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AUTORES

António Aguiar Costa


Miguel Azenha
João Poças Martins
Ricardo Pinho
Luís Ribeirinho
Marta Campos
Inês Rodrigues
Ricardo Cunha Reis
AGRADECIMENTOS
Francisco Reis
João Pedro Couto
Juliana Mizumoto
Natália Gualberto

Editor Instituto Superior Técnico


ISBN: 978-989-33-1241-4
Título: BIM nas Autarquias
Autores: António Aguiar Da Costa, Miguel Azenha,
João Poças Martins, Ricardo Pinho, Luís Ribeirinho,
Marta Campos, Inês Rodrigues, Ricardo Cunha Reis
Edição 2020
\ Índice

1\ Introdução 6

1.1\ Definições 6

1.2\ Enquadramento e Objetivos 7

1.3\ Implementação nacional e internacional 8

2\ Normalização BIM 9

3\ Contexto Atual das Autarquias 10

3.1\ Enquadramento Organizacional e Legal 10

3.2\ Competências das Autarquias no âmbito do


11
território e do ambiente construído

3.3\ Desafios Da Digitalização 12

4\ Rumo à Implementação do BIM 14

4.1\ Diretrizes para uma visão estratégica 14

4.1.1\ Legislação, Normas e Contratos 15

4.1.2\ Tecnologia 17

4.1.3\ Processos 18

4.1.4\ Pessoas e Competências 19

4.2\ Domínios de Aplicação nas Autarquias 20

5\ Conclusão 22
\ Prefácio

A “Indústria da construção” em Portugal tem


sido objeto de evolução contínua, nomeada-
mente após o grande desafio que foi a re-
construção da Baixa Pombalina de Lisboa, na
sequência do terramoto de 1755.

Desde essa altura, os vários intervenientes


foram utilizando os materiais e técnicas cons-
trutivas disponíveis, numa perspetiva de otimi-
zação de recursos, tempos de execução, quali-
dade, segurança e condições de habitabilidade.

Foi assim, no auge das construções de alve-


naria de pedra tradicional, após o terramoto,
Fernando F. S. Pinho embora com algumas interrupções posteriores,
e na implementação das construções de betão
Coordenador do Colégio Regional de armado, entre outras, nomeadamente a partir
Engenharia Civil da Região Sul da da segunda metade do século XX, incluindo
Ordem dos Engenheiros preocupações de natureza ambiental e eficiên-
cia energética que, entretanto, foram surgindo.

Já no início do século XXI, foi também assim


com o forte desenvolvimento da atividade de
reabilitação de muitos dos edifícios (e outras
estruturas) referidos acima, sobretudo os mais
antigos, localizados nos centros históricos de
aldeias, vilas e cidades.

Ao longo deste processo evolutivo, as condi-


ções, as ferramentas de cálculo e de desenho
e as exigências dos projetos (arquitetura e
engenharia, nas suas diversas especialidades)
foram igualmente melhorando, tendo por base
os diversos documentos de referência, nacio-
nais (Regulamentos e Normas) e europeus
(Eurocódigos e outras Normas) que, entretanto,
se foram criando.

A metodologia BIM (Building Information Mo-


deling) teve início na década de 1990. Para
além da profunda revolução que continua a
proporcionar no setor, nomeadamente atra-
vés da digitalização dos processos (projetos),
tem vindo a promover uma relação muito mais
interativa e operativa entre todos os interve-
nientes no processo construtivo, de projetos
nacionais ou internacionais, tornando a sigla
AECO (Arquitetura, Engenharia, Construção e
Operação) sinónima deste novo processo, em
substituição da designação anterior (“Indústria
da construção”), com significado mais limitado.
A metodologia BIM, baseada na partilha de quadramento da metodologia BIM, vem, cla-
informação e no trabalho colaborativo de todos ramente, contribuir para a sua implementação
os intervenientes na realização dos projetos e cada vez mais forte e democrática, a nível na-
da sua construção, suportada por tecnologia cional, pois não só indica os benefícios dessa
digital cada vez mais robusta e diversificada, implementação, como mostra, com o exemplo
representa, pois, um novo e estimulante de- de um número crescente de países, que este
safio para todos quantos operam neste se- é um processo irreversível.
tor, nomeadamente promotores, projetistas,
fabricantes de materiais e sistemas, entida- Deste modo, espera-se que todas as Autar-
des licenciadoras e fornecedoras de serviços, quias nacionais possam seguir as sugestões
construtores, gestores e utilizadores, isto é: aqui apresentadas e que, a par da necessária
em todo o ciclo de vida do empreendimento, formação dos seus quadros, possam estimular
tanto em obras novas como de reabilitação, e e envolver todos os participantes no processo
nos mais variados tipos de empreendimentos, construtivo na adoção desta metodologia, por
públicos ou privados. muitos considerada a base da “Indústria 4.0”,
(re)colocando o setor AECO ao nível do que
Neste contexto, o presente “Guia Compreen- melhor se fez após o terramoto de 1755, mas
sivo para a implementação do BIM”, no âmbito agora com o apoio das metodologias e ferra-
das Autarquias, cuja edição muito se saúda, mentas digitais que temos ao nosso dispor.
vem contribuir de uma forma decisiva, atual
e perfeitamente oportuna para o aprofunda-
mento e início da generalização da utilização
desta metodologia, de forma transversal, a
todo o setor AECO.

Decisiva e atual, porque surge numa altura de


grande perturbação do setor, e da sociedade
em geral, causada pela pandemia “Covid-19”,
em que, a par de uma evolução continuada
de recurso à tecnologia digital, que se vinha
fazendo sentir na realização de um número
crescente de projetos, o recurso às ferramentas
digitais e a desmaterialização de processos é
cada vez mais uma realidade irreversível.

Oportuna, porque surge numa altura em que,


como é dito no texto, a CT197 do IPQ, presidida
pelo Prof. António Aguiar Costa (IST), primeiro
autor deste Guião, e com a participação dos
restantes autores, tem em curso a elaboração
de “Normas BIM” nacionais, que em muito irão
contribuir para facilitar os processos de digita-
lização da construção e de gestão da informa-
ção, os quais estão na base desta metodologia.

Tendo as Autarquias funções especiais de pro-


moção, licenciamento e fiscalização no âmbito
do setor AECO, o presente Guião, constituin-
do-se um importante documento pedagógico,
onde se incluem diversas definições de en-
I Introdução

1\ Introdução
O presente documento tem como principal ambição sensi-
bilizar as Autarquias para a temática do Building Information
Modelling (BIM).

A transformação digital que se faz sentir de O presente documento surge, neste contexto,
forma generalizada, surge na indústria da cons- como uma linha orientadora para a imple-
trução como uma mudança incontornável, que mentação da digitalização da construção e
poderá trazer ganhos efetivos em eficiência, das infraestruturas, e em particular do BIM.
rigor e transparência. A transição para o con-
texto digital é, contudo, um desafio complexo,
que deve merecer especial atenção.

