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ZMV / FZEA / USP

MEDICINA VETERINÁRIA
INTRODUÇÃO
 Colibacilose: doença que ocorre em todas as
espécies animais, inclusive seres humanos

 Causada pela bactéria Escherichia coli


– Mais de 200 sorotipos

 Diferentes formas clínicas:

COLIBACILOSE • quadros entéricos (principalmente em jovens)


Profa. Dra. Vera Letticie de Azevedo Ruiz • diarreia aquosa (mais frequente)
• disenteria (menos frequente)
• septicemia
Pirassununga
• outras enfermidades (urogenitais, mastites…)

INTRODUÇÃO FATORES DE VIRULÊNCIA


 Distribuição mundial  ANTÍGENOS DE SUPERFÍCIE
 somáticos - O
capsulares - K
 Zoonose 
 flagelares - H
 fimbriais - F
 Diarreia é a principal causa de morte neonatal  ENTEROTOXINAS
 termolábil – LT
 Presente em exame bacteriológico da água:  termoestável – STa e STb
indica contaminação fecal  CITOTOXINAS
 Bovinos: 1.000 E. coli por grama de fezes  verotoxina - VT
 Equinos: 10. 000 E. coli por grama de fezes  hemolisina
 Carnívoros: maior abundância de E. coli do que  fator necrosante citotóxico - CNF
herbívoros  LIPOPOLISSACARÍDEO - LPS

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ANTÍGENOS DE SUPERFÍCIE ANTÍGENOS DE SUPERFÍCIE
 Classificação de antígenos baseada em:
• biotipagem
• testes de fatores de virulência
• sorotipagem dos antígenos O, K e H.

 São reconhecidos:
– 173 antígenos O
– 100 antígenos K
ANTÍGENOS
– 57 antígenos H (cepas NM - não móveis)
somáticos O (lipopolissacárides)
capsulares K (carboidratos)
 combinação de antígenos = possibilidade de sorotipos flagelares H (proteínas)
fimbriais F (proteínas)

ANTÍGENOS DE SUPERFÍCIE ANTÍGENOS DE SUPERFÍCIE


FATORES DE VIRULÊNCIA – Antígenos de superfície FATORES DE VIRULÊNCIA – Antígenos de superfície

O (somático): parede celular FÍMBRIAS


K (capsular): confere resistência
à fagocitose
H (flagelar): motilidade
F (fimbrial ou pili): confere
capacidade de aderência a
diversos tecidos do hospedeiro
(adesinas - especificidade de
espécie ou órgão)

* antígenos O e K: resistem por


uma hora a 100ºC

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ENTEROTOXINAS ENTEROTOXINAS
 TERMOLÁBIL (LT)  TERMOESTÁVEL (ST)
 Proteína imunogênica muito semelhante à  Pequena molécula não imunogênica, altera o
enterotoxina da cólera metabolismo celular

ativa a adenil-ciclase (AMPc): STa: ativa guanidil-ciclase, o que provoca o acúmulo


Bloqueio da absorção de cloreto de sódio pelas células de GMPc nas células da mucosa intestinal
apicais da mucosa, estímulo da excreção deste sal pelas  inibe a absorção de sódio e cloretos pela membrana celular
células das criptas
Aumento na quantidade de líquido na luz intestinal e
consequente diarreia STb: através da prostaglandina E2, aumenta a
secreção de eletrólitos e água para o lúmen intestinal

CITOTOXINAS CITOTOXINAS
 VEROTOXINAS (VT) ou TOXINAS SHIGA-LIKE (SLT)  VEROTOXINAS (VT) ou TOXINAS SHIGA-LIKE (SLT)
 efeito citotóxico irreversível para as células Vero  associada a três síndromes:
 semelhante às toxinas de Shigella na estrutura e modo  diarréia
de ação  colite hemorrágica (animais com 3 semanas de idade)
 síndrome uréica-hemolítica (caracterizada por falha renal
 letais para camundongos
aguda e anemia hemolítica)
 penetram nas células por endocitose
VT1: pode ser neutralizado por anticorpos anti-toxina
 atuam nos ribossomos, causando danos celulares: Shiga
resulta em lesões no trato intestinal e endotélio
VT2: semelhante biologicamente à VT1, mas não é
vascular
neutralizada por anticorpos anti-VT1 e anti-toxina
 causa vasculite: eventualmente leva à necrose e Shiga
hemorragia
VTe: anteriormente denominada EDP (Edema Disease
Principle ou Toxina da Doença do Edema)

