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Curso de Técnico Superior de Higiene e Segurança

AVALIAÇÃO DE RISCOS

1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................................................... 3

2. A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E A PREVENÇÃO ......................................................................................... 5

3. MÉTODOS E MODELOS ................................................................................................................................... 10


3.1 MODELOS ACIDENTOLÓGICOS................................................................................................................... 11
1 - A TEORIA DO DOMINÓ DE HEINRICH.................................................................................................... 11
2 - A TEORIA DO DOMINÓ DE BIRD ............................................................................................................. 16
3 - A TEORIA DA CAUSALIDADE MÚLTIPLA ............................................................................................... 19
4 - TEORIAS DE SISTEMA E AS ABORDAGENS SÓCIO-TÉCNICAS ............................................................ 19
5 - AS RELAÇÕES SOCIAIS E O ACIDENTE................................................................................................... 23
4. GESTÃO DE RISCOS – CONCEITOS E PRINCÍPIOS.................................................................................. 24

5. TERMOS FUNDAMENTAIS NA AVALIAÇÃO DE RISCOS ....................................................................... 27

6. A AVALIAÇÃO DE RISCOS.............................................................................................................................. 29
6.1. A ANALISE DE RISCOS................................................................................................................................ 29
6.1.1. Técnicas de Análise de Riscos.................................................................................................................. 31
6.1.1.1 – Classificação e escolha das Técnicas.................................................................................................. 41
6.2. A VALORAÇÃO DO RISCO.......................................................................................................................... 44
6.2.1 Critérios Para A Aceitabilidade Do Risco (Fischhoff) ............................................................................. 45
6.2.2. A Hierarquização De Riscos .................................................................................................................... 47
6.2.3 Métodos quantitativos ............................................................................................................................... 48
6.2.4 Métodos Qualitativos ................................................................................................................................ 49
6.2.5 Métodos Semi-Qualitativos ....................................................................................................................... 54
7. PRINCIPIOS GERAIS DA AVALIAÇÃO DE RISCOS .................................................................................. 57

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AVALIAÇÃO DE RISCOS

AVALIAÇÃO DE RISCOS

É o processo dinâmico dirigido a estimar a magnitude do risco para a saúde e a segurança dos
trabalhadores no trabalho, tendo em vista obter a informação necessária para que o
empregador reúna as condições para uma tomada de decisão apropriada sobre a necessidade
de adoptar medidas preventivas e sobre o tipo de medidas que deve adoptar.

Antes de continuar, é de salientar que neste trabalho serão abordados alguns aspectos,
nomeadamente os históricos, que não têm influência directa nas Técnicas de Avaliação de
Riscos, mas que lhe dão o devido significado e enquadramento dentro da Higiene e Segurança
no Trabalho.

Com efeito, A AVALIAÇÃO DE RISCOS não pode ser apresentada de forma desgarrada,
relativamente à grande realidade em que está inserida, sendo apenas um dos aspectos a
considerar dentro de uma realidade muito maior que é a GESTÃO DE RISCOS.

Desta forma a primeira abordagem é feita pelo todo, só depois se passando ao tema que é o
objecto final deste trabalho;- A AVALIAÇÃO DE RISCOS

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1. INTRODUÇÃO

Os riscos presentes no local de trabalho podem produzir danos irreparáveis aos equipamentos,
bem como ocasionar graves lesões, ou até mesmo mortes aos trabalhadores e às
comunidades vizinhas, fora dos limites das suas instalações.

Ao longo das últimas décadas muitos são os exemplos de acidentes cujos reflexos
económicos, humanos e ambientais ultrapassam os limites das suas instalações, afectando o
meio ambiente circundante. O quadro seguinte apresenta alguns acidentes do sector Industrial
com consequências catastróficas.
Alguns acidentes graves.

Ano Local Natureza N mortos/danos

Fuga de GLP e consequente BLEVE1 do


1972 Rio de Janeiro 37
Deposito

Flisborough Explosão de uma fábrica de caprolactama


1974 28
(Reino Unido) devido à ruptura da tubagem

1976 Seveso (Itália) Explosão seguida de libertação de dioxina desconhecido

Rebentamento da tubagem de gasolina e


1984 Cubatão (Brasil) cerca de 500
consequente ignição

Cidade do México
1984 Fuga de GLP seguida de BLEVE* cerca de 550
(México)

Libertação de isocianato de metila por


1984 Bhopal (Índia) explosão de um deposito de mais de 2500
armazenamento

Contaminação do Rio Reno a partir de


1986 Basiléia (Suíça) águas da extinção de um incêndio num danos ambientais
depósito de armazenamento

1
BLEVE ou "Bola de Fogo" é uma combinação de incêndio e explosão, com uma emissão
intensa de calor radiante, num intervalo de tempo muito pequeno. O fenómeno pode ocorrer,
por exemplo, num tanque no qual um gás liquefeito é mantido abaixo de seu ponto de ebulição
atmosférico. Se houver uma fuga num tubo de pressão, devido a uma falha estrutural, por
exemplo, a maior parte de seu conteúdo, é expelido sob a forma de uma mistura turbulenta de
gás e líquido, que se expande rapidamente, dispersando-se no ar sob a forma de nuvem. A
ignição dessa nuvem gera a "Bola de Fogo", que pode causar danos materiais e queimaduras a
centenas de metros de distância, dependendo da quantidade de gás liquefeito envolvida.

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O acelerado avanço da tecnologia proporcionou e continua a proporcionar incontestáveis


benefícios à sociedade, mas ao mesmo tempo é o que origina o maior número de acidentes
trágicos, com grandes perdas, tanto humanas quanto materiais, além de graves danos ao meio
ambiente.

Assim sendo, o aumento dos riscos de acidentes industriais de grande perigosidade,


provenientes da utilização de tecnologias mais avançadas e complexas, maior número de
matérias-primas, criação de novos processos e produtos, grandes capacidades de
armazenamento e transporte de produtos perigosos, fez com que aumentasse a pressão sobre
as empresas no sentido de reduzirem os seus riscos, esclarecerem os cidadãos sobre os
mesmos e adoptarem medidas de emergência e contenção de riscos eficientes.

Além do mais, com a evolução do tecido social, temas ligados às áreas ecológicas e de
acidentes do trabalho passaram a fazer parte das preocupações públicas e consequentemente,
das autoridades governamentais.

Como consequência, as indústrias foram obrigadas a examinar com mais acuidade os efeitos
das suas operações

Neste contexto, a gestão de riscos surgiu como um instrumento de mitigação e administração


dos riscos presentes no ambiente de trabalho, oferecendo filosofias e ferramentas técnicas que
visam optimizar o uso da tecnologia, a qual sofre avanços acelerados e, não raramente,
inconsistentes com os padrões mínimos de segurança que devem estar presentes.

A gestão de riscos no local de trabalho representa a possibilidade de se atribuir segurança e


fiabilidade aos processos e procedimentos, constituintes do ambiente operacional, permitindo a
integração de dois pólos que, até então, se relacionavam indirectamente:
¾ A segurança do trabalho;
¾ A segurança patrimonial.

A origem da Gestão de Riscos confunde-se com a própria evolução da prevenção. Dentro dela
estão aglutinados todos os aspectos apresentados por diversas filosofias de prevenção que
surgiram ao longo dos tempos.

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Nos Estados Unidos e nalguns países europeus, a Gestão de Riscos (Risk Management)
surgiu há aproximadamente 40 anos, logo após a Segunda Guerra Mundial, e tem vindo a ser
sustentada e aprimorada pela acção conjunta de empresários, trabalhadores e organizações
governamentais.

2. A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E A PREVENÇÃO

Para que se compreendam, de forma consistente, as bases que sustentam a Gestão de


Riscos, é de suma importância que se estabeleça um histórico sobre a evolução das políticas e
das filosofias de prevenção de riscos no trabalho.

Os primeiros indícios de acções preventivas remontam à Europa do século passado, mais


especificamente à Inglaterra, após o surgimento da revolução industrial, que se iniciou em
1760, com o aparecimento da primeira máquina de tear e que ficou marcada pela invenção da
máquina a vapor (em 1781) por James Watts.

As profundas alterações tecnológicas provocadas por esse fenómeno, deram início aos
grandes processos de industrialização, substituindo o trabalho humano pela máquina. Esta
realidade veio criar condições e procedimentos de trabalho verdadeiramente desumanos.

As massas trabalhadoras foram impiedosamente exploradas durante o início da revolução


industrial, pagando com a saúde física e mental e por vezes com a vida o desenvolvimento e o
progresso então registado.

Só em meados do século XIX, quase 50 anos depois do início da revolução industrial é


começaram a existir preocupações com os acidentes de trabalho e com a sua consequente
prevenção, bem como com outros factores de risco, frequentes no ambiente das primeiras
fábricas.

Através das campanhas de melhoramento social, que surgiram com as leis da segurança
social, foi introduzido o trabalho sistemático e a legislação fabril. Karl Marx, afirma, no seu livro
Das Kapital, que "essa legislação foi a primeira tentativa deliberada e sistemática, por parte da
sociedade, para controlar o movimento básico do seu próprio evolucionismo".

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Segundo CARDOSO, essa legislação não resolvia senão uma parcela mínima dos problemas
e, portanto, foi seguida por leis complementares, em geral pouco eficientes devido à pressão
dos empregadores.

Após o seu aparecimento na Inglaterra, a revolução industrial espalhou-se pela Europa


Ocidental e, atravessando o Atlântico, desembarcou nos Estados Unidos da América, país
onde os movimentos prevencionistas conheceram um grande desenvolvimento devido às
acções conjuntas entre governo, empresários e especialistas.

Em 1928, o American Engineering Councill já fazia referência à relação existente entre os


custos indirectos (não segurados) e os custos directos (segurados) dos acidentes, imputando
aos custos indirectos o pagamento de salários improdutivos, perdas financeiras, redução de
rendimento da produção, falhas no cumprimento de prazos de entrega de produtos, etc.

Em 1931, H.W. Heinrich, que pertencia a uma companhia de seguros dos Estados Unidos,
publicou um estudo onde afirmava existir uma relação de 4:1 entre os custos indirectos e os
custos directos dos acidentes, sendo a sua pesquisa fundamentada em dados médios da
indústria americana da década de 20. No mesmo estudo, Heinrich lançou a ideia de acidentes
com danos à propriedade, ou melhor, acidentes sem lesão.

Até ao momento em que foi veiculada a ideia de acidentes sem lesão não existia qualquer tipo
de preocupação com outro tipo de custos que não os pessoais, não era dada nenhuma
atenção aos danos materiais e ambientais e existia um total desconhecimento da “mecânica”
dos acidentes. Este desconhecimento devia-se sobretudo à ausência de colaboração e de
participação dos escalões inferiores da organização.

Estas concepções estavam profundamente associadas aos riscos físicos e a processos de


avaliação assentes numa perspectiva racional e determinística de identificação de agentes
causais de um processo de acidente.

Heinrich definiu acidente como todo evento não planeado, não controlado e não desejado que
interrompe uma actividade ou função. As proporções entre os tipos de acidentes, encontradas
por Heinrich, são apresentadas pela figura abaixo.

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Pirâmide resultante dos estudos de Heinrich.

1 Acidentes c/ lesão incapacitante

29 Acidentes com lesão não incapacitante

300 Acidentes sem lesões

Posteriormente, R.P. Blake analisou os resultados e, junto com Heinrich, formulou alguns
princípios e sugestões. De entre outros defendiam que as empresas deveriam promover
medidas tão importantes ou mais do que aquelas que visassem apenas a protecção social dos
seus empregados, ou seja, as empresas deveriam evitar a ocorrência de acidentes.

Durante a Segunda Guerra Mundial, os movimentos defensores da prevenção atingiram um


estado de maior maturidade. Ao longo deste período, segundo SOTO, "os países em luta
compreenderam que o vencedor seria aquele que tivesse melhor capacidade industrial e, para
isto, era preciso manter o maior número possível de trabalhadores em produção activa".

