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1\ Introdução 6
1.1\ Definições 6
2\ Normalização BIM 9
4.1.2\ Tecnologia 17
4.1.3\ Processos 18
5\ Conclusão 22
\ Prefácio
1\ Introdução
O presente documento tem como principal ambição sensi-
bilizar as Autarquias para a temática do Building Information
Modelling (BIM).
A transformação digital que se faz sentir de O presente documento surge, neste contexto,
forma generalizada, surge na indústria da cons- como uma linha orientadora para a imple-
trução como uma mudança incontornável, que mentação da digitalização da construção e
poderá trazer ganhos efetivos em eficiência, das infraestruturas, e em particular do BIM.
rigor e transparência. A transição para o con-
texto digital é, contudo, um desafio complexo,
que deve merecer especial atenção.
1.1\ Definições
O BIM é uma metodologia de partilha da in- conceito relativamente a plataformas especí-
formação e de colaboração entre todos os in- ficas de software, conseguido através da nor-
tervenientes e durante todas as fases do ciclo malização de formatos de interoperabilidade
de vida de uma construção, que se apoia num de informação, como é o caso do formato IFC.
modelo digital, acessível por software, o qual
permite a manipulação virtual dessa mesma O IFC (Industry Foundation Classes) é um for-
construção. mato aberto e ‘não proprietário’ que permite
o armazenamento e troca de informação de
Esse modelo de informação digital contém modelos BIM, com base na norma ISO 16739-
dados sobre as características geométricas 1:2018 — Industry Foundation Classes (IFC)
de todos os elementos que compõem um edi- for data sharing in the construction and facility
fício (por exemplo, vigas, pilares, janelas ou management industries — Part 1: Data, a qual
tomadas elétricas) mas também inclui as suas foi recentemente ratificada no contexto da
propriedades e atributos, sejam eles físicos, normalização Europeia pelo CEN TC 442 para
sejam os relacionados com o seu custo ou EN ISO 16739-1:2020.
com o tempo necessário para a sua construção.
Relatórios recentes preveem que o BIM irá
Os benefícios/potencialidades inerentes ao permitir poupanças de 15 a 25% no mercado
recurso a metodologias BIM estão já bastante global das infraestruturas por volta de 20251,2,
discutidas noutros documentos da CT197-BIM sendo o impacto mais relevante na indústria
(Guia da Contratação BIM), omitindo-se na da construção. Os ganhos são assim conside-
presente introdução a descrição detalhada ráveis: se o mercado da construção nacional
dos mesmos. atingir poupanças de 10% o valor gerado será
de aproximadamente 1700 milhões de euros.
Interessa adicionalmente assinalar que um
importante fator capacitador do uso de me- Este impacto pode até ser superior se conside-
todologias BIM em contexto do poder central/ rarmos também o potencial social e ambiental
local, relaciona-se com a independência do da implementação plena desta metodologia.
1
Boston Consulting Group, Digital in Engineering and Construction, 2016
2
McKinsey, Construction Productivity, 2017
Assim, a implementação do BIM numa orga- Tendo em conta o papel das Autarquias na
nização deve merecer especial cuidado, reco- promoção das boas práticas a nível local e
mendando-se a elaboração de uma análise regional, é importante que estas se preparem
rigorosa da estrutura da organização, dos seus para a implementação desta visão digital, que
recursos e competências, dos seus processos deverá ser catalisadora de uma transformação
e métodos de trabalho, do seu enquadramento mais alargada.
legal e da infraestrutura tecnológica.
As diversas abordagens de implementação do
Reconhecendo a complexidade desta forma BIM pelas autarquias poderão ter mais impacto
inovadora de trabalhar e do seu impacto nas e benefícios para todos os intervenientes se
organizações, principalmente em organizações forem devidamente harmonizadas a nível na-
tão diversificadas como as Autarquias, torna- cional, por forma a facilitar a sua generalização
-se clara a relevância de um documento de e a minimizar os custos envolvidos na transição
base que defina os conceitos fundamentais, das metodologias anteriormente usadas, prin-
para apoio a iniciativas de implementação BIM cipalmente para agentes e profissionais que
numa Autarquia. atuam em vários concelhos a nível nacional.