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CITOTOXINAS LIPOPOLISSACARÍDEOS - LPS
 HEMOLISINAS  endotoxina - presente na parede celular
 lisam hemácias para a obtenção de ferro, utilizado no  parte do antígeno O
metabolismo bacteriano
 efeitos endotóxicos são determinados por seu
componente lipídico
 FATOR NECROSANTE CITOTÓXICO (CNF)
 CNF1 e CNF2: habilidade de alterar a função de  altas concentrações de LPS são observadas na
proteínas celulares corrente circulatória onde a endotoxina exerce
 CNF1 codificada pelo DNA cromossomal seus efeitos
 CNF2 codificada por plasmídio  descolamento das células epiteliais da membrana basal
associadas a enterite infantil no homem, enterite dos  infiltrado de células inflamatórias
leitões e dos bezerros
 congestão vascular
 aumento da permeabilidade vascular

EPIDEMIOLOGIA EPIDEMIOLOGIA
 Hospedeiros: todas as espécies animais  Fonte de infecção: portadores e doentes
 Fatores predisponentes:  Via de eliminação: fezes, leite e urina
 idade dos animais (principalmente os mais jovens)  Via de transmissão: alimentos (pastagem) e fômites
 falhas de higiene: contaminados com fezes e leite de vacas com mastite
 saneamento precário das instalações e do meio ambiente por E. coli
 manejo intensivo e deficiente recolhimento de dejetos;  Porta de entrada: mucosa do aparelho digestivo e,
 manutenção de animais infectados na propriedade eventualmente, nasal
principalmente portadores (adultos)  Suscetíveis: animais jovens, principalmente os
 introdução de animais oriundos de propriedades com recém-nascidos até 4 dias de vida, animais mal
colibacilose endêmica nutridos e animais submetidos a estresse
 esquema deficiente de imunização passiva ou ativa
 Comunicante: animais recém-adquiridos de
 aglomeração propriedades que tiveram ocorrência de E. coli

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PATOGENIA PATOGENIA
 Equilíbrio da microbiota:  Equilíbrio intestinal é mantido por vários fatores:
 ao nascer o trato intestinal é estéril  pH baixo
 rapidamente colonizado por coliformes, lactobacilos e  ácido secretado no estômago
anaeróbios obrigatórios  espécies de Lactobacillus, anaeróbias facultativas, Gram(+)
 E. coli coloniza o intestino:  ingestão de imunoglobulinas e outros fatores de
 pouca quantidade no intestino delgado proteção do colostro e leite
 grande quantidade no intestino grosso
 estabelecimento dos lactobacilos como microrganismos
 a localização no trato intestinal e a relação da idade do
dominantes no estômago e intestino delgado
hospedeiro com diferentes cepas, parecem estar
relacionados com a presença ou ausência de receptores para  bactérias anaeróbias que são as mais prevalentes no
fímbrias específicas nas células epiteliais íleo e cólon

Lactobacillus spp. E. coli

PATOGENIA PATOGENIA
 A doença acontece quando ocorre um desequilíbrio da
 Oito mecanismos distintos:
microbiota, permitindo a proliferação e predominância de
uma espécie bacteriana em relação às demais  enterotoxigênico (ETEC)
 Desequilíbrio da microbiota intestinal:  enteropatogênico (EPEC)
 erros alimentares
 indiscriminado de antibióticos  entero-hemorrágico (EHEC)
 Estresse e higiene deficiente: predispõem à infecção  entero-invasivo (EIEC)
clínica
 entero-agregativo (EAEC)
 Septicemia por E.coli: ocorre do 1º ao 14º dia de idade.
Porta de entrada geralmente é a cavidade oral, mas pode  uropatogênico (UPEC)
ser umbigo, mucosa nasal ou orofaringe  aderência difusa (DAEC)
 septicêmico (SEPEC)

