Você está na página 1de 33

PACIENTES CRÍTICOS E UTI

Introdução à assistência de alta


complexidade
OBJETIVOS DA AULA
• Conceituar a Assistência de Alta Complexidade.
• Contextualizar a história das Unidades de Terapia Intensiva.
• Visualizar o primeiro respirador mecânico, o Pulmão de Aço.
• Entender a RDC nº 7 e dimensionamento da equipe de Enfermagem
• Evidenciar a conduta ético profissional da Enfermagem em UTI.
• Entender a importância da Humanização em UTI.
INTRODUÇÃO

As UTIs são setores de Terapia Intensiva que fazem parte do corpo


físico de um hospital, são equipadas com recursos tecnológicos e
científicos sofisticados de última geração e de alto custo, para essas
unidades os pacientes criticamente enfermos são transportados pois
necessitam de cuidados integrais; recurso humano qualificado e
observação clínica/cirúrgica redobrada, que possibilitem eficácia e
dinâmica no atendimento.
DEFINIÇÃO
A assistência de alta complexidade é o conjunto de
procedimentos em assistência à saúde multidisciplinar, que
necessita de alta tecnologia e alto custo, no intuito de propiciar
à população em geral, acesso à serviços qualificados, integrando-
os aos demais níveis de atenção à saúde.
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é uma unidade assistencial
que abriga pacientes que requerem assistência médica, de
enfermagem, laboratorial e radiológica ininterrupta, podendo ser
uma unidade específica dentro da instituição. Por exemplo: UCO
ABRANGÊNCIA
• Assistência aos pacientes portadores de doenças crônicas descompensadas.
• Assistência aos pacientes oncológicos (paliativos ou não).
• Assistência aos pacientes submetidos a cirurgias cardiovasculares e
neurocirurgias.
• Assistência às pacientes G.O.
• Assistências a politraumatizados e grandes queimados.
• São admitidos pacientes transferidos tanto internamente via regulação de
leito, quanto via central de leitos
DIFICULDADES

PROBLEMÁTICAS EM RELAÇÃO À ALTA COMPLEXIDADE

⮚ Insuficiência dos serviços de saúde (número de leitos);


⮚ Inexistência de determinados procedimentos de saúde em uma região;
⮚ Insuficiência de recursos financeiros;
⮚ Insuficiência de recursos humanos;
⮚ Insuficiência de equipamentos.
UNIDADE DE TERAPIA
INTENSIVA
BREVE HISTÓRICO
➔ As conquistas da humanidade advindas de eventos como por exemplo: as
revoluções agrícola, industrial, tecnológica e da informação, tiveram também
seu ônus, eles foram precursores do surgimento de doenças infecciosas e
enfermidades deixando a assistência à saúde em descompasso com o
progresso.
➔ Meados do séc. XIX - Florence Nightingale, que permeia o trabalho da
Enfermagem até hoje;
➔ No séc. XX, entre as décadas de 20/30, primeiras iniciativas de cuidados
contínuos, a criação das salas de REPAI no Hospital Johns Hopkins e a
mesma conduta na Alemanha, instituindo assistência intensiva pós
operatória.
BREVE HISTÓRICO
No Brasil, a primeira UTI foi criada na década de 70, no Hospital Sírio Libanês,
o país passava por marcos importantes e mudanças político-sócio-econômicas,
junto com isso, a comunidade médica, uniu-se em entidades fortalecendo e
organizando o exercício da Medicina Intensivista:
● 1977, surgiu a SOPATI (Sociedade Paulista de Terapia Intensiva);
● 1980, a fundação da AMIB (Associação Brasileira de Medicina Intensiva);
● 1988, primeira Pós-graduação em Medicina Intensiva, Rio de Janeiro;
● No mesmo ano, aconteceu o IV Congresso Brasileiro de Medicina Intensiva,
Distrito Federal;
BREVE HISTÓRICO
Após esses acontecimentos, começaram os primeiros congressos e encontros
acerca do cuidado intensivo, um deles foi o I Encontro de Enfermagem, Nutrição
e Fisioterapia em CTI, também no Distrito Federal. Em 1993 aconteceu o
I Congresso Brasileiro de Enfermagem em Terapia Intensiva, no Rio Grande do
Sul.
ABENTI foi fundada em 05 de fevereiro de 2010 pelo esforço conjunto de um
grupo de enfermeiros intensivistas. O objetivo é promover a integração entre os
enfermeiros da terapia intensiva em todo o território nacional e internacional
proporcionando o intercâmbio de conhecimentos e experiências enriquecendo o
trabalho da Enfermagem nessa unidade.
ANTIGAS UTIs
O PULMÃO DE AÇO
O pulmão de aço era uma peça de equipamento médico usada entre meados
da década de 20 até a década de 80 no tratamento para a poliomielite, servia
como uma espécie de respirador mecânico. Projetado por Dr. Philip Drinker,
membro da Universidade de Harvard, com a ajuda do fisiologista Louis Shaw.
Consistia em cilindro de metal que podia adaptar-se a uma criança ou um
adulto pesando até 100 quilos, podia ser movido sobre rodas, e possuía
pequenas janelas na lateral permitindo que os médicos observassem seu
paciente.
O PULMÃO DE AÇO
NOVAS UTIs
NOVAS UTIs