3
EN ISO 19650-1:2018 Organization and digitization of information about buildings and civil engineering works, including building information modelling
(BIM) - Information management using building information modelling - Part 1: Concepts and principles
4
EN ISO 19650-1:2018 Organization and digitization of information about buildings and civil engineering works, including building information modelling
(BIM) - Information management using building information modelling - Part 1: Concepts and principles
5
EN ISO 19650-3:2020 Organization and digitization of information about buildings and civil engineering works, including building information modelling
(BIM) - Information management using building information modelling - Part 3: Operational phase of the assets
6
EN ISO 19650-5:2020 Organization and digitization of information about buildings and civil engineering works, including building information modelling
(BIM) - Information management using building information modelling - Part 5: Security-minded approach to information management
2\ Normalização BIM
As principais referências normativas atual- \ EN ISO 19650-3:2020 - Organization and
mente existentes a nível Europeu são as que digitization of information about buildings
resultam das normas internacionais ISO e que and civil engineering works, including
estão, progressivamente, a serem adotadas building information modelling (BIM) -
como EN. A nível internacional são de referir Information management using building
as seguintes normas já publicadas: information modelling - Part 3: Operatio-
nal phase of the assets
\ ISO 12006-2: 2015 - Building Construc-
\ EN ISO 19650-5:2020 - Organization and
tion - Organization of information about
digitization of information about buildings
works- Part 2: Framework for classifica-
and civil engineering works, including buil-
tion of information;
ding information modelling (BIM) - Infor-
\ EN ISO 29481-2:2016 - Building Infor- mation management using building infor-
mation Models - Information Delivery Ma- mation modelling - Part 5: Security-minded
nual - Part 2: Interaction Framework; approach to information management
3\ Contexto Atual
das Autarquias
3.1\ Enquadramento
Organizacional e Legal
Os princípios da subsidiariedade, da autono- \ Assegurar, incluindo a possibilidade de
mia das autarquias locais e da descentraliza- constituição de parcerias, o levantamento,
ção democrática da administração pública, classificação, administração, manutenção,
estabelecidos na Constituição da República recuperação e divulgação do património
Portuguesa (Art.º 6.º) refletem-se na descen- natural, cultural, paisagístico e urbanístico
tralização de poderes mediante a transferência do município incluindo a construção de
de atribuições e competências para as autar- monumentos de interesse municipal;
quias locais, concretizada pela legislação em
vigor (Lei n.º 75/2013 de 12 de setembro e \ Ordenar, precedendo vistoria, a demoli-
posteriores alterações). Por sua vez, os dois ção total ou parcial ou a beneficiação de
níveis de autarquias locais, os municípios e construções que ameacem ruína ou cons-
as freguesias, nos respetivos territórios de tituam perigo para a saúde ou segurança
abrangência, prosseguem através do exercício, das pessoas;
pelos respetivos órgãos, das suas atribuições \ Exercer o controlo prévio, designada-
e competências legalmente atribuídas, em mente nos domínios da construção, re-
vertentes de diversa natureza: construção, conservação ou demolição de
a) De consulta edifícios, assim como relativamente aos
b) De planeamento estabelecimentos insalubres, incómodos,
c) De investimento perigosos ou tóxicos;
d) De gestão \ Emitir parecer sobre projetos de obras não
e) De licenciamento e controlo prévio sujeitas a controlo prévio;
f) De fiscalização
\ Promover a observância das normas legais
No âmbito da motivação do presente docu- e regulamentares aplicáveis às obras refe-
mento, que é a implementação progressiva ridas na alínea anterior;
do BIM na indústria da construção nacional,
as autarquias, e em particular os municípios, \ Executar as obras, por administração di-
ocupam um lugar privilegiado de atuação local reta ou empreitada;
no território que pode contribuir para poten- \ Criar, construir e gerir instalações, equipa-
ciar a adoção da metodologia BIM de forma mentos, serviços, redes de circulação, de
mais célere e simultaneamente regulada e transportes, de energia, de distribuição
normalizada. Neste sentido, os municípios e de bens e recursos físicos integrados no
os seus órgãos representativos, Assembleia e património do município ou colocados, por
Câmara Municipais, possuem um vasto elenco lei, sob administração municipal;
de atribuições em importantes domínios, que
potenciam a gradual digitalização da constru- \ Administrar o domínio público municipal.
