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Hospital

 
Fachada do Hospital-maternidade Mater Dei, em Belo Horizonte.
Hospital ou Nosocômio é um local destinado ao atendimento de doentes para
proporcionar o diagnóstico, que pode ser de vários tipos (laboratorial, clínico,
cinesiológico-funcional) e o tratamento necessário. Documenta-se o vocábulo português
"hospital" no século XVI talvez por influência do francês "hôpital" do século XII
derivados da forma culta do latim "hospitale" relativo a hospede, hospitalidade, adjetivo
neutro substantivado de "hospitalis (domus) - (casa) que hospeda.
Historicamente, os hospitais surgiram como lugares de acolhida de doentes e
peregrinos, durante a Idade Média. A denominação "Hotel-Dieu", que foi empregada
para um conjunto de instituições francesas do século VII, já traz em si a noção de
hospedagem e o caráter religioso que caracterizou a origem dessa instituição na
Europa. Acredita-se que o primeiro foi o "Hotel-Dieu", fundado em Paris nos anos 651
ou 829 (reconstruído?) de nossa era.
Actualmente há diferenciação entre hospitais públicos e privados de grande e de médio
porte a depender da sua entidade mantenedora e do número de leitos que oferecem. Os
hospitais públicos por sua vez podem ser regionais e locais de acordo com a área de
abrangência da população a ser assistida, são financiados e mantidos pelo Estado, sendo
o custo menor para os doentes em comparação com os hospitais privados. No Brasil
graças à concepção do Sistema Único de Saúde (SUS) é completamente gratuito.
Os hospitais também podem ser classificados pelo tipo de serviços que prestam:
cirurgias gerais e especializadas, acompanhamento de eventos naturais como o parto
(maternidade), o envelhecimento (Asilos e hospitais geriátricos) ou ao caráter
de urgência / emergência da demanda. Assim sendo hospital pode se constituir como de
caráter específico, acompanhando as divisões da especialidade médica por sexo, idade
e/ou por atenção à patologias específicas (hospital do câncer, hospital psiquiátrico, de
oftalmologia etc.) ou constituir-se como um hospital geral.

Departamentos

Sala de ressuscitação após intervenção de trauma, mostrando os modernos


equipamentos de hospitais.
Trabalham em hospital profissionais de limpeza, administração, diretoria, recepção, e
principalmente profissionais de saúde, como nutricionistas, médicos, cirurgiões-
dentistas, enfermeiros, fisioterapeutas, farmacêuticos etc. O planejamento dos serviços a
ser oferecidos e o estudo da relação da unidade hospitalar com as demais unidades de
saúde é realizado por profissionais de saúde pública e autoridades sanitárias
governamentais, política e juridicamente constituídas.
Os principais departamentos de um hospital são o seu corpo clínico (diretoria médica) e
o serviço de arquivo médico e estatística (SAME); o setor administrativo de manutenção
e o setor financeiro. Num "Hospital Geral" os serviços oferecidos variam muito e
também os departamentos que esses possuem. Eles podem ter serviços de atendimento à
casos graves, tais como departamento de emergência, centro de trauma, unidade de
queimados, cirurgia de emergência ou atendimento de urgência. Esses podem ser
apoiados por unidades especialistas, tal como cardiologia, terapia
intensiva, neurologia, ginecologia e obstetrícia e oncologia.
Também existem as unidades de suporte, que auxiliam no tratamento e no diagnóstico
médico. As mais comuns são farmácia, patologia e radiologia ou bioimagem.
História

