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RECURSOS FÍSICOS E
MATERIAIS
GESTÃO DE RECURSOS FÍSICOS E
AMBIENTAIS
CAROS ESTUDANTES:
Iniciaremos a 8ª disciplina do nosso Curso sob o título de: “Gestão de Recursos Físicos e
Ambientais”. Estes temas são importantes para a construção do conhecimento na Gestão em
Enfermagem. Pensamos em propor a discussão de conteúdos que sejam plenamente
aplicáveis nos seus contextos de trabalho. Sejam muito bem vindos!
INTRODUÇÃO
Ao analisarmos detalhadamente os recursos físicos que nos rodeiam nos damos conta
da importância que têm para a enfermagem e equipe multiprofissional que atuam naquele
serviço e para os clientes que ali são atendidos1.
Diante dessa análise inicial temos que manter o foco em duas conclusões: a primeira é
relativa à importância que devemos atribuir aos itens identificados, pois todos eles ocupam
espaço no ambiente físico do nosso local de trabalho e a segunda conclusão é referente aos
resultados da assistência à saúde sofrerem interferências da qualidade do espaço onde essa
assistência é realizada1.
Muito temos que fazer frente ao gerenciamento de tais recursos principalmente diante
da magnitude de suas consequências. Atuar frente aos recursos físicos se traduz em grande
desafio. Nessa disciplina vamos entender como atuar e todas as variáveis envolvidas nesse
universo. Para tanto, o conteúdo foi estruturado em cinco partes, a primeira traz referenciais,
discussões e reflexões sobre a história dos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS) no
mundo e no Brasil, a segunda apresenta uma linha do tempo com a história das normas para a
construção de EAS no Brasil, a terceira apresenta e discute a norma em vigor – a Resolução da
Diretoria Colegiada (RDC) número 50, a quarta apresenta proposta básica para facilitar a leitura
de projetos arquitetônicos e, a quinta discute a importância do domínio da gestão de recursos
físicos nos processos de trabalho do enfermeiro nas organizações de saúde.
A HISTÓRIA DOS EAS
Até a Idade Média, a assistência aos enfermos era prestada em caráter oficial por
sacerdotes das ordens religiosas ou por leigos que praticavam uma espécie de medicina popular,
que tinha por locus o mercado, os arredores dos templos ou qualquer outro lugar em que a
multidão se reunia para assistir ao espetáculo da extração de um dente ou da amputação de um
membro gangrenado. A medicina oficial, por sua vez, se desenvolvia no interior dos mosteiros
ou em anexos construídos com esta finalidade, sempre como atividade secundária às obrigações
de caráter religioso e assistencial, que constituíam o objetivo principal das ordens religiosas2.
Somente a partir do século XVIII, quando a doença passou a ser reconhecida como fato
patológico pautada no paradigma da microbiologia, formou-se o conceito de hospital
terapêutico, considerado por Michel Foucault, em sua célebre conferência sobre o nascimento
do hospital, como uma invenção relativamente nova3. Nesse contexto as questões funcionais e
espaciais tornaram-se mais importantes, contribuindo para aperfeiçoar os processos projetuais
das edificações hospitalares.
Os hospitais com partido em bloco (inspirados nos antigos templos romanos) e em cruz
eram considerados inadequados, propondo-se, como alternativa, o modelo hospitalar
pavilhonar (fig. 2), tido como solução arquitetônica ideal, numa época em que os trabalhos de
Pasteur (1864) sobre o papel das bactérias como agente de enfermidades e os de Kock (1876)
sobre os perigos do contágio indicavam o isolamento dos pacientes com enfermidades
potencialmente contagiosas2.
Figura 2. Planta geral do Hospital Laribosiè re de Paris projetado por Gauthier
em 1839.
Fonte: TOLLET, 1892. Les édificies hopitaliers – depouis leur origine jusq ‘a
nos jours, 10ed.
A defesa do modelo pavilhonar na Inglaterra foi feita, entre outros, por Florence
Nightingale, cujas idéias revolucionárias sobre as técnicas de enfermagem, na segunda metade
do século XIX, ajudaram a reduzir drasticamente as taxas de mortalidade nos hospitais5.
Fonte. MIQUELIN, Lauro Carlos. Anatomia dos edifícios hospitalares. São Paulo:
CEDAS, 1992.
O Brasil foi o segundo país da América do Sul a construir uma edificação destinada
exclusivamente a receber enfermos: o Hospital da Santa Cruz da Misericórdia de Santos, criado
por Braz Cubas em 15432.(Figura 6)
Figura 6. Santa Casa De Misericórdia de Santos
O final do século XIX para o século XX foi marcado pela transição da tipologia dos
edifícios de saúde, que de pavilhonar passariam a ser monobloco, ou seja, edificações
horizontais interligadas seriam substituídas por edificações verticais que dificultaria a
propagação de doenças, pois acreditava-se que o contagio ocorria pelo ar e os pavilhões
favoreciam a transmissão de patologias diversas. Além disso, hospitais pavilhonares
exigiam grande número de pessoal e alto custo de instalação e manutenção. Como
algumas correntes de pensamento defendiam vantagens do uso da tipologia pavilhonar
por permitir maior aeração, ventilação e insolação, havia um conflito entre a estrutura
antiga e a nova proposta. Assim, surgiu um modelo hibrido denominado construção “em
pente” com alas horizontais e perpendiculares ao corpo central vertical5.