Em 1947, R.H. Simonds propôs um método para cálculo do custo de acidentes, que enfatizava
a necessidade de se realizar estudos - piloto, sobre os custos associados a quatro tipos de
acidentes: lesões incapacitantes, casos de assistência médica, casos de primeiros socorros e
acidentes sem lesões.

Simonds também propôs a substituição dos termos custo directo e custo indirecto por custo
segurado e custo não – segurado, respectivamente, muito utilizados hoje em dia em gestão de
riscos.

Durante a década de 50, desenvolveu-se nos Estados Unidos, uma consciencialização no


sentido de se valorizar os programas de prevenção de riscos de danos materiais e, em 1965, o
Conselho Nacional de Segurança dos EUA concluiu que o país tinha perdido U$ 7.200 milhões

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em acidentes com danos materiais e U$ 7.100 milhões em acidentes com danos pessoais nos
últimos dois anos

È Também durante esta década, que surge a denominada "terceira onda industrial", iniciada
pelo Dr. W. Eduard Deming, em 1950, no Japão, com sua teoria de excelência na qualidade.
Deming, ensinou aos japoneses a maneira de organizar e dirigir as suas indústrias,
"...aplicando, de forma rigorosa, o conceito de qualidade nos produtos e serviços...".

Em 1953, a Recomendação n. 97, da Conferência Internacional do Trabalho, especificou dois


métodos básicos para a protecção da saúde dos trabalhadores: o acompanhamento médico de
cada trabalhador e as medidas técnicas para prevenir, reduzir ou eliminar riscos do ambiente
de trabalho. Estas recomendações foram seguidas de forma diferenciada pelos Estados Unidos
e pela Europa.

O primeiro deu maior ênfase aos aspectos técnicos que controlavam os níveis de exposição a
agentes físicos e químicos, enquanto que, na Europa, o caminho seguido se destacou por uma
dedicação maior ao diagnóstico e aos aspectos clínicos da protecção da saúde.

Em 1966, Frank E. Bird Jr. publicou os resultados de seu estudo efectuado na siderúrgica
Luckens Steel, com mais de 5000 trabalhadores, situada na Filadélfia, onde analisou 90.000
acidentes ocorridos nos 7 anos anteriores. Os resultados obtidos por Bird são apresentados na
figura seguinte.

Pirâmide resultante dos estudos de Bird.

1 Acidentes com lesões incapacitantes

100 Acidentes com lesões não incapacitantes

500 Acidentes com dano à propriedade

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Bird apresentou, com base em dados e projecções estatísticas e financeiras, a sua teoria de
Controlo de Danos. Esta teoria tinha, como finalidade principal, reduzir ou eliminar as perdas
dos acidentes com danos materiais, sem descuidar os acidentes com danos pessoais.

Os quatro aspectos principais em que se baseava o desenvolvimento de programas de


controlo de perdas eram: informação, investigação, análise e revisão do processo. Em 1969, a
Insurance Company of North America publicou um estudo, realizado sob o comando de Frank
E. Bird Jr., então Director de Segurança, que consistia num resumo, com fundamentos
estatísticos, da análise de 1.753.498 ocorrências obtidas do levantamento de 297 empresas
que empregavam 1.750.000 pessoas.

Este estudo, além de contar com dados mais precisos e representativos que os obtidos
anteriormente por Bird, introduzia também nas estatísticas os números dos "quase –
acidentes".

Os resultados deste estudo são apresentados na figura abaixo.

Pirâmide resultante dos estudos da ICMA.

Em 1970, no Canadá, John A. Flecher e Hugh M. Douglas apresentaram um trabalho baseado


nos estudos de Bird, onde aplicavam os princípios do Controlo de riscos de forma extensiva a
todos os acidentes passíveis de ocorrência dentro de um sistema, ou seja, acidentes com
máquinas, materiais, instalações, meio ambiente, etc. Desta forma, introduziam o conceito de
Controlo Total de Perdas.

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Os estudos desenvolvidos, até então, tanto por Bird e por Fletcher, abordavam apenas as
práticas administrativas sendo negligenciados os problemas que exigiam uma análise técnica
mais apurada.

Partindo desta observação, em 1972, Willie Hammer, engenheiro especialista na Segurança de


Sistemas e com larga experiência em projectos aero – espaciais nos EUA, ampliou os
conceitos, defendendo a previsão de acontecimentos para organizar a identificação e a gestão
do risco, ao contrário da análise de eventos à posteriori.

Desta forma, Hammer alertou para a necessidade de se incluir um reforço complementar, do


ponto de vista da engenharia, nos programas de Gestão e controlo de riscos desenvolvidos até
então. Segundo Hammer, as actividades administrativas eram muito importantes, mas existiam
problemas técnicos que teriam obrigatoriamente que ter soluções técnicas.

Os estudos de Hammer ajudaram a compreender melhor os chamados erros humanos, muitas


vezes provocados por projectos deficientes e que, por isso, deveriam ser debitados à
organização e não ao executante.

Com a evolução das políticas de prevenção, passou-se a analisar mais criteriosamente os


riscos industriais e os métodos para os reduzir ou eliminar, socorrendo-se das técnicas
desenvolvidas para a tomada de decisões técnicas e de gestão, tanto a nível da prevenção de
acidentes do trabalho, como de acidentes catastróficos envolvendo as instalações, o meio
ambiente e o público em geral.

3. MÉTODOS E MODELOS

A evolução das actividades e procedimentos de trabalho foi acompanhado pelo


desenvolvimento de diversos métodos e modelos de analise de riscos, que tinham como
objectivo principal a explicação dos acidentes e incidentes de trabalho.

A primeira abordagem metodológica, sistemática e estruturada de avaliação de riscos


resultante de estudos objectivos e concretos foi efectuada por Heinrich no seu livro Industrial
Accident Prevention.

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Depois dele outros se seguiram, tentando, de acordo com as problemáticas próprias da época,
chegar ao modelo óptimo para a explicação dos acidentes.

3.1 MODELOS ACIDENTOLÓGICOS

A determinação e compreensão das causas dos acidentes constitui um domínio determinante


para se poder isolar, circunscrever ou eliminar os factores que os determinam ou que
contribuem para que aconteçam e, a partir dai, dispor de referenciais que permitem situar a
condução de uma estratégia operacional de intervenção que direccione o conhecimento, as
metodologias e os meios mais adequados para a acção preventiva

Como seria de esperar, a quantidade de modelos existentes torna inviável a abordagem de


todos eles, o que implica um processo de selecção, naturalmente questionável, de entre
aqueles que conhecem maior difusão ou que se revelam de maior actualidade.

Os modelos seleccionados e que serão objecto de analise são 5:


1. A TEORIA DO DOMINÓ DE HEINRICH;
2. A TEORIA DO DOMINÓ DE BIRD;
3. A TEORIA DA CAUSALIDADE MÚLTIPLA;
4. A TEORIA DE SISTEMAS E AS ABORDAGENS SÓCIO-TÉCNICAS;
5. AS RELAÇÕES SOCIAIS E O ACIDENTE;

1 - A TEORIA DO DOMINÓ DE HEINRICH

Tal como já foi referido, esta foi a primeira teoria desenvolvida para efectuar a explicação do
acidente, proporcionando em simultâneo a adopção de medidas de prevenção e controlo.

Esta teoria, concebida para uma realidade de gestão de trabalho caracterizada pelo
Taylorismo, propõe uma sequência de cinco factores que se podem agrupar numa sequência
precisa.

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1. Hereditariedade e ambiente social


2. Causa pessoal/Defeitos pessoais
3. Causa mecânica/Actos inseguros
4. Acidente
5. Dano pessoal/lesão

Cada um desses factores actuaria sobre o seguinte, determinando o prosseguimento da


sequência até à ocorrência da lesão. Assim, Heinrich estabeleceu que, tal como a retirada de
uma peça da fila do dominó interrompe a sequência de queda, também a eliminação de um dos
factores evitaria a ocorrência do acidente e do dano.

1 2 3 4 5

Para compreender de forma mais eficaz a definição do alvo de actuação para estabelecimento
das acções preventivas, efectua-se de seguida a clarificação de cada uma das peças do
dominó.

Dominó n.º 1

Hereditariedade e Ambiente Social – refere-se ao conjunto de características genéticas, ou


seja, transmitidas pelos genes, que passam de uma geração para a outra. A cor dos olhos ou o
tipo de sangue são exemplos de características físicas herdadas geneticamente. Da mesma
forma, certas características psicológicas são também transmitidas dos pais para os filhos,
influenciando a maneira de ser de cada pessoa, definindo traços específicos como por exemplo
a personalidade.

Da mesma forma que somos influenciados pelos genes, também o somos pelo ambiente social
em que nos encontramos inseridos, sendo o comportamento do individuo influenciado pelos
grupos de pessoas com se relaciona. Factores como a moda têm um impacto muito forte no
comportamento das pessoas, sendo do conhecimento geral que tal fenómeno funciona por

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épocas, algumas delas com um carácter quase cíclico. Foi a época das mini saias, dos hipies,
dos cabelos compridos, etc., …

Dominó n.º 2

A causa pessoal – Esta relacionada com os conhecimentos e “habilidades” dos trabalhadores,


refere-se aos defeitos pessoais herdados ou adquiridos. A probabilidade de envolvimento em
acidentes aumenta quando estamos tristes ou deprimidos, ou quando vamos desempenhar
uma tarefa para a qual não temos a preparação adequada.

Dominó n.º 3

A causa mecânica – também apresentada como actos inseguros, diz respeito às falhas
materiais existentes no ambiente de trabalho. Quando o equipamento não apresenta protecção
para o trabalhador, quando a iluminação do ambiente de trabalho é deficiente ou quando não
há boa manutenção das máquinas, os riscos de acidente aumentam consideravelmente.

Podemos classificá-los em dois grandes domínios:


a) O desempenho inseguro das pessoas, que é atribuível a quatro razões principais –
problemas de atitude, falta de conhecimentos ou de aptidões profissionais, inadequação
das características físicas das pessoas e a um ambiente físico ou mecânico
inapropriado;
b) Os perigos mecânicos ou físicos/condições perigosas (máquinas com elementos móveis
desguarnecidos, ausência de guarda – corpos, possibilidade de contacto directo ou
indirecto com a electricidade, iluminação insuficiente…)

Dominó n.º 4

O Acidente – Significa um acontecimento não planeado e incontrolado no qual uma acção ou


uma reacção de um objecto, substância, pessoa ou radiação, provoca, ou pode provocar, um
dano pessoal (queda em altura ou ao mesmo nível, esmagamento…)

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Dominó n.º 5

A lesão / Dano – Constitui o resultado directo do acidente (fracturas, ulcerações,


queimaduras…).

Depois de analisar as diversas peças do dominó, e de acordo com Heinrich, verifica-se que a
peça determinante e o principal alvo da acção preventiva é a 3ª. Esta opção justificar-se-ia,
ainda, pelo facto de ser impossível exercer acção quanto aos factores respeitantes à primeira
sequência (por serem externos à empresa), difícil de realizar quanto à segunda sequência (por
se situar no plano da atitude e não dos comportamentos observáveis) e dificilmente assertiva
quanto à quarta e quinta sequências, por se atribuir carácter fortuito ao dano, não se dispondo
de referências para equacionar o exercício de uma actividade de controlo de emergência para
esse momento.

Assim, a intervenção deve, segundo esta teoria, centrar-se na 3ª peça do dominó, dado que é a
única causa controlável pela empresa/organização.

A figuração da teoria com a queda sucessiva das peças de um dominó explica o processo
causal do acidente.

Factor controlável pela empresa

Pela observação da figura é possível verificar que, ao retirar uma das peças da sequência o
acidente termina, não progride. Esta actuação só é possível de efectuar na peça n.º 3, tal como
já se verificou.

