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PARA O FUTURO DA
CONSTRUÇÃO ESPAÇO RESERVADO
PARA IMAGEM
Paulo Oliveira
Índice
I. Introdução 03
Figura 2
Em artigos e e-books publicados pelo autor, estes temas têm sido
explorados e aprofundados, destacando-se a relevância da construção
modular e off-site na pavimentação do caminho para a industrialização da
construção. Nestas publicações, enfatiza-se a necessidade do
embasamento nos seguintes processos:
Figura 3
Com a Indústria 4.0, o avanço da digitalização no setor de
construção teve início com a introdução do Building Information
Modeling (BIM), que num primeiro momento teve seu uso
limitado à etapa de Pré-construção. Os processos de pré-
construção ganharam maior agilidade e consistência através
de computação em nuvem, de softwares e aplicativos mobile,
além do uso da Internet das Coisas (IoT), da automação, da
inteligência artificial (IA), de big data, de realidade virtual e
realidade aumentada. A visualização dos fluxos de trabalho e a
comunicação da equipe de projeto com os stakeholders, com o
cliente e seus representantes se tornam mais ágeis, assim
como a organização e a automatização de tarefas.
A Pré-construção gera como outputs: planejamento de alto
nível, plano de ataque e orçamento executivos, além de um
projeto de fabricação em BIM, que atualmente, na construção
modular, pode avançar ao menos até a 5ª dimensão (BIM 5D),
automatizando boa parte do orçamento através da geração
automática de quantidades de insumos e seus custos dos
insumos, a partir da inserção das informações no IFC (Industry
Foundation Classes). O IFC é um formato de arquivo que
contém dados, que permite o intercâmbio de todas as
informações de um modelo, sem perda ou distorção de dados,
garantindo a interoperabilidade do BIM.
Figura 4 – Modelo BIM
Neste ponto, para avançarmos, vale relembrar as dimensões do BIM:
• 3D: Modelagem (construção virtual);
• 4D: Planejamento (análise do tempo);
• 5D: Orçamentação (análise dos custos);
• 6D: Sustentabilidade (social, econômica e ambiental);
• 7D: Gestão e Manutenção (gerenciamento dos ativos).
A logística e suprimentos de alto nível também se beneficiaram da integração
digital das cadeias de valor no setor, através da adoção de processos já
utilizados nos setores mais modernos da indústria. Isto é necessário para que
a fabricação e a montagem aconteçam a partir da sincronização da cadeia de
valor, num modelo just in time, de forma a evitar custos de estoques
desnecessários e a garantir uma operação ágil e precisa, de ponta a ponta,
passando pelo recebimento de insumos, pelo transporte de componentes
industrializados e de módulos, até a montagem de dos mesmos no local da
obra.
Há ainda muito a ser feito na etapa de Pré-construção para facilitar o trabalho
e aumentar a produtividade, ampliando o uso da realidade virtual e
aumentada, do projeto generativo e de gêmeos digitais ou digital twins. Os
gêmeos digitais são representações de réplicas virtuais de objetos, processos
e sistemas reais. O projeto generativo explora o machine learning e combina o
projeto paramétrico à inteligência artificial. Os projetistas informam
parâmetros requeridos para o projeto, no software de projeto generativo. A
partir daí, o software gera, rapidamente, uma infinidade de opções, com todas
as combinações possíveis de solução. A partir deste ponto, os projetistas
avaliam os resultados e optam pela melhor alternativa, para atender as
Figura 5 necessidades do projeto.
A qualidade dos projetos atualmente desenvolvidos é
muito superior à de 20 anos atrás. As ferramentas de
projeto digital utilizadas pelo setor AEC permitem a
geração de resultados equivalentes ao das empregadas
nos setores mais modernos da indústria.
Figura 6
No caso da construção modular e off-site, já num nível mais avançado de
produção industrializada, em que boa parte da “construção” é transferida
para uma fábrica, há empresas especializadas em softwares para a
fabricação, geralmente derivados de outros setores industriais, como a
indústria automotiva. Não há inconveniente nisso. Afinal, a indústria da
construção usa fortemente o setor de fabricação de veículos como
benchmark.
