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E OS CAMINHOS PARA A
INDUSTRIALIZAÇÃO DA
CONSTRUÇÃO
1 A QUESTÃO DA PRODUTIVIDADE E OS CAMINHOS PARA A INDUSTRIALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
ePub, 1600Kb
ISBN 978-65-00-55750-3
CDD 624
Sobre o Autor
Paulo Oliveira
Contato
paulo.oliveira@arataumodular.com
www.linktr.ee/aratau
1. INTRODUÇÃO 4
2. CONTEXTO SETORIAL E A PRODUTIVIDADE 6
3. CAMINHOS PARA A INDUSTRIALIZAÇÃO 14
4. UMA PLATAFORMA PARA INSERIR CONSTRUTORAS E
INCORPORADORAS NA CONSTRUÇÃO OFF-SITE E MODULAR 18
5. CONCLUSÕES 22
REFERÊNCIAS 23
N
o Brasil, há décadas debatemos a questão da industria-
lização da construção. Seja por oscilações e crises eco-
nômicas ou ainda pela descontinuidade de programas
estruturados na esfera federal, estadual e municipal, a indus-
trialização da construção brasileira não evoluiu. Barreiras
de diversas naturezas, que ainda persistem, também fo-
ram impeditivas para possibilitar o avanço da construção
industrializada. O setor de construção vem perdendo
produtividade, sendo que, na última década essas per-
das se acentuaram.
A verdade é que esta mão de obra que migrou da construção para outros setores, como
a indústria e o agrobusiness, não retornará mais. Sendo assim, os esforços do setor e do
governo federal se concentram na disseminação e implantação de medidas voltadas para a
industrialização da construção brasileira. Este artigo trata da questão da competitividade
e dos caminhos para a industrialização.
O
s vestígios mais antigos de construções de tijolos regis-
trados pela história datam de 7.500 a.C., na região de
Anatólia, na Turquia e foram descobertos a partir
de escavações arqueológicas (Brickarchitecture, 2017).
Trata-se de tijolos de adobe. A utilização de tijolos co-
zidos é menos remota e ocorreu no Oriente Médio,
cerca de 3.000 anos antes do nascimento de Cristo.
Nas últimas décadas, a indústria soube explorar muito bem o impacto da digitalização e
das inovações aplicadas aos processos, produtos e à produtividade. O setor de construção
é gigante e tem uma importância social e econômica proporcional ao seu porte. Produz um
PIB de US$ 10 trilhões por ano (13% do PIB global), emprega 7% da população mundial,
consome 50% das matérias primas produzidas e é responsável por cerca de 25% a 40% do
total de emissões de carbono (McKinsey, 2017). Apesar disso, pouco evoluiu...
Figura 3: Produtividade nos EUA, de 1947 a 2010: Valor bruto adicionado por hora (McKinsey, 2017)
Além de vergonhosa, uma questão como essa passa a ser ainda mais preocupante quando
analisamos o crescimento da demanda. A população mundial aumenta cerca de 200.000
pessoas por dia, nos grandes centros urbanos (World Economic Forum, 2016). Este cresci-
mento não é resultante somente do aumento da natalidade. Ele é, sobretudo, proveniente
da migração das zonas rurais para as principais cidades. E todo este contingente humano
precisa de infraestrutura para habitação, social, de transporte, saúde, educação e de ser-
viços públicos. Analisando a particularidade do Brasil, no que tange à necessidade de ha-
bitação de interesse social (HIS), em um relatório produzido pelo Prof. Robson Gonçalves,
da FGV, para a ABRAINC, utilizando dados do IBGE, o déficit habitacional de 2019, de 7,8
milhões de unidades, foi projetado para 30,7 milhões de unidades para 2030! Ou seja, o
setor de construção tem tido baixa velocidade de resposta para equacionar um problema
desta magnitude e a solução não reside em métodos tradicionais de construção.
Figura 4: PIB da construção, como % do PIB brasileiro (14º Construbusiness – FIESP, 2021)
Com base nestas constatações o 14º Construbusiness recomenda, como solução, a adoção
da construção industrializada, que agrega valor ao setor, reduz o tempo de execução das
obras e eleva a produtividade.