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Esta Sequência explicativa é alvo de desenvolvimento numa carta de 10 princípios que


serviriam de fundamento e orientação para a condução de acção preventiva, a que chamou de
axiomas de segurança industrial.

AXIOMAS DE SEGURANÇA INDUSTRIAL DE HEINRICH

1. A ocorrência de um dano resulta, invariavelmente de se completar uma série de


factores, a última das quais é o próprio acidente. Esse acidente, por seu turno, é
normalmente causado ou directamente possibilitado por actos inseguros de uma pessoa
e/ou de um perigo mecânico ou físico.

2. A maioria dos acidentes é atribuível a actos inseguros das pessoas.

3. Em média, as pessoas que sofreram uma lesão incapacitante, estiveram próximas de


sofrer uma lesão séria em cerca de 300 situações precedentes nas quais cometeram o
mesmo acto inseguro. Do mesmo modo, as pessoas estão expostas centenas de vezes
a perigos mecânicos antes de sofrerem um dano.

4. A severidade de um dano é largamente fortuita e a ocorrência do acidente de que


resulta um dano é previsível e susceptível de prevenção.

5. As quatro razões básicas para a ocorrência de actos inseguros, ( (1) atitude imprópria;
(2) falta de conhecimentos ou de capacidades; (3) inaptidão física; (4) ambiente
mecânico ou físico desadequado.) providenciam um guia para a selecção de medidas
correctivas apropriadas.

6. Estão disponíveis quatro métodos básicos para a prevenção de acidentes: Engenharia


(correctiva), persuasão e sensibilização, ajustamento pessoal e disciplina.

7. Os métodos de maior valia na prevenção de acidentes são análogos aos métodos do


controlo da qualidade do custo e da quantidade da produção.

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8. A gestão tem a melhor oportunidade e capacidade para impulsionar a actividade


preventiva e, por isso, deve assumir essa responsabilidade.
9. Os supervisores e os capatazes são os homens chave na prevenção de acidentes
industriais. O seu exercício da arte da supervisão e do controlo do desempenho do
trabalhador constitui o factor de maior influencia no sucesso da prevenção de acidentes.

10. A motivação humanitária para a prevenção de acidentes é complementada por dois


poderosos factores económicos:
¾ O estabelecimento seguro é eficiente do ponto de vista da produtividade e o
estabelecimento inseguro é ineficiente;
¾ O custo directo, para o empregador, resultante do pagamento das
indemnizações por acidentes industriais e pelos cuidados de saúde, representa
um quinto do custo total que o empregador paga efectivamente.

2 - A TEORIA DO DOMINÓ DE BIRD

A teoria do dominó foi sofrendo diversas adaptações e modificações ao longo dos


tempos, sendo que a que conheceu mais divulgação foi a apresentada por Frank Bird
Jr.

Seguindo a mesma sequência anteriormente referida, BIRD, estabelece cinco factores


explicativos para a ocorrência do acidente:

1. Falta de controlo/gestão;
2. Causas básicas/origens;
3. Causas imediatas/sintomas;
4. Acidente/contacto;
5. Danos/perdas

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gestão Origens sintomas contacto perdas

Causas imediatas
Falta de controlo

Causas básicas

Acidente

Danos
A grande diferença entre as duas teorias reside essencialmente no facto de BIRD não centrar o
âmbito do conceito de acidente somente nas lesões pessoais, alargando os seus horizontes,
situando e direccionando a acção preventiva para o conjunto de factores que ocasionam
desperdício e ineficiência numa organização produtiva, basicamente, esta definição sequencial
evidencia a influência da gestão na relação causa/efeito de todos os acidentes.

Assim, a sequência encontra-se explicada da seguinte forma:

O dominó n.º 1, reporta-se essencialmente às funções de gestão, nomeadamente, o


planeamento, a organização, a liderança e o controlo de perdas, que iram permitir o
desenvolvimento de programas de segurança. A falta de controlo sobre estas variáveis
aumenta a probabilidade de ocorrência de um acidente.

O dominó n.º 2, na base dos acidentes encontram-se geralmente problemas que escaparam à
controlo anteriormente referenciado. Esses problemas são geralmente evidenciados através de
factores pessoais, tais como: Falta de competência ou de conhecimentos, problemas físicos ou
mentais, falta de motivação,..., ou através de factores ocupacionais tais como: Aquisição de
equipamentos inadequados, desgaste ou utilização anormal de equipamentos.

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Estas são normalmente as origens de onde radiam os acidentes, sendo de extrema


importância a identificação da fonte das causas básicas, para o estabelecimento de um
sistema de controlo efectivo.

O dominó n.º 3, principal alvo de intervenção na teoria de Heinrich, aparece aqui como base
de informação (detecção e classificação), a partir da qual se deve identificar as causas básicas
do acidente, permitindo conferir maior eficácia ao processo de controlo.

BIRD, defendia que a acção exclusiva sobre estas causas, entendidas como sintomas, podem
inibir a percepção dos problemas reais que estão por de trás do acidente, diminuindo a eficácia
das medidas de propostas para um programa de controlo.

O dominó n.º4, o acidente, que passa a abranger não apenas os danos pessoais, mas
também os danos materiais, também designados por “incidentes”. Estes são considerados de
bastante importância por serem indicadores de ineficiência dos programas de segurança e
controlo estabelecidos.

O contacto está associado ao momento em que o homem se expõe a uma fonte de energia
superior aos seus limites de resistência, a identificação desta situação permite equacionar um
conjunto de medidas de protecção, geralmente conotadas com os princípios gerais de
prevenção.

O dominó n.º 5, último da sequência, reporta-se à produção de danos e perdas, sendo que,
com o termo dano se pretende abranger as lesões sofridas pelas pessoas na sua integridade
física ou na saúde, enquanto que o termo perda se reporta a todos os tipos de dano na
propriedade

A identificação desta sequência do acidente envolve o estudo do momento pós-contacto, e a


necessidade de equacionar, organizar e preparar um conjunto de medidas de reacção à
emergência, como por exemplo, a activação do sistema de combate a incêndio.

Esta teoria amplia o horizonte da analise, até então centrada somente nos acidentes, para
incidentes, doenças profissionais, afectação da saúde mental, etc. Amplia também a
intervenção preventiva para os vários domínios da gestão empresarial, sendo de referir, que a

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atribuição da culpa aos trabalhadores deixa de ter sustentabilidade, o erro humano passa a
estar associado a uma problemática muito mais lata, a gestão.

Por último esta teoria associa o investimento na prevenção, com o aumento da motivação, da
produtividade e da qualidade.

3 - A TEORIA DA CAUSALIDADE MÚLTIPLA

Esta teoria foi desenvolvida tendo por base a teoria do dominó, e tal como acontece na referida
metáfora o acidente é um acontecimento explicável por numerosos factores, originados na
interacção do trabalhador com os outros componentes do processo produtivo.

Na perspectiva das teorias do dominó tais factores são agrupáveis numa sequência precisa,
enquanto que na perspectiva das teorias da causalidade múltipla, a explicação do acidente
passa por tentar identificar o maior número possível de causas para tentar compreender a
composição e a interacção dos diversos elementos que contribuem para a sua origem.

Esta teoria tem pois um carácter aleatório, ou seja, não existe uma sequência lógica e precisa
como no dominó, o acidente resulta da conjugação de falhas num dado ponto do tempo e do
espaço.

4 - TEORIAS DE SISTEMA E AS ABORDAGENS SÓCIO-TÉCNICAS

A aplicação das teorias multicausais suscitam a consideração de que o acidente ocorre num
dado ambiente técnico, organizacional e social, cuja particular forma de agregação e de
interdependência das suas diversas partes e destas com a envolvente externa pode, resultar
em diversos problemas e até factores de risco.

Nesta teoria a organização é encarada como um sistema aberto que interage com o ambiente
externo, sendo directamente influenciada por este, integrando 2 subsistemas fundamentais, o
social e o técnico.

Criado por Mário Silvestre 19


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AVALIAÇÃO DE RISCOS

A base desta teoria assenta na análise do sistema organizacional interno e nas relações que
este estabelece com o meio ambiente externo. Esta perspectiva dinâmica e multidimensional
da organização constitui um avanço significativo na aproximação à compreensão dos
problemas da integração das estratégias preventivas. É o primeiro sistema que aponta as
omissões de gestão como sendo parte integrante e por vezes explicativa dos acidentes.

Este modelo estabelece também o entendimento sobre O ACIDENTE ORGANIZACIONAL,


(Barry Turner).

Esta abordagem identifica a organização enquanto fonte de produção de acidentes, na medida


em que exerce uma função reguladora da variabilidade das situações de trabalho e define os
recursos que lhe são afectos.

Procura relacionar a combinação de disposições nos domínios da técnica e das relações


sociais e administrativas que se podem reunir e combinar para originar a produção de
acidentes graves.

Esta teoria define acidente grave como sendo um desastre provocado pelo próprio homem, é
um evento concentrado no espaço e no tempo com consequências indesejáveis que ameaça a
sociedade, ou uma parte dela, em resultado do colapso da prevenção que, até então, tinha sido
socialmente aceite como adequada.

A sequência de desenvolvimento do Desastre Industriall efectua-se em 6 estádios


consecutivos:

1. O ponto de partida – considerado normal


As pessoas e as organizações lidam com o risco através da adesão às normas de
prevenção estabelecidas no quadro legal, em códigos de boas práticas, em costumes e
saberes informais.

2. O Período de incubação
Refere-se à acumulação de um conjunto de eventos discrepantes, não notificados e
contidos no âmbito da probabilidade considerada aceitável.

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AVALIAÇÃO DE RISCOS

A acumulação deve-se a:
¾ O deficiente cumprimento da regulamentação existente;
¾ A sedimentação e assunções erróneas em função da rigidez percentual das
instituições ou das pessoas, da fixação em situações consideradas prioritárias da
sub estimação de queixas dos trabalhadores, da opinião dos não peritos, de
terceiros, …
¾ Problemas de tratamento da informação em situações complexas (fraca
comunicação entre pessoas, instruções ambíguas, fenómenos enganosos,
informação negligenciada.)

3. Evento iniciador ou detonador


Pauta-se pela sua singularidade, revela a estrutura latente de eventos do período de
incubação, caracteriza-se por:
¾ Ser imprevisível;
¾ Despoletar o reconhecimento de falha do sistema devido a: explosão, falha de
componente, etc., …
¾ É o produto de muitas ligações com a cadeia de eventos discrepantes
acumulados no período de incubação.

4. Inicio do processo acidental


Despoletar de consequências não antecipadas que se seguem ao evento iniciador e trazem
à evidência o colapso das normas de prevenção, até então culturalmente aceites.

5. Desencadeamento das medidas de emergência de socorro e de salvamento


Inicia-se o reconhecimento da situação imediata pós-colapso, através de ajustamentos
para permitir todo o trabalho de limitação ou minimização de danos.

6. Reajustamento cultural
Completa-se quando são levados a cabo inquéritos ou avaliações que permitem revelar e
caracterizar os padrões dos eventos que se desenvolveram, permitindo ajustar os
normativos até então vigentes.

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AVALIAÇÃO DE RISCOS

Resulta deste modelo de analise de acidentes que as matérias da cultura de segurança, da


politica de segurança, da aprendizagem organizacional, da resistência organizacional à
produção de acidentes, da interacção das falhas técnicas e organizacionais, constituem um
alvo determinante na abordagem da prevenção de riscos profissionais.

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AVALIAÇÃO DE RISCOS

5 - AS RELAÇÕES SOCIAIS E O ACIDENTE

A análise das causas dos acidentes também pode ser vista a partir da observação da
composição e dos relacionamentos entre os actores sociais no local de trabalho e do modo
como tentam agir ou defender-se face aos riscos, de acordo com as suas culturas, os
interesses de que são portadores e a informação de que dispõem.

