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PARA O FUTURO DA
CONSTRUÇÃO
1 A NOVA FRONTEIRA PARA O FUTURO DA CONSTRUÇÃO
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
PDF, 3600Kb
ISBN 978-65-00-66015-9
CDD 624
Sobre o Autor
Paulo Oliveira
Contato
paulo.oliveira@arataumodular.com
www.linktr.ee/aratau
1. INTRODUÇÃO 4
2. A CADEIA DE VALOR DA INCORPORAÇÃO
IMOBILIÁRIA E O GRANDE HIATO 11
3. BREVE HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DAS
FERRAMENTAS DE PROJETO DIGITAL 15
4. UMA REFLEXÃO SOBRE O “VALE DA MORTE” 18
5. CONCLUSÃO: A NOVA FRONTEIRA 21
REFERÊNCIAS 23
N
a indústria da construção, os problemas de produtividade,
qualidade, desperdício de materiais e falta de previsibili-
dade têm sido sistematicamente debatidos. Trata-se de
uma questão estrutural da maior relevância, já que no contex-
to da indústria, o setor de construção tem sido fortemente
criticado por figurar entre os que possuem índices de pro-
dutividade mais baixos. Para um setor de tamanha impor-
tância econômica e social, a preocupação das maiores em-
presas globais de consultoria procede. De acordo com a
relatório do congresso Construbusiness 2021 (FIESP),
no Brasil perdemos em média, anualmente, 4,4% de
produtividade no período entre 2014 e 2019.
4 A NOVA FRONTEIRA PARA O FUTURO DA CONSTRUÇÃO
Em seguida, entre 2019 e 2021, a queda média da produtividade foi de 6,1% ao ano. A per-
da de atratividade do setor para captar mão de obra direta é também um problema sério e
agrava esta situação. Uma confirmação deste fato é que a idade média dos trabalhadores
nos canteiros tem aumentado significativamente, mostrando que a população mais jovem
tem optado pelo trabalho em outros setores econômicos. Diante deste contexto, a proje-
ção do déficit habitacional brasileiro para 2030 é assustadora ou seja 30,7 milhões de uni-
dades, praticamente o quádruplo do déficit registrado em 2019.
Já é ponto pacífico que a solução para estes problemas passa, necessariamente, pela indus-
trialização da construção. Sabemos que a industrialização não acontece de forma espon-
tânea. A pressão para a redução de custos, melhoria da qualidade e aumento da produti-
vidade gera, num primeiro momento, a racionalização de processos construtivos. Depois
disto são introduzidos elementos produzidos pela construção off-site e, no último estágio,
evolui-se para a construção modular, através de módulos volumétricos (3D) e painéis (2D).
A pauta da industrialização tem sido colocada como estratégica pelas principais lideranças
e entidades setoriais brasileiras do setor de Arquitetura, Engenharia e Construção (AEC).
Europa, América do Norte, Austrália, Japão e China, adotaram a construção off-site e modu-
lar há décadas, que dobrou de tamanho nos últimos 5 anos e tem crescido a uma taxa supe-
rior ao dobro do crescimento da construção tradicional. Estes países têm plena consciência
da importância de deslocar o máximo possível das atividades de construção do canteiro
de obras para a indústria, o que gera benefícios substanciais, ou seja: ganhos de qualidade,
desempenho, sustentabilidade e produtividade. Mais do que isso, não há como atender o
crescimento da demanda nos grandes centros urbanos por infraestrutura social, habitacio-
nal, educacional, para transportes, saúde e educação, sem a industrialização da construção.
Em artigos e e-books publicados pelo autor, estes temas têm sido explorados e
aprofundados, destacando-se a relevância da construção modular e off-site na
pavimentação do caminho para a industrialização da construção. Nestas publi-
cações, enfatiza-se a necessidade do embasamento nos seguintes processos:
Olhando agora para a etapa de Produção, com enfoque nas metodologias tradi-
cionais de construção, existem boas metodologias e ferramentas digitais dispo-
níveis para a gestão e controle desta etapa. Mesmo que a Pré-construção tenha
sido bem desempenhada, esta etapa representa os maiores riscos e incertezas
em qualquer projeto ou empreendimento, em decorrência de:
Com uma motivação diferente, a RIB SAA, empresa com sede em Viena, na Áustria, é um
bom exemplo de desenvolvimento de softwares de gestão e controle da Produção, desen-
volvidos exclusivamente para a construção industrializada. Esta empresa possui mais de 20
anos de experiência na pré-fabricação de elementos de concreto armado e protendido e,
portanto, conhece bem a construção industrializada de concreto. A partir de sua experiên-
cia e conhecimento técnico na fabricação, desenvolveu softwares, com o objetivo de fazer
a gestão e controle do fluxo de trabalho de Produção, de forma integrada, digitalizada e
Que restrição nos impede de obtermos ainda mais precisão, qualidade e produti-
vidade, no estágio global atual da industrialização da construção?