Como uma outra iniciativa fundamental para acelerar a construção off-site e modular,
em abril de 2022 foi lançado pelo Governo Federal o Projeto “Construa Brasil”.
Este Projeto define como objetivo a melhora do ambiente de negócios do setor da
construção, incentivando as empresas a se modernizarem, estabelecendo metas para:
Figura 5: Alíquota de impostos sobre a renda das empresas - OECD - Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (2021)
C
omo ganhos substanciais de produtividade são urgentes
e essenciais para o setor de construção e isso está di-
retamente relacionado à industrialização, vale a pena
entender o que tem acontecido no mundo todo, onde inves-
timentos substanciais têm sido feitos em startups de cons-
trução modular, por indústrias fabricantes de materiais
de construção, por construtoras, incorporadoras e fun-
dos de venture capital (Fusões e Aquisições no Ecossis-
tema de Construção Modular. Oliveira, 2022).
Este volume é quase 3 vezes superior ao investimento realizado em 2020, ou US$ 3,65
bilhões. Além das muitas vantagens e benefícios sobre a construção tradicional, este for-
te crescimento dos investimentos em startups e em empresas estruturadas de construção
modular mostram a razão deste segmento ter dobrado de tamanho entre 2014 e 2018 e da
projeção de um crescimento médio de 6,5% ao ano até 2025, taxa essa que é superior ao
dobro da construção tradicional (Markets&Markets, 2019).
Apesar disso uma questão que tem intrigado o setor de construção em nosso país. Não se
discute mais a urgência de industrializar a construção, mas sim: como industrializar e por
onde começar? Certamente a forma mais eficaz de produzir uma edificação industrializada
é já conceber o produto, desde o início como um produto industrializado. Por outro lado,
para uma construtora ou incorporadora que atua com métodos de construção tradicionais,
um movimento deste tipo representaria, na visão da alta gestão, um grande risco. Como
então resolver isso?
Figura 6: Etapas de evolução da construção industrializada para a construção off-site e modular (Oliveira, 2022)
A primeira etapa deste processo não é a industrialização, mas sim a utilização de metodo-
logias e ferramentas para a racionalização da construção tradicional. A partir desta etapa,
são introduzidos componentes de construção off-site. Na próxima etapa, além destes com-
ponentes, inserem-se módulos. Na última etapa, a construtora e/ou incorporadora atuará
totalmente na construção modular, ou fortemente na construção modular, com componen-
tes fabricados off-site. Esta movimentação não costuma acontecer de forma espontânea.
Conforme ilustrado na Figura 7, a pressão feita pelas incorporadoras, construtoras e inves-
tidores faz com que, por um lado, fabricantes de materiais, de componentes industrializa-
dos e de módulos, façam uso da tecnologia e inovação, e por outro, projetistas e consulto-
res trabalhem na busca de soluções eficazes para que esta evolução demostrada na Figura
6 aconteça. No último estágio de evolução, novos agentes passam a atuar na cadeia de va-
lor, ou seja: empresas montadoras e, finalmente as alianças de fabricantes de módulos e de
componentes de construção off-site. Com isso, o máximo grau de especialização acontecerá
na cadeia, havendo empresas fabricantes, por exemplo, de fachadas industrializadas, ou-
tras, de módulos, outras de kits de instalações prediais, de tal forma que uma edificação in-
teira será fabricada e montada por empresas diferentes, sob a integração e gestão de uma
construtora ou incorporadora, assim como ocorre nas montadoras de automóveis.
Obs.: no Brasil os clientes ainda não pressionam muito e têm seguido as tendên-
cias ditadas pelo mercado imobiliário. Por este motivo, os clientes estão repre-
sentados “de lado”, na figura. Este é um ponto que merece muita atenção do setor.
Este comportamento mudará quando avançarmos mais em direção à Indústria
4.0 e a centralidade no cliente se fizer prevalecer. A partir deste momento, as
expectativas e as necessidades dos mesmos passarão a definir as tendências.
C
omo a busca pela inserção de construtoras e incorpora-
doras na construção off-site e modular é crescente e tem
como objetivo gerar ganhos substanciais de produtivi-
dade, com consequente redução de custo, a partir de estudos
do autor, a ARATAU Construção Modular desenvolveu uma
metodologia, através de um trabalho de Pré-construção e
de modelagem BIM, para permitir a realização desta jor-
nada, de forma gradual e com baixo risco para as cons-
trutoras e incorporadoras.