No plano da organização produtiva e dos seus locais de trabalho as relações as relações


sociais que demonstram ter relevo ao nível da segurança e saúde, ocorrem a três níveis
diferentes:
a) As recompensas – financeiras ou simbólicas, percebidas pela contrapartida do trabalho
e a indução que possam significar na exposição ao risco;
b) O comando – ou seja, a relação de poder e a sua mobilização para o combate ao
comportamento tido como indesejável;
c) A organização – envolvendo a repartição de tarefas e o estado de conhecimento do
trabalhador sobre o seu trabalho.

As consequências psicossociais da organização do trabalho sobre a saúde e o bem-estar dos


trabalhadores assumam, aqui, como um ponto fulcral, tratando de circunstâncias de trabalho
envolventes dos trabalhadores que podem ser o resultado de pressões sofridas/respostas
proporcionadas pela organização a partir das suas envolventes externas.

O nível do indivíduo representa, neste contexto relacional, a autonomia que a pessoa pode ter
enquanto membro de uma organização e que está associada a características psicológicas,
cognitivas e fisiológicas próprias.

Esta premissa encontra-se retratada através do modelo do termóstato do risco (Adams e


Thompson). Este modelo traduz uma analise custo-beneficio que caracteriza o comportamento
de assunção de riscos, como sendo um acto de gestão de balanço, governado por um
termóstato, no qual a propensão para o risco representa o ponto de ajuste, uma vez que, quer
as recompensas, quer os acidentes, provêm de um número incomensurável de variáveis que
resistem à redução de um denominador comum.

De acordo com esta abordagem:

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AVALIAÇÃO DE RISCOS

¾ cada pessoa tem uma certa propensão para assumir riscos a qual varia de individuo
para individuo;
¾ Esta propensão é influenciada pelas potenciais recompensas resultantes da assunção
do risco;
¾ A percepção do risco é influenciada pela experiência anterior, própria ou de outros, de
perdas ocasionadas por acidentes;
¾ As decisões individuais de assumir riscos representam um acto de balanço no qual a
percepção do risco é sopesada com a propensão para assumir o risco;
¾ A perda derivada do acidente é, por definição, a consequência de assumir riscos, já que
a assunção do risco é fazer qualquer coisa que tem a probabilidade de ter uma
consequência adversa;
¾ Nesta medida, quanto mais o individuo assume o risco, maiores serão em média, quer
as perdas quer as recompensas de que pode ser alvo;
¾ A valorização das recompensas para favorecer o comportamento de risco tem, por isso,
uma larga possibilidade de produzir resultados adversos na medida em que introduz a
descompensação no balanço da gestão do risco e nos comportamentos decorrentes.
Pela mesma ordem de razões esta variável também pode oferecer uma oportunidade
de intervenção para restringir as actividades de risco se for direccionada para esse
objectivo

4. GESTÃO DE RISCOS – CONCEITOS E PRINCÍPIOS

A Gestão de Riscos, baseia-se na identificação, análise, avaliação e tratamento dos riscos,


com o objectivo de minimizar a possibilidade e a probabilidade de ocorrência de incidentes e
acidentes, melhorando a segurança e reduzindo os custos.

Desta forma, é possível estudar as possibilidades de actuação e as medidas preventivas a


adoptar de acordo com a matriz metodológica legalmente configurada numa definição de nove
princípios gerais de prevenção, tal como são apresentados no quadro seguinte.

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AVALIAÇÃO DE RISCOS

PRINCIPIO GERAIS DE PREVENÇÃO

Princípios Gerais de Prevenção Matriz


(art.º 8º/DL 441/91) metodológica
1. Evitar os riscos Avaliação de
2. Avaliar os riscos não evitados Riscos
3. Combater os riscos na origem
4. Adaptar o trabalho ao homem

Gestão de Riscos
5. Atender ao estádio da evolução técnica Controlo
6. Substituir o que é perigoso pelo que é isento de perigo De
ou menos perigoso
Riscos
7. Planificar a prevenção com um sistema coerente
8. Priorizar a protecção colectiva relativamente à
individual
Comunicação
9. Formar, informar e consultar
De Riscos

SELL, afirma que a Gestão de riscos consiste do levantamento, avaliação e domínio


sistemático dos riscos da empresa, fundamentados em princípios económicos. Também
salienta que o domínio dos riscos é tarefa essencial da direcção da empresa, sendo o objectivo
primário da gestão de riscos garantir a satisfação das metas planeadas pela empresa,
minimizando a possibilidade de ocorrência de eventos perturbadores que prejudiquem o
funcionamento normal da mesma.

Segundo DE CICCO e FANTAZZINI "... Gestão de Riscos é a ciência, a arte e a função que
visa a protecção dos recursos humanos, materiais e financeiros de uma empresa, quer através
da eliminação ou redução de seus riscos, quer através do financiamento dos riscos
remanescentes, conforme seja economicamente mais viável". Portanto, a gestão de riscos
procura a diminuição de erros e falhas e o estabelecimento de planos de acção e de
emergência para a mitigação de acidentes, não se restringindo apenas à administração dos
gastos com seguros, como muitas vezes é entendido.

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AVALIAÇÃO DE RISCOS

O estabelecimento de etapas ou fases dentro de um processo de gestão de riscos não é bem


claro, devido à profunda ligação existente entre cada ponto do procedimento e, portanto, não
existe unanimidade neste sentido.

Com fins didácticos, prefere-se a divisão do processo de gestão de riscos em duas fases
relativamente distintas: a Avaliação de Riscos e o Controlo de Riscos, cada um englobando os
procedimentos próprios e distintos.

Diagrama apresentado seguir, demonstra as fases acima referidas e coloca em evidência as


temática a serem abordadas ao longo deste trabalho.

Identificação dos
factores de risco
Analise GESTÃO
do
Estimação do Risco DE
Risco
RISCOS
Avaliação
do
Valoração do Risco Avaliação
Risco e
controlo
de
Sim Riscos
Eliminação do Risco
Risco Controlado

Não
Controlo do
Risco

Para o desenvolvimento e concretização do módulo em causa iremos apenas aprofundar a


parte correspondente à AVALIAÇÃO DE RISCOS, deixando o controlo de riscos para uma fase
posterior

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AVALIAÇÃO DE RISCOS

5. TERMOS FUNDAMENTAIS NA AVALIAÇÃO DE RISCOS

Para um melhor entendimento do assunto tratado é necessário conhecer alguns conceitos


empregados,

Risco - Uma ou mais condições de uma variável com potencial necessário para causar danos
como: lesões pessoais, danos a equipamentos e instalações, danos ao meio-ambiente, perda
de material em processo ou redução da capacidade de produção. A existência do risco implica
a possibilidade de existência de efeitos adversos.

Expressa uma probabilidade de possíveis danos dentro de um período específico de tempo ou


número de ciclos operacionais, podendo ser indicado pela probabilidade de um acidente
multiplicada pelo dano em valores monetários, vidas ou unidades operacionais. Risco pode
ainda significar: - incerteza quanto à ocorrência de um determinado evento (acidente); - chance
de perda que uma empresa pode sofrer por causa de um acidente ou série de acidentes.

Perigo - expressa uma exposição relativa a um risco que favorece a sua materialização em
danos. Se existe um risco, face às precauções tomadas, o nível de perigo pode ser baixo ou
alto, e ainda, para riscos iguais pode-se ter diferentes tipos de perigo.

Causa: É a origem de carácter humano ou material relacionada com o evento (acidente ou


falta) resultante da materialização de um risco, provocando danos.

Perda: É o prejuízo sofrido por uma organização sem garantia de ressarcimento através de
seguros ou por outros meios.

Sinistro: É o prejuízo sofrido por uma organização, com garantia de ressarcimento através de
seguros ou por outros meios.

Segurança: É a situação em que haja isenção de riscos. Como a eliminação completa de


todos os riscos é praticamente impossível, a segurança passa a ser um compromisso acerca
de uma relativa protecção da exposição a riscos. É o antónimo de perigo. "um compromisso
acerca de uma relativa protecção de exposição a riscos".

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AVALIAÇÃO DE RISCOS

Segurança do trabalho é "um estado de convivência pacífica dos componentes do trabalho


(recursos humanos, materiais, meio ambiente) ".

Acto inseguro: São comportamentos emitidos pelo trabalhador que podem levá-lo a sofrer um
acidente. Os actos inseguros são praticados por trabalhadores que desrespeitam regras de
segurança, que não as conhecem devidamente, ou ainda, que têm um comportamento
contrário à prevenção.

Condição Insegura: São deficiências, defeitos ou irregularidades técnicas na empresa que


constituem riscos para a integridade física do trabalhador, para sua saúde e para os bens
materiais da empresa. As condições inseguras são deficiências como: defeitos de instalações
ou de equipamentos, falta de protecção nas máquinas, má iluminação, excesso de calor ou frio,
humidade, gases, vapores e poeiras nocivos e muitas outras condições insatisfatórias do
próprio ambiente de trabalho.

Acidente do trabalho é "... Uma ocorrência inesperada, que interrompe ou interfere no


processo normal de uma actividade, ocasionando perda de tempo, lesões nos trabalhadores ou
danos materiais".

Um "quase - acidente", também reconhecido por incidente crítico ou simplesmente incidente,


é um acontecimento que, apesar de possuir potencial para causar danos, não se manifesta na
sua plenitude, ou seja, os danos resultantes deste evento não são percebidos a nível
macroscópico, dado que não existe dano físico.

Dano é "a severidade da lesão, ou a perda física, funcional ou económica, que pode resultar se
o controlo sobre um risco é perdido". Um dano financeiro, ou prejuízo, sofrido por uma
organização, sem a possibilidade de ressarcimento, é considerado como uma perda. Um
prejuízo sofrido pela empresa com possibilidade de ressarcimento, seja por seguro ou por
outros meios, é considerado como um sinistro.

Assim, o sinistro é a efectivação do risco previsto no contrato de seguro.

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AVALIAÇÃO DE RISCOS

6. A AVALIAÇÃO DE RISCOS

A Avaliação de Riscos, é antes de tudo, um passo fundamental para balizar a qualidade e o


ajuste da decisão de adoptar medidas preventivas de controlo.

O objectivo é saber em que medida uma dada situação de trabalho é segura e, para tanto, o
processo de avaliação de riscos compreende duas etapas fundamentais:

¾ A analise de riscos;
¾ A Valoração do Risco.

6.1. A ANALISE DE RISCOS

É o processo utilizado para decompor até ao “elemento mais básico” um procedimento, um


sistema, ou seja, qualquer objecto que seja alvo de estudo. Com esta decomposição pretende-
se obter toda a informação possível que possibilite o entendimento e a caracterização de
determinado risco, nomeadamente:
¾ De onde pode surgir o perigo;
¾ Qual é o seu processo de materialização;
¾ Quais são os seus meios de propagação;
¾ Qual a probabilidade de ocorrência;
¾ Quem pode ser atingido;
¾ Qual o seu potencial de dano.

Tal como é visível na figura apresentada anteriormente o caminho a seguir para atingir a
situação onde o risco é eliminado, ou controlado passa pelas seguintes faces:

¾ Identificação dos perigos – Que se efectua através de recolha de informação que pode
estar disponível em fontes tão diversas como por exemplo:
- Legislação;
- Manuais e instruções das máquinas;
- Fichas de segurança dos produtos e substâncias perigosas;
- Processos e organização do trabalho;

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AVALIAÇÃO DE RISCOS

- Dados estatísticos;
- Experiência dos trabalhadores.

Dos pontos anteriormente enunciados, todos são bastante importantes, no entanto a


experiência dos trabalhadores é um dos mais importantes, senão o mais importante,
funcionando o seu conhecimento como factor de resolução de muitos problemas.

