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XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO

Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil


João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

ANÁLISE DE RISCOS NO TRANSPORTE


DE PRODUTOS PERIGOSOS
Kaline Araujo de Oliveira (UFGD )
karaujoliveira@gmail.com
Eliete Medeiros (UFGD )
elietemedeiros@yahoo.com.br
Joao Carlos Borges Carmona (UFGD )
joaocarlos_carmona@hotmail.com
VANESSA DE SOUZA FERRARI (UFGD )
vanessasferrari@gmail.com
Lucas Rodrigues Deliberador (UFGD )
deliberadorlucas@gmail.com

A produção de produtos perigosos apresenta diversos riscos do início


ao fim de seu processo, porém os maiores riscos estão no transporte,
pois a carga é exposta a situações que fogem do controle
proporcionando acidentes em qualquer ponto dee deslocamento.
Atualmente, algumas indústrias vêm construindo uma consciência
baseada no gerenciamento de riscos e optam por realizar a análise
deles nas atividades de deslocamento, o que vem contribuindo para a
diminuição de acidentes nas rodovias, contudo, esse número ainda é
baixo comparado com os índices de acidentes. Este trabalho teve como
objetivo analisar os possíveis riscos no transporte de produtos
perigosos em caminhões comboios de uma usina de cana-de-açúcar
localizada no interior do Mato Grosso do Sul a partir de algumas
ferramentas de Análise de Riscos da Segurança do Trabalho, sendo
essas, a Técnica de Incidentes Críticos e a Análise de Árvore de
Falhas. A partir da aplicação dessas ferramentas conseguiu-se
analisar as tarefas e atividades dos motoristas, encontrar
qualitativamente os riscos e seus efeitos e conseguiu-se chegar a
propostas que minimizem assim, a ocorrência dos incidentes. Pode-se
concluir que A Análise de Riscos é muito válida quando se busca a
identificação de alternativas, estabelecendo assim, planos de ação de
emergência que minimizem e prevê em esses acontecimentos,
protegendo o patrimonial e social da empresa e a vida de seus
funcionários.

Palavras-chave: Técnica de Incidentes Críticos, análise de Árvore de


Falhas, caminhão comboio.
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1. Introdução

A produção de produtos perigosos possui diversos riscos do início ao fim de seu processo,
contudo os maiores riscos estão no transporte, pois a carga é exposta a situações que fogem do
controle proporcionando acidentes em qualquer ponto do deslocamento (SCHENINI;
NEUENFELD; ROSA, 2006).

Com o avanço das tecnologias, o alto consumo das indústrias aumentou a utilização e
fabricação de produtos perigosos, contudo não houve uma significativa mudança no seu
transporte. Falhas acontecem de ambos os lados e os acidentes não acontecem por acaso,
podendo ser causado por motoristas ou pelo meio externo. Iida (2005), aborda que existem
muitos tipos de erros humanos, uns mais comuns, como sono, desatenção, instruções erradas,
alcoolismo, efeitos de remédios, falta de treinamento, fadiga, monotonia, estresse e
negligências envolvem erros de percepção, de decisão e ação. Já a interferência externa pode
ser causada pela indevida conservação das estradas brasileiras, pela falta de vistoria,
profissionalismo e na manutenção dos veículos, embalagens e armazenamento inadequados, a
desatualizada ou até mesmo inexistente legislação, tornando assim, uma profissão de alto
risco e geradora de muitos acidentes.

Segundo Cardella (2010), o termo segurança é um estado de baixa probabilidade de


ocorrência de eventos que provocam danos e perdas e é devido a isso que a segurança do
trabalho tem ganhado força, pois anteriormente vista como um custo desnecessário e de perda
de tempo, hoje algumas indústrias vem construindo a consciência da necessidade de
cumprimento da legislação para reduzir os acidentes. Ainda segundo o autor, a redução dos
acidentes é um dos mais fortes desafios à inteligência humana, pois disponibiliza muito
trabalho físico e mental e uma grande soma de recursos têm sido aplicados em prevenção,
mas os acidentes continuam ocorrendo, desafiando permanentemente todos esses esforços.