1.1\ Definições
O BIM é uma metodologia de partilha da in- conceito relativamente a plataformas especí-
formação e de colaboração entre todos os in- ficas de software, conseguido através da nor-
tervenientes e durante todas as fases do ciclo malização de formatos de interoperabilidade
de vida de uma construção, que se apoia num de informação, como é o caso do formato IFC.
modelo digital, acessível por software, o qual
permite a manipulação virtual dessa mesma O IFC (Industry Foundation Classes) é um for-
construção. mato aberto e ‘não proprietário’ que permite
o armazenamento e troca de informação de
Esse modelo de informação digital contém modelos BIM, com base na norma ISO 16739-
dados sobre as características geométricas 1:2018 — Industry Foundation Classes (IFC)
de todos os elementos que compõem um edi- for data sharing in the construction and facility
fício (por exemplo, vigas, pilares, janelas ou management industries — Part 1: Data, a qual
tomadas elétricas) mas também inclui as suas foi recentemente ratificada no contexto da
propriedades e atributos, sejam eles físicos, normalização Europeia pelo CEN TC 442 para
sejam os relacionados com o seu custo ou EN ISO 16739-1:2020.
com o tempo necessário para a sua construção.
Relatórios recentes preveem que o BIM irá
Os benefícios/potencialidades inerentes ao permitir poupanças de 15 a 25% no mercado
recurso a metodologias BIM estão já bastante global das infraestruturas por volta de 20251,2,
discutidas noutros documentos da CT197-BIM sendo o impacto mais relevante na indústria
(Guia da Contratação BIM), omitindo-se na da construção. Os ganhos são assim conside-
presente introdução a descrição detalhada ráveis: se o mercado da construção nacional
dos mesmos. atingir poupanças de 10% o valor gerado será
de aproximadamente 1700 milhões de euros.
Interessa adicionalmente assinalar que um
importante fator capacitador do uso de me- Este impacto pode até ser superior se conside-
todologias BIM em contexto do poder central/ rarmos também o potencial social e ambiental
local, relaciona-se com a independência do da implementação plena desta metodologia.

1
Boston Consulting Group, Digital in Engineering and Construction, 2016
2
McKinsey, Construction Productivity, 2017

6 BIM nas Autarquias - Guia Compreensivo para a Implementação do BIM


Introdução I

1.2\ Enquadramento e Objetivos


A metodologia BIM levanta desafios complexos, A metodologia BIM nas autarquias será uma
que envolvem diversas áreas de conhecimento inevitabilidade a médio prazo e um passo in-
que não só as relacionadas com a problemá- contornável para a melhoria da transparência
tica tecnológica. e eficiência das empreitadas de obras públicas.

Assim, a implementação do BIM numa orga- Tendo em conta o papel das Autarquias na
nização deve merecer especial cuidado, reco- promoção das boas práticas a nível local e
mendando-se a elaboração de uma análise regional, é importante que estas se preparem
rigorosa da estrutura da organização, dos seus para a implementação desta visão digital, que
recursos e competências, dos seus processos deverá ser catalisadora de uma transformação
e métodos de trabalho, do seu enquadramento mais alargada.
legal e da infraestrutura tecnológica.
As diversas abordagens de implementação do
Reconhecendo a complexidade desta forma BIM pelas autarquias poderão ter mais impacto
inovadora de trabalhar e do seu impacto nas e benefícios para todos os intervenientes se
organizações, principalmente em organizações forem devidamente harmonizadas a nível na-
tão diversificadas como as Autarquias, torna- cional, por forma a facilitar a sua generalização
-se clara a relevância de um documento de e a minimizar os custos envolvidos na transição
base que defina os conceitos fundamentais, das metodologias anteriormente usadas, prin-
para apoio a iniciativas de implementação BIM cipalmente para agentes e profissionais que
numa Autarquia. atuam em vários concelhos a nível nacional.

É motivação principal deste documento, garan- Consoante as abordagens, atribuições e com-


tir que qualquer iniciativa de implementação petências das autarquias, são muitas as formas
do BIM nas Autarquias tenha condições para de aplicação dessa metodologia e podem ser
seguir as melhores práticas internacionais, vários os objetivos a alcançar na sua utilização.
acreditando-se que, se assim for, existirão con-
dições para uma implementação progressiva Este documento pretende apresentar uma
do BIM na indústria nacional. linha orientadora, que permita estabelecer a
base para uma abordagem uniformizada.
Os seus autores consideram que, qualquer
que seja o plano de implementação a seguir, é
crucial dar os passos certos, consistentes com
práticas devidamente comprovadas.

BIM nas Autarquias - Guia Compreensivo para a Implementação do BIM 7


I Introdução

1.3\ Implementação nacional


e internacional
O BIM está cada vez mais presente na indús- No caso particular de Singapura, o sistema de
tria da construção em todo o mundo. O Reino submissão CORENET baseado em BIM (IFC)
Unido tornou-se um líder na implementação permite inclusive a aplicação de algoritmos
BIM, em larga medida graças à iniciativa go- de verificação automática de cumprimento
vernamental. Desde 2016, o setor público de disposições regulamentares, acelerando
exige a aplicação da metodologia BIM, sendo processos e minimizando erros.
definidos requisitos de informação específicos
na contratação de obras públicas. Em Portugal foram organizadas diversas inicia-
tivas de disseminação e apoio à implementa-
Os países escandinavos estão entre os pionei- ção BIM, entre as quais se destaca a criação
ros na adoção do BIM, sendo que a Finlândia da Comissão Técnica de Normalização BIM, a
iniciou a utilização da metodologia em 2002, CT 197, dinamizadora do presente documento.
e em 2007 houve um mandato da confedera-
ção da indústria da construção finlandesa que Esta comissão, coordenada pelo Organismo
impôs a utilização do IFC. de Normalização Setorial do Instituto Superior
Técnico (ONS/IST), é o ‘mirror committee’ do
Na Dinamarca a contratação pública também CEN/TC442 e ISO/TC59 e é a entidade dele-
exige a metodologia BIM. Na Alemanha, o gada pelo Instituto Português da Qualidade
governo criou uma iniciativa, constituída pe- (IPQ) para o desenvolvimento da normaliza-
las várias organizações AEC, tendo em vista o ção no âmbito dos sistemas de classificação,
desenvolvimento de uma estratégia nacional modelação da informação e processos ao
para a implementação do BIM, aspirando a longo do ciclo de vida dos empreendimentos
meta de 2020 para esta implementação em de construção.
todos os projetos de infraestruturas.
O trabalho desenvolvido até ao momento resul-
Em 2015 o governo francês criou o Plan de tou do trabalho voluntário dos seus membros e
Transition Numérique dans le Bâtiment, que focou-se principalmente no desenvolvimento
definiu um plano estratégico nacional para a do Guia de Contratação BIM e do Plano de
implementação do BIM. Execução BIM, estando o primeiro já publicado.