¾ Estimativa do risco – Que passa pela identificação dos trabalhadores ou terceiros,


designadamente clientes, fornecedores e outros potencialmente expostos a riscos.
Depois desta identificação procede-se à estimativa quantitativa ou qualitativa da
probabilidade de ocorrência, da frequência de ocorrência, bem como do potencial de
dano ou seja da sua gravidade.

A análise de riscos proporciona o conhecimento sobre a magnitude (probabilidade e gravidade)


e sobre a sua caracterização.

A razão da probabilidade e da gravidade é dada pela seguinte formula

Risco (R) = Probabilidade (P) X Gravidade (G)

O seu principal objectivo é promover métodos capazes de fornecer elementos concretos que
fundamentem um processo decisório de redução de riscos e de perdas, seja esta decisão de
carácter interno ou externo à empresa.

O procedimento global para o desenvolvimento de uma Análise de Riscos pode ser visualizado
como segue:

De um modo geral, a Análise de Riscos tem por objectivo responder às seguintes perguntas:
• Quais os riscos presentes?
• Qual a probabilidade de ocorrência de acidentes devido aos riscos presentes?
• Quais os efeitos e as consequências destes acidentes?
• Como poderiam ser eliminados ou reduzidos estes riscos?

Para responder à primeira questão, são utilizadas diversas técnicas qualitativas e quantitativas
para a identificação dos eventos indesejáveis.

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AVALIAÇÃO DE RISCOS

Para a segunda questão, as taxas de falhas dos equipamentos e dos erros humanos (poucos
são os dados disponíveis sobre as probabilidades de falha humana), são combinadas com o
uso de probabilidades matemáticas para fornecerem a frequência global de ocorrência do
evento indesejável.

A terceira questão é satisfeita pelo uso de modelos matemáticos de estimativa de


consequência de acidentes enquanto que técnicas de controlo de riscos cobrem a última
questão.

Portanto, analisar um risco é identificar, discutir e avaliar as possibilidades de ocorrência de


acidentes, na tentativa de se evitar que estes aconteçam e, caso ocorram, identificar as
alternativas que tornam mínimos os danos subsequentes a estes acontecimentos.

6.1.1. Técnicas de Análise de Riscos

Prevenir, prever falhas e acidentes, minimizar consequências e auxiliar na elaboração de


planos de emergência, são alguns dos objectivos da execução de Análise de Riscos. No
entanto, a consagração destes resultados requer a adopção de uma metodologia sistemática e
estruturada de identificação e avaliação de riscos, facto este que se verifica através da
utilização das técnicas de Análise de Riscos.

As técnicas de Análise de Riscos permitem abranger todas as possíveis causas de acidentes


com danos à propriedade, ao ambiente, e ao trabalhador, sendo que alguns entram em linha
de conta com o factor financeiro.

Algumas das principais técnicas utilizadas pela Análise de Riscos não estão ainda
suficientemente disseminadas e, consequentemente, popularizadas. A seguir, são
apresentadas breves descrições sobre as técnicas de Análise de Riscos mais utilizadas:

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AVALIAÇÃO DE RISCOS

Série de Riscos (SR)

Este é uma técnica básica da Análise de Riscos que permite a determinação da sequência de
riscos associados ao evento catastrófico, que é considerado o risco principal. A partir dos
riscos iniciais ou básicos, são colocados de forma sequencial todos os riscos subsequentes
capazes de contribuir na série, resultando no risco principal.

Análise Preliminar de Riscos (APR) - Preliminary Hazard Analysis (PHA)

Normalmente é a primeira técnica aplicada durante a Análise de Riscos de sistemas em fase


de concepção e/ou projecto, principalmente aquando do de novas tecnologias que carecem de
maiores informações sobre os seus riscos.

Através desta técnica, é efectuada uma análise superficial dos riscos ainda na fase do projecto
do processo, de modo a que as mudanças necessárias, devido aos riscos identificados, não
impliquem em gastos extra, sendo também, mais fácil a sua execução.

Exemplo de um modelo de ficha para realizar uma APR

IDENTIFICAÇÃO DO
SISTEMA:

IDENTIFICAÇÃO DO
SUBSISTEMA:

CATEGORIA MEDIDAS PREVENTIVAS OU


RISCO CAUSAS EFEITOS
DO RISCO CORRETIVAS

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AVALIAÇÃO DE RISCOS

What-if (WI)

Esta técnica examina ordenadamente as respostas do sistema frente às falhas de


equipamentos, erros humanos e condições anormais do processo. Para desenvolvimento desta
técnica, constitui-se de uma equipa com conhecimentos básicos sobre o processo analisado e
sobre sua operação.

Esta equipa procura responder à questões do tipo "O que... se... ?" (por exemplo, "O que
ocorreria se a válvula de alívio não abrisse na pressão especificada?") na tentativa de
identificar os riscos potenciais presentes no processo.

Este tipo de análise pode ser aplicado a qualquer processo industrial em qualquer estádio do
seu processo de desenvolvimento. No entanto, por não ser tão sistemática quanto as outras
técnicas de Análise de Riscos, dado que os seus resultados são extremamente dependentes
da experiência e do conhecimento do grupo de análise, a técnica “WI” é normalmente utilizada
como complemento ou parte auxiliar de outras técnicas como Check-list, HazOp e AMFE.

Check-list

Os Check-list são usados para identificar os riscos associados a um processo e para assegurar
a concordância entre as actividades desenvolvidas e os procedimentos operacionais
padronizados.

Através desta técnica, diversos aspectos do sistema são analisados por comparação com uma
lista de itens pré-estabelecidos, criada com base em processos similares, na tentativa de
descobrir e documentar as possíveis deficiências do sistema.

Normalmente, os check-lists são utilizados para fortalecer os resultados obtidos por outras
técnicas de Análise de Riscos. São comuns check-lists de partes de equipamentos ou
processos operacionais de unidades industriais e de procedimentos de segurança
padronizados.

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AVALIAÇÃO DE RISCOS

What-if/Check-list (WIC)

Como o nome prevê, esta técnica une as características das técnicas What-if e Check-list,
combinando o brainstorming gerado pela primeira com a característica sistemática apresentada
pela segunda, resultando, desta forma, uma análise mais detalhada e completa do sistema.

Técnica de Incidentes Críticos (TIC)

Este é um procedimento relativamente novo dentro da Análise de Riscos , resultado de estudos


no Programa de Psicologia de Avaliação da Força Aérea dos Estados Unidos. Esta técnica
procura identificar os riscos do sistema através da análise do histórico de incidentes críticos
ocorridos, os quais são levantados por intermédio de entrevistas com as pessoas que possuem
uma boa experiência sobre o processo em análise.

Análise de Modos de Falha e Efeitos (AMFE) - Failure Modes and Effects Analysis (FMEA)

A AMFE envolve um estudo detalhado e sistemático das falhas dos componentes e/ou
sistemas mecânicos. Nesta análise, os modos de falhas de cada componente do sistema são
identificados e os efeitos destas falhas no sistema são avaliados, sendo propostas medidas de
eliminação, mitigação ou controlo das causas e consequências destas falhas.

Como este tipo de análise se preocupa essencialmente com os componentes mecânicos do


sistema, problemas relacionados com processos químicos, os quais envolvem substâncias
químicas reactivas, podem ser negligenciados e, portanto, não devem ser analisados apenas
pela AMFE.

Modelo de aplicação de uma AMFE


Modo Causa Efeitos nos Categoria Probabilidade Métodos
Acções
Material de de componentes e de de de
Possíveis
Falha Falha nos sistemas Risco Ocorrência Detecção

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AVALIAÇÃO DE RISCOS

Análise de Árvore de Falhas (AAF) - Fault Tree Analysis (FTA)

Esta técnica é uma metodologia de raciocínio dedutivo que parte de um evento, uma falha
específica de um sistema, denominado evento topo, e procura determinar as relações lógicas
de falhas de componentes e erros humanos que possam gerar esse evento.

A análise é realizada através da construção de uma árvore lógica, partindo do evento topo para
as falhas básicas. Esta técnica é muito utilizada para quantificar a frequência ou a
probabilidade de falha de um sistema, ou seja, a sua fiabilidade.

Simbologia utilizada em analises de árvore de falhas

Identificação de um
Símbolo de conexão Evento final evento particular

Evento não desenvolvido Evento básico Módulo ou comportamento


De inibição

Evento Provável Modulo ou comportamento Modulo ou comportamento


OU E

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AVALIAÇÃO DE RISCOS

Esquema de uma arvore de falhas

Análise de Árvore de Eventos (AAE) - Event Tree Analysis (ETA)

Nesta análise, parte-se de um evento básico, resultante de uma falha específica de um


equipamento ou erro humano, denominado evento iniciador, para determinar um ou mais
estados subsequentes de falha possíveis. Deste forma, a AAE considera a acção a ser tomada
pelo operador ou a resposta do processo para o evento inicial.

A exemplo da técnica AAF, aqui também é desenvolvida uma árvore, partindo-se do evento
iniciador, para quantificar as probabilidades de falha do sistema.

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AVALIAÇÃO DE RISCOS

Esquema de funcionamento da AAE

Exemplo fictício da aplicação da AAE

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AVALIAÇÃO DE RISCOS

Estudo de Operabilidade e Riscos - Hazard and Operability Studies (HazOp)

O estudo de operabilidade e riscos foi desenvolvido para o exame eficiente e detalhado das
variáveis de um qualquer processo industrial, possuindo uma forte semelhança com a técnica
AMFE.

Através do HazOp, identificam-se sistematicamente os caminhos pelos quais os equipamentos


do processo podem falhar ou ser inadequadamente operados. A técnica é desenvolvida por
uma equipa multidisciplinar, sendo guiada pela aplicação de palavras específicas – palavras -
guia - a cada variável do processo, gerando os desvios dos padrões operacionais, os quais são
analisados em relação às suas causas e consequências.

Por ser completa, sistemática e relativamente fácil de aplicadar, o HazOp é uma das técnicas
de Análise de Riscos mais populares.

Palavras – guia de um estudo HAZOP e respectivos desvios

PALAVRA-GUIA DESVIO

NENHUM Ausência de fluxo ou fluxo reverso

Mais, em relação a um parâmetro físico importante. (Ex.: mais vazão,


MAIS
maior temperatura, mais pressão, etc.)

Menos, em relação a um parâmetro físico importante. (Ex.: menos


MENOS
vazão, temperatura menor, menos pressão)

MUDANÇAS NA Alguns componentes em maior ou menor proporção, ou ainda, um


COMPOSIÇÃO componente em falta.

COMPONENTES Componentes a mais em relação aos que deveriam existir. (Ex.: fase
A MAIS extra presente, impurezas,etc.)

OUTRA CONDIÇÃO Arranque, paregem, funcionamento em carga reduzida, modo


OPERACIONAL alternativo de operação, manutenção, mudança de catalizador,etc.

A Técnica HAZOP, encontra-se desenvolvida de forma mais aprofundada no texto de apoio


que lhe é dedicado.

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AVALIAÇÃO DE RISCOS

Modelo de relatório para um estudo HAZOP

CAUSAS ACÇÕES
PALAVRA-GUIA DESVIO CONSEQUÊNCIAS
POSSÍVEIS REQUERIDAS

Outras técnicas de análise menos utilizadas, mas que possuem grande importância em
estudos de riscos, são apresentadas a seguir:

Management Oversight and Risk Tree (MORT)

Esta técnica possui os mesmos fundamentos da AAF, ou seja, baseia-se no desenvolvimento


de uma árvore lógica, porém aplicada à estrutura organizacional e de gestão da empresa.

