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Dicionário atialítico do Ocide11te 111edieval
práticas não cristãs e as heresias. Por ot1tro lado, no século XIII, a redesco
berta de Aristóteles, o divórcio entre fé e razão, as co11tradições 1na11ifestas
entre as'' autoridades" levaram os n1édicos tnedievais a to1nar progressiva
mente consciência de sua especificidade. Na 111edida en1 que partill1avain
a tradição galênica trans1nitida e rei1 1te1·pretada pelos árabes - o saber
racional e a observação - sentira1 11-se co1110 l101ne11s 11ovos, '' modernos" '
co1no diziam.
Entretanto, considera1 1do os diversos recursos de que dispu11l1am as po
pulações medievais, impõe-se o questiona111ento acerca do lugar real1nente
ocupado por essa medicina. Entre os eclesiásticos que a ela se dedicaram,
a origem e o nível dos conhecimentos eram, se1n dúvida, extreman1ente
variados. E, sobretudo, aquilo que se originava das tradições orais e dos
patrimônios culturais não cristãos escapa-nos em grande parte, uma vez
que não dispomos de grande quantidade de documentos do mesmo nível
de importância de um Leechbook, o monumento da medicina anglo-saxã do
século X. Numerosas zonas de sombra subsistem ao tentarmos discernir
os sistemas de tratamento realmente em uso. Contudo, pode-se ao menos
seguir o traço de um insistente murmúrio, relativo aos nun1erosos curan
deiros de tipo tradicional que se perpetuaram mesmo em nossas socie
dades industrializadas com o desabrochar das medicinas ditas paralelas.
Enfim, na Idade Média, quando a medicina era ora elevada ao patan1ar de
uma filosofia, ora considerada uma ''arte mecânica'', e quando oscilavam
as fronteiras que separavam os campos eruditos e ''populares'', a própria
medicina considerada erudita manteve, por vezes, relações a1 nbíguas com
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o emp1r1smo e a magia.
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Mtdicina
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Medicina
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I º
Ven triere aparece em I 1 60 no Ro111a11 de Enta.s com o se� tido de ..�� rt� i� e mím;r,
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tem no Tristão, de Béroul, de fins do século Xll. o significado de medica · [HFJ]
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Houv1e, sem dúvida, tipos distintos de médico ''erudito", fosse ele for
mado em Paris, a capital da teologia, cuja faculdade de Medicina caracte
rizava-se por seu rigor para com os empíricos, seu conservador-ismo e sua
oposição à dissecação, ou em Montpellier (que dependia da coroa de Ara
gão e, em seguida, de Maiorca, entre I 204 e I 3 49) , mais tolerante e aberta,
representante de uma síntese feliz de Salerno e da escola de Charcres, cujo
ensino médico, reputado nos séculos XI e XII como mais teórico do que
,
prático, esteve centrado no estudo dos textos clássicos. E preciso referir-se
lt
ainda aos médicos j udeus, que eram numerosos no Sul da França, na Itália e
na Espa�ha, dentre os quais se encontram alguns dos maiores médicos da
Idade Média, a começar por Maimônides. Eles fundaram, desde o século
VIII, suas próprias escolas médicas no Languedoc, que atingiram o apogeu
no sécul o XII, antes de desaparecerem progressivamente no fim da Idade
Méd ia sob o efeito das perseguições movidas contra suas comunidades.
Renomado s, pragmáticos e mais tolerantes, a despeito do Talmi,dt, do que
os méd icos cristãos em relação às práticas mágicas, inclusive mais acentos
à sexualidad e fem inin a, os mé dic os jud eus mantinham-se teoricamente
restritos ao cui da.do de seus correligionários. Na realidade, contudo, man-
. . , .
tLve ram uma clientela cristã notável, composta por papas, reis e prtnapes,
entre estes o próprio irmão de São Luís, afligido pelo mal dos olhos.
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Medicina
práticas não cristãs e as heresias. Por ot1tro lado, no século XIII, a redesco
berta de Aristóteles, o divórcio entre fé e razão, as co11tradições 1na11ifestas
entre as'' autoridades" levaram os n1édicos tnedievais a to1nar progressiva
mente consciência de sua especificidade. Na 111edida en1 que partill1avain
a tradição galênica trans1nitida e rei1 1te1·pretada pelos árabes - o saber
racional e a observação - sentira1 11-se co1110 l101ne11s 11ovos, '' modernos" '
co1no diziam.
Entretanto, considera1 1do os diversos recursos de que dispu11l1am as po
pulações medievais, impõe-se o questiona111ento acerca do lugar real1nente
ocupado por essa medicina. Entre os eclesiásticos que a ela se dedicaram,
a origem e o nível dos conhecimentos eram, se1n dúvida, extreman1ente
variados. E, sobretudo, aquilo que se originava das tradições orais e dos
patrimônios culturais não cristãos escapa-nos em grande parte, uma vez
que não dispomos de grande quantidade de documentos do mesmo nível
de importância de um Leechbook, o monumento da medicina anglo-saxã do
século X. Numerosas zonas de sombra subsistem ao tentarmos discernir
os sistemas de tratamento realmente em uso. Contudo, pode-se ao menos
seguir o traço de um insistente murmúrio, relativo aos nun1erosos curan
deiros de tipo tradicional que se perpetuaram mesmo em nossas socie
dades industrializadas com o desabrochar das medicinas ditas paralelas.
Enfim, na Idade Média, quando a medicina era ora elevada ao patan1ar de
uma filosofia, ora considerada uma ''arte mecânica'', e quando oscilavam
as fronteiras que separavam os campos eruditos e ''populares'', a própria
medicina considerada erudita manteve, por vezes, relações a1 nbíguas com
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o emp1r1smo e a magia.
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Mtdícína
Ver também
Orienta{ão bibliográfica
AGRIMI, Jole; CRISCIANI, Chiara. Medicina dei corpo e medicina dtll'anima: note s:il sapitre
dei medicofino all'íni-<fo del secolo XIII. Milão: Episteme, 1978.
BARKAI, Ron. Les Infortunes de Dinah, ou la gynécologie juive au Moytn Age. Paris: Ce:rf,
1991.
, A
BERIAC, Françoise. Hístoire des lépreux ai, Moyen Age. Paris: Imago, 1 988.
GRMEK, Mirko D. ( org.). Hístoire de la pensée médicale en Occident. Paris: Seu.il I 99 5.
A
MATTHEUS PLATEARIUS. Le Livre des si111ples 111édeci11cs. 2.ed. Paris: Ozalid 1990_ 1