Também em Espanha foi criado um mandato As normas EN ISO 19650-1:20183 e EN ISO


para que em 2018 os projetos no sector pú- 19650-2:20184, EN ISO 19650-3:20205 e EN
blico utilizem o BIM, tendo sido o prazo para ISO 19650-5:20206, recentemente publicadas
aplicação aos projetos de infraestruturas es- pelo CEN/TC 442, comissão de normalização
tendido até Julho de 2019. Também em países BIM europeia, alargaram definitivamente a
asiáticos como Singapura, China e Coreia do discussão em torno da implementação do BIM.
Sul o BIM tem sido amplamente divulgado e
apoiado através do desenvolvimento de nor- Estas normas assumem, de forma incontorná-
malização e publicação de mandatos públicos. vel, a importância da gestão da informação ao
longo do ciclo de vida de um empreendimento
É relevante assinalar que, a nível internacional, da construção, elevando o papel da metodo-
existem já iniciativas centradas na aplicação logia BIM no futuro da construção.
BIM ao nível do poder local, com vários níveis
de profundidade. Inevitavelmente, o presente documento segue
estas normas, adaptando, no entanto, as defi-
Verifica-se especial ênfase na componente de nições ou descrições adotadas ao contexto da
licenciamento de obras, com os exemplos de contratação de serviços BIM pelas autarquias,
Singapura, do Dubai, e da Dinamarca (caso do uma vez que estas normas preveem cenários
Município de Gentofte). de utilização consideravelmente mais amplos.

3
EN ISO 19650-1:2018 Organization and digitization of information about buildings and civil engineering works, including building information modelling
(BIM) - Information management using building information modelling - Part 1: Concepts and principles
4
EN ISO 19650-1:2018 Organization and digitization of information about buildings and civil engineering works, including building information modelling
(BIM) - Information management using building information modelling - Part 1: Concepts and principles
5
EN ISO 19650-3:2020 Organization and digitization of information about buildings and civil engineering works, including building information modelling
(BIM) - Information management using building information modelling - Part 3: Operational phase of the assets
6
EN ISO 19650-5:2020 Organization and digitization of information about buildings and civil engineering works, including building information modelling
(BIM) - Information management using building information modelling - Part 5: Security-minded approach to information management

8 BIM nas Autarquias - Guia Compreensivo para a Implementação do BIM


Normalização BIM II

2\ Normalização BIM
As principais referências normativas atual- \ EN ISO 19650-3:2020 - Organization and
mente existentes a nível Europeu são as que digitization of information about buildings
resultam das normas internacionais ISO e que and civil engineering works, including
estão, progressivamente, a serem adotadas building information modelling (BIM) -
como EN. A nível internacional são de referir Information management using building
as seguintes normas já publicadas: information modelling - Part 3: Operatio-
nal phase of the assets
\ ISO 12006-2: 2015 - Building Construc-
\ EN ISO 19650-5:2020 - Organization and
tion - Organization of information about
digitization of information about buildings
works- Part 2: Framework for classifica-
and civil engineering works, including buil-
tion of information;
ding information modelling (BIM) - Infor-
\ EN ISO 29481-2:2016 - Building Infor- mation management using building infor-
mation Models - Information Delivery Ma- mation modelling - Part 5: Security-minded
nual - Part 2: Interaction Framework; approach to information management

\ EN ISO 16739:2016 - Industry Founda-


tion Classes (IFC) for data sharing in the Podem ainda ser consideradas guias e normas
construction and facility management nacionais (de Portugal e de outros países), que
industries (ISO 16739:2013); representam práticas a seguir, nomeadamente:

\ EN ISO 29481-1:2017 - Building informa- \ Guia da Contratação BIM, CT197 - Comis-


tion models - Information delivery manual são Técnica de Normalização BIM, 2017;
- Part 1: Methodology and format (ISO
29481-1:2016); \ COBIM, Common BIM requirements, buil-
dingSMART, Finland, 2012;
\ EN ISO 29481-2:2016 Building informa-
tion models - Information delivery ma- \ Singapore BIM Guide v.2.0, Building and
nual - Part 2: Interaction framework (ISO Construction Authority, 2013;
29481-2:2012); \ Uniclass 2015/Omniclass - Sistemas de
\ EN ISO 12006-3: 2016 - Building cons- Classificação de objetos;
truction - Organization of information \ BS 8541-1:2012 Library objects for ar-
about construction works - Part 3: Frame- chitecture, engineering and construction.
work for object-oriented information (ISO Identification and classification - code of
12006-3:2007); practice;
\ EN ISO 19650-1:2018 - Organization and \ PAS 1192-2:2013 Specification for infor-
digitization of information about buildings mation management for the capital/deli-
and civil engineering works, including very phase of construction projects using
building information modelling (BIM) - building information modelling;
Information management using building
information modelling - Part 1: Concepts \ PAS 1192-3:2014 Specification for infor-
and principles (ISO 19650-1:2018); mation management for the operational
phase of assets using building information
\ EN ISO 19650-2:2018 - Organization and modelling (BIM);
digitization of information about buildings
and civil engineering works, including buil- \ BS 1192-4:2014 Collaborative produc-
ding information modelling (BIM) - Infor- tion of information. Fulfilling employer’s
mation management using building infor- information exchange requirements using
mation modelling - Part 2: Delivery phase COBie. Code of practice;
of the assets (ISO 19650-2:2018);
\ PAS 1192-5:2015 Specification for se-
\ EN ISO 16757-1:2019 – Data structures curity-minded building information model-
for electronic product catalogues for buil- ling, digital built environments and smart
ding services - Part 1: Concepts, architec- asset management;
ture and model (ISO 16757-1:2015);
\ BS 8536-1:2015 Briefing for design and
\ EN ISO 16757-2:2019 - Data structu- construction. Code of practice for facilities
res for electronic product catalogues for management (Buildings infrastructure).
building services - Part 2: Geometry (ISO
16757-2:2016);

