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Hereditariedade, ambiente e inteligência: O quê os dados revelam?

2) Os efeitos genéticos sobre o QI largamente contribuem para a continuidade de


idade para idade. Entretanto, algumas evidências para mudanças genéticas têm sido
encontradas durante a infância e durante os anos iniciais de escolaridade, o que significa
que a herdabilidade não pode ser igualada com estabilidade, ou mesmo com o
aparecimento precoce. As influências ambientais não compartilhadas contribuem tanto
para a continuidade quanto para mudanças no meio da infância, mas durante a transição
para a adolescência, os fatores genéticos não mais contribuem para mudanças, e sim
para a continuidade.

3) Altas habilidades cognitivas parecem estar, na distribuição normal, exatamente


na extremidade superior dos idênticos fatores genéticos e ambientais responsáveis pelas
diferenças individuais.

4) Os genes específicos responsáveis pelas influências genéticas sobre o QI estão


começando a serem identificados Por exemplo, estudiosos acreditam que o objetivo
atual da genética do comportamento é identificar os genes específicos que contribuem
para as diferenças individuais e determinar o que eles fazem no cérebro, haja vista que o
cérebro (metade dos genes é expressa primariamente no cérebro) é o intermediário
obrigatório entre o genótipo e o comportamento.

5) A correlação substancial entre testes de QI e de realização escolar é em grande


parte geneticamente mediada. As análises baseadas em genética multivariada têm
revelado que a correlação entre ambos os testes é substancial e indicam que os efeitos
genéticos sobre o desempenho escolar se sobrepõem quase completamente àqueles
efeitos genéticos da inteligência. Também, dados obtidos com diferentes amostras de
gêmeos, têm revelado que a inteligência geral e as habilidades cognitivas compartilham
uma mesma base genética. De fato, estes estudos, envolvendo gêmeos, pai-filho e
irmãos comuns, revelam coeficientes de herdabilidade para o desempenho escolar de
aproximadamente 0,70, valor que não é muito diferente do grau de herdabilidade do QI
para estas mesmas amostras. Em geral, os coeficientes de herdabilidade para um grande
número de sujeitos escolares variam entre 0,40 a 0,80. Em resumo, estes achados
favorecem uma base biológica comum para uma idêntica rota que vai desde as tarefas
cognitivas básicas à inteligência geral, e à realização acadêmica.
Em particular, estudos demonstraram que 75% da correlação entre inteligência e
desempenho educacional, numa amostra de gêmeos adultos mais velhos, devem-se ao
compartilhamento genético entre estes dois construtos. Este resultado implica que se for
encontrado um gene associado com inteligência, nós poderemos predizer que este
mesmo gene também estará associado com os determinantes do desempenho escolar ou
educacional. O inverso dessa sobreposição genética é igualmente interessante. Embora a
genética explique a sobreposição entre inteligência e realização escolar, a correlação
fenotípica entre essas medidas é ao redor de 0,50. Assim, discrepâncias entre
inteligência e desempenho escolar, frequentemente, usadas para descrever fracos
desempenhos, são substancialmente ambientais em origem.

6) O ambiente familiar compartilhado contribui de forma importante para o QI


até a adolescência, mas torna-se negligenciável ao longo da vida. Os fatores ambientais
não compartilhados, os quais fazem com que as crianças crescendo na mesma família
sejam diferentes uma da outra, constituem uma fonte de longo prazo dos efeitos
ambientais. Talvez, um dos aspectos mais importantes dentre aqueles levantados pela
pesquisa genética, refere-se ao fato de que a maneira com que o ambiente funciona
durante o desenvolvimento intelectual é muito diferente da maneira que ele tem sido
concebido funcionar. Em vez de tornar duas crianças crescendo num mesmo ambiente
familiar, similares uma á outra, o que é usualmente presumido pelas teorias de
socialização, a pesquisa genética tem revelado que as influências ambientais que afetam
o desenvolvimento intelectual operam na direção de tornar as crianças na mesma família
diferentes uma da outra. Os irmãos são similares naturalmente, mas muito mais por
razões genéticas do que pelas ambientais.

O ambiente é importante, mas as influências ambientais operam para fazer as


crianças na mesma família diferentes, não similares. Essas influências ambientais não
compartilhadas pelas crianças crescendo na mesma família constituem o ambiente não
compartilhado. Entretanto, deste achado não implica que o ambiente familiar seja sem
importância ou deva ser negligenciado. O que ele indica é que as influências ambientais
no desenvolvimento intelectual têm seus efeitos mais na base indivíduo por indivíduo,
do que na base família por família. A questão chave a ser respondida é porque crianças
crescendo na mesma família são tão diferentes? O ambiente não compartilhado é crucial
para a pesquisa em genética ambiental. Apenas quando uma variável ambiental
demonstrar que ela pode ser vivenciada de modo diferente por irmãos crescendo na
mesma família, ela, então, poderá ser considerada como uma variável preditora
ambiental e fundamental dos resultados evolutivos.