A profissionalização na área da saúde se deu somente em 1808, no Rio de Janeiro e em
Salvador, quando foram criados cursos de medicina e, tempos depois, em 1890, o primeiro curso
de Enfermagem, que foi criado a partir de um convite para que enfermeiras francesas formadas
no modelo médico substituíssem as irmãs da caridade que haviam deixado o hospital por
conflitos administrativos com a equipe médica. Esse fato traria grandes transformações nas
relações interpessoais, já marcadas pelo contexto social que valorizava o modelo médico
hospitalocentrico7.
Figura 7. Linha do tempo: História das Normas para Construção de EAS. 2015
A história das normas teve seu início no ano de 1974 com o documento de título
“Normas de Construção e Instalações do Hospital Geral”8. A referida norma foi
estabelecida pela Coordenação de Assistência Médica e Hospitalar do Ministério da
Saúde para assegurar que programação, projeto, construção e instalação adequadas
favorecessem, ao hospital geral, o atendimento eficiente, seguro e econômico. O
documento continha requisitos mínimos para planejamento, construção, reforma ou
ampliação de hospital do tipo geral de qualquer capacidade, excluindo, portanto,
hospitais de longa permanência, como psiquiátricos, geriátricos e de especialidades8.
Dentre os consultores selecionados pelo órgão governamental para elaboração dessa
norma, estava a enfermeira, livre-docente da Escola de Enfermagem da Universidade de São
Paulo (USP) e, na época, presidente da Associação Brasileira de Enfermagem Seção São Paulo,
Dra. Circe Mello Ribeiro. Também a enfermeira Maria Consuelo Borges Matos, chefe do Serviço
de Enfermagem do Hospital Infantil Darcy Vargas de São Paulo, a enfermeira Ondina Teixeira,
também farmacêutica e consultora de planejamento hospitalar, e o enfermeiro Orlando Fabbri
Neto, diretor do Serviço de Enfermagem da Clínica Psiquiátrica do Hospital das Clínicas da
FMUSP participava do grupo8. Esse documento também explicitou que enfermeiras
participavam da elaboração de normas e de projetos físicos hospitalares, tendo papel
importante na sociedade da época 9.
Em 1977, fundamentada pela lei no 6229, de 17 de julho de 1975, que dispunha sobre a
organização do Sistema Nacional de Saúde, um grupo de trabalho constituído pela Portaria no
517/BSB, do Ministério da Saúde, estudou, revisou e reformulou as publicações “Normas de
Construção e Instalações do Hospital Geral”, “Normas de Administração e Controle do Hospital”
e “Avaliação do Hospital”, desenvolvendo o documento de título: Normas e Padrões de
Construção e Instalação de Serviços de Saúde10.
Cinco anos depois, em 1983, foi publicada a terceira versão da norma para
construção de EAS, denominada Normas e Padrões de Construção e Instalações de
Serviços de Saúde, cujo objetivo era agregar conteúdos que colaborassem com a
adequação física e funcionalidade de EAS do país. Essa versão fundamentou-se na
Resolução da Comissão Interministerial de Planejamento e Coordenação das Ações de
Saúde (CIPLAN) no 3/80, estabelecendo condições para a expansão e adequação da rede
de serviços de saúde, incluindo tipologia física e dotação de pessoal. Além disso,
diferente da anterior, nessa norma foi incluído o manual de orientação, constituindo um
de seus capítulos o que, na versão anterior, era um documento separado 12.
Em 1995, profundas alterações vieram a compor a nova proposta de
normatização de espaços físicos de EAS, denominada Projetos Físicos de EAS. A proposta
desse documento iniciou-se com a denominação de EAS como sendo “qualquer
edificação destinada a prestação de assistência à saúde da população que demande o
acesso de pacientes, em regime de internação ou não, qualquer que seja o seu nível de
complexidade”. Vale ressaltar que essa norma substituiu a Portaria do MS n o 400/77,
estando em consonância com a Portaria MS no 1884/9413.
Em 1999, foi criada a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), com a
implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) e das agências reguladoras. A ANVISA
fundamentava-se no direito sanitário, exercia o controle estatal e tinha, na época e até nos dias
de hoje, como competência, regulamentar e fiscalizar as atividades concernentes à saúde
pública. Dessa forma, a proposição de normas de projetos arquitetônicos e a rede física de
assistência à saúde estariam sob sua regulação e fiscalização7.