BIM nas Autarquias - Guia Compreensivo para a Implementação do BIM 9


III Contexto Atual das Autarquias

3\ Contexto Atual
das Autarquias

3.1\ Enquadramento
Organizacional e Legal
Os princípios da subsidiariedade, da autono- \ Assegurar, incluindo a possibilidade de
mia das autarquias locais e da descentraliza- constituição de parcerias, o levantamento,
ção democrática da administração pública, classificação, administração, manutenção,
estabelecidos na Constituição da República recuperação e divulgação do património
Portuguesa (Art.º 6.º) refletem-se na descen- natural, cultural, paisagístico e urbanístico
tralização de poderes mediante a transferência do município incluindo a construção de
de atribuições e competências para as autar- monumentos de interesse municipal;
quias locais, concretizada pela legislação em
vigor (Lei n.º 75/2013 de 12 de setembro e \ Ordenar, precedendo vistoria, a demoli-
posteriores alterações). Por sua vez, os dois ção total ou parcial ou a beneficiação de
níveis de autarquias locais, os municípios e construções que ameacem ruína ou cons-
as freguesias, nos respetivos territórios de tituam perigo para a saúde ou segurança
abrangência, prosseguem através do exercício, das pessoas;
pelos respetivos órgãos, das suas atribuições \ Exercer o controlo prévio, designada-
e competências legalmente atribuídas, em mente nos domínios da construção, re-
vertentes de diversa natureza: construção, conservação ou demolição de
a) De consulta edifícios, assim como relativamente aos
b) De planeamento estabelecimentos insalubres, incómodos,
c) De investimento perigosos ou tóxicos;
d) De gestão \ Emitir parecer sobre projetos de obras não
e) De licenciamento e controlo prévio sujeitas a controlo prévio;
f) De fiscalização
\ Promover a observância das normas legais
No âmbito da motivação do presente docu- e regulamentares aplicáveis às obras refe-
mento, que é a implementação progressiva ridas na alínea anterior;
do BIM na indústria da construção nacional,
as autarquias, e em particular os municípios, \ Executar as obras, por administração di-
ocupam um lugar privilegiado de atuação local reta ou empreitada;
no território que pode contribuir para poten- \ Criar, construir e gerir instalações, equipa-
ciar a adoção da metodologia BIM de forma mentos, serviços, redes de circulação, de
mais célere e simultaneamente regulada e transportes, de energia, de distribuição
normalizada. Neste sentido, os municípios e de bens e recursos físicos integrados no
os seus órgãos representativos, Assembleia e património do município ou colocados, por
Câmara Municipais, possuem um vasto elenco lei, sob administração municipal;
de atribuições em importantes domínios, que
potenciam a gradual digitalização da constru- \ Administrar o domínio público municipal.
ção. Entre estes destacam-se, no presente
contexto, os seguintes: É, pois, de realçar, que no âmbito de ação das
autarquias, e em especial dos municípios, o
\ Elaborar e submeter à aprovação da as-
BIM pode emergir de forma progressiva e fa-
sembleia municipal os planos necessários
seada, estimulando a transformação digital
à realização das atribuições municipais;
dos processos e incentivando a gradual im-
\ Aprovar os projetos, programas de concurso, plementação das competências digitais. Esta é
cadernos de encargos e a adjudicação de uma oportunidade de mudança, em que todos
empreitadas e aquisição de bens e serviços devem ser envolvidos.

10 BIM nas Autarquias - Guia Compreensivo para a Implementação do BIM


Contexto Atual das Autarquias III

3.2\ Competências das Autarquias


no âmbito do território e do
ambiente construído
As autarquias locais, no cumprimento do re- \ Intervenção direta ou consultiva na reabili-
ferido elenco de atribuições e competências, tação ou demolição de edifícios, instalações
possuem um vasto leque de atividades e ins- e equipamentos públicos e infraestruturas,
trumentos de regulação legais e operacionais de circulação e de transportes, de redes de
no seu território, que interferem diretamente abastecimento e de saneamento, etc;
em diversos momentos de construção e de
vida de um edifício, sendo responsáveis por: \ Intervenção direta ou consultiva no projeto
e construção nova de edifícios, instalações
\ Ordenamento do território, através dos e equipamentos públicos e infraestruturas,
Planos Municipais de Ordenamento do Terri- de circulação e de transportes, de redes de
tório: Plano Diretor Municipal, Código Regula- abastecimento e de saneamento, etc;
mentar do Município, Planos de Urbanização \ Gestão e manutenção de edifícios, instala-
e Planos de Pormenor, interferindo na loca- ções e equipamentos públicos e infraestrutu-
lização dos edifícios, taxas de ocupação do ras, de circulação e de transportes, de redes
solo, e diversas outras regras aplicáveis no de abastecimento e de saneamento, etc;
posterior licenciamento das obras;
\ Gestão de Ativos e cadastro do existente.
\ Licenciamento, de construção e de utili- Em geral, nestes processos, as autarquias
zação, por verificação da conformidade dos locais mantêm a entrega e a gestão de
projetos no cumprimento dos regulamentos informação do projeto, obra e telas finais,
municipais e toda a legislação nacional e assentes nas tradicionais peças escritas e
europeia aplicável à construção de edifícios; desenhadas (CAD). É no entanto, relevante
\ Fiscalização, do rigoroso cumprimento do assinalar a desmaterialização/ digitalização
licenciamento e da restante legislação apli- de processos já vigente em várias câmaras
cável aos edifícios, durante o processo de a nível nacional, demonstrando a tendência
construção e na restante vida do edifício; de modernização e melhoria de processos/
eficácia.

BIM nas Autarquias - Guia Compreensivo para a Implementação do BIM 11


III Contexto Atual das Autarquias

3.3\ Desafios da Digitalização


É reconhecida a nível mundial a inércia inerente As Autarquias responderam a estes desafios
a processos de adoção de tecnologias inova- da digitalização com a implementação de múl-
doras no setor da construção, reconhecida tiplas e diversificadas soluções de digitalização
como uma das indústrias que menos investe e de procedimentos baseados em soluções
em novas tecnologias conforme identificado no informáticas, por vezes não normalizadas ou
estudo da McKinsey, “Imagine Constructions uniformizadas.
Digital Future”.
Devido à diversidade dos requisitos de entrega
Este atraso é diretamente relacionável com a de dados em formato digital, constantes nos
reconhecida ineficiência na indústria da cons- regulamentos municipais, esta falta de unifor-
trução e dos processos construtivos, caracteri- mização e normalização dificulta muitas vezes
zada pelos elevados preços de construção e de o trabalho aos técnicos e cidadãos que se têm
manutenção e a incapacidade de cumprimento de relacionar com os diferentes Municípios.
dos prazos e custos previstos.
Esta é uma das principais motivações do pre-
De acordo com o referido estudo da McKin- sente documento, o de estabelecer uma base
sey, nos grandes projetos os incumprimentos comum para uma digitalização progressiva,
são da ordem dos 20% de atraso nos prazos sistematizada e normalizada.
e 80% em custos a mais. E os custos desta
ineficiência são suportados, em grande parte, São de realçar vários exemplos de boas práti-
pelo proprietário ou utilizador da construção cas de soluções municipais para entrega digital.
(i.e. cidadão/Estado).
A contratação eletrónica é uma delas, mas o
Neste enquadramento, são várias as medi- portal nacional da Agência para a Moderniza-
das legais e regulamentares emanadas pela ção Administrativa, designado Rede Comum
Administração Pública com o objetivo de in- de Conhecimento (www.rcc.gov.pt) apresenta
centivar e orientar a indústria da construção variados casos, entre os quais:
numa mais célere adoção de tecnologias e
\ Município de Vila Nova de Gaia (GaiUrb)
processos digitais.
NOPAPER
A tramitação desmaterializada dos procedi- \ Município de Loulé
mentos de controlo prévio das operações ur- E-PAPER
banísticas está prevista desde a 6ª revisão do
RJUE (Lei n.º 555/99, de 16 de dezembro), \ Município do Seixal
propondo a implementação nos Municípios de Desmaterialização de processos
um sistema informático próprio (artigo 8.º-A),
que permita a entrega e receção de elementos Em complemento às plataformas de entrega
por via eletrónica por parte dos requerentes. digital, têm vindo a ser integradas no sistema
de informação do Regime Jurídico da Urbani-
Em complemento, decorrente da obrigação de zação e Edificação (RJUE) diversas plataformas
transposição para a Legislação Nacional das de articulação dos procedimentos com a Ad-
Diretivas do Conselho e Parlamento Europeus, ministração Regional (CCDR) e Central (DGAL),
Diretiva 2003/4/CE e Diretiva 2003/98/CE, a em áreas específicas, com vista à simplifica-
Lei 26/2016 de 22 de Agosto de 2016, aprova ção dos procedimentos e ao mais fácil acesso
o regime de acesso à informação administrativa aos processos pelos requerentes, cidadãos e
e ambiental e de reutilização dos documentos empresas.
administrativos.
Entre estas plataformas salientam-se as se-
Este regime deverá ser brevemente revisto e guintes:
melhorado decorrente da aprovação a 20 de
Junho de 2019 da Diretiva 2019/1024 do
Parlamento e Conselho Europeus, relativa aos
dados abertos e à reutilização de informações
do setor público.

