, quinto classificado,
por 2-4. Numa ronda em que
o pelotão da frente venceu
(Oliveirense 7, Murches 1;
Turquel 4, Sporting 8; Carvalhos
1, FC Porto 10), os “dragões”
mantêm o comando da tabela,
com 55 pontos, mais um do
que o Sporting, mais três do
que a Oliveirense e mais cinco
do que o Benfica.
Meia-maratona: Miguel Portugal encerra Os checos Zdarsky
Borges e Vanessa Europeus de trampolins e Nabelek venceram
Carvalho campeões com 11 medalhas o Oeiras Eco Rally
Os atletas Miguel Borges e O ginasta Pedro Ferreira A equipa checa formada por
Vanessa Carvalho, ambos do Sp. conquistou a medalha de ouro Michal Zdarsky e Jakub Nabelek
Braga, sagraram-se campeões na prova masculina de (Hyundai) venceu ontem o
nacionais de meia-maratona, trampolim individual dos Oeiras Eco Rally, prova de
numa prova disputada em Braga. Europeus que terminaram ontem abertura do Campeonato de
Borges cortou a meta com a em Guimarães, enquanto Diogo Portugal de Novas Energias e
marca de 1h05m44s, menos 14 Abreu arrecadou o bronze. Estes pontuável para o Campeonato
segundos do que Paulo Barbosa, resultados permitiram a Portugal do Mundo. Os checos bateram
companheiro de equipa. No encerrar a competição com um os portugueses Pedro Morais e
sector feminino, Vanessa venceu total de 11 medalhas, três delas Sílvia Coutinho (Hyundai Ioniq
a competição pela terceira vez e de ouro, três de prata e cinco de 5), enquanto Nuno Serrano e
obteve a melhor marca da prova, bronze, com Tiago Romão, Alexandre Berardo (Kia EV6)
ao cortar a meta em 1h13m22s, Diana Gago, Alexandra Garcia e ficaram em terceiro. O
seguida de Mónica Silva Mariana Cascalheira também campeonato prossegue nos
(Salgueiros), com 1h13m32s. em destaque no último dia. Açores, entre 26 e 28 de Abril.
Segunda-feira, 8 de Abril de 2024
BARTOON LUÍS AFONSO
O crescimento da influência da extrema-direita
nas instituições
Sementes
de alfarroba
E
Carmo Afonso
ste sábado a
extrema-direita voltou
a manifestar-se. Desta
vez, foi no Porto e a
manifestação foi
convocada pelo Grupo
1143, liderado por Mário Machado.
O mote era “Menos imigração, mais
habitação”, o que é absolutamente
irrelevante. Os temas destas
iniciativas são na verdade sempre os
mesmos: o culto do
ultranacionalismo e a defesa de
ideários fascistas e racistas. A
habitação serve de distração.
Nas imagens difundidas pelos
noticiários é visível a exibição de
símbolos nazis e a saudação nazi. As
palavras de ordem também são
esclarecedoras: “já passámos” é um
bom exemplo. Contém uma
provocação à célebre determinação
do 25 de Abril de que não
passariam. Mas destaco sobretudo
PÚBLICO, Comunicação Social, SA. Todos os conteúdos do jornal estão protegidos por Direitos de Autor ao abrigo da
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as palavras de incitamento ao ódio
contra imigrantes, ao racismo e à
discriminação. Reparem que
estamos a falar da prática de um
crime, como tal tipiÆcado no
Código Penal. ReÆro-me ao crime
de “Discriminação e incitamento ao
ódio e à violência” e digo que
aqueles manifestantes cometeram
esse crime em público, integrados
numa organização e em frente às
câmaras de televisão.
Fizeram-no com proteção
policial. A lei portuguesa está a ser
interpretada de forma a permitir
que estas manifestações se realizem
e que, sob escolta policial, os
manifestantes cometam um crime
grave, tão grave que é considerado
crime público. Grave também
porque atenta contra bens jurídicos
protegidos pela Constituição, como
a identidade cultural e a integridade
pessoal.
O legislador português costuma
ser exímio. Já a interpretação e a
aplicação da lei têm demasiadas
falhas. Quando vemos imagens
como as da manifestação de
sábado, somos obrigados a concluir
isso mesmo. Está tudo errado. A
manifestação deveria ter sido
proibida e aqueles agentes policiais
deveriam ter detido os
manifestantes em vez de lhes
proporcionarem um espaço físico
seguro para cometer crimes.
Na verdade, é penoso constatar o
clima de proximidade e
cumplicidade entre os
manifestantes e os agentes policiais
e isto tem de ser dito e denunciado.
Mário Machado – um personagem
irrelevante na vida pública, mas
com provas dadas na criminalidade
violenta – exibe orgulhosamente a
proximidade de que falo e a
impunidade de que beneÆcia.
Como pode a PSP prestar-se a este
papel?
Já aqui elogiei sindicatos de
polícia e destaco a ASPP e o
dirigente Paulo Santos. Reconheço
o esforço para manter a conÆança
dos agentes ao mesmo tempo que
têm de combater a crescente
inÆltração dos ideários de
extrema-direita junto daqueles
proÆssionais. Mas é tempo de dizer
que nada disto está a correr bem.
As notícias deram também conta
da detenção de três pessoas
“externas à manifestação”. Terão
provocado desacatos e “provocado”
os manifestantes. A minha pergunta
é: como criticar pessoas que
decidem fazer frente a uma
iniciativa repugnante para quem
acredita nos valores democráticos e
no Estado de direito? Deveriam ter
sido as próprias instituições
democráticas a evitá-la. Não estou a
defender quem decidiu fazer justiça
com as suas mãos, estou a atacar as
instituições democráticas por se
mostrarem tolerantes com quem
declara guerra à democracia.
Alguns terão reparado que estive
de férias na semana passada. Férias
signiÆca liberdade da escravidão do
tempo e algum alheamento da
atualidade. É assim que elas nos
renovam. Mas os regressos não
perdoam. Vejo forças policiais a
proteger manifestantes de
extrema-direita e vejo um novo
Governo que decidiu arrancar com
publico.pt/assinaturas
uma piscadela de olho para essas
pessoas. Numa altura em que seria
fundamental refrear a tendência
que se desenha perigosamente, Luís
Montenegro escolheu agradar.
Atirou uns raminhos secos para a
fogueira onde todos ardemos.
Organizações como o Grupo 1143
agradecem e incluo o Chega nessas
organizações. Temos de volta à
comunicação institucional do
Governo uma representação literal
da bandeira. Foi a primeira medida,
tal era o incómodo com o logo
anterior – um mero trabalho de
design. Luís Montenegro faz de
conta que a reposição, com carácter
de urgência, do anterior logo deve
ter uma leitura benigna. Faz de
conta que o escudo, a esfera armilar
e os castelos não são a matéria
sagrada dos ultranacionalistas e que
não é a vontade destes que está a
satisfazer.
Não está nas nossas mãos
controlar o crescimento da
extrema-direita, mas temos o
direito, e o dever, de exigir às
instituições que representam a
democracia e que garantem o seu
funcionamento que sejam bastiões
de integridade e resistência.
Advogada
ASSINE JÁ
ASS