Para Foucault, o hospital como instrumento terapêutico é uma invenção relativamente


nova, que remonta ao final do século XVIII. Segundo ele, a consciência de que o
hospital pode e deve ser um instrumento destinado a curar aparece claramente em torno
de 1780. Tal verifica-se através de diversos estudiosos e filantropos dessa época, como
o inglês John Howard (1726–1790) conhecido como o reformador das prisões, e o
médico francês Jacques-René Tenon (1724–1816) que em 1788 publicou o livro
“Mémoire sur les Hôpitaux de Paris” (Memórias sobre os Hospitais de Paris) a pedido
da Academia de Ciências, no momento em que se colocava o problema da reconstrução
do Hotel-Dieu de Paris. Foram realizadas visitas, inquéritos e feitas comparações que
determinam reformas e construções dos hospitais.
A tarefa de descrever a origem do hospital que conhecemos ou a reconstrução
sociológica da história dos hospitais, requer uma análise das condições políticas,
econômicas e culturais da estrutura social, dos sistemas de valores, da organização da
cidade, em relação às condições e necessidades da população nos diversos períodos
históricos. Essencialmente nem tudo que foi chamado de hospital corresponde ao que
conhecemos hoje. Rosen[3], por exemplo, nos explica que o termo hospital na França do
século XVIII possuía uma conotação mais vasta, designava uma série de instituições
caritativas criadas para atender os necessitados fossem eles doentes, inválidos ou
dependentes. Uns se constituíam como algo próximo aos hospitais que conhecemos,
outros, aos asilos.
Foucault[4] assinala ainda que, poder-se-ia dizer também que há milênios existem
instituições (hospitais) destinadas à cura e que o que ocorreu no século XVIII foi a
constatação de que os hospitais não curavam tão bem quando deviam. Considera ainda a
existência dos hospitais marítimos e militares destinados, do ponto de vista da saúde, a
controlar epidemias (com medidas tipo quarentena) e assegurar a manutenção da
corporação.
Feito essas considerações observe-se a relevância ou aproximação relativa de
instituições em diversas épocas e culturas ao nosso objeto de estudo, o hospital nessa
possível linha de evolução:
Grécia antiga (1200–400 a.C.)

Vista do Asclepião de Cós, um dos melhores preservados dessa época.

Valetudinário de Carnunto
Nos “Templos” ou “Clínicas” de Esculápio (de Asclépio, Grego: Ασκληπιεία). O
atendimento individual ao cidadão grego com ervas, repouso, purgantes, banhos
térmicos, rituais religiosos tipo consulta à oráculos, indução de sonhos reveladores,
("enkoimesis", Grego: ενκοίμησις), etc. e atividades de lazer (“kátharsis”), educação em
teatro, realizados em construções (Anfiteatros) anexas às clínicas.
Os Iatriões (lugar dos médicos, "latros") estavam no centro da cidade, com camas para
doentes e banheiros, possuindo boa ventilação, iluminação, aparentemente cuidados
destinados à evitar a contaminação. Pode ser considerada como um antecedente do
ambulatório. Dessa época sobreviveu também o termo “Cline” (do grego κλίνη – cama,
origem dos termo clínico, clínica médica) e terapeutas (Médicos, do grego terapia