18 A QUESTÃO DA PRODUTIVIDADE E OS CAMINHOS PARA A INDUSTRIALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO
A Pré-construção é a forma mais ágil e econômica de se chegar a qualquer produto de en-
genharia pretendido, a partir da análise de riscos, antecipando as incertezas e reduzindo os
riscos de projeto. Com a Pré-construção garante-se também a construtibilidade e minimi-
za-se as mudanças de projeto. Segundo o PMBOK do Project Management Institute (PMI),
as mudanças sempre vêm acompanhadas de aumentos de custo e de prazo e por essa ra-
zão nunca são bem-vindas pelos clientes a não ser aquelas solicitadas por eles. Emprega-se
nesta metodologia ferramentas poderosas, como: Lean Construction, Engenharia Simultâ-
nea, Engenharia e Análise do Valor (EAV) e ainda, Target Costing. Havendo prazo suficiente
para o desenvolvimento de um bom trabalho de Pré-construção, com estas ferramentas é
possível reverter a ordem, de tal forma que se parte do custo pretendido – que precisa ser
factível - para, a partir dele, desenvolvermos as soluções de engenharia e o projeto. Ou seja,
o custo do produto passa a não ser mais consequência do projeto. O projeto é desenvolvido
para atender a meta de custo definida. Se isso não acontecer, “voltamos para a prancheta”
para repensarmos e avaliarmos outros caminhos e soluções para que o custo meta seja en-
tão atendido.
De posse desta matriz de decisão, a construtora ou incorporadora poderá definir quais são
as suas prioridades e por onde quer iniciar. Através desta metodologia, uma incorporadora
ou construtora poderá, por exemplo, optar em iniciar uma próxima obra adotando apenas
um sistema leve industrializado de vedação externa. Depois de duas ou três obras execu-
tadas com este sistema construtivo, e uma vez dominado o mesmo, essa incorporadora ou
construtora poderá optar em adicionar, numa próxima obra, um outro sistema construti-
vo industrializado, como por exemplo, a estrutura. Assim, gradualmente e com baixo risco,
em cerca de dois anos e meio a três anos estará operando exclusivamente na construção
modular e off-site, com exceção dos serviços preliminares, movimentação de terra, infraes-
trutura, drenagem, contenções e fundações. De qualquer forma, estes serviços poderão
ser executados enquanto os componentes de construção off-site e os módulos estão sendo
fabricados, ganhando-se ainda tempo por conta da execução simultânea destas atividades.
https://bit.ly/35XKIrO
Vale destacar que esta metodologia está sendo aplicada pela RCDI+S num projeto de ino-
vação, usando como base um projeto já executado com metodologias convencionais de
construção por uma incorporadora e construtora renomada. Em novembro de 2022 deve-
remos ter os resultados deste estudo, feito de forma colaborativa e integrada, por várias
empresas da cadeia de valor participantes da rede.
Como forma a apoiar a implementação deste processo em futuros projetos, o autor enten-
de ser relevante a adoção de um sistema computacional de controle e gestão da produção,
para garantir o cumprimento do cronograma e dos custos planejados.
Um exemplo de aplicação desta metodologia é no desenvolvimento, pela ARATAU, de um
banheiro pronto para atender um empreendimento do projeto Casa Verde e Amarela, com
demanda para milhares de unidades deste item. A Pré-construção, com uso de modelagem
BIM, desempenhada por equipe de projeto experiente e bem coordenada, gerou uma so-
lução em que o chassi estrutural do módulo, utilizando perfis galvanizados leves e perfis
de LSF engenheirados, possui uma massa de somente 118kg. Isso foi possível a partir da
decisão da ARATAU de desenvolver um exoesqueleto para o içamento, transporte e movi-
mentação horizontal dos módulos. Nesta solução inovadora, só o exoesqueleto é solicita-
do, permitindo a racionalização da estrutura do módulo. Este exoesqueleto retornará para
a fábrica para ser utilizado para o futuro transporte e içamento de outros módulos.
(a) (b)
Figura 9: Estrutura racionalizada de banheiro pronto, com chassi metálico híbrido (a)
e exoesqueleto (b) (ARATAU, 2022)