Com uma motivação diferente, a RIB SAA, empresa com sede em Viena,
na Áustria, é um bom exemplo de desenvolvimento de softwares de
gestão e controle da Produção, desenvolvidos exclusivamente para a
construção industrializada. Esta empresa possui mais de 20 anos de
experiência na pré-fabricação de elementos de concreto armado e
protendido e, portanto, conhece bem a construção industrializada de
concreto. A partir de sua experiência e conhecimento técnico na
fabricação, desenvolveu softwares, com o objetivo de fazer a gestão e
controle do fluxo de trabalho de Produção, de forma integrada,
digitalizada e automatizada. Os softwares da RIB SAA abrangem desde o
planejamento de vendas, gestão da aquisição de insumos e da produção,
até a logística de montagem. Com uma interface de usuário intuitiva, o
sistema permite o gerenciamento do fluxo de trabalho com facilidade e
precisão. Isto independe se os processos de produção estão mais ou
menos automatizados ou robotizados ou do layout da fábrica. A
plataforma está preparada para “agregar módulos e funcionalidades”,
conforme o estágio de evolução do sistema de fabricação.
Figura 7 – Construção Modular
No que tange aos equipamentos para a fabricação e montagem de painéis e de
módulos, houve grandes avanços, atendendo todos os tipos de chassi estrutural:
wood frame, light steel frame, estrutura metálica, madeira engenheirada e
concreto pré-fabricado. Fábricas modernas, que atendem grande escala de
produção são fortemente automatizadas e robotizadas. Exploram IoT, machine
learning, bem como sensores e computação em nuvem, para alcançar alta
produtividade, evitando falhas, aumentando os padrões de qualidade do produto
e a confiabilidade da produção.
Para o setor de construção, priorizar a digitalização na etapa Pré-construção foi
determinante para a obtenção de ganhos substanciais de qualidade nos
projetos, culminando em um fluxo de construção mais ágil e em produtos de
melhor qualidade. Na construção modular e off-site, em especial, estes
benefícios são ainda mais amplos e evidentes. A qualidade no detalhamento dos
projetos de fabricação de produtos da construção civil em modelos BIM, é
equivalente a dos projetos de engenharia mecânica produzidos por setores mais
modernos da indústria, em outras plataformas digitais de projeto.
Como se pode constatar, a inovação e a digitalização permitiram avanços
significativos nas etapas de Pré-construção e de Produção para as
metodologias de construção tradicional e, sobretudo para a construção
industrializada.
Particularmente no caso da construção modular e off-site, se fôssemos aplicar a
Teoria das Restrições de Goldratt (TOC – Theory of Constrains):
• Que restrição nos impede de obtermos ainda mais precisão, qualidade e
produtividade, no estágio global atual da industrialização da construção?
• O que ainda nos afasta de atuarmos, na fabricação e montagem, no mesmo
estágio de produtividade e eficácia dos setores mais modernos da indústria?
Figura 8
Vale aqui destacar que por maior que seja o
nosso empenho, jamais seremos uma
indústria 100% off-site, como a automotiva.
Sempre teremos serviços realizados no
canteiro de obra (on-site) que poderão, no
limite, representar cerca de 15% do total.
Figura 9
2. A CADEIA DE VALOR DA INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA E O GRANDE HIATO
Na figura 10, Gomes (2019) apresenta o ciclo de empreendimento imobiliário inserido na cadeia de valor de Porter. As atividades e
os tempos estimados de cada uma, foram agrupados por este autor, nas etapas de Pré-construção, Construção e Pós-construção.