2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Produto Perigoso

Segundo a ANTT (2011), é considerado produto perigoso todo material que representa risco à
saúde das pessoas, ao meio ambiente ou à segurança pública, seja ele encontrado na natureza

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ou produzido por qualquer processo. Segundo Lieggio Júnior (2008), os produtos perigosos
são classificados de acordo com o tipo de dano que podem provocar e com base na ONU
(2013), os produtos perigosos se classificam em nove classes, mas a classe estudada foi a
Classe 3 – Líquidos Inflamáveis.

2.2. Líquidos Inflamáveis

Com base na NR 20, Líquidos Inflamáveis são líquidos que possuem ponto de fulgor ≤ 60ºC,
ou seja, são líquidos, mistura de líquidos ou líquidos contendo sólidos em solução ou em
suspensão, que produzem vapores inflamáveis a temperaturas de até 60ºC em teste de vaso
fechado, portanto podem queimar facilmente na temperatura ambiente.

2.3. Diferença entre Produto Perigoso e Carga Perigosa

Produto Perigoso, como citado anteriormente segundo a ANTT (2011), é todo material que
representa risco à saúde das pessoas, ao meio ambiente ou à segurança pública, seja ele
encontrado na natureza ou produzido por qualquer processo, em transporte ou não, já Carga
Perigosa, é a reunião de vários produtos perigosos compatíveis, embalados ou a granel que só
apresenta perigo quando transportada.

Cunha (2009), traz um exemplo bem prático quanto à diferença de produto perigoso e carga
perigosa: um rotor de uma turbina que, muitas vezes, pesa mais de cem toneladas, é uma
carga perigosa quando transportado, mas não é um produto perigoso quando está no pátio da
empresa fabricante, aguardando o carregamento, enquanto que, uma bomba de ácido
clorídrico é sempre produto perigoso, sendo ou não transportada.

Portanto, pode-se afirmar que um produto perigoso é sempre uma carga perigosa, mas nem
sempre uma carga perigosa é um produto perigoso (SENAI, 2006).

2.4. Análise de Risco aplicado ao transporte de Produtos Perigosos

Analisar um risco é identificar e discutir todas as possibilidades de ocorrência do acidente e


de um incidente, na tentativa de se evitar com que eles aconteçam e por isso essa metodologia
envolve várias pessoas na discussão sobre a segurança do local, mudando assim
comportamentos dos próprios trabalhadores (SALIBA; CORRÊA; AMARAL, 2002).

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Conforme Michel (2008), acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a
serviço da empresa, ou ainda pelo exercício do trabalho dos segurados especiais, provocando
lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda ou redução da capacidade
do trabalho permanente ou temporário. Em contrapartida tem os Incidentes Críticos ou quase
acidentes definido por Mattos et al. (2011), como sendo qualquer evento ou fato negativo com
potencialidade para provocar dano, ou seja, trata-se de uma situação ou condição que é
existente, mas não manifesta dano. O erro humano pode ser considerado um incidente crítico,
outro incidente crítico é o baixo rendimento de um motor, sistema de frenagem gasto,
derramamento de piso, baixo nível de iluminação, trabalhador indisposto, designação de
pessoas sem qualificação, substituição por pessoa não qualificada, entre outras. Ou seja, o
estudo dos incidentes leva ao conhecimento sobre as causas, que poderiam vir a tornarem-se
acidentes.

Segundo Meyer (2005), a palavra risco em latim, riscum, conota algo inesperado, mas no
sentido desfavorável ao indivíduo. Ainda segundo o autor, o gerenciamento de riscos, baseia-
se na identificação, análise, avaliação e tratamento dos riscos puros dentre de uma atividade,
com o objetivo de minimizar a possibilidade e a probabilidade de ocorrência de incidentes e
acidentes, melhorando a segurança e reduzindo os gastos com seguros.