● Anos 70 (primeira geração): unidade aberta, sem divisórias entre os leitos,


apenas cortinas, Posto de Enfermagem no centro e iluminação controlada
por interruptores.
● Anos 80 (segunda geração) quartos “BOX” individuais, Posto de
Enfermagem com monitorização central, a iluminação também por
interruptores em cada box.
● Anos 80 aos dias de hoje: quartos individuais com portas de vidro, dispostos
em semicírculo com o Posto de Enfermagem no centro, janelas nos quartos,
iluminação externa e maior controle da iluminação.
● Quarta geração: quartos individuais, portas de vidro dobráveis ou
deslizantes, redução de ruídos, janelas panorâmicas e iluminação
controlada pelo paciente.
NOVAS UTIs
VANTAGENS DESVANTAGENS

Equipe próxima ao paciente Falta de privacidade, incapacidade de


controle de iluminação e ruídos.
Aumento da privacidade do paciente e Menor acesso e observação do paciente
controle da iluminação pela equipe assistencial.
Acesso melhor da equipe durante os Perda da privacidade, devido as divisórias
procedimentos de vidro
Disponibilidade e acesso a alta tecnologia Perda da humanização do cuidado
Cuidados semelhante ao ambiente Condições adequadas a esse tipo de
domiciliar cuidado.
RDC Nº7
24 DE FEVEREIRO DE 2010
Resolução da Diretoria Colegiada - dispões sobre os requisitos mínimos
para funcionamento de UTI…
INFRAESTRUTURA
Art. 11. As Unidades de Terapia Intensiva Adulto, Pediátricas e Neonatais
devem ocupar espaços distintos e exclusivos.
§ 2º Nas UTI Pediátricas Mistas deve haver uma separação física entre os
ambientes de UTI Pediátrica e UTI Neonatal.

[...] devem estar próximas aos setores de diagnóstico e do centro cirúrgico


geral [...]
RECURSOS HUMANOS
Art. 13 Deve ser formalmente designado um Responsável Técnico
médico, um enfermeiro coordenador da equipe de Enfermagem e um
fisioterapeuta coordenador da equipe de Fisioterapia, assim como seus
respectivos substitutos.
§ 2º Os coordenadores de Enfermagem e de Fisioterapia de
preferência devem ser especialistas em terapia intensiva ou em outra
especialidade relacionada à assistência ao paciente grave.
§ 3º É permitido assumir responsabilidade técnica ou coordenação em, no
máximo, 02 (duas) UTI.
RECURSOS HUMANOS
I - Médico diarista/rotineiro: 01 (um) para cada 10 (dez) leitos ou fração, nos turnos
matutino e vespertino, com título de especialista em Medicina Intensiva.
II - Médicos plantonistas: no mínimo 01 (um) para cada 10 (dez) leitos ou fração, em
cada turno.
III - Enfermeiros assistenciais: no mínimo 01 (um) para cada 08 (oito) leitos ou
fração, em cada turno.
IV - Fisioterapeutas: no mínimo 01 (um) para cada 10 (dez) leitos ou fração, nos turnos
matutino, vespertino e noturno, perfazendo um total de 18 horas diárias de atuação;
V - Técnicos de enfermagem: no mínimo 01 (um) para cada 02 (dois) leitos em cada
turno, além de 1 (um) técnico de enfermagem por UTI para serviços de apoio
assistencial em cada turno.
RECURSOS HUMANOS
Art. 16. Todos os profissionais da UTI devem estar imunizados contra tétano, difteria,
hepatite B e outros imunobiológicos, de acordo com a NR 32 - Segurança e Saúde no
Trabalho em Serviços de Saúde estabelecida pela Portaria MTE/GM n.º 485, de 11
de novembro de 2005.