12 BIM nas Autarquias - Guia Compreensivo para a Implementação do BIM


Contexto Atual das Autarquias III

\ Sistema Informático do RJUE (SIRJUE) - A já iniciada digitalização dos procedimentos


DGAL de controlo prévio das operações urbanísticas,
para além do inerente objetivo de agilizar a
\ Sistema Integrado de Licenciamento do Am- comunicação dos munícipes e técnicos com
biente (SILIAMB) e módulo Licenciamento as entidades, deveria também ser encarada
Único Ambiental (LUA) como uma oportunidade para implementar a
\ Balcão do Empreendedor - AMA, com rela- padronização dos procedimentos e dos res-
tivo a serviços para a atividade económica petivos elementos instrutórios nas diversas
interações digitais com essas entidades.
\ Licenciamento Zero - O Licenciamento zero
cuja designação oficial é Regime Jurídico de Neste sentido, a digitalização encontra-se
Acesso e Exercício de Atividades de Comér- ainda num estado de maturidade ainda redu-
cio, Serviços e Restauração (RJACSR) é um zido e muitas vezes fragmentado, justificando-
processo de simplificação administrativa e -se uma maior atenção por parte dos principais
regulatória, que prevê a desmaterialização intervenientes.
de vários procedimentos administrativos re-
lacionados com o licenciamento de algumas A implementação da metodologia BIM poderá
atividades económicas, contribuindo para o ser um passo agilizador nesse sentido. Com
aumento da competitividade do País. efeito, um esforço concertado rumo à defini-
ção das formas de implementação BIM nas
\ Licenciamento Industrial - O Licenciamento autarquias, poderá assumir-se como uma opor-
industrial cuja designação oficial é Sistema tunidade para aproximar mais os processos
da Indústria Responsável (SIR) é um pro- entre diferentes autarquias, entre autarquias
cesso que tem como objetivo a prevenção e a administração central e entre autarquias
dos riscos e dos inconvenientes resultantes e os cidadãos.
da laboração dos estabelecimentos indus-
triais, tendo em vista a salvaguarda da Saúde
Pública e dos trabalhadores, a segurança de
pessoas e bens, a higiene e segurança nos
locais de trabalho, o correto ordenamento do
território e a qualidade do ambiente.

\ Alojamento Local - O registo de alojamento


local é um processo de simplificação admi-
nistrativa e regulatória, que prevê a desma-
terialização de vários procedimentos admi-
nistrativos relacionados com o licenciamento
de estabelecimentos que prestam serviços
de alojamento temporário a turistas, me-
diante remuneração e que reúnam os re-
quisitos legais.

BIM nas Autarquias - Guia Compreensivo para a Implementação do BIM 13


IV Rumo à Implementação do BIM

4\ Rumo à Implementação
do BIM

4.1\ Diretrizes para uma


visão estratégica
A adoção bem-sucedida do BIM numa organi- O Handbook for the introduction of Building
zação depende da verificação simultânea de Information Modelling by the European Public
um conjunto de condições, incluindo aspetos Sector surge como uma visão estratégica para
políticos, normativos, tecnológicos e de or- o setor da construção, incentivando a criação
ganização de pessoas e processos, tal como de valor, a inovação e o crescimento do setor,
apresentado de forma esquemática na Figura 1. em contexto digital.

Esta figura, tal como os restantes desenvolvi- Apresenta-se no presente capítulo um conjunto
mentos apresentados nesta secção, têm como de requisitos, seguindo as grandes áreas des-
referência o manual desenvolvido pelo EUBIM critas na figura, que são comuns aos diferentes
task group, um grupo de clientes públicos e de tipos de entidades que procuram introduzir a
responsáveis por políticas públicas que tem tecnologia BIM nos seus processos de trabalho.
como missão a disseminação e promoção do
BIM a nível Europeu.

Figura 1 - Diretrizes para uma visão estratégica

14 BIM nas Autarquias - Guia Compreensivo para a Implementação do BIM


Rumo à Implementação do BIM IV

4.1.1\ Legislação, Normas e Contratos

De uma forma geral, o enquadramento legal Os vários intervenientes no processo de cons-


à data da emissão deste documento, apesar trução têm assim de cumprir pelo menos aque-
de não conter referências a metodologias BIM, las condições para irem ao encontro das am-
não constitui um entrave à adoção de metodo- bições BIM da Entidade Contratante.
logias BIM. No entanto, a ausência de referên-
cias explícitas a BIM no atual enquadramento Os requisitos de informação devem fazer parte
legal, deixa um vazio de enquadramento de da documentação do concurso, permitindo as-
aplicação que terá de ser colmatado sucessi- sim que as partes contratadas possam planear
vamente nesse mesmo quadro. a entrega da informação requerida.