Os factores genéticos afetam nossas experiências e, portanto, pesquisas futuras devem


investigar a interação evolutiva entre natureza e criação. Mais especificamente, nossas
teorias e pesquisas sobre o desenvolvimento intelectual e educação necessitam
incorporar o fato de que, as crianças diferem em suas habilidades para aprender, em
parte, por razões genéticas. As teorias de desenvolvimento intelectual são
substancialmente normativas (isto é, elas focalizam aquilo que é típico em uma dada
idade), e elas raramente questionam porque as crianças diferem tanto nas taxas e nos
níveis de desenvolvimento intelectual, deixando de considerar o papel da genética.

Genético não significa inato. Inato implica padrões de ação fixos, únicos, de espécies
que são inacessíveis à experiência. Influência genética não implica que inteligência é
predeterminada. A influência genética sobre o QI não denota um efeito fixo e
determinístico de um simples gene, mas, ao contrário, indica predisposições
probabilísticas de muitos genes em um sistema de múltiplos-genes. O fato de que
inteligência é herdada não significa que a parte genética da inteligência não seja
maleável. Muito frequentemente, inteligência é confundida com uma predisposição
genética para aprender. Inteligência é um fenótipo com metade da variância dos escores
do QI tendo origem não genética. Além disso, como um grau de herdabilidade de 50% é
uma estimativa média na população, a importância dos fatores ambientais pode ser
muito maior para a inteligência de um indivíduo particular.

Nós herdamos disposições, não destinos. Os resultados de nossa jornada são


consequências diretas de nossas escolhas durante a vida. As escolhas são guiadas pelas
nossas predisposições e estas tendências encontram expressões dentro das
oportunidades ambientais que nós ativamente criamos. A vida não é uma simples
consequência de nosso patrimônio genético, pois determinismo genético é impossível
para comportamentos humanos complexos, tal como o QI ou a inteligência geral. Em
resumo, genes, não controla-nos, corpo e mente; ao contrário, genes, cria-nos, corpo e
mente.

Influência genética refere-se ao “que é” mais do que ao “que poderia ser”. Como as
pesquisas sobre treinamentos especializados revelam, as crianças podem ser treinadas
para serem melhores em muitas habilidades (“o que poderia ser”), porém, tais resultados
não significam que fatores ambientais sejam responsáveis pelas origens das diferenças
individuais naquelas habilidades, ou que fatores genéticos não sejam importantes (“o
que é”).

Influência genética refere-se ao que é” mais do que ao “que poderia ser”. O que fazemos
com o conhecimento científico é um assunto de valores. Portanto, não decorre que,
encontrando influências genéticas sobre o QI, isto necessariamente significa que
devemos negar ajuda e encorajamento necessários para alcançar altos níveis de
competência.

Segundo a prestigiosa revista Science, a descoberta de genes associados às doenças


mentais, tais como esquizofrenia, depressão e distúrbio bipolar, é o segundo, dentre dez,
dos mais importantes avanços científicos ocorridos na década de 2000.

Considerando a variação normal de qualquer comportamento humano complexo, como


por exemplo, a inteligência, as seguintes três leis da genética do comportamento podem
ser estabelecidas: Primeira lei: Todos os traços humanos são herdáveis. Segunda lei: O
efeito de ser criado na mesma família é menor que o efeito dos genes. Terceira lei: Uma
grande parte da variação nos traços comportamentais humanos complexos não é
explicada por efeitos dos genes ou famílias (ambiente compartilhado). O ambiente não
compartilhado é uma fonte importante de variação

Claramente, estudos adicionais quantitativos não são mais necessários para documentar
a importância da influência genética (isto é, herdabilidade) sobre a inteligência e, por
consequência, os pesquisadores devem, em vez disso, tentar identificar os genes
específicos da inteligência. A propósito, Plomin finalizou o seu livroGenetics and
Experience (1994) com sete hipóteses, das quais a sétima é: “Genes específicos que
afetam a experiência serão identificados” (p.163). Ele descreve as tentativas atuais,
baseadas na robustez do Projeto Genoma Humano, que buscam identificar alguns dos
presumíveis muitos genes responsáveis pela herdabilidade da inteligência e, também, a
genômica funcional que tenta mapear as vias entre genes e inteligência.

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