O que ainda nos afasta de atuarmos, na fabricação e montagem, no mesmo está-
gio de produtividade e eficácia dos setores mais modernos da indústria?
Vale aqui destacar que por maior que seja o nosso empenho, jamais seremos uma indús-
tria 100% off-site, como a automotiva. Sempre teremos serviços realizados no canteiro de
obra (on-site) que poderão, no limite, representar cerca de 15% do total. Obviamente estas
atividades sempre serão motivo de um cuidado maior de planejamento, gestão e controle.
Mas a “nova fronteira” se localiza justamente no hiato entre as etapas de Pré-construção e
de Produção. Não existe um sistema único e competente de planejamento, controle e ges-
tão do fluxo contínuo, que engloba todas as atividades e processos, desde a concepção de
um produto ou empreendimento, até a etapa de operação e manutenção. Há um “Vale da
Morte”, entre a Pré-construção e a Produção como veremos adiante. Esta é a nova frontei-
ra que precisamos desbravar!
N
a figura 3, Gomes (2019) apresenta o ciclo de empreen-
dimento imobiliário inserido na cadeia de valor de
Porter. As atividades e os tempos estimados de
cada uma, foram agrupados por este autor, nas etapas
de Pré-construção, Construção e Pós-construção.
A figura anterior, que contempla o ciclo da cadeia de valor da Incorporação Imobiliária com
metodologias tradicionais de construção, poderia ser completada, inserindo-se a etapa
de Operação & Manutenção, para que tenhamos todo o ciclo de vida do empreendimento
representado. Isso é particularmente importante se considerarmos que cerca de 85% do
custo com uma edificação, ao longo do seu ciclo de vida, se dá exatamente durante a sua
operação e manutenção.
Porém, a preocupação atual do autor, reside nas etapas das áreas coloridas e, mais particu-
larmente, na interface entre as áreas vinho e verde. Numa análise do fluxo entre as etapas
Construção e Pós-construção há continuidade. Isto se justifica uma vez que a responsabi-
lidade pela gestão de ambas é da construtora. Independentemente de ser uma empresa
verticalizada, ou de utilizar empreiteiros integrados por ela para realizar a construção.
Por outro lado, a Pré-construção é uma atribuição da incorporadora, ainda que as ativi-
dades englobadas nesta etapa sejam terceirizadas. Enquanto a Construção compreende a
gestão e controle de atividades executivas físicas, na etapa de Pré-construção são realiza-
das atividades administrativas, burocráticas, de marketing e vendas e, sobretudo, um gran-
de esforço intelectual de desenvolvimento de soluções de engenharia e de detalhamento
das várias etapas do projeto, planejamento, plano de ataque e orçamento.
Fonte: autor
Entre as etapas de Pós-construção e de Operação & Manutenção, também pode haver uma
quebra no fluxo de trabalho (segundo ponto de ruptura), uma vez que a responsabilidade
por esta etapa é do proprietário do ativo imobiliário. Isso não acontece quando o empreen-
dimento tem, desde a sua concepção, o futuro responsável pela operação como o próprio
proprietário do empreendimento. Projetos bem desenvolvidos em modelo BIM já devem
conter no IFC os dados e informações relevantes dos sistemas prediais e componentes do
ativo imobiliário, para a gestão e controle da Operação & Manutenção explorando a Di-
mensão 7D do BIM, facilitando e simplificando as atividades e serviços desempenhados
nesta etapa, tais como execução de reparos, substituição de lâmpadas e de componentes,
etc.
N
a engenharia mecânica, os projetos digitais avançaram
muito antes do que no setor de construção. O enge-
nheiro francês Pierre Bézier, da Renault, desenvolveu
o UNISURF, em 1968, para o desenho de peças automotivas.