No entanto, na fase atual, a estratégia de apli- Para que isso seja possível, a Entidade Contra-
cação BIM terá de se basear em documenta- tante terá de definir à partida as suas necessi-
ção internacional, ou, preferencialmente, em dades e requisitos, estabelecendo assim uma
documentação nacional no formato de guias, estratégia de gestão da informação coerente
ou manuais, que se adequem à realidade do e visível para todas as entidades contratadas.
enquadramento legal atual em Portugal.
Esses requisitos poderão estruturar-se da se-
É exemplo disso o ‘Guia de Contratação BIM’ da guinte forma:
CT197 que materializa já uma compatibilização
possível entre o atual enquadramento legal \ Requisitos Comerciais:
da contratação e a possibilidade de lhe acres- \ Objetivos e Âmbito BIM;
centar as valências e vantagens de aplicação \ Usos BIM;
BIM, através de ferramentas como: Adenda \ Direitos de Propriedade.
BIM, Requisitos de Informação, Aferição de
capacidades BIM e Plano de execução BIM. \ Requisitos de Gestão:
\ Funções e Atribuições;
\ Processos de Colaboração;
\ Adenda BIM
\ Partilha de Informação e Sistema de
Uma das formas de viabilizar a produção de Autorizações;
modelos BIM nas diferentes fases de um em- \ Segurança;
preendimento passa pela definição de dispo- \ Gestão da Qualidade;
sições contratuais acordadas entre as partes \ Entrega e Aprovação da Informação.
contratadas, que devem ser materializadas
\ Requisitos Técnicos:
através de uma adenda BIM.
\ Software e Plataformas;
A definição dos pontos acima descritos garante \ Formatos para Troca de Informação;
que todas as partes que produzem e entregam \ Levantamentos, Cadastros e Informa-
modelos e informação adotam regras e meto- ções Existentes;
dologias comuns, suportando assim metodo- \ Sistema de Coordenadas e Referen-
logias colaborativas nas equipas de projeto. ciais;
\ Sistemas de Classificação e Critérios de
Para além disso, garante ainda que todas as Modelação;
partes que usam os modelos têm direito a fa- \ Níveis de Desenvolvimento da Informa-
zê-lo e que a propriedade intelectual de quem ção (LODs);
partilha informação no ambiente colaborativo \ Tolerâncias de Modelação;
BIM está protegida. \ Estrutura de nomes dos ficheiros;
\ Necessidades Formativas.
\ Requisitos de Troca de Informação

Os requisitos de troca de informação da Enti-


dade Contratante, internacionalmente desig-
nados por Exchange Information Requirements
(EIR), consistem nas exigências estipuladas
pela entidade que procede à contratação no
âmbito dos serviços BIM para o empreendi-
mento.

BIM nas Autarquias - Guia Compreensivo para a Implementação do BIM 15


IV Rumo à Implementação do BIM

\ Aferição das capacidades BIM O PEB indica quais os fatores-chave que a


equipa deve seguir durante o projeto, reconhe-
A adequada avaliação das competências e cendo as restrições, os acordos e os requisitos
capacidades dos candidatos em relação ao de informação das entidades contratantes,
BIM, às normas do setor e aos requisitos de bem como os aspetos técnicos e de colabo-
informação da entidade contratante é impor- ração a considerar.
tante para o sucesso da concretização de um
empreendimento BIM. Este plano define o âmbito de aplicação da
implementação do BIM no empreendimento
Esta avaliação poderá considerar duas fases de construção, identificando os objetivos e
distintas: a qualificação dos candidatos e a usos BIM, mapeando processos, identificando
avaliação das propostas. fluxos de informação, definindo protocolos
de colaboração e estabelecendo a infraes-
Por um lado, é importante determinar o grau
trutura necessária à adequada execução do
de compromisso e experiência da entidade a
empreendimento.
contratar, por outro, a proposta apresentada
por essa entidade. É no planeamento da entrega da informação
que a colaboração na metodologia BIM começa.
Os critérios de avaliação de candidatos e
propostas devem incluir fatores e pesos ade- Existem dois tipos de plano de execução BIM,
quados à aferição das competências BIM, va- dependendo da fase do processo de contrata-
lorizando a componente BIM nas suas mais ção BIM: PEB pré-contrato e PEB pós-contrato.
diversas dimensões e garantindo o estímulo
à implementação gradual do BIM na indústria. O PEB pré-contrato é definido e apresentado
na fase de concurso pelo proponente, aten-
No que diz respeito à qualificação dos candida- dendo aos requisitos de troca de informação
tos sugere-se que, entre outros, se considerem da Entidade Contratante.
os seguintes fatores:
\ Recursos humanos afetos à metodologia Ao longo do processo de concurso, até ao mo-
BIM; mento da adjudicação, o PEB vai sendo ajus-
\ Processos BIM; tado até que as expectativas do proponente
\ Ferramentas BIM; e da Entidade Contratante estejam alinhadas,
\ Experiência de planeamento de projetos culminando assim num PEB definitivo sujeito
de execução BIM; a contrato, designado de PEB pós-contrato.
\ Capacidade de Colaboração. Deve existir um único PEB para o empreendi-
No que diz respeito à avaliação das propostas mento e todas as entidades envolvidas devem
sugere-se que se considerem os seguintes estar de acordo em relação ao seu conteúdo,
critérios: garantindo assim que todos sabem quais são
as suas responsabilidades e que a solução
\ Maturidade BIM da proposta; definida responde aos diferentes requisitos
\ Usos BIM a implementar; e restrições.
\ Qualificações da equipa afeta ao Projeto;
\ Procedimentos Colaborativo; Para a uniformização dos PEB em utilização
\ Elementos a entregar. pela indústria, salienta-se o trabalho da C197-
BIM, que tem desenvolvido esforços para a
\ Plano de Execução BIM publicação de um documento normativo exa-
tamente com este intuito.
É através do Plano de Execução BIM (PEB) que
cada prestador de serviços pode evidenciar a
sua mais valia em termos da aplicação BIM, ao
nível da sua organização e ao nível da proposta
apresentada em fase de concurso, com vista
a responder aos EIR.