A figura anterior, que contempla o ciclo da cadeia de valor da Incorporação Imobiliária com metodologias tradicionais de
construção, poderia ser completada, inserindo-se a etapa de Operação & Manutenção, para que tenhamos todo o ciclo de vida do
empreendimento representado. Isso é particularmente importante se considerarmos que cerca de 85% do custo com uma
edificação, ao longo do seu ciclo de vida, se dá exatamente durante a sua operação e manutenção.
Porém, a preocupação atual do autor, reside nas etapas das áreas
coloridas e, mais particularmente, na interface entre as áreas vinho e
verde. Numa análise do fluxo entre as etapas Construção e Pós-
construção há continuidade. Isto se justifica uma vez que a
responsabilidade pela gestão de ambas é da construtora.
Independentemente de ser uma empresa verticalizada, ou de utilizar
empreiteiros integrados por ela para realizar a construção.
Por outro lado, a Pré-construção é uma atribuição da incorporadora, ainda
que as atividades englobadas nesta etapa sejam terceirizadas. Enquanto
a Construção compreende a gestão e controle de atividades executivas
físicas, na etapa de Pré-construção são realizadas atividades
administrativas, burocráticas, de marketing e vendas e, sobretudo, um
grande esforço intelectual de desenvolvimento de soluções de engenharia
e de detalhamento das várias etapas do projeto, planejamento, plano de
ataque e orçamento.
No ambiente de incorporação imobiliária, as áreas de negócio geralmente
têm peso relevante na operação. Muitas vezes as áreas técnicas
responsáveis por engenharia e projeto ficam muito pressionadas pela
operação e não lhes é concedido tempo suficiente para o
desenvolvimento adequado do projeto. Isso é um grande equívoco, com
sérias consequências para a etapa de Construção, pela falta de
detalhamento e planejamento, além de erros de orçamento, que geram
um fluxo descontínuo de produção, problemas de qualidade e de
retrabalho, com impacto direto no aumento de custos e redução da
margem de lucro do empreendimento.
Figura 11
Além disso, o grande hiato ou descontinuidade do fluxo de
trabalho entre as etapas de Pré-construção e de Construção, é
hoje, na visão do autor, uma das principais razões do sacrifício
da margem ou até mesmo do prejuízo registrado em
empreendimentos imobiliários. Aí reside o “vale da morte”. As
boas práticas de gestão de projeto sugerem que a equipe de
Produção participe da Pré-construção. Sem dúvida isso é
importante e diminui o impacto da descontinuidade.
Figura 17
5. CONCLUSÃO: A NOVA FRONTEIRA
Figura 18
O planejamento estratégico setorial proposto deverá priorizar a
transposição da nova fronteira, que reside justamente na
concepção, a partir do desenho de processos destacado, de um
sistema digital e integrado, para a gestão e controle da cadeia de
valor do setor de construção, ao longo de todo o ciclo de vida dos
projetos e empreendimentos. Este sistema não poderá admitir, de
forma alguma, rupturas, sobretudo nas interfaces entre as etapas.
Deverá ter como premissa um fluxo contínuo e integrado de
atividades, passando pela Pré-construção, Construção ou
Produção, Pós-construção e Operação & Manutenção. Não basta
transformarmos a construção numa indústria. A industrialização
é muito importante, mas devemos nos lembrar que sempre
teremos atividades on-site. Por mais que consigamos minimizar
estas atividades, teremos a necessidade de um planejamento
mais robusto para as mesmas. O mundo exige respostas firmes
da construção não somente para atender o crescimento da
demanda, mas em todas as perspectivas, inclusive em direção às
melhores práticas de ESG e ao netzero. Se não conseguirmos
operar de forma integrada, com controle dos processos,
qualidade, desempenho e prazos e, mais do que isso, elevando a
produtividade setorial para outro patamar, falharemos. Portanto,
foco na missão!
Figura 19
Referências
ABRAINC. Cadeia de valor e importância socioeconômica da incorporação imobiliária no Brasil. Relatório. Associação Brasileira das
Incorporadoras Imobiliárias. São Paulo, dez. 2017. Disponível em:<https://www.abrainc.org.br/wp-content/uploads/2018/03/Cadeia-de-
Valor-03-2018.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2023.