No referido estudo abordar-se-á o risco como a incerteza de ocorrência de um evento


indesejado dentro de um ambiente de trabalho.

2.4.1. Identificação dos Riscos

De acordo com Magnago (2008), diz que as ferramentas qualitativas são baseadas em queixas
pessoais, conhecimento específico dos ambientes de trabalho, conversas, entrevistas ou tempo
de casa, ao contrário das ferramentas quantitativas, que necessitam de instrumentos
científicos, podendo sérias análises realizadas com luxímetro (iluminação), decibelímetro ou
desímetro (ruídos), termômetro (temperatura) e entre outras.

2.4.2. Análise de Risco

Segundo Magnago (2008), a análise de risco é um importante instrumento para se identificar


riscos em uma unidade de trabalho, por isso no início do estudo devem-se utilizar técnicas

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apropriadas e simples com a finalidade de identificar os riscos mais sérios permitindo a


evidenciação dos fatores que conduzem a ocorrência de eventos indesejáveis e suas
consequências. A análise de risco foi feita por meio da Análise de Incidentes Críticos. A
escolha da técnica conforme De Cicco e Fantazzini (2003), deve-se a sua flexibilidade e
ampla aplicação.

2.4.2.1. Técnica de Incidentes Críticos

A Técnica de Incidentes Críticos segundo Ruppenthal (2013), é uma técnica utilizada para
identificação de erros e condições inseguras que possam contribuir para a ocorrência de
acidentes com lesões reais e potenciais e sua utilização é indicada em situações que visam à
identificação de perigos em que o tempo é limitado ou quando não requer a utilização de
técnicas mais elaboradas. O objetivo é a identificação de incidentes críticos visando prevenir
os riscos associados. As categorias, para a avaliação qualitativa tomou-se como base a
classificação de De Cicco e Fantazinni (2003), como mostra o Quadro 1 a seguir.

Quadro 1 – Categorias de Severidade dos Riscos


Categoria Tipo Característica
Lesões leves (retorno
imediato ao trabalho), danos
I Desprezível
leves aos equipamentos, não
prejudicial ao meio ambiente.
Lesões com incapacidade
parcial leve, danos leves aos
II Marginal equipamentos e instalações,
danos ao meio ambiente
facilmente recuperável.
Lesões graves com
incapacidade parcial grave,
perda do equipamento, danos
III Crítica
sérios às instalações, grandes
perdas financeiras, danos
sérios ao meio ambiente.

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Morte, incapacidade
permanente total, perda do
IV Catastrófica equipamento/instalações,
danos graves ao meio
ambiente (não recuperável).
Fonte: De Cicco; Fantazzini (2003)

2.4.3. Avaliação de Risco

Mattos et al. (2011), afirmam que existem diversas Técnicas de Análise de Riscos e elas
possuem o único objetivo que é determinar prováveis riscos que poderão estar presentes na
fase operacional do componente, equipamento ou sistema ou identificar erros ou condições
inseguras que resultaram em acidentes. Pode-se citar a Análise Preliminar de Riscos (APR), a
Análise de Modos de Falha e Efeitos (AMFE), a Análise de Árvore de Falhas (AAF), entre
outras. Para fins desse trabalho será abordada a metodologia de Análise da Árvore de Falhas.

2.4.3.1. Análise de Árvore de Falhas

Segundo Heinrich (2004), o método utiliza uma linguagem gráfica, permitindo a visualização
das possíveis falhas, que podem resultar na ocorrência de um evento indesejado, e determina a
frequência com que esse evento ocorre. Esse evento, que é o ponto de partida para a
elaboração da árvore, recebe o nome de "evento-topo".