16 BIM nas Autarquias - Guia Compreensivo para a Implementação do BIM


Rumo à Implementação do BIM IV

4.1.2\ Tecnologia

\ Formato Aberto Assim, independentemente da opção individual


dos diversos intervenientes relativamente aos
São reconhecidas a nível mundial, europeu softwares que usam, o presente documento
e nacional, as vantagens e a necessidade de evidencia a importância de se utilizar o formato
garantir a interoperabilidade das aplicações in- IFC para as trocas de informação.
formáticas, por contribuir para a universalidade
de acesso e utilização da informação e para A existência deste formato aberto garante a
a preservação dos documentos eletrónicos. interoperabilidade no presente, mas também
a disponibilidade do modelo no futuro, fazendo
A Lei das Normas Abertas (Lei n.º 36/2011) e face às previsíveis evoluções dos softwares
o respetivo Regulamento Nacional de Intero- proprietários, que poderão impossibilitar o
perabilidade Digital (RNID - RCM nº 2/2018), acesso a modelos em formatos proprietários
alinhado com as diretrizes europeias para a antigos.
promoção da interoperabilidade, define as
especificações técnicas e os formatos digitais Nota: Considerando que o RNID não define
abertos (não proprietários) a adotar pela Admi- nenhum formato para a área da construção,
nistração Pública, como forma imprescindível poderá constituir uma oportunidade a inclusão
para assegurar a interoperabilidade técnica e de normas e formatos abertos BIM, na próxima
semântica, em termos globais, na interação atualização do RNID.
com o cidadão ou a empresa e para disponi-
bilização de conteúdos e serviços, criando a \ Organização da informação orientada a
necessária independência dos fornecedores objetos
ou soluções de software adotadas.
No âmbito da metodologia BIM, a unidade
A metodologia BIM pode envolver a utilização elementar de informação é o objeto, o que
de diversos softwares BIM, que funcionam incentiva a uma transformação da indústria
com diferentes formatos proprietários. Estes em torno deste bloco de informação unitária.
formatos proprietários, incompatíveis entre si,
assentes em licenças de utilização baseadas Urge, assim, organizar os objetos de forma
nos direitos de autor, com restrições ao seu uso classificada e devidamente estruturada, ga-
exclusivo a entidades licenciadas, restringem rantindo que a sua parametrização é uniforme
e limitam a troca de informação e a intero- e normalizada.
perabilidade entre ferramentas informáticas.
Reconhecendo a importância deste trabalho,
O uso de formatos abertos em BIM favorece a CT197-BIM está também a desenvolver nor-
a troca de informação e a comunicação entre malização nacional aplicável à organização da
os intervenientes e permite uma escolha mais informação orientada a objetos, esperando-se
livre das aplicações a adotar pelos intervenien- a publicação de uma norma BIM para objetos
tes do processo construtivo. no início de 2021.

O formato aberto IFC, atualmente norma ISO


EN, não é propriedade de nenhuma entidade e,
por isso, pode ser lido e manipulado de forma
livre pela generalidade das ferramentas infor-
máticas BIM atuais.

BIM nas Autarquias - Guia Compreensivo para a Implementação do BIM 17


IV Rumo à Implementação do BIM

4.1.3\ Processos

\ Trabalho Colaborativo Baseado em Blocos Num processo de trabalho BIM, o CDE deve
de Informação ser um único ambiente, acedido por todos os
intervenientes, que contém toda a informação
Um bloco de informação (normalmente refe- relevante para o projeto, quer tenha sido ou não
rido na língua inglesa por ‘container’) pode ser, desenvolvida com recurso a ferramentas BIM.
por exemplo, um modelo 3D, um desenho, um
documento ou uma tabela. Na definição de um CDE deve ficar estabelecido
um sistema de permissões que identifique a
Bases de dados com múltiplas tabelas de in- propriedade da informação - em geral, o pro-
formação estruturada também são containers. prietário será o respetivo autor - bem como um
Podem ser categorizados como blocos de infor- conjunto de regras para o seu uso.
mação de documentos, de informação gráfica
e de informação não-gráfica. No caso particular de modelos BIM, é comum
que coexistam vários modelos (divididos, por
Trabalho colaborativo baseado em blocos de exemplo, por especialidade de projeto ou por
informação significa que o autor ou gerador de uso) que podem ser combinados dando origem
determinada informação é responsável pelo a um modelo federado sem que seja alterada
seu conteúdo e que garante a sua qualidade. a propriedade da informação original.
Para além disso, significa que são definidas A informação contida num CDE evolui a partir
determinadas regras relativas aos processos de um estado de “Trabalho em Curso” (Work
de gestão de informação para que dados e in Progress - WIP) até uma versão aprovada
informação sejam partilhados de forma se- pelo cliente e arquivada para uso futuro.
gura e eficiente.
A EN ISO 19650-2:2018 propõe uma escala
\ Ambiente Comum de Dados de quatro estados: WIP (não aprovado), Shared
(verificado e aprovado para partilha), Published
Um ambiente comum de dados (ou Common (aprovado por cliente), Archive (registo con-
Data Environment - CDE) é um sistema para tínuo de toda a informação correspondente
gerir dados e informação. Não é apenas um a entregas efetuadas, por exemplo, por fase
local de armazenamento na cloud, é também o de projeto).
conjunto dos processos e regras que garantem
que as pessoas estão a trabalhar na versão O CDE pode ser implementado com recurso
atual dos ficheiros ou modelos e que sabem a diferentes tipos de tecnologia, incluindo ex-
para que os podem usar. tranets e ferramentas colaborativas diversas.

Uma componente importante dos ambientes


colaborativos é a capacidade de comunicar,
reutilizar e partilhar dados de forma eficiente
e sem perdas, contradições ou más interpre-
tações.

18 BIM nas Autarquias - Guia Compreensivo para a Implementação do BIM


Rumo à Implementação do BIM IV

4.1.4\ Pessoas e Competências

\ Definição de Funções e Atribuições O gestor de informação do projeto deverá ser


responsável pela aplicação das normas BIM
Dada a importância da gestão da informação di- do projeto, garantindo a entrega da informação
gital, existem novas funções que em processos requerida pelas entidades.
efetuados através da metodologia tradicional
não seriam necessárias. Além disso, esta pessoa deve ser responsável
pela manutenção das pastas e dos nomes dos
Neste sentido, nos Requisitos de Informação ficheiros.
devem ser claramente definidas todas as fun-
ções e atribuições relativas à metodologia BIM.
\ Formação e Capacitação
Os perfis usualmente considerados podem ser
consultados no PEB (Plano de Execução BIM), Para o cumprimento dos requisitos de infor-
salienta-se, contudo, a importância do gestor mação, poderá ser necessária uma formação
de informação do projeto. complementar dos intervenientes no processo
de colaboração BIM.
A clareza das funções, a responsabilidade, a
autoridade e o âmbito de cada tarefa são um Esta formação será assim específica para as
aspeto essencial de uma gestão de informa- aplicações que serão utilizadas no Projeto, po-
ção efetiva. dendo incidir em vertentes como a agregação
de dados da construção, coordenação espacial,
Para empreendimentos mais pequenos ou relatórios de deteção de incompatibilidade, ou
menos complexos esta função pode ser acu- gestão de manutenção e operação.
mulada com outras funções de gestão, mas
deverá estar sempre definida e atribuída a
indivíduos que cumpram os requisitos para a
desempenharem.

BIM nas Autarquias - Guia Compreensivo para a Implementação do BIM 19


IV Rumo à Implementação do BIM

4.2\ Domínios de Aplicação


nas Autarquias
A definição, o detalhe e a caracterização do Inspeção do Edifício – Processo em que o
modelo BIM a construir e a partilhar, depen- modelo BIM é utilizado como intermédio para
derão dos Usos BIM a implementar, e das ne- a inspeção das condições de um edifício, e
cessidades e objetivos das partes envolvidas. verificação da regulamentação.