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Infecção por E. coli enterotoxigênica
(ETEC)
 Aderem fracamente à membrana
dos enterócitos através das fímbrias

 Vários tipos de toxinas foram identificados:


 termolábil (LTI e LTII)
 termoestável (STa e STb), predominam produtoras de STa

Efeitos bioquímicos Acúmulo de líquido Diarreia aquosa e


das toxinas no lúmen intestinal profusa

Acidose
Morte Desidratação
metabólica

Infecção por E. coli enterotoxigênica Infecção por E. coli enteropatogênica


(ETEC) (EPEC)
 maioria dos casos de colibacilose entérica em  capazes de adesão aos enterócitos: destroem as
bezerros e leitões microvilosidades, as lesões envolvem todo o intestino
 a diarreia é decorrente aos danos às vilosidades
 Bezerros:  os enterócitos aos quais as bactérias estão aderidas
 diarreia ocorre em animais com menos de uma semana parecem apresentar tamanho menor que os adjacentes não
de idade infectados
 as cepas de ETEC mais comuns são O8, O9 e O101  as vilosidades ficam mais espessadas e ocasionalmente
fundidas
 a mucosa apresenta erosões como resultado do dano
 Leitões:
celular
diarreia do desmame: a maioria dos casos ocorre
 Diarreia aquosa, com muco (normalmente sem sangue),
durante a 1ª semana de vida ou durante as duas
febre e desidratação
semanas após o desmame

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Infecção por E. coli enteropatogênica Infecção por E. coli enteropatogênica
(EPEC) (EPEC)
 Embora todo trato intestinal possa ser acometido, o cólon  Associada à falta de higiene e saneamento básico
é o local mais comumente afetado
 Crianças de baixo nível sócio-econômico estão
 Lesões similares ocorrem em suínos, cordeiros e cães frequentemente expostas à EPEC e geralmente adquirem
imunidade após o primeiro ano de vida
 EPEC ocorre em bezerros de 2 dias a 4 meses de idade e
determinam deficiência na absorção e digestão, perda de
proteína

 Bezerros com mais de 4 meses de idade podem ser


afetados por EPEC

Infecção por E. coli entero-hemorrágica Infecção por E. coli entero-hemorrágica


(EHEC) (EHEC)
 Produzem diferentes tipos e grandes quantidades de  Sinal característico é disenteria:
Verotoxinas (Shiga-like)  fezes com sangue
 muco
 pus
 As cepas EHEC aderem intimamente
 sangue
às células epiteliais de ceco e cólon
 Afetam bezerros com 4 a 28 dias de idade
 Causam destruição das células por inibição da síntese
protéica  Vacinas (bacterinas comerciais) não costumam proteger
contra estes tipos (uso vacinas autógenas?)
 Há lesão vascular, algumas invadem a lâmina própria da
mucosa intestinal e produzem severa hemorragia  o tipo clássico de colite hemorrágica em humanos é
causado pela cepa O157:H7

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Escherichia coli O157:H7 Escherichia coli O157:H7
 diarreia sanguinolenta e ocasionalmente falha renal  Prevenção da infecção:
em seres humanos  cozinhar convenientemente carnes
 evitar a ingestão de leite não pasteurizado
 via de transmissão fecal-oral  lavar bem as mãos antes da preparação de
alimentos ou da sua ingestão
 contato pessoa-a-pessoa ou pela ingestão de  adoção de medidas preventivas durante o abate de
alimentos animais processamento de produtos cárneos
 frutas e vegetais devem ser, sempre, bem lavados
 alimentos associados à infecção por E. coli O157:H7:  produtores de vegetais devem, também adotar
 carne bovina mal cozida medidas preventivas durante o crescimento,
 vegetais crus
colheita e processamento das verduras
 leite contaminado
 água contaminada