A partir do “evento topo” ou “evento indesejável”, faz-se a identificação das interferências, a


construção da árvore e a descrição das consequências.

Conforme Viveiros (2009), a elaboração de Árvore de Falhas para os diversos sistemas


trazem outros benefícios além da simplificação das análises das falhas, podendo citar o
aumento do domínio das características técnicas dos sinistros envolvidos no caso de
transporte de produtos perigosos, pois para a sua elaboração, os especialistas devem se
aprofundar em todas as interfaces e interações de todos os componentes, destacando-se o
impacto no cumprimento da missão do sistema.

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De acordo com Heinrich (2004), para a construção da Árvore de Falhas, além do “evento
topo”, são necessários outros elementos:

 Evento Básico ou Primário: é aquele que não necessita de nenhum desenvolvimento


adicional;
 Evento Intermediário ou Secundário: evento que propaga, ou mitiga, um evento básico;
 Evento Não: é um evento que não foi desenvolvido por falta de informações,
consequências desprezíveis, etc.;
 Evento Topo: evento indesejável que ocupa o topo da árvore e é desenvolvido por meio do
uso de portões lógicos, até que seja possível identificar as falhas básicas do sistema;
 Portões Lógicos: forma de se relacionar logicamente com os eventos, podendo ser do tipo
“E” (somente ocorre o evento de saída se todos os eventos de entrada ocorrem
simultaneamente), ou “OU” (ocorre o evento de saída se apenas um dos eventos de
entrada ocorrer).
 Álgebra Booleana: ramo da matemática que descreve o comportamento de variáveis
binárias, a partir de dados como frequência. Por exemplo: verdadeiro/falso, sim/não,
ocorre/não ocorre etc;
 Menor combinação simultânea, de eventos que provocarão a ocorrência do evento-topo.

Segundo Viveiros (2009), a avaliação pode ser realizada de duas maneiras distintas:
qualitativamente onde são determinadas as falhas básicas e a quantitativa, onde se calcula a
probabilidade de ocorrência de cada evento. A seguir, será mostrado os símbolos mais
utilizados dessa técnica, no Quadro 2.

Quadro 2 – Simbologia da Análise de Árvore de Falhas


Símbolo Significado
Evento Topo

Evento Intermediário

Evento Básico

Evento Não

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Portão “E”

+ Portão “OU”

Fonte: Adaptado de Heinrich (2004)

2.4.4. Medidas para controle de riscos

Para Lieggio Júnior (2008), controlar os riscos é reduzir sua probabilidade e impactos, para
isso, devem-se aplicar medidas educacionais, técnicas, gerenciais, legais ou políticas, pela
empresa e governo, conforme os níveis de poder, responsabilidade e de atuação. Ainda de
acordo com o autor, evitar exposição, fazer a prevenção, redução e segregação das perdas e a
transferência contratual do controle de risco são as principais estratégias aplicáveis.

3. Estudo de caso

Neste trabalho a metodologia de Análise de Risco no Transporte de Produtos Perigosos foi


aplicada em caminhões camboio em uma usina de cana-de-açúcar do interior do Mato Grosso
do Sul. Segundo Pavani (2015), os comboios são caminhões que levam grandes quantidades
de combustível até o campo, para abastecer máquinas que fazem operações de colheita ou
plantio. Esses caminhões possuem as seguintes funcionalidades:

 Abastecimento de combustível;
 Abastecimento de lubrificantes;
 Fornecimento de ar comprimido;
 Fornecimento de água bombeada.

As vantagens dos caminhões comboios vão muito além de proteger o material transportado.
Além de otimizarem o tempo produtivo das outras máquinas, facilitam o controle da
quantidade de combustível consumido pelos equipamentos e também permitem realizar a
lubrificação dos componentes durante o abastecimento.