Esquema de um estudo MORT

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AVALIAÇÃO DE RISCOS

Técnica para Predição do Erro Humano - Technique for Human Error Predicting (THERP)

A técnica para predição do erro humano Procura identificar as actividades humanas que
possam gerar riscos dentro de um sistema, bem como estimar e analisar as falhas
provenientes destes erros.
É realizada uma avaliação dos factores que influenciam a performance de operadores, técnicos
e outros trabalhadores, geralmente é utilizada como auxiliar à AAF para a estimativa de taxas
de falhas relativas a erros humanos.

Análise por Simulação Numérica Aleatória - Random Number Simulation Analysis


(RNSA)

Esta técnica, desenvolvida em 1974, utiliza a AAF como fundamento, porém, ao invés de
atribuir um valor probabilístico para o evento, trabalha com um intervalo de probabilidades no
qual a falha possa ocorrer.

Índices de Risco Dow e Mond - Relative Ranking - Dow and Mond Indices

Os índices Dow e Mond fornecem um meio fácil e directo para estimativa dos riscos de uma
Unidade industrial.

Este método baseia-se na atribuição de penalidades e créditos a determinados aspectos da


Unidade. Assim, aos materiais ou às condições do processo que podem contribuir para um
acidente são atribuídas penalidades, enquanto que aos aspectos relativos à segurança da
Unidade, que podem mitigar os efeitos de um acidente, são atribuídos créditos.

Desta forma, as penalidades e os créditos são combinados resultando no índice relativo do


grau de risco da Unidade analisada.

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AVALIAÇÃO DE RISCOS

Revisão de Segurança - Safety Review

Este é um método de revisão de uma instalação industrial in loco, ou seja, um grupo de


especialistas no processo percorre a instalação procurando identificar procedimentos
operacionais erróneos ou condições de risco que possam levar a um acidente.

6.1.1.1 – Classificação e escolha das Técnicas

As técnicas de Análise de Riscos podem ser classificadas em qualitativas, quantitativas e semi-


qualitativos, ou ambas, conforme o objectivo a que se propõem e, principalmente, conforme a
natureza dos seus resultados. Este tipo de qualificação encontra-se mais desenvolvida nos
6.2.3, 6.2.4 e 6.2.5, respectivamente.

Natureza dos resultados de algumas técnicas de Análise de Riscos.

TÉCNICA ANÁLISE E RESULTADOS


Série de Riscos (SR) Qualitativa
Análise Preliminar de Riscos (APR) Qualitativa
What-if/Check-list (WIC) Qualitativa
Técnica de Incidentes Críticos (TIC) Qualitativa
Estudo de Operabilidade e Riscos (HazOp) Qualitativa
Análise de Modos de falha e Efeitos (AMFE) Qualitativa e Quantitativa
Análise de Árvore de Falhas (AAF) Qualitativa e Quantitativa
Análise de Árvore de Eventos (AAE) Qualitativa e Quantitativa

As técnicas podem ainda ser agrupadas de acordo com a intervenção temporal em que são

utilizadas para analise do acidente , existindo técnicas e métodos pró-activos, “a priori”, que

visam equacionar a acção preventiva antes de acontecer o acidente, por oposição aos

reactivos ou “a posteriori”, que são utilizados após a ocorrência do acidente.

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Seguindo a mesma lógica poder-se-á ainda estabelecer outro tipo de classificação, agrupando

as técnicas e os métodos em indutivos e dedutivos:

¾ Indutivos – Quando se parte das causas prováveis de um acontecimento para chegar ao

conhecimento dos seus eventuais efeitos;

¾ Dedutivos – Quando se analisa um acidente procurando as razões que o podem ter

desencadeado, ou seja, quando se parte do efeito para as causas.

Apesar de cada técnica de análise reunir características, na sua maioria, distintas, a escolha
daquela que será utilizada num procedimento de Análise de Riscos pode ser difícil, sendo que
a decisão raramente é unitária.

De facto a selecção normalmente envolve a escolha de várias técnicas de análise, as quais se


complementam, para analisar diferentes partes do processo ou diferentes tipos de riscos
associados ao sistema.

Esta escolha baseia-se no grau de especificidade que se pretende atingir com o


desenvolvimento da Análise de Riscos, de tal forma, que questões como os objectivos da
análise, a gravidade dos riscos, a complexidade do processo, a natureza dos sistemas
envolvidos, as condições do processo, as informações e os dados necessários, o custo e o
tempo gasto com a análise e, também, os pontos favoráveis de cada metodologia, devem ser
consideradas antes da escolha das técnicas a serem utilizadas.

Assim, é recomendado que em primeiro lugar, se desenvolva uma Análise de Riscos


qualitativa, dado que este tipo de técnica apresenta uma relativa facilidade de execução e não
necessita da utilização de recursos adicionais como softwares e cálculos matemáticos.

As técnicas quantitativas complementam e aprofundam a análise qualitativa. Uma técnica de


análise detalhada e bem estruturada, como HazOp ou FMEA, deve ser usada como técnica
básica para o desenvolvimento de uma Análise de Riscos de um processo.

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Em sistemas com processo menos complexos ou onde os riscos são menores, deve fazer-se
uso de técnicas como WIC, enquanto que em sistemas mais complexos e com riscos mais
severos se deve desenvolver uma análise mais detalhada e, portanto, técnicas como AAF têm
preferência nestes casos.

O segredo está em seleccionar as técnicas que melhor se adaptem às exigências da análise,


utilizando uma técnica como base e complementando as suas deficiências com outras técnicas
de análise, de maneira tal, que se desenvolva um estudo eficiente mas que não se trabalhe
demasiadamente o problema.

O acidente catastrófico, que se encontra descrito nas linhas abaixo, foi provocado pelo
desconhecimento e pela negligência dos problemas operacionais de uma indústria, e procura
alertar para o facto, de que, as técnicas de Análise de Riscos são pura perda de tempo caso
sejam ignoradas as exigências básicas de segurança da unidade industrial.

O Desastre de Bhopal

Em 3 de dezembro de 1984, numa fábrica da Union Carbide, em Bhopal – Índia, ocorreu uma
grande libertação, para a atmosfera, de isocianato de metila, proveniente de um reservatório. O
gás tóxico acabou por atingir um bairro que se tinha formado nos arredores da fábrica. De
acordo com os relatos, houve contaminação do reservatório de isocianato com água e
clorofórmio. Os contaminantes reagiram com parte do isocianato do reservatório, provocando a
elevação da temperatura do seu conteúdo. O sistema de refrigeração do reservatório não
estava a funcionar. A válvula de segurança do reservatório abriu-se, mas o sistema de lavagem
de gases, que deveria absorver os vapores de isocianato libertados pela válvula, era sub -
dimensionado, e o sistema de flare, que deveria ter queimado qualquer vapor residual que
atravessasse o sistema de lavagem, estava fora de serviço. Neste acidente foram mortas cerca
de 2500 pessoas, com um número de feridos talvez 10 vezes maior. Uma das causas mais
importantes, neste desastre, foi a falha inerente à não manutenção dos equipamentos de
segurança em boas condições, e a sua não adequação

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6.2. A VALORAÇÃO DO RISCO

Como já se verificou, a análise de riscos proporciona uma estimativa sobre a sua magnitude –
a razão da probabilidade e da gravidade. Estas duas realidades podem ser estimadas de forma
qualitativa, quantitativa ou semi - quantitativa. É com essa resultante que se faz a comparação
com padrões de referência para obter a valoração do Risco e configurar o processo de
decisão subsequente.

Ou seja, depois de efectuada a estimativa do risco, compara-se os resultados com valores


legalmente estabelecidos e adopta-se a situação que se afigure como a mais benéfica.

Como exemplo, tenha-se presente uma determinada unidade industrial que opera com
chumbo.

Na analise dos riscos detectou-se e estimou-se os valores de exposição a que estão sujeitos
os trabalhadores dessa unidade. Depois de obtidos esses valores efectua-se a sua
comparação com os valores limites de exposição presentes na norma portuguesa n.º 1786/88.

Dessa comparação resultará o tipo de acção a adoptar, ou seja, se os valores estimados forem
superiores aos previstos na norma a decisão passará, por exemplo, por modificar a
organização do trabalho – método mais económico – ou pela substituição dos componentes
que contêm chumbo por outros isentos deste contaminante – método mais dispendioso.

Assim, podemos dizer que existe uma percentagem do risco que é considerada como
aceitável, dado que os normativos legais só actuam depois de um determinado valor.

Por exemplo, no caso do ruído, a legislação prevê que o valor limite de exposição é de 90 db,
logo os valores abaixo deste são admitidos, apesar de se saber que valores acima dos 60 db já
causam transtornos vários.

Pode-se então falar de aceitabilidade do risco, ou seja, aquilo que se aceita como sendo
seguro, sendo que, ninguém aceita um risco, apenas se aceitam opções que envolvam algum
nível de risco de entre as suas prováveis consequências.

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Nem todas as pessoas aceitam os mesmos riscos, pelo que qualquer método ou técnica de
determinação do risco aceitável não é mais do que um instrumento de apoio ao processo de
tomada de decisão e de escolha entre possíveis alternativas.

Para o efeito são propostos nove critérios para a aceitabilidade do risco, designadamente os
colectivos de trabalho:

6.2.1 Critérios Para A Aceitabilidade Do Risco (Fischhoff)

1. A compreensão dos fenómenos, pois que é difícil aceitar um risco sem que se disponha
de um modelo de analise, uma descrição dos respectivos componentes (origens, modo de
manifestação, probabilidade de ocorrência e danos prováveis), bem como de uma
descrição dos elementos que justificam a sua possível aceitação;

2. Uma visão lógica das protecções, na medida em que não é possível aceitar o risco sem
conhecerem os métodos e as técnicas necessárias para a respectiva defesa ou protecção;

3. Um terreno particular e não uma simples perspectiva genérica, porquanto não é possível
abordar o risco cuja definição é puramente teórica. De facto o risco apenas toma forma em
sistemas de trabalho concretos;

4. A existência de verdadeiros incidentes, já que a identificação dos riscos pode basear-se,


meramente, no cálculo estatístico. O estudo dos acidentes e incidentes ocorridos , das suas
consequências e das suas causas são indispensáveis à aceitação do risco porque é esse
estudo que fornece os indicadores precisos sobre a incarnação em concreto desse risco.

5. A existência de pessoas responsáveis pela gestão desse risco, designadamente


profissionais qualificados nas valências fundamentais da segurança, higiene e saúde do
trabalho (cfr. Art. 13º/2/3, Dl 441/91; art. 24º e 25º, DL 26/94; DL 110/00). Tenha-se
presente que as comunidades de trabalho precisam de responsáveis a quem se dirigir para
obter informação necessária (cfr. art. 16º/1, DL 26/94) ou fazer responsabilizar em caso de
acidente (cfr. Art. 8º/1, DL 441/91; art. 8º/2 e 9º/2, DL 26/94);

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6. A existência de recursos suficientes pois que a aceitação do risco depende da


disponibilidade de meios para organizar as defesas e aplicar os métodos conhecidos, de
acordo com o estado da evolução técnica, para minimizar esse risco. Trata-se, também, de
gerir a confiança necessária neste âmbito, a qual de acordo com a lei (cfr. Art. 8º e 13º, DL
441/91, art. 3º, 15º e 16º, DL 26/94) pressupõe o desenvolvimento da actividade dos
técnicos referenciados e de outros trabalhadores, mas enquadrada nas definições de um
sistema de gestão da segurança e saúde do trabalho que assegure o planeamento, a
organização de meios, a aplicação de medidas, a monitoragem da sua eficiência e eficácia
e a introdução da retroalimentação que se demonstre necessária (OIT, 2002);

7. A existência de avaliações periódicas é um requisito da aceitabilidade do risco, uma vez


que a formulação de um tal juízo de valor tem como ponto de partida a não alteração das
condições que estão na génese da manifestação da situação de risco. Nestas
circunstâncias o risco não é aceitável a não ser que sejam conhecidas e possa, ser
verificadas periodicamente as protecções e defesas instaladas por parte quer dos técnicos,
quer dos trabalhadores expostos e dos seus representantes, tendo em vista garantir a
transparência do risco e a sua apropriação colectiva;

8. A consciência de que a aceitabilidade é de natureza política, uma vez que o processo e


a tomada de decisão é um compromisso de interesse de uma determinada comunidade que
pondera, em especial, uma vertente técnica e a percepção dos riscos por parte das
pessoas expostas e das suas instâncias de representação. A tentação para minimizar a
percepção dos riscos sentida pelos trabalhadores ou pelas restantes pessoas expostas
(população vizinha, visitantes, fornecedores...) pode suscitar reacções incontroladas ou
incontroláveis se a situação de risco considerada aceitável despoletar um processo
acidental;

9. A tomada de medidas concretas e visíveis de resposta aos acidentes, porque não é


justificável manter a inacção e não modificar as defesas de um sistema após se ter
conhecimento de factos que causaram um acidente. A aprendizagem com base no erro só
é sustentável se o objectivo for melhorar a realidade de risco.