Infecção por E. coli uropatogênica Infecção por E. coli septicêmica


(UPEC) (SEPEC)
 muitas cepas produzem uma exotoxina que é uma  Septicemia, sepse, sepsis ou choque séptico = “infecção
hemolisina (HylA), a qual é capaz de formar poros na generalizada”
membrana celular
 Porta de entrada:
 responsáveis por quadros de  tecidos na nasofaringe
infecção urinária no homem e animais  trato intestinal
 umbigo

 é a causa mais frequente de infecções no trato urinário


 Animais muito jovens e particularmente aqueles que estão
em cães e em gatos
hipo-gamaglobulêmicos devido à absorção insuficiente de
anticorpos colostrais estão propensos a desenvolver a
 em suínos são responsáveis por quadros como cistite,
colisepticemia
uretrites, prostratites, e mesmo pielonefrites

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Infecção por E. coli septicêmica
PATOGENIA
(SEPEC)
 Cepas que causam colisepticemia geralmente são invasivas  Outras enfermidades:
 A patogênese exata da colisepticemia ainda não foi
 Infecções da glândula mamária
adequadamente elucidada, mas acredita-se que a endotoxina
 mastites em todas as fêmeas mamíferas
desempenha um papel importante na ocorrência do choque
 em suínos é responsável pela síndrome metrite - mastite –
agalaxia
 A permeabilidade intestinal aumentada para macromoléculas
no recém-nascido pode predispor à invasão dos tecidos por
 Pneumonia
cepas indutoras de septicemia
 Feridas
 Animais que sobrevivem à colisepticemia podem desenvolver
meningite fibrinopurulenta ou artrite
 Abortamentos

DIAGNÓSTICO TRATAMENTO

 Isolamento e identificação do agente etiológico  Terapia de suporte e cuidados gerais:


 antiobiograma  reidratação parenteral ou oral (4 a 6 litros por dia de soluções
eletrolíticas orais)
 correção do desbalanceamento eletrolítico
 Provas sorológicas para tipificação  estabilização do equilíbrio ácido-básico

 Antibioticoterapia por 5 a 7 dias nos casos severos


 Imunofluorescência direta (colonização de  colher material para análise antes de administrar o antibiótico
porções do intestino)
 Não suspender o leite por mais de 24 horas
 Provas moleculares (PCR)
 Produtos que contém metoscopolamina e atropina que
diminuem o peristaltismo são contra-indicados

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PROFILAXIA PROFILAXIA

 Medidas relativas às fontes de infecção:  Medidas direcionadas ao agente:


 isolamento dos doentes e tratamento  estabelecer o diagnóstico microbiológico (cultura) e
(antibioticoterapia e tratamento de suporte) estabelecer padrão de sensibilidade aos
antimicrobianos (antibiograma) para tratamento
 Medidas relativas às vias de transmissão:
 limpeza, lavagem e desinfecção de instalações, objetos  Medidas direcionadas ao ambiente:
e utensílios; higiene dos tratadores  desinfetar fômites e instalações (limpeza e
desinfecção)
 Medidas relativas aos suscetíveis:  higiene geral (remoção de fezes)
 garantir a ingestão de colostro e estabelecer esquema  boas práticas de manejo
de vacinação da fêmea em gestação

PROFILAXIA REFERÊNCIAS

 Medidas Gerais QUINN, P.J. Microbiologia Veterinária e Doenças


 educação sanitária de tratadores e proprietários Infecciosas, 2005
 alertar sobre o risco de contaminação, pois é uma
zoonose RADOSTITS, O.M. et al. Clínica Veterinária: um
 separar animais por idade
tratado de doenças dos bovinos, ovinos, suínos,
 evitar superpopulação
 não alojar indivíduos muito jovens em grupos grandes caprinos e equinos, 2002
 colostro corretamente administrado quantitativa e
qualitativamente e precocemente www.cdc.gov

artigos científicos on line

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