3.1. Identificação dos riscos

3.1.1 Análise da tarefa e atividade

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Por meio de observações feitas no local, checklist e conversas com os 17 comboistas, foi
possível conhecer as atividades diárias que são realizadas pelos mesmos. Para a realização do
trabalho, os equipamentos de proteção coletivo e individuais (EPCs e EPIs), são estritamente
importantes.

Os Equipamentos de Proteção Coletiva (EPCs) de uso obrigatório são:

 Calços e cavaletes de apoio para veículos em manutenção;


 Extintor de incêndio tipo gás carbônico (CO2) e pó químico seco (PQS);
 Macacos hidráulicos e mecânicos;
 Sinalização de segurança (cones, fitas e placas);
 Enclausuramento de transmissões de força (cardam).

Porém, no momento da realização da tarefa, a sinalização não foi feita e o pó químico estava
em um compartimento lacrado de difícil acesso.

Os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) de uso obrigatório são:

 Uniforme da empresa (calça e camisa de manga longa)


 Calçado com bico de aço;
 Óculos de segurança (lente incolor e de tonalidade escura);
 Capa de chuva com capuz;
 Protetor auditivo (concha ou plug);
 Protetor solar;
 Luva;
 Capacete ou boné.

É certo que cada EPI tem sua determinada atividade, contudo, um EPI que não foi quase
observado foi a luva, que tem a finalidade de utilização em atividades onde haja partes
cortantes e ou temperatura extremas ou em situações que envolverem utilização de água
(umidade) e ao manusear produtos químicos (como os óleos e a graxa). Dentre os outros EPIs,
o protetor auricular também ficou a desejar, não sendo muito utilizado em campo e o óculo
transparente que deveria estar nos olhos, está no boné e é o de tonalidade escura. Apresentam-
se no Quadro 3, a seguir, os resultados obtidos de observações armadas in loco, checklists,

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entrevistas e queixas dos comboistas, agrupados de acordo com a classificação de riscos e


seus efeitos ao trabalhador.

Quadro 3 – Análise dos Riscos Ocupacionais e respectivos efeitos ao trabalhador


Riscos Incidentes Efeito
Trauma acústico, surdez,
Ruído estresse, alteração emocional
e outros.
Cãibras, cataratas, prostração
Calor
térmica e outros.
Físico Perda de equilíbrio, lentidão
de reflexos, alteração no
sistema cardíaco, falta de
Vibração
concentração para o trabalho,
distúrbios visuais, como
visão turva, etc.
Bronquite crônica, fibrose
Poeiras pulmonar, enfisema
Químico pulmonar, etc.
Lesões de pele, dermatite,
Óleos e graxas
etc.
Lombalgias, dor muscular,
Ergonômico Postura inadequada
etc.
Não uso de EPIs e EPCs Acidentes leves e/ou fatais.
Queda em diferença de nível
Politraumatismo, invalidez,
ao reabastecer os
morte.
reservatórios do caminhão
Patinação do caminhão e/ou
Mecânico
tombamento provocando
Deslizamento de terra
acidentes e liberação de
produto no ambiente.
Má operação da atividade de Acidente caso o motorista
engraxamento acelere demais ou freie de

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menos o veículo.
Mau procedimento em
Inexistência de Ficha de
Social momentos de risco que pode
Emergência com o comboista
levar a morte.
Fonte: Elaborado pelos autores (2016)

3.2 Análise de Risco

A partir da análise de efeito e com base na Técnica de Incidentes Críticos houve a


categorização deles no Quadro 4.

Quadro 4 – Categorização dos riscos e incidentes críticos


Categoria Tipo Risco
I Desprezível
- Calor;

II Marginal - Óleos e graxas;

- Postura inadequada.
- Ruído;

- Vibração;

- Poeiras;
III Crítica

- Não uso de EPIs e EPCs;

- Má operação da atividade
de engraxamento.
- Queda em diferença de
IV Catastrófica
nível ao reabastecer os

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reservatórios;

- Deslizamento de terra;

- Inexistência de Ficha de
Emergência.
Fonte: Elaborado pelos autores (2016)

3.3 Avaliação de Risco

A construção das Árvores de Falhas partiu-se da escolha do “evento topo”, que representou o
evento indesejável do sistema estudado. Em seguida, foram determinados os eventos
intermediários (que são fatores que mais contribuem para a falha maior) e os seus eventos
básicos (incidentes).