Art. 17. A equipe da UTI deve participar de um programa de educação continuada,


contemplando, no mínimo:
I - normas e rotinas técnicas desenvolvidas na unidade;
II - incorporação de novas tecnologias;
III - gerenciamento dos riscos inerentes às atividades desenvolvidas na unidade e
segurança de pacientes e profissionais.
IV - prevenção e controle de infecções relacionadas à assistência à saúde.
RECURSOS HUMANOS
Art. 23. As assistências farmacêutica, psicológica, fonoaudiológica, social,
odontológica, nutricional, de terapia nutricional enteral e parenteral e de terapia
ocupacional devem estar integradas às demais atividades assistenciais
prestadas ao paciente, sendo discutidas conjuntamente pela equipe
multiprofissional.

OBS.: Os pacientes de UTI têm prioridade de acesso aos serviços de


diagnóstico e diversas especialidades cirúrgicas.
RECURSOS HUMANOS
O enfermeiro líder de equipe faz uso de instrumentos para
dimensionar os Técnicos para realizar a assistência direta.

Dentro da literatura científica de Enfermagem temos escalas


numéricas, que pontuam o grau de assistência e intervenções em 24
horas que o paciente necessite, o uso dessas escalas promove a
qualidade assistencial e evita sobrecarga na equipe de trabalho, visto
que a UTI por si só é uma unidade insalubre.
RECURSOS HUMANOS
O Nursing Activities Score (NAS) foi uma das escalas desenvolvidas, e é um
instrumento que pontua as necessidades de cuidados requeridas pelos
pacientes em 24 horas, a partir da quantificação das intervenções
realizadas nesse período.
É composta por sete domínios:
● Atividade básica;
● Suporte ventilatório;
● Suporte cardiovascular;
● Suporte renal;
● Suporte neurológico;
● Suporte metabólico
● Intervenções específicas.
RECURSOS HUMANOS
Outro instrumento que pode se recorrer é a Escala FUGULIN que consiste no
agrupamento de pacientes de acordo com o grau de dependência da equipe de
Enfermagem, observando o perfil de cada categoria – cuidados mínimos,
intermediário, alta dependência, semi-intensivo, intensivo.

O objetivo dessas escalas tem por não ocorrer sobrecarga de trabalho aos
profissionais de enfermagem que atuam nessa unidade e a assistência integral
não seja prejudicada, mantendo a qualidade assistencial e boas práticas nas
ações.
ASPECTOS ÉTICOS E HUMANOS

Ética, em resumo, é a soma de valores morais e princípios que norteiam a


conduta humana na sociedade.
COFEN – Res. 311/2007: [...] a Enfermagem compreende conhecimentos
técnicos e científicos próprios, construído e reproduzido por práticas sociais,
éticas e políticas que se processa pelo ensino, pesquisa e assistência.
Prestando serviços à pessoa, família e coletividade, no seu contexto e
circunstância de vida.
COFEN - Res. 564/2017: o CEPE [...] a necessidade e o direito de assistência
da população, os interesses profissionais e de sua organização.

Toda e qualquer atividade de Enfermagem deve estar dentro dos artigos


do código.
ASPECTOS ÉTICOS E HUMANOS
Cap. II – DOS DEVERES
Art. 26 – conhecer, cumprir e fazer cumprir o CEPE;
Art. 40 – orientar a pessoa e família sobre os procedimentos em geral, riscos e
benefícios[...] respeitando a recusa[...]
Art. 41 – prestar assistência sem discriminação de qualquer natureza;
Art. 43 – respeitar o pudor, privacidade, intimidade...em todo seu ciclo vital e nas
situações de morte e pós morte;
Art. 45 – prestar assistência livre de danos decorrente de Imperícia, Negligência e/ou
Imprudência;
Art. 48 - assistência promovendo qualidade de vida[...] no processo do nascer, viver,
morrer e luto. Parag. Único: doenças incuráveis e terminais[...] oferecer todos os
Cuidados Paliativos, disponíveis nas esferas da existência humana.
Art. 52 - sigilo sobre o fato de que tenha conhecimento, exceto nos casos previstos na
legislação[...]
ASPECTOS ÉTICOS E HUMANOS
Em 2003 foi criada a Política Nacional de Humanização, a Humaniza SUS
(PNH), visando a efetivação dos princípios do SUS. A humanização é a
valorização do usuário, visando maior autonomia e criação de vínculo.