O processo de Valoração dos Riscos tem também a necessidade de estabelecer prioridades de


intervenção para os riscos encontrados, podemos então falar de hierarquização de riscos.

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6.2.2. A Hierarquização De Riscos

Como é óbvio, existem no local de trabalho vários riscos e perigos que necessitam de medidas
concretas de segurança para limitar ou eliminar o seu potencial de dano. Raramente é possível
resolver todos os problemas encontrados em simultâneo, pelo que existe a necessidade de
estabelecer parâmetros de intervenção hierarquicamente definidos, ou seja, estabelecer
prioridades para a resolução de problemas, porque não é financeiramente possível, “por
exemplo”, fazer face a todas as necessidades.

Surge assim a necessidade de estabelecer padrões de gestão que permitam observar as


relações de precedência, de hierarquia de urgência, de possibilidade de intervenção, …

Assim, estas abordagens podem classificar-se em três categorias, de acordo com as suas
finalidades:
¾ As que avaliam e hierarquizam o risco tendo em vista estabelecer as prioridades de
resposta;
¾ As que procuram estabelecer prioridades avaliando e hierarquizando os riscos a partir
de um conjunto de perigos identificados;
¾ As que procuram estabelecer prioridades de acção hierarquizando a eficácia das várias
opções de controlo de riscos.

A opção ou a definição de um modelo de estimativa e valoração pode compreender os


seguintes estádios de desenvolvimento (Cerm, 1997):
1. Definir a finalidade, isto é, saber o que se quer priorizar: a urgência da resposta, a
escolha de riscos prioritários, o tipo de controlo possível…Desta opção depende a
selecção de factores a determinar;
2. Determinar o que vai ser hierarquizado: Que riscos, que perigos – físicos, químicos,
biológicos, psicossociais… - ou que possíveis consequências para os trabalhadores e
para o ambiente vão ser focados;
3. Escolher os participantes: Os peritos, os prevencionaistas, os trabalhadores e os seus
representantes e a respectiva forma de participação e a sua articulação;
4. Seleccionar os critérios: Quais são os factores fundamentais a ter em consideração no
processo de decisão para permitir a formulação dos juízos de valor e, de forma
incremental, ponderar a sua combinação;

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5. Identificar os parâmetros para a medida dos critérios seleccionados e a sua adequação


às finalidades;
6. Recolher e avaliar dados sobre os parâmetros identificados, tendo em vista tanto quanto
possível, dispor de termos de comparação consistentes em função dos critérios
seleccionados – experiências anteriores, dados estatísticos, informação sobre as
características dos produtos, dos equipamentos…;
7. Seleccionar o método de hierarquização e a matriz de escalonamento a aplicar, numa
base, preferencialmente, participativa, ou, mesmo, negociada, dado que é nesta fase
que se situa o momento fundamental de concretização da subjectividade;
8. Ponderar o escalonamento e o peso relativo dos parâmetros seleccionados, tendo em
vista uma avaliação da sua congruência.

Nestas circunstâncias os métodos de valoração que exemplificaremos de seguida constituem


instrumentos auxiliares dos processos de decisão sobre a aceitabilidade e a hierarquização dos
riscos.

Como já foi possível verificar anteriormente, os métodos de analise podem ser qualificados em
qualitativos e quantitativos, sendo de extrema importância a sua correcta utilização e escolha,
para que os mesmos se constituam como uma mais-valia no processo decisório em curso.

6.2.3 Métodos quantitativos

Os métodos quantitativos visam obter uma resposta numérica à estimativa da magnitude do


risco e são úteis quando existe a necessidade de justificar o custo ou a dificuldade na adopção
de algumas soluções preventivas.

Será o caso, por exemplo, de determinados perigos identificados a partir de listas de produtos
perigosos e respectivas quantidades limites que possam ocasionar acidentes graves,
susceptíveis de afectar os trabalhadores, as pessoas no exterior e o ambiente.

A avaliação quantitativa de riscos e da sua gravidade requer modelos matemáticos de


consequências para possibilitar a simulação do campo de acção de um dado agente agressivo
e a sua capacidade em cada ponto de acção para estimar os danos esperados.

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Importa salientar que este tipo de avaliação apresenta algumas desvantagens, desde logo a de
ser bastante onerosa. Acresce a necessidade de dispor de bases de dados experimentais ou
históricos com a adequada fiabilidade e representatividade. Por outro lado, a dificuldade de
avaliação do peso do contributo da falha humana, das falhas interactivas e das falhas múltiplas
ocasionadas no mesmo facto, constituem um outro conjunto de dificuldades para a
compreensão da realidade analisada.

Por isso se questiona se os resultados da avaliação de riscos efectuados desta forma trarão
alguma mais valia concreta para a hierarquização e decisão sobre os possíveis cenários
estabelecidos, quando comparados com outros métodos bastante mais fáceis de determinar.

Não obstante a própria lei fixar valores quantitativos para a frequência e para a gravidade,
identificar qual o método e processos de avaliação e controlo a utilizar.

Assim, por exemplo, quando se atinge um nível de acção diário de ruído igual ou superior a 85
db torna-se necessário agir por forma a baixar esse valor, ou, quando o valor médio diário de
exposição atingido é de 90 db, ou quando esse valor atinge um pico de 140 db (cfr. Art. 1º/h/i/j,
D.Reg. 9/92, 28-4), o trabalhador não poderá estar exposto a tais situações de trabalho sem
que se verifiquem medidas imediatas de controlo para a redução do nível de ruído para níveis
inferiores.

6.2.4 Métodos Qualitativos

A identificação do perigo e a estimativa da sua magnitude – a gravidade e a probabilidade de


ocorrência – podem ser efectuados apenas numa base qualitativa, que tem por base
estatísticas ou, o que é esperado acontecer de acordo com a opinião das pessoas experientes
e dos trabalhadores ou dos seus representantes para a HSST.

A classificação de eventos danosos pode consistir numa combinação que aprecia as partes do
corpo que podem ser afectadas e a natureza do dano associado. Esta apreciação é a base da
graduação do dano em níveis de consequência esperada.

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As tabelas de referência para efectuar o ordenamento da natureza do dano podem abranger as


lesões pessoais, os danos ambientais, ao património, à produção …

A ponderação da frequência deverá levar em conta todo um conjunto de factores que podem
influenciar, positiva ou negativamente, a probabilidade de emergência do perigo,
nomeadamente:

¾ A adequação e a eficácia das medidas de controlo já implementadas;


¾ As características pessoais dos trabalhadores expostos, designadamente, a sua
especial vulnerabilidade;
¾ O tempo de exposição ao perigo;
¾ A protecção individual utilizada e o seu tempo de utilização;
¾ As falhas nos serviços de apoio e nos equipamentos de trabalho;
¾ As falhas ao nível do comportamento observável dos trabalhadores – erros não
intencionais e violações de procedimentos de trabalho – bem como, o seus níveis de
qualificação e de adaptação à função.

Depois de observados estes requisitos será possível estabelecer tabelas como as do exemplo
seguinte, onde se caracteriza a valoração de um risco através de métodos qualitativos

A tabela do exemplo seguinte, é uma tabela simplificada e reportada a lesões pessoais


esperadas, distribuídas em três níveis de graduação.

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CATEGORIAS DE CONSEQUÊNCIAS

QUALITATIVA CARACTERIZAÇÃO

Ligeiramente Pequenos cortes, irritação dos olhos, dor de cabeça,

Danoso desconforto.

Lacerações, queimaduras, fracturas menores, surdez,


Danoso
dermatoses, asma, lesões muscolo – esqueléticas.

Extremamente Amputações, facturas maiores, intoxicação, lesões múltiplas,

Danoso cancro e doenças crónicas, morte.

(Fonte: Segurança e saúde do trabalho: Avaliação e controlo de riscos)

A probabilidade de ocorrência de um dano – a estimativa da frequência com que um dado


evento pode acontecer – pode ser efectuada com base numa graduação qualitativa por forma a
estabelecer uma temporização.

CATEGORIAS DE PROBABILIDADE

QUALITATIVA CARACTERIZAÇÃO

BAIXA Espera-se que possa ocorrer raramente

MÉDIA Espera-se que venha a ocorrer com relativa facilidade

ALTA Espera-se que venha a ocorrer com muita facilidade


(Fonte: Segurança e saúde do trabalho: Avaliação e controlo de riscos)

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NIVEIS DE RISCO

CONSEQUÊNCIAS

R = F (C X P) LIGEIRAMENTE DANOSO EXTREMAMENTE

DANOSO DANOSO

BAIXA TRIVIAL ACEITÁVEL MODERADO


PROBABILIDADE

MÉDIA ACEITÁVEL MODERADO IMPORTANTE

ALTA MODERADO IMPORTANTE INTOLERÁVEL

(Fonte: Segurança e saúde do trabalho: Avaliação e controlo de riscos)

Os níveis de risco referidos no quadro anterior constituem, assim, o referencial para a


valoração do risco, servindo como ponto de partida para a decisão e acção de controlo de
riscos a realizar.

O quadro seguinte representa uma hipótese para a valoração do risco que considera o tipo de
esforço de controlo a levar a cabo, a urgência das acções preventivas a empreender e a sua
proporcionalidade face ao nível de risco encontrado.

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VALORAÇÃO DO RISCO

RISCO MEDIDAS

TRIVIAL Não requer medidas específicas

Não é necessário melhorar a acção preventiva. No entanto, devem ser


consideradas soluções mais rentáveis ou melhorias que não impliquem
uma carga económica importante.

É necessário recorrer a verificações periódicas, de modo a assegurar


ACEITÁVEL
que se mantém a eficácia das medidas de controlo

Devem fazer-se esforços para reduzir o risco e devem ser tomadas


medidas num período determinado.

Quando o risco estiver associado a consequências extremamente


MODERADO danosas, será necessário uma acção posterior para estabelecer com
mais precisão a probabilidade do dano, como base para determinar a
necessidade de melhorias de controlo.

O trabalho não deve ser iniciado até que se tenha reduzido o risco.
Podem ser necessários recursos consideráveis para o controlo do
risco.
IMPORTANTE
Quando o risco corresponde a um trabalho que está a ser realizado
devem tomar-se medidas para contornar o problema, num período de
tempo inferior ao dos riscos moderados.

Não se deve iniciar ou continuar o trabalho, até que se tenha reduzido


INTOLERÁVEL o risco. Mesmo quando seja necessário a utilização de recursos
ilimitados, o trabalho deve ser interditado.

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6.2.5 Métodos Semi-Qualitativos

Pode considerar-se este método como sendo a “mistura” dos dois anteriormente abordados. O
processo por atribuir valores a uma “matriz de escalonamento”, sendo o risco calculado através
da multiplicação dos respectivos factores de frequência e de gravidade R = ( F x G ).