A RDC50 é uma norma que legitima as transformações espaciais de EAS ocorridas até
então. Ela é também a expressão de um acordo social. Assim, a RDC 50 define o mínimo que
uma edificação deve conter para ser reconhecida como um EAS.
RDC50
A RDC 5014, que dispõe sobre o Regulamento Técnico para Planejamento, Programação,
Elaboração e Avaliação de Projetos de EAS, está estruturada em três partes: o Projeto de EAS, a
Programação Físico Funcional do EAS e os Critérios para Projetos de EAS (Figura 8). O conteúdo
da RDC50 não abrange apenas a boa estética hospitalar, mas também a qualidade da edificação
em resposta às expectativas dos usuários15, e atende à Constituição Federal, à Lei Orgânica da
Saúde, à Lei 9782/99 do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e às Normas Brasileiras da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
LEITURA DE PROJETOS
a. PAREDES
b. PORTAS
c. JANELAS
O plano horizontal da planta corta as janelas com altura do peitoril até 1.50m, sendo
estas representadas conforme a figura 11. Para janelas em que o plano horizontal não o corta,
a representação é feita com linhas invisíveis.
D. NI ́VEIS
Níveis são cotas altimétricas dos pisos, sempre em relaçao ̃ a uma determinada
referência de nível. O nível permite compreender a diferença de altura entre pisos. Os níveis são
representados conforme a figura 12.
E. EQUIPAMENTOS HIDRÁULICOS
b. Desenho da elevação ou fachada ou fachadas voltadas para vias públicas. Num lote de meio
de quadra é obrigatória a representação de apenas uma fachada. No caso de lote de esquina é
obrigatória a representação de pelo menos duas fachadas.
É o corte transversal à edificação, a uma altura de 1,50m. Através da planta baixa, pode-
se visualizar os ambientes que compõ e o projeto. (Figura 16)
̃ atravessando
Os cortes e fachadas (figura 19) são obtidos através de um plano de secçao
a construçao verticalmente (figura 17 e 18). Já a Fachada nada mais é do que a elevação frontal
̃
da construção, como se observasse o edifício de frente.
Há outras simbologias e convenções que devem ser conhecidas pelos profissionais que
terão acesso aos projetos arquitetônicos, facilitando assim a comunicação entre eles. Figura 20.
Iluminação Representa uma das condições fundamentais para a manutenção dos níveis
de produtividade e de conforto psicológico, é recomendado que se utilize luz
natural, possibilitando visão do exterior, mantendo assim o equilíbrio entre
a iluminação natural e artificial.
Cor A cor é fundamental para estimular a percepção e sensação dos usuários de
um serviço de saúde.
Conforto térmico Nesse tópico cabem variáveis como a temperatura, velocidade e umidade
relativa do ar. É muito desagradável sentir frio, ou calor, e tais situações
podem interferir nas atividades que desenvolvemos no ambiente. Também
para o paciente, essas sensações e percepções podem interferir no processo
terapêutico.
Conforto acústico O desejável para EAS é que seja o mais silencioso possível, de preferência até
40 decibéis. Acima de 75 decibéis há possibilidade de danos à saúde humana.
Comunicação visual É fator fundamental para a segurança de pacientes e equipes. A sensação de
desorientação causa desconforto e sentimento de insegurança aos usuários.
Fonte: Reichert MCF, Tanaka LH. Gestão de Recursos Físicos e Materiais. In: Cunha ICKO,
organizador. Gestão em enfermagem. Apostila (Especialização Latu Sensu). Universidade
Federal de São Paulo. Escola Paulista de Enfermagem. Programa da Universidade Aberta do
Brasil. São Paulo:[s.n.]; 2012. p.71-86.
Em estudo realizado em uma Unidade Básica de Saúde, do Rio de Janeiro, que teve como
objetivo analisar as condições ergonômicas do trabalho de enfermagem, 90% dos participantes
reconheceu que o espaço físico não permite conforto, sendo que as razões atribuídas foram:
espaços mal distribuídos, localização das salas exigindo muitos deslocamentos durante as
tarefas, falta de lugar para o descanso e falta de vestiário para guardar os pertences 18.
Outro estudo realizado em hospital universitário no Rio de Janeiro, cujo objetivo foi
identificar a percepção dos trabalhadores de enfermagem sobre suas condições de trabalho,
mostrou que os riscos físicos se destacaram pela má distribuição do espaço físico (53,9%), ordem
e limpeza insuficientes (36,9%), ventilação insuficiente/inadequada (38,9%), iluminação
insuficiente (37,9%) e exposição a ruído (30,8%) 19.
Apesar de estarmos junto ao paciente, na maioria das vezes, é importante destacar que
a equipe de enfermagem é a vítima mais constante de projetos físicos mal elaborados. É com
grande frequência que nos deparamos com situações referentes à estrutura física que nos causa
estresse, irritação, impotência, riscos e insatisfação. Permanecemos horas em um espaço físico
por vezes inadequado. Entre os problemas estruturais, se destaca1:
REFERÊNCIAS