ABRAINC. O ciclo da incorporação imobiliária. Cartilha guia. Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias. 2018. Disponível
em:<http://abrainc.org.br/wp-content/uploads/2015/08/cartilha_guia_incorporacoes_rev_08_07.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2023.
Autodesk. Arquitetura, engenharia e construção. Disponível
em:<https://www.autodesk.com.br/?mktvar002=afc_br_BWERBIT&AID=12904993&PID=3044233&cjevent=4a3ed6aab2d811ed82ab00950a
82b82a&affname=3044233_12904993>. Acesso em: 20 fev. 2023.
Autodesk. Por Dentro da Autodesk Brasil: a evolução do CAD. Disponível em:<https://blogs.autodesk.com/por-dentro-da-autodesk-
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Dassault Sistèmes. Architecture, Engineering & Construction: maximize construction sustainability and project profitability through
collaboration and productization. Disponível em:<https://www.3ds.com/industries/architecture-engineering-construction>. Acesso em: 27
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GOMES, F. As causas do baixo investimento em tecnologias digitais e suas consequências para vantagem competitiva no setor de
incorporação imobiliária no Brasil. Dissertação de Mestrado. Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio
Vargas. São Paulo, 2019.
RIB SAA. ITWO Smart Production. From design, to production, to construction site. The automation solution for prefabrication industry.
Disponível em:<https://www.rib-saa.com/en/>. Acesso em: 25fev. 2023.
SPBIM Arquitetura Digital. A história do BIM. Disponível em:<https://spbim.com.br/a-historia-do-bim/>. Acesso em: 25fev. 2023.
TD SYNNEX. Autodesk: história do software líder e mais utilizado pelos profissionais do setor. Disponível
em:<https://www.datech.pt/software/autodesk-historia-do-software-lider-e-mais-utilizado/>. Acesso em: 22 fev. 2023.
Paulo Oliveira
• Graduado pela Faculdade de Engenharia Civil de Itajubá – MG e pós-graduado em várias
disciplinas na área de Materiais de Construção pela Escola Politécnica da USP
• MBA Executivo Internacional, com especialização em Administração Estratégica pela FIA-USP
• Project Manager Professional (PMP), pelo Project Management Institute (PMI)
Cursa o programa de Mestrado em Inovação na Construção da Escola Politécnica da USP
(ConstruINOVA)
• 15 anos de experiência como diretor de unidades de negócios e de serviços de empresas de
engenharia, construção e incorporação: Método Engenharia, Brookfield Incorporações/TEGRA,
JHSF Incorporações S/A (onde também foi CEO) e Mutual Engenharia e Construções, tendo
sido CEO de Incorporações da JHSF e da Mutual
• 20 anos de experiência na direção de indústrias nacionais e multinacionais de produtos
químicos para a construção: Fosroc, Denver e Sika
• Especialização no Reino Unido e nos Estados Unidos em Patologia e Terapia do Concreto,
Grautes e Revestimentos de Alto Desempenho para Pisos (RAD)
• É professor do curso de Mestrado Profissional do IPT e de cursos de Recuperação, Reforço e
Proteção de Estruturas de Concreto
• Foi conselheiro da revista Téchne e coordenador editorial das revistas Pisos Industriais e
Impermeabiliza
• Mais de 50 trabalhos técnicos publicados no Brasil e no exterior
• Foi presidente da ABCI (Associação Brasileira da Construção Industrializada)
• Coordenou o Comitê CT-501 do IBRACON – Instituto Brasileiro do Concreto – que elaborou a
norma NBR 14.050 da ABNT, sobre Revestimentos de Alto Desempenho (RAD) para Pisos
Industriais
• Concebeu e coordenou o Planejamento Estratégico do setor de Pisos Industriais e
Revestimentos de Alto Desempenho para Pisos no Brasil, culminando com a criação da
ANAPRE – Associação Nacional de Pisos e Revestimentos