Exemplo de uma matriz de escalonamento

FREQUÊNCIA GRAVIDADE

Improvável 1 Trivial 1

Possível 2 Menor 2

Ocasional 3 1 Lesão grave 3

Frequente 4 2 Ou mais lesões graves 4

Regular 5 1 Morte 5

Comum 6 2 Ou mais mortes 6

(Fonte: Segurança e saúde do trabalho: Avaliação e controlo de riscos)

Adicionalmente e sempre que se verifique a exposição de mais do uma pessoa ao perigo, deve
multiplicar-se o resultado anteriormente obtido pelo numero de pessoas expostas, de acordo
coma seguinte forma:

Risco = Frequência x Gravidade x n.º de pessoas expostas

O exemplo seguinte tem por objectivo disponibilizar uma hierarquização de riscos detectados
através de inspecções de segurança e estabelecer uma lista de prioridades para as medidas
de controlo.

Para o efeito foi estabelecida a seguinte fórmula:

Riscos prioritários (PR)= Frequência (F) (potencial máximo de perda (PMP) + probabilidade (P))

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ESCALAS DE POTENCIAL MÁXIMO DE PERDA E DE PROBABILIDADE

POTENCIAL MÁXIMO DE PERDA PROBABILIDADES

Mortes múltiplas 50 Iminente 50

Morte singular 45 Horária 35

Incapacidade total 40 Diária 25

Perda de um olho 35 Semanal 15

Amputação de braço o perna 30 Mensal 10

Amputação de mão ou pé 25 Anual 5

Perda de audição 20 Quinquenal 1

Fractura de membro 15

Laceração profunda 10

Queimadura 5

Arranhão 1

Atendendo, que, foi detectada uma situação de risco que pode ocasionar a perda de um olho
com a possibilidade de ocorrer uma vez por dia e que a ela apenas se encontra exposta um
único trabalhador fica:

PR = F x (PMP+P) = PR = 1x(35+25) = 60

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Este valor deve ser comparado com a escala de acção e controlo que se apresenta de seguida.

CRONOGRAMA DA ACÇÃO DE CONTROLO

PRIORIDADE DE RISCO URGÊNCIA DE CONTROLO

MAIS DE 100 Imediato

80 – 100 Hoje

60 – 79 Prazo de 2 dias

40 – 59 Prazo de 4 dias

20 – 39 Prazo de 1 semana

10 – 19 Prazo de 1 mês

0 -9 Prazo de 3 meses

A utilidade da aplicação de escalas de graduação deste tipo depende da adaptação à realidade


de trabalho e de risco de cada organização, da frequência e do âmbito das inspecções de
segurança realizadas e da capacidade dos recursos disponíveis para o controlo.

Este método é, obviamente, subjectivo e a sua regulação de forma mecânica, pode constituir
um constrangimento à sua praticabilidade, caso não exista um bom ambiente de participação e
consulta.

O desenvolvimento efectuado sobre este tema, aborda apenas algumas das muitas variáveis e
maneiras de explorar assunto, pretendendo-se dar apenas um pequeno contributo para a
compreensão desta problemática.

Assim e em forma de conclusão apresentam-se de seguida os princípios gerais da avaliação


de riscos.

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AVALIAÇÃO DE RISCOS

7. PRINCIPIOS GERAIS DA AVALIAÇÃO DE RISCOS

a) A avaliação de riscos é direccionada para o acompanhamento de todos os perigos e riscos


relevantes, para o que haverá que ter em conta:

¾ Que a finalidade é a de identificar os riscos significantes no local de trabalho, pelo que


devem evitar-se desvios a esse objectivo, designadamente os propiciados pelo excesso
de informação ou pela concentração em riscos triviais;
¾ Na maioria dos casos importa, primeiramente, proceder à identificação dos perigos
inerentes aos aspectos do trabalho com evidente potencial de dano: Substâncias e
equipamentos utilizados, processo de trabalho, organização do trabalho ...
¾ Que as definições legais vigentes constituem uma ajuda na identificação de perigos;
¾ Que a avaliação dos riscos é feita a partir dos perigos identificados, tendo em conta,
relativamente a alguns riscos, que pode já existir alguma medida de controlo ou que o
perigo pode estar circunscrito, caso em que é necessário verificar a efectividade dessa
circunstâncias e avaliar o risco residual;
¾ A conveniência em associar uma abordagem sistémica à actividade de identificação de
perigos e de avaliação de riscos – tais como os associados as máquinas, transportes,
substâncias e produtos, electricidade, ambiente circundante de temperatura, humidade,
ventilação ruído, iluminação, vias de acesso, factores psicossociais de stress... – ou por
uma abordagem de operações produtivas – armazenagem, embalagem, escritórios... –
sem perder de vista eventuais interacções.
¾ A necessidade de assegurar que todos os aspectos da actividade de trabalho são
abrangidos ( cfr. Art. 8º/1/2/b,DL 441/91);
¾ Incluir nesse processo a identificação das situações em que se possa configurar perigo
grave e eminente (cfr. Art. 8º/2/l e art. 15º /1/f, DL 441/91) e a necessidade de
intervenção em situações de emergência (cfr. Art. 8º /2/i, DL 441/91);
¾ Que o nível de detalhe da avaliação seja proporcional, adequado e suficiente à natureza
dos riscos significantes encontrados;

b) Ser direccionada para o que efectivamente acontece no local de trabalho ou durante a


actividade de trabalho:

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AVALIAÇÃO DE RISCOS

¾ As práticas reais de trabalho, efectivamente em uso, podem diferir das práticas


prescritas e, muitas vezes, é por essa via que os riscos se mantêm obscurecidos ou não
são notificados;
¾ Importa considerar as actividades que não estão inseridas na rotina ou na actividade
produtiva corrente, tais como as operações de manutenção, limpeza, cargas e
descargas, mudanças nos ciclos de produção,...;
¾ As interrupções da actividade de trabalho são, frequentemente, causa de acidentes,
pelo que importa acompanhar a forma como esses incidentes são geridos e quais os
procedimentos utilizados;
¾ As modificações das condições de trabalho, designadamente a introdução de novas
tecnologias, equipamentos ou substâncias e preparações perigosas, as mudanças das
equipas de trabalho ..., são cada vez mais frequentes e, por poderem originar novos
riscos ou alterar a configuração dos riscos existentes, têm de ser considerados.

c) Assegurar que todos os grupos de trabalhadores ou terceiros que possam ser afectados ou,
mesmo, potenciais vitimas são devidamente considerados, designadamente, o pessoal de
escritório, as equipas nocturnas de limpeza, o pessoal da manutenção, os guardas, os
visitantes, a população vizinha (cfr. Art.º 8º /2/e DL 441/91);

d) Identificar os grupos de trabalhadores vulneráveis, nomeadamente os jovens (cfr. Art. 121.º


DL 49.408, 24-11-1969 e L 58/99, 30/6), as mulheres grávidas, puérperas ou lactantes (cfr.
Art. 21 L 4/84, 5/4 e DL 70/00, 4/5), os recém admitidos, os trabalhadores temporários, os
trabalhadores contratados a termo, os trabalhadores isolados, as pessoas portadoras de
deficiência (cfr. Art.º 8/2/o/4 DL 441/91)...;

e) Ter em conta as medidas de prevenção existentes e o seu estado de propriedade, de


resistência, de estabilidade, de permanência no espaço e no tempo, de adequação... por
forma a equacionar as necessidades de manutenção ou substituição;

f) Sempre que várias empresas, estabelecimentos ou serviços desenvolvam actividades em


simultâneo com os respectivos trabalhadores no mesmo local de trabalho, os
empregadores devem considerar os riscos para os seus próprios trabalhadores e para os
dos outros empregadores e cooperar numa avaliação geral de riscos, incumbindo a tarefa
de assegurar a coordenação (cfr. Art. 8.º/4 DL 441/91):

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AVALIAÇÃO DE RISCOS

¾ À empresa utilizadora, no caso de trabalhadores em regime de trabalho temporário ou


de cedência de mão-de-obra;
¾ À empresa em cujas instalações outros trabalhadores prestam serviço a titulo de
trabalhador por conta própria ou ao abrigo de contratos de prestação de serviços;
¾ Nos restantes casos, a empresa adjudicatária da obra ou do serviço;

g) Frequentemente, será útil considerar um processo de avaliação por etapas:


¾ Uma avaliação global para excluir de consideração aqueles riscos relativamente aos
quais se pode concluir pela sua aceitabilidade e que apenas necessitam de uma acção
de acompanhamento para se verificar se mantêm inalteradas as suas fontes e modos
de manifestação;
¾ Caracterizar os riscos bem conhecidos relativamente aos quais é fácil de identificar e
aplicar medidas de controlo;
¾ Determinar os riscos que carecem de uma analise mais pormenorizada,
designadamente aqueles relativamente aos quais os requisitos de avaliação estão
previstos em instrumentos de regulamentação legal;
¾ Avaliar os riscos que carecem de maior detalhe e maior sofisticação de analise;
¾ Identificar necessidades de avaliação sequentes.

h) As empregadores que controlem vários locais de trabalho onde se executam actividades


similares podem socorrer-se e aplicar modelos básicos de avaliação que reflictam os
perigos e riscos nucleares dessas actividades – nomeadamente, elaborados por
associações de empregadores ou com o apoio de entidades que reunam competências
especificas no domínio em causa – importando para tanto que:
¾ Aquele tipo de modelo seja efectivamente apropriado ao tipo de trabalho desenvolvido;
¾ O modelo seja alvo de adaptação às suas próprias situações de trabalho reais;
¾ O modelo seja desenvolvido para abranger perigos e riscos que não estejam
considerados no modelo básico.
i) A avaliação não deve ser configurada como uma actividade isolada do empregador, dos
seus representantes, ou dos técnicos que trabalham sob a sua responsabilidade, mas ser
envolvida num contexto de participação dos trabalhadores dos trabalhadores e dos seus
representantes para a segurança e saúde do trabalho, que devem ser consultados aquando
da avaliação e informados das suas conclusões (cfr. Art. 9.º/1/3/a DL 441/91);

Criado por Mário Silvestre 59


Curso de Técnico Superior de Higiene e Segurança

AVALIAÇÃO DE RISCOS

j) Os resultados significantes da avaliação de riscos devem ser objecto de registo (cfr. Art
13.º/5, DL 441/91e art. 16.º/3 DL 26/94) e, nos caos definidos na lei, ser objecto de
disponibilização ou, nos casos especificados na lei, notificação às autoridades
competentes, descrever os respectivos procedimentos, com o grau de desenvolvimento
necessário a proporcionar um efeito de demonstração da sua suficiência, incluindo:
¾ Os perigos identificados que podem colocar em risco os trabalhadores ou terceiros quer
possam ser afectados pela actividade, se não forem convenientemente controlados;
¾ As medidas de controlo aplicadas e a sua capacidade de minimizar os riscos;
¾ A população que pode ser afectada por esses riscos e perigos, incluindo os grupos de
trabalhadores especialmente expostos e os grupos mais vulneráveis;
¾ Os resultados da avaliação de riscos e as medidas preventivas propostas;
¾ A referência aos critérios e procedimentos de avaliação, aos métodos de medida, de
analise ou ensaio, se for o caso.

k) As informações resultantes da avaliação de riscos devem ser apenas utilizadas para o fim a
que se destinam e os dados pessoais que sejam recolhidos devem ser mantidos em estado
de confidencialidade;

l) A actividade técnica de avaliação de riscos só deve ser realizada por pessoal profissional
competente, (cfr art. 13.º/4 DL 441/91, art.º 24.º, 25.º DL 26/94 e DL 110/00, 30-6)
designadamente, por técnicos de segurança e higiene no trabalho, médicos do trabalho,
ergonomistas, psicólogos e sociólogos do trabalho, engenheiros de segurança, higienistas
industriais... de acordo com as valências do conhecimento técnico - cientifico de que são
portadores.

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