A essência da Enfermagem é o cuidar, eficiente e de forma humanizada,


sistematizada e holística, promovendo indiretamente o cuidado e a assistência
emocional. A sensibilidade dos profissionais ao executarem os cuidados,
observando as manifestações verbais e não verbais do paciente, envolve a
demanda das necessidades biopsicossociais espirituais e afetivas,
promovendo o cuidado eficaz.
HUMANIZAÇÃO
Na UTI, a humanização é um processo difícil de ser implementado, uma vez
que se trata de um setor onde os profissionais se deparam com duelos entre a
vida e a morte, entre o sucesso e fracasso, a equipe assistencial é exposta a
todo momento a conflitos; com tomadas de decisões e aspectos éticos.

Para que se possa humanizar, é preciso entender que o ser ao qual será
aplicada a técnica, é um ser biopsicossocial, e deve ser atendido de forma
integral, individual e não somente no que se refere ao seu quadro patológico.
HUMANIZAÇÃO
Devido ao seu estado clínico, o paciente acaba tendo que receber um
tratamento agressivo e invasivo, além de ficar longe de seu convívio social, em
um lugar desconhecido e cheio de incertezas sobre o que irá acontecer
consigo, muitas vezes perdendo a sua propriedade ou até mesmo
desfigurando sua identidade como pessoa.

A humanização é um processo que envolve todo o ambiente e os sujeitos que


nele estão inseridos, devendo o profissional dar ao paciente um atendimento
digno, pautado no respeito aos valores humanos; a humanização só acontece
se houver trabalho em conjunto.
HUMANIZAÇÃO
O processo de humanização pode ser afetado pela falta de condições
adequadas de trabalho e remuneração do profissional, desmotivando-o; ou o
nosso ofício cotidiano é bombardeado de riscos e desgastes, onde a
indiferença com a dor alheia é notória, sobrecarregada de um atendimento
mecânico e desprovido de empatia. Outro fator que pode interferir na
humanização do atendimento, é a alta tecnologia, de forma demasiada na
prática profissional, deixando a clínica de lado, não olhando o paciente de
forma integral e para todos os processos que podem afetar seu diagnóstico.
CONCLUSÃO

Podemos conhecer um breve histórico sobre as UTIs, no que consiste a


assistência de alta complexidade prestada neste setor, a distribuição de
profissionais e de ações assistenciais, entendemos como funcionavam os
primeiros respiradores mecânicos da história e conhecemos as novas UTIs
disponíveis hoje e o avanço tecnológico. Além disso, foi possível entender a
importância da humanização na Enfermagem e principalmente nesse setor
onde tudo pode se tornar automatizado e vemos a postura ética profissional
adequada para UTI.
REFERÊNCIAS
Nishide VM, Malta MA, Aquino KS. Aspectos organizacionais em unidade de terapia intensiva. In: Cintra EA, Nishide VM, Nunes
WA. Assistência de enfermagem ao paciente gravemente enfermo. São Paulo: Atheneu; 2003

Lucena A, Crosseti MGO. Significado de cuidar na unidade de terapia intensiva. Rev Gaúch Enferm, mar 2004; 25 (2): 234-56.

Vila VS, Rossi LA. O significado cultural do cuidado humanizado em unidade de terapia intensiva: “muito falado e pouco
vivido”. Rev Latino-am Enfermagem mar/abr 2002; 10(2): 137-44.

Considerações relevantes da RDC 07 < https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saes/dahu/rdc-7.pdf/view >

https://www.google.com/search?q=escala+de+nas&oq=escala+de+nas&aqs=chrome.0.69i59j0i512l2j0i22i30l4j69i60.9378j0j9&sourceid=
chrome&ie=UTF-8

https://www.google.com/search?q=escala+de+fugulin&source=lmns&bih=657&biw=1366&hl=pt-
BR&sa=X&ved=2ahUKEwjVofnT1uL7AhVEBbkGHccbCaEQ_AUoAHoECAEQAA

Você também pode gostar