O UNISURF é considerado o precursor do CAD (Compu-
ter Aided Design). No final da década de 1970 e início da
década de 1980, surgiram empresas especializadas no
desenvolvimento de softwares com base no CAD, como
a Dassault Systèmes e a Autodesk. Com isso, o CAD
passou a ser mais utilizado e difundido.
15 A NOVA FRONTEIRA PARA O FUTURO DA CONSTRUÇÃO
A Autodesk foi fundada em 1982 e, um ano depois, lançou o AutoCAD, o primeiro pro-
grama CAD significativo para PCs, utilizado, sobretudo, para o detalhamento de desenhos
técnicos. O CAD deu nova dinâmica ao mercado, com recursos que facilitaram o detalha-
mento, a revisão, a análise e a coordenação de projetos. A Dassault Systèmes, criada em
1981, passou a liderar iniciativas de projeto digital sobretudo nas indústrias automotivas e
aeroespaciais, com a visão de transformar e expandir o status quo, em um design de produ-
to virtual e integrado, já em plataformas 3D,
A
primorarmos e gerarmos resultados melhores na Pré-
-Construção e na Construção ou Produção. A propos-
ta é de realização de um trabalho massivo de pla-
nejamento estratégico.
Estas ações surtem efeito e colaboram para aprimorarmos e gerarmos resultados melho-
res na Pré-Construção e na Construção ou Produção. Por outro lado, não exploramos a
visão sistêmica para pensarmos e resolvermos o todo. Precisamos somar as competências
e a experiência de profissionais que compreendem muito bem o contexto e todo o ciclo dos
projetos e empreendimentos da cadeia de valor da construção, mas que também tenham
preocupação, clareza e bons insights sobre o futuro da construção, para resolvermos, de
forma colaborativa, esta ruptura.
A proposta é de realização de um trabalho massivo de planejamento estratégico. Uma úni-
ca plataforma digital de gestão ao longo de todo o ciclo de vida do empreendimento, conec-
tando as etapas parece ser uma resposta óbvia. A melhor imagem desta plataforma é a de
um sistema de ERP (Enterprise Resource Planning, ou Planejamento dos Recursos da Empre-
sa), mas desenvolvido especificamente para o setor de construção. Este sistema computa-
cional não seria somente um grande barramento econômico-financeiro, como os grandes
ERP’s de mercado. Necessitamos de um sistema integrado de gestão de “A a Z”, que per-
meie as interfaces das etapas do ciclo de vida do projeto e do empreendimento, permitindo
a gestão, controle e integração de todo o ciclo de vida dos projetos e dos empreendimen-
tos, num pipeline contínuo.
O
mundo exige respostas firmes da construção não somen-
te para atender o crescimento da demanda, mas em
todas as perspectivas, inclusive em direção às
melhores práticas de ESG e ao netzero.
Como podemos ter, com maior clareza, as características e atributos dos produ-
tos que queremos fabricar e projetá-los para que sejam produzidos em larga es-
cala, com custos competitivos?
Esta visão não somente confronta, como extrapola a ideia de que o produto é uma sim-
ples consequência de um projeto. A produtização gera mais valor e dá novas perspectivas
para a ampla integração e exploração das competências somadas dos players estratégicos
da cadeia de valor, buscando a escalabilidade de forma conjunta e compartilhando os re-
sultados. Gêmeos virtuais, projeto generativo, metaverso, realidade virtual e aumentada,
sempre com o objetivo de oferecer uma jornada do cliente cada vez mais rica em experiên-
cias imersivas e sensoriais, ocuparão um espaço importante neste caminho para o futuro
da construção, em direção à Indústria 4.0.
Dassault Sistèmes. Virtual Construction Twin with 3DEXPERIENCE Cloud Platform. Disponível
em:<https://www.3ds.com/cloud/virtual-construction-twin-3dexperience>. Acesso em: 27 fev.
2023.
RIB SAA. ITWO Smart Production. From design, to production, to construction site. The automa-
tion solution for prefabrication industry. Disponível em:<https://www.rib-saa.com/en/>. Acesso
em: 25fev. 2023.
TD SYNNEX. Autodesk: história do software líder e mais utilizado pelos profissionais do setor.
Disponível em:<https://www.datech.pt/software/autodesk-historia-do-software-lider-e-mais-u-
tilizado/>. Acesso em: 22 fev. 2023.