É necessário esclarecer que o evento intermediário representa a causa para o “evento topo” e
para o evento básico, sua consequência. Isso significa que o evento intermediário é ao mesmo
tempo causa e consequência, dependendo de como é feito sua observação e análise. A partir
dos eventos intermediários foram determinados os eventos básicos e também surgiram os
“eventos não”, que por motivos específicos não foram desenvolvidos. Vale ressaltar que,
neste trabalho as árvores foram construídas a partir dos resultados obtidos com a aplicação
dos métodos de identificação e análise de riscos.

Para melhor visualização, a Árvore principal de Falhas, foi dividida em mais duas árvores. A
seguir, a Figura 1, mostra a Árvore de Falhas que tem por “evento topo” ou indesejável o
acidente com produtos perigosos, enquanto a Figura 2 e Figura 3 mostrarão as ramificações a
partir dos eventos intermediários Homem e Ambiente, respectivamente.

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Figura 1 – Árvore principal de Falhas


Fonte: Elaborada pelos autores (2016)

Figura 2 – Ramificação Evento Intermediário Homem


Fonte: Elaborada pelos autores (2016)

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Figura 3 – Ramificação Evento Intermediário Ambiente


Fonte: Elaborada pelos autores (2016)

A Árvore principal de Falhas apresenta três eventos responsáveis pela causa indesejada:
homem, equipamento [caminhão comboio] e ambiente, e esse resultado é subjetivo, pois,
devido a não disponibilização de dados da empresa, a estimação de valores da probabilidade
de ocorrência dos incidentes (e acidentes) não foi possível ser feito.

Em geral, os acidentes ocorrem devido à falha combinada de dois ou mais eventos, que pode
ser: equipamento junto com o erro humano e/ou causa ambiental. Contudo, após as conversas
com os comboistas, os mesmos perceberam que muitos incidentes acontecem por negligência
dos mesmos já que a empresa oferece treinamentos de Segurança do Trabalho e com um grau
de otimismo ou simplesmente pelo receio de apresentar as falhas cometidas durante seus
trabalhos e aproveitando que na época do estudo estava ocorrendo muita chuva, a conclusão,
por meio de porcentagem foi que:

 47,06% dos entrevistados afirmaram que os acidentes acontecem por falha humana;
 29,41% dos entrevistados afirmaram que os acidentes acontecem por causa ambiental e
 23,53% afirmam que é devido à falha do equipamento.

3.4 Recomendações

São apresentadas a seguir as recomendações para as atividades realizadas no transporte de


produtos perigosos em caminhões comboio. O Quadro 5 refere-se às recomendações dos
incidentes que foram encontrados na análise.

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Quadro 5 – Medidas de Tratamento dos Incidentes encontrados


Riscos Observações Recomendações
Utilização de protetores
Ruído auriculares adequados (tipo
concha ou de inserção).
Físico Disponibilização de água
Calor
fresca e potável.
Realizar manutenções
Vibração
preventivas e corretivas.
Utilização de protetores e
Poeiras optar por andar com a
janela fechada do veículo.
Químico
Utilizar luvas impermeáveis
Óleos e graxas e/ou cremes protetores
adequados.
Ergonômico Postura inadequada Realizar exercícios laborais.
Não uso de EPIs e EPCs Utilização dos EPIs e EPCs.
Queda em diferença de Atenção no momento da
nível ao reabastecer os realização do serviço.
reservatórios do caminhão
Atenção no momento da
Mecânico Deslizamento de terra
realização do serviço.
Má operação da atividade Atenção no momento da
de engraxamento realização do serviço.
Disponibilização da Ficha
Inexistência da Ficha de onde mostraria os passos de
Social Emergência com o o que fazer caso
comboista determinado incidente ou
acidente acontecesse
Fonte: Elaborado pelos autores (2016)