ção. Entre estes destacam-se, no presente
contexto, os seguintes: É, pois, de realçar, que no âmbito de ação das
autarquias, e em especial dos municípios, o
\ Elaborar e submeter à aprovação da as-
BIM pode emergir de forma progressiva e fa-
sembleia municipal os planos necessários
seada, estimulando a transformação digital
à realização das atribuições municipais;
dos processos e incentivando a gradual im-
\ Aprovar os projetos, programas de concurso, plementação das competências digitais. Esta é
cadernos de encargos e a adjudicação de uma oportunidade de mudança, em que todos
empreitadas e aquisição de bens e serviços devem ser envolvidos.
4\ Rumo à Implementação
do BIM
Esta figura, tal como os restantes desenvolvi- Apresenta-se no presente capítulo um conjunto
mentos apresentados nesta secção, têm como de requisitos, seguindo as grandes áreas des-
referência o manual desenvolvido pelo EUBIM critas na figura, que são comuns aos diferentes
task group, um grupo de clientes públicos e de tipos de entidades que procuram introduzir a
responsáveis por políticas públicas que tem tecnologia BIM nos seus processos de trabalho.
como missão a disseminação e promoção do
BIM a nível Europeu.
No entanto, na fase atual, a estratégia de apli- Para que isso seja possível, a Entidade Contra-
cação BIM terá de se basear em documenta- tante terá de definir à partida as suas necessi-
ção internacional, ou, preferencialmente, em dades e requisitos, estabelecendo assim uma
documentação nacional no formato de guias, estratégia de gestão da informação coerente
ou manuais, que se adequem à realidade do e visível para todas as entidades contratadas.
enquadramento legal atual em Portugal.
Esses requisitos poderão estruturar-se da se-
É exemplo disso o ‘Guia de Contratação BIM’ da guinte forma:
CT197 que materializa já uma compatibilização
possível entre o atual enquadramento legal \ Requisitos Comerciais:
da contratação e a possibilidade de lhe acres- \ Objetivos e Âmbito BIM;
centar as valências e vantagens de aplicação \ Usos BIM;
BIM, através de ferramentas como: Adenda \ Direitos de Propriedade.
BIM, Requisitos de Informação, Aferição de
capacidades BIM e Plano de execução BIM. \ Requisitos de Gestão:
\ Funções e Atribuições;
\ Processos de Colaboração;
\ Adenda BIM
\ Partilha de Informação e Sistema de
Uma das formas de viabilizar a produção de Autorizações;
modelos BIM nas diferentes fases de um em- \ Segurança;
preendimento passa pela definição de dispo- \ Gestão da Qualidade;
sições contratuais acordadas entre as partes \ Entrega e Aprovação da Informação.
contratadas, que devem ser materializadas
\ Requisitos Técnicos:
através de uma adenda BIM.
\ Software e Plataformas;
A definição dos pontos acima descritos garante \ Formatos para Troca de Informação;
que todas as partes que produzem e entregam \ Levantamentos, Cadastros e Informa-
modelos e informação adotam regras e meto- ções Existentes;
dologias comuns, suportando assim metodo- \ Sistema de Coordenadas e Referen-
logias colaborativas nas equipas de projeto. ciais;
\ Sistemas de Classificação e Critérios de
Para além disso, garante ainda que todas as Modelação;
partes que usam os modelos têm direito a fa- \ Níveis de Desenvolvimento da Informa-
zê-lo e que a propriedade intelectual de quem ção (LODs);
partilha informação no ambiente colaborativo \ Tolerâncias de Modelação;
BIM está protegida. \ Estrutura de nomes dos ficheiros;
\ Necessidades Formativas.
\ Requisitos de Troca de Informação
4.1.2\ Tecnologia
4.1.3\ Processos
\ Trabalho Colaborativo Baseado em Blocos Num processo de trabalho BIM, o CDE deve
de Informação ser um único ambiente, acedido por todos os
intervenientes, que contém toda a informação
Um bloco de informação (normalmente refe- relevante para o projeto, quer tenha sido ou não
rido na língua inglesa por ‘container’) pode ser, desenvolvida com recurso a ferramentas BIM.