Por esta razão, as autarquias locais devem de-


finir de forma clara os Usos BIM a implementar D. Intervenção Direta ou Consultiva no Pro-
em cada caso, e as partes envolvidas devem jeto e Obra (nova ou reabilitação)
trabalhar esses usos no sentido de garantir os Modelação de Condições Existentes, pro-
requisitos adequados à sua aplicação. cesso em que a equipa de projeto desenvolve
Tendo em consideração os usos BIM identifi- um modelo 3D georreferenciado das condições
cados e praticados na indústria da construção existentes de um ativo. Nestas situações pode
a nível mundial, as autarquias locais poderão recorrer-se a tecnologia de varrimento laser,
facilmente adaptá-los ao âmbito das suas atri- usando-se um equipamento capaz de fazer
buições e competências, designadamente: o levantamento de uma nuvem de pontos do
ativo existente.

A. Ordenamento do Território Planeamento de Demolição – Processo em


que o modelo BIM é usado para planear e
Cadastro de informação BIM do edificado e monitorizar atividades de demolição.
infraestruturas, integrado nos sistemas de
informação de ordenamento: integração da Inspeção da Obra, onde o modelo BIM é utili-
informação de cadastro do existente do edifi- zado para inspeção das condições e verificação
cado e infraestruturas em BIM, que inclua os do cumprimento do projeto licenciado.
sistemas de informação do cadastro predial,
patrimonial, usos do solo, coberto arbóreo, Deteção de conflitos – Processo onde soft-
entre outros, garantindo uma complementari- ware de deteção de conflitos são utilizados
dade e continuidade entre o BIM e o SIG, para durante a coordenação do projeto, onde incoe-
efeitos de definição de planos e estratégias de rências são identificadas e corrigidas antes da
ordenamento do território. construção do ativo.

Análise do local de construção: processo em Entrega e Comissionamento – Processo em


que o modelo BIM integrado com ferramentas que o modelo BIM é usado para ligar as en-
de Sistemas de Informação Geográfica, per- tregas da fase de construção com os requisi-
mite avaliar os terrenos e a sua adequação tos da fase de operação. É constituído pelos
à localização ideal para local de construção. documentos a serem entregues e atividades
a serem concluídas, antes do ativo ser trans-
ferido do fornecedor para o comprador
B. Licenciamento, de Construção e de Uti-
lização Avaliação de sustentabilidade (LEED), pro-
cesso onde um projeto é avaliado com base
Análise de conformidade regulamentar do em critérios LEED ou outro critério de susten-
projeto, processo em que o modelo BIM é tabilidade, abrangendo materiais, mas tam-
utilizado para avaliar a qualidade do projeto no bém o desempenhos e processos. Este tipo
âmbito das acessibilidades, acústica, ener- de avaliação pode ser aplicado em qualquer
gética, iluminação, segurança, estrutural, uma das fases do projeto: planeamento, di-
solar, etc, permitindo a sua identificação e mensionamento, construção e operação. De
correção prévia. salientar que a avaliação da sustentabilidade
é mais eficaz nas fases iniciais, pois é muito
C. Fiscalização mais fácil (e económico) alterar os materiais ou
soluções construtivas desde o início do projeto
Controlo por Laser Scanning – Processo no do que quando este já se encontra construído.
qual é criado um modelo BIM recorrendo a
nuvens de pontos.

20 BIM nas Autarquias - Guia Compreensivo para a Implementação do BIM


Rumo à Implementação do BIM IV

Comunicação Visual, processo no qual um Modelo as-built, modelo tal como construído,
modelo 3D é criado ou melhorado com o intuito que constitui as telas finais do projeto construído.
de comunicar as qualidades visuais, espaciais
ou funcionais através de representações (ren- E. Gestão e Manutenção de Edifícios
dering), realidade virtual, realidade aumentada,
cenografia ou holografia. Monitorização do Desempenho, processo em
que o modelo BIM é usado para monitorizar e
Compatibilização dos Projetos, processo no gerir o consumo energético e outras métricas
qual todos os projectos das diversas espe- do desempenho do edifício.
cialidades constroem um modelo BIM único.
Pode igualmente dizer respeito ao processo de Calendarização da Manutenção do Edifício,
compatibilização dimensional, espacial e de processo de gestão de ativos onde as ativida-
informação, de vários modelos BIM correspon- des de manutenção são incluídas no modelo
dentes às diversas especialidades envolvidas BIM, criando alertas para quando os bens de
num processo de projecto/construção. um ativo devem ser alvo de manutenção.

Mapa de Quantidades, processo pelo qual é


feito um levantamento automático dos mate- F. Gestão de Ativos e cadastro do existente
riais existentes num modelo BIM e suas quan-
Contratos de Aquisição, processo em que o
tidades, usando ferramentas incorporadas em
modelo BIM é utilizado para gerir a contra-
software BIM.
tação de ativos (ex.: substituição de bens e
Estimativa de custos, processo em que o equipamentos).
modelo BIM é usado para gerar um mapa de
Gestão de Ativos – Processo no qual um sis-
quantidades e estimativa de custos em qual-
tema de gestão organizado irá auxiliar eficaz-
quer fase de projeto ou obra desde a fase inicial
mente a manutenção e operação de um ativo
do projeto, permitindo identificar potenciais
e seus bens, consumindo o menos possível.
alternativas que poupem tempo e dinheiro.
Avaliação de Riscos e Perigos – Processo
Planeamento da Construção, processo em
pelo qual o modelo BIM é utilizado para ava-
que o modelo BIM é usado para organizar as
liar os riscos operacionais e perigos dentro
atividades de construção e para identificar as
de um ativo.
necessidades de recursos humanos e materiais
de modo a completar essas atividades.

BIM nas Autarquias - Guia Compreensivo para a Implementação do BIM 21


V Conclusão

5\ Conclusão
A metodologia BIM ocupa um papel central na transformação
digital da indústria da construção.

Por isso mesmo, deve ser encarada como uma Contudo, este avanço representa um incentivo
mudança profunda que afeta toda a fileira da à mudança de todos os intervenientes envolvi-
construção. dos, o que é crucial nos tempos que decorrem.

A sua devida implementação tem impactos A transição digital é um fator cada vez mais
a vários níveis, e não só ao nível tecnológico, importante para a competitividade das empre-
como muitas vezes é percebido. sas, pelo que todos os esforços rumo a esta
mudança são importantes.
É importante que as Autarquias encarem este
desafio em toda a sua plenitude e avancem E o papel das Autarquias é, sem dúvida, central
para a mudança, dando pequenos passos, mas para as dinâmicas locais e regionais, tendo
os passos certos. acrescida responsabilidade na promoção da
competitividade das empresas através do in-
A fundamentação dos conceitos base é crucial, centivo à inovação e digitalização.
razão pela qual este documento os aborda de
forma pragmática e direta. Implementar e contratar BIM é estimular no-
vas formas de trabalhar, mas acima de tudo,
É inegável o impacto que as Autarquias têm assumir a importância do digital e apoiar a
a nível local e regional e, por isso, é uma res- sua implementação progressiva na indústria,
ponsabilidade acrescida o avanço para a digi- garantindo a sua competitividade.
talização da construção.

22 BIM nas Autarquias - Guia Compreensivo para a Implementação do BIM

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