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Outras recomendações seriam:

 Elaboração de check list onde os comboistas sigam as etapas de procedimento correto,


com isso eles passariam a seguir essas etapas, já que assinariam no final e caso
acontecesse algum incidente ou acidente, eles estariam afirmando que seguiu o
procedimento ou não;
 Elaboração de uma manutenção preventiva e não somente corretiva;
 Treinamento e reciclagem dos funcionários;
 Revisão dos dispositivos de segurança nos equipamentos;
 A realização da Análise Prevencionista da Tarefa pela empresa, já que a mesma não
disponibilizou dados de acidentes, para facilitar a compreensão dos trabalhadores, do
passo a passo e os pontos de atenção das tarefas a serem por eles realizadas, buscando a
prevenção e os riscos para o trabalho em condições seguras.

4. Considerações finais

O estudo realizado mostrou a possibilidade de aplicação dos métodos de análise de segurança


do trabalho na área de transporte de produtos perigosos, mais especificamente, no transporte
realizado por caminhões comboios.

Foi observado que a identificação de riscos nas atividades depende mais da experiência dos
próprios funcionários responsáveis pelas atividades do que de qualquer equipamento
utilizado. O que mostra uma maior necessidade de comprometimento por parte dos
funcionários com a execução da atividade, diminuindo assim as falhas humanas.

A estimativa de probabilidades ficou prejudicada, por se tratar da dependência dos registros


de ocorrência das falhas identificadas pela empresa. O não fornecimento de dados da empresa
mostra que de algum modo ela saiba do que está acontecendo, omitindo ao público, seus
pontos fracos.

O mais interessante foi perceber que, os motoristas sabiam que estavam muitas vezes
realizando o procedimento errado, mas continuavam a realizar e não percebiam que essas
“pequenas” falhas poderiam influenciar tanto na atividade subsequente e no transporte como
um todo.

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Analisando as dificuldades no levantamento de dados durante o estudo na usina, sugere-se


que sejam mantidos os registros contínuos das atividades que compõem o planejamento do
transporte e sua segurança e a partir dos dados que ele já tem, realizar a elaboração da árvore
principal de falhas e assim obter as probabilidades, pois isso facilita o entendimento do
processo como um todo e dos eventos que o compõem, e com isso, implantar as medidas de
controle.

Contudo, mesmo sendo um estudo qualitativo, acredita-se que o objetivo inicial do trabalho,
de desenvolver uma aplicação da Análise de Riscos para o transporte de produtos perigosos e
identificar os possíveis riscos sofridos nesse trabalho foi alcançado. As aplicações de métodos
de identificação de perigos, avaliação de riscos e construção das árvores de falhas, abrangem
uma importância na tomada de decisões das empresas, se elas permitirem essa mudança, pois,
permitem o entendimento de atividades e também o desenvolvimento de programa
prevencionista de riscos.

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES TERRESTRES. O Transporte Terrestre de Produtos Perigosos no


MERCOSUL. [s.i]: ANTT, 2011.

BRASIL. Ministério do Trabalho. NR 20 – SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO COM INFLAMÁVEIS


E COMBUSTÍVEIS. Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/legislacao/norma-regulamentadora-n-20.htm>.
Acesso em: 05 maio 2015.

CARDELLA, Benedito. Segurança no Trabalho e Previsões de Acidentes: Uma abordagem holística. São Paulo:
Atlas, 2010. 254 f.

CUNHA, Wallace de Castro. Análise de Transporte de Produtos Perigosos no Brasil. 2009. 224 f. Tese
(Doutorado) - Curso de Engenharia de Transportes, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
2009.

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