θεραπεία - "servir a deus" - Asclépio). Os pacientes curados faziam doações
denominadas “taxas”.
Hipócrates (460–377 a.C.) introduz princípios de racionalidade médica e ética (legando
os textos conhecidos como “Corpus Hipocraticus”) até hoje tido como referências
(ver: Juramento de Hipócrates), mas não parece ter modificado a forma das instituições
existentes.
China (160 a. C. – 625 d. C.)
Nesse período, na China sob a dinastia Han, a medicina possuía um caráter de serviço
público, segundo as “Memórias Históricas” teriam existido hospitais ou
estabelecimentos análogos e os médicos da corte procediam exames sistemáticos no
pessoal do palácio e tornavam-se com freqüência funcionários ou escreviam sobre
medicina. A partir do ano 624 os estudos médicos foram sancionados por exames sob
autoridade do T’ai-yi-chou (grande serviço médico) se constituindo como o mais antigo
exemplo do controle do estado sobre a medicina.[5]
Roma (27 a. C. – 476 d.C.)
No Império Romano (27 a.C. – 476 d.C.) das referências aos hospitais da antiguidade,
existe apenas o Valetudinário, instituição romana destinada ao tratamento e recuperação
das tropas. Durante o período de expansão do império, o Valetudinário não tem origem
religiosa, pelo menos no princípio. Posteriormente, nesse mesmo império, entre os
séculos I e II a.C., registram-se, pois, instituições análogas destinadas aos escravos.
Registra-se também nesse período e a permanência das instituições (templos?) e casas
de banho sobreviventes do mundo grego.[6]
Em 129 a 199 d.C., Galeno reafirma e desenvolve os princípios da medicina grega.
Jesus Cristo é tido como um curandeiro, aumentando a concepção religiosa e espiritual
da medicina, reafirmando os princípios éticos da caridade expresso nos
textos bíblicos como “amor ao próximo”. A era dos milagres e expectativa de cura
através de "auxílio divino" e penitências que desenvolveram-se a partir de então, tem
várias interpretações, inclusive a de exacerbação da fé e rejeição ao racionalismo, típico
da Idade Média considerada por alguns como a “idade das trevas”. Em 317 d.
C. Constantino I (272 —337 d. C.) passa a adotar declarado e oficialmente lemas e
símbolos cristãos e em 325 publica o édito que proibia as “casas de banho” e templos
pagãos.[1]
Em 370 d. C. funda-se o primeiro hospital em Cesareia construído após proclamação
de édito cristão, considerando-se seguindo a doutrina de Jesus Cristo.
De 370 a 379 d. C., Basílio, o Grande, institui como norma a criação de hospitais como
“sistema sanitários”, tendo o hospital de Roma como referência. Multiplicam-se os
hospitais dos primeiros séculos da era cristã, juntamente com as numerosas ordens
religiosas associadas, que sobreviveram por mais de 1500 anos.
Em 475/476 d. C., Rómulo Augusto cria por édito as "xenodoquias" (do grego Xenos –
Estrangeiro dochion- alojamento) para hospedagem dos forasteiros e participantes das
típica vias de peregrinação dessa época (ver: o Caminho de São Tiago).
Índia (século IV d. C.)
São criados os hospitais budistas da Índia.
Europa (séculos VII a tempos modernos)

Igreja Notre-Dame de Paris, vendo-se à a direita, o antigo Hotel-Dieu


Em 650-656 dá-se a construção do Hotel-Dieu em Paris, sob a direção do Bispo de São
Landry.
No século XV dá-se o início do processo de separação do hospital medieval em duas
instituições distintas: o hospital sensu stricto para o cuidado dos pacientes e a instituição
de caridade, geralmente associada à recolha de órfãos, abrigos ou casas para os pobres.
[7]
No século XV, dá-se o “Quattrocento Italiano”, no contexto de transformações da
cidade-estado e suas instituições de bem-estar, surge uma nova arquitetura e tipologia
do hospital, que o distanciou das instituições medievais. Um símbolo desta reforma é a
utilização da cruz grega e formação de claustros nos espaços, o que permitiu a
classificação e separação dos internos.[8]
Em 1498, é decretado o Decreto de D. Manuel I em Lisboa para criação da 1ª Santa
Casa de Misericórdia em Portugal, modelo que se estende naquele pais e posteriormente
na sua colônia do Brasil.[9] [10]

A antiga Santa Casa de Misericórdia de Olinda, primeiro hospital do Brasil.

Um médico visitando os enfermos em um hospital. Gravura alemã de 1682.


O primeiro hospital do continente americano foi criado em 1524, na Cidade do
México[11]. Em 1540 é fundada a Santa Casa de Misericórdia de Olinda, primeiro
hospital do Brasil.[12][13][14]
Nos séculos XVI e XVII dão-se as transformações dos leprosários medievais em
hospitais gerais. O primeiro hospital no mundo muçulmano foram criados para tratar
pacientes com hanseníase e isolá-los do resto da população, isso em torno do ano 700, o
“Bimaristan” que foi fundado em Damasco durante o reinado do califa omíada Abd al-
Malik [15] Antes dessa forma de organização, eram relativamente comuns, as “colônias”
ou associações de auto ajuda entre leprosos banidos das cidades.
No século XVIII dá-se o reconhecimento da importância da ventilação paradigma da
aeração (miasmas - retorno ao conhecimento grego hipocrático da relação das
enfermidades, dos lugares com os ares e as águas). Se caracterizam as soluções
arquitetônicas com tipologia própria (Lazaretos pabellonarios), um dos princípios
orientadores da reforma e reconstrução do novo Hôtel-Dieu de París, que incendiou em
1772.[16]
De 1789 a 1790, durante os sangrentos acontecimentos da Revolução Francesa, a ira
popular tomou os hospitais que estavam sendo utilizados como prisões políticas.
Posteriormente os hospitais tornaram-se um encargo da Administração Municipal e as
ordens religiosas se limitaram ao serviço espiritual prestado aos doentes.
Em 1822 proclama-se na Espanha, a "Ley General de Beneficencia", base para a futura
legislação do século XIX, é a etapa final da Beneficência sob a administração de Carlos
III.[17]
Em 1863 Henry Dunant inicia o movimento em Genebra que resultou no Comitê
Internacional da Cruz Vermelha para proteger a vida e a dignidade de vítimas de
conflitos internacionais e internos.
Nos princípios do século XIX, os serviços médicos de cuidados de emergência pré-
hospitalar foram iniciados para recuperar o maior número possível de combatentes, as
ordens de Napoleão Bonaparte, Dominique-Jean Larrey (1766-1842) usa o termo
“triagem”, como um sistema de classificação para tratar os feridos no campo de batalha.
Cria-se o transporte por ambulância e introduz-se os princípios da saúde militar
moderna.
Revoluções da assepsia, higiene e anestesia
Louis Pasteur (1822–1895), início das explicações do contágio, bacteriologia e
fabricação das vacinas.
Joseph Lister, (1827–1912), o cirurgião e pesquisador inglês que iniciou uma nova era
no campo da cirurgia em 1865, utilizando o ácido carbólico (fenol) como agente anti-
séptico.
Philipp Semmelweis (1818–1865) demonstrando a validade da lavagem das mãos como
profilaxia.
Joseph Priestley (1733–1804) descoberta do óxido nitroso viabilizado para uso medico
como anestésio e analgésico por Thomas Beddoes e James Watt, que publicaram o livro
“Considerations on the Medical Use and on the Production of Factitious Airs” (1794).
Nessa perspectiva a história hospital é a sucessiva evolução e adaptação dos avanços da
tecnologia médica. A microbiologia e história da higiene tem um valor especial para
história do hospital porque até hoje as infecções hospitalares são um dos problemas
dessa instituição.[18]
O hospital no sistema de saúde
Em 1910, é publicado, por Abraham Flexner (1866-1959), o estudo “Medical Education
in the United States and Canada – A Report to the Carnegie Foundation for the
Advancement of Teaching” conhecido como o Relatório Flexner (Flexner Report)
considerado o grande responsável pela mais importante reforma das escolas médicas de
todos os tempos nos Estados Unidos da América (EUA), com profundas implicações
para a formação médica por suas recomendações à especialização e exigência na
formação médica de um ciclo clínico de mais dois anos, realizado no hospital
devidamente equipado com laboratórios e instalações adequadas.[19][20]
Além do avanço tecnológico e especialização dos hospital pode-se afirmar que as
modernas discussões sobre o hopspital se iniciam com o relatório Dawson elaborado por
Bertrand Edward Dawson (1864 – 1945), em 1920, que deu origem aos sistema médico
inglês de 1948 que articula “centros de saúde” a hospitais [20] e tem sido considerado um
dos primeiros documentos que sintetizaram um modo específico de pensar políticas
públicas de saúde mediante a criação de Sistemas Nacionais. É comum a expressão
modelo hospitalo-cêntrico em oposição a um modelo assistência que tem como centro
a atenção primária, realizada em unidades elementares de saúde, como expressão de
uma controvertida polêmica sobre a aplicação dos recursos da saúde pública.[21][22][23]

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