por exemplo, um modelo 3D, um desenho, um
documento ou uma tabela. Na definição de um CDE deve ficar estabelecido
um sistema de permissões que identifique a
Bases de dados com múltiplas tabelas de in- propriedade da informação - em geral, o pro-
formação estruturada também são containers. prietário será o respetivo autor - bem como um
Podem ser categorizados como blocos de infor- conjunto de regras para o seu uso.
mação de documentos, de informação gráfica
e de informação não-gráfica. No caso particular de modelos BIM, é comum
que coexistam vários modelos (divididos, por
Trabalho colaborativo baseado em blocos de exemplo, por especialidade de projeto ou por
informação significa que o autor ou gerador de uso) que podem ser combinados dando origem
determinada informação é responsável pelo a um modelo federado sem que seja alterada
seu conteúdo e que garante a sua qualidade. a propriedade da informação original.
Para além disso, significa que são definidas A informação contida num CDE evolui a partir
determinadas regras relativas aos processos de um estado de “Trabalho em Curso” (Work
de gestão de informação para que dados e in Progress - WIP) até uma versão aprovada
informação sejam partilhados de forma se- pelo cliente e arquivada para uso futuro.
gura e eficiente.
A EN ISO 19650-2:2018 propõe uma escala
\ Ambiente Comum de Dados de quatro estados: WIP (não aprovado), Shared
(verificado e aprovado para partilha), Published
Um ambiente comum de dados (ou Common (aprovado por cliente), Archive (registo con-
Data Environment - CDE) é um sistema para tínuo de toda a informação correspondente
gerir dados e informação. Não é apenas um a entregas efetuadas, por exemplo, por fase
local de armazenamento na cloud, é também o de projeto).
conjunto dos processos e regras que garantem
que as pessoas estão a trabalhar na versão O CDE pode ser implementado com recurso
atual dos ficheiros ou modelos e que sabem a diferentes tipos de tecnologia, incluindo ex-
para que os podem usar. tranets e ferramentas colaborativas diversas.
Comunicação Visual, processo no qual um Modelo as-built, modelo tal como construído,
modelo 3D é criado ou melhorado com o intuito que constitui as telas finais do projeto construído.
de comunicar as qualidades visuais, espaciais
ou funcionais através de representações (ren- E. Gestão e Manutenção de Edifícios
dering), realidade virtual, realidade aumentada,
cenografia ou holografia. Monitorização do Desempenho, processo em
que o modelo BIM é usado para monitorizar e
Compatibilização dos Projetos, processo no gerir o consumo energético e outras métricas
qual todos os projectos das diversas espe- do desempenho do edifício.
cialidades constroem um modelo BIM único.
Pode igualmente dizer respeito ao processo de Calendarização da Manutenção do Edifício,
compatibilização dimensional, espacial e de processo de gestão de ativos onde as ativida-
informação, de vários modelos BIM correspon- des de manutenção são incluídas no modelo
dentes às diversas especialidades envolvidas BIM, criando alertas para quando os bens de
num processo de projecto/construção. um ativo devem ser alvo de manutenção.
5\ Conclusão
A metodologia BIM ocupa um papel central na transformação
digital da indústria da construção.
Por isso mesmo, deve ser encarada como uma Contudo, este avanço representa um incentivo
mudança profunda que afeta toda a fileira da à mudança de todos os intervenientes envolvi-
construção. dos, o que é crucial nos tempos que decorrem.
A sua devida implementação tem impactos A transição digital é um fator cada vez mais
a vários níveis, e não só ao nível tecnológico, importante para a competitividade das empre-
como muitas vezes é percebido. sas, pelo que todos os esforços rumo a esta
mudança são importantes.
É importante que as Autarquias encarem este
desafio em toda a sua plenitude e avancem E o papel das Autarquias é, sem dúvida, central
para a mudança, dando pequenos passos, mas para as dinâmicas locais e regionais, tendo
os passos certos. acrescida responsabilidade na promoção da
competitividade das empresas através do in-
A fundamentação dos conceitos base é crucial, centivo à inovação e digitalização.
razão pela qual este documento os aborda de
forma pragmática e direta. Implementar e contratar BIM é estimular no-
vas formas de trabalhar, mas acima de tudo,
É inegável o impacto que as Autarquias têm assumir a importância do digital e apoiar a
a nível local e regional e, por isso, é uma res- sua implementação progressiva na indústria,
ponsabilidade acrescida o avanço para a digi- garantindo a sua competitividade.
talização da construção.