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Resumo
Este artigo é produto das discussões realizadas no âmbito da disciplina obrigatória de
Historiografia e Produção dos Espaços, componente da grade curricular do Programa de
Pós-graduação em História, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),
e ministrada pelo professor Doutor Raimundo Arrais, servindo como critério avaliativo
para a nota final da disciplina. Neste texto, discutimos a relação entre o espaço
hospitalar do Juvino Barreto, situado na cidade do Natal (RN), e sua localização
geográfico-espacial a partir das teorias médicas que circulavam no final do século XIX
e começo do XX, fundadas no paradigma infeccionista, particularmente na teoria dos
miasmas e na climatologia neo-hipocrática.
Palavras-chave: Teorias médicas, espaço hospitalar, localização geográfico-espacial,
cidade do Natal
Essa congregação religiosa foi criada na Itália em 1866 pela italiana Ana
Rosa Gattorno (1831-1900), oriunda da Ordem Terceira de São Francisco. Apresentou
sua nova regra ao Papa Pio IX em 3 de janeiro de 1866, recebendo dele a autorização
para fundar uma nova ordem. Partiu para Piacenza, onde fundou a Instituição das Filhas
de Sant’Ana, em 8 de dezembro do mesmo ano. Dedicaram-se a partir de 1868 à
atividade missionária, fundando comunidades na Bolívia, Brasil, Chile, Eritréia, Peru,
França e Espanha. A presença dessa congregação em Natal se fazia sentir desde o
começo do século XX, como podemos acompanhar nas páginas do jornal A República,
quando frequentemente as Filhas de Sant’Ana aparecem interessadas em fundar
instituições piedosas, como o Asylo de Mendicidade.
A querela aqui, todavia, é muito mais política que científica, pois o jornal
citado era opositor à família Albuquerque Maranhão, e não apresentou nenhum
argumento médico a respeito, embora tenha insistido que a localização adequada seria o
velho Hospital de Caridade “[...] debaixo de todos os pontos de vista...”.
Outro variável que poderia ser arrolada neste artigo seria um estudo sobre a
arquitetura hospitalar do Juvino Barreto, trazendo à tona alguns aspectos do pensamento
médico ali materializados. Foge, todavia, ao escopo do nosso texto. A hipótese de
intervenção do pensamento médico no espaço reservado à construção do hospital
parece-nos bastante consistente, pelo menos em dois pontos: a presença de médicos na
condução das obras e direção da instituição nosocomial: Calixtrato Carrilho e Januário
Cicco, que dirigiram o hospital, além da presença de Cândido Henrique de Medeiros,
trazendo sua experiência da Santa Casa de Misericórdia de Recife (Ou seja: os médicos
estavam à frente do empreendimento); a existência de um paradigma higienista, que
atrelava as teorias médicas à força de execução do Estado, implementando-se reformas
urbanas fundadas em um planejamento (entenda-se intencionalidade!). Assim,
desespacializar o objeto hospital seria reproduzir o discurso reducionista do “Inferno de
Dante” ou simplesmente apagar a carga simbólica que as espacialidades carregam, fruto
de nossa própria trajetória de Homo simbolycus, incapazes de viver sem dotar as coisas
de sentido, simbolizar o